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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5822: Estórias avulsas (27): Do Cumeré a Canquelifá (João Adelino Aves Miranda, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/73)




1. O nosso Camarada João Adelino Aves Miranda, 1° Cabo Radiotelegrafista, da 1ª Cia do BCAÇ 4610/73 - Cumeré, Canquelifá, Nhamate -, 1974, actualmente emigrado na Alemanha, enviou-nos, com data de 15 de Fevereiro de 2010, a seguinte mensagem:

Camaradas,

A minha curta passagem pela Guiné está de alguma forma preenchida de recordações, na sua maioria boas.


Do Cumeré a Canquelifá


No entanto, recordo-me, por exemplo, de que quando acabei o IAO no Cumeré e me tive de juntar ao resto da Cia, creio que em Piche, eu e outros camaradas fomos enviados para o aeroporto e, quando lá chegámos, deparámos com um NorthAtlas a voltar, de uma viagem, para trás, com um problema técnico num dos motores.

Ouvimos dizer que ia ser resolvido o problema, e que, depois do avião levar ao seu destino os soldados que nele viajavam, regressaria para nos levar a nós.

Não queiram saber o desatino que foi entre a maioria da malta, ouvindo-se aqui e ali: “Eu não entro naquele avião nem morto”.

Outros chegaram à conclusão de que, se o aparelho fosse e viesse, seria sinal de que a avaria tinha sido bem reparada.

De facto a aeronave foi e veio, e levou-nos também ao nosso destino sem problemas.

Continuo na dúvida se realmente o destino do avião era Piche ou Nova Lamego, mas estou mais inclinado para a segunda hipótese.

Logo que chegamos, tínhamos à nossa espera uma coluna auto, na qual embarcamos, e vieram avisar-nos que, muito provavelmente, iríamos encontrar ao longo da picada elementos do PAIGC, mas que, em princípio, não haveria qualquer problema, já que nesta altura estávamos no pós 25 de Abril.

Por via das dúvidas acharam melhor seguirmos com a arma em pronta a fazer fogo.

De facto encontrámos alguns elementos do PAIGC, com uma cara muito séria a olhar para nós, o que me deixou muito pouco à vontade.

Enfim, chegámos a Canquelifá e fomos recebidos pelos velhinhos como verdadeiros VIPS, tivemos direito a “reportagens televisionadas pela RTP” e tudo (estão a imaginar aquelas câmaras de televisão feitas de caixas de papelão).

Depois prestaram-nos as “honras da casa”, mostrando-nos o aquartelamento e alguns buracos no chão da parada, feitos (segundo eles nos diziam) por mísseis. Como a guerra tinha acabado, não me assustei muito.

Eu pensava, até ter lido aqui no blogue que ouve tiroteio em algumas zonas da Guiné depois do 25 de Abril, que tinham cessado completamente as hostilidades na Guiné, e dizia-o, então, a toda a gente com quem conversava.

Puro engano meu, pelo que tenho vindo a constatar.

Assim, fiz a minha estadia de um mês e sete dias, se não me falha a memória, a dormir em cima de umas tábuas durante esse período, porque os velhinhos fizeram o “favor” de levar com eles os colchões do quartel.

Durante esse tempo recebíamos a visita de soldados do PAIGC, com certeza para estabelecer os trâmites da entrega do destacamento com o nosso Capitão.

Lamento não ter fotografias dessa entrega, nem qualquer outra foto de Canquelifá.


Bissau > Bissalanca > Junto do avião > Eu em pé, à esquerda, e, ao meu lado, o Sold radiotelegrafista Guimarães, o Cantineiro da Cia (cujo nome não recordo), o 1° Cabo Operador Cripto Rijo. Em baixo, o 1° Cabo Radiotelegrafista Dinis e a seu lado o Sold Radiotelegrafista Magalhães.

Um abraço,
João Miranda
1° Cabo Radiotelegrafista da 1ª Cia, BCAÇ 4610/73


Emblema e guião de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.

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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5710: Tabanca Grande (201): João Adelino Aves Miranda, ex-1.ª Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/73 (Guiné 1974)



1. O nosso Camarada João Adelino Aves Miranda, 1° Cabo Radiotelegrafista, da 1ª CCAÇ do BCAÇ 4610/73 - Cumeré, Canquelifá, Nhamate -, 1974, actualmente emigrado na Alemanha, enviou-nos com data de 24 de Janeiro de 2010, a seguinte mensagem:


Camaradas,

Chamo-me João Adelino Aves Miranda e fui 1° Cabo Radiotelegrafista da da 1ª Companhia do BCAÇ 4610/73, Canquelifá, Nhamate, tendo embarcado no navio Niassa, no dia 9 de Abril de 74, embora o navio só tenha zarpado passados dois dias, a 11 de Abril, derivado ao atentado à bomba de que foi alvo.



Chegados à Guiné, fomos para o Cumeré, onde fizemos o IAO, e, cerca de um mês mais tarde, eu e outros especialistas seguimos num NordAtlas para Nova Lamego.


Aí chegados, transitamos para uma coluna auto que nos levou para Canquelifá, onde nos juntámos ao resto da companhia.

Sei também que estive em Nhamate.

Depois à medida que íamos entregando os destacamentos ao PAIGC, fomos regressando a Bissau, a pouco e pouco, em curtas viagens e consequentes estadias.

Mas depois irei contando o pouco que ainda me lembro. Quanto ao facto de aderir à Tabanca Grande seria uma honra se mo permitissem.

Para regressarmos a Portugal, embarcamos em Pijiguiti, no navio Uíge, em 14 de Outubro de 1974.

O mais curioso e engraçado é que tu e eu viajamos juntos, neste regresso a casa, ou seja viemos juntos para Portugal, pois segundo o que acabamos de descobrir na nossa troca de e-mails, naestat viagm do Uíge embarcaram em Bissau, 3 batalhões o meu 4610/73 (4 companhias), o 4510/73 (só com 1 companhia) e o teu 4612/74 (3 companhias).


Estou a viver na Alemanha e quando vou a Portugal de férias, fico em Torres Vedras, por isso, em relação ao nosso reencontro pessoal não fica esquecido, garanto-te.

Um abraço,
Joao Miranda
1° cabo radiotelegrafista da 1ª Cia do BCAÇ 4610/73


2. Camarada João Miranda, em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e demais tertulianos deste blogue, quero dizer-te que é sempre com alegria que recebemos notícias de um periquito, que esteve na Guiné, e, mais ainda quando ele está na diáspora.


Tal como o Luís Graça já referiu em anteriores textos colocados em postes no blogue, eu, tu e todos aqueles que constituíram a geração dos últimos “guerreiros” do Império, temos alguma coisa a contar para memória futura e colectiva, deste período sangrento da História de Portugal, que foi a Guerra do Ultramar.

Eu, pessoalmente, costumo afirmar que entregamos, incondicionalmente, ao IN aquele pedaço de terra, onde centenas de Camaradas nossos (irmãos, primos, amigos, etc.), que haviam falecido em combate, para que alguns pudessem dizer: “Isto aqui é Portugal!”

12 anos de manutenção de um legado histórico, mantido com muito sacrifício, privação de toda a ordem, dor, sofrimento, morte…

Não apontando culpas a ninguém em especial (quem sou eu para as fazer), apenas me dói, bem no fundo da alma, ver nos últimos 35 anos o modo como os políticos portugueses tratam aqueles que, nos seus 21/22/23 anos, deram o seu melhor, como podiam e sabiam, muitas vezes mal treinados e armados, sabe Deus como alimentados e enfiados em autênticos buracos feitos no lodo em meios completamente hostis e perigosíssimos…

Aguardamos que nos contes aquilo que ainda lembras e se tiveres fotografias daquele tempo, como por exemplo da entrega dos aquartelamentos, envia-nos para publicação.

Emblema e guião de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em: