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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 – P9337: (Ex)citações (172): Onde e quando é que o PAIGC estreou os Katyusha, os foguetões de 122 mm: Bolama, 3/11/1969, ou Bissorã, 1/5/1970 ? (Armando Pires)

1. Comentário de Armando Pires, com data de 5 do corrente, ao poste P1338 (*)

Presumo que este é um comentário muito atrasado e, portanto, sem efeitos práticos. Mas fica registado para os vindouros. E este comentário radica numa investigação que eu vinha fazendo sobre os Katyusha 122 mm e que tinha a ver, exactamente, com a data em que este equipamento foi utilizado, pela primeira vez, pelo PAIGC.


Lamento contrariar o Paulo Santiago mas no dia 3/11/69 Bolama foi atingida por três foguetões Katyusha. (vide blogue dos Leões Negros > CCaç 13 > Katyusha) (**). Bissorã também foi atacada com os referidos mísseis no dia 1 de Maio de 1970, pelas 20h05. Estava lá eu.


E creio, ainda não sei mas estou a investigar, que entre estes dois ataques houve um outro sobre Mansoa. O que continuo sem saber é se Bolama foi o primeiro ou se houve outro antes desse. (***)

Armando Pires




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Pirada > 3ª CCAV / BCAV 8323 (1973/74) > O 1º Cabo Joaquim Vicente Silva, em 26 de Abril de 1974, com os restos das lembranças do ataque do dia anterior. (Neste caso, parte de um foguetão 122 mm). Nascido 1951, o nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande,  faleceu o ano passado. Era natural de Mafra.

Foto: © Joaquim Vicente Silva (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Todos os direitos reservados.

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Notas de CV:


(*) Vd. poste de 4 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1338: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (5): estreia dos Órgãos de Estaline, os Katiusha

(…) Em 21 de Janeiro de 1971 , aí pelas 21.00 horas, entra um militar da CCAÇ 2701 pelo bar de Sargentos e Oficiais e informa, meio esbaforidamente, que um dos sentinelas está a avistar uma pequena luz numa curva do Corubal, situada aí a uns 500 metros na margem oposta à do quartel. (…) Chegou-se à conclusão que as granadas estavam a cair em zona entre Saltinho e Quebo e a arma era desconhecida. Passados alguns dias veio informação do Com-Chefe: naquele ataque falhado a Aldeia Formosa, o IN tinha utilizado pela primeira vez Foguetes Katiusha, também conhecidos por Órgãos de Estaline (…)

(**) (...) Katyusha era o nome de uma popular canção de guerra soviética da 2ª guerra mundial, mas foi também um dos nomes dados ao míssil terra-terra de 122mm BM-21 adoptado pelo exercito Soviético em 1963, normalmente designado por foguetão de 122mm pelas NT.

"No dia 3/11/1969 quando a CCaç 13, estavam no cais de Bolama, preparando-se para embarcar numa LDG, ouviu-se um longínquo 'pof' vindo da parte continental (zona de Tite), um dos africanos disse 'saída' sorrindo, mas logo a seguir passaram sobre as nossas cabeças 3 foguetões 122mm, um acertou numa das pequenas vivendas que corriam ao lado da rua principal, que ligava o porto ao largo principal da cidade, apenas a uns escassos 30m do local onde estávamos, outro caiu no largo principal um pouco mais acima, e o terceiro mais longe, já fora da zona habitacional.

"Corremos de imediato para o local dos impactos para prestar assistência às eventuais vitimas, mas felizmente apenas houve ferimentos muito ligeiros entre a população.

"Os morteiros 107mm existentes no quartel de Bolama, responderam ao fogo". (...)

(***) Último poste da série > 4 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9311: (Ex)citações (171): A propósito de citações e comentário do Mais Velho (José Manuel Matos Dinis)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8636: In Memoriam (88): Na morte de um Cavaleiro do Gabu (2)


1. O nosso Camarada António Rodrigues, ex-Soldado Condutor Auto do BCAV 8323, Copá, 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

Carta ao meu Prezado Amigo


Joaquim Vicente Silva


Lembras-te Joaquim, de quando nos conhecemos (superficialmente) pela primeira vez?

Era o início do mês de Setembro de 1973, quando eu cheguei ao Regimento de Cavalaria 3, em Estremoz, onde tu já te encontravas para formar-mos o nosso Batalhão de Cavalaria 8323, pois estávamos mobilizados com destino ao sector de Pirada no Leste da Guiné.


Pouco a pouco, fomos fixando os rostos uns dos outros e ouvindo chamar pelos respectivos nomes e assim nos fomos habituando a conhecer aqueles que seriam como nossa família, pelo menos enquanto o Batalhão estivesse a cumprir a missão que lhe estava confiada.


Partimos juntos no Niassa a 22 do mesmo mês e chegamos a Bissau a 29.


Durante a viagem de uma semana, todos juntos dentro de um espaço relativamente pequeno para as nove companhias que viajavam no Niassa, fomo-nos conhecendo ainda melhor uns aos outros, porque nos cruzávamos a todo o instante dentro do navio e os rostos de cada um ficavam cada vez mais gravados na minha memória: o teu era um deles, apesar de pertenceres a outra companhia.


Entramos em Pirada a 3 de Novembro de 1973, onde tu ficaste com a tua 3ª companhia e eu segui com a 1ª para Bajocunda. 15 dias depois acompanhei um Pelotão para Copá de onde passado mês e meio, em Pirada, começaste a ouvir e a sofrer com os bombardeamentos que nos assolavam quase diariamente.


Voltei a encontrar-te 3 meses depois quando regressei a Pirada e por lá estive cerca de 15 dias na tua companhia e dos demais companheiros .


Regressei a Bajocunda e rotineiramente passei a fazer colunas a Pirada, onde normalmente te encontrava e, assim, se foi cimentando a nossa amizade: da minha parte nunca tive dúvidas, tinhas todo o meu respeito e consideração, porque sempre entendi que o merecias.


Regressamos depois da nossa missão cumprida e só passados 16 anos nos voltamos a encontrar no nosso primeiro almoço convívio no Porto que eu ajudei a impulsionar em 1990.


Recordo-me que me disseste nesse dia: “A partir de agora sempre que hajam estes convívios largo tudo para estar presente e rever todos estes amigos!” De facto durante muitos anos cumpriste a tua palavra e apareceste para conviver nesses nossos dias de festa.


Em Junho de 2008, apresentaste-me o teu Amigo António Graça de Abreu, cujo nome eu já conhecia pois já tinha lido um dos seus livros. Ele veio a tornar-se meu Amigo também. Esta amizade devo-a a ti e muito me honra.


Em Agosto de 2009, aconselhaste o jornalista Joaquim Furtado a levar-me a um dos programas da série (A Guerra) para falar sobre Copa. A gravação foi em Setembro de 2009 mas ainda não passou na RTP. Infelizmente já não poderás vê-lo.


Quando no passado dia 6 de Junho de 2010 apareceste no nosso convívio em Coimbra pela última vez, nada fazia prever que a tua saúde corria tanto perigo. Pelo menos aparentemente.


Três meses e meio depois, em Setembro, telefonaste-me a pedir uma cópia das minhas memórias da Guiné porque se tinham extraviado as que tu possuías. Logo te preocupaste, honesto como sempre foste, com a forma de me pagares as despesas envolvidas. Respondi-te então que não te preocupasses, pois no nosso próximo encontro anual resolvíamos isso.


Enviei-te a cópia pelo correio no dia seguinte.


A tua saúde segundo me disseste continuava bem.


Um mês e meio depois, no final de Outubro, telefonaste-me de novo e recebi um choque: primeiro porque me disseste que estavas gravemente doente e segundo porque me transmitiste que não querias morrer sem pagar o que me devias. Aí correram-me as lágrimas pela cara e respondi-te que esquecesses tal insignificância, pois o importante era que tratasses o melhor que pudesses da tua saúde.


Combinamos que te telefonaria de vez em quando a saber das tuas melhoras e fi-lo algumas vezes, não tanto como gostaria, com receio de te estar a incomodar no meio do teu sofrimento.


Nos últimos dias do passado mês de Abril (encontrava-me em Braga pois tinha perdido o meu Pai à poucos dias) recebi mais uma chamada tua, onde me dizias que vinhas ao Porto, num dos primeiros dias de Maio, e que gostarias de te encontrar comigo. Regressei ao Porto e conforme combinamos cá nos encontramos, dei-te um abraço mas achei-te um pouco debilitado fisicamente. Fomos os dois almoçar na companhia da tua simpática Família que em parte já conhecia e no fim dei-te mais um abraço (infelizmente foi o último) e desejei-te boas e rápidas melhoras, e muitas felicidades, com a promessa de que te telefonaria de vez em quando para saber do teu estado de saúde. Desta promessa me penitencio porque não o fiz muitas vezes.


Ainda antes de partires nesse dia, disseste-me que este ano não te sentias com forças para viajar e participar no nosso convívio que se realizaria em Braga três semanas depois.


Uns dias antes de partires, pensando mais uma vez em ti, tive talvez um pressentimento de que não estarias bem e como não sabia como nem onde te encontravas, tive receio de te incomodar ligando para o teu telemóvel. Decidi então ligar para o telefone de tua casa e fi-lo algumas vezes, a diferentes horas, mas não obtive resposta. Agora compreendo, estavas infelizmente a viver os teus últimos dias.


Resolvi mesmo assim no dia anterior à tua “partida” enviar uma mensagem para o teu telemóvel na esperança de que algum dos teus familiares me informasse do teu estado de saúde. A resposta chegou no dia seguinte 23 de Julho, quando um dos teus filhos me enviou uma mensagem com a má notícia: tinhas “partido” na noite anterior.


Olha meu estimado Amigo Joaquim, não tenho palavras para te agradecer a sincera amizade que me dedicaste, só te posso garantir é que, enquanto eu viver, nunca te esquecerei, que Deus te guarde junto dele para sempre, porque sei que eras crente e acreditavas nele.


Depois de todos os sacrifícios porque passaste e pelo bem que com certeza fizeste durante a tua vida que Ele te recompense.


“Quem Crê Em Mim Não Morrerá.” Prometeu-nos Deus.


À tua Esposa e Filhos, apresento os meus mais sentidos Pêsames e que tenham muita força e coragem para suportar a dor da tua perda.


Até sempre meu Grande Amigo...


António Rodrigues

Sold Cond Auto da 1ª CCAV do BCAV 8323
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Notas de M.R.:

Vd. também sobre o Joaquim Vicente Silva, postagens em:


27 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8608: In Memoriam (85): No dia 23 de Julho de 2011 faleceu Joaquim Vicente Silva, 1º Cabo At, 3ª CCCAÇ / BCAV 8323, Pirada, 1973/74, natural de Mafra (António Graça Abreu / Eduardo Magalhães Ribeiro)


30 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8620: In Memoriam (86): Na morte de um Cavaleiro do Gabu


Vd. último poste desta série em:



sábado, 30 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8620: In Memoriam (86): Na morte de um Cavaleiro do Gabu


1. Em homenagem ao nosso camarada-de-armas Joaquim Vicente da Silva, 1º Cabo Atirador da 3ª/BCav8323 (Pirada, 1973-74), o nosso leitor Abreu dos Santos enviou-me quatro documentos, que, com os nossos agradecimentos, aqui exponho à consideração de quantos habitualmente nos visitam.

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série, também sore o Joaquim Vicente Silva, em:


quarta-feira, 27 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8608: In Memoriam (85): No dia 23 de Julho de 2011 faleceu Joaquim Vicente Silva, 1º Cabo At, 3ª CCCAÇ / BCAV 8323, Pirada, 1973/74, natural de Mafra (António Graça Abreu / Eduardo Magalhães Ribeiro)


1. O nosso Camarada António Graça de Abreu (ex-Alf Mil, no CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), ao Poste 7381, enviou-nos um texto com mais uma lamentável e triste notícia para todos nós:

Na morte de Joaquim Vicente Silva, 1º Cabo Atirador da 3ª CCAÇ do BCAV 8323, Pirada, 1973/74


Através de mail do António Rodrigues, um dos bravos de Copá da 1ª Companhia do BCAV 8323, acabo de receber a triste notícia do falecimento do 1º cabo  Joaquim Vicente Silva, nosso camarada, o dono do talho de Alcaínça, Mafra. Durante os anos em que tive casa na aldeia mafrense (, até 2009), mantive com o Joaquim Vicente infindáveis horas de inteligente e entusiasmante conversa sobre a nossa Guiné, sobretudo o que aconteceu no Leste nos últimos meses de guerra, pouco antes do 25 de Abril de 74.

O Joaquim Vicente Silva [, foto à direita, ] era um homem por demais honesto e bom, amigo do seu amigo, sempre dedicado aos seus companheiros da Guiné. Organizou vários almoços do seu batalhão (o mesmo do António Rodrigues e do Amílcar Ventura) em Mafra e na Ericeira, e tinha, orgulhosamente, na montra do talho umas tantas placas comemorativas da passagem pela Guiné e desses mesmos convívios.

Não o via há uns bons meses. Há duas semanas atrás passei por Alcainça e reparei que o talho do Joaquim Vicente, à saída da aldeia, estava fechado e com um letreiro VENDE-SE. Imaginei o Joaquim no ripanço, a preparar a reforma, incapaz de resistir como pequeno empresário das carnes à avalanche de hipermercados que inundam Mafra. E prometi a mim próprio, numa próxima ida a Alcainça, procurá-lo e dar-lhe um fortíssimo abraço. Não o sabia doente, um cancro no pâncreas detectado em finais de 2010.

No nosso blogue, poste P3995 – recomendo que leiam - escrevi sobre o Joaquim Vicente Silva, assim:

“Mês e meio depois, a 31 de Março de 1974, partia de Bajocunda para Copá, a pé, -- quase trinta quilómetros de jornada --, uma grande coluna de tropas portuguesas. Era uma operação de quatro dias da responsabilidade do BCav 8323. Seguiram dois pelotões da companhia de Pirada, dois pelotões de Bajocunda e um pelotão de milícias, cerca de cento e trinta homens.Um dos soldados que participou nessa operação chamava-se, chama-se, Joaquim Vicente Silva. É o meu camarada e amigo dono do talho de S. Miguel de Alcainça, Mafra, aqui a quatrocentos metros da minha humilde casa na aldeia.

"O Joaquim Vicente contou-me toda a história. Avançaram com dificuldade e algum receio, havia minas na picada, dormiram no mato, mas chegaram em paz a Copá. Para sua surpresa verificaram que os guerrilheiros não haviam entrado no destacamento. Continuava tudo armadilhado, os homens do PAIGC não haviam tocado em nada. Patrulharam a região em volta de Copá e não só não encontraram ninguém como não tiveram qualquer contacto com o IN.

"Três dias depois, já no regresso, perto de Bajocunda foram flagelados com tiros soltos de Kalashnikov, disparados a partir de uma bolanha, sem quaisquer consequências”.


Honra à sua alma, que descanse em paz. O Joaquim Vicente Silva já não está entre nós.
Partiu para Deus, para o grande vazio. Tinha 60 anos.

António Graça de Abreu

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Pirada > 3ª CCAV / BCAV 8323 (1973/74) > O 1º Cabo Joaquim Vicente Silva, em 26 de Abril de 1974, com os restos das lembranças do ataque do dia anterior (Neste caso parte de um foguetão 122 mm).

2. Comentário do editor:


É nossa vontade expressa que o o 1º Cabo Joaquim Vicente Silva (1951-2011), que não tinha email nem computador,  passe a integrar formalmente a nossa Tabanca Grande, com o nº 509,  e a figurar na lista dos "amigos/as e camaradas que da lei da morte se foram libertando"... Infelizmente, com ele, já são treze.


A sua apresentação, por ele próprio,  aos amigos e camaradas da Guiné já tinha sido feita em 30 de Março de 2009, através do poste P4106 (O dia 25 de Abril de 1974, em Pirada, a ferro e fogo)


(...) Apresenta-se o 1º cabo atirador 045385/73, Joaquim Vicente da Silva (na foto, à esquerda), da 3ª companhia do BCav 8323, comandado pelo coronel Jorge Matias, estacionada em Pirada, Guiné, 1973/1974.

Vivo em S. Miguel de Alcainça, a terra onde nasci, perto de Mafra e da Malveira, e sou o dono do talho de Alcainça. No blogue, o António Graça de Abreu, que tem casa aqui na terra, já falou em mim e entusiasmou-me a escrever para o blogue do Luís Graça e dos camaradas da Guiné.

Junto três fotografias minhas, a primeira em Pirada a 26 de Abril de 1974, com os restos das lembranças do ataque do dia anterior, outra de como sou hoje e a última de uma bateria anti-aérea que foi montada por nós, em Pirada, já depois do 25 de Abril. (...)

Foi no dia 25 de Abril de 1974, à noite, através da BBC, e depois de um violentíssimo (e mortífero) ataque de morteiros e foguetões 122 mm a Pirada, que o Joaquim Vicente Silva soube dos acontecimentos em Lisboa:Por lapso ou distracção nossa, o nome do Joaquim Vicente Silva nunca chegou a integrar a lista (alfabética) dos amigos e camaradas da Guiné, reunidos à sombra do poilão da Tabanca Grande, e que consta da página principal do nosso blogue (coluna à esquerda). Uma pequena injustiça que a morte veio agora reparar.


(...) Nesse dia nós, cabos e soldados não sabíamos nada do que estava a acontecer cá na Metrópole. Só à noite, através da BBC é que tivemos conhecimento do golpe de Estado. Foi uma grande alegria para todos nós porque pensámos logo que a guerra acabava naquele dia. Festejámos com muitas cervejas. No dia seguinte na telefonia, começámos a ouvir a Grândola, Vila Morena e outras músicas do Zeca Afonso. A guerra ia acabar, que alegria! (...).

À família enlutada, aos amigos mais próximos, desolados, ao António Graça de Abreu que com  ele privou em São Miguel de Alcainça, ao António Rodrigues, ao Amílcar Ventura e aos demais camaradas do BCAV 8323 com que ele lutaram, sofreram, conviveram e/ou privaram,  expressamos a nossa tristeza pelo desaparecimento (físico) de mais um camarada e um bravo da Guiné, comprometendo-nos a honrar a sua memória, como é obrigação nossa (EMR).
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segunda-feira, 30 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4106: No 25 de Abril eu estava em... (8): Pirada, a ferro e fogo (Joaquim Vicente Silva, 3ª CCAV / BCAV 8323)

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Pirada > 3ª CCAV / BCAV 8323 (1973/74) > O 1º Cabo Joaquim Vicente Silva, em 26 de Abril de 1974, com os restos das lembranças do ataque do dia anterior. (Neste caso, parte de um foguetão 122 mm).

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Pirada > 3ª CCAV / BCAV 8323 (1973/74) > Bateria anti-aérea montada pelas NT, em Pirada, já depois do 25 de Abril.

Fotos: © Joaquim Vicente Silva (2009). Direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada e amigo António Graça de Abreu:


Assunto - Joaquim Vicente da Silva: Ataque a Pirada em 25 de Abril


Meus caros Luís e Carlos Vinhal

Envio-vos este texto escrito pelo meu amigo do talho de S. Miguel de Alcainça. O texto é dele, eu não tenho nada a ver com isto, excepto ter limado algumas frases. O Joaquim não sabe usar computador.

Este texto é uma boa resposta ao general Almeida Bruno quando fala do 'Bando' que não participava em operações, nem saía dos aquartelamentos. O homem, general, tem de se penitenciar porque disse uma inverdade muito grande que mexe com todos nós, que obrigados (não foi o caso dele!) passámos pela Guiné.

Um abraço,

António Graça de Abreu



2. O dia 25 de Abril de 1974, em Pirada, a ferro e fogo (*)por Joaquim Vicente da Silva


Apresenta-se o 1º cabo atirador 045385/73, Joaquim Vicente da Silva (na foto, à esquerda), da 3ª companhia do BCav 8323, comandado pelo coronel Jorge Matias, estacionada em Pirada, Guiné, 1973/1974.

Vivo em S. Miguel de Alcainça, a terra onde nasci, perto de Mafra e da Malveira, e sou o dono do talho de Alcainça. No blogue, o António Graça de Abreu, que tem casa aqui na terra, já falou em mim e entusiasmou-me a escrever para o blogue do Luís Graça e dos camaradas da Guiné.

Junto três fotografias minhas, a primeira em Pirada a 26 de Abril de 1974, com os restos das lembranças do ataque do dia anterior, outra de como sou hoje e a última de uma bateria anti-aérea que foi montada por nós, em Pirada, já depois do 25 de Abril.

Vou contar a história do violento ataque que sofremos em Pirada,  exactamente no dia 25 de Abril de 1974.

No dia 25 de Abril de madrugada, saímos dois pelotões, mais os sapadores. Fomos levantar algumas minas que estavam na picada em direcção a Gabu (Nova Lamego). Regressámos a Pirada por volta das dez da manhã. Participei nesta saída, tínhamos de fazer a protecção aos sapadores.

Eram mais ou menos dez e meia, eu já tinha tomado banho e estava no meu quarto, abrigo nº. 1, deitado em cima da minha cama e ouvi um pequeno estalido. Um colega que estava cá fora sentado num banco, gritou logo:
-Saiam para a vala que isto é o início de um ataque!...

Naquele dia o PAIGG bombardeou Pirada com muitos mísseis e morteiros, alguns caíram bem perto do local onde eu me encontrava, eu não morri por sorte. A meu lado, morreram três africanos nossos colegas, um míssil caiu-lhes aos pés e cortou-os em pedaços. Nunca tinha visto nada daquilo. Fiquei horrorizado, ainda hoje mexe comigo.

Nós, soldados brancos, não morremos nenhum, porque estávamos bem agachados nas valas ou trincheiras. Vieram juntar-se a nós vários oficiais, incluindo o alferes médico que nos disse para nos espalharmos mais pelas valas porque aquilo estava a ficar feio.

Este bombardeamento durou cerca de duas horas. Nós respondemos com os morteiros 81, os nossos obuses 10.5 e o nosso obus 14 que estava junto ao aeroporto de Pirada.  Bajocunda também nos deu apoio de fogo com o obus 14 deles. Foi um inferno. Só se ouviam bombas a voar, outras a assobiar e a rebentar por cima ou perto de nós.

Assim que terminou o ataque, mandaram-nos equipar para sair. Fomos patrulhar em volta de Pirada e encontrámos, para o lado do Senegal,  o mato todo a arder, mas felizmente não vimos ninguém do PAIGC. Caiu um míssil na casa de um comerciante branco, de nome António Palhas, que escapou ileso, mas morreram seis africanos que estavam noutro compartimento da casa.

Nesse dia,  nós, cabos e soldados,  não sabíamos nada do que estava a acontecer cá na Metrópole. Só à noite, através da BBC é que tivemos conhecimento do golpe de Estado. Foi uma grande alegria para todos nós porque pensámos logo que a guerra acabava naquele dia. Festejámos com muitas cervejas.

No dia seguinte na telefonia, começámos a ouvir a Grândola, Vila Morena e outras músicas do Zeca Afonso. A guerra ia acabar, que alegria!

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 4 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3561: No 25 de Abril eu estava em... (5) Bissau, ouvindo vivas a Spínola, pai do nosso povo (J. Casimiro
Carvalho)

Postes anteriores:

22 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3498: No 25 de Abril eu estava em... (4) Agrupamento de Transmissões, Bissau (Belarmino Sardinha)

1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3262: No 25 de Abril eu estava em... (3): Gadamael e depois Cufar (José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp, CCAÇ 4152)

19 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2963: No 25 de Abril eu estava em... (2): Gadamael e a vontade de lutar do PAIGC também era pouca (Anónimo, Alf Mil Op Esp)

14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2939: No 25 de Abril eu estava em... (1): Guidage (João Dias da Silva, CCAÇ 4150, 1973/74