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terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24921: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (20): 10 de Junho (Só para Patriotas)


1. Em mensagem do dia 30 de Novembro de 2023, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689 / BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), reapareceu volvidos três anos, enviando-nos esta Boa memória da sua paz, intitulada "10 de Junho (Só para Patriotas)".


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ - 18

10 de Junho
(Só para Patriotas)


Há um grupo de ex-combatentes da Guerra do Ultramar que se vem reunindo mensalmente em alegres convívios, usufruindo de excelentes “provas” de gastronomia, enriquecidos com admiráveis programas de lazer e de cultura. Neles se cimentaram grandes laços de amizade, solidariedade e camaradagem.

Chama-se “O Bando do Café Progresso” e deve a sua formação a um pequeno grupo de jovens que frequentava assiduamente o “Café Progresso” (o mais antigo do Porto), especialmente no período anterior ao seu ingresso no serviço militar e sua consequente mobilização para a Guerra do Ultramar. Por coincidência passaram maioritariamente pelo mesmo percurso (Caldas, Mafra, Vendas Novas, Tavira, Santarém, Espinho e… Guiné).

Muito mais tarde, o Facebook promoveu a reaproximação de uns e a adesão de outros. Quem fomentou mais a afirmação do grupo foi o saudoso Jorge Portojo. Os membros do “Bando” tratam-se por tu, convivem como irmãos, sem distinção militar, social, clubística, profissional e académica. Cada um vai-se integrando ou afastando livremente, conforme a sua disposição para adaptação à camaradagem, amizade, solidariedade e tolerância. Graças a isso, e a mais de uma dúzia de anos de vivências regulares, temos um bom núcleo de base de grande confiança e amizade. Aqui, ninguém impõe nada, nem é obrigado a nada. Apenas tem de se sentir bem sem chatear ninguém.

Portugal não respeita o dia da sua Independência. Deve ser o único país do Mundo que não festeja o dia da sua independência!

Há quem diga que na “corte” da nossa Capital nunca foi nem será aceite que a fundação de Portugal tenha sido antes da conquista de Lisboa aos mouros.

Graças à grandeza do Camões (muito anterior ao Eusébio, Ronaldo, José Sócrates e Pinto da Costa), os portugueses vêm assinalando a data da sua morte como ponto alto da nossa portugalidade.

E chegou mais um 10 de Junho. Nada de novo: uma descentralizaçãozita das cerimónias para o interior do País e para junto das comunidades lusas de emigrantes no estrangeiro, garantindo assim a participação popular, mais pura e mais patriótica. Oportunidade única para se mostrar alguns adereços locais, mais políticos, mais medalhas discutíveis, mais fardas de vários tipos, incluindo algumas orientadas pela anquilosada/estatizada/Salazarenta Liga dos Combatentes. Mesmo assim, temos vindo a assistir a desfiles de figuras do poder, suas selfies e seus discursos vergonhosamente desenquadrados da importância solene que este Dia de Portugal exige.

Nós, “Bandalhos” do “Bando”, que sempre nos honramos da Pátria que defendemos, que além da Guerra, nos preocupámos e lutámos pela dignidade, honra e solidariedade dos nossos Camaradas, infelizmente pouco conseguimos e muito nos desacreditámos.

Prevalece, isso sim, o espírito “Bandalho”, que nos proporciona a boa ambiência, a amizade e a óptima camaradagem. E sempre manteremos o sentido patriótico com orgulho e muito respeito.


10 de Junho de 2023

Sem políticos, sem fardas, sem desfiles e sem medalhas, o “Bando” poisou, mais uma vez (a 10.ª), na lindíssima povoação de Crestuma,

Concentrados no Miradouro deslumbrante do Largo da Igreja, pelas 12h00 fizemos a Romagem ao Cemitério onde foi depositado um lindo ramo de flores. O Romualdo Silva complementou a Homenagem aos ex-Combatentes locais, enaltecendo a sua prestação militar, espirito de sacrifício e dever patriótico, na defesa do seu País e da sua comunidade.

Seguimos para as instalações do Clube Náutico de Crestuma, onde tivemos a oportunidade de conhecer um dos principais clubes da Canoagem Portuguesa.
Na montra de Troféus do C. N. Crestuma, deparamos com o Troféu Olímpico, que é atribuido ao clube desportivo de maior destaque no período dos 4 anos de Ciclo Olímpico
Como Fundador e Primeiro Presidente (e Honorário) desta Colectividade, “deixaram-me” fazer o papel de Guia. O Clube (propriamente dito) estava ausente, a participar em Provas de Canoagem na Catalunha.

Subimos para a Esplanada, onde prosseguiu o nosso 10 de Junho “à nossa maneira”.
Ali, quase debruçados sobre as águas do Rio Douro, envolvidos numa belíssima paisagem e acarinhados pelo aconchego das nossas queridas, resolvemos homenagear (finalmente!) as nossas Madrinhas de Guerra
Ainda entretidos a “decidir opções” perante a excelente mostra das entradas, o Ricardo Figueiredo já aproveitava para citar Camões, a referência ao dia e o expoente máximo da nossa cultura.
“Eternos moradores do Luzente
Estelífero polo e claro acento,
Se do grande valor da forte gente
De Luso não perdeis o pensamento”


E referiu:
“…Ao longo da nossa história, muitos foram os exemplos de dedicação, altruísmo e coragem de militares que, em cumprimento do dever, sublimaram as suas capacidades ao serviço de Portugal. Foram heróis que connosco partilharam o quotidiano das suas vidas. Afinal, homens simples, capazes de feitos extraordinários.
Ao percorrermos a nossa memória, lembramo-nos dos cerca de 10.000 portugueses mortos e de mais de 54.000 feridos em combate e aí revemos os nomes de familiares e amigos.
E recordamos também aqueles que, ao longo de 9 séculos, deram a vida por Portugal.
Fomos Combatentes!
Somos ex-Combatentes!
Fomos soldados de excepção. Fizemos da distância e da saudade um desafio a vencer, aceitámos a falta de recursos como razão para a iniciativa e para a adaptabilidade fizemos da juventude o tempero da camaradagem.
E é desta lembrança de uma camaradagem fortalecida em tempos difíceis de guerra que resultam os nossos sentimentos de saudade.
Lembramos os nossos camaradas que sobreviveram e os que recentemente da lei da morte se passaram para outra dimensão.


Lembramos:
Jorge Portojo,
Carlos Peixoto,
Armando Santos,
Barreto Pires,
José Valente,
António Piteira,
Francisco Alen
Henrique Azevedo
Carneiro de Miranda
Manuel Maia
…”

Após o minuto de silêncio, procedeu-se à distribuição dos Diplomas de Homenagem às Madrinhas de Guerra, entregues pelos seus próprios afilhados. A nossa geração não esquece.

E a pedido, o Ricardo também leu:

Ex.mas Madrinhas de Guerra
Camaradas Combatentes
Desde miúdos, que nos habituámos a respeitar o 10 de Junho, como Dia de Camões, Dia da Raça. Dia de Portugal.
Era neste dia que se enalteciam os maiores feitos dos Portugueses!
Dia consagrado aos nossos heróis!
Vimos jovens, robustos, firmes, inteiros ou estropiados, garbosamente fardados.
Vimos pais, mães e filhos, vestidos de negro.
Vivos ou mortos, os nossos valorosos Combatentes estavam ali, orgulhosamente, para Honra e Glória da nossa Pátria.
Eram respeitados como a expressão máxima do nosso heroísmo.
Os tempos foram mudando, os combatentes foram esquecidos e as Cruzes de Guerra foram substituídas por grandes e abundantes Comendas.
Agora, os heróis são outros. São experts da política, da economia, da vigarice, do marketing e do chico-espertismo.
Curiosa e vergonhosa a situação reinante.
É que muitos deles (nós também), aguardam da verdadeira Justiça, a desejada e demorada condenação!
Volvido meio século da nossa história, nós, a geração que tudo sofreu,
A geração que em tudo acreditou,
A geração que sempre trabalhou,
Sente-se agora algo envergonhada pela situação a que chegamos.
Sem força, física e anímica, resta-nos a razão moral que nos alimenta vida fora.
Muito fizemos!
Mas muito deixamos por fazer!

É por isso, que, volvido tanto tempo, ainda vivemos preocupados com desejados acertos da nossa História.
Hoje, mais uma vez, lembramos o 10 de Junho, através de uma singela Homenagem.
A Homenagem às nossas Madrinhas de Guerra.
Sem elas, a guerra teria sido outra.
Sem elas, não teríamos vivido a Paz e o Amor.
Sem elas, não valeria a pena viver!
Obrigado Madrinhas de Guerra!
Obrigado Madrinhas no Amor!
Vós sois a razão da nossa existência.
VIVAM ÀS NOSSAS MADRINHAS !!!
VIVA PORTUGAL !!!


Uma inédita e muito singela Homenagem que provocou momentos de grande emoção e ainda de …muito amor.

Foram Homenageadas as seguintes Madrinhas de “Bandalhos”:

Gilda Ferreira - de - José Ferreira
Virgínia Teixeira - de - Jorge Teixeira
Carminda Cancela - de - Jose Manuel Cancela
Margarida Peixoto - de - Joaquim Peixoto
Cândida Rainha - de - Ricardo Figueiredo
Almerinda Freire - de - José Freire
Constantina Silva - de - Fernando Silva
Rosário Guimarães - de - Manuel Cibrão Guimarães
Amélia Fonseca - de - Luis Bateira
Maria Inês Sá - de - Manuel David Sá
Isabel Encarnação - de - João Encarnação
Emília Silva - de - Romualdo Silva
Maria Anjos Ramalho - de - Alberto Moura
Júlia Gomes - de - Isolino Gomes
Eulália Oliveira - de - António Pimentel
Maria de Fátima Carvalho - de - Antonio Carvalho
Umbelina Carneiro - de - Joaquim Carneiro
Constança Lopes - de - António Moreira
Fátima Sousa - de - José António Sousa
Maria José Costa - de - José Sousa
Conceição Claro - de - Damião Carneiro
Fátima Anjos - de - Francisco Baptista
Ana Maria Marques - de - António Duque Marques
Quina Carmelita - de - Manuel Carmelita
Assunção Paupério - de - Rogério Paupério
Constança Maria - de - António Gonçalves
Manuela Campos - de - Eduardo Campos
Fernanda Soares - de - Alberto Godinho
Luísa Lopes - de - José Manuel Lopes

Dia de emoções fortes
No 10 de Junho destes “guerreiros”, o Amor sempre prevalece.
Alimentados os corações, há que abastecer o estômago com a “Paella do Marques”, complementada com mais umas lambarices.
Tudo bem regado com bebidas escuras, brancas e outras e bem-humorado, com destaque para a animação da dupla “Ricardo e Carneiro” e para o grupinho das “Tecedeiras de Crestuma”
Os animadores Ricardo e Carneiro
Grupo das “Tecedeiras de Crestuma”
Já o dia ia longe e ainda “restavam” vários Bandalhos, pacificamente “colados” à terra, quietinhos, quentinhos e em sonolenta recuperação.

“Estes guerreiros são bons
C´o copito no punho
Clamam em vários tons
Pureza no 10 de Junho”


Silva Da Cart 1689
José Ferreira da Silva

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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE AGOSTO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21260: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (19): O Sousa da Ponte… de Pedra

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23296: Convívios (928): 48.º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 19 de maio de 2022 - Parte I: os "bandalhos" que se estão a tornar clientes...


Foto nº 1 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 >  Foto de  grupo, começando pelo lado esquerda, o Zé Ferreira, o Manuel Resende, o Mário Fitas e o Jorge Teixeira. Do lado direito, outro "bandalho", o José Sousa que veio integrado na "deputação" do Norte, o José Diniz de Sousa Faro, o Domingos Robalo, o António Duque Marques... O camarada, a seguir, de camisa amarela, estou com dificuldade em identificá-lo... Apesar de diversas desistências de última hora, com medo da sexta vaga da  Covid, a ala compôs-se e tudo parece ter corrido bem. 

Foto nº 2 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 >  Dois dos escritores de O Bando: tão bem dispostos quanto talentosos, o  Francisco Baptista e o José Ferreira

Foto nº 3 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 >  José Ferreira. Eduardo Moutinho Santos e Eduardo Campos (com ar de quem já está meio "covidado": foi um dos que adoeceu, a seguir)...

Foto nº 4 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 >  Outro dos escritores de O Bando, António  Carvalho, e o seu "assistente", o Zé Manel Cancela.

Foto nº 5 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 >  O bandalho-mor, o Jorge Teixeira, encantado por vir à terra dos mouros, e o seu assssor jurídico, Ricardo Figueiredo.

Foto nº 6 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 > Mais dois ilustres "bandalhos", o Fernando Súcio e o José Sousa.


Foto nº 7 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 > "Volta, Armando (Pires)... estás perdoado", parece querer dizer o Miguel Rocha, tendo à sua esquerda o Manuel Macias, cujo sorriso, tranquilizador, vale por mil palavras: "Armando, temos saudadrs tuas"-


Foto nº 8 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio  > 19 de maio de 2022 > Faltaram também casais com "new look": o nosso Jorge Ferreira, vinte anos mais novo, e a sua nova companheira...

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Conforme foi notícia aqui no blogue (*), ao fim destes dois anos e tal de pandemia de Covid-19 que nos obrigaram a ficar sozinhos e tristes em casa,  a Magnífica Tabanca da Linha, com sede em Algés, Oeiras, abriu as suas portas de par em par, para receber os seus magníficos tababanqueiros e convidados, no "reservado" do Restaurante Caravela de Ouro.  

Estavam inscritos cerca de 9 dezenas de convivas, mas houve desistências de última hora devido  à nova vaga de Covid-19 que veio  estragar a nossa primavera de 2022...

Este convívio contou com uma belíssima representação do Porto, oriunda da mais famosa tertúlía literária, memorialística, cultural, recreativa, gastronómica, almocarística, jantarística e escursionista lá do Norte,  registada originalmente sob o nome de Bando do Café Progresso, das Caldas à Guiné e, mais familiarmente conhecida nas redes sociais como os "Bandalhos". O bandalho-mor é  o Jorge Teixeira.

Com fotos do Manuel Resende (o régulo e o homem dos sete ofícios da Magnífica Tabanca da Linha) damos aos nossos leitores uma primeria ideia do que foi este 48º Convívio. O adjunto, Armando Pires, embora ali a dois passos (mora em Mira Flores) optou por ficar em casa, acautelando a sua saúde. Mas a sua ausência foi notada e sentida...

(Continuação)
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Nota do editor:

(*) Útimo poste da série > 19 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23276: Convívios (927): A Magnífica Tabanca da Linha reabre hoje, em Algés, no Restaurante Caravela de Ouro, ao fim de mais de dois anos de pandemia... Uma luzidia representação do Porto, de "O Bando" (incluindo 3 escritores), vem animar este 48º convívio, já histórico...

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23276: Convívios (927): A Magnífica Tabanca da Linha reabre hoje, em Algés, no Restaurante Caravela de Ouro, ao fim de mais de dois anos de pandemia... Uma luzidia representação do Porto, de "O Bando" (incluindo 3 escritores), vem animar este 48º convívio, já histórico...


Uma foto de família, já antiga, do "Bando do Café Progresso, das Caldas à Guiné", tirada por ocasião dos seus 10 anos de existência... Legenda: "Em 10/11/2017,  o Bando em Mogadouro, a caminho de Vila For". 

Na altura ainda eram vivos o Jorge Teixeira (Portojo) (o quinto da fila de trás, a contar da direita, se não erro), e o Joaquim  Peixoto (o terceiro da primeira fila, a contar da direita). 

Mas, já agora, aqui ficam os seus nomes, da esquerda para a direita: 1ª fila: João,  Jorge Teixeira, António Tavares, Zé Manel Cancela, Xina, Valdemar,  José Ferreira (o que único que usa chapéu... preto), Cibrão, Joaquim Peixoto,  António Carvalho e Fernando Súcio; 2ª fila: Jorge Lobo, um elemento não identificado (por detrás do Cancela), Ricardo Figueiredo, Alberto, Eduardo Campos, Freire, Manuel, e António Pimentel... 

Grande parte deles são também membros da Tabanca Grande, mas faltam aqui nomes como o Eduardo Moutinho. Não sabemos quem tirou a foto

Foto: página do Facebook do Bando (2017), com a devida vénia


1. Ao fim destes dois anos e tal de pandemia de Covid-19 que obrigaram a fechar as nossas Tabancas e a impedir os nossos convívios regulares, a Magnífica Tabanca da Linha, com sede em Algés, Oeiras, abre as portas de par em par (, do "reservado" do Restaurante Caravela d' Ouro) (*) para receber cerca de 9 dezenas de convivas, os "magníficos" do costume, os "meninos da Linha", mais uma luzidia representação do Porto, a mais famosa tertúlía literária, memorialística, cultural, recreativa, gastronómica, almocarística, jantarística e escursionista resgistada originalmente sob o nome Bando do Café Progresso, das Caldas à Guiné e, mais familiarmente conhecida nas redes sociais como os "Bandalhos", agora sem pouso certo (deixaram o Café Progresso e voltaram à vida nómada). O Bando, apesar de tudo, tem um chefe que é o Bandalho-Mor, Jorge Teixeira. 

Eis a lista dos "Bandalhos" que ainda vinham há um bocado no comboio da manhã que há de chegar a Santa Apolónia, e que o António Carvalho me confirmou pelo telemóvel. Diga-se, de passagem, que não é uma simples representação dos "Bandalhos", é uma verdadeira "deputação":

  • António Carvalho (escritor)
  • Eduardo Campos
  • Eduardo Moutinho Santos (régulo também da Tabanca de Matosinhos)
  • Fernando Súcio
  • Francisco Baptista (escritor)
  • Jorge Teixeira (Bandalho-mor)
  • José António Sousa
  • José Ferreira da Silva (escritor)
  • José Manuel Cancela
  • José Sousa
  • Ricardo Figueiredo 

Estão 3 limusines em Santa Apolónia à espera dos "Bandalhos" para os levar até magnífica mesa da Tabanca da Linha.  É tudo gente que vem por bem, apesar do seu indisfarçável (e às vezes truculento) "humor tripeiro": além de 3 escritores, já consagrados, o grupo incluiu dois juristas,  cujos préstimos estão sempre disponíveis para as pequenas e grandes ocasiões, o Eduardo Moutinho Santos e o Ricardo Figueiredo. 

Só soube  há dias do evento, ao falar ao telefone com o meu vizinho Humberto Reis e depois ontem  com o António Carvalho, o Manuel Resende (régulo da Magnífica Tabanca da Linha), o Jorge Ferreira e o Manuel Gonçalves (que vai lá estar com a sua companheira e a minha querida amiga Tucha, e uma neta), e ainda pelo anúncio que o Francisco Baptista aqui fez no blogue:

(...) "No próximo dia 19, irei com alguns camaradas do Porto, ao almoço da Tabanca da Linha, que, tendo como Régulo o camarada Manuel Resende, cada vez ganha mais fama pelas bebidas e cozinhados que revigoram o corpo, aquecem a alma e ajudam a criar um alegre convívio, que todos os ex-combatentes da Guiné apreciam.

Tal como eu dois outros camaradas (António Carvalho e José Ferreira da Silva) levaremos livros , eu já li os três e gostei muito, experiências diferentes, estilos diferentes, mas todos interessantes." (...).

Pessoalmente bem gostaria de partilhar as alegrias deste convívio, hoje 5.ª feira, e dar um abraço fraterno, repleto de saudades, a toda a rapaziada fixe que vai lá estar, de Norte a Sul. Razões de saúde (estou em convalescença e recuperação, depois de uma recentíssima artoplastia total ao joelho esquerdo). Mas o abraço vai na mesma, virtual, com uma especial saudação ao régulo da Magnífica Tabanca da Linha, Manuel Resende... Espero que, apesar do espaço amplo e arejado do restauarnte Caravela D'Ouro, todos se saibam proteger uns aos outros, usando a máscara sanitária que já faz parte desde março de 2020, da nossa indumentária... (LG)

PS - Ainda bem que o nosso talentoso e transmontano Francisco Baptista também já leu o livro que escreveu e que tem vindo a apresentar a vários públicos.  Diz que gostou (do dele, e dos outros). E eu também posso acrescentar que gostei... e estou sempre a incentivar a malta para escrever.



Um excelente cartão de visita dos Bandalhos... porque nem só de pão vive o homem (e muito menos o camarada que comprou bilhete para as Caldas e foi parar à Guiné). (**)

2. Ainda sobre o historial dos "Bandalhos"... Na sua página do Facebook lê-se:


(...) Tudo começou porque em 10/11 de Abril de 1967, um grupo de ex-camaradas do Porto se encontrou nas Caldas da Rainha no RI5. Seguiram a 24 de Junho para a EPA, em Vendas Novas de onde debandaram a 12 de Setembro.

Quase todos se reencontraram em Paramos/Espinho a 25 de Setembro. Laços de amizade foram-se cimentando. A partir de Fevereiro/Março de 1968 debandaram de novo: Lamego, Gaia, Tomar, Santa Margarida, Torres Novas foram alguns dos destinos.

Até que chegou a Guiné e muitos outros destinos nos separaram. Regressados todos entre Maio e Junho de 1970, alguns de nós víamo-nos por aí, até que o tenaz Fernando Jorge Teixeira, mais conhecido por Presidente JTeix.45, conseguiu ir reunindo um pequeno grupo, que hoje só faz desgraças por onde passa. O Bando não é enorme, mas tem correspondentes e muitos amigos e ex-camaradas com percursos idênticos.

Bandalhos desde Janeiro de 2009, a sua História pode ser vista e lida em http://bando-do-cafe-progresso.blogspot.pt/ (...)
___________

Notas do editor:

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23274: (In)citações (205): Os nossos livros são as memórias da nossa vida e da nossa passagem pela guerra da Guiné (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 16 de Maio de 2022:

O Zamith Passos, de há cinquenta e dois anos é um homem e um amigo que eu estimo e considero especialmente. Ele como furriel e eu como alferes, comandámos o 2.º pelotão da CCaç 2616, o melhor que pudemos, conjugando as experiências e conhecimentos de um e do outro.
Depois de anos sem contactos pela turbulência da vida, há alguns anos que nos reencontramos como velhos amigos e camaradas para lembrar as longas caminhadas pelo Chinconhe, pela Bolanha dos Passarinhos, outros locais arborizados, quentes e húmidos, pelo bar de sargentos e oficiais e outros locais que nunca esqueceremos.

Ele tem sido o organizador, nos últimos anos, dos almoços da Companhia. Convocou mais um que se realizou no passado dia 7 de Maio, na esplanada de um restaurante em Lisboa, na Zona da Expo/98, com boas vistas sobre o rio Tejo. O anterior, em que não pude estar presente, foi antes da pandemia em 2019 e estiveram presentes mais de cinquenta pessoas, entre ex-militares e familiares. Este ano havia somente 30 comensais, alguns foram morrendo, como o Paulo Fragoso, vítima de covid (meu grande amigo. Trocamos muitas mensagens e telefonemas), outros estão adoentados, outros menos sociáveis e mais recolhidos pelos três anos deprimidos, em que temos vivido.

Entre os camaradas, esteve também o General Pezarat Correia, distinto militar do 25 de Abril, do Conselho de Revolução, com obras relevantes editadas, de índole histórico e político-militar, doutorado pela Universidade de Coimbra, convidado por ter sido o Major de Operações do Batalhão 2898, a que pertencia a nossa companhia.
Gostei de me ter distinguido com um grande abraço, quando, através do Zamith Passos me identificou, não por feitos militares, mas por ter lido um artigo do livro "Cartas de Amor e de Dor" da escritora Marta Martins Silva, que ele prefaciou em que me dá um elogio tão grande, que eu só consigo justificar pela amizade e camaradagem pelos militares que comandou.

Buba > Eu e o Zamith Passos
Um abraço entre camaradas
Aspectos do convívio


Prefácio de Pedro Pezarat Correia no livro “Cartas de Amor e de Dor”, de Marta Martins da Silva; pp 17 e 18:

É nas cartas de alguns graduados, oficiais e sargentos milicianos, como Lobo Antunes, Francisco Baptista, Beja Santos, Graça de Abreu, Bação Leal, que aquela tomada de consciência é mais expressiva. A correspondência de Bação Leal tornou-se icónica: “Estou farto deste carnaval de cadáveres […] a única porta é o suicídio”. Não se suicidou, mas viria a morrer em operações em Moçambique. Francisco Baptista, quando em Março de 1970 embarcou para a Guiné, ia já “plenamente convencido da inutilidade dessa guerra”[2] António Graça de Abreu faz uma premonição reveladora de uma consciência avançada: “Aí em Portugal é que o PAIGC vai ganhar a guerra”. O contributo da luta dos movimentos de libertação para o que viria a ser o 25 de Abril, que ainda não está suficientemente estudado, é incontroverso.

[2] - Francisco Baptista, alferes miliciano, foi integrar a CCAÇ 2616 em Buba, que pertencia ao meu Batalhão, o BCAÇ 2892 com sede em Aldeia Formosa, no qual eu era oficial de operações, onde substituiu um alferes morto em operações, o que me permite confirmar inteiramente as situações que ele relata.

Agosto de 2021
Pedro de Pezarat Correia


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Os mortos sozinhos na capela (quem rezava por eles?)

Francisco Baptista embarcou para a Guiné a sentir-se "politicamente derrotado pois estava plenamente convencido da inutilidade dessa guerra", pelo que os dois anos de comissão foram-lhe muito penosos. "Antes da minha partida, tinha bem a noção das mortes que ocorriam nas três frentes da guerra, pois, pouco tempo antes, tinha estado durante três meses no Quartel-General de Lisboa, para onde eram comunicados diariamente os mortos. Os mortos da Guiné, um, dois, três, por dia - por vezes mais -, eram sempre em maior número. Tendo em conta o número de mortos, fiz um cálculo e, segundo as leis da probabilidade, achei que teria mais hipótese de regressar com vida do que o seu contrário, mas com cálculos ou sem eles os transmontanos que eu conheci não fugiam à guerra, pelo contrário; os rapazes que tinham emigrado, a salto, para a Europa, vinham todos à inspecção militar e a "dar a tropa", conforme expressão deles, muitas vezes já casados e com um grande prejuízo financeiro", começa por dizer Francisco Baptista.

As probabilidades estiveram efectivamente do lado de Francisco, que partiu para a Guiné no dia 19 de Março de 1970, no navio Alfredo da Silva, integrado na Companhia de Caçadores 2616 do Batalhão de Caçadores 2892. Ele voltou com vida, mas nem todos tiveram essa sorte. "Os momentos mais difíceis para mim, como para os outros, eram a morte de camaradas. Foi difícil, ainda dói, a morte do Albano, tão bom camarada, a morte do furriel Ferreira, éramos amigos, a morte de dois soldados milícias africanos, ao meu lado, sendo eu o responsável por essa força de combate", partilha.

Era impossível não sentir, mesmo quando - e foi o caso de Francisco - se nasceu nuyma aldeia do interior, "com costumes ancestrais onde a morte era tão natural como a vida". "Lembro-me de ir desde criança, ainda antes mesmo da idade escolar, aos funerais dos meus primos aina meninos, muitas vezes a ajudar a levar as urnas para o cemitério. Com dez anos assisti à morte do homem que mais amei, o meu avô paterno, lembro-me de tudo, da da minha mãe e das outras mulheres à volta da cama dele, da minha avó paterna a rezer orações antigas, que só ela conhecia, da respiração ofegante dele e do estertor da morte. O meu avô, o meu grande amigo, quis-me dizer como morre um homem, para eu saber enfrentar a morte com coragem. Na minha memória afetiva guardo esse dia com saudade mas sem mágoa, e com a mesma naturalidade como outros dias que passei com ele a regar a horta, ou à noite, nos serões da lareira". Mas na guerra a morte não era tão natural.


Texto de Francisco Baptista publicado no livro "Cartas de Amor e de Dor, de Marta Martins da Silva, pág. 262

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O último semestre da CCaç 2616, em Buba, foi um tempo malfadado. Todos os tipos de azares e desgraças, aconteceram. Além dos habituais ataques de armas pesadas ao aquartelamento, que dado os abrigos e valas existentes, não representavam grande perigo, houve toda a sorte de acontecimentos funestos. A Companhia sofreu com tudo isso quatro mortos e cerca de 20 feridos, alguns graves.

Em abono da verdade um morto e muitos feridos pertenciam a um Pelotão doutra Companhia do Comando de Aldeia Formosa que estava a reforçar a nossa. Este acidente foi provocado por uma granada de lança-granadas-foguete que depois de se lhe retirar a segurança para a introduzir na arma, com alguma inclinação a um metro e pouco do chão podia explodir. Foi isso que aconteceu junto à arrecadação do material provocando a morte imediata dum soldado e ferimentos, alguns muito graves, em cerca de quinze outros camaradas. Essa granada, penso que fabricada no Braço de Prata, teve poucos meses de utilização pois terá provocado outros acidentes noutros quartéis.

Houve de tudo, desde minas anti-pessoais e anti-carro a reencontros com a guerrilha no mato a três acidentes graves com diferentes tipos de granadas.
Este rol de desgraças penso que começou quando o Albano morreu e dois amigos dele ficaram gravemente feridos com a explosão de uma granada de mão.
Deste acidente penso que terá havido duas versões pelo que me abstenho de contar qualquer delas. Foi um acidente infeliz como houve tantos na Guiné.

Muitas armas e material explosivo, por vezes pouco seguro, deficiente instrução militar. Meses de relativo relaxe em que parecia que a guerra já tinha acabado, alternados com dias agitados por disparos e rebentamentos. Meses dum sol tropical escaldante alternados com meses de aguaceiros sem fim. A maior parte dos camaradas confinados durante quase dois anos a viver no aquartelamento, sem possibilidade de poderem gozar férias. Tudo isto criava condições propícias a todo o tipo de acidentes.

O Albano era pescador de Setúbal tal como os outros dois camaradas. Era discreto, diligente, trabalhador, popular entre todos os militares do quartel. Era um tipo de homem capaz de se relacionar com todos os outros, acima ou abaixo da sua escala hierárquica ou social, sem fazer concessões a ninguém. Só homens superiores conseguem ter este comportamento, porque para lá dos seus conhecimentos literários, técnicos ou artísticos, conseguem ter a visão correta da miséria e da grandeza dos seus semelhantes.

Tendo a idade da maioria de todos nós revelava já ser um homem mais maduro. A isso não seria alheio o facto de já ser casado e ter duas filhas e como tal ter tido cedo responsabilidades que obrigam um homem a crescer.

Lembro-me do seu corpo estar depositado na pequena capela do quartel a aguardar transporte para Bissau. Penso nisso, no choque que a sua morte provocou em todos e apesar disso na solidão de morte do seu corpo, sozinho na capela, abandonado por todos. Olho para o monitor do computador e parece que me revejo a passar próximo da capela, que ficava ao lado da estrada que levava ao cais, em frente à messe de oficiais, a pensar que o meu comportamento e o dos outros não estava a ser correcto em relação o Albano.

Vinha-me à memória a morte dos meus avós e do meu padrinho, velados em casa sempre com tanta gente à sua volta, toda a aldeia, parentes e amigos das terras próximas a entrar e a sair para nos cumprimentar e rezar pelos morto. Lembrava-me principalmente do meu avô materno Francisco, um homem calmo, meigo, amigo de tratar da horta, e de ir à "venda" beber um copo com os amigos. Para mim foi o melhor homem que alguma vez conheci e sempre ouvi os maiores elogios acerca dele, bom homem e um lavrador dos melhores.

Assisti à sua morte, recordo tudo, desde o quarto em que estava deitado, às rezas antigas, que não conhecia, que a minha avó paterna fez. Recordo também que quando expirou, a minha avó mandou vir um pão (dos grandes pães que a minha mãe cozia) e foi partido em duas partes para dar a dois pobres. Depois do funeral a minha mãe mandou dar um quartilho de azeite a todas pessoas da aldeia que dele precisassem. Não sei ou já esqueci qual o significado daquele pão.

Lembro-me dessas noites longas de velório com a minha mãe, tias, primas e outras mulheres sentadas em redor da urna sempre a rezar terços. Os homens demoravam-se pouco, saiam e depois ficavam na rua a falar das colheitas, dos animais, enfim das vidas em geral.

Na morte do camarada Albano, em Buba, faltou o amor e compaixão das mulheres para dar sentido e dignidade à despedida.
Éramos homens e jovens, não dávamos valor às cerimonias e rituais que existem e sempre existiram em todos os tipos de sociedades e têm um papel importante para repor a paz e a harmonia entre os vivos e os mortos.

As mulheres conhecem todos esses mistérios, sabem falar com os mortos e não têm pudor em chorar e em manifestar as suas crenças e a sua fé. Como dizia o poeta Louis Aragon, a mulher é o futuro homem. Eu diria que ela é o princípio e o fim do homem pois é ela que lhe dá a vida e que no final o entrega e recomenda aos deuses.

Em Buba não tínhamos padre e não me recordo de alguém que o substituísse com uma mensagem de despedida que reunisse todos os militares do quartel ou pelo menos a Companhia. Sei lá, esse ou outro gesto, como toda a Companhia formada em silêncio em frente à capela onde estava o corpo.


(Francisco Baptista, texto publicado a 21 de março de 2014 no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

Texto de Francisco Baptista publicado no livro "Cartas de Amor e de Dor, de Marta Martins da Silva, pp. 263 e 264

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Com textos meus, editados no Blogue do Luís Graça e com outros textos, editei um livro que tem este e muitos outros textos, sobre a minha vida na Guiné e em Brunhoso, uma aldeia pobre de Trás-os-Montes, onde nasci e me criaram.

No próximo dia 19, irei com alguns camaradas do Porto, ao almoço da Tabanca da Linha, que tendo como Régulo, o camarada Manuel Resende, cada vez ganha mais fama pelos bebidas e cozinhados que revigoram o corpo, aquecem a alma e ajudam a criar um alegre convívio, que todos os ex-combatentes da Guiné apreciam.

Tal como eu dois outros camaradas levaremos livros , eu já li os três e gostei muito, experiências diferentes, estilos diferentes, mas todos interessantes.

Abraço
Francisco Baptista


Eis as capas dos livros:
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23196: (In)citações (204): As comemorações do dia 25 de Abril de 1974 (Victor Costa, ex-Fur Mil Inf)

sábado, 16 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22634: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte VII: Contuboel e Dunane (entre Piche e Canquelifá) (Out - dez 1965)


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Carta de Piche (1957) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de PIche, a meio da estrada entre Piche e Canquelifá, como rio Caium a sudeste.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > Dunane >  Temos uma dúzia de referências a Dunane, um lugar perdido no Leste, um dos muitos Bu...rakos da nossa geografia de guerra,. E este topónimo remete ora para  o Cristóvão de Aguiar (CCAÇ 800, 1965/67) ora para o Zé Ferreira  da Silva (CART 1689/BART 1913, 1967/69), dois dos nossos escritores de talento. A diferença entre eles é que o Zé Ferreira, um "assumido bandalho", tem carradas de humor, que é coisa que falta (va) nos escritos do açoriano. 
 E foi ele, o Zé  Ferreira, quem celebrizou, na guerra da Guiné, o nome de Dunane, com o Bife à Dunane, criado por um cozinheiro madeirense, o "Senhor Badalhoco" (, texto que já faz parte do... Plano Nacional de Leitura).(*)

Foto (e legenda): © José Ferreira da Silva (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Continuação da (re)publicação do "Diário de Guerra", do nosso camarada açoriano e escritor Cristóvão de Aguiar (1940-2021), que faleceu na passada dia 5, aos 81 anos (**). 

Organização: José Martins; revisão e fixação de texto (para efeitos de publicação no nosso blogue): Virgínio Briote (,a partir da parte VI, Carlos Vinhal).

Estes excertos, que o autor cedeu amavalmente ao José Martins, para divulgação no blogue, fazem parte do seu livro "Relação de Bordo (1964-1988)" (Porto, Campo das Letras, 1999, 425 pp). (***)


Cristóvão de Aguiar.
Foto: Wook (com a devida vénia...)

Diário de Guerra

por Cristóvão de Aguiar

(Continuação)

Contuboel, 12 de Outubro de 1965

O meu Grupo de Combate vai dentro em breve para o destacamento de Dunane, quartel de campanha rodeado de arame farpado, sem qualquer tabanca (a que aí existia foi incendiada pelas nossas tropas, e a população que não morreu, fugiu para outros chãos) - fica então Dunane entre Piche e Can­quelifá, onde existem duas companhias, uma em cada uma dessas localidades, que por aquelas bandas a guerra é mesmo a doer. 

Vamos então render um outro Grupo de Combate, o do João Cortesão Casimiro, da nossa companhia, que, por estes dias mais próximos, conclui um mês de estada naquele que é considerado um dos piores desta­camentos daquela zona, sem as mínimas condições para se viver como gente: água bi­chenta, instalações em abrigos feitos de bidões de gasolina cheios de pedregulhos, o tecto coberto de troncos e por um oleado, e tudo isto rodeado de mata e de silêncio e guerrilheiros. 

Esta zona militar abrange, além das unidades já mencionadas, Nova La­mego, Bruntuma e Madina do Boé, onde, aí, nem se atre­vem as nossas tropas a meter o nariz fora dos abrigos de cimento armado, recebendo os ví­veres e o correio através de helicóptero, que lança os sacos das alturas e desapega-se logo para lugar mais se­guro... 

Em Dunane não há população, só meia dúzia de milícias indígenas. Com cerca de trinta homens, ao fim de pouco tempo não há solidão que re­sista. Só é preciso é que não falte vinho nem correio, porque assim o soldado acomoda-se com mais facili­dade...


Contuboel, 15 de Outubro de 1965

Recebi um rádio do comandante do batalhão acantonado em Bafatá, ao qual pertencemos, anunciando a rendição do pelotão de Dunane para o dia 18. Temos de sair às primeiras horas da manhã. E vinham também várias instruções sobre o mate­rial a levar, não esquecendo os sacos de areia nas cabi­nas dos Unimogs por causa de surpresas de­sagradáveis, que vamos atravessar zonas perigosas e algumas quase terra-de-ninguém, além das rações de combate para a via­gem, que deve demorar as suas quatro horas, com paragem em Nova Lamego e Pi­che... 

Reuni os homens do meu pelotão e transmiti-lhes todas as ordens que achei con­venientes quando à nossa futura partida (só não lhes revelei nem o dia nem a hora), or­dens que são para se cumprir à risca, sem a mínima discussão. E avisei-os que come­cem, desde já, a preparar os seus sacos de campanha, porque nunca se sabia quando largávamos para Dunane, a fim de render os nossos camaradas.

Dunane, 19 de Outubro de 1965

Após uma viagem atribulada e cansativa, chegá­mos por fim ao nosso destino. E eis-me aqui, diante de mim, nu, andrajoso, suplicante, a alma enregelada e crucificada na cruz destes dias sem nome. Nos olhos, uma forna­lha de fúria e uma fome antiga não sei em que víscera, essa fome de séculos que é já grito milenário de todas as bocas em mim. 

Eis-me, pois, aqui, disparando bombas de palavras ao concentrado silêncio da noite. 

Eis-me aqui, tentando pescar estrelas no poço aberto do firmamento. Eis-me aqui, indefeso e nu, interrogando não sei que morto que vive numa parte de mim... Em frente de mim, nu e com o frio de todos os pólos, interrogo-me como se fosse réu e juiz ao mesmo tempo. E as palavras que ouço vêm da minha voz antiga, saída do mais fundo de mim, carregada de pedras e de car­dos, que grita e se contorce, morre e ressuscita, e continuo, indefeso e nu, aqui em frente de mim...


Dunane, 21 de Outubro de 1965

CRISTAIS DE DOR

Cristais de dor na noite tenebrosa,
Ferindo o silêncio duro e magnético;
Nenhum gesto de luz, leve, carinhosa,
Calando na noite o grito profético.

Em bandos descem pássaros estranhos,
Trazem recados no bico agoirento;
Muito ao longe nos currais os rebanhos
Tremem e choram lágrimas de vento.

Nas palhotas sem luz sonhos vencidos,
Crianças sem estrelas nos olhos caídos,
E pão de tristeza em bocas de fome.

Silêncio, dor, tristeza, solidão,
Tudo o que tem quem vive nesta prisão,
E um número no lugar do próprio nome.



Dunane, 3 de Novembro de 1965

MORTOS-VIVOS

Somos os mortos-vivos duma geração
Tran­cada nos aposentos do medo.
Se ousamos outra voz no coro duma canção,
Dão-nos nova alma e este degredo.

Se puderes olha em frente de olhos repousados,
Ar­reda o medo da mente ferida.
E teus dias serão plenos, serenados
E a vida será um salmo de vida...



Dunane, 6 de Novembro de 1965

ANSIEDADE

Conto os dias pelos dedos
Um a um sem fa­lhar.
Triste de quem tem segredos
E não tem a quem contar...

Parti triste e triste estou
Longe de ti nesta terra,
Onde o Sol se apagou
Sob negras nuvens de guerra.

Se a dor que no peito sinto
Tivesse boca e contasse
Tudo o que peno (não minto)
Talvez ninguém acreditasse...



Dunane, 10 de Novembro de 1965

PRIMEIRA CANÇÃO DO MAR

A minha voz vem do mar,
Meus cabelos de espuma são,
É no cais que vou cantar
As penas do cora­ção.

As coitas do coração
Ai, coimas de amargura.
Diz-me lá tu, ó canção,
Que é da velha ternura
Do mar da minha infância
E porquê vida tão dura,
Este viver sempre em ânsia?

Tatuaram-me no braço
Uma âncora de esperança...
Ai, e no peito um cansaço
Já do tempo de criança...

O mar embalou meu berço
- Velha canção de embalar
E assim rimei meu verso
Com a triste voz do mar.

O mar indicou-me o mundo
Nas rotas das caravelas...
Foram-se os sonhos ao fundo,
Rotas ficaram as velas.


Dunane, 15 de Novembro de 1965

SEGUNDA CANÇÃO DO MAR

Nas ondas do mar salgado
Escrevi o meu destino
Assim tracei o meu fado
Desde o tempo de me­nino.

Fez-se o mar meu amigo
Desde os tempos de outra idade:
- Quando não está comigo,
Chora triste de saudade...

Tantas vezes boiei morto
Na crista das ondas bravas,
Mesmo à vista dum porto
Onde, amor, me esperavas...


Dunane, 18 de Novembro de 1965

UM BARCO NA NOITE

Na noite subversiva havia um barco
Anco­rado no cais.
O céu era o reflexo de um charco
E de outras sombras mais

Súbito acordou uma luz
Nos olhos adormecidos...
Uma candeia que conduz
A vitória aos vencidos.

Todo o Universo se encheu de asas
E de itinerários...
Trancámos as portas de nossas casas
Nós, os revolucionários...

Tudo por fim rolou na lem­brança
Na noite subversiva
O barco ancorado partia para França
E nós ali à deriva...

Só nos ficou o sonho e a esperança,
E o barco ancorado partiu para França...


Dunane, 23 de Novembro de 1965

Estou com o meu pelotão há mais de um mês neste destacamento de Piche. Antiga tabanca balanta, destruída pelas nossas tropas há já al­gum tempo, é agora um aquartelamento destinado a um pelotão das nossas tropas e a uma secção de milícias indígenas. 

Estamos em solidão absoluta e com falta de víve­res. À noite, entretém-se o pes­soal com o espectáculo deslum­brante dos incêndios das tabancas atacadas pelos guerrilheiros e cujas chamas se vêem ao longe lam­bendo o horizonte cir­cular que deste cabeço onde se situa o aquartelamento se abarca. Nem dentro do perímetro do arame far­pado se pode an­dar à von­tade.

Contuboel, 1 de Dezembro de 1965

Chegou o novo capitão para comandar a com­panhia. O primeiro, o que foi ferido na tal operação simulada, com o intui­to de trei­nar os homens para a dureza da guerra, nunca mais ninguém lhe pôs a vista em cima. In­formou-me há dias o nosso primeiro Mota que ele tinha sido transferido para uma re­parti­ção do Quar­tel General, em Bissau, após ter estado em prolongada con­vales­cença na metrópole. O guarda-costas, esse, foi para a Alemanha para lhe porem uma prótese nos cotos das pernas. Nesta vida da tropa são tão efémeros os senti­mentos.

Contuboel, 25 de Dezembro de 1965

OUTRO TEMPO

Tempo loiro, maduro,
Nas mãos o Universo.
Sentia-me seguro
Como a rima num verso...

Depois veio o frio
Das noites de Inverno.
E pensava (agora sorrio)
Nas penas do inferno.

- Já rezaste, rica cara?
Perguntava uma velha tia.
Dizia que já terminara
E tinha a alma em dia...



(Continua)

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Notas do editor:

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21552: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte I: "A minha história"


Capa da História da 3ª Companhia de Comandos (Lamgo e Guiné, 1966/68), documento mimeografado, de cerca de 4 dezenas de páginas, da autoria de João Borges, ex-fur nil comando. Exemplar oferecido ao seu amigo José Lino Oliveira, com a seguinte dedicatória: "Quanto mais falamos na guerra, mais desejamso a paz. Do amigo João Borges"



Transcrição da mensagem manuscrita que o José Lino Oliveira nos mandou, pelo correio, com um exemplar mimeografado deste documento.  

[A 3ª Companhia de Comandos não tinha, até agora, qualquer referência no nosso blogue, com exceção da história da incrível história do  soldado Dionísio [Silva] Cunha, contada pelo nosso escritor José Ferreira da Silva, em "Outras memórias da minha guerra" (*).

Sobre esta unidade, a 3ª CCmds, ver também, no blogue de Alberto Helder, um poste de 1 de setembro de 2020.]

 

Paramos [, Espinho], 06-10.2020

Companheiro Luís Graça,

Conforme prometido envido a história da 3ª Companhia de Comandos, 1966/68, que actuou na Guiné.

Foi escrita pelo ex-furriel mil comando José João Marques Borges, 1943-2005.

Espero que lhe dê o melhor seguimento,

[assinatura ilegível]



1. Mensagem do José Lino Oliveira, com data de 2 de outubro passado:


José Lino [Padrão de] Oliveira, ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12-7-1974 / 15-10-1974, a mesma unidade a que pertenceu o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro; membro da nossa Tabanca Grande desde 31/12/2012; tem dezena e meia de referências no nosso blogue: vive em Paramos, Espinho]


Bom dia, Companheiro

Já tinha dado por perdida mas finalmente encontrei a História completa da 3ª Companhia de Comandos, escrita por um ex-fur. mil Comando,  João Borges.

Suponho que foi a primeira a entrar em acção na Guiné.

Quero enviar ao Blog,mas como não tenho scaner para digitalizar, agradecia uma morada para enviar esta importante documentação para fazer parte do arquivo do blog.

Um abraço

José Lino
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Ficha de Unidade > 3.a Companhia de Comandos
Identificação 3.a CCrnds
Unidade Mob: RAL 1 - Lisboa
Cmdt: Cap Mil Inf Cmd Álvaro Manuel Alves Cardoso
Partida: Embarque em 24Jun66; desembarque em 30Jun66
Regresso: Embarque em 29Abr68

Síntese da Actividade Operacional

Após o desembarque, instalou-se em Brá (Bissau), onde inicialmente se edicou à construção dos alojamentos próprios e, simultaneamente, a realizar uma instrução de aperfeiçoamento e adaptação nas regiões de Prábis e Nhacra.

Em princípios de Ag066, iniciou a fase de treino operacional, que incluiu a realização de operações nas regiões de Nova Sintra- Tite-Jabadá e Jugudul-Ponta Bará e que culminou com a entrega das insígnias de "comando" em 02Nov66.

Em virtude dos efectivos da subunidade se terem sucessivamente reduzido devido ao desgaste sofrido, foi formado novo pessoal de recompletamento, com entrega das insígnias em 28Mar67.

Com a sua sede em Bissau, como subunidade de intervenção e reserva do Comando-Chefe, actuou em diversas áreas com efectivos de I a 4 pelotões, algumas vezes por helitransporte e em coordenação com a Força Aérea, ou em situação de reforço a diversos batalhões. 

Efectuou diversas operações nas regiões de Susana, Flaque Cibe (Jabadá), Bissilão (Tite), Insumeté (Bula), Choquemone (Bula) Catió-Cufar, Tiligi (Bula), Cabedú, Jol (Teixeira Pinto), Oio (Mansabá), S. Domingos, Locher (Mansoa), Poidom (Xime), Canjambari, Bambadinca, Binar-Bula, Salancaur (Guileje) e outras. 

Pelos resultados obtidos e efectivos envolvidos, destacam-se as operações "Vodka", "Nortada", "Xerez",
"Bom Sucesso", "Yungfrau" e "Rolls-Royce", entre outras, tendo capturado 4 metralhadoras pesadas, 2 metralhadoras ligeiras, 15 pistolas-metralhadora, 57 espingardas, 2 lança-granadas foguete e cerca de 9.000 munições de armas ligeiras.

A partir de 08Abr68, cessou a sua actividade operacional, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações
Tem História da Unidade (Caixa n." 83 - 2.a Div/4." Sec, do AHM)

Fonte. CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), p.529.

3ª Companhia de Comandos 
(Guiné, 1966/68) / João Borges

Parte I (pp. 1-5)








(Continua)
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 18 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11273: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (16): É guerra é guerra... (será?)