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quinta-feira, 16 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23355: Questões politicamente (in)correctas (57): O luso-tropicalismo e os seus mitos (José Belo, Suécia e EUA)




Guiné  > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O Dauda "Vigeas", "filho do vento" e "mascote da companhia" (*): (i) com outros meninos da Tabanca, a brincar numa poça de água, junto à capelinha; (ii) vivia praticamente com os militares, que o alimentavam e cuidavam dele; (iii) como os carimbos da secretaria da CART 1613, na testa e no braço; dizia-se, na caserna, que era a cara chapada do pai; morreu por volta de 2009,  com cerca de 45 anos; era casado e pai de duas filhas; a família vivia em Bissau (**)

(...) Como escreveu o nosso saudoso capitão SGE Zé Neto (1929 - 2007), "eram todos de etnia fula, de raça negra a população de Guiléle], com excepção de um menino mestiço. Este menino, na altura com onze, doze meses de idade, era filho da Sona, uma jovem de Cacine, comprada pelo alfaiate de Guileje para ser a sua terceira esposa. Tinha o nome de Dauda, mas era tratado por todos nós por Viegas, apelido do pai, capitão que comandara a companhia de Cacine [CCÇ 799, 1965/67]. Ainda hoje, quando revejo as dezenas de fotografias que fiz do garoto, acho que poderíamos anteceder Silva a Viegas [Silva Viegas]. Foi pela minha mão que o miúdo deu os primeiros passos. E foi por ele que, suponho, arrisquei a vida quando, num ataque bem apontado, as morteiradas atingiram a zona da cozinha, lenheiro e depósito de géneros. (...) (*)

O Dauda teve no Zé Neto um protetor. E, história espantosa, em janeiro de 2010, a Júlia Neto, viúva do cap ref José Neto (1929-2007), foi conhecer a esposa e as duas filhas do Dauda (entretanto falecido havia  pouco tempo), em Bissau

Fotos (e legendas): © José Neto (2005). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Belo:


Data - 15 jun 2022, 13h45
Assunto - Discutir o Lusotropicalismo

Caro Luís

Na sequência dos textos “lusotropicais” do Camarada José Teixeira  (***) segue um texto em busca de passíveis… diálogos!

Um abraço, J. Belo

[José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, (i) tem repartido a sua vida agora entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Florida; (ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, recusando-se a jubilar-se do cargo: afinal todos os anos pela primavera, corre o boato de que a Tabanca da Lapónia morre para logo a seguir ressuscitar, como a Fénix Renascida; (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref (mas poderia e deveria ser corone) do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; (vi) tem 224 referências no nosso blogue.]
___________

O Lusotropicalismo visto "por dentro", analisado "desde fora": debate com cidadãos brasileiros de origem africana (****)


O termo Lusotropicalismo criado por Gilberto Freyre refere os elementos factuais, ideais, outros quase mitológicos, quanto a uma igualdade racial (quanto a ele procurada) pela cultura lusitana nos trópicos.

Uma política de miscigenação rácica, mais ou menos acentuada, tendo em conta variações locais de origem cultural, económica e social.

Nas colónias portuguesas esta política de miscigenação terá tido flutuações temporais em paralelo com flutuações políticas.

Todas estas condições, a somarem-se às demográficas, criaram disparidades bem representadas pelos exemplos de Goa, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné.

Em muitos dos textos publicados neste blogue surge uma “fresca brisa“ de Lusotropicalismo.
Rico em detalhes de atentas observações, permeadas por sentimentalismos românticos, raiando os inatingíveis ideais da... poesia trovadoresca medieval!

Textos cuja importância surge de observações “in loco”.

O que emana destas descrições é o que se poderia referir como… Lusotropicalismo de dentro!
As especificidades criadas por uma envolvente situação de guerra obviamente que torna estas observações menos ricas na sua genuinidade. De qualquer modo seriam as únicas possíveis.

Verdadeiro privilégio dos que tiveram a oportunidade única de, através ampla “janela”, observar as realidades quotidianas na vida de isoladas Tabancas ainda não afectadas por profundas mudanças posteriores .

Os textos apresentados por José Teixeira, os saudosos Torcato Mendonça e “Alfero” Cabral, António Rosinha (com referências lusotropicais em Angola, Brasil e Guiné), entre tantos outros Camaradas com experiências semelhantes, todos nos levam ao tal lusotropicalismo visto…. por dentro!

Os textos, análises, descrições e debates, vindos “de fora”, espelham valores e critérios de outras culturas, sociedades, e não menos interesses, em tudo distintos do idealizado (!)
Lusotropicalismo.

Uma parcialidade acentuada pelas diferentes agendas políticas de alguns dos autores.
Algumas das legítimas críticas quanto ao trabalho forçado, impostos discricionários, e outros tipos de opressões a nível local, ficam quase obscurecidos quando isolados do todo orgânico que eram as realidades políticas das diversas potências coloniais.

A um nível eivado de subjetividades por pessoal, tive a oportunidade de participar em debates realizados na Suécia do início dos anos oitenta em que participavam estudantes universitários brasileiros, sendo a maioria de origem africana.

Mais tarde, no próprio Brasil, voltei a ter a oportunidade de debater o Lusotropicalismo, agora não só com jovens estudantes, mas com a participação de indivíduos que representavam de forma abrangente os mais diversos níveis culturais, sociais e políticos.

Tanto no Recife como em Manaus, São Salvador da Baía e Rio de Janeiro, as intervenções dos brasileiros de origem africana tinham em comum o facto de não aceitarem como verdadeiro o mito do mulato/mulata como um resultado de um relacionamento romântico, consentido, não violento na sua essência, entre o colonizador e a mulher africana escravizada.

Concordavam quanto a terem existido casos pontuais de tais romances mas, pelo seu número real em relação às violências exercidas pelo colono, não eram de modo algum justificativos de todo um mito criado por intelectuais privilegiados nas suas raízes europeias.

Como tantos de nós, recebi nos bancos escolares a tal ideia lusotropical a raiar o utópico.
Foi-me muito difícil, no início destes debates, aceitar no seu significado profundo estas descrições brasileiras em contraste total com tudo o que me fora “ensinado” nos verdes anos. 
Para mais, ensinado na forma paternalista tão normal nos tempos da ditadura.
Algumas das opiniões, e razões, apresentadas por estes brasileiros ainda hoje me provocam conflitos valorativos.

De qualquer modo, com todas as suas limitações, romantismos ingênuos e parcialidades analíticas, o Lusotropicalismo de Gilberto Freyre “sobreposto” às realidades sociais e raciais dos Estados Unidos do ano de 2022 torna muito difícil as graduações valorativas.

Um abraço do JBelo

2. Comentário do editor LG:

O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa define assim o luso-tropicalismo:

luso-tropicalismo | n. m.

lu·so·tro·pi·ca·lis·mo
(luso- + tropicalismo)

nome masculino

[Sociologia] Ideia, desenvolvida por Gilberto Freyre (1900-1987, antropólogo, sociólogo e escritor brasileiro), que defende que a colonização portuguesa foi diferente das restantes colonizações europeias nos trópicos e que essa diferença se manifestou na miscigenação e na interpenetração cultural.

"luso-tropicalismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/luso-tropicalismo [consultado em 16-06-2022].

Sobre o tema vd. também artigo da investigadora da UL/ICS, Cláudia Castelo (*****). Vd também no nosso blogue os postes P15468 e  P21297  (******)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de janeiro de  2006  Guiné 63/74 - P446: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (3): Dauda, o Viegas



(****) 19 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22643: Questões politicamente (in)correctas (56): A caminhada para a... "descolonização exemplar" (José Belo, jurista, Suécia)

(*****) Buala > A Ler > 5 de maeço de 2013 > Cláudia Castelo (Universidade de Lisboa, ICS - Instituto de Ciências Sociais )  > O luso-tropicalismo e o colonialismo português tardio

(******) Vd. postes de:

9 de dezembro de  2015> Guiné 63/74 - P15468: Recortes de imprensa (78): O colonialismo (suave) nunca existiu... Leopoldo Amado, atual diretor do INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, entrevistado em Bissau por Joana Gorjão Henriques ("Público", 6/12/2015, série "Racismo em português")

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18870: Fotos à procura de... uma legenda (107): Apesar da guerra, as acácias vermelhas, Delonix regia, continuavam a florir... Em Guileje, em Bambadinca, em São Domingos...


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum do nosso saudoso José Neto (1929-2007)  > Guileje 2 > Foto nº 15 > Acácia em flor, por volta de maio.


Foto (e legenda): © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > 1969 >  Dia de ronco: visita da "Cilinha" e, ao fim da tarde e princípio da noite, atuação  do conjunto musical das Forças Armadas... Possivelmente em abril ou maio, avaliar pela  acácia vermelha, em flor, do lado direito. O aquartelamento será atacado, em força, em 28 de maio desse ano. Nessa altura, fim da época seca, a líder do MNF andava pela Guiné, tendo visitado, por exemplo, a CCAÇ 2402 no Olossato, a que pertenceu o nosso grã-tabanqueiro Raul Albino.

Foto do álbum do José Carlos Lopes, ex-fur mil amanuense, com a especialidade de contabilidade e pagadoria, especialidade essa que ele nunca exerceu (na prática, foi o homem dos reabastecimentos do batalhão).

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) >  O campo de futebol de onze, em Bambadinca, localizava-se junto á pista de aviação (ao fundo), sendo a linha divisória o arame farpado... No topo sul do campo, havia duas acácias vermelhas, aqui na foto, esplêndidas, floridas... Passavam os batalhões, e elas lá continuaram, florindo todos os anos, no princípio da época das chuvas....

 Foto do álbum do Benjamim Durães (ex-fur mil op esp. Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72).

Fotos: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendas: L.G.]



Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69 > 1968  > Também floriam as acácias, vermelhas, da cor do sangue, no chão felupe... Em maio..

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Delonix regia, diz o  Jorge Picado (*), nosso camarada, membro da Tabanca Grande de longa data,  e que, antes de ser capitão miliciano, aos 32 anos, casado, pai 4 filhos, já era engenheiro agrónomo...  o mesmo é dizer, que já percebia da poda...

Delonix regia é  o nome científico dado à  Acácia Vermelha, que fica bem na terra dela... É originária de Madagascar (onde parece que está praticamente extinta...) e da Zâmbia, mas dá-se bem igualmente em muitos países, ou regiões de clima tropical subtropical, onde enfeita ruas inteiras e parques... A sua distribuição vai de um continente ao outro, como "planta exótica", desde o Brasil até dos EUA à Índia, de Chipre ao Egito...

Em Portugal é, portanto,  uma espécie exótica (, não sei ao certo se está classificada como "invasora" e, como tal, põe em risco a nossa biodiversidade; há muitas espécies de acácias que o são, como tal devem ser combatidas)... No Funchal há muitas... onde é conhecia também como acácia rubra, árvore flamejante, flamboyant, flor do paraíso, pau rosa...

Na Guiné, eu gostava de as ver... As vermelhas, da cor do sangue... Não havia muitas, que eu me lembre... Florescem em maio/julho. Podem atingir os 10-15 metros (18, no máximo), e só dão flor ao fim de 4 a 5 anos. A planta não é esquisita com o tipo de solos, mas tem, como todas as outras, os seus limites biofísicos: altitude: 0-2000 m;  pluviosidade média anual: 700-1200 mm;  temperatura média anual: 14-26º. [Fonte: Agroforestry Database 4.0 (Orwa et al.2009)]

Camarada, se tens fotos das acácias vermelhas da Guiné, manda-nos... com legenda (**) (LG)

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 24 de julho de  2018 > Guiné 61/74 - P18868: E as nossas palmas vão para... (17): as nossas mulheres que muito sofreram e ainda sofrem por causa daquela guerra... Uma flor de São Domingos para elas! (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

(**) Último poste da série > 7 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18820: Fotos à procura de...uma legenda (106): O milagre do vinho, ontem, do Cartaxo (que chegava ao Cacheu...), hoje de... Pias, que entope as prateleiras das nossas superfícies comerciais, em caixas de cartão... (Virgílio Teixeira / Luís Graça)

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17347: Inquérito 'on line' (112): Fátima: num total preliminar de 20 respostas, cerca de 2/3 foi lá "como simples turista ou em passeio"... Prazo de resposta: dia 17, 4ª feira, até às 16h53


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > A capelinha construída no tempo do nosso saudoso Zé Neto (1929-2007)... Havia três imagens da N. Sra. de Fátima, de diversos tamanhos... Reduzida a escombros, a capela foi reconstruída pela AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, sob a liderança de outro nosso grande e saudoso amigo, o Pepito  (19949-2014). O Zé Neto já não viveu o suficiente para assistir à reconstrução da "sua" capela. Mas foi lá a sua viúva, a Júlia Neto. (*)

Foto: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento. (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Nucleo Museológico Memória de Guiledje > 2010 > A imagem de Nossa Senhora de Fátima, acabada de sair da embalagem que a protegeu durante a longa viagem Portugal-Guiné-Bissau. Imagem doada por António Camilo (Lagoa) e Luís Branquinho Crespo (Leiria / Coimbra).


Foto: © António Camilo (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



I. INQUÉRITO 'ON LINE': 

"FUI COMBATENTE, NUNCA FUI A FÁTIMA"... 


(ADMITE-SE MAIS DO QUE UMA RESPOSTA)



As 20 primeiras respostas (até ao princío da noite  de hoje):

1. Fui lá ainda em miúdo ou ainda antes de ir para a tropa 
8 (40%)

2. Fui lá,.como militar, antes de ir para o ultramar 
0 (0%)

3. Fui lá logo depois de vir do ultramar 
1 (5%)

4. Só fui lá muitos anos depois (de vir do ultramar) 
5 (25%)

5. Fui lá como verdadeiro peregrino ou crente 
2 (10%)

6. Fui lá como simples turista ou em passeio 
13 (65%)


7. Nunca fui a Fátima mas ainda gostaria de lá poder ir  
0 (0%)

8. Nunca fui a Fátima nem tenho especial interesse em lá ir 
0 (0%)


Prazo de resposta: até dia 17 de maio, 4ª feira, às 16h53. (**)


II. É difícil encontrar um português que não tenha ido a Fátima, pelo menos uma vez na vida. 

O fenómeno de Fátima é mais velho do que todos nós: vai fazer 100 anos este ano. Inevitavelmente, estão a surgir diversos livros, documentários, filmes (***)  e outros eventos, celebrando a efeméride. E o papa Francisco vai estar amanhã  entre nós.

Fátima também esteve presente na vida (espiritual) de alguns de nós, que fomos mobilizados e combatemos na guerra do ultramar / guerra colonial.  Na Guiné, ergueram-se capelas, nos nossos aquartelamentos, sob a invocação de N. Sra. Fátima. Guileje foi um exemplo. Mas não sabemos qual foi a extensão do culto mariano em tempo de guerra. Em peregrinação ou não, alguns de nós fomos entretanto a Fátima nessa altura ou então mais tarde. 

Seria interessante que quem foi combatente (na Guiné ou nos outros teatros de operações) pudesse responder a este questionário até 4ª feira: pode-se dar mais do que uma resposta: 

(i) se alguma vez foste ou não a Fátima; 
e (ii)  e no caso de teres ido, se foste como peregrino ou crente,  ou como simples turista. 

Se nunca foste a Fátima, podes optar por uma de duas respostas: 
(iii) nunca fui a Fátima  mas  ainda gostaria de lá poder ir; 
ou (iv)  nunca fui a Fátima  nem tenho especial interesse em lá ir. 

Seria bom atingirmos as 100 respostas.

_______________

Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 29 de janeiro de  2010 > Guiné 63/74 - P5726: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (10): A inauguração da capela, em 20 de Janeiro, na presença do embaixador de Portugal (Pepito)
(**) Último poste da série > 10 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17343: Inquérito 'on line' (111): num total de 34 respondentes, participantes dos nossos últimos oito encontros anuais (total 1282), mais de dois terços estão globalmente satisfeitos com o local (Monte Real) e o hotel (Palace Hotel de Monte Real) escolhidos

(***) Vd. poste de 11 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17344: Manuscrito(s) (Luís Graça) (118): "Fátima", do realizador João Canijo (Portugal / França, 153', cor, 2017)... Sangue, suor e lágrimas... ou onze mulheres à beira de um ataque de nervos... De Vinhais a Fátima, 430 km, 9 dias... E também aqui ninguém quer ficar para trás... Um filme sobre a caixa de Pandora feminina... A não perder.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14734: Inquérito online: resultados preliminares (n=146), a dois dias de encerrar a votação: cerca de metade dos votantes admite que nunca teve relações sexuais com nenhuma mulher local, no TO da Guiné, durante a guerra colonial

I. Quando faltam dois dias para encerrar a votação, tínhamos 146 resposta, esta manhã,  dia 12. 

Os resultados (provisórios) eram os seguintes:


SONDAGEM: "NO TO DA GUINÉ, CONFESSO QUE NÃO TIVE RELAÇÕES SEXUAIS COM NENHUMA MULHER LOCAL (*)


1. Não, não tive  > 72 (49%)

2. Sim, tive, pelo menos uma vez  > 18 (12%)


3. Sim, tive mais do que uma vez  > 30 (20%)


4. Sim, tive bastantes vezes  > 12 (8%)


5. Sim, tive com muita frequência  > 14 (9%)


6. Não sei, já não me recordo bem > 0 



[Foto à esquerda, Maria, lavadeira,  bajuda de Guileje, 1968. Foto do nosso saudoso José Neto (1929-2007)


II. Os editores agradecem a generosa e  ativa participação dos nossos leitores, ex-combatentes no TO da Guiné, entre 1961 e 1974 (público-alvo a que se dirige a sondagem) e esperam ainda, nestes últimos dois dias que faltam, atingir o número de 200 respondentes.

A sondagem não tem (nem pode ter) qualquer propósito "científico", mas apenas informativo e didático. Qualquer generalização destes "resultados",  para o universo dos mais de 200 mil militares portugueses que passaram pelo TO da Guiné, durante a guerra colonail (1961/74),  é "abusiva", não é "legítima", do ponto de vista metodológico da investigação científica.

Em todo o caso, esta sondagem revela tendências interessantes, mesmo sabendo que os seres humanos (homens e mulheres) podem nem sempre responder, com total sinceridade, a questionários sobre sexualiadade, por reserva da intimidade da sua vida privada ou por preconceitos cultarais.

Recorde-se que o voto é feito, não por "EMAIL", mas automaticamemente, "ON LINE", no canto superior esquerdo do blogue: quem ainda não voutou (ou quiser corrigir  o seu voto), só tem de clicar, com o rato  numa de 6 hipóteses de resposta (sendo a último "Não sei, já não me recordo bem", uma hipótese meramente "académica"; todos temos direito a "amnésias"...).

Naturalmente, a resposta  é anónima.

Aceitam-se, todavia, comentários sobre um tema de que os ex-combatentes tendem a falar, entre si, nos seus convívios, sem grandes inibições nem preconceitos. De resto sobre sexo (em tempo de guerra) temos já cerca de meia centena de referências no nosso blogue.

Xicorações e bons festejos santoantoninos. Os editores.

O famoso santo antoninho dos anos 60... 
PS1 - Como estamos em véspera dos festejos de Santo António, padroeiro de Lisboa, santo popular, casamenteiro e brejeiro, aqui vai umas quadras, a condizer:

Santo António foi à guerra,
Na Guiné perdeu os três,
Foi bajuda lá da terra
Quem o menino lhe fez.

E não foi por patacão
Que ela lhe partiu catota,
Alfero e maganão,
Era um rapaz bem janota.

Cá tem imposto de palhota,
P´rós amores de gente boa.
Só o sexo se paga com nota
Em Bissau ou em Lisboa.

Mas agora é que são elas,
Só memórias do passado,
Desde que foste p'ra Bruxelas,
Só nos resta o triste fado.

Luís Graça

Lisboa, Alfama, Miradouro de Santa Luzia, 11/6/2015, 22h

PS 2 - Ah!, e faz hoje, 12 de junho de 2015, 30 anos que o Santo António nos deixou...
Já foi de Pádua, já foi de Lisboa, agora é de Bruxelas...



Lisboa, Alfama, museu e estátua de Santo António, 11/6/2015, 22h


Foto: © Luís Graça   (2015). Todos direitos reservados [Edição: LG]
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quinta-feira, 16 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14478: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (18): Operação Bola de Fogo - Construção de Gandembel (O Inferno)

1. Em mensagem do dia 7 de Abril de 2015 o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta memória da sua guerra que lembra a Operação Bola de Fogo - Construção de Gandembel.

Caros amigos
Tenho este trabalho pronto para encerrar o meu livro. Ele é fruto de alguns testemunhos que registam a participação da minha Companhia – a CART 1689. Portanto, perdoem-me a visão parcial e redutora dessa enorme e injustificada Operação que ficou bem marcada na história da Guerra Colonial.
Não sei se isto terá interesse para a publicação no nosso Blogue, até porque há vários testemunhos que já foram ali publicados.
Como hoje decorre o 47.º aniversário do início dessa Operação, lembrei-me de por o assunto à vossa consideração.

Um forte abraço do
Silva da CART 1689


Outras memórias da minha guerra

17 - Operação “Bola de Fogo” – construção de Gandembel 
(O inferno)



1 - DESTINO FELIZ OU PRÉMIO AO DEVER

Fui criado num ambiente extremamente humilde e bastante castigado pelo regime salazarista. Todavia, quando ouvi a minha Professora D. Irene, logo na primeira classe, ensinar-nos marchas e louvores a Portugal e aos nossos heróis, senti-me eternamente ligado à nossa Pátria. Recordo que, mais tarde, numa das redações que costumávamos fazer, exaltei o meu sentimento patriótico, prometendo que estaria disponível para dar a vida por Portugal. A Professora ficou comovida e, em lágrimas, aproveitou para me elogiar, arrancou a folha do meu caderno e colou-a na parede.
Orgulhoso pela história dos nossos antepassados, cimentei esse sentimento patriótico pela vida fora. Ainda hoje vibro de alegria ou choro de raiva, sempre que algum português se salienta ou é injustiçado.
Porém, quando a guerra do ultramar despoletou, já não sentia a mesma vontade e a mesma coragem de menino. No entanto, apesar de se notar bastante o interesse comunista em África, através da sua propaganda e apoio à libertação desses povos, era comum, entre nós, um sentimento de obrigação de lutar pela nossa defesa, pela defesa da nossa Pátria. Por outro lado, não havia grandes possibilidades de escolha; ou vais ou foges. Muitos fugiram porque tinham possibilidades financeiras ou contactos para fazer isso. Mais tarde, com o 25 de Abril, alguns deles beneficiaram, ainda, do estatuto de revolucionários, de antifascistas e de grandes patriotas.

Em 1965, quando ingressei no serviço militar, alimentava a esperança de que a guerra terminaria em breve. Porém, à medida que o tempo passava, as coisas pareciam piorar. Assim que me apercebi de que poderia ir para a guerra, procurei assimilar bem a instrução, especialmente quando tive que frequentar a especialidade de “Ranger” – Operações Especiais.
Na Guiné, tal como os outros combatentes, sofri com tristeza, raiva e angústia, os piores momentos da minha vida. Todavia, esforcei-me para dar o meu melhor na defesa dos meus interesses e dos meus camaradas, tendo participado nos maiores combates em que a minha CART 1689 esteve envolvida. Mas também tive a sorte de me safar positivamente deles.
Nunca faltei a nenhuma Operação até vir de Férias. Nem à OP Diabo Negro faltei (Vd. P7921 - Celebrando os meus 25 anos). Como fazia anos, poderia ter tido uma folga, normalmente concedida. Nessa altura o meu Pelotão estava mais desfalcado de graduados. Previa-se uma grande Operação e eu não me baldei. Quando falei nisso com o nosso Capitão, tive a oportunidade de lhe dizer:
- Enquanto estivermos em Intervenção, participarei em todas as Operações, mas quando regressar de férias “vou engolir um garfo” e não vou poder fazer mais nada!

Sempre soubemos que, depois de um ano em Intervenção, teríamos o chamado descanso. Por isso, programei as férias para Abril, com a convicção de que, atingido esse mês, poderia considerar-me livre de perigo.
Já de férias, enquanto me sentia efectivamente livre dos perigos da guerra e, ao mesmo tempo, já a entrar numa fase de projectos e de sonhos, coisas impensadas anteriormente, os meus camaradas da CART 1689 entravam (sem eu saber) na sua pior fase da guerra na Guiné.


2 - A CAMINHO DE GANDEMBEL
(Texto da autoria de Carneiro de Miranda)

"Depois da saída de Catió, a 22 de Março e passada a noite ao largo de Bolama, recordo bem aquela calma e descontraída deslocação em LDG, a caminho de Buba.
Os militares foram-se acomodando junto das suas mochilas, já rompidas de tanto uso e de tanta mudança. Quase não falavam. Limitavam-se a poucas palavras mas a muitos pensamentos, interrogando-se e matutando neste momento apreensivo. Quem se mostrava mais inquieto era o Machado, que questionava:
- Estamos a poucos dias de fazer um ano de Intervenção, cheio de porrada, de cansaço e de ronco, porquê sacrificar-nos mais uma vez?
Logo respondeu o Viana:
- Vamos pagar o custo do nosso bom comportamento.
- Claro - acrescentou o Rodrigues, que concluiu:
- Orgulhem-se do reconhecimento ao nosso valor.
- Boa Rodrigues. Só esperamos que esse valor não nos fique caro. – acrescentou o Zacarias.

Entretanto, enquanto alguns, mais isolados, mexiam no saco das fotos, cartas e outras recordações, quase a meio da LDG, estava o nosso capitão, sentado num mocho, de cabeça curvada, mais parecido com um condenado à decapitação. Esperava a intervenção do nosso Barbeiro. Talvez com alguma apreensão devido à sua necessária apresentação formal ao Comandante do Sector, o coronel Celestino Rodrigues. O tal que viria a ser punido com dez dias de prisão agravada, por problemas nesta Operação Bola de Fogo. Coisa nunca vista num Oficial Superior – segundo lamentava o sargento Viscoso.
Passámos mais de uma semana de “férias”, com actividades de lazer e de treino de tiro. Ainda me rio de ver o Sargento Biscaia a tomar banho com umas cuecas, cheias de carimbos, a fazer de conta que eram calções de banho. Até ao dia 6 de Abril ocupou-se o tempo com patrulhamentos com pelotões alternadamente, fez-se instrução de tiro, com competições de tiro ao alvo e outras de índole desportiva.
Dia 7 de Abril deu-se início à OP BOLA DE FOGO, uma das maiores realizadas na Guiné. Foi, talvez, a mais difícil, mais violenta e mais estúpida, depois da tomada da Ilha do Como.

O objectivo apontava para a implantação de um Aquartelamento (Gandembel) para efectivo de Companhia, no Corredor do Guileje, na região entre Gandembel e Ponte Balana.
Durante a Operação e dias subsequentes, além da nossa Cart 1689, actuaram também:
3.ª Companhia de Comandos
5.ª Companhia de Comandos
CCAÇ 2316
CCAÇ 2317
CART 1612
CART 1613
Pel Sap do BART 1896
Pel Caç Nat 67
Pel Caç Nat 51
Pel Mil 138
Pel Mil 139
Pel Rec Fox 1165
Pel Rec Daimler de Aldeia Formosa
BEng 447
27 Carregadores de apoio

A ida para Aldeia Formosa, por terra, em coluna auto, fez-se sem grandes receios aparentes. Na chegada reinava a calma. Foi muito agradável termos jantado com a Companhia de Comandos e ter-me encontrado com o tenente Carapeta, meu comandante de pelotão em Vendas Novas.
Saímos dali, pelas 22h00, também em coluna auto, em direcção a Chamarra, onde estacionámos até as 03H00 (08.Abril.1968). Estava iniciada a OP “Bola de Fogo”, uma das maiores e mais perigosas de toda a Guerra Ultramarina".


3 - OPERAÇÃO BOLA DE FOGO
Por José Neto
(Memórias de Guileje (1967/68) – blogue “luísgracaecamaradasda guine”)

"(…) A abertura da picada estava a dar pelas barbas à nossa tropa.

Era impossível jogar com o elemento surpresa porque tornava-se necessário retirar abatizes, detectar e fazer explodir fornilhos (até uma viatura GMC em tempos abandonada pelas NT foi pelos ares porque se desconfiava que estava armadilhada) e, principalmente, derrubar árvores para substituir os troncos apodrecidos que, no leito dos regatos, serviam de ponte para a passagem de viaturas.
Os turras nem precisavam de atravessar a fronteira para morteirar os lenhadores. E nós não podíamos ripostar por respeito às convenções internacionais.
Ao fim de duas ou três semanas, com muitos ferimentos ligeiros, mas sem qualquer morto, o itinerário foi dado como praticável e ia seguir-se a segunda fase, que era a marcha da Companhia para Gandembel.

Parecia-nos que, das duas, a CCAÇ 2316 era a que ia avançar, já que a CCAÇ 2317 tinha sido inicialmente designada para nos substituir em Guileje, mas afinal veio a ser esta última, a do 1.º sargento Martins, comandada pelo capitão Barroso de Moura, a quem coube o petisco.
Ao mesmo tempo, como manobra de pressão, iniciou-se do lado norte a abertura da picada Chamarra – Gandembel.
A valentia e pertinácia dos bravos de Gandembel devem ter impressionado o inimigo que fez deslocar para aquela zona um potencial de fogo considerável.
Pelo itinerário de Chamarra juntou-se à CAÇ 2317 a CART 1689 e, com acções pontuais dos Paraquedistas e dos Comandos e o apoio do fogo de artilharia e bombardeamentos dos Fiat da Força Aérea a posição consolidou-se, mau grado as flagelações contínuas de que era alvo.
Mas o cerne da questão continuava. Como o IN precisava de manter o reabastecimento dos seus grupos que actuavam no interior do território, passou a utilizar trilhos um pouco a sul de Gandembel, perto de Paroldade, e esses trilhos cruzavam-se com as nossas colunas que também iam reabastecer o novo aquartelamento.
Nestas condições, cada reabastecimento nosso era uma autêntica operação de três, quatro dias, com fogachadas por todos os lados.

Na última das três operações desta natureza em que a minha Companhia e outras unidades estiveram empenhadas, houve três mortos, sendo um nosso (o 1.º Cabo José Augusto da Silva Leal), outro do Pel Caç Nat 51 (o Fur Mil Sebastião Dionísio) e o terceiro do Pel Rec Fox 1165 (o Soldado Manuel Vieira).
Dois soldados nossos foram gravemente feridos e evacuados para Lisboa, o Júlio Rodrigues Calado e o José Alves Pereira e mais doze, de várias patentes, dos quais três do Pel Rec Fox 1165, feridos com menos gravidade e evacuados para Bissau.

O regresso ao quartel foi difícil e dramático.

O Capitão Corvacho teve de pedir fogo dos obuses de 8,8 dando as coordenadas dum lugar já bem do outro lado da fronteira, mas que sabia ser o ponto de onde o IN o estava a atacar com armas pesadas. O alferes comandante da força de artilharia hesitou e, ao pedir a rectificação dos elementos de tiro, fez saber que o fogo ia cair na zona da fronteira da Guiné-Conacri. Pelo rádio percebeu-se bem a irritação do capitão que insistiu e perguntou ao alferes se desconhecia que ele era oficial de Artilharia.

Resta um pormenor que revela a grandeza dos homens quando confrontados com situações extremas. Aquando do regresso desta última operação os tempos calculados para o trajecto modificaram-se devido à forte concentração de fogo do IN, com as consequências que já descrevi, e o Capitão Corvacho tinha a certeza que, se permanecessem na mata depois do sol-posto, poucos sairiam dali com vida. As viaturas rodavam em marcha lenta porque havia que inspeccionar cada metro da picada. (…)
Mais ou menos por esta altura chegou à Guiné o Brigadeiro António de Spínola, logo depois promovido a General, para substituir o General Schulz no Governo e Comando-Chefe da Província.
Notou-se perfeitamente uma alteração na cadeia de comando principalmente porque, como diziam os soldados, enquanto o primeiro nunca tinha saído do asfalto de Bissau, o segundo aparecia em todo lado sem se fazer anunciar.
Uma das suas primeiras visitas foi ao inferno de Gandembel onde quase obrigou à força o tenente piloto do helicóptero a descer. Foi-lhe fácil concluir que a posição era pouco sustentável e ordenou a retirada progressiva de modo a salvar a face das nossas tropas.

Constou, não posso garantir, mas acredito, que naquela aventura, as NT tiveram cinquenta e dois mortos e muitos feridos graves”.

(P527 de 16 de Fevereiro de 2006 - blogue “luisgracaecamaradasdaguine”)


4 – Do primeiro dia da OP Bola de Fogo
(Texto do livro “Cambança Final” de Alberto Branquinho)

“SÃO JOÃO NO PORTO”

Havia muita tropa envolvida na operação junto à fronteira com a Guiné-Conakri. Uns vindos de norte, outros de sul, em coluna auto.
A tropa que progredia na mata no sentido norte-sul começou a ouvir água a correr em declive acentuado. Era o rio assinalado na carta, que tinham de atravessar. Quando começou a ser visível, constataram que, então, na época seca, era um riacho com três ou quatro pequenos braços de água. Água doce, sem lodo nas margens, devido à altitude, embora muito baixa.
O pessoal que ia à frente e se preparava para atravessar o rio, agachou-se atrás das árvores, aguardando autorização para encher os cantis. A zona era muito perigosa. Não passava por ali tropa havia muitos anos. A autorização foi dada, mas, antes disso, devia passar para a outra margem um número suficiente de homens, por razões de segurança. Quando os primeiros se tivessem abastecido, iriam os outros substitui-los e depois a coluna, seguindo-se andamento lento.

A primeira secção preparava-se para sair da mata e atravessar o rio, quando surgiu, descuidado, na outra margem, um rapaz com sete ou oito anos. Trazia um barrete camuflado. Acocorou-se e retirou da água um pequeno caniço, dentro do qual se debatiam dois peixes. Depois de um momento de espanto e indecisão, um soldado apontou-lhe a G-3 e ia fazer fogo. O alferes agarrou-lhe a arma pelo guarda-mão e empurrou-a para baixo.
- Jubi ! – chamou-o.

O rapaz olhou em volta, procurando de onde vinha a voz. Viu os militares. Levantou-se e ficou estacado, largando caniço e peixes.
- Jubi, bô bem. – e fez-lhe sinal com a mão para se aproximar.

O rapaz fez menção de ir dar um passo em frente, mas voltou-se e desatou a correr para uma baixa do terreno do outro lado da margem e desapareceu na mata, não muito densa. O mesmo soldado e outro levaram as armas à cara, mas o alferes gritou-lhes:
- Não!

Toda a secção desatou numa correria, tentando agarrar o rapaz. Os que vinham atrás correram, também, sem entenderem o que se estava a passar. O alferes foi incapaz de os deter porque estava a comunicar ao capitão, pela rádio, o que acontecera.
- Instalar! Passa a palavra: instalar.
A correria parou e alguns começaram a regressar.
O capitão e o alferes, agachados, passaram para o outro lado do rio. Um furriel, que fora na perseguição, veio ter com eles.
- Há gajos por aqui. Há fogueiras apagadas, com cinzas quentes.
O capitão chamou o guia e deu-lhe instruções.
Recomeçou a marcha, lenta e cuidadosamente.

Não tinham passado mais que dez minutos – uma emboscada. Pouco tempo depois - outra emboscada. A marcha prosseguiu assim, entre emboscadas e tiros de morteiro, disparados não de muito longe, causando só ferimentos ligeiros, de estilhaços e areias.
Sobre o meio da tarde ou porque se lhe escassearam as munições ou porque detectaram a coluna de viaturas vinda do sul, pararam os ataques.
Feito o contacto entre as duas colunas, começou a preparar-se a instalação para passar a noite.
Em pequenos grupos, foram encher os cantis no auto-tanque.

Mal a noite ficou bem cerrada, recomeçaram os ataques. Agora muito fortes. Ora de leste, ora de norte, ora de nordeste – armas ligeiras, metralhadoras pesadas, lança-granadas e morteiros. Ao rasto das tracejantes, silvos de balas, acrescentavam-se os rebentamentos, quase ininterruptos. Na escuridão da noite, sem qualquer abrigo adequado, era impressionante e aterrador.
O alferes, instalado com o pelotão no lado oeste, teve de mudar de lugar, onde estava bem abrigado atrás de um poilão, para não ouvir o soldado que o acusava:
- A culpa é sua, meu alferes. Se eu tivesse “lerpado” o “puto”, isto não acontecia.

Junto à nova posição de abrigo do alferes, um outro soldado, deitado de costas, com a G-3 ao lado, no chão, olhava para cima e dizia, repetidas vezes, em sotaque nortenho:
- Parece o São João no Porto, carago!»

(IN: “Cambança Final” de Alberto Branquinho – Página 199 – Edição Vírgula, Maio de 2013)



Gandembel

Fotos: © Alberto Branquinho (2012). Todos os direitos reservados


5 - O INÍCIO DE GANDEMBEL/PONTE BALANA
(Texto de Idálio Reis)

"(...)
E por via disso, na superior linha de festo do rio Balana, nos viemos a quedar nessa manhã, para de imediato dar início à odisseia que representou a construção de um posto militar fixo, que se viria a chamar Gandembel e mais tarde a uma anexa afastada apenas de poucas centenas de metros, de nome Ponte Balana.

Sob a vigilância directa de uma tropa já bastante mais experimentada - a CART 1689 -, que já reconhecera o local antecipadamente, e que teve uma acção extraordinária durante a permanência que teve connosco até à sua retirada a 15 de Maio, e que é de elementar justiça salientar o papel relevante que sempre demonstrou, começámos a arranjar as nossas guaridas colectivas, autênticos abrigos-toupeira, que nos ofertassem uma maior segurança pessoal durante o tempo de construção dos abrigos definitivos.

Mas antes do mais, houve que proceder à limpeza arbórea da zona, onde a única ferramenta mecânica - a moto-serra -, nos propiciou uma ajuda preciosa. Não foi assim, mestre-soldado Horácio Almeida? Tu que desde criança, tens tido uma vida mancomunada com a floresta.”(…)

(P1654 de 12 de Abril de 2007 – blogue “luisgracaecamaradasdaguine”)


6 - EM GANDEMBEL
(Texto da autoria de Carneiro de Miranda)

"O furriel Marta, que se havia desviado para arrear a giga, ao sentir as formigas assassinas, a morder-lhe as partes, larga-se a correr agarrado às calças. Com este restolho, alerta uns turras que fugiram. Estavam a escamar peixe junto à margem. A nossa tropa, em descanso, não reagiu, para não espantar a caça.
Teríamos que continuar em direção ao Pontão, local apontado para nos juntarmos à CCAÇ 2317, futura defensora do aquartelamento a construir, com a designação de Toupeiras de Gandembel. Sob um sol escaldante, passámos entre um capim altíssimo, onde fomos atacados por moscas que, coladas ao suor, faziam de alguns de nós, pretos retintos. Seguíamos cautelosamente, tendo em atenção que o alerta já fora lançado, através dos fugitivos da beira rio.

Pelas 13H00, com o PCV e os T-6 à nossa vertical e quando já se ouvia o barulho das viaturas da coluna que vinha do Sul, o IN, instalado do lado Leste da estrada, desencadeou uma emboscada, cujo tiroteio demorou uns 10 minutos. Felizmente, tudo correu bem. De seguida avançámos para ver o ronco e fomos surpreendidos pelas abelhas. Situação resolvida e recebemos a ordem para avançar para o Pontão.
Inicialmente ficámos na dúvida se aqueles nativos, que vinham na frente. Seriam turras ou milícias. Valeu a nossa calma e uma dedução muito lógica: aquele barulho que os acompanhava não podia ser dos turras. Eles nunca se ouviam. Efectivamente, tratava-se da coluna que trazia os periquitos da CCAÇ 2317, acompanhados de outro pessoal, para iniciarem a instalação do aquartelamento. (…)
Fez-se a junção e procedemos à inversão de rumo, visando um local mais próximo do rio, para se fazer o aquartelamento. Guileje.
Mal nos distribuímos no espaço idealizado e logo sofremos um violento ataque de morteiros. Valeu-nos a 3.ª Companhia de Comandos, que acompanhava de perto a coluna e que deteve o avanço das tropas inimigas. Esta rápida intervenção dos Comandos deve ter tido grande influência intimidatória junto do IN, uma vez que passou a atacar mais de longe.

Nesta primeira noite em Gandembel, sofremos ataques às 20H00, às 23H30 e às 2h30.
Mal amanheceu, sofremos ataques às 6H00 e às 6H20.
Pelas 8H00, depois de reconhecido o local, procedeu-se à construção dos abrigos, cabendo à nossa CART 1689, a zona Norte e Oeste de um aquartelamento idealizado em forma de quadrado.
Neste dia 9, tivemos a primeira evacuação (por doença). Foi a de Joaquim Sousa Campos.
Grupos de 3 ou 4 elementos, com pequenas sacholas individuais, iniciaram escavações para se abrigarem do IN. Mal se cabia nas covas, cobriam-se com madeira e tudo que aparecesse. Enquanto uns trabalhavam no duro, outros tratavam da protecção da zona e do acesso à água. Apesar desta diminuta distância de 100 metros aproximadamente, o percurso foi sempre picado pela nossa CART 1689. Foram quase sempre os mesmos a fazer esta tarefa.

No dia seguinte (10 de Abril), pelas 10H30, sofremos um ataque que nos provocou dois feridos; João Inácio Sousa e o Eduardo Rodrigues Lopes.
O dia 11, que iniciou com um ataque sofrido durante 40 minutos, foi muito activo. Depois de uma boa resposta das NT, distribuímos pelotões por lugares chave, onde estiveram emboscados durante o dia. A partir deste dia, foi evidente o aparecimento de elementos doentes, que não podiam sair dos abrigos.
No dia 12, o ataque veio pelas 3H30. Nestes dias já encontrámos vário material deixado pelo IN e vestígios de sangue. Voltou a ser atacado pelas 22H30.
Este dia destaca-se pela chegada do primeiro correio e pelo início da construção da padaria.
Cedemos quatro “especialistas” para isso. O pessoal da nossa 1689, andava sempre ocupado em emboscadas e a montar segurança aos trabalhos da CCAÇ 2317, que veio a ser apelidada de “Os Toupeiras de Gandembel”. Abate das árvores e construção dos abrigos, eram trabalhos quase ininterruptos.
O tempo corria vagarosamente. Normalmente sofríamos ataques todas as noites. Por vezes, nem tempo nos davam para dormir.

Enquanto nós ansiávamos pelo regresso, cientes que terminaria o nosso período de intervenção, pensávamos nos desgraçados dos Toupeiras que iriam viver naquele inferno.
No dia 13 foi evacuado, por doença, Fernando Martins da Cunha.
No dia 17, quando faziam um patrulhamento de reconhecimento, foram atingidos por uma mina, o Furriel Belmiro Santos João e o nosso Capitão Manuel Moreira Maia. Foram evacuados para Bissau, onde viria a falecer o Belmiro.
No dia 19, dia em que deixou de haver pão, Foram atingidos por um dilagrama: Una Infalé, José M. Martins Costa Rêgo e Raul Pires. Foram evacuados para Bissau, onde veio a falecer o Una Infalé.
No dia 20, houve a primeira visita de um médico.

Dia 24. Já se havia entrado em comportamentos de rotina. Várias baixas, vários doentes inertes, dentro dos abrigos e muitos elementos debilitados, já se acomodavam ao esforço mínimo. Os Toupeiros, talvez mais cansados fisicamente, devido ao trabalho permanente, parecem agora pouco motivados e muito acomodados. Os militares da 1689, já com algumas baixas e sem o Capitão, chegaram a protestar por esta situação.
Lembro-me de termos ido montar segurança para protecção a uma coluna vinda do Guileje, comandada pelo Cap Corvacho, em que nos acompanhou um pelotão dos “Toupeiras”. Os turras soltaram as abelhas, que se dirigiram para este pelotão. Ia sendo um desastre! Estes militares descontrolaram-se e fugiram para o trilho, aos gritos, sujeitos a outro tipo de acção do IN. Muitos estavam tão inchados das ferradelas que nem se reconheciam. Regressámos ao aquartelamento e esperámos o que fazer. Chega a ordem para se voltar para a segurança à coluna e a maioria dos militares da 1689 recusa-se a fazê-lo, alegando o perigo da actuação da Companhia dos periquitos (Toupeiras). Estes apareceram mas, da 1689, só foram 14 elementos. Alguns, mais afoitos, isolam-se na coluna e provocam alguma confusão, porque outros não querem ir na frente. Rebenta um forte ataque do IN, que se havia emboscado à espera da coluna de Guilege. Aproximámo-nos do local do “assalto” e vimos o camião GMC carregado de cerveja, metido na cratera de um fornilho. Quando perguntei ao Corvacho o que iriam fazer à GMC e à cerveja, uma vez que estava a ficar tarde, ele disse:
- Não te preocupes, se a GMC não sair, rebento as garrafas com meia dúzia de granadas. Estes filhos da puta não vão beber nenhuma.

Felizmente a GMC saiu do buraco, para bem de todos e, muito especialmente, para os da 1689 que se abasteceram razoavelmente. Soubemos que no seu regresso a Guileje, esta coluna sofreu mais ataques em emboscadas e teve mais feridos.
Dia 26 de Abril, a nossa CART 1689 completava um ano. E todos os dias 26 davam motivo há maior bebedeira do mês. Ali, não havia Messes, Refeitórios ou Bares. Só buracos no chão e alguma água do rio. No entanto, sabe-se lá como, o nosso pessoal foi bafejado com a oferta de algumas garrafas de bagaço. Fracos e doentes como andavam, os soldados acusaram rapidamente o efeito exponencial de tais cargas etílicas. E o IN, talvez sabedor do significado desta data, resolveu atacar desmedidamente. Valeu-nos o ânimo bagaçal adquirido, para uma resposta compatível. E quando o festival acabou e se concluiu que ninguém havia sofrido ferimentos, foi a alegria generalizada".


7 – NOS PRIMEIROS DIAS

Vejo, pela História da Companhia, que a minha CART 1689 permaneceu naquele espaço, que veio a ser o quartel de Gandembel, cerca de um mês e meio.
Eu já tinha vivido com a Companhia a experiência de longos dias na construção de outro quartel totalmente novo (“Gubia”, no sector de Empada). Mas, devido a perigosidade da zona onde ia sendo construído o quartel de Gandembel, a poucos quilómetros da fronteira com a Guiné-Conakry, situado no chamado Corredor da Morte/Corredor de Guileje, eu calculava que os primeiros dias deveriam ter sido muito difíceis. Eram os ataques constantes de que falavam, a necessidade de água, organização do terreno para efeitos defensivos, para albergar (com a segurança necessária) duas-Companhias-duas num espaço tão limitado e em terreno praticamente plano.
Já tinha abordado estes aspectos com alguns graduados, mas a conversa derivava sempre para outros aspectos pessoais, de cada um, relacionados com a actividade operacional em período de tempo mais avançado e não durante a bagunça que, entendia eu, teriam sido os primeiros dias.

Num convívio da CART 1689 abordei este aspecto com alguns soldados:
- Então e nos primeiros dias, como é que foi? Muita confusão? E água? Havia água ou era cerveja?

Vou tentar reproduzir, com a realidade possível, partes do diálogo que as minhas perguntas causaram.
- Água? Água, a gente tinha. Havia um rio ali pertinho. Foi o único rio que eu vi na Guiné que não tinha água salgada.
- De dia os gajos atacavam, mas era só de longe. Com canhões e morteiros. Mas de noite os filhos da puta vinham de ao pé e com metralhadoras e tudo. E era todos os dias, de manhã e à noite e se não era de dia, chateavam-nos a noite toda.
- Então, quando a gente ainda estava a cavar os abrigos para três ou quatro de nós (que ficaram tapados com troncos em cimba e despois com chapas de bidões e depois com terra por cimba), não havia mais nada e tínhamos que ir “arrear o calhau”. Ora, pois! Como não havia inda onde ir, cagávamos do lado de lá das árvores maiores. Arreávamos as calças, púnhamos a G3 encostada às árvores, sempre com os olhos a olhar à volta. Feito o serviço, voltávamos p’rá picareta e p’rá pá. Quando os gajos vinham à noite p’rá atacar, deitavam-se ó detrás dessas árvores e cagavam-se todos. Eh! Eh! Eh! Eh! Eh!
- Póis! Mas as mais das vezes a gente andava a montar emboscadas e a fazer patrulhamentos de segurança às obras que os periquitos andavam a fazer.
- Mas, quando precisavas, também cagavas assim, daquela maneira, ou não?


8 - 15 de Maio – DIA TERRÍVEL
Primeiro ferido grave da CCAÇ 2317 – Furriel António Alves
(Texto da autoria de Carneiro de Miranda)

“Julgo que era o segundo ou terceiro dia em que os Toupeiras efectuavam o trabalho do abastecimento de água. A Cart 1689 sairia neste dia de Gandembel e já deixara de o fazer.
A Companhia “Os Ciganos”, apesar dos seus cuidados bastante experimentados, tivera ali, em Gandembel, 2 mortes e dezenas de evacuados. Todavia, sempre manteve os cuidados essenciais de comportamento, incluindo, neste caso, a prática diária de picar esse escasso percurso de cerca de 150 metros.
Ora, os Toupeiras, ao contrário dos “Ciganos”, não sentiram necessidade de picar esse pequeno percurso. Claro que o experimentado IN estava atento a estes facilitismos e, logo no dia seguinte, ouviu o rebentamento das minas colocadas.
Disse-me o Cabo Mendes:
- Ó furriel, foi chocante ver o estado do seu colega que, com as pernas esfaceladas, dos joelhos para baixo, gritava:
- Tirem-me as botas! Tirem-me as botas!”


9 – No último dia da CART 1689 na OP BOLA DE FOGO
(Texto do livro “Cambança Final” de Alberto Branquinho)l

“DESPOJOS”

"Eram cerca de nove horas da manhã. O calor começava já a apertar. O pessoal da Companhia estava pronto e equipado para sair, com os seus pertences dentro dos sacos de lona. Estavam encostados nas sombras possíveis, na proximidade dos abrigos, prevenindo a necessidade de terem que se proteger em caso de ataque.
Aguardavam a coluna auto que estava a chegar, de norte, para, depois, saírem desse quartel fortificado, com as mesmas viaturas, em marcha apeada, fazendo o movimento de retorno. A norte ouviram-se três ou quatro (cinco?) rebentamentos de grande potência. A primeira reacção foi correr para os abrigos. Muitos estacaram imediatamente, porque, estouros com aquela força, não tinham nada a ver com “saídas” de canhão ou de morteiro. Todos os rostos se viraram, com expressão ansiosa para norte. Uma nuvem de fumo e pó começou a surgir e a avantajar-se muito ao longe.
- Que merda foi aquela?

A resposta chegou pouco depois, via rádio e retransmitida boca a boca: “Fornilhos”.
Chamam-se os enfermeiros e saem viaturas, com mais pessoal, em socorro.
A coluna tarda e não há mais notícias.
Chegam as viaturas que tinham saído. Os homens vêm com ar soturno. Duas viaturas tinham sido despedaçadas e havia muitos pedaços de corpos.
Quantos? Ninguém sabe responder.
As primeiras viaturas da coluna começam a chegar. Entra a viatura, de caixa aberta, com os pedaços de corpos. Alguns, curiosos, agarram-se às cancelas e espreitam:
- Foda-se! Queimados! Parecem todos pretos.

A viatura é coberta com panos de tenda amarrados, depois de enxotarem as moscas, que teimavam em ficar por debaixo dos panos.
Mais do que medo, uma raiva enorme, surda, irracional enche as cabeças e os peitos. Muitos cospem para o chão de forma maquinal, contínua, inconscientemente.
As viaturas são abastecidas de combustível para o regresso, directamente dos bidões, ao mesmo tempo que é retirada a carga que se destina ao quartel
Reorganiza-se a coluna para o regresso, com a indicação de que a viatura com os pedaços de corpos seguirá em último lugar. O pessoal da Companhia que aguardava seguirá apeado, espaçado, pelotão a pelotão, entre as viaturas.

Começa o andamento, desenrolando o “novelo” de viaturas e de homens. A raiva sobe-lhes às cabeças. Os dentes cerrados. Há indicação para estarem, também, atentos às copas das árvores.
Não demoraram muito tempo a chegar ao local de rebentamento dos “fornilhos”. Cabia um homem agachado dentro de cada buraco. Um furriel, quando viu um braço ou, talvez, uma perna, pendurado de um ramo, disse para um soldado:
- É pá, deixa aí a G-3 e vai lá em cima buscar aquilo, que a gente dá-te cobertura.
- Foda-se! Ir lá em cimba?! Bá lá bocê!

Frente à recusa, ficou parado, a olhar fixamente para “aquilo” e desistiu.
Ia recomeçar a andar e olhou para o chão. Viu, junto ao tronco de uma árvore, três ou quatro formigas grandes, pretas, que, com as pinças da cabeça cravadas, tentavam arrastar um pedaço de carne, ainda com um farrapo de farda camuflada agarrado. Com raiva, elevou o pé para esmagar as formigas (e, ao mesmo tempo, o pedaço de carne), mas susteve o pé no ar, com a perna flectida e acabou por dar um passo mais largo, passando adiante. Voltou-se para observar melhor e verificou que havia mais pedaços de carne, em volta. Ficou a olhá-los, sem dar conta que viaturas e homens iam passando por ele. Ele já não estava ali. Pairava, cérebro vazio…
Retomou a marcha, maquinalmente, devagar, muito devagar, titubeante e, entre dentes, ia repetindo Lavoisier: “Na natureza nada se cria… nada se… nada se… nada se perde… nada se perde… nada se perde…"

(IN: “Cambança Final” - página 157, edição Vírgula - Maio de 2013)


10 - O ALFERES MONTEIRO
(Texto do livro “Na Tenda do Mestre Isaías” de Emídio Soares)

"Quando passámos por Aldeia Formosa, onde jantámos na noite de 7 de Abril, tivemos a oportunidade de conviver com os militares ali estacionados. Dentre eles, destacamos o alferes Monteiro que, com a comissão quase terminada, aguardava, sem pressa, o seu regresso a Bissau e a Lisboa. Para além de manifestar essa satisfação do dever cumprido, o Monteiro, exteriorizava uma agradável camaradagem e uma evidente simpatia. Parecia que todos o admiravam. Todavia, quem mais o apreciava era o seu grupo de africanos com quem viveu intensamente quase dois anos.
No dia 14 de Maio, o Monteiro ainda estava em Aldeia Formosa. Precisamente nesse dia, o seu Comandante dava-lhe conhecimento que o seu pelotão teria que seguir de madrugada na coluna auto para Gandembel, a fim de levar materiais de construção e géneros alimentícios e, ao mesmo tempo, trazer de volta a CART 1689 que havia terminado a sua missão.
O Monteiro, numa atitude de solidariedade e de despedida do seu grupo, solicitou ao Comandante que o deixasse fazer esse último serviço.

A coluna seguia normalmente e cerca das nove horas já estava perto de Gandembel. Perante umas rajadas de armas ligeiras, a coluna parou e os militares atiraram-se para a as margens da estrada, a fim de se posicionarem e de se defenderem. Logo de seguida explodiram 12 fornilhos, transformando as valetas em crateras, e massacrando a maioria do pelotão do alferes Monteiro.
Seguiram-se cenas horrorosas na procura de corpos e pedaços de carne humana, espalhados em redor daquela zona de morte. Grande parte deles pendiam das árvores, para onde foram disparados.
(…)
No início desta recta, à terceira cratera, do lado direito, e junto à estrada, via-se um tufo de três palmeiras. Numa delas, estava uma perneira de calças de camuflado, com uma bota amarrada e pendurada na copa da palmeira. No tronco da palmeira central, estava a tampa do crânio de uma cabeça com cabelo loiro, à altura de um metro e quarenta, do chão. O resto do tronco até ao chão, era uma massa de carne e sangue, impregnada na casca da palmeira. Deduzimos que eram os restos mortais do alferes Monteiro. Ele era o único branco e loiro do pelotão”.(…)

(IN: “Na Tenda do Mestre Isaías” – página 120, de Emídio Soares, edição do autor)


11 – GANDEMBEL - A TERRA DOS HOMENS DE NERVOS DE AÇO

Por Idádio Reis

"(…) A briosa e colaborante CART 1689 despede-se definitivamente do nosso convívio, e a partida-separação deste bravo punhado de homens, deixou-nos claramente mais pobres, porquanto ficávamos francamente mais indefesos e inseguros. Em mais de um mês que nos acompanhou, até 15 de Maio [e 1968], desenvolveu um trabalho extremamente meritório, tendo-se empenhado denodada e esforçadamente em nos acompanhar. Passou também por graves vicissitudes, em que perde fatidicamente um furriel, alvo de um dos vários artefactos armadilhados por ela mesma, e sofre mais de uma dezena de evacuações, por ferimentos e doenças, entre os quais o seu capitão-comandante.” (…)

(IN: “No Corredor da Morte – A CCAÇ 2317, na guerra da Guiné” – página 112 de Idálio Reis, edição do autor – Fevereiro de 2012)


12 - HINO DE GANDEMBEL
Recolha de José Teixeira
Revisão e fixação de texto: L.G.

“Ó Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.

- Meu Alferes, uma saída! -
Tudo começa a correr.
- Não é pr’aqui, é pr’ponte! (i),
Logo se ouve dizer.

Ó Gandembel,
És alvo das canhoadas,
Verilaites (ii) e morteiradas.
Ó Gandembel,
Refúgio de vampiros,
Onde se ligam os rádios
Ao som de estrondos e tiros.

A comida principal
É arroz, massa e feijão.
P’ra se ir ao dabliucê (ii)
É preciso protecção.

Gandembel, encantador,
És um campo de nudismo,
Onde o fogo de artifício
É feito p’lo terrorismo.

Temos por v’zinhos Balana (i),
Do outro lado o Guileje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três (iv) te protege.

Bebida, diz que nem pó,
Só chocolate ou leitinho;
Patacão, diz que não há,
Acontece o mesmo ao vinho!”

(P2319 de 1 de Dezembro de 2007 – blogue “luisgracaecamaradasdaguine”)


13 – NOTAS FINAIS

1 – Já em Catió, regressado de férias, deslocava-me amiúde para o Cais, esperando a chegada da minha Companhia. Na manhã do dia 24 de Maio ouvi um tiroteio a jusante. Era a LDG a ser atacada de ambas as margens, tendo-lhe sido causado dois rombos: um do lado esquerdo e outro à ré.
2 – Ao registar aqui a maior e mais perigosa OP realizada pela minha CART 1689, sem ter participado nela, pretendi somente transmitir alguns testemunhos que possam vincar a sua acção.
3 – Para assimilar melhor o que foi a guerra em Gandembel, aconselhamos o livro” No Corredor da Morte”, escrito pelo alferes Idálio Reis, da CCaç 2317, que esteve lá desde o início da OP Bola de Fogo até ao abandono do quartel, por ordem de Bissau (10 meses depois), do qual são transcritas acima algumas passagens.

Silva da Cart 1689
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12887: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (17): O Asdrúbal do Cu da Serra e os seus amores tardios

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13826: Consultório militar, do José Martins (7): Sobre a morte do alf mil Nuno da Costa Tavares Machado, em Guileje, em 28/12/1967: Parte I - Dúvidas que, escritas na areia, desaparecem, mas acompanham sempre os entes queridos (Aníbal Teixeira, cunhado, Avanca, Estarreja)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje >  A placa com o nome do alf Nuno da Costa Tavares Machado que estava na parada do aquartelamento (*)... Ou melhor: afixada na parede da messe de sargentos (**), e que foi descoberta por ocasião dos trabalhos de escavação de arqueologia militar que deram origem ao Núcleo Museológico Memória de Guiledje.  Não temos nenhuma foto, individual ou em grupo,  do nosso malogrado camarada.

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2013) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



Guiné  > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Caserna das praças a que foi atribuído o nome dos sold António de Sousa Oliveira (o "Francesinho") e o António Lopes (o "Sargento"), mortos em 28/12/1967 na sequência da Op Relance, juntamente com o alf mil Tavares Machado, todos eles pertencentes ao grupo "Os Lordes" [... designação dum Grupo de Combate formado por voluntários da companhia que recebera instrução especial em Bissau com o fim de constituir o primeiro escalão de progressão e assalto, dado que a CART 1613 foi, inicialmente, companhia de intervenção à ordem do Comando Chefe e actuou em vários pontos do território, segundo explicação dada pelo nosso saudoso cap José Neto (1927-2007)].





Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1967 > CART 1613 (1967/68) > Ao centro, o Francesinho, alcunha do sold at António de Sousa Oliveira, transbordando de energia e de alegria, uns meses antes de morrer, no "corredor da morte", em 28/12/1967. Era natural de Celorico de Basto (, tal como o seu infortunado camarada, o António Lopes) e emigrante em França. É a única foto que temos dele.





Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68)> Alguns dos quadros da companhia, vestidos com trajes fulas... Dois militares parodiam a PM- Polícia Militar... O Cap Corvalho pode ser o terceiro a contar da esquerda, pelo menos é alguém que ostenta as divisas de capitão. "Aqui de certeza é o Corvacho, um bom amigo", garante-me o Nuno Rubim ...

Não, não se trata de nenhuma "festa de Carnaval", mas da tão desejada "receção dos piras"... Neste caso, a foto deve datar de maio de 1968, quando a CART 1613 (cuja comissão em Guileje vai de junho de 1967 a maio de 1968) é rendida pela CCAÇ 2316 (mai 1968/jun 1969)...Nessa altura, o alf mil Machado Tavares já tinha morrido, pelo que nunca poderia fazer parte deste "grupo de praxistas", ou no mínimo, encarregue de "dar as boas vindas" à periquitagem...
Fotos: © José Neto  (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Mensagem de 20 do corrente, do nosso leitor Aníbal Teixeira, 

Assunto: Guiné- Alferes Tavares Machado
Data: 2014-10-20 03:01


Caro Sr. Luis Graça,  bom dia.

Sou cunhado do Alferes Nuno Tavares Machado, falecido em combate na Guiné em 28/12/1967 (***).

Ao ler o vosso site e ao comunicar à minha esposa, única irmã do Nuno, os sentidos de novo despertaram para a situação vivida há 47 anos...

Muitas interrogações e curiosidades reacenderam...

(i)  Como morreu o Nuno ?? Sofreu ?? 

(ii)  Foi condecorado a titulo póstumo porquê ?? 

(iii)  Porque fizeram a placa com o nome dele e a colocaram na parada da messe de sargentos ?? 

(iv)  Se diversos tombaram, porquê o Nuno ?? 

(v)  Porque aparece agora ?? 

(vi)  Há alguém vivo que me possa descrever ?? 

(vii)  Um dia, como alferes, no Quartel General do Porto, interroguei o Comandante da Região Corvacho. Lamentou, mas não me comentou o sucedido. Porquê ?? 

Sempre fiquei com duvidas...

São dúvidas que,  escritas em areia,  desaparecem, mas acompanham sempre os familiares..!....

Se algo possível pretenderem sobre o Nuno, para enriquecerem o excelente e digno trabalho que estão a fazer, estamos à vossa disposição.

Da família directa do Nuno resta a irmã, minha mulher,  e a mãe, com 97 anos. A mãe vive no Porto e nós em Avanca (Estarreja).

Ao vosso dispor, com um forte abraço

Aníbal Teixeira

Tlm (...) | Email (...)

2. Resposta do nosso colaborador, camarada e amigo José Martins [ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70, TOC reformado, residente em Odivelas] (****):

Caro Aníbal Teixeira

Sobre o e-mail que escreveu ao Luís Graça, na qualidade de administrador do blogue “Luís Graça e Camaradas da Guiné”, cabe-me a mim, como colaborador permanente do blogue, tentar dar resposta às questões que colocou.

Para poder dar uma resposta sobre os factos, baseado em documentos oficiais, foram consultadas as seguintes fontes:

a) História da Unidade do Batalhão de Artilharia nº 1896 que tinha como subunidades orgânicas, além da CCS, as Companhias de Artilharia nºs 1612, 1613 e 1614, à guarda do Arquivo Histórico Militar, donde foi extraído o resumo que juntamos, e que consta no 7º Volume – Unidades, da CECA.

b) 8º Volume, Livro 1, Mortos em Campanha, na Guiné, de que juntamos página onde constam os nomes dos três militares que tombaram em 28 de Dezembro de 1967.

§ Na História da Unidade e à guarda do Arquivo Histórico Militar, que fomos consultar, consta na página número 127, a seguinte nota, relativa ao período de 1 a 31 de Dezembro de 1967:

«Em 27 – Executado a Operação “Relance”

Missão – Emboscada no “corredor” de Guileje.

Força executante:

- Companhia de Artilharia  [CART] 1613 (incompleta)

- 1 Grupo Combate da Companhia de Artilharia [CART] 1659

- 1 Grupo Combate da Companhia [de Caçadores] [CCAÇ] 1622

- Pelotão de Caçadores Nativos  [Pel Caç Nat] 51

- Pelotão de Milícias 138

Resultados obtidos:

- Causados ao IN 4 mortos prováveis e feridos vários não controlados

- As NT sofreram 3 mortos, 4 feridos graves (3 milícias) e 3 feridos ligeiros (2 milícias).»

c) 5º Volume, Tomo VI, página 363 de Condecorações atribuídas, onde consta a Portaria de atribuição da Condecoração, assim como o Louvor que deu origem à mesma.

Tentemos, então, dar respostas às questões colocadas, mas que se devem considerar como “opinião pessoal”. Dúvidas não esclarecidas, que se avolumam a cada dia, marcam, às vezes, mais do que a “chegada da notícia do acontecido”.

Como morreu o Nuno? Sofreu?

Pela leitura do Louvor, ainda que feito em termos muito normalizados, o Nuno foi um dos 1711 militares que Tombaram em Combate na Guiné. Quanto a sofrimento, sem querermos ser cruéis, pelo menos o Nuno deve ter sofrido, caso a morte não tenha sido imediata. Pelo menos deve ter pensado na mãe e na família, que era um dos pensamentos sempre presentes. 

Foi condecorado a titulo póstumo porquê?

A resposta está no teor dos louvores que lhe foram conferidos. Apesar de ser o “terceiro oficial” da subunidade, era bastante voluntarioso e admirado pelos “seus homens”, tendo criado e comandado um “grupo de elite” [, os Lordes,} que o seguia sempre. 

Porque fizeram a placa com o nome dele e a colocaram na parada da messe de sargentos?

Para mim, não é mais que camaradagem. Foi, provavelmente, uma forma de “fazer o luto” por um camarada de armas que, apesar de estar “vocacionado para mandar”, não hesitava em dar o exemplo.

Se diversos tombaram, porquê o Nuno?

Se quisesse dar uma resposta “fria”, diria que estava no local errado à hora errada. Se quisesse dar uma resposta “piedosa”, diria que estava na hora de partir para “outras paragens”. Mas, prefiro, dar uma resposta objectiva, baseada no texto do segundo louvor: Morreu porque foi socorrer um camarada ferido, e por isso ficou mais exposto ao perigo. 

Porque aparece agora?

Não sei o que pretende sobre o “agora”. Guilege [ou Guileje] é um marco muito negativo na história das nossas tropas na Guiné. Ficava situado no Sul junto à fronteira, num “corredor” muito utilizado pelo PAICG, para introduzir no território homens, armamento e outros bens. Muitas são as referências àquele destacamento que, em 1973 [, em 22 de maio], acabou por ser abandonado pelas tropas que o guarneciam, após longos dias de bombardeamentos tendo, inclusivamente, ficado sem transmissões, por terem atingido a antena.

Depois da independência, e já no século presente, a AD – Acção para o Desenvolvimento, uma ONG da Guiné-Bissau, recuperou a destacamento, com a colaboração de militares portugueses [, com destaque para o nosso blogue], e organizou um simpósio [, em março de 2008,], pelo que pode ser uma das razões de agora “ter sido colocado em cima da mesa”. 

Há alguém vivo que me possa descrever?

Infelizmente já não se encontram entre nós, o então Capitão [Eurico] Corvacho [e o então 2º Sargento José Neto [, que morreu em 2007, como cap refomado,], um como comandante e outro como responsável pela formação da companhia.

Há várias entradas sobre o tema no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. (Marcadores: Guileje, José Neto, CART 1613, referências no fim dos postes, etc; vd. coluna do lado esquerdo do blogue). 

Um dia, como alferes, no Quartel-General do Porto, interroguei o Comandante da Região Corvacho. Lamentou, mas não me comentou o sucedido. Porquê?

Quem comanda, em qualquer situação, tem apreço pelos que comanda. É natural que o Capitão Corvacho tenha interiorizado esta “baixa”.

Espero que estas notas, se não vão “apaziguar” as vossas dúvidas e saudades, possam ser uma maneira de “amenizar” tudo aquilo que levantou tantas dúvidas sobre um acontecimento de há 47 anos.

Seguem-se os textos referidos anteriormente [, a publicar, oportunamente, no seguimento deste poste].

José Marcelino Martins

josesmmartins@sapo.pt

21 de Outubro de 2014

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(**) Vd. poste de 8 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12127: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (23): A placa toponímica "Parada Alf Tavares Machado" estava afixada na parede da messe de sargentos (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá, ex-fur mil, CART 2410, 1968/70)


 (***) Vd. poste de 29 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6658: Lista alfabética dos 75 alferes mortos no CTIG, 54 (72%) dos quais em combate (Artur Conceição)