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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23567: Agenda cultural (810): Sessão de autógrafos do meu livro "Aprendiz de Mágico", 6ª feira, dia 2/9/2022, às 20h00, Feira do Livro de Lisboa, Parque Eduardo VII, pavilhões D44, D46, D48, D50, D52 (Mário Leitão, Ponte de Lima)


O livro do nosso camarada Mário Leitão, homem dos sete ofícios, hoje ilustre farmacêutico reformado e escritor (e noutra encarnção, fur mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do LMPOQF -Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos, 1971 a 1973), é uma autobiografia parcialmente ficcionada, editada pela Astrolábio / Grupo Editorial Atântico. Prefácio do jornalista e diretor de comunicação Carlos Enes.  Preço de capa: 12 euros | ebook: 5 euros. (*)


1. Mensagem do nosso amigo e camarada limiano, Mário Leitão:

Data - segunda, 15/08/2022, 23:56

Assunto - Apresnetação do livro "Aprendiz de Mágico" na Feira do Livro Lisboa 2 setembro de 2022

Caro Luís, que tudo esteja bem contigo e com os teus!

Se puderes, seria bom para mim divulgar a minha presença na Feira do Livro de Lisboa, no dia 2 de Setembro! (**)
 
Obrigado! Grande abraço!
Mário
_______

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P20017: Manuscrito(s) (Luís Graça) (158): Afinal a guerra também era ototóxica...

Infeliz o cego, surdo e mudo,
porque dele não será o reino de Neptuno


Estou surdo e não poderei ouvir-te em agosto.
Nem ouvir o que mais gosto em agosto,

o mês da festa de todos os sentidos,
ouvir o mar, a décima sinfonia do mar,
tocada pelo vento,

pelos golfinhos e pelos surfistas.
Ou só poderei captar meio som, 

com o meio ouvido que me resta. 

Estou surdo e por mais absurdo
que isso te pareça,
só poderei entender as palavras sibilinas, 

e as semifusas, que me escreveste,
em papel pautado, no teu último mail.

Aqui estou eu, especado, na areia, emparedado entre o
 Beethoven a fazer o pino 
e o desejo e a ameaça de Sibila,
enquanto espero o otorrino, 

à porta do consultório, na casa de praia,
e o sol que tarda 
nesta tarde do mês de Agosto.

Infelizes os surdos e os curdos
(que não têm mar nem pátria nem otorrino,

e muito menos casa de praia) 
e os duros de ouvido, como eu,
porque deles não será o Reino de Neptuno!

Sinto-me infeliz, no pico do verão,
meio surdo, meio huno, meio curdo,
à espera do pôr do sol
e do seu espetáculo de strip-tease,

e o otorrino que tarda em almoçar.

Aqui especado, parado, enterrado na areia,
à espera de qualquer coisa,
da iminência de acontecer qualquer coisa,
à espera da queda dos últimos restos
do sacro império romano do ocidente,
à espera que me caia, na cabeça,
uma prancha de surf,
um tubarão assassino,
um ultraleve publicitário,
à espera que haja uma notícia, 

que não seja falsa,
que dê um belo título de caixa alta
para ler amanhã com o café do pequeno almoço,
qualquer coisa que não me agrave ainda mais 
a minha surdez, o meu autismo...

Por favor, nada de ataques de pânico,
falsos alarmes de tsunami,
e muito menos ainda 

o crash na Bolsa de Nova Iorque,
o suicídio coletivo dos povos da Amazónia,
ou um magnicídio. 

Ao menos que eu fique à espera 
que dê à costa na maré cheia 
um pedaço da arrábida fóssil da Lourinhã,
em vez da cabeça do rei 
ou do Santiago de Compostela,
de preferência um duro osso de roer 

de um pachorrento jurássico dinossauro,
ou até quiçá uma boa chuva de meteoritos
made in China, transgénicos…

Emfim, aqui estou eu à espera dos bárbaros, 
à espera dos hunos,
à espera do meu otorrino,
à espera de ti, meu amor.
à espera do sol que teima em tardar,
à espera do FMI ou do FIM do planeta,
sem pachorra para os curdos,
sem piedade para com os surdos, 
muitos menos os cegos e os mudos,
agora sem o fio de Ariane.

À espera, enfim, da recuperação 
dos meus cinco sentidos,
à espera do fim da minha crise existencial,
à espera do som e da fúria 

da próxima praia-mar,
em noite de lua cheia
prenha de augúrios, fantasmas e medos.

Só não conquistaram o sol, nem a lua, 

os sacanas dos romanos,
que nos escravizaram e deram o ser,
nem os oceanos,
o Atlântico, a autoestrada da globalização, 

o sol que tarda em Agosto,
ou que alguém pôs no prego
para pagar dívidas ao fisco,
nem havia nesse tempo direito a férias pagas,
subsídio de invalidez 

por surdez, profissional,
nem muito menos o prémio 

por nascimento, batizado, casório e funeral.

Estou surdo, cego e mudo,
ou, se não estou surdo, cego e mudo, 

foi por um triz,
que o míssil passou rente ao arame farpado,
estou surdo e a fazer o luto 

pela morte do Estado-Providência
que me pagava o otorrino 

e as gotas para o nariz.

Aqui é o meu futuro, diz o novo huno,
o imigra que agora vende bolas de Berlim
em praias rigorosamente concessionadas
e outrora vigiadas pela ASAE. 

Viva o fascismo sanitário, 
proclama o outdoor
da nova polícia das retretes e dos croquetes.

Estou surdo, sem dó nem piedade,
falta-me ficar cego e depois mudo,
para ser cego, surdo e mudo,
como a figura da deusa Justiça,

esculpida à porta do tribunal. 

Luís Graça,

[Lourinhã, Praia da Areia Branca, 13/8/2007. Revisto].


2. Comentário do autor:

Tenho 'ouvidos novos' que encontrei no lixo e reciclei. Tenho má consciência por toda uma vida em que fui predador do planeta. Agora, tarde e a mais horas, ando numa de reciclagem. Reciclo tudo o que posso, até pus ouvidos novos. Não sei que raio de planeta vou deixar para os meus netos e bisnetos, se os tiver.

Fui fazer um audiograma, mas primeiro fui ao otorrino limpar a merda dos ouvidos. Um deles tinha favos e favos de mel e cera. Mais cera do que mel. Ou era só cera ?...

Há já uns anos que ouvia mal, já não ouvia os alunos da terceira fila na sala de aulas. Muito menos o safado do locutor de serviço ao telejornal. Deixei de ouvir e ver televisão. Nem podia ir ao teatro, que os atores só falavam para eles e entre eles. E a primeira fila era só para os convidados e amigos bons de ouvido. E mesmo para ouvir a 9.ª sinfonia tinha que levar um funil.

O sacana do otorrino, há uns anos atrás, no hospital que devia ser um farol para os doentes, encolheu os ombros, e disse-me: "Mas o que é o senhor professor quer que eu lhe diga ?!... A idade não perdoa, a perda auditiva é irreversível"...

Merda para a idade, senhor doutor, e então os milagres da novas ciências médicas para cujo peditório também dei durante anos e anos ? Eu quero uns ouvidos novos, quero uma recauchutagem do esqueleto, como deve ser, da cabeça aos pés...

Nunca fui egoísta, agora estou a sê-lo... Andei cinquenta anos a descontar para a ADSE, nunca tomei um medicamento, nunca gastei um chavo ao provedor da santa casa da misericórdia... Fui amigos dos ministros da saúde. Tinha saúde para dar e vender. Nunca meti uma cunha a Deus e ao Hospital de Todos os Santos, também nunca me calhou o euromilhões ou a sorte grande, mas a verdade é que também não jogo, e quem não arrisca não petisca, diz o saloio do Zé Povinho....

Não joguei, não ganhei, não arrombei os cofres da santa casa. Agora ando a fazer as contas à vida: tanto para os ouvidos, tanto para a anca, tanto para os joelhos... E que Deus nos livre do raio do Alzhemeir!

"Otites líquidas, teve em pequeno?", pergunta-me a audiologista...

"Minha querida, quem as não teve, em pequenino, ou no Portugal pequenino em que nasci, vivi e cresci. E o meu médico era a ti'Adlina, minha vizinha da rua do clube, guardadora de segredos terapêuticos milenares... Médicos ?... Só havia dois na minha aldeia, e a gente só os chamava no estertor da morte ou nalgum parto de má hora"...

E acrescentei, por descargo de consciência:

"Depois disso, estive na Guiné, na guerra, ouviu falar ?... A menina é jovem, já nasceu depois do 25... E mesmo que fosse antes, nunca iria para a tropa. Só se fosse enfermeira paraquedista, conheci algumas na Guiné... Tiros, explosões, emboscadas, minas anticarro, acidentes com viaturas, quedas mais ou menos aparatosas, picadas, solavancos, cabeçadas, cones de fogo nas trombas, trambolhões, bezanas, esquentamentos, febres palúdicas... sabe como são estúpidas as brincadeiras da guerra, quando se tem vinte anos, sangue na guelra e as hormonas a rebentar a pele"...

"Ah!, já sei, quinino, ototoxicidade!

"O quê... ?"

"Há certos medicamentos que são otóxicos... Já passaram por aqui dezenas e dezenas de antigos combatentes da Guiné que se queixam do mesmo mal... O quinino, do Laboratório Militar, que vocês tomavam regularmente, às refeições... Por causa da malária ou paludismo... Lembra-se ?"


"Eureka!... Se me lembro !... Um pacotinho de sal e outro de quinino, ao almoço!!"...


"Parece haver evidência científica de que o quinino pode provocar danos ao sistemas coclear e/ou vestibular"...

"Não percebo nada da anatomia e da fisiologia do ouvido... Mas com essa do quinino, é que a menina me estar a lixar!... Não sabia, mas devia saber, porra, afinal andei anos e anos a falar de saúde e segurança do trabalho"...

"Não sou farmacêutica, mas há para aí mais do que uma centena de medicamentos ototóxicos. Acrescente-lhe a penicilina"...

"Porra, tomávamos aos milhões"...

"Agora, não há remédio, e não precisa de dizer palavrões... Ou melhor: felizmente há remédio. Deixe isso comigo. Vamos lá fazer o audiograma e, depois, pôr estes brinquinhos no ouvido, devidamente regulados"...

"Com essa é que me tira o sono, que a guerra era tóxica, eu já o sabia, mas que também podia ser ototóxica, não me passava pela cabeça!"...

"É bom para o Estado-patrão (e, para nós, multinacionais que vendemos aparelhos auditivos, um negócio de milhões, aqui para nós que ninguém nos ouve)... Enfim, é bom que os antigos combatentes não saibam certas coisas que faziam mal à saúde... Afinal, só os juízes é que são, coitados, cegos, surdos e mudos... E têm que ser bem pagos por isso"...

"Minha querida audiologista, estou encantaddo por ouvi-lo... Sabe, estou até a simpatizar consigo!".

... Ganhei uns 'ouvidos novos'. Posso agora ouvir todas as conversas, mesmo baixinhas... Até as conversas dos espiões!... Mais importante: posso ouvir o mar no mês de agosto, e o vento a dar nos búzios dos moinhos da minha infância...


Algumas conversas bem as dispensava... Mas não há mundos perfeitos... Mais vale andar neste mudo de muletas do que no outro em carretas... Obrigado ao 'morto' que me deixou uns 'ouvidos novos', comprados no OXL. A preço da uva mijona. É indecente que me peçam 4 mil euros por um aparelho auditivo XPTO... Prefiro um, em segunda mão, reciclado. A mim, que que lutei na guerra pela minha Pátria e que, se calhar, fui vítima da ototoxicidade provocada pelas drogas antimaláricas do Laboratório Militar...

______________
 

o·to·tó·xi·co |cs|
(oto- + tóxico)

adjectivo

[Medicina] Que tem efeito tóxico sobre o ouvido ou sobre órgãos ou nervos responsáveis pela audição e pelo equilíbrio.

"ototóxico", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/otot%C3%B3xico [consultado em 27-07-2019].

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 18 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19987: Manuscrito(s) (Luís Graça (157): Andamos à volta com os fantasmas de sempre, que, desde meninos, nos ensombram, uns, ou nos encantam, outros... Para o Jaime, ao km 73 dos passos em volta...

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19537: Em busca de... (295): SOS, Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11, LMPQF, Angola (1971/73)... Procuro o ex-fur mil Morgado, natural da região de Santarém, partilhámos o mesmo camarote no N/M Vera Cruz, trabalhámos juntos, não nos vemos há 46 anos... (António Mário Leitão, Ponte de Lima)


Angola > Luanda > Farmácia Militar, Delegação n.º 11, Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF)  (1971/73) > Da esquerda para a direita, o fur mil Mário Leitão, de Ponte de Lima, e o fur mil Morgado, de Santarém.


Foto (e legenda): © Mário Leitão (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso camarada António Mário Leitão



[O Mário Leitão, hoje farmacêutico reformado, foi fur mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), no mil, período de 1971 a 1973; é natural de (e residente em) em Ponte de Lima, é membro da nossa Tabanca Grande, tem cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue;  é autor  de 3 livros publicados: "Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d´Arcos" (2012), "História do Dia do Combatente Limiano" (2017) e "Heróis Limianos da Guerra do Ultramar" (2018)].



Data - terça, 26/02, 20:00


Assunto - SOS - Laboratório Militar


Caro Luís, um grande abraço!

Preciso da tua ajuda para divulgação desta fotografia, na qual figuro ao lado do Furriel Morgado, meu camarada de comissão na farmácia Militar de Luanda (1971-1973). 

Partilhamos o mesmo camarote no N/M Vera Cruz e muitas aventuras na cidade de Luanda. Há 46 anos que nada sei dele. 

É natural da região de Santarém. Gostava de o rever e de partilhar as suas memórias num livro sobre o LMPQF, que ando a escrever.

Ofereço alvíssaras a quem me der informações! (Em alternativa, um arroz de sarrabulho em Ponte de Lima!)

Um grande abraço!

Mário Leitão (telem 967039844)


2. Resposta do editor LG:


Comandante, um pedido teu é uma ordem!... Vamos lá põr a malta da Tabanca Grande à procura do Morgado que, como dizes, deve ser ribatejano e que, esperamos, deve estar vivo e de boa saúde, é o que todos esperamos.

Acabo de vir da "catedral da lampreia", aqui no Lumiar, a Tasca do João... Lembrei-me de ti... Temos encontro a 25 de maio:é o XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, comemorando os 15 anos do blogue... Será que este ano voltas a fazer-nos companhia ?... 

Um abração. Luís

PS - Mário, só pelo apelido, Morgado, é mais difícil de localizar o nosso camarada ribatejano... Para mais, só sabes que é(era) natural do distrito de Santarém... Mas vou o teu apelo na página do Facebook da Tabanca Grande.

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de fevereiro de 2019 >  Guiné 61/74 - P19529: Em busca de... (294): O ex-1.º Cabo At Alberto de Aparecida Couto do Pel Caç Nat 54 procura o seu camarada José Augusto da Silva Dias, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BART 3873 que o salvou de morrer afogado no rio Geba (Sousa de Castro)

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17237: Tabanca Grande (432): Mário Leitão, ex-fur mil farmácia, Luanda, 1971/73, passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 741... Está a fazer um trabalho de grande mérito ao resgatar a memória dos 52 camaradas de Ponte de Lima que morreram nos 3 teatros de operações da guerra de África, do Ultramar ou colonial (como se queira)... e que estão na "vala comum do esquecimento"!


Mário Leitão, farmacêutico reformado, natural de Ponte de Lima,



BI Militar do Mário Leitão, ex-fur m,il de Farmácia,  Luanda, 1971/73


1. Mensagem do António Mário Leitão (*), com data de 8 do corrente

Amigo e Camarada Luís!

Obrigado pelas notícias! De facto, não quis forçar a entrada de um "angolano" na Tabanca Grande, por ter pensado (erradamente) que o Régulo só deixaria entrar na aldeia veteranos "guinéus"!

Aqui vão duas fotografias e um grande OBRIGADO pela tua amável insistência! Envio também o meu sentimento de HONRA por passar a pertencer a essa fraterna Família de Veteranos, guardiões das mais sagradas memórias que a Pátria produziu no século vinte! 

Sabes bem que o V. trabalho é de uma importância cósmica! Graças a vós, muitos de nós, ex-combatentes adormecidos pela balada perversa do regime que nos esqueceu, acordamos desse torpor e apressámo-nos a confiar as nossas vivências da guerra ao V. blogue, para que perdurem eternamente! Muito do espólio que iria ser queimado ou amarelecido pelo tempo ficará agora na Net, constituindo uma inigualável fonte de informação para os vindouros e permitindo desde já a todos nós, usuários da actualidade, cruzar dados, completar relatos e reconstituir acontecimentos já toldados pela poeira do tempo. 

Bem hajam pela vossa odisseia!

Querido amigo, se te aproximares de um raio centrípeto que te arraste até Ponte de Lima, trata de me avisar porque gostaria de te conhecer e dar um grande abraço!
Muita Força e determinação para o V. trabalho!
Obrigado, Luís!

PS - Caro Luís Graça, creio que precisas destes dados para o "ficheiro":
- Nascimento: 17 Fev 1949;
- Naturalidade: Ponte de Lima (freguesia de Correlhã);
- Residência: Sabadão - Arcozelo. 4990-256 Ponte de Lima;
- Farmácia MIlitar de Luanda (71-73);
- Participei no XI volume da obra "Guerra Colonial - a História na primeira pessoa" (QUIDNOVI, 2011 a pág. 18 a 28), com o artigo "A farmácia militar".

Espero que as fotos sirvam! Um abraço e obrigado!


2. Comentário do editor LG:

Meu caro Mário: já estás mais do que apresentado à Tabanca Grande, no último poste que te dediquei, anteriormente (*). Para já tinha a obrigação moral de te "tirar o quico" e de te "bater a pala" pelo teu trabalho de 25 anos em prol das lagoas de Bertiandos e S. Pedro d' Arcos, que é um património de todos nós, como também, e sobretudo, pelo amor à tua terra e aos teus conterrâneos que deram o melhor de si, a sua vida, na guerra de África, guerra do Ultramar ou guerra colonial, como se queira. Andas a arrancá-los, um a um, da "vala comum do esquecimento", e a escrever as suas pequenas/grandes biografias. Neles se incluem os nossos camaradas da Guiné. É um gesto de grandeza de alma a que não podemos ficar indiferentes. É por isso que tens lugar, e lugar de honra, na nossa Tabanca Grande. De resto, já cá temos alguns angolanos, cada um deles também por razões singulares: estou-me a lembrar de alguns camaradas como o António Rosinha, o Patrício Ribeiro, o Carlos Cordeiro, o Jaime Bonifácio Marques da Silva, e outros que agora não me ocorrem, e que integram a nossa tertúlia de há longa data...

Como deves calcular, só não abrimos o  nosso blogue a toda a gente que combateu nos 3 teatros de operações, por razões de economia de meios. Não teríamos capacidade técnica e humana para lidar com tão gigantesca tarefa. 

Por outro lado, falta-nos o "conhecimento do terreno" de Angola e Moçambique. A Angola já fui, várias vezes, a partir de 2003, em missão de cooperação. Em boa verdade, só estive em Luanda, uma meia dúzia de vezes, em ações de formação na área da saúde (administração hospital, gestão de serviços de saúde, medicina do trabalho). 

Não conheci Luanda, como tu conheceste em tempo de guerra. Em suma, não tenho nenhuma autoridade e competência para criar e gerir um blogue que integre os camaradas que estiveram em missões de serviço em Angola e Moçambique, dois territórios gigantescos comparados com a Guinézinha, como diria a Cilinha... 

Em suma,  meti-me nesta "história", em 2004, porque a Guiné era "maneirinha", e a guerra lá marcou-me para o resto da vida... 

Passas a ser o membro da Tabanca Grande nº 741, com os inerentes direitos e deveres de qualquer outro "camarada e amigo da Guiné". Sei que tens histórias para nos contar, e fotos para publicar, até porque também estamos curiosos em saber o que é que um furriel miliciano de farmácia fazia em Luanda, em 1971/73...

Pronto, já podes ver o teu nome, Mário Leitão,  na lista alfabética da Tabanca Grande, na coluna do lado esquerdo... Espero que fiques por cá por muitos e bons anos. Vamos tomar boa nota da tua data de nascimento: queremos comemorá-la todos os anos...
___________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 11 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17235: E as nossas palmas vão para... (13): Mário Leitão, farmacêutico reformado, ex-fur mil, Farmácia Militar de Luanda, delegação nº 11 do Laboratório Militar, autor de "Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d´Arcos" (2012, 295 pp, mais de 500 fotografias), um homem de causas, agora empenhado em resgatar da "vala comum do esquecimento" os 52 bravos do concelho de Ponte de Lima que morreram na guerra do ultramar, 11 dos quais no CTIG

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15749: (De)Caras (29): Tentativa, frustrada, de criação do Dia do Combatente Limiano... Assembleia Municipal de Ponte de Lima chumbou a proposta (Mário Leitão, farmacêutico, ex-furriel mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do LMPQF - Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos, Luanda, 1971/73)


1. Mensagem de 13 de janeiro último, do nosso leitor e camarada [António] Mário Leitão, natural de Ponte de Lima, director técnico da Farmácia Lopes, em Barroselas, Viana do Castelo; autor do livro "Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d´Arcos" (2012):

Caros Luís Graça e Camaradas do blog:

A Assembleia Municipal de Ponte de Lima, numa decisão colectiva dos membros que suportam ou simpatizam com o partido político que governa a Câmara Municipal, reprovou uma proposta popular que solicitava a instituição do DIA DO COMBATENTE LIMIANO.

Era uma sugestão inócua, despida de qualquer carga partidária, transversal a toda a população do concelho, e que apenas tinha um objectivo memorialista e de respeito pelo passado. A sua reprovação foi uma atitude INQUALIFICÁVEL, para a qual não encontro explicação!
Há quem diga que alguns membros da Assembleia não gostaram de ver os 52 rapazes que morreram na Guerra do Ultramar classificados como HERÓIS! (*)

Bom, compreenderás melhor quando leres o artigo que publiquei no Jornal CARDEAL SARAIVA!
Julgo que é um assunto de importância nacional, pela sua originalidade e pela sua natureza. Se puderes, dá-lhe a maior divulgação!

Em meu nome, em nome dos nossos Militares Mortos e em nome dos seus queridos familiares, MUITO OBRIGADO!

Mário Leitão


2. Comentário do editor:

Sem querer (nem poder) intervir num conflito que deve ser dirimido pelos eleitos e pelos eleitores de Ponte de Lima, ou seja, é do foro democrático local, quero dizer-te que tens o meu/nosso apreço pela tua/vossa iniciativa de tentar criar um o Dia do Combatente Lmiano.
Espero/esperamos que as vossas posições se harmonizem, e que honra seja feita aos vivos e aos mortos que combateram, ao longo de 13 anos, na guerra do ultramar (ou guerra colonial).

O pdf que me mandaste com o teu artigo publicado no jornal "Cardeal Saraiva" está com baixa resolução... Tentei, em vão, recuperá-lo. Manda-me uma 2.ª via. Responderemos depois a dois ou três assuntos pendentes, incluindo o teu pedido de entrada para a Tabanca Grande...
Desculpa, entretanto, o atraso da publicação deste teu material. (**)
_______________

Notas do editor

(*) Vd, poste de 26 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15042: O nosso livro de visitas (184): António Mário Leitão, natural de Ponte de Lima, ex-fur mil, Farmácia Militar de Luanda, delegação nº 11 do LMPQF - Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos, Angola,  1971/73

(**) Último poste de 28 de janeiro de  2016 > Guiné 63/74 - P15683: (De)Caras (28): Rescaldo da Sessão evocativa do 20 de Janeiro de 1973: Colóquio “Quem mandou matar Amílcar Cabral?”, organização da Embaixada da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15042: O nosso livro de visitas (184): António Mário Leitão, natural de Ponte de Lima, ex-fur mil, Farmácia Militar de Luanda, delegação nº 11 do LMPQF - Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos, Angola, 1971/73

1. Mensagem de António Mário Leitão, de Ponte de Lima, nosso leitor e camarada [ex- furriel mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), Luanda, 1971 a 1973]


Data: 21 de agosto de 2015 às 15:18
Assunto: 52 Heróis Limianos


Obrigado, Luís!

Em meu nome e desses 52 Heróis, muito obrigado! (*)

Fico espantado com a vossa  capacidade de trabalho! A sério, que vos admiro!

Estais a deixar para os vindouros um registo incrivelmente histórico, imensurável e cheio de sentimento sobre a Guerra!
Brasão da Farmácia Militar de Luanda.
Cortesia do portal Ultramar TerraWeb.
Delicio-me a ler os relatos dos nossos camaradas, muitos deles cheios de humor e humanidade!

Além disso, o vosso sítio é importantíssimo para os artigos que escrevo e os livros que estou a preparar.

Obrigado pela vossa  dedicação, caro Luís!

PS - Se vieres a Ponte de Lima, de dia, de noite,  ao sol ou à chuva, avisa-me, camarada! Quero conhecer-te!

Grande abraço!

Mário

2. Comentário de LG:

Obrigado, Mário, pelas tuas palavras sinceras, calorosas e fraternas. E pelo teu nº de telemóvel que vou gravar. Tens o nosso blogue sempre à tua disposição, e nomeadamente sempre que queiras evocar e honrar a memória dos limianos que passaram por (e alguns tombaram em) o TO da Guiné.

Quanto ao teu convite, terei também muito gosto em conhecer-te pessoalmente. Às vezes dou aí um salto, à tua bela terra, rica pelas suas gentes e pelo seu património (natural e cultural), quando estou no norte (Porto e/ou Marco de Canaveses).

Assim de repente, lembro-me de lá ter estado por ocasião do 8º Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima, em 7 de junho de 2012. Publiquei aqui algumas fotos... 

Na ocasião, se não erro, também descobri, maravilhado, a lagoa de Bertiandos (sobre cuja biodiversidade tens um livro de que és autor e sobre o qual gostaria que nos fizesses um curta apresentação)... Pelo vi na Net, és também membro do Lions Clube de Ponte de Lima e uma figura estimada entre a gente limiana.

Haveremos,.. por certo, de nos encontrar. Afinal, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande! Fico feliz por seres nosso leitor assíduo e achares utilidade neste blogue como fonte de informação e conhecimento sobre a África lussófona, e em especial sobre a Guiné. Também há lugar aqui para ti, se assim o entenderes... Fica aqui o convite formal para integrares, como camarada, a nossa Tabanca Grande. Precisamos de camaradas como tu, que escrevam e saibam guardar, honrar e fazer respeitar a memória dos antigos combatentes da guerra colonial (ou do ultramar, como queiras).

Um alfabravo. Luís Graça (**).
________________


(**) Último poste da série > 5 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14436: O nosso livro de visitas (183): Luis Eiras, ex-alf mil, que esteve no CTIG, de abril a outubro de 1974, que passou por Caboxanque, que esteve em Vendas Novas com o Joaquim Sabido e que quer ir ao 10º Encontro Nacional da Tabanca Grande, no próximo dia 18, em Monte Real

sábado, 18 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13753: Inquérito online: Quem não apanhou o paludismo, que ponha o dedo no ar?!...

Foto: António Tavares (20014)
1. Não me lembro se tive paludismo  > 0 (0%)


2. Não me lembro do medicamento para o paludismo  > 1 (2%)


3. Sim, tive paludismo  > 24 (48%)


4. Não, nunca tive paludismo  > 10 (20%)


5. Não, nunca tomava o medicamento  > 0 (0%)


6. Sim, tomava sempre (ou quase sempre)  > 17 (34%)


7. Sim, tomava, mas só às vezes  > 8 (16%)


8. Tomava o medicamento e tive o paludismo  > 20 (40%)


9. Tomava o medicamento e nunca tive o paludismo  > 12 (24%)


10. Nunca tomei o medicamento nem nunca tive paludismo  > 2 (4%)

Votos apurados: 49
Dias que restam para votar: 5


[Imagem, acima à direita: uma relíquia farmacêutica: o célebre medicamento contra o paludismo, Pirimetamina, 25 mg,, LM (iniciais de Laboratório Militar)... Havia duas tomas por semana, às quintas e domingo, segundo o nosso camarada médico, Rui Vieira Coelho... A imagem é do António Tavares, ex-fur mil, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72]

Foto: © António Tavares (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]



O parasita Plasmodium,  ao atravessar o citoplasma de  uma célula epitelial
da fêmea do mosquito, na forma com que penetra no corpo do ser humano
e de outros vertebrados. Foto e legenda: Wikipédia (com a devida vénia)
A. Camaradas: eis os primeiros resultados (n=49), às 14h de hoje, da sondagem que está a deccorrer no nosso blogue.

É importante que respondam, dentro dos próximos  5 dias, E podem dar duas ou mais respostas, desde que sejam coerentes. Por exemplo: 

3. Sim, tive o paludismo; 
6. Sim, tomava sempre (ou quase sempre) [o medicamento]
8. Tomava o medicamento e tive o paludismo.

A "pastilha" (comprimido oral) antipalúdica, o "Primetamina", 25 mg,  da marca LM,  tomava-se se ás refeições 2 vezes por semana (em geral, às 5ªas feiras e aos domingos). Era um profilático. Não havia (nem há ainda hoje) vacina contra o paludismo, a doença que mais mata no mundo. E ainda por cima, os mais pobres nos países mais pobres (como a Guiné-Bissau),

Queremos saber quem apanhou o paludismo e tomava (ou não) a célebre "pastilha" que até a Maria Tura dizia que tirava a tusa ao pessoal: a "Primetamina"...

Camarada: a sondagem começa com a afirmação (que não é falsa nem verdadeira): " NO TO DA GUINÉ TIVE O PALUDISMO E TOMAVA O MEDICAMENTO"... 

Podes (e deves)  dar mais do que uma resposta, sincera e coerente... Obrigado, em nome dos editores, pela tua participação. Podes mandar textos e fotos sobre este tópico... LG


PS - Segundo o nosso camarada médico,do Porto, Rui Vieira Coelho, "nas crises palúdicas o tratamento era feito com Resochina em soro polielectrolítico e aplicação endovenosa e dava sempre uma incapacidade de alguns dias, sobrecarregando os colegas e diminuindo a capacidade operacional do grupo de combate a que pertenciam ou levando á substituição por outro pessoal o que moral e eticamente era reprovável no caso de serem feridos em combate" (...) (*)

_______________

Nota do editor:

(*) Vd, poste de 16 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13743: Os nossos médicos (80): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (12): Até a Maria Turra dizia que o antipalúdico Pirimetamina, do Laboratório Militar, fazia mal à tusa...

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13743: Os nossos médicos (80): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (12): Até a Maria Turra dizia que o antipalúdico Pirimetamina, do Laboratório Militar, fazia mal à tusa...


Guiné > Zona leste > Setor L5 (Galomaro) > BCAÇ 3872 (1972/74 > Saltinho > O jovem alf mil med Rui Vieira Coelho no Rio Corubal, no Saltinho, em 1973. O Saltinho era o aquartelamento mais distante do Setor L5, sendo abastecido através do Setor L1 (Bambadinca)... Os abastecimentos eram desembarcados no Xime, e depois as forças do BCAÇ 3872 tinham que atravessar todo o território do Setor L1; Xime - Bambadinca - Mansambo - Xitole - Saltinho. O troço Xime-Bambadinca já era asfaltado (c. 10/12 km)... O pior eram os restantes 60/70 km...

 Foto: © Rui Vieira Coelho (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]

1. Resposta,  a um comentário de LG. (*), enviada pelo  Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [, foto acima, em 1973, no mítico Rio Corubal, no Saltinho]


Data: 16 de Outubro de 2014 às 01:30

Assunto: Desidratação


Na Guiné pedia aos operacionais para não se esquecerem de tomar um anti-palúdico do Laboratório Militar, de nome Pirimetamina,  ás quintas e domingo,para evitar as crises palúdicas, que por vezes tomavam características graves como o Paludismo Cerebral.

Por vezes sentia-me a pregar aos peixes como Santo António, pois o pessoal achava que se tomassem os comprimidos teriam alterações negativas no seu desempenho sexual.

Enfim,  boatos que corriam em surdina entre os operacionais e que prejudicavam o desempenho da operacionalidade dos grupos de combate, das companhias e dos Batalhões .

A Maria Turra na emissão da Rádio do PAIGC utilizava por vezes o prejuízo que acarretava a toma de determinados medicamentos pelos nossos militares, explorando psicologicamente o temor fazendo com que os boatos se tornassem realidade tentando agravar a saúde psicológica e física das nossas forças. A contra-informação era uma realidade e uma arma poderosa da guerrilha também a ser explorada.

A pressão sobre os profissionais de saúde era grande e por vezes a desconfiança era a má conselheira, fazendo no meu caso pessoal com que tomasse os comprimidos na frente do pessoal na altura das refeições, para anular os boatos que pudessem persistir.

Nas crises palúdicas o tratamento era feito com Resochina em soro polielectrolítico e aplicação endovenosa e dava sempre uma incapacidade de alguns dias, sobrecarregando os colegas e diminuindo a capacidade operacional do grupo de combate a que pertenciam ou levando á substituição por outro pessoal o que moral e eticamente era reprovável no caso de serem feridos em combate.

O meu Gin Tónico pela manhã tinha o efeito de,  além de me sedentar, desentupir a gorja e também como medicamento visto a água tónica ter Quinino,  outro anti-palúdico.

Pela noite depois do jantar lá vinha o wisky com água Perrier, para acompanhar um bom bate papo no alpendre da messe de oficiais fazendo correr o tempo até chegar o grupo de combate que diariamente saía para patrulhamento. Só depois de ter a certeza que todos tinham chegado bem,  é que eu me recolhia para dormir depressa, pois acordava sempre pelas 6 horas da manhã, seco como as palhas á espera de um novo Gin para me restaurar a esperança de que esse dia seria muito melhor que o anterior.

Um abraço do Rui Vieira Coelho

Enviado do meu iPad

____________

Nota do editor:


Comentário de Luís Graça:

Meu caro Rui:

 (...) Quanto às tuas preocupações de médico com o risco de desidratação do pessoal em operações no mato... Em Bambadinca nas messes de oficiais e sargentos, a distribuição dos pacotinhos de sal e da pastilha de quinino estava assegurada pelo pessoal de serviço que punha a mesa ... Mas as praças, será que não se esqueciam frequentemente de tomar as "pastilhas" ? Os nossos soldados tinham mesmo que se desenrascar...

Já não me recordo com que frequência se tomava o medicamento para a prolilaxia do paludismo... Já não me recordo do nome... Já quanto ao "comer sal" todos os dias ao almoço, tornou-se um hábito saudável... Hoje é um das coisas que evito, o sal, o acúcar e a gordura...

Em todo o caso, a nossa alimentação era desiquilibrada... À boa maneira portuguesa, procurávamos fazer uma boa refeição ao almoço... E o resto era petisqueira, para quem podia... O pior era quando andavámos no mato: aí rapava-se fome, mas a tensão era grande, e a preocupação com o regressar são e salvo ao quartel amigo mais próximo inibia-nos de sentir fome... Um homem pode passar vários dias sem comer, mas não sem beber... Gerir 2 cantis de água para um operação de 2 dias era dramático... Por isso fazíamos a guerra de noite e de madrugada...

A desidratação e a perda de peso eram dois grandes problemas com se defrontavam os operacionais como eu... Cheguei a perder 4 a 5 kg. numa só operação... Por sistema, não levava ração de combate, mas apenas fruta e às vezes um frasquinho de uísque...

Gosto de gin tónico mas na Guiné preferia a água (filtrada) com uísque ou o uisque com água de Perrier. Pequenos luxos que nos ajudaram a sobreviver. Mais difícil era o "desmame", depois de passarmos à peluda... Hoje não bebo (ou só raramente bebo) um uísque. Na Guiné tinha outro sabor, outro encanto (...)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5146: Humor de caserna (15): O fim dos Ui!Ui!... e o milagroso comprimido LM do Zé Teixeira (José Belo)

Esta é a singela página principal do sítio, na Net, dos Maiorais de Empada, a malta da CCAÇ 2381 (1968/70), declarados inimigos dos Ui!Ui! do Rio Grande de Buba... Editor: José Teixeira. Colaboradores: José Belo e J. Manuel Samoco.

A CCAÇ 2381 teve como unidade mobilizadora o RI 2 (Abrantes). Partiu para a Guiné em 1/5/1968 e regressou à Metrópole em 3/4/1970. O seu comandante original, Cap Mil Inf Jacinto Joaquim Aidos, continua a frequentar os encontros anuais. O próximo convívio está marcado para o dia 1 de Maio de 2010 nas Grutas de Santo António, pero de Fátima.

1. Novo texto do José Belo, ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia há mais de três dezenas de anos...

Como bom Ui!Ui! que é, raramente se deixa fotografar... A foto que dele temos publicado, é de tão má qualidade que eu hoje resolvi não voltar a inseri-la... Até por razões de segurança do nosso querido amigo e camarada José Belo (os Ui!Ui! sempre foram muito apreciados no norte da Europa, com destaque para a Finlândia, que como toda a gente sabe faz fronteira com a Suécia...), pelo que optámos por deixar em branco o espaço reservado à chapa de identificação (LG).

2. O Fim dos UiUi! (*)
por José Belo

Caros Amigos e Camaradas:

Para não cair na tentação de criar um, menos conveniente, folhetim quanto aos estranhos, excessivos, por vezes contra natura, hábitos sexuais dos Ui!Ui! do sul da Guiné, que iria sair fora do âmbito de algumas profundas formações morais e militares de muitos dos camaradas (com o consequente arrastamento de sérios problemas para os editores do blogue com o Patriarcado, e mesmo a Nunciatura), resolvi, a bem de todos, encerrar definitivamente o assunto.

Sinto, no entanto, como profundo dever, compartilhar a técnica recomendada pelo Laboratório Militar (anos 70/71) quanto à obtenção de uma perfeita pele de Ui!Ui!

O facto da pelagem destes animais atingir valores comerciais muito elevados (não esquecer que existiam especialistas internacionais na casa Gouveia de Bissau com o fim único de exportar as mesmas para a Finlândia), a 2ª Repartição do Estado Maior de Bissau utilizou (abusivamente?) grande parte das verbas destinadas à Campanha por uma Guiné Melhor para subsidiar um estudo por parte de conhecido laboratório alemão quanto ao melhor isco para Ui!Ui!

Diz-se que, em muito oportuna intervenção, o então Capitão Almeida Bruno convenceu o Comando Chefe a não gastar enormes verbas com laboratórios internacionais para serem obtidas técnicas a serem utilizadas pelos simples dos bandos armados. E qual era o defeito do Laboratório Militar?

Bem haja meu General, porque a resposta científica para o problema foi deste modo muito mais rápida, profunda e eficiente,ou não fosse um laboratório.....militar! (ainda hoje me pergunto: Como se dirá desenrrascar em alemão?)

A sugestão recomendada pelos nossos era, obviamente, baseada nos célebres comprimidos LM. Quem os não recorda com saudade? Os tais utilizados para diarreias, gonorreias, e tudo o que de eias afligia as nossas tropas no vasto império africano, e não só. Como muito inteligentemente salientou a repartição de logística do Estado Maior em Lisboa, este medicamento sofisticado estava distribuído por tudo que era bolsa de enfermagem no nosso exército.

Cito NEP do Comando Chefe da Guiné para as Unidades existentes nas zonas do habitat dos Ui!Ui!, com instruções a serem rigorosamente seguidas pelas mesmas:

(i) Espalhar criteriosamente os comprimidos LM na parte mais escura das margens do tarrafo.

(ii) Aguardar o mais próximo possível dos comprimidos a chegada dos animais. (Recomenda-se a utilização das árvores mais próximas, tendo em conta os devidos cuidados a ter caso nelas se encontrem pendurados alguns guerrilheiros [Vd. foto à esquerda]. Estes costumam chatear-se com isso!)

(iii) Os animais, depois de uma demorada observação dos comprimidos, viram-se uns para os outros, e, em gesto reguila, levam a pata dianteira esquerda à pálpebra inferior do olho direito em típico gesto significativo de Queres ver estes chicos-espertos?!

É nesse momento que, apontando ao branco dos olhos, se devem abater os enormes Ui!Ui! sem produzir os tais buracos desnecessários na pele.

PS - Não quero terminar sem pedir as desculpas devidas a dois Camaradas:

(i) Ao Zé Teixeira, o nosso doutor da mata, pelas quantidades de comprimidos LM abusivamente desviados pelos Furriéis e por mim, do seu posto de enfermagem. Ele que os contava todos ao despertar,e os colocava em impecável formatura sobre a secretária ao recolher! O nosso ingénuo alibi quanto a um possível aumento de casos de gonorreia resultantes de intensivas campanhas nocturnas psico-sociais, não foi de modo algum aceite por um expert na sanidade das bajudas de Mampatá.

(ii) Ao meu companheiro de colégio lisboeta Mexia-Rambo-Alves (**) por não lhe ter feito chegar às mãos os azimutes da zona em que os Ui!Ui! viviam, por simples e miserável inveja, de que ele com as minibazucas de bolso compradas na estranja (as minhas eram marca Sagres da Manutenção) viria a abater os maiores exemplares de entre os Ui!Ui!

Um abraço amigo do José Belo.

Estocolmo 20/10/09

3. Comentário do Zé Teixeira, a pedido dos editores:

Um pouco de graça faz bem para baixar a tensão de alguns camaradas. Confesso que não conhecia esta veia do Belo.

Vou tenta explorar os LM - os tais comprimidos que davam para tirar dores de unhas encravads até às dores de cabeça, passando pela composição do 1214, o célebre composto à base de tintura de iodo e LM, um excelente remédio para caspa. Melhore que as meias da Casa Baiona, pois estas só davam da ponta dos pés até à porta da c...

Amanhã digo alguma coisa

Abraço.
José Teixeira
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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série:

20 de Outubro de 2009 >Guiné 63/74 - P5135: Humor de caserna (14): Curiosidades zoológicas: Os Ui!Ui!, animais nocturnos, do tarrafo do Rio Grande de Buba (José Belo)


(...) É sem dúvida um dos animais de maior porte e com a mais bela pelagem escura de todos os que vivem no Sul da Guiné. O seu habitat natural limita-se a um triângulo que, grosso modo, tem os vértices em Empada-Buba-Mampatá, sendo as suas maiores concentrações junto às margens do rio grande de Buba.

Animal nocturno, extremamente tímido, e de muito difícil observação, é só nos períodos do ano em que as águas põem a descoberto enormes quantidades de ostras (alimento favorito dos Ui!Ui!) que os mesmos se conseguem abater. As suas peles, pela sua qualidade e beleza, vendem-se caro. Servem de perfeitos cobertores, casacos, tapetes, ou simples decorações. (...)


(**) Vd. poste de 19 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5132: Humor de caserna (13): Rambo uma vez, rambo para sempre (Joaquim Mexia Alves)