1. Mensagem do José Belo, com data de 25 de maio p.p.
[José Belo: (i) ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; (ii) manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década;; (iii) está reformado como capitão de infantaria do exército português; (iv) jurista, vive entre Estocolmo, Suécia, nem como nas imediações de Abisco, Kiruna, Lapónia, no círculo polar ártico, já próximo da fronteira com a Finlândia, mas também Key-West, Florida, EUA; (v) é o único régulo da tabanca de um homem só, a Tabanca da Lapónia (, mas sempre bem acompanhado das suas renas, dos seus cães. dos seus alces e dos seus ursos)]
[José Belo: (i) ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; (ii) manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década;; (iii) está reformado como capitão de infantaria do exército português; (iv) jurista, vive entre Estocolmo, Suécia, nem como nas imediações de Abisco, Kiruna, Lapónia, no círculo polar ártico, já próximo da fronteira com a Finlândia, mas também Key-West, Florida, EUA; (v) é o único régulo da tabanca de um homem só, a Tabanca da Lapónia (, mas sempre bem acompanhado das suas renas, dos seus cães. dos seus alces e dos seus ursos)]
Assunto: Colonialismo e língua materna
Não recordo se já terei enviado esta perspectiva quanto aos efeitos "paralelos" do colonialismo quanto a algo täo importante como a língua materna como forma de expressão íntima.
Os membros do blogue,principalmente escritores, certamente terão opiniões interessantes sobre assunto tão sensível mas täo pouco analisado.
Um abraço,
J. Belo
2. Segunda mensagm, com dat de 4 do corrente:
Notas da autora:
(#) José Luandino Vieira passou onze anos nas cadeias do colonialismo português. Em 1965, seu livro Luuanda foi agraciado com o Grande Prêmio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores, o que provocou o encerramento daquela Sociedade, bem como o assalto e depredação de sua sede pela PIDE.
(##) VIEIRA, J. L.
João Vêncio: os seus amores. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1979.
Lourentinho, Dona Antónia de Sousa Neto e eu. Luanda: União dos Escritores
Angolanos, 1981.
Macandumba, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1978.
Velhas estórias. Lisboa: Plátano, 1974.
Último poste da série > 13 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20970: Da Suécia com saudade (70): O verdadeiro rei das florestas escandinavas, o alce ("älg") (José Belo)
Meu Caro Sr. Editor
3. Excertos do artigo "O 'pretoguês' e a literatura de José Luandino Veira"
por Tânia Macedo
E eu que julgava que iríamos ter uma troca de ideias interessante sobre o texto da brasileira Tânia Macedo sobre o Luandino Vieira quanto à "linguagem do colonizador imposta ao colonizado".[Publicado na revista de linguística "Alfa", de São Paulo Brasil; o artigo completo está disponível aqui.]
O preço da integração social à custa da destruição das culturas inferiores aos olhos dos civilizados.... Exemplo mais próximo do que o Ibérico näo podemos ter...Só os Bascos mantiveram a sua língua.
Os Romanos não os colonizaram como aos restantes.
Como se diriam na Lusitânia, ou em outros locais da Península, as palavras "mãe", "pai" ,"irmão", "amor", "ódio", "saudade", "casa"..., antes da língua latina dos senhores que nos... civilizaram?
Havendo no Blogue escritores ,historiadores,e outros amadores,(e não escrevo "poetas", por não rimar com escritores, historiadores, amadores) certamente que opiniões díspares existem.
Um abraço do J. Belo
José Luandino Vieira. Cortesia do portal Wook |
Alfa, Sào Paulo. 36: 171-176,1992 171
por Tânia Macedo
[Departamento de Literatura - Faculdade de Ciências e Letras - UNESP -19800 - Assis]
RESUMO: O texto examina a elaboração artística do 'pretoguês' - forma pejorativa com que os colonizadores portugueses denominavam a linguagem híbrida português/quimbundo utilizada pela
população angolana - na obra do escritor angolano José Luandino Vieira. (...)
O jogo de forças e tensões presente na situação colonial é marcado por dois pólos antagônicos: colonizador e colonizado. O primeiro, como conquistador, impõe a uma maioria numérica seus valores, línguas, técnicas e estruturas socioeconómicas sob a lógica da unidade: uma só lei, uma só língua (obviamente a sua). O colonizado, em conseqüência, passa a constituir uma minoria sociologicamente dada, a qual será submetida e, constantemente, espoliada de seus valores em nome da 'civilização' do outro.
A essa luz, não se pode esquecer que do quadro de contradições engendrado pelo colonialismo avulta o "drama do bilinguismo": o colonizado deve assumir a língua de seu conquistador e, paulatinamente, distanciar-se de sua própria forma de expressão, conforme muito bem salientou Albert Memmi [, 1977,]: "A língua materna do colonizado, aquela que é nutrida por suas sensações, suas paixões e seus sonhos (...), enfim, aquela que contém a maior carga afetiva, essa é precisamente amenos valorizada (...). Se quer obter uma colocação, conquistar seu lugar, existir na cidade e no mundo, deve, primeiramen aplicar-se à língua dos outros, a dos colonizadores, seus senhores". (...)
Lembre-se, todavia, que os danos causados pelo colonialismo não se restringem apenas a esse fato: se por um lado temos uma língua imposta a uma população, por outro, a escolarização dada na língua de maior prestígio é reduzida. Estamos frente, portanto, a mais uma das contradições do sistema, pois fazer do colonizado um indivíduo que dominasse totalmente o sistema lingüístico do colonizador seria incluí-lo nos seus mecanismos de poder e, destarte, selar a sorte do próprio sistema. (...)
Temos, dessa maneira, uma população condenada a renunciar a seu código valorativo, ao mesmo tempo em que lhe é vedado o inteiro domínio de outro código. Em resumo, se o bilíngüe colonial conhece duas línguas, nenhuma domina totalmente.
A literatura efetuada sob tal situação contraditória, desde que não seja uma literatura do colonizador, será, necessariamente, a veiculação da carência da população marginalizada na luta por sua forma própria de expressão e deverá forjar-se sob o signo da dualidade.
No caso da literatura angolana, por exemplo, os cinco séculos de dominação colonial portuguesa constituíram forte entrave à sua sistematização, pois apenas na década de 50 de nosso século toma corpo um sistema literário coerente no país, integrando a tríade autor-obra-público. Sistema esse que se traduz em autores conscientes de seu papel, nas obras veiculadoras de conteúdos eminentemente acionais sob aspectos codificados de linguagem e estilos e no conjunto de receptores,
ainda que pequeno, formado por angolanos alfabetizados e preocupados com sua especificidade cultural.
população angolana - na obra do escritor angolano José Luandino Vieira. (...)
O jogo de forças e tensões presente na situação colonial é marcado por dois pólos antagônicos: colonizador e colonizado. O primeiro, como conquistador, impõe a uma maioria numérica seus valores, línguas, técnicas e estruturas socioeconómicas sob a lógica da unidade: uma só lei, uma só língua (obviamente a sua). O colonizado, em conseqüência, passa a constituir uma minoria sociologicamente dada, a qual será submetida e, constantemente, espoliada de seus valores em nome da 'civilização' do outro.
A essa luz, não se pode esquecer que do quadro de contradições engendrado pelo colonialismo avulta o "drama do bilinguismo": o colonizado deve assumir a língua de seu conquistador e, paulatinamente, distanciar-se de sua própria forma de expressão, conforme muito bem salientou Albert Memmi [, 1977,]: "A língua materna do colonizado, aquela que é nutrida por suas sensações, suas paixões e seus sonhos (...), enfim, aquela que contém a maior carga afetiva, essa é precisamente amenos valorizada (...). Se quer obter uma colocação, conquistar seu lugar, existir na cidade e no mundo, deve, primeiramen aplicar-se à língua dos outros, a dos colonizadores, seus senhores". (...)
Lembre-se, todavia, que os danos causados pelo colonialismo não se restringem apenas a esse fato: se por um lado temos uma língua imposta a uma população, por outro, a escolarização dada na língua de maior prestígio é reduzida. Estamos frente, portanto, a mais uma das contradições do sistema, pois fazer do colonizado um indivíduo que dominasse totalmente o sistema lingüístico do colonizador seria incluí-lo nos seus mecanismos de poder e, destarte, selar a sorte do próprio sistema. (...)
Temos, dessa maneira, uma população condenada a renunciar a seu código valorativo, ao mesmo tempo em que lhe é vedado o inteiro domínio de outro código. Em resumo, se o bilíngüe colonial conhece duas línguas, nenhuma domina totalmente.
A literatura efetuada sob tal situação contraditória, desde que não seja uma literatura do colonizador, será, necessariamente, a veiculação da carência da população marginalizada na luta por sua forma própria de expressão e deverá forjar-se sob o signo da dualidade.
No caso da literatura angolana, por exemplo, os cinco séculos de dominação colonial portuguesa constituíram forte entrave à sua sistematização, pois apenas na década de 50 de nosso século toma corpo um sistema literário coerente no país, integrando a tríade autor-obra-público. Sistema esse que se traduz em autores conscientes de seu papel, nas obras veiculadoras de conteúdos eminentemente acionais sob aspectos codificados de linguagem e estilos e no conjunto de receptores,
ainda que pequeno, formado por angolanos alfabetizados e preocupados com sua especificidade cultural.
Conforme bem assinala Carlos Ervedosa [, 1979,], "enquanto [os escritores] estudam o mundo que os rodeia, o mundo angolano de que eles faziam parte mas quemntão mal lhes haviam ensinado, começa a germinar uma literatura que seria a expressão da sua maneira de sentir, o veículo de suas aspirações, uma literatura de combate pelo seu povo". (...9
Ora, a literatura oriunda de tal tomada de consciência de seus produtores não Estava dissociada da certeza de que o sistema colonial deveria ter termo. Dessa forma, autores como Agostinho Neto, Costa Andrade, Luandino Vieira ou Jofre Rocha têm seus nomes ligados tanto às melhores produções literárias angolanas quanto a um combate direto pela independência de seu país. (...)
Ora, a literatura oriunda de tal tomada de consciência de seus produtores não Estava dissociada da certeza de que o sistema colonial deveria ter termo. Dessa forma, autores como Agostinho Neto, Costa Andrade, Luandino Vieira ou Jofre Rocha têm seus nomes ligados tanto às melhores produções literárias angolanas quanto a um combate direto pela independência de seu país. (...)
Português e quimbundo construindo a angolanidade
Dentre os escritores da moderna literatura angolana, José Luandino Vieira (#) é, sem dúvida, um dos ficcionistas mais significativos. Seus textos revelam, nos níveis temático e estilístico, as contradições do sistema colonial, apresentando uma linguagem que acaba por tomar o partido dos que, à força de conhecerem duas línguas, a nenhuma dominam totalmente. É assim que suas estórias tematizam os musseques de Landa - bairros pobres equivalentes às nossas favelas - e sua população bilíngüe
português/quimbundo, majoritariamente negra.(...)
Dessa forma, Luandino ousa levar para as páginas da literatura - em plena vigência do regime colonial português emAngola - (...) 'o pretoguês', ou seja, a forma híbrida de expressão dos bilíngües coloniais, a qual constituía motivo de freqüente menosprezo destes e, portanto, uma das fontes alimentadoras do racismo do colonizador em relação ao colonizado.
Sob esse aspecto, a escolha do material lingüístico efetuada pelo autor redunda em uma reivindicação
de prestígio para a fala híbrida do homem do povo, dando-lhe status literário. Vale notar que a escrita de Luandino Vieira, apesar da forte vinculação ao falar dos musseques luandenses, vai além, pois seus textos não se constituem apenas em registros literais da forma de expressão de uma parte da população angolana. Ao criar neologismos e subverter a estrutura da língua portuguesa através do uso do quimbundo e do 'pretoguês', ele detém o mérito dos grandes empreendimentos da literatura
de nosso tempo: obriga a avançar devagar.
Ou seja, a ficção luandina força o leitor a rever seus conceitos de literatura, arte e linguagem, em um esforço de dupla orientação: tomar distância dessa ficção, vinculando-a a valores universais, ao mesmo tempo em que busca a sua localização em uma geografia literária. Assim, sem se Aperceber, o decodificador das estórias do autor angolano vai sendo mobilizado a repensar seus códigos estéticos, suas estruturas lingüísticas, em um esforço de entendimento do universo narrativo apresentado.
Destarte, verifica-se que o trabalho artístico efetuado a partir do 'pretoguês' nos textos de Luandino Vieira vincula-se à recusa e à denúncia da situação colonial, afirmando uma 'angolanidade' ao mesmo tempo em que se inscreve na corrente da modernidade, convergindo pois para a realização literária plena de nosso tempo.
Façamos referência a alguns aspectos lingüísticos da ficção do autor, a fim de explicitarmos como se constroem a modernidade e a recusa ao colonialismo nos seus textos.
O substantivo quimbundo muxima (coração) pode nos servir como excelente início, já que em várias oportunidades o mesmo apresenta-se como base para a formação de neologismos, recebendo desinências da língua portuguesa que irão se desdobrar em outros matizes de significação:
(...) lhe traziam sussuradas palavras dela na hora que as mãos dele muximavam ou serebelavam nas fronteiras, queriam mais demarcar na leia mata de se corpo, descobrir e abrir
picadas. (Vieira, 1974, p. 32)
(Traziam-lhe suas palavras sussurradas no momento em que as mãos dele a acariciavam
ou se rebelavam nas fronteiras, no momento em que elas desejavam demarcar a estranha mata
de seu corpo, descobrir e abrir picadas.)
(...) não conseguiu de fugir no quinzar, lhe falou até, lhe muximou perdão, (p. 71)
(Não conseguiu fugir do monstro antropófago, chegou a falar-lhe, pediu perdão.)
(...) mas o Mangololo afirmava, cada vez mais mwúmadoi, que o bilhete recebera-lhe do
Joaquim Ferreira. (Vieira, 1978, p. 60) (##)
(Mas Mangololo afirmava, cada vez mais adulador, que recebera o bilhete de Joaquim
Ferreira.) (...)
____________
(...) mas o Mangololo afirmava, cada vez mais mwúmadoi, que o bilhete recebera-lhe do
Joaquim Ferreira. (Vieira, 1978, p. 60) (##)
(Mas Mangololo afirmava, cada vez mais adulador, que recebera o bilhete de Joaquim
Ferreira.) (...)
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Notas da autora:
(#) José Luandino Vieira passou onze anos nas cadeias do colonialismo português. Em 1965, seu livro Luuanda foi agraciado com o Grande Prêmio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores, o que provocou o encerramento daquela Sociedade, bem como o assalto e depredação de sua sede pela PIDE.
(##) VIEIRA, J. L.
João Vêncio: os seus amores. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1979.
Lourentinho, Dona Antónia de Sousa Neto e eu. Luanda: União dos Escritores
Angolanos, 1981.
Macandumba, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1978.
Velhas estórias. Lisboa: Plátano, 1974.
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Nota do editor:
Último poste da série > 13 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20970: Da Suécia com saudade (70): O verdadeiro rei das florestas escandinavas, o alce ("älg") (José Belo)