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domingo, 11 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11930: Os nossos médicos (67): Maximino [José Vaz da] Cunha, natural de Chaves, ex-alf mil médico, BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto) e HM 241 (Bissau, 1968/70)






Infografia: Albino Silva (2011)

1. E
stava eu, hoje de manhã, a dar o meu passeio matinal à beira mar, entre a Praia da Areia Branca e a Praia de Vale de Frades, quando recebi uma chamada telefónica de um velho amigo, Manuel José Matos Almeida, médico dermatologista, aposentado do Serviço Nacional de Saúde (pertenceu ao quadro do Hospital de Santa Maria mas foi também foi médico do mundo, tendo trabalhado em, Angola, na Endiama, e em Macau, a partir de 1993, no hospital de São Januário).

Há largos anos que,  devido aos desencontros da vida, deixámos de nos ver e de conviver mas não de saber notícias um do outro,..  E o que pretendia de mim o Manel Zé, após estes anos todos? Tinha encontrado no nosso blogue uma referência a um colega de curso e amigo, o dr. Maximino Cunha, de seu nome completo, Maximino José Vaz da Cunha, natural de Chaves... E mais concretamente o Manuel Zé perguntou-me se eu tinha o telefone dele, presumindo que eu o conhecia, da Guiné... Como se vê, o Mundo é Pequeno e a nossaTabanca...é Grande!


A resposta que lhe dei, ao telefone, foi a seguinte: tinha ideia de se ter falado no nome desse médico, enquanto militar no TO da Guiné, mas não podia dar a certeza de que ele figurava no nosso blogue como membro da nossa Tabana Grande... Em todo o caso, prometi de imediato ajudá-lo a reencontrar o seu amigo e nosso camarada.

Ao fim da tarde, abri o computador e pus-me a fazer pesquisas no nosso blogue e na Net. Eis o que descobri:

(i) Há uma referência ao Dr. Maximino Cunha, num poste do nosso camarada António Paivaex-Soldado Condutor do HM 241 (Bissau, 1968/70)

20 de julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8580: Ordem de Serviço de 1970 do HM 241 de Bissau, uma relíquia com 41 anos (António Paiva)

 (...) A Ordem de Serviço, de 02 de Abril de 70, diz assim: Dr. Maximino Cunha saiu do HM 241 ontem,  dia 1,  para o BCAÇ 2845,  sua Unidade,  para aguardar regresso à Metrópole, no  T/T Niassa (...).

Ficamos a saber que o nosso camarada, alferes miliciano médico, Maximino Cunha,  trabalhou no HM 241, em Bissau, onde estava no  final da sua comissão, em 1 de abril de 1970, e que pertencia  ao BCAÇ 2845 [Teixeira Pinto, 1968/70)...  Aliás, o Paiva e o Maximino Cun ha são da mesma altura, e seguramente que se conheceream, no HM 241.

(ii) Albino Silva, ex-soldado maqueiro, é um dos nossos camaradas da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70), membro da nossa Tabanca Grande ... Já tem (com outros camaradas) organizado o convívio anual do pessoal da CCS do batalhão, como aconteceu o ano passado, 2012... Além disso, é o poeta do batalhão...  Contactos de telemóvel: Albino Silva: 963 297 804 / Álvaro Catarino: 962 952 087 / Emídio Saraiva: 969 669 046.

O Albino Silva é seguramente a o camarada que está em melhores condições para nops dar o contacto  do Dr. Maximino Cunha, a viver e a trabalhar em Chaves.

Dos médicos do seu batalhão, já ele aqui nos deu notícia, incluindo o Dr. Maximimo Cunha, que em 2011 ainda trabalhava no Hospital de Chaves:

(...) De novo a dar trabalho ao Carlos Vinhal, desta vez com mais umas fotos de médicos [vd. imagens supra] que foram meus camaradas em Teixeira Pinto. Deste dois que apresento nas fotos, apenas com o Prof. Dr. Maymone Martins mantenho contacto, e de longe a longe nos encontramos em Convívios da CCS. Com o Dr. Maximino [Cunha] nunca nos encontramos, mas sei que trabalha no Hospital em Chaves, pois recentemente estive em contacto com ele.

Dos doutores Bessa de Melo e Cruz Maurício, nunca mais se soube nada deles. É caso para lhes apelar a que compareçam no próximo Encontro marcado para o dia 5 de Maio de 2012 na Quinta dos Três Pinheiros na Mealhada, pois nos lembramos sempre de vós, e todos os queremos abraçar. (...).


(iii) No nosso blogue fui ainda encontrar o seguinte poste do Jorge Teixeira (Portojo)

1 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10747: Blogues da nossa blogosfera (60): Memórias de Outros Tempos - A Estadia no HM 241, no Blogue Coisas da Vida (Jorge Teixeira - Portojo) 

O nosso camarada Jorge Teixeira (Portojo) conta como, em Bissau, no HM 241, conheceu o Dr. Maximino Cunha... Aí vão alguns excertos:

(...) Como andava a sentir-me mal do estômago e aproveitando a estadia, pedi uma consulta médica. Não demorou muito tempo a ser atendido pelo Dr. Maximino Cunha (agradeço ao Albino Silva ter-me informado do nome do médico) que era do meu tempo, incorporado no Batalhão de Chaves. Não sei qual era, mas sei que era também o dos meus amigos Cancela e Mano Velho Carvalho. Só há pouco mais de quatro anos conheci estes bronqueiros.

Disse-me o médico para esquecer o estômago e irmos ver os pulmões. Mas isso só com internamento. Imaginem como fiquei. 

 (…) Finalmente consegui uma vaga na primeira enfermaria do lado esquerdo, com varanda e tudo.

A próxima consulta foi ainda com o Doutor Maximino - que acabou por ser o meu médico até ao fim - para além dos RX, receitou-me comprimidos e uma injecção diária que era de ir aos arames. O líquido, mais ou menos da cor de jeropiga, quando entrava pareciam vidros. Ainda por cima o bruto do cabo enfermeiro, lá porque era pegador de touros, não fazia carinhos nenhuns. Fiquei com tanta raiva ao homem que só não veio da varanda abaixo porque não tinha cabedal para ele. Consegui ao fim de poucos dias que as injecções fossem substituídas por comprimidos. Passei a tomar 16 diários, aumentados às quintas-feiras com o quinino e as vitaminas. (…)


(...) A enfermaria estava localizada num ponto estratégico. Permitia-nos ver o heliporto e a chegada de evacuados. Certo dia lá chegou mais um heli e descarregou um barbudo. Dissemos para nós mais um fuza que se f..d... Mais tarde viemos a saber que era um cubano mercenário, o Capitão Peralta. O Hospital ficou cheio de comandos e o homem ficou num quarto com sentinelas à porta. Esta foto correu mundo e já foi identificada. (...)

(…)Voltando às minhas doenças, os pulmões estavam um pouco estragados por uma bronquite crónica e não só por causa do clima. O Dr. Maximino recomendou-me deixar de fumar, ou no pior dos casos fumar charuto. Não havia charutos mas as célebres Tiparillos, que passei a fumar. Depois novamente no mato não me estava a ver a andar com a cigarrilha na boca à Fidel, embora as comprasse no Bar de Catió e abusei delas uns bons tempos ainda. 
Estava por resolver o caso do meu estômago, que depois de tomar a horrível papa, foi-me diagnosticada uma gastrite aguda.

(…) Lembrava-me do meu pessoal de quem estava afastado há 3 meses. Como era o único sargento e responsável pelo pelotão (o Oliveira aos 16 meses foi fazer um curso de artilharia em troca comigo e só o voltei a ver próximo do dia do embarque em Abril) tinha a obrigação de tratar das burocracias. Sempre eram mais de 30 homens e tinha um mês para isso. Os meus palpites não bateram certo, mas isso são outras estórias. O médico, contrariado, notei, deu-me alta e muitos conselhos. Não me chamou burro mas subentendi. Enfim, médicos... Aguardei no hospital que houvesse transporte aéreo para Catió, o que aconteceu no dia 4 de Dezembro, dia de Santa Bárbara e da Artilharia. A minha rapaziada recebeu-me com carinho e à espera de matar a sede, que a água da bolanha andava muito salgada. Mas vamos à vida que o próximo barco é o nosso. (...)

(iv) Em comentário ao supracitado poste, P10747, o Manuel Carvalho escreveu:

Amigo Jorge: Em Catió tinhas dor de dentes mas não tinhas nenhuma doença. Foste para junto dos médicos, eram só doenças. O Dr. Maximino [Cunha] era do meu Batalhão,  o [BCAÇ] 2845,  e muita boa pessoa, mas eu,  graças a Deus e que me lembre, nunca o vi. Temos muita conversa mas quando elas mordem lá vamos ter com eles. Estamos quase a chegar aos 67. Um abraço. Manuel Carvalho

(v) Finalmente, e pesquisando na Net, encontrei no JN - Jornal de Notícas, de 7/2/2010,  uma referência ao Dr. Maximino Cunha, no artigo "Solidários em nome da saúde", com o subtítulo: "Os beneméritos da Medicina dos tempos modernos são cada vez menos, mas a crise e o desemprego podem fazer renascer o trabalho voluntário".

O trabalho é assinado por Margarida Lúzio, Glória Lopes, Teixeira Correia e Carlos Rui Abreu. Aqui vão alguns excertos (com a devida vénia...):

(...) A avó materna, galega e católica da cabeça aos pés, queria que fosse padre. Ele queria emigrar. Para os Estados Unidos. No fim, nem uma coisa, nem outra. O pai, bancário, começaria a ganhar melhor e Maximino Cunha haveria de rumar de Chaves para Coimbra e, depois, para Lisboa. E assim se faria médico. E comunista.

A opção política condicionou-lhe a progressão na carreira. "Antes do 25 de Abril, nunca pude aceder a nenhum lugar do Estado", recorda. Mas haveria também de marcar a forma de exercer a profissão. Já doutor, regressou a Chaves por castigo (político). "Julgo que não sabiam que me estavam a mandar para a minha terra natal".

Nessa altura, depois do serviço clínico no quartel, Maximino Cunha exercia Medicina privada. Muitas vezes sem cobrar. "Sabia perfeitamente que não tinham dinheiro para me pagar. Ah, quantas vezes!", lembra. E justifica: "Se não fosse sensível à pobreza não seria comunista". Hoje, garante que este tipo de casos são cada vez mais raros, mas teme que a crise os possa fazer renascer. "Provavelmente vão aparecer por causa do desemprego e da crise ".

O consultório, em casa, não está identificado. "A publicidade são os doentes que a fazem". Não tem computador. Olha para os doentes. A tabela de preços, no corredor, está em euros e escudos. 40 (8 contos) na primeira consulta e 30 na segunda e seguintes. João Semana puro, talvez não, mas com uma costela, certamente. (...)


2. Comentário de L.G.:

Peço a todos os camaradas que tenham conhecido ou conheçam o Dr. Maximino Cunha, muito em particlar ao Albino Silva, que me contactem, através do endereço do email do blogue [  luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com ] para que me forneçam os contactos necessários. Sei que o nosso  camarada Maximino Cunha continua a viver em Chaves. A todos muito obrigado pela eventual ajuda. Um grande abraço para o meu amigo Manel Zé.
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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11849: Os nossos médicos (66): Não fui evacuado para a Metrópole mas acompanhei três evacuações, duas via TAO, incluindo um Super Constellation de carga, transformado em enfermaria, oriundo de Moçambique, com militares quase todos portadores de queimaduras provocadas pelas granadas de 'fósforo' (J. Pardete Ferreira)