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sábado, 13 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25064: Por onde andam os nossos fotógrafos? (17): António Murta, ex-alf mil inf MA, 2ª C/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) - Parte II: chegada no T/T Uíge, as primeiras impressões, Spínola em Bolama, início da IAO...


Foto nº 5

Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > 27 de março de 1973, desfile perante o gen Spínola



Foto nº 6

T/T Uíge > 20 de Março de 1973 > Jantar de despedida. "Eu sou o rapaz da esquerda, aí no pequeno corte (...). À minha esquerda  está o Alf Torres da 1.ª CCaç (Buba), e à direita,  com a cara sobreexposta, o Alf Mota da 3.ª CCaç (Aldeia  Formosa). Do outro lado da mesa, dois Alferes do QP (presumivelmente,  SGE). 


Foto nº 7 

T/T Uíge > 20 de Março de 1973 > Jantar de despedida. "Eu sou o rapaz da esquerda, aí no pequeno corte (...). À minha esquerda  está o Alf Torres da 1.ª CCaç (Buba), e à direita,  com a cara sobreexposta, o Alf Mota da 3.ª CCaç. (A. Formosa). Do outro lado da mesa, dois Alferes do QP (sfuramente SGE) 
 


Foto nº 8 

Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama >  CIM > Abril de 1973 – Capitão B. C. (cmdt da 1.ª C/BCAÇ 4513) observa uma granada de RPG 7 (ou 2 ? ). A seu lado, um dos elementos do Grupo de Combate do Marcelino da Mata, "Os Vingadores".


Fotos (e legendas): © António Murta (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1.  Nesta série, "Por onde andam os nossos fotógrafos?",  começámos agora a revisitar, selecionar,  recuperar e reeditar  algumas das melhores fotos do António Murta (de seu nome completo António Manuel Murta Cavaleiro), ex-alf mil indf MA, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) (*). 

Vive na na Figueira da Foz. É autor da notavel série "Cadermos de Memórias do António Murta", de que nos socorremos para enquadrar, melhorar e complementar as legendas. (**)

  
Fotos nºs 6 e 7 > BCAÇ 4513, a caminho do CTIG, a bordo do T/T Uìge


(...) 20 de Março de 1973 (terça-feira) – N/M "Uige", jantar de despedida

Estava quase no fim a viagem e isso era marcado por um jantar de despedida. Não muito diferente dos outros jantares, teve, todavia, algo indefinível que o tornou mais solene. (...) A ementa, impressa a bordo, dizia assim:

"O Capitão de Bandeira, Comandante, Oficiais e restante tripulação do navio apresentam as suas despedidas aos Exmos. Oficiais, assim como a todos os componentes do Contingente Militar desejando muita saúde e as maiores felicidades. Paquete “Uíge”, 20 de Março de 1973"

Seguiam-se as páginas com a lista completa dos oficiais (e sargentos?) a bordo. (Não sei o que me passou pela cabeça para, muitos anos mais tarde, ter digitalizado a capa da ementa e pequenos fragmentos daquela lista e ter destruído todo o resto.) (...)


22 de Março de 1973 (quinta-feira) – Chegada a Bissau

 
(...) Desloquei-me para o outro lado do navio, olho em frente, e lá estava Bissau, ainda distante mas já ali. Eram 9h50 locais, 11h50 de Lisboa. Reparei, ainda, que o resto dos passageiros já devia estar ali na amurada desde manhã cedo a observar. Alguns faziam comentários mas, se calhar a maioria, conjecturava em silêncio. Os rostos, curiosos, eram de ânsia e apreensão.

A cidade de Bissau vista dali do navio parecia muito rasa de edifícios, e subia ligeiramente a partir do cais. Tudo o mais, quer olhássemos à esquerda ou à direita, parecia uma fita verde quase ao nível das águas, para trás da qual nada mais se via. O navio continuou fundeado ao largo entre a Ilha do Rei e a cidade. 

Todo o dia foi passado a bordo e era suposto aí permanecermos até ao transbordo para as lanchas da Marinha que nos levariam a Bolama, nosso primeiro destino. Mas à noite, já atracados à ponte-cais que liga ao porto propriamente dito, convencemos o comandante do Uíge, com a intervenção influente do cap B. C. – que conhecia Bissau visto ter feito na Guiné o estágio do seu curso de capitão, antes de regressar à Metrópole para se integrar no nosso Batalhão – convencemos o comandante, dizia, a deixar-nos sair para uma pequena exploração e, se possível, beber uns copos.

Eram precisamente 23h55 quando, pela primeira vez, pisei terra africana. Sem prazer nem desprazer, embora com alguma curiosidade. (...)


23 de março de 1972 (sexta feira) - Partida para Bolama

(...) Deitei-me à 1h30 da madrugada (última noite no navio), para me levantar às 3 horas e preparar a saída para Bolama, com os soldados de duas Companhias, a bordo de uma LDG da Marinha. Pelo menos outra se lhe seguiria com o resto das tropas. Saímos de Bissau às 5 horas da madrugada e chegámos a Bolama às 10 horas. Era uma sexta-feira, 23 de Março de 1973. (...)

(...) O que recordo foi a recepção que nos fizeram dezenas de crianças e algumas mulheres, habituadas que estavam a que à sua terra estivessem sempre a chegar novos contingentes, à medida que outros saíam. E zumbiam à volta dos tropas a oferecer os préstimos das lavadeiras que, sabiam, poucos iriam dispensar. Pediam também dinheiro (patacão) de mão estendida. Eram uns safados e umas safadas, muito batidos naqueles contactos, mas muito bonitos e gentis. Foi o primeiro contacto com o calor humano local, a suavizar angústias, medos indefinidos e dúvidas sobre o futuro.

Faltava instalarmo-nos e fazer o reconhecimento da cidade. Um espanto! Como fora possível que uma cidade daquelas, tão pequena e desprezada, tenha sido a capital da Guiné? Só estou a ver uma explicação: em toda a Guiné não havia outra com melhores condições e infra-estruturas para ser a capital da colónia. Até ao desenvolvimento de Bissau. (Ou seria por estar a bom recato das beligerâncias do interior da colónia? Ou para evitar novas ocupações estrangeiras? Em termos de história, isso foi anteontem, em quinhentos anos de presença portuguesa...). Ainda assim, uma avenida – não asfaltada – leva-nos, subindo, a um grande jardim público abandonado, no topo do qual se apresenta o imponente edifício que fora a Administração da colónia. Lateralmente e não muito distante havia o Hotel Turismo, pequeno mas com alguma nobreza, que fora a filial do Banco Nacional Ultramarino inaugurado em 1903 e que, agora, era a Messe de Oficiais.

Para além dos quartéis, havia as escolas, a igreja, a tipografia, o Clube dos Bombeiros com os seus matraquilhos, ping-pong e bar, onde íamos à civil beber uns copos e observar as senhoras brancas, mulheres dos outros oficiais. Junto ao cais, na baixa, havia uma piscina que só utilizei uma vez por receio daquelas águas. Melhor que tudo era o restaurante de portugueses onde, quando era possível, tirávamos a barriga e a alma de misérias.

Esta pequena urbe empoeirada e quente não é nada do que tinha imaginado mas, nas horas amenas dos fins de tarde, dava-me imenso prazer deambular pelas suas ruas quase desertas, apreciando as suas casas coloniais, muito abandonadas, com as sua varandas típicas, e ir descendo até ao cais onde me sentava sozinho a assistir ao pôr-do-sol, imaginando as praias da minha Figueira da Foz. Depois, lembrava-me que estava sentado ao contrário, virado para o canal de Bolama e para o continente, e que à minha esquerda tinha o norte e não o sul, e levantava-me irritado e virava costas. Para mais, dali de frente, de S. João, é que têm partido os mísseis do PAIGC nos ataques à cidade, segundo nos dizem, para susto dos periquitos. Mas, quando podia, voltava lá.

Nesses entardeceres cálidos e perfumados mas cheios de luz, era um espectáculo apreciar os bandos de morcegos, aos milhares, num esvoaçar barulhento e nervoso. Tudo era novidade. E os abutres (jagudis) com o seu ar decrépito nos ramos secos das árvores? Quando escurecia continuavam a ver-se as suas silhuetas, atentas e diligentes, para bem da salubridade da cidade. (...)


Foto nº 5 > Desfile do BCAÇ 4513 perante o gen Spínola


27 de Março de 1973 – (terça-feira)[ou dia 28?] – Chegada do General Spínola
 

Há muito que todo o Batalhão se encontrava em formatura frente ao edifício da Administração, no topo do grande jardim central de Bolama, aguardando a chegada do General. 

(...) Como me tinham prevenido os “velhinhos” de Bolama, com ar de gozo, o discurso que o General faria às tropas, começaria assim: «Conheço-vos a todos! É como se tivesse vindo convosco no barco. Etc., etc.» 

E o General disse-nos do alto da escadaria: «Conheço-vos a todos! É como se tivesse vindo convosco no barco. Também eu sou um soldado como vocês! Etc. etc.».  (...)


21 de abril de 1973 (sábado) – Primeiras mortes

(...) Soube hoje – fim da 2.ª semana de campo – que um alferes que viajou comigo no Uíge, mas que não recordo, e que estava a fazer a IAO no interior da província e não em Bolama, morreu acidentalmente com uma rajada na cabeça. Era de noite e levantou-se para ir urinar. Ao regressar, uma das sentinelas, seu soldado, não o reconheceu. É a versão que corre. 

Ontem, aqui no porto de Bolama, estava também num caixão, dentro de um barco da Marinha, o corpo de um rapaz que morreu nas mesmas circunstâncias. É o medo e a inexperiência a fazerem das suas.

Aqui em Bolama continuamos a estranhar a ausência de um ataque com mísseis do PAIGC a partir de S. João, ali no continente, mesmo em frente a esta parte da ilha. Todos os Batalhões que nos antecederam foram atacados, quase sempre logo após a chegada, com objectivos evidentes. (...)


(Continua)

(Seleção, revisão/fixação de texto, negritos, edição de fotos: LG)

_________________

Notas do editor LG:


(**) Vd. os primeiros postes da série:

16 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14373: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (1): Embarque para a Guiné, 16 de Março de 1973

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25051: Por onde andam os nossos fotógrafos? (16): António Murta, ex-alf mil inf MA, 2ª C/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) - Parte I: Em 16 de março de 1973 estávamos irremediavelmente a partir no N/M Uíge...



Foto nº 1

Lisboa  > Cais da Rocha Conde de Óbidos > 16 de março de 1973, meio da tarde >  Partida do Batalhão de Caçadores 4513 no navio Uíge rumo à Guiné.

(....) Estava repleto o navio e os militares alcandoravam-se nos locais mais improváveis, para além de escadórios e da amurada, na ânsia de serem vistos pela multidão de familiares que acenavam do cais. Era uma cena já de todos conhecida, militares e famílias, que ao longo dos anos a viram – e temeram – pela televisão e pelos jornais. 

"No que me toca, e depois de ter perdido de vista o meu pai no cais, apoderou-se de mim uma fria indiferença. Estava ali a começar uma odisseia, uma aventura no desconhecido, mas que haveria de ter um fim, que só podia ser o regresso. Recordo estas sensações porque as preparei antes e me agarrei a elas no momento crucial. 

"Apesar disso, foi no instante em que o bojo do navio se desencostou lentamente do cais, que tive o momento mais penoso e cruel. Não tinha pensado nesse detalhe tão significativo: o brevíssimo instante da separação. Estava quebrado, definitivamente, o fiozinho que ainda me ligava a casa, aos familiares, ao meu país e a uma esperança tola de que, até ao último instante, acontecesse algo de extraordinário, um cataclismo, uma morte bombástica, sei lá..., morreu o Amílcar Cabral e não aconteceu nada, mas podia morrer o Marcelo, cair a Ponte Salazar e o barco ficar ali encalhado!... Nada. Não aconteceu nada. 

"Afinal, estávamos irremediavelmente a partir. E não tinham partido milhares de outros antes de mim? (...) (Poste P14373 (***).

Foto nº 2 

Guiné > Região de Quínara > Nhala > 2ª C/BCAÇ 45143 (Aldeia Formosa, Buba e Nhala, 1973/74) > 1973 > O alf mil inf MA António Murta: "um estado d'alma"



Foto nº 3

Guiné > Região de Quínara > Nhala > 2ª C/BCAÇ 45143 (Aldeia Formosa, Buba e Nhala, 1973/74) > Pós-25 de Abril de 1974  > O alf mil inf MA António Murta, em primeiro plano, sentado no capô da Berliet MG-20-79.

Foto nº 4

Guiné > Região de Quínara >  Nhala (a nordeste de Buba) > 1974 > Agosto de 1974 > Os "Unidos de Mampatá", a CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74), em final de comissão, foram despedir-se dos "periquitos" de Nhala (2ª C/BCAÇ 4513)... À esquerda, assinalado por um quadrado amarelo, o nosso António Carvallho, o "Toni", mais conhecido por "Carvalho de Mampatá".  O nosso fotógrafo, o António Murta,  estava lá.

Um cartão de boas festas 2014/2015 original, criação do António Murta

Fotos (e legendas): © António Murta  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuamos à procura dos nossos fotógrafos (*)


A fotografia é um dos recursos mais valiosos do nosso espólio. Não sabemos ao certo quantas imagens já publicámos no nosso blogue em vinte anos (desde 2004). Uma estimativa por baixo aponta para mais de 100 mil. Já publicámos mais de 25 mil postes, o que daria uma média de 4 fotos ou imagens  por poste. 

Fotógrafos (ou donos de álbuns fotográficos com grande interesse documental) são seguramente muitas dezenas. Alguns de nós tornaram-se até fotógrafos com talento, no CTIG ou até depois, na peluda. A maioria não tinham tirado fotografias. Comprou uma máquina em Bissau (em geral, de "made in Japan", e mais baratas do que na metrópole), e levou-a para o mato. (**)

As suas fotos  têm suscitado a curiosidade de cineastas, jornalistas, investigadores, etc., que de tempos a tempos recorrem ao nosso blogue para cedência de imagens. Temos uma política sobre esse assunto; cópia digital das fotos é cedida, para efeitos não-comerciais,  mediante acordo tanto dos edtores como dos titulares dos créditos fotográficos. Julgamos que, enquanto antigos combatentes, temos esse dever de serviço público. Mas também exigimos que respeitem a propriedade intelectual e não façam uso indevido do material cedido.

A mítica Olympus Trip 35, de que se terão
vendido10 milhões de unidades entre 1967
e 1984... Ideal para se tirar fotos em férias
(daí o nomedo modelo, "trip"),  
despreocupadamente
2. Hoje começamos a recuperar e a selecionar algumas das melhores fotos do António Murta, de seu nome completo António Manuel Murta Cavaleiro, ex-alf mil indf  MA,  2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74). 

Nasceu em Cantanhede, em 8 de janeiro de 1951, vive atualmente na Figueira da Foz. Está reformado há mais de 10 anos. Passou a integrar a Tabanca Grande em 12 de novembro de 2014.(***) 

Tem 105 referências no nosso blogue, sendo autor de uma notável série, "Caderno de Memórias de António Murta"...  de que se publicaram pelo menos 42 postes (****)

Não nos conhecemos pessoalmente mas já temos falado ao telefone (ainda ontem, data do seu aniversário). Não sei o que fazia profissionalmente, constato que tem um grande talento para o desenho (veja-se o cartão de boas fesats que nos mandou no final do ano de 2014) (vd. imagem acima) (*****).

Exigente consigo e com os outros, escreveu sobre a sua atividade de fotógrafo amador:

(...) "As minhas fotografias, no geral, não têm grande qualidade: quando fui para a Guiné nem máquina tinha. Usei uma emprestada por uma amiga, mas demasiado básica e pouco fiável. Nas primeiras férias comprei uma Olympus compacta e passei a fazer, quase sempre, slides. Digitalizados com um scâner normal, são uma triste amostra dos originais. Com muito deles optei por fotografar a projecção em suportes variáveis, com os inconvenientes que também isso acarreta." (...) (***)

(Continua)
_____________



(****) Vd.postes de:

16 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14373: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (1): Embarque para a Guiné, 16 de Março de 1973


(*****) Vd. poste de 18 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14044: Sob o poilão sagrado e fraterno da nossa Tabanca Grande: boas festas 2014/15 (4): Cartão original de António Murta

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24790: Efemérides (408): Já lá vão 55 anos! (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS, Op MSG, STM/QG/CTIG)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 23 de Outubro de 2023:

Já lá vão 55 anos!

Como recordar é viver, há dias que nunca esqueceremos, e o dia 23 de Outubro de 1968 é um desses dias.
Era meio-dia em ponto quando o UÍGE silvou várias vezes a querer dizer que estava pronto para mais uma viagem.
O pessoal já tinha embarcado ao som de marchas militares. Os cumprimentos oficiais, da praxe, já tinham sido feitos. As escadas já tinham sido retiradas. O cordame também já tinha sido recolhido. E os dois rebocadores que o haviam de levar até ao meio do Tejo já estavam a postos.
No cais a multidão ainda era imensa. Os lenços acenavam das varandas da gare a corresponder aos lenços que das amuradas do barco também acenavam. Eram as despedidas.

Navio Uíge - Com a devida vénia a http://navios.no.sapo.pt/

A banda militar estava a acabar os seus acordes e o UÍGE lá se encaminhou para o melhor local do Tejo para iniciar mais uma viagem de 5 dias até às terras da Guiné. Depois foi o passar sobre a Ponte Salazar a caminho do Oceano e tudo isso pareceu muito rápido. Depois foram cinco dias de mar e céu, com mais ou menos acompanhamento dos chamados peixes voadores, a passagem relativamente perto das Canárias e a chegada ao largo de Bissau a 28 de Outubro.
A Ponte Salazar em 1966 - Com a devida vénia a http://www.skyscrapercity.com/

Foram só cinco dias, mas dias inesquecíveis. E como a maioria viajou nos porões, nessas grandes caves fechadas de onde só se via a luz do dia pela buraco por onde entrávamos, nem vale a pena dizer nada sobre essas “maravilhosas” acomodações.

Foi um bom princípio, sem dúvida, para o que nos estava guardado. Depois, bem depois, foram vinte e cinco meses e dez dias, passados todos naquela terra quente que, ao fim deste tempo todo, nunca mais consegue encontrar a paz a que tem direito e de que tanto precisa.

Carlos Pinheiro
23.10.2012

____________

Nota do editor

Último poste da série de 6 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24624: Efemérides (407): Rescaldo da homenagem aos Antigos Combatentes da Guerra do Ultramar naturais da União das Freguesias de Felgueiras e Feirão, Concelho de Resende, levada a efeito no passado dia 2 de Setembro de 2023 (Fátima Soledade / Fátima Silva)

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24600: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (2): O percurso de muitos de nós: Tavira (CISMI), Elvas (BC 8), Tomar (RI 15), T/T Uíge...


Foto nº 6 > Tavira > CISMI > Recruta > 2º turno 1972 Ao centro o Machado; o camarada da esquerda não recordo o nome; eu, à direita, de óculos.




Foto nº 7 > Tavira > CISMI > 1972 > Quando acabei a especialidade (atirador).



Foto nº 8 > Elvas > BC 8 > A dar recruta 4º turno 1972 [os pelotões eram numerosos, contam-se aqui quase meia centena de homens; o Cruz é o oitavo da fila de pé, a contar da direita]



Foto nº 9 > Tomar > RI 15 > 1973 : A formar o BCAÇ 4513/72 mobilizado para a Guiné: eu e o Victor Domingues com o nosso aspirante Jorge, no meio, de blusão, a formar o 3º pelotão da 1ª companhia.



Foto nº 10> T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: da esquerda para a direita, Raposo, Cruz, Victor Domingues e Félix.



Foto nº 11 > T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: O pessoal a dar ao dente a bordo do Uíge: da esquerda para a direita, Loução, Félix, Baeta e o outro camarada não recordo o nome.


Foto nº 12 > T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: à minha direita, o Félix e à esquerda o Victor Domingues.



Foto nº 13 T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: - No Uíge com o Félix

Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz (*).  Já em 2014 tínhamos descoberto a sua página do Facebbok, e publicámos dois postes. Já  na altura fizemos o convite, formal, para se juntar ao nosso blogue,  o que veio acontecer agora: é o novo membro, nº 880 da Tabanca Grande (**).

Ele fez o percurso de muitos de nós: Tavira (CISMI), Elvas (BC 8), Tomar (RI 15), T/T Uíge, conforme documenta as fotos acima publicadas... E depois Bolama (CIM),  de acodo com o próximo poste.

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24581: Facebook...ando (33): António Alves da Cruz, ex-fur mil, 1.ª CCaç / BCAÇ 4513 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set 1974); vive em Almada


Foto nº 1 > O fur mil António Alves da Cruz, a bordo do T/T Uíge, a caminmho da Guiné. Foi fur mil at inf, 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513/72, Aldeia Formosa, Nhala e Buba (1973/74)


Foto nº 2 > O N/M Uíge. O pessoal do BCÇ 4513 embarcou  a 16 de março de 1973 no Uíge. A CCAÇ fez a IAO em Bolama, esteve em Buba e temporariamente em Mampatá, tendo regressado por volta de setembro de 1974.


Foro nº 3 > Almada, Cacilhas, Margueira, Estaleiro da Lisnave, 1970, doca nº 13, 


Foto nº 3 > Guiné > Bolama > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Da esquerda para a direita:  Oliveira, Victor, Gatões (†),  Victor Domingues, Peixoto (†), Cruz, Reis (†),  Costa (†), Carvalho. (Legenda: † já não estão entre nós)


Foto nº 4 > Guiné > Buba (?) > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Aspeto parcial de uma formatura


Foto nº 4 > Guiné > Buba (?)  > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) >  Em operações


Foto nº 5 > Infografia: os 50 anos do BCAÇ 4513 (1973/74) 


Foto nº 6 > O fur mil António Alves da Cruz,  fotografado no final da comissão, presume-se
  
Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O António Alves da Cruz tem página no Facebook (188 amigos, 15 em comum). Integra também a nossa lista de amigos do Facebook da Tabanca Grande Luís Graça. Ficamos a saber, através da sua página,  que:

Trabalha na empresa Volkswagen Autoeuropa

Trabalhou na empresa Lisnave

Andou na escola Emidio Navarro

Vive em Almada

De Lisboa

Foi fur mil 1.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set1974).


2. Mensagem do editor LG:

António, fazes falta no blogue, como já escrevi no nosso Facebook (Tabanca Grande Luís Graça)... És bem vindo... Tens histórias e fotos para partilhar... És um dos últimos soldados do Império...

Fiz um pequeno apanhado das tuas fotos do Facebook, para uma primeira apresentação da tua pessoa. 

Para ingressares na nossa tertúlia (só fazes parte do Facebook, não do blogue), só preciso de uma foto atual,  tua.. e duas linhas de apresentação (sou o fulano tal, assim, assim...). Como vês, já sabemos algumas coisas a teu respeito. Mas tens, por certo, muitas mais memórias a partilhar dos últimos tempos da guerra  e dos primeiros meses do processo de negociação da independência e da transferência de soberania (março de 1973 / setembro de 1974).

Manda os teus materiais (texto e fotos) por email, é mais fácil: luis.graca.prof@gmail.com

Temos oitenta referências ao teu batalhão, o BCAÇ 4513 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba). 

O primeiro militar da 1ª companhia a integrar o blogue foi o teu camarada Manuel Oliveira.  

Da 2ª companhia, já cá temos o António Murta, ex-alf mil inf Minas e Armadilhas (que tem mais de 90 referências, sendo autor da notável série "Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513"); e ainda o José Carlos Gabriel (ex-1.º Cabo Cripto): ambos estiveram en Nhala, 1973/74.

Há um terceiro camarada, o Fernando Silva da Costa, ex-fur mil trms da CCS/BCAÇ 4513 (imfelizmente já falecido).

Se conheces o nosso blogue, como presumo (já tentaste inscrever-te),  podes ler aqui as nossas regras de organização e funcionamento .  Todos os contactos têm de ser através de um dos emails dos editores. Podes usar o meu, ou o do Carlos Vinhal, os editores de serviço 24 horas por dia... 

Tenho muito gosto em fazer-te sentar à sombra do nosso polão... Temos 879 amigos e camaradas da Guiné, inscritos (infelizmente mais de 15% já morreu, mas continuamos a honrar a sua memória).
 
Aguardo notícias tuas. Um alfabravo, Luís Graça, em nome de toda a Tabanca Grande.
__________

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24532: Efemérides (405): Há 57 anos, a 30 de julho de 1966, parti, em rendição inidvidual, no N/M Uíge, para me juntar ao Pel Caç Nat 54, em formação, em Bolama (José António Viegas)


Foto nº 1


Foto nº 2

N/M Uíge  > Viagem para a Guiné > 30/7 a 4/8/1966 >  Eu no convés (foto nº 1), e depois à mesa, com a malta de rendição individual, alguns dos quais já partiram para a derradeira viagem (foto nº 2).

Fotos (e legenda): © José Manuel Viegas (2023). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné ]


1. Mensagem de José Anónio Viegas, ex-fur mil do Pel Caç Nat 54 (Enxalé, Missirá, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1966/68), um dos animadores da Tabanca do Algarve:

Date: domingo, 30/07/2023 à(s) 14:48
Subject: 57 anos da partida para a Guiné

30 de Julho de 1966, 7 horas da manhã, no Quartel de Adidos na Calçada da Ajuda: um sargento manda-me ir à secretaria buscar a guia  de embarque, após receber a guia desço a Calçada da Ajuda até um café-quiosque que ficava em frente ao Museu dos Coches e tomo o meu pequeno almoço nas calmas, e vou seguindo com o saco às costas até ao Cais de Alcântara, entrego a guia ao PM e subo o escaler pró navio (Uíge). 

Depois de me ter sido atribuído um beliche, venho para a amura ver o desfile e o espetáculo do adeus. Partimos e passámos pela futura Ponte Salazar que seria inaugurada 4 ou 5 dias depois.

5 dias depois, a 4 de agosto, cheguei a Bissau. Ao chegar ao cais encontro um amigo e conterrâneo que já era 2.º sargento, que me perguntou se eu vinha de férias para a Guiné, de seguida meteu-me no jeep e foi mostrar-me Bissau, seguindo depois para Adidos onde fiquei 3 dias, embarcando a seguir na lancha Bore para Bolama, onde iria formar o Pelotão de Caçadores Nativos 54 (com o saudoso Jorge Rosales, entre outros).

Sobre o meu Pelotão irei contar numa próxima o percurso dos 27 meses antes que a memória feche a porta.

Um abraço, Viegas

Anexo - Foto 1 Viagem no Uige | Foto 2 Na messe malta de rendição individual, alguns já partiram.
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Nota do editor:

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23667: Facebook...ando (68): Fernando Serrano, ex-fur mil enf, CCAÇ 2637 (Teixeira Pinto, 1969/71), professor do ensino básico reformado e poeta de grande sensibilidade e talento


 N/M Uíge >  Algures no ocenao Atlântico a caminho do CTIG > 25 de outubro de 1969 > Missa a bordo... Entre as companhais que seguiam no T/T Uíge estava a CCAÇ 2637 (Teixeira Pinto, 1969/71), mobilizada pelo BII 18, Ponta Delgada... Desembarque em Bissau em 28/10/1969. A foto foi publicada na página do Facebook da Tabanca Grande,em  18 de setembro de 2022,  às 21:48 pelo Fernando Serrano,  ex-fur mil enf da CCAÇ 2637, natural de Penamacor, professor do ensino básico, reformado, e candidato a membro da nossa Tabanca Grande. Reside desde 1972 em Linda-A-Velha onde deu aulas, juntamente com a esposa. (*)


Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > CCAÇ 2637 (1969/71) > Escreveu o Fernnando Serrano, evocando os fabulosos  fins-de-tarde naquela terra verde-rubra: "Quando, ao cair da tarde /A leve aragem vinha brincar com as folhas das palmeiras,/ Ganhava outro sentido a palavra "Saudade"... Publicado na Tabanca Grande, sexta-feira, dia 30 de setembro de 2022, 22h23


Algés > 19 de maio  de 2022 > Mangífica Tabanca da Linha > 48º Convívio > O Fernando Serrano, novo membro da Magnífica Tabanca da Linha. É natural de Penamacor. Mora em Linda-A-Velha, freguesia de Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada-Dafundo Foto de Manuel Resende.

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O poeta e a sua musa, Fernando e Cacilda > "No dia do nosso 51º aniversário... de vida a dois". Página do Facebook de Fernando Serrano, domingo, 18 de setembro de 2022, 21h48.

Palavras

Se te disser mil palavras em poema,
Ou se te escrever duas mil em prosa,
Nelas lerás:"Leve fragância de alfazema"
Ou "um duro espinho e linda rosa."

Também "Tu és a mulher que Deus me deu.
E  "Tu és a minha terra prometida…"
"Tudo o que é meu é também teu.
E ainda  "Tua é toda a minha vida."

"Na guerra foste a companheira leal,
Que em cada dia quis estar comigo.
No meio do mais violento vendaval

Sempre em ti a minha nau achou abrigo."
Se só mil palavras te disser ou escrever,
Mil outras ficarão, decerto, por dizer.


1. No passado dia 22 de setembro, no decurso do  49º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, em Algés, conheci o Fernao Serrano, "periquito" nesta tertúlia... Fiquei, na mesa, ao seu lado.  E desde logo o convidei para integrar a Tabanca Grande, o que ele aceitou. Temos trocado galhardetes. Ele ficou de me mandar as duas fotos da praxe e duas linhas de apresentação. 

Fiquei a saber que era professor do ensino básico, tal como a esposa, e que era natural de Penamacor, conterrâneo, amigo, colega e camarada do Libério Lopes (ex-2º srgt mil, CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65). 

Falámos também da sua terra, e do seu ilustre conterrâneo, o maior médico português do séc. XVIII, António Nunes Ribeiro Sanches (Penamacor, 1699 - Paris, 1783), cujas obras (as principais, em edição moderna da Universidade da Beira Interior, em formato pdf), lhe fiquei de mandar uma cópia em próxima oportunidade.

O Fernando reside desde 1972 no concelho de Oeiras onde deu aulas juntamente com a esposa. Foi furriel mil enfermeiro da "açoriana" CCAÇ 2637 (Teixeira Pinto, 1969/71), mobilixada peloa BII 19, POnta Delegada, e de que não temos  nenhum representante na Tabanca Granden(*)

O Fernando Almeida Serrano conhece e aprecia o nosso blogue, tendo manifestado a vontade em juntar-se aos 864 membros da Tabanca Grande. É membro da Tabanca da Linha, desde maio de 2022.

Tem uma página na Net "Guiné-Recordações" que também já nos acolheu:  trata-se de uma página no Facebook, de um grupo privado, com 5 mil membros. Foi criado há 2 anos.. Tem também a sua página pessoal no Facebook
 (**)

Fomos dar um vista de olhos à algumas das coisas que tem posto na nossa página do Facebook e na sua págima pessoal. Vejo que é um poeta de grande talento e sensibilidade, como se comprova pelo primoroso soneto (um "hendecassílabo", soneto de 11 sílabas métricas).

Parabéns. E daqui vai , para ti, Fernando, um alfabravo fraterno. Luís

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22724: O cruzeiro das nossas vidas (30): Em 23 de outubro de 1968, embarquei no N/M Uíge, mobilizado para o CTIG, em rendição individual (Carlos Pinheiro, ex-1.º cabo trms op msg, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70)


N/M Uíge, o navio que mais viagens fez para o CTIG, transportando tropa (*). O Uíge era um navio misto, de carga e de passageiros, construído na Bélgica em 1954 e abatido em 1978. O seu comprimento não chegava aos 150 metros. A sua arqueação bruta era de 10 mil toneladas. Armador: Companhia Colonial de Navegação, Lisboa. Velocidade de cruzeiro: 16 nós. Alojamentos para 4 passageiros em classe de luxo, 74 em primeira classe, 493 em classe turística, no total de 571 passageiros... Nº de tripulantes: 139.  

Foto Álbum dos Navios da Marinha Mercante Portuguesa, publicado pela Junta Nacional da Marinha Mercante em Junho de 1958. (Com a devida vénia...)


1. Muitos dos nossos leitores, camaradas da Guiné, já não fizeram "o cruzeiro das suas vidas" nos navios de transporte de tropa, da nossa marinha mercante, requisitados pelo Exército, entre 1969 e 1971. Os mais novos, os "periquitos", os "últimos soldados do Império, a partir de 1971/72, passaram a ir para (e a vir de) o  TO da Guiné nos aviões dos TAM - Transportes Aéreos Militares (que em 1970 adquirira dois Boeing 707), embora a nova modalidade de transporte, que veio substituir a via marítima,  caussase consideráveis atrasos na rendição das unidades,  e muito descontentamento, a começar pelo Com-Chefe, o gen Spínola, mas isso é outra história.

Já aqui reunimos os testemunho de diversos camaradas que, mobilizados para o CTIG, foram transportados em navios como o Uíge, o Niassa, o Carvalho Araújo e outros. Na série "O cruzeiro das nossas vidas"  (**) republicamos hoje dois  textos do Carlos Pinheiro que merecem maior visibilidade.

(i)  um, o da sua apresentação à  Tabanca Grande, em 25 de outubro de 2010 (Poste P7173) (**)

(ii) o outro, originalmente publicado no semanário regionalista "O Almonda" (, fundado em 1918), de Torres Novas, em 2 de maio de 2008, e depois no nosso blogue, na série "Blogoterapia", no poste P9822 (***).


O Carlos (Manuel Rodrigues) Pinheiro, natural de Alcanena, e residente em Torres Novas,  foi 1.º cabo trms op msg, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70, e é dos membros da Tabanca Grande um dos que melhor conheceu Bissau dessa época.  Está connosco desde 2010 e tem mais de 7 dezenas de referências

(i) Já lá vão 42 anos
Faz hoje (, em 23 de outubro de 2010), 42 anos que embarquei para a Guiné, em rendição individual,  destinado ao BCAÇ 1911 que afinal veio no mesmo barco em que fui.  
 .
É verdade. Parece que foi ontem (...)

Depois de uma noite muito mal dormida nos Adidos, na Calçada da Ajuda, logo de manhã lá estava ataviado a preceito para embarcar para a guerra.

Dois dias antes, ainda no RI 15 em Tomar, a minha Unidade mobilizadora para o BCaç 1911 que nunca vi que veio no barco onde fui, apanhei uma boleia com um senhor da minha terra que lá foi buscar o filho, para também embarcar para a guerra, salvo erro era para Angola. Lá fomos os três no Volkswagen 1300 do senhor, a caminho dos Adidos em Lisboa. Almoçámos, já não me lembro onde, e lá chegámos.

Entrámos os dois pela porta de armas, cada um foi para o seu sítio, mas no dia seguinte deixei de o ver. Afinal ficou cá. Não chegou a embarcar. Tinha as suas mazelas certamente. Eu também tinha as minhas, mas embarquei e ele ficou por cá.

No dia do embarque, no dia 23 de Outubro de 1968 (...), logo de manhã lá estava fardado como deve ser, de saco às costas com os meus pertences. Foi só esperar que as camionetas começassem a chegar para levar toda aquela malta de rendição individual para o cais de Alcântara. Éramos cerca de sessenta.

Quando chegamos ao Cais, o grosso dos expedicionários já estava devidamente formado; era o Batalhão de Caçadores 2856 constituído por quatro Companhias, mais um Pelotão de Polícia Militar que ia para Cabo Verde e ainda outras Unidade mais pequenas, género Pelotões de Canhão Sem Recuo, Pelotões de Apoio Directo, etc.

Nós ficámos livres da formatura e, certamente por isso, fomos dos primeiros a embarcar. Ao cima das escadas lá estavam as senhoras do MNF – Movimento Nacional Feminino a darem um maço de cigarros "Porto", um isqueiro e uns aerogramas. Também por lá se viam uns senhores de chapéu e de sobretudo que alguns mais vividos diziam ser da Pide.

O Uíge atracado à espera, com a tropa formada, depois de um General ter passado revista às forças ao som de uma Banda Militar, e que, depois dos discursos da ordem, lá começaram a embarcar, sempre com a Banda a tocar marchas militares.

Os nossos familiares estavam do outro lado das barreiras e muitos nas varandas da Gare. Os lenços brancos a acenar eram mais do que muitos. Da minha parte lá estavam os meus pais e os meus tios que moravam em Lisboa. Sabia mais ou menos onde eles estavam posicionados porque tínhamos combinado antecipadamente. A amurada do barco do lado do Cais estava repleta de militares, o que provocava um relativo adornar do navio.

Entretanto, cerca do meio-dia, as máquinas do navio começam a fazer mais barulho e a silvar. Vêem-se já os rebocadores que o hão-de ajudar a largar e a ganhar o rumo da Barra do Tejo. Foram momentos difíceis de descrever. Adivinhávamos facilmente que os familiares no Cais choravam. Alguns até gritavam. Ouvia-se.

A bordo também havia lágrimas em muitos olhos. O barco ganha rumo, a ponte "Salazar", era assim que se chamava a que hoje se chama "25 de Abril", começa a ficar cada vez mais perto até que passámos por baixo dela. Dali até à Barra e depois ao mar alto parece que foi um momento.

Mal ou bem lá fomos encaminhados para os nossos aposentos, para largarmos o nosso saco e para tomarmos conhecimento dos nossos beliches. A esmagadora maioria, onde eu estava incluído, viajámos nos porões que noutras viagens transportavam tudo e mais alguma coisa. O cheiro era horroroso. As camas eram mesmo tipo beliche, mas em madeira de pinho, com colchões de palha e uma manta da tropa em cima. A estrutura das mesmas, porque em madeira, estava já cheia de dedicatórias de toda a ordem que se possa imaginar, fruto de outras viagens de idas e de regressos.

Já no mar alto fomos para a primeira refeição, o almoço, numa sala grande, a sala de jantar do barco, e a comida era aquela que nos quiseram dar, porque os orçamentos naquela altura já eram apertados.

Depois foram cinco dias a ver-se só mar e céu, tudo azul, e de vez em quando uns peixes voadores a acompanhar o Uíge,  por vezes até golfinhos, como que a desejarem-nos boa viagem. Raras vezes avistámos outros barcos, mas sempre ao longe. Passámos relativamente perto das Canárias. Disseram-nos que, como aquilo era um Transporte de Tropas, estávamos a ser a ser acompanhados por um submarino. Já era a psico a funcionar.

No convés havia uma espécie de um bar onde se vendia cerveja e Coca-Cola, sendo esta uma novidade autêntica uma vez que na Metrópole a mesma ainda era proibida. A cerveja era holandesa. Eram garrafas de meio litro, verdes, que nós nunca tínhamos visto. Claro que com estes estimulantes a viagem parece que custava menos.

Nos porões, logo no primeiro dia, foram montadas bancas para a batota, neste caso a lerpa, e os profissionais dessa jogatina lá assentaram arraiais e foram depenando os mais desprevenidos, que eram muitos.

E assim chegámos a Bissau no dia 28 (de iutubro de 1968), ao final do dia, tendo o barco ficado ao largo e o pessoal desembarcado para barcaças que de imediato tinham rodeado o navio.

A todos os que vão sobrevivendo e que há 42 anos a esta hora viajavam comigo no UÍGE, um grande abraço e votos de muita saúde.

Carlos Pinheiro
23 de Outubro de 2010


(ii)  "Estórias" da guerra colonial 

As "estórias" começavam cá, mesmo muito antes do assentamento de praça. Eram as preocupações pelo desconhecido, porque a informação que nos davam a "beber" era só a que interessava à situação, pois a mesma estava absolutamente controlada. Tínhamos a Emissora Nacional, o Diário de Noticias e a generalidade dos jornais que, para saírem, tinham que ir ao lápis azul da censura. Era a situação. 

Salvava-se, por vezes, com muita ginástica, o República, fundado por António José de Almeida e nos últimos anos dirigido por Raul Rego, que pouca gente podia ler e o Diário de Lisboa, da família Ruela Ramos, que também utilizava muita imaginação para dizer alguma coisa que não nos deixavam contar. Salvavam-se também aqueles felizardos que podiam ir estudar para Coimbra, Lisboa ou Porto, onde os contactos permitiam uma consciencialização política muito acima da média. Outros, muito à socapa, ainda iam ouvindo a Rádio Moscovo, clandestinamente claro, como alguns, os do partido liam o Avante, e outros até a Voz da América ou mesmo a BBC, que sempre iam dizendo verdades que não conhecíamos, apesar de muitos casos se passarem à nossa porta.

E, quer queiramos quer não, guerra é sempre guerra, o maior flagelo da huanidade, e era para a guerra que a malta estava destinada. Uma guerra de guerrilha, talvez por isso, pior do que a chamada guerra convencional. Muita psico-social, lá e cá, pois os espíritos eram fracos e desinformados e assim melhor trabalhados. Teimosamente sós, era a política daquela época. 

Mas mesmo assim muito armamento da NATO era desviado para a guerra colonial a começar por alguns navios de guerra e a acabar no rearmamento vindo da Alemanha, especialmente viaturas ligeiras e pesadas, a partir de certa época. 

Já tínhamos perdido o "Estado da Índia", já tinha havido a "estória" do "Santa Maria" a que Henrique Galvão chamou "Santa Liberdade", e a malta começava a tomar consciência que estávamos em guerra na Guiné, em Angola e em Moçambique, mas que também se tinham reforçado posições em Cabo Verde, em S. Tomé, em Macau e em Timor. Tudo isto, como se a descolonização por parte do resto da Europa não tivesse existido, como se fôssemos diferentes, como se fôssemos mais fortes, como se conseguíssemos resistir sozinhos.



O paquete Santa Maria que, por breves semanas, em janeiro de 1961, foi rebaptizado "Santa Liberdade"  por Henrique Galvão 

(Com a devida vénia ao  sítio  Navios No Sapo, que já não existe)

A emigração, principalmente a clandestina, estava no auge. Era a pobreza franciscana em que o país vivia, era a falta de perspectivas de futuro, era a falta de escolas e as dificuldades de ingresso na Universidade e era também o sentimento de alguns, mais esclarecidos, que não queriam participar na guerra. Paris e seus arredores, chegou a ser a cidade onde mais portugueses viviam. Está tudo dito.

Mas a malta que cá ficava ia de certeza para a tropa. Escapavam os cegos, os coxos e os aleijados. O resto era tudo apurado. Por isso, depois da entrada, eram os rigores de uma vida nova, aparentemente sem sentido, passava-se a ser só um número, havia horários para tudo, menos para descansar e conviver, de dia e de noite, nos campos, nos matos, nas carreiras de tiro, nas salinas, nas marchas, nos exercícios, era tudo a correr, sempre em fila, por vezes ao toque de caixa, mas era tudo sempre a correr.

Eram precisos soldados, muitos soldados, com sangue novo para a guerra. Rapidamente e em força, era o slogan.

A recruta era feita num qualquer quartel que já não existe, viajava-se ao fim de semana a caminho de casa, onde se ia buscar o farnel para semana, quando era possível, sempre de noite, naqueles comboios que pareciam pintados de verde por dentro. Depois era a especialidade, normalmente noutro quartel também daqueles que já não existem, e aí o sofrimento, dado o rigor, por norma era ainda maior.

Ao longe, parece que já se ouviam as sirenes dos barcos que haviam de levar, um dia, aquela malta toda para África. E esse dia chegava quase sempre, para a esmagadora maioria da rapaziada. Para uns chegava mais cedo do que esperavam. Para outros chegava mais tarde, quando pensavam que já tinham escapado à mobilização.

De noite, de camioneta ou de comboio, a malta lá era despejada no Cais da Rocha ou de Alcântara, vinda dos seus quartéis de origem, lá se perfilava como mandavam as regras e ao som de marchas militares lá embarcava, depois de um ou outro discurso de circunstância, no "Uíge", no "Timor" no "Niassa", no "Índia", no "Vera Cruz", no "Rita Maria", no "Ana Mafalda" ou no "Alfredo da Silva" e até, na parte final, no velho "Carvalho Araújo", e lá ia durante 5, 8, 10 ou 30 dias conforme fosse para a Guiné, para Angola ou Moçambique e até mesmo para Macau ou Timor.

Quando se começavam a subir as escadas de acesso ao barco, lá estavam, para além da Polícia Militar, aqueles fulanos que vestiam sobretudo e usavam chapéu e bigode, estrategicamente colocados, as senhoras do Movimento Nacional Feminino que davam à soldadesca um macito de cigarros, por vezes um isqueiro e até uns aerogramas, os chamados bate-estradas, para a malta escrever quando lá chegasse. Era porreiro, pá!

A partida era sempre dolorosa. Os familiares apinhavam-se nas varandas do Cais ou junto às grades que separavam a gentalha dos senhores. Os lenços da despedida desfraldavam-se ao vento e as lágrimas escorriam, de um lado e muitas vezes também do outro, pela cara abaixo. E o barco a afastar-se vagarosamente, a música da banda militar que tinha ficado no cais, cada vez se ouvia mais longe, passava-se por baixo da ponte Salazar, via-se o Bugio, Lisboa cada vez ficava mais para trás até deixar de se ver e lá estávamos no mar alto, no mar salgado.

Eram dias desgraçados. Só se via mar e céu e quando o tempo estava bom, era azul por baixo e azul por cima. Por vezes os golfinhos lá vinham visitar o barco e distrair, por momentos, a rapaziada. Os barcos, apesar de civis, eram considerados "Transporte de Tropas" e diziam-nos, para nos sossegarem, que íamos escoltados, para nossa segurança. Mas nunca se viram aviões ou barcos de guerra e, claro, muito menos qualquer submarino a proteger-nos. Lá íamos entregues à nossa sorte.

A vida a bordo era soturna. Nalguns barcos ainda havia instalações menos más, para alguns. Mas a maioria passava o tempo nos porões, que em tempo de paz serviam para o transporte de todo o tipo de mercadorias. Não havia outras condições. Lá muito em baixo, onde a luz do sol só chegava por um buraco, que era a boca do porão, mal se respirava, dados os odores lá acumulados ao longo de anos. 

Havia excepções: o "Rita Maria", o "Ana Mafalda" e o "Alfredo da Silva" só viajavam até à Guiné, eram barcos pequenos e normalmente levavam pouca gente e só em rendição individual. Estes eram barcos da "Sociedade Geral", uma empresa da "CUF" que não era só dona do Barreiro como dona de quase toda da Guiné. 

Também o "Carvalho Araújo" escapava, de certo modo, à regra.  A malta viajava à mesma nos porões, mas estes tinham circulação de ar porque o barco, em tempos, tinha sido adaptado para o transporte de gado dos Açores para o Continente e o gado, esse precisava sempre de ar fresco. Mas em contrapartida a viagem neste barco demorava sempre mais uns dias. Era muito vagaroso e gastava muito combustível. Para ir à Guiné tinha que passar por S. Vicente, em Cabo Verde, para meter água e nafta, que na Guiné não havia. No regresso parava sempre no Funchal para se reabastecer e a malta aproveitava para ver aquela Pérola do Atlântico depois de dois anos de guerra. 

Lá em baixo, muitos jogavam às cartas, especialmente à "lerpa", e alguns iam surripiando os outros. Quando chegava a hora da refeição havia um sinal e só os doentes é que não subiam ao convés, mas, para esses, havia sempre um camarada que lhes trazia uma bucha e uma pinga de água enquanto não iam para a enfermaria, que por norma era pequena. Bebia-se muita cerveja, daquelas "bazookas" holandesas que a malta cá não conhecia. Bebia-se Coca-Cola, inglesa ou de Moçambique, que cá era proibida. Era raro tomar-se banho, porque os barcos não tinham sido construídos para transportar tanta gente de cada vez. Até as casas de banho, as chamadas retretes, eram escassas e normalmente improvisadas no convés, numas barracas de madeira, como ainda hoje se vê para aí nalgumas obras.

Muitos enjoavam, principalmente naqueles dias em que o mar parecia que tinha poucos amigos. A comida, essa tinha dias e era conforme os barcos. Ninguém empanturrava com o que lhe era dado, mas comia-se sempre menos mal na viagem de ida do que na do regresso. Vá-se lá saber porquê?

Os dias passavam, assinalava-se a passagem do equador com uma espécie de festa e a meio da viagem fazia-se um simulacro como se o barco estivesse em perigo e cada um lá se desenrascava como melhor podia ou sabia.

Entretanto a temperatura começava a subir e as águas a mudarem de cor. A chegada estava próxima. Na maioria dos casos os barcos atracavam ao cais, mas na Guiné, até certa altura, ficavam ao largo, especialmente o "Uíge" e o "Niassa" e a malta era transferida para batelões até ao cais, onde colunas de viaturas aguardavam a chegada daqueles reforços que eram sempre bem-vindos para os que já lá estavam e a muitos dava a oportunidade de rendição e por consequência, do tão esperado regresso.

Alguns, mal tinham tempo de pôr os pés em terra. Mal chegavam, embarcavam outra vez, numa "LDG", ou "LDM", lanchas de desembarque grandes ou médias, conforme o contingente, directamente para o mato onde os esperavam dois anos de privações e outras aflições. Outros ainda iam uns dias para os Adidos, quartéis exemplares no pior sentido, onde nada havia, e outros ainda eram encaminhados para campos militares nos subúrbios da cidade, onde iam completar a instrução da metrópole e aclimatarem-se à nova vida.

Depois, depois era o desconhecido. Era a guerra na pior acepção da palavra, era o arame farpado, as operações para reabastecimento de tudo e mais alguma coisa, incluindo a água. A fome, a sede e as emboscadas eram frequentes, como eram os combates e os ataques aos aquartelamentos, os mortos e os feridos, as evacuações pelo ar, a saudade, etc.

E o tempo lá ia passando. Quem podia, quer dizer quem tinha dinheiro para tanto, lá vinha passar um mês de férias à Metrópole e muitos, depois, até se enganavam no dia do regresso a África e lá iam de comboio ou a salto até Paris.

No regresso, no mesmo ou noutro barco e alguns até já de avião, lá regressavam, muitas vezes cheios de mazelas no corpo e no espírito, mas era sempre uma alegria o regresso. A cena do cais agora era ao contrário. O barco começava a aproximar-se, normalmente bem cedo, pela manhã, e os lenços a acenar desta vez queriam manifestar a satisfação pelo regresso. Os outros, alguns, mas só alguns dos que por lá tinham tombado, esses eram retirados mais tarde, longe da vista da multidão e depois encaminhados em armões militares para as suas terras de origem. 

Era a guerra que resistiu treze longos anos e que mesmo depois do 25 de Abril ainda causou baixas em alguns teatros de operações. Dizem as estatísticas que foram cerca de 10.000 mortos contabilizados.

É certo que muito se tem escrito ultimamente sobre este capítulo da nossa História, mas relatos destes, simples mas honestos, nunca serão demais para que a memória não esqueça e para que os mais novos fiquem a saber o que uma certa juventude, a daquele tempo, passou e que os senhores do poder continuam a não reconhecer. Mas até isso faz parte da História. A carne para canhão sempre foi barata e esquecida. Serviram-se dela mas nunca a reconheceram, pelo menos por cá. É esta a realidade dos factos que convém não esquecer mesmo agora que se está a comemorar mais uma vez, a 38ª, a Revolução dos Cravos, o 25 de Abril, que levou ao fim da guerra.

Carlos Pinheiro
2 de maio de 2008

(Revisão e fixação de texto, para efeitos da edição deste poste: LG)
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Notas do editor:


(***) Vd. poste de 25 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7173: Tabanca Grande (250): Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG (STM/QG/CTIG, 1968/70)

(****) Vd. poste de 28 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9822: Blogoterapia (210): "Estórias" da guerra colonial (Carlos Pinheiro)