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domingo, 20 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24571: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (41): "Frutos do mar" de Narvik, Noruega e... bifinho de novilho de alce de Kiruna...(Mas tenho inveja das nossas muito especiais amêijoas...) (José Belo, Suécia)


Suécia > Lapónia > Agosto de 2023 > "Os alces vitelos que vêm comer maçãs junto às arrecadações nas traseiras da minha casa"

Foto (e legenda): © José Belo (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso (ou "semi-nosso"), luso-sueco,  Joseph Belo (tem mais de  250 referências no nosso blogue, é membro da Tabanca Grande desde 8 de março de 2009); foi alf mil inf da CCAÇ 2381, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; é capitão do exército português reformado; é jurista e empresário, vivendo atualmente entre a Suécia e os EUA):

Data - 20 ago 2023 2:23
Assunto . Petiscos e…inveja!... Principalmente inveja das amêijoas!



Inveja...  Principalmente inveja das amêijoas!

Tenho a cidade costeira norueguesa de Narvik a umas centenas de quilómetros da minha casa. [De Kiruna a Narvik, sáo cerca de 180 km, duas horas e meia a conduzir.]

É lá que compro bacalhau (fresco!) e marisco a preços muito baixos em relação aos portugueses actuais e, na Noruega, não são propriamente….pobrezinhos!

A lagosta, os lagostins e o camarão do Mar do Norte são fantásticos, não lhes ficando atrás o enorme mexilhão.

Tudo comprado em mercado no próprio cais.

Infelizmente fazem falta as nossas muito especiais amêijoas.

Quanto à carne fresca (!) uma imagem vale mais que mil palavras: os alces vitelos vêm comer maçãs junto às arrecadações nas traseiras da minha casa.


Um grande abraço, JBelo

2. Comentário do editor LG:

Zé, fico feliz por saber que, em matéria de comes & bebes, não te falta nada... (faltam-te as "small female Portuguese clams", mas , bolas!|, não se pode ter tudo, ou melhor, não sejas "abelhudo", não se deve ter tudo; para a próxima vens cá comè-las "chex Alice")...

Sem querer puxar a brasa à minha sardinha (a sardinha de Pemiche é pescada aqui em frente, no Mar do Cerro), temos na Lourinhã uma tradição, já antiga, de pesca, armazdenagem e distribuição de marisco ("frutos do mar)... Dizem que era negócio de judeus (leia-se: cristãos novos)... Os viveiros começaram por ser construídos nas rochas (Porto das Bracas, Porto Dinheiro, Paiomogp...).

Conheço pelo menos très grandes empresas, familiares,  que abastsecem as melhores marisqueiras do país, importam e exportam e tèm modernos "viveiros" aqui, no concelho da Lourinhá... Duas tèm inclusive restaurantes e loja de venda ao pública de marisco vivo... Passe a publicidade, aqui ficam os endereços, da mais  antiga para  a mais recente:


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Nota do editor:

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18303: Da Suécia com saudade (58): No dia nacional Sápmi [Lapónia], 6 de fevereiro... Recordando o(s) colonialismo(s) escandinavo(s) e russo (José Belo)





 Suécia > Sápmi [Lapónia] e samer [lapões]... O seu dia nacional é a 6 de fevereiro

Fotos do arquivo do José Belo / Tabanca da Lapónia (2018). Cortesia do autor.[Edição e legendagem complementar : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Belo, o português mais "assuecado" (ou o sueco mais "aportuguesado"...) da Tabanca da Lapónia e da Tabanca Grande

[Fotos à esquerda e direita: José Belo, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381,Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; cap inf ref, é jurista, vive na Suécia há 4 décadas, e onde formou família: reparte o seu tempo entre a Suécia, a Lapónia Sueca e os EUA, onde família tem negócios; tem 125 referências no nosso blogue]




Data - 2 fev 2018
Assunto - "Santos da casa näo fazem milagres"...ou...talvez pior...


Nos anos sessenta a Suécia estava na vanguarda de todas as votacöes anticolonialistas nas Nações Unidas.

O Reino Sueco contribuía com generosidades de largos milhares de Koroas anuais para tudo o que eram auxílios em material sanitário, hospitais, escolas, alimentos, viaturas, motores para barcos, etc, etc, etc.

Ao mesmo tempo que um povo autóctone habitava, desde há  mais de 2.500 anos,o extremo norte do Reino Sueco, bem dentro do Círculo Polar Árctico. Um povo cujos direitos, liberdades e outras condições sociais eram."limitadas" pelo governo central. ( Uso o termo "limitadas", para ser diplomático).

A língua local era proibida de ser usada fora do círculo familiar, querendo isto dizer em termos concretos....unicamente dentro da própria casa. Nem em documentos administrativos ou declaracões oficiais;nem nas escolas, igrejas, ou mesmo nas trocas comerciais em mercados.
O modo típico de cantar,assim como os instrumentos de música locais e cânticos radicionais, estavam proibídos.

Todas as formas artesanais representativas da ancestral religião local, fossem elas em madeira, pedra, tecidos ou peles,eram regularmente recolhidas entre as poucas aldeias locais e queimadas, normalmente junto das igrejas, em típicos "autos de fé" locais.

A mesma igreja (, considerada até há bem poucos anos parte integrante do Estado sueco), que, ao aperceber-se das oportunidades comerciais,em impostos sobre a vasta fauna, negócios de peles, carne, pesca, assim como das infindáveis riquezas  minerais, obteve do governo, (entäo empenhado em iniciativas missionárias de ocupação), a garantia de lhe ser concedida uma área circular de 10 quilómetros em volta de cada uma das igrejas por ela construídas.

À primeira vista,e tendo em conta a vastidão infindável da Lapónia, 10 quilómetros poderá fazer sorrir. Posso dar como exemplo o facto de o vizinho mais próximo(!) da minha casa estar a uma distância de 274 quilómetros  [, o equivalente ao percurso Lisboa-Faro]...

Mas, e inteligentemente, os locais escolhidos para as construções das igrejas foram sempre os mais ricos em fauna, pesca,ou minérios. E não só, pois também tinham em conta os locais de convergëncia das caravanas de renas, e de todas as feiras comerciais resultantes.

Para mais,e como todos os outros povos considerados primitivos pelo civilizador branco, os locais (näo sabendo nem ler nem escrever) näo dispunham de documentos comprovativos de posse de qualquer palmo de terra, mesmo nos terrenos tradicionalmente habitados por um povo entäo maioritariamente nómada ,acompanhando as manadas de renas em deslocaçöes contínuas de pastagens em pastagens de acordo com as estações do ano.

Assim,o tal círculo de 10 quilómetros à volta das igrejas construídas tornou-se mais "espiritual" do que material, passando a crescer (digamos milagrosamente) de ano para ano.

Desde Estocolmo o governo procurou estabelecer uma administração local com quadros de funcionários, centros judiciários, polícia,  escolas e professores, assim como alguns quarteis militares.
Obviamente que os locais, totalmente analfabetos, não tinham condições de ocupar tais cargos.
Tornou-se necessário criar condições "convidativas" para fazer deslocarem-se para a zona os quadros minimamente necessários.

Não só em termos salariais, como também em prerrogativas das mais variadas, estas eram sempre em prejuízo dos habitantes locais. Tendo em conta que a Lapónia se encontra 1.500 quilómetros ao norte de Estocolmo,e que tradicionalmente a maioria da populacão  vive ao sul da capital, não foi fácil o recrutamento para os cargos.

Numa época em que as poucas estradas existentes não eram transitáveis na maioria do ano, e o caminho de ferro ainda não tinha sido inventado, 1.500 quilómetros somados
as condiçõees extremas do Círculo Polar, fizeram com que a maioria dos que vieram a estabelecer-se não seria a "nata" da sociedade sueca de então.

Muitos ambiciosos e aventureiros na busca de fortuna rápida que acabaram por comprar por precos mais do que "simbólicos" imensidões de florestas, áreas ricas em minérios de primeira qualidade,e lucrativos entrepostos comerciais.

A maior mina europeia de ferro de primeiríssima qualidade cá está em Kíruna, a indústria de madeiras que veio a criar a gigantesca indústria de papel sueca, as companhias hidroelécticas, fornecendo energia para toda a Escandinávia e continente, só para citar algumas.

Numa outra página negra nas relacöes do governo central com a população local,(agora nos tão
próximos anos de 1940 a 1956),foi estabelecido todo um programa de estudos rácicos, enquadrado por docentes do mais alto nível universitário, médico e antropológico, centrado na famosa universidade de Uppsala, com o fim de estudar e examinar detalhadamente milhares de lapões,de ambos os sexos e de todas as idades.

Os indivíduos, completamente nus, eram fotografados em várias posições, e entre outras observações ,os crânios eram medidos meticulosamente com aparelho especial, numa busca de estabelecer "científicamente" as diferençaas entre os escandinavos e estes...inferiores.

Tudo se encontra criteriosamente arquivado em vastos volumes,acompanhados dos álbum fotográficos e de esqueletos retirados dos cemitérios tradicionais, contra a vontade dos familiares.
Toda esta documentação, obtida no mesmo período em que a Alemanha nazi efectuava estudos semelhantes, está hoje aberta aos que a queiram consultar na Universidade.

No aspecto educacional, enquanto em toda a Suécia os programas escolares eram centralizados (e iguais) quanto ás disciplinas normais europeias, na Lapónia até 1966 (!!!) o ensino liceal era todo orientado para a criação de renas e para as técnicas florestais e cinegéticas.

Aparentemente muito lógico tendo em conta as realidades locais (apesar de hoje em dia só 14% dos lapöes se dedicarem á criacäo de renas). Mas,em verdade, não dando aos locais por falta das habilitações escolares necessárias, qualquer possibilidade de acederem ás universidades ou a outro ensino técnico superior, tão necessários para empregos na Escandinávia.

E,repetindo-me...isto até ao ano de 1966! A tal década em que a Suécia tanto votava nas Nações Unidas pelos direitos dos povos...colonizados.

Hoje, 6 de Fevereiro,  é oficialmente o dia nacional Sápmi. De uma Sápmi que tem já universidades locais; um Parlamento próprio que cria as leis regionais feitas em colaboração com os Samer da Noruega e Finlândia, e com um estatuto especial reconhecido pelos governos destes países; a língua local é ensinada de novo nas escolas e usada nas cerimónias oficiais.

Dispöe de televisão e estações de rádio também locais, com programas transmitidos para toda a Escandinávia. Com bandeira a ser hasteada ao lado da sueca em todos os edifícios oficiais,ou isolada, aquando dos feriados locais reconhecidos pelo governo central.

O "ambiente de fundo" já näo é hoje o mesmo do anterior. Apesar de ainda surgirem ,de vez em quando cenas de pugilato entre jovens de famílias locais e outros de famílias "escandinavas", tanto em discotecas como infelizmente em liceus ,(näo menos... na zona norueguesa).

Como curiosidade histórica,o método usado na zona da lapónia Russa quanto á "integração" durante os tempos soviéticos foi o de retirarem as crianlças em idade escolar do seio das famílias,enviando-as para receberem educapção primária ,liceal e universitária, em zonas muito afastadas culturalmente das tradicionais.

Os mesmos só podiam regressar ás famílias depois de terminada a educacäo escola. O sistema funcionava melhor que o escandinavo no respeitante à educação escolar dos indivíduos. Mas a falta total de contacto com as famílias e tradições em todo um longo período de formação, levava a que muitos já não se sentiam "em casa" ao regressar, acabando por afastar-se de novo para outros locais, não utilizando assim, dentro das zonas tradicionaisos, os conhecimentos adquiridos.

Por este motivo é hoje difícil saber-se o número total de indivíduos deste grupo étnico  existente na Rússia, sendo todas as estatísticas "aproximadas".

Um abraço.
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18301: Da Suécia com saudade (57): Algumas coisas que um tuga tem que saber quando vier à Tabanca da Lapónia (José Belo)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16988: Em busca de.. (273): Armindo da Luz (ou Cruz?) Ferreira, ex-1.° cabo n.° 300, 1.° Batalhão Expedicionário do RI 11 (Cabo Verde, Ilha do Sal e Ilha de Santo Antão, junho de 1941 - dezembro de 1943), avô de Albertina Gomes (médica, Noruega)... Diligências do nosso blogue e colaboradores, Augusto Silva Santos e José Martins


Cabo Verde > Ilha de Santo Antão > 1943 > A trágica miséria em que grande parte da população vivia no interior da ilha... Recorde-se que em 1940 e depois em 1942 e anos seguintes a seca prolongada foi responsável por uma das maiores catástrofes demográficas da história de Cabo Verde: este é, de resto, o pano de fundo do romance Hora di Bai, publicado em 1962, pelo escritor português Manuel Ferreira (1917-1994), também ele mobilizado como expedicionário em 1941, para São Vicente.


Cabo Verde > Ilha de Santo Antão > 1943 > Festa de São João. A companheira do Armindo da Luz (ou Cruz ?) Ferreira, mãe de Armindo Maria Gomes (, nascido por volta de 1942, ) e avó de Albertina Gomes (, hoje médica patologista, a viver e a trabalhar na Noruega), era natural de Santo Antão. Dizemos "era", porque presumimos que já tenha morrido. 

Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, com data de ontem, de Augusto Silva Santos
 [, ex-fur mil, CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73]


Assunto - Procuro dados ou família do ex-1°cabo n° 300 /1° Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (1941-1944)

Olá, boa noite!

Relativamente ao assunto em questão (*), lamentavelmente até agora não tenho nada de relevante a acrescentar.

Tentei, através da escassa documentação que ainda possuo sobre a passagem do meu falecido pai [, Feliciano Delfim Santos (1922-1989)], por terras de Cabo Verde, nas datas assinaladas, descortinar algo que pudesse ajudar na pesquisa, mas não encontrei nada.

Tenho algumas fotos, onde eventualmente poderá estar presente a pessoa procurada (Armindo Ferreira) mas, infelizmente, para além do local e da data, nas mesmas não aparece qualquer outra identificação ou referência.

Também já tentei encontrar ex-camaradas do meu pai desse tempo (tinha referência de alguns, dos convívios que faziam anualmente), mas a informação entretanto recolhida é de que já faleceram, o que é perfeitamente natural (nesta altura já contariam entre os 95 e os 97 anos).

O meu pai era dos mais novos, pois apresentou-se na altura como voluntário para o serviço militar, com 18 anos.

Vou continuar a tentar, mas receio não conseguir nada de positivo.

Melhores Cumprimentos,
Augusto D. Silva Santos


2. Mensagem, do mesmo dia, do José Martins, 
nosso colaborador permanente [, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70]

Boa noite

Tive conhecimento, através da neta [, Albertinba Gomes,] que nos contactou, que Armindo da Luz (ou Cruz ?) Ferreira teria nascido na zona de Lisboa e que teria prestado serviço na polícia.

Contactada a PSP, pediram a informação da data de nascimento e a sua naturalidade, sem as quais não poderiam iniciar a pesquisa.

Esses mesmos elementos serão pedidos pelo Arquivo Geral do Exército.

Vamos ver o que se consegue.
José Martins


3. Comentário do editor

Obrigado, Augusto... Infelizmente, é uma geração praticamente  já extinta... O único contacto que ainda mantenho com malta do tempo do meu pai, Luis Henriques (1920-2012) é com um ex-furriel, António Correia Caxaria, de quase 100 anos [, nasceu em finais de 1917, era portanto dois anos e meio mais velho que o meu],  mas que esteve sempre no Mindelo, com ele...

Vou publicar a tua mensagem, apesar de tudo... Pode ser que o nosso "Sherlock Homes", o Zé Martins, consiga descobrir algo mais, nos arquivos... Ele tem um sexto sentido apuradíssimo, e a persistência, própria de um bom investigador... Já tem feito milagres...

Ao que parece, e segundo informação da neta, a dra. Albertina Gomes, o nosso camarada Armindo teria passado pela PSP - Polícia de Segurança Pública... Há alguma esperança de encontrar o seu nome nos arquivos desta corporação policial, se soubermos o ano exato em que nasceu...

Se o teu pai foi voluntário, com 18 anos, tendo nascido em 1922, o Armindo deveria ser dois anos mais velho, deve ter nascido em 1920, tal como o meu pai... O meu nasceu em 19/8/1920, ainda tinha 20 anos, ia fazer 21, quando chegou ao Mindelo em julho de 1941, tendo regressado em setembro de 1943. Nunca saiu de São Vicente, mas teve camaradas em Santo Antão. Recordo-me de me ter falado que pediram voluntários para Santo Antão (, a ilha de que era originária a avó paterna da Albertina Gomes).

 O Armindo regressou a Portugal em finais de 1943 e provavelmente deve ter entrado para PSP, e  casado. Não sabemos se manteve posteriormente contacto com a família em Santo Antão.
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quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16970: Em busca de... (272): Meu avô paterno, português, de seu nome Armindo da Luz (ou Cruz?) Ferreira, ex-1.° cabo n.° 300, 1.° Batalhão Expedicionário do RI 11 (Cabo Verde, Ilha do Sal e Ilha de Santo Antão, junho de 1941 - dezembro de 1943)... (Albertina Gomes, médica, Noruega)


O navio a vapor "João Belo" que transportou, em junho de 1941, o pessoal do 1.º batalhão  expedicionário do RI II (Ilha do Sal, 1941/43)


Cabo Verde >Ilha do Sal > 1942 > O Feliciano Delfim Santos (1922-1989), 1.º cabo, 1.ª Companhia, 1.º Batalhão, RI 11, à direita, com outro 1.º cabo, de que se desconhece a identidade.

Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem da nossa leitora Albertina Gomes, médica, a viver e a trabalhar na Noruega:

Data: 19 de janeiro de 2017 às 08:39

Assunto: Procuro dados ou família do ex-1°cabo n° 300 /1° Bat Exp do RI 11, Cabo Verde em 1941-1944

Sr. Luís Graça,

Com muito respeito venho por este meio contactar o senhor após ter lido o seu blog onde relata sobre o seu amigo e pai que foi um ex-expedicionário a Cabo Verde na II Guerra Mundial.

O assunto me interessa bastante assim como ao meu pai que ė filho de um ex-expedicionário a
Cabo Verde na mesma altura que o seu pai permaneceu nesse arquipélago.

Vou me apresentar: Albertina da Conceição Gomes, médica patologista, residente em Noruega, filha de Armindo Maria Gomes.

Estou à  procura de algum dado que me leve a conhecer mais a história ou família do meu avô paterno. As únicas informações que o meu pai, com 74 anos, tem do pai dele são estas:

(i) Armindo da Luz Ferreira, ex- 1° cabo n° 300,
companhia 11 [?], no período 1941-1944 (1943?)

(ii) foi colocado na Ilha do Sal (na altura tinha 21 ou 22 anos);

(iii)  meses antes do regresso a Portugal, esteve na Ilha de Santo Antão com a minha avó e o meu pai, na altura meu pai tinha 16 ou 18 meses.

Foi o pai dele que lhe pôs o nome de Armindo e que em casa devia ser chamado por Salvador (em honra do irmão mais velho do meu avô).

Numa das viagens que o meu pai fez a São Tomé,  conheceu um médico que foi grande amigo e ex-companheiro de serviço em Cabo Verde. Segundo esse amigo, o meu avô se chamava ou chama Armindo da Cruz Ferreira. Quando o meu pai viajou a Portugal, na tentativa de conhecer o pai,  não encontraram nenhum registo com esse nome de Armindo da Cruz Ferreira.

Agradeceria se pudesse ajudar-me em encontrar alguma pista do meu avô ou família.

Saudações,
Albertina Gomes.


2. Resposta do editor:

Cara amiga e doutora Albertina Gomes: as minhas melhores saudações, e votos de que  consiga as informações que procura, incluindo o contacto da família do seu avô, aqui em Portugal e em Cabo Verde. Da nossa parte, ficamos muito sensibilizados pela sua mensagem. Vamos ver em que é pudemos ajudar.

Temos um camarada nosso, membro deste blogue, Augusto Silva Santos, cujo pai, Feliciano Delfim dos Santos, era também 1º cabo e pertencia ao 1º  batalhão do Regimento de Infantaria nº 11 [, RI 11, de Setúbal, ] que esteve na Ilha do Sal, com passagem pelas ilhas de  Santiago e Santo Antão, entre 1941 e 1943. Veja aqui, se é que não viu já. o nosso poste P9674 (*).

Vou pô-la em contacto com o meu camarada Augusto Silva Santos, ele poderá ter mais informação do que aquela que publicou no poste P9674. Infelizmente, o pai do Augusto, já morreu, em 1989. (Nasceu em 1922, deveria pois ser da mesma idade do seu avô Armindo, e seguramente que se conheciam, e muito provavelmente até pertenciam à mesma companhia, 1 ª; em princípio, um batalhão tem 4 companhias, de cerca de 150/160 homens cada uma: a companhia do seu avó deve ser a 1ª e não a 11ª, que em princípio não existiria). O percurso do Feliciano Delfim deve ter sido o mesmo: ambos eram 1ºs cabos, embora pudessem não ter a mesma especialidade.

Vejamos, sumariamente, o que diz o meu camarada a respeito da vida na tropa do pai dele:

(i) nasceu em 1922, em Lisboa;

(ii) terminou a recruta em julho de 1940, no RI 11, Setúbal;

(iii) frequentou posteriormente a escola de cabos;

(iv) foi 1º  cabo, com a especialidade de Observador Telemetrista;

(v) foi mobilizado para fazer parte do 1º Batalhão Expedicionário do RI 11 (Setúbal)  / 1ª Companhia, com destino à então colónia de Cabo Verde, durante o período da 2ª guerra mundial;

(v) em meados de junho de 1941, já com mais de um ano de tropa, embarcou no navio a vapor "João Belo", tendo desembarcado na cidade da Praia, ilha de Santiago, a 23 do mesmo mês;

(vi) o Batalhão viria a ser colocado na ilha do Sal, a mais inóspita de todas as ilhas do arquipélago, "onde já não chovia há 5 anos, não havia árvores, água potável, fruta, e legumes frescos";

(vii) transitou também por outras ilhas  (Santo Antão e S. Vicente), onde a água potável para consumo diário era igualmente racionada (não chegando a um cantil) e, para banhos, só havia água salgada;

(viii) dos cerca de mil  homens que inicialmente compunham as forças do RI 11 (1º batalhão  mais a companhia de comando regimental), no final só viriam oficialmente a regressar à metrópole,  incorporados no mesmo, cerca de 500: morreram na missão perto de 20 militares (todos eles por doença), e os restantes foram regressando antecipadamente por baixa médica, na sequência das mais diversas doenças (escorbuto, tifo, paludismo, anemia, disenteria, tuberculose, doenças venéreas, etc.);

(ix) regressou à Metrópole  no início de dezembro de 1943, e a passagem à disponibilidade (, ou seja, à vida civil) foi no final do mesmo mês, ao fim de uma comissão de serviço de 30 meses (dois anos e meio: junho de 1941 / dezembro de 1943).

Cara Albertina, entre estas duas datas (junho de 1941 e dezembro de 1943), nasceu o seu pai, que esteve com o seu avô e a sua avó na ilha de Santo Antão, "meses antes do regresso a Portugal"; se o seu pai tinha 16/18 meses, o seu avô deve ter conhecido a sua avó no ano de 1942, e muito provavelmente na ilha do Sal (onde o 1º batalhão expedicionário do RI 11 passou a maior parte do tempo, se não mesmo a totalidade).

A sua avó será da ilha de Santo Antão, o seu avô deve ser do sul de Portugal, talvez Alentejo, ou até de Lisboa (como o Feliciano Delfim), tendo sido mobilizado pelo RI 11, de Setúbal.

Deixe-me ser sincero consigo: a probabilidade de o seu avô  ainda estar vivo é pequena, tendo em conta o ano do seu nascimento e a esperança média de vida da sua geração, embora eu ainda conheça alguns, raros, homens desse tempo... O meu pai, nascido em 1920 e também mobilizado nessa época para o Mindelo, por exemplo, morreu aos 92 anos, mas ainda tem um camarada vivo, com cerca de  97 anos, com quem costumavam ir aos convívios anuais do pessoal expedicionário  do RI 5,  nas Caldas da Rainha.

Também o Feliciano Delfim Santos "na sua passagem por aquelas terras, chegou a viver maritalmente com uma local, de seu nome Maria Helena Almeida, de quem viria a ter um filho chamado Fernando Almeida Santos" (...). Ambos faleceram prematuramente por doença, muito provavelmente na sequência da seca e da fome que assolaram  tragicamente  as ilhas naquela época. (*)

O pai do meu amigo e camarada Augusto Silva Santos morreu, precocemente, aos 66 anos, reformado como  civil da Marinha de Guerra portuguesa. 

Quanto ao meu pai,  Luís Henriques (1920-2012), também ele era 1º cabo, tendo estado como expedicionário,  nesta época,  em Cabo Verde,  no Mindelo, ilha de São Vicente, mas pertencia a outra unidade, o 1º batalhão do RI 5, Caldas da Rainha.  Portanto, não é uma boa pista para chegar ao paradeiro do seu avô Armindo. A maior parte das forças expedicionárias, mobilizadas para Cabo Verde, na II Guerra Mundial, concentravam-se no Mindelo.

Haverá mais informação a explorar no Arquivo Histórico Militar, do Exército Português, em Lisboa, mas de momento não tenho qualquer disponibilidade para passar por lá e fazer mais pesquisas na Net. A informação que  partilhamos consigo é toda ela oriunda do nosso blogue.

Outro camarada nosso que poderá ajudar a dra. Albertina Gomes é o Adriano Miranda Lima, natural de Mindelo, São Vicente, coronel de infantaria na reforma, residente em Tomar, que tem escrito no nosso blogue e noutros blogues sobre este período e as tropas expedicionárias portuguesas. Vou pô-la também em contacto com este camarada e com o nosso colaborador permanente, José Martins, que tem informação preciosa sobre os nossos mortos desta época (**) bem como sobre o dispositivo militar em Cabo Verde (***).

Para já, tudo indica que o seu avô tenha regressado vivo a Portugal. Para localizar a família, era importante saber a terra ou região da sua naturalidade.

Segundo o trabalho de pesquisa do nosso camarada José Martins, o número total de expedicionários metropolitanos em Cabo Verde, durante a II Guerra Mundial, era superior a 6300, mais de metade dos quais (cerca de 53%) estavam concentrados numa só ilha, a ilha de São Vicente, dado o seu interesse estratégico (porto atlântico ligando a Europa com a América Latina, a par dos cabos submarinos, na baía do Mindelo). O resto distribuía-se pela ilha do Sal (35,3%) e pela ilha de Santo Antão (11,8%). No Sal, o RI 11 tinha mais de 1100 homens (1 batalhão mais comando e serviços). Os batalhões do RI 5, RI 7 e RI 15 (uma parte)  estavam em São Vicente (e outra  parte do batalhão do RI 15 em Santo Antão).

O seu avô paterno, Armando da Luz Ferreira (ou Cruz Ferreira...) deve ter passado a maior parte do tempo na então inóspita ilha do Sal.

É tudo o que, por enquanto, lhe podemos "oferecer". Vamos responder-lhe por email, para lhe dar os contactos acima referidos. Disponha deste blogue para levar a cabo (e dar conta de) as suas diligências na pesquisa da sua história familiar (****).

Boa saúde, bom trabalho. (LG)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de março de  2012 >  Guiné 63/74 - P9674: Meu pai, meu velho, meu camarada (27): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto S. Santos)

(**) Vd. poste de 21 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10284: Meu pai, meu velho, meu camarada (31): Expedicionários em Cabo Verde, mortos entre 1903 e 1946 e inumados nas ilhas de São Vicente e Sal (Lia Medina / José Martins)

(***)  20 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10282: Meu pai, meu velho, meu camarada (30): Dispositivo militar metropolitano em Cabo Verde (Ilhas de São Vicente, Santo Antão e Sal) durante a II Grande Guerra (José Martins)

(****)  Último poste da série > 3 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16553: Em busca de... (272): Major inf (hoje possivelmente cor inf ref) Carlos Graciano de Oliveira Gordalina... O meu pai, antigo fuzileiro do DFE 12, encontrou há anos umas tábuas de madeira exótica (talvez alguns salvados) com o seu nome pintado a branco... Sabemos que este oficial foi secretário da direção da Liga da Multissecular Amizade Portugal - China, em 2011/14 (Rui Ribolhos)

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13853: Da Suécia com saudade (43): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte IV): Rússia e Suécia, vizinhos e inimigos fidalgais, foram os dois países que mais auxiliaram o partido de Amílcar Cabral (José Belo)


Guiné-Bissau > PAIGC > s/l> Novembro de 1970 > Algures, nas "áreas libertadas", foto do norueguês Knut Andreasson, com um grupo de homens, jovens adultos, possivelmente balantas e guerrilheiros, a maioria deles descalços, ostentando todos eles o livrinho de leitura da 1ª classe, o primeiro em uso nas escolas do PAIGC (e que, se não erro, foi oferecido por estudantes noruegueses e impresso na Suécia, num total de 20 mil exemplares).

Fonte: Nordic Documentation on the Liberation Struggle on Southern Africa  [Com a devida vénia]

[As fotos podem ser usadas, devendo ser informado o Nordic Africa Institute (NAI)  e o fotógrafo, quando for caso disso. Este espólio fotográfico  de Knut Andreasson (, relativo à visita ao PAIGC  e, alegadamente,  às áreas sob o seu controlo, em novembro de 1970,  de uma delegação sueca) foi doado pela viúva ao NAI.]


Imagens da capa de "O NOsso Livro Livro da 1ª Classe", o primeiro livro de leitura, usado nas escolas do do PAIGC... Exemplar capturado pelo nosso camarada Manuel Maia no Cantanhez, possivelmente em finais de 1972 ou princípios de 1973. Vê-se que esse exemplar tinha uso. A capa teve de ser reforçada com uns improvisados adesivos (aparentemente autocolantes, que acompanhavam embalagens de apoio humanitário, vindas do exterior).

Foto: © Manuel Maia (2009). Todos os direitos reservados

José Belo

1. Continuação de alguns dados e notas de contextualização sobre a ajuda sueca ao PAIGC, a partir de 1969, e depois à Guiné-Bissau, a seguir à independência (*):


Data: 3 de Novembro de 2014
Assunto:   O exemplo sueco é seguido por outros países


Resumo: 

Durante a guerra o governo sueco enviou para o PAIGC um total de 53,5 milhöes de coroas, ao valor actual [c. 5,8 milhões de euros]. Destinaram-se a financiar a maioria das actvidades civis do partido: alimentacäo, transportes, educação, saúde, incluindo um vasto número de avultados fornecimentos às Lojas do Povo. 

A Guiné foi posteriormente incluída (como único país da África Ocidental) nos chamados "países programados" para a distribuicäo da assistência sueca ao desenvolvimento. Recebeu durante o período de 74/75 a 94/95, um total de  2,5 mil milhões de coroas suecas [c. 270 milhões de euros], colocando a Suécia entre os 3 maiores assistentes económicos da Guiné-Bissau. 

A Suécia nunca deu nenhum cheque em branco ao PAiIGC, tanto mais que Portugal era um dos seus importantes parceiros comerciais no âmbito da EFTA - Associação Europeia do Comércio Livre, a que ambos os países pertenciam, e de que foram membros fundadores. Ainda em vida de Cabral, em abril de 1972 o Comité ds Nações Unidas para a Descolonizacäo tinha adoptado uma resolução reconhecendo o PAIGC como o único e legítimo representante do território da Guiné-Bissau. Foi um tremendo sucesso político-diplomático para o PAIGC. Isso em nada alterou o pragamtismo da diplomacia sueca. A Suécia só irá reconhecer a Guiné-Bissau como país independente, em 9 de agosto de 1974, ano e meio depois da  morte de Amílcar Cabral (que também era um político pragmático).


1. O auxílio sueco ao PAIGC abriu caminho a um cada vez maior número de apoios de outros países ocidentais.

A Noruega estabeleceu em 1972 uma assistência oficial e directa,semelhante ao modelo sueco, que veio a ter grande repercussão política internacional pelo facto de ser um país membro da NATO.

Neste período eram a Suécia e a Uniäo Soviética  (URSS) os países que mais apoiavam o PAIGC.

Um apoio de modo algum coordenado mas... real, numa divisäo "de facto" de funções entre os dois países, que mais tarde se veio a manter em relação aos outros movimentos de libertação africanos.

Apesar de tanto os Estados Unidos como outros países ocidentais acusarem a Suécia de fazer causa comum com o bloco comunista, isto não veio impedir que o Parlamento Sueco e o Governo Social Democrata continuassem a aumentar gradualmente a assistência não militar.

Deve-se no entanto ter o cuidado de colocar estas acusações dentro de uma perspectiva realista da história local.

O "inimigo histórico tradicional" da Suécia é a Russia,  e para tal basta abrir um qualquer livro de 
história da instrução primária sueca.

Isto independentemente de ser a Rússia do séc XVII, a Rússia dos comunistas ou...a Rússi actual.

José Belo

(continua)
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Nota do editor