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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12403: O que é que a malta lia, nas horas vagas (9): O único título que lembro é o "Diário de Lisboa" (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 4 de Dezembro de 2013:

Caríssimos Luís e Carlos,
Cordiais saudações.

Excelente a ideia: O que a malta lia..., para melhor documentar o nosso quotidiano em terras Africanas. Lamentavelmente, pouco posso colaborar, pois, apesar do meu pai se preocupar com a minha saúde, física e mental, enviando regularmente, alimentos, jornais, revistas e livros, o único título que lembro é o "Diário de Lisboa", também não encontrei no fundo do baú nenhuma foto lendo (também não tem nenhuma com canhão).

Mas, como disseste noutra data: "as palavras são como as cerejas", associado com a campanha do "NÃO ao Acordo Ortográfico", pensei na língua que a malta vai ler (escrever).
Plenamente consciente, que a minha opinião é minoritária, gostaria de fazer algumas perguntas.

Qual a língua que queremos, não diria para os nossos filhos, mas, para os nossos netos e bisnetos?
Uma língua que escreveremos "Orgulhosamente sós", como o homem de Santa Comba, mandou "martelar" os nossos ouvidos?
Ou pelo contrário, escreveremos numa língua de mais de 200 milhões de pessoas, praticada em todos os Continentes, uma das mais usadas línguas ocidentais?
Uma língua que pode ser ensinada em qualquer Universidade do mundo, simplesmente como LÍNGUA PORTUGUESA, e não mais como Português daqui ou dali?

"A minha pátria é a língua portuguesa", ao recusar o Acordo, não estaremos reduzindo a pátria do Senhor Nogueira Pessoa?
O acordo não é a "arte do possível"?
Ou será que que cinco Séculos depois, ainda pensamos que é nossa missão "dilatar a fé e o Império"?

A propósito, sou a favor do Acordo Ortográfico!
Alguns médicos médicos andam dizendo que a polémica, ajuda a afastar o "Doutor Alemão". Será?

Forte abraço a todos
Vasco Pires
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Notas do editor

Imagem do DL, com a devida vénia à Fundação Mário Soares

Último poste da série de 6 de Dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12398: O que é que a malta lia, nas horas vagas (8): As minhas leituras em Bajocunda (José Manuel Matos Dinis)

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9304: Estórias cabralianas (70): Sambaro, o Dicionário e o Afecto (Jorge Cabral)

1. Mensagem do Jorge Cabral, que também é,  além de um notável contador de estórias, um homem de afectos (com "c", não de cão mas de coração) e um activo facebook...eiro (com cerca de 2300 amigos e amigas, incluindo guineenses, como a sua antiga aluna de serviço social, a  B. B. Ferreira, nascida em Bissau em 1980, e aqui numa foto com ele, na Universidade Lusófona, em Lisboa)...

Além de professor de direito penal, agora reformado, é conhecido na praça e no blogue por ser um  escritor lusófono que diz não ao NAO (Novo Acordo Ortográfico):



Bom Ano, Amigos!

Com o AFECTO
do Jorge Cabral


2. Estórias cabralianas (70) > Sambaro, o Dicionário e o Afecto
por Jorge Cabral





Agora que tenho tempo,  tornei-me um caminheiro. Logo pela manhã abalo pela cidade. Travessas, calçadas, pátios, becos, vilas, percorro devagar essa Lisboa escondida, quase invisível.

Foi num desses passeios que encontrei Ansumane. Um negro velho e calvo, que entre a Travessa da Lua e o Beco das Estrelas, arengava em crioulo.

Dei-lhe os bons dias e ele apresentou-se:
- Ansumane Baldé, segurança.
- Segurança? Foi militar?
- Soldado de Artilharia, Número Mecanográfico 82062962, Guileje, com os Alferes…  - e desfiou uma lista de nomes.
- Eu estive na Guiné. Era o Alferes Cabral do Pel Caç Nat 63.
- Ah! O Alfero Bigodes!
- Sim,  usava um grande bigode. Mas como sabes? Estive sempre no Leste, em Fá e Missirá!
- Quando fugimos para o Senegal,  iam muitos soldados dos Pelotões Nativos. Do teu, foi o Sambaro, que já morreu. Morávamos na mesma Tabanca e muitas vezes falávamos de vocês todos. Sambaro, o homem da bazuca. Talvez quarenta anos, forte, sério, três mulheres, muitos filhos. Queria ser cabo e estudava, estudava para ir fazer o exame da 3ª classe a Bambadinca.


Quando voltei de férias ofereci-lhe um Dicionário. E que contente ficou! E leu e releu a dedicatória: “Para o Sambaro que é quase Cabo e ainda há-de chegar a Sargento. Com Afecto”.
- Alfero,  o que é Afecto? (ele lia o “c”)
- Procura no Dicionário, Sambaro. Que é para isso que ele serve.


Isto passou-se em Fevereiro de 1971. O Sambaro,  além da bazuca,  passou a carregar o dicionário. Ainda me lembro de o ver no Mato Cão a folheá-lo…


Disse-me o Ansumane que os filhos e os netos do Sambaro vivem para as bandas de Sonaco. E que será feito do dicionário?


Imagino um dos netos a procurar nele a palavra afecto;
- Olha,  Sambaro  Neto, se te  disserem que agora é afeto, não acredites. Ninguém lhe pode tirar o “c” de coração.


Jorge Cabral
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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9223: Estórias cabralianas (69): Onde mora o Natal, alfero ? (Jorge Cabral)