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segunda-feira, 11 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4317: Os Bu...rakos em que vivemos (8): Estância de férias Mato de Cão, junto ao Rio Geba (J. Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil da CART 3492, (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15, (Mansoa).

Caro Carlos

Tendo em vista a série Os Bu... rakos em que vivemos, lembrei-me do Mato de Cão, pois então, nome oficial segundo sei, da reconhecida estância de férias junto ao Geba, e que albergou durante largos meses o Bando do 52.

Ora bem, chegava-se ao Mato Cão, (tiro-lhe o de), vindo de Bambadinca, pelo rio Geba, de sintex a remos, aportando aos restos de um antigo cais(?), onde se desembarcava.

Se me não falha a memória, logo à esquerda, e com vista para a bolanha do lado do Enxalé, ficava o complexo dos balneários, sobretudo a zona de duches.
Dado o clima ameno e soalheiro, estes duches ficavam ao ar livre, e eram constituídos por um buraco no chão, que dava acesso a um poço, cheio de uma água leitosa, e que respondia inteiramente aos melhores padrões da qualidade de águas domésticas.

Os utentes colocavam-se à volta do referido buraco e, alegremente, todos nus em franca camaradagem, (nada de más interpretações!), utilizavam uma espécie de terrina da sopa, em alumínio da tropa, presa por umas cordas, e que, trazida à superfície cheia de água, era a mesma retirada da referida terrina com umas estéticas latas de pêssego em calda, derramando depois os militares a água sobre as suas cabeças para procederem aos seus banhos de limpeza.

Para se chegar ao destacamento propriamente dito, subia-se então uma ladeira íngreme, (o burrinho da água só a conseguia subir em marcha atrás), acedendo-se então à parada à volta da qual, mais coisa menos coisa, se desenvolvia todo o complexo militar.

À esquerda, salvo o erro, ficavam os espaldões de dois morteiros 81 e respectivas instalações, dormitórios do pessoal do pelotão de morteiros.

Um pouco mais à frente e do lado direito ficava o bar e a sala de banquetes, toda forrada a chapas de zinco e assim também coberta, sendo aberta do lado da frente para o exterior, como convém a instalações de férias em climas tropicais.

A arca a pitrol refrescava as cervejas que o pessoal ia com todo o prazer consumindo. Fazia também algum gelo para dar mais alegria aos uísques emborcados, sobretudo ao fim da tarde.

Para encurtar razões, e sobretudo o texto, os quartos de dormir eram todos situados abaixo do chão, cavados na terra, para que assim não se perdesse o calor que tanta falta fazia nas longas noites de Inverno da Guiné!

Por cima, o telhado, de chapas de zinco, era sustentado normalmente em paus de cibo, que assentavam em graciosos bidões cheios de uma massa de cimento e terra.
Lembro-me de como era agradável o jogo que então fazia, quando deitado na cama, os ratos, de quando em vez, passeavam por cima do mosquiteiro, e com pancadas secas os projectava contra o tecto, voltando depois a cair sobre o mosquiteiro.

Tal jogo e divertimento não se consegue nas melhores estâncias de férias das Caraíbas!

No espaço central deste planalto, (porque o Mato Cão era um pequeno planalto), erguiam-se as tabancas do pessoal africano do Bando do 52.

Tudo estava rodeado de umas incompreensíveis valas sobretudo para o lado Sinchã Corubal, Madina, Belel, junto à qual, se a memória não me atraiçoa, estava uma guarita térrea com uma metralhadora Breda.

Ao fim da tarde, e na esplanada do bar e sala de banquetes, bebendo umas cervejas e uns uísques, o pessoal esperava ansioso o ligar da iluminação pública, o que curiosamente nunca acontecia, talvez pelo facto de não haver gerador no Mato Cão.

Bem, o Mato Cão era um verdadeiro Bur…ako, tendo apenas a vantagem, valha-nos isso, do pessoal amigo do PAIGC não ter incomodado muito durante a minha estadia.

Há aliás um post no blogue, de alguém ligado à Força Aérea que faz uma descrição do Mato Cão, por onde passou de helicóptero, que é reveladora das condições de vida (**).

Ah,… uma coisa boa… tinha um lindíssimo Pôr-do-Sol!

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

Mando fotografias que podem escolher obviamente.
Tenho pena de não ter nunhuma dos banhos!!!
Na 2024 está este vosso amigo com os Furriéis Bonito, Santos e Varrasquinho, por ordem de alturas!!

A chega à Estância era sempre um momento vivido com prazer

Para que não fiquem dúvidas quanto à qualidade do serviço, aqui fica a vista parcial das modelares instalações

Na sala de jantar imperava o conforto e era obrigatório o uso de traje formal, como documenta a imagem

Um pequeno descanso após as lautas refeições, era sempre bem-vindo

Os momentos de diversão eram proprcionados utilizando os mais modernos equipamentos à disposição. Indispensável a companhia de animais domésticos, seleccionados entre as melhores raças da espécie.

Mais um recanto. Cada hóspede tinha direito a dois colaboradores, sempre atentos às suas necessidades

O convívio e a camaradagem são notáveis. Reparem que o camarada da direita (Fur Mil Varrasquinho), para não correr o risco de estragar a sequência de alturas, se encolhe ligeiramente

Prova de que não estamos aqui a enganar as pessoas, é este lindíssimo pôr-do-sol em Mato Cão.

Fotos: © J. Mexia Alves (2009). Direitos reservados.
Fotos editadas e legendadas pelo editor



2. Comentário de CV:

Desculpem-me, mas é mais forte do que eu. Tenho que meter a colherada.

O camarada Mexia há muito que nos presenteia com alguns mimos literários, carregados de humor e ironia. Duas coisas indispensáveis quando queremos doirar a pílula.

O período entre o 25 de Abril e o 1.º de Maio é, por excelência, a época em que, como aves migratórias, aparecem os heróis da clandestinidade, que coitados, em países subdesenvolvidos como França, Bélgica, Holanda e equiparados, para evitarem a chatice de irem fazer a guerra colonial, sofreram as mais violentas agruras, disparando perigosas canções revolucionárias, enquanto figurões, como o Mexia Alves, se deleitavam em luxuosos aquartelamentos militares da Guiné, Angola e Moçambique, onde a falta de conforto era coisa impensável.

No caso particular, Burako de Mato de Cão (***), fala quem sabe, pois as Termas de Monte Real foram fundadas pela família deste nosso camarada.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Maio > Guiné 63/74 - P4288: Espelho meu, diz-me quem sou eu (1): Joaquim Mexia Alves

Vd. último poste da série de 27 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4252: Os Bu... rakos em que vivemos (7): Destacamento de Rio Caium (Luís Borrega)

(**) Possivelmente o António Martins de Matos... Vd. poste de 11 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4010: FAP (15): Correio com antenas... (António Martins de Matos, ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74)

... Mas não é. O Joaquim já descobriu qual é, é um poste, mais antigo, de 2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)

Aqui vai um excerto: é uma história, bonita, de solidariedade entre a gente do ar e da terra:

(...) Mensagem de Nuno Almeida, ex-Esp MMA (Canibais), DFA Guiné, que vive em Lisboa (foto à esquerda, cortesia do blogue de Victor Barata, Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74), a quem agradeço, mais uma vez´, este depoimento, mas não volto a convidar para aderir à nossa Tabanca Grande, porque ele já cá está, de pleno direito... (LG):

Camarada Mexia Alves:

Estava a ler o blogue do Luís Graça e vi a sua referência a Mato Cão, o que me fez recordar um episódio, não sei se passado, também, consigo e que passo a relatar:

Fui mecânico de helicópteros da FAP e cumpri o ano 1972 na Guiné. Um dia, creio que no Verão de 1972, fui com um heli fazer o que, creio, se chamava o Comando de Sector (levar o [Ten-] Coronel de Bambadinca a visitar os aquartelamentos).

Fomos visitando vários locais e, quando sinto o piloto fazer manobra para proceder a uma aterragem, fico em estado de choque, pois não se vislumbrava nada no terreno que indicasse haver ali alguém ou algo minimamente capaz de albergar seres humanos. Inicialmente temi que o piloto tivesse detectado alguma falha no aparelho e fosse aterrar para que eu verificasse a condição do mesmo e poder continuar a voar. Mas quando aterramos (num espaço de mato desbravado e completamente inóspito), e a intensa poeira, levantada pelas pás do heli, começa a assentar, vejo surgirem, de buracos cavados no chão, homens em estado de higiene e aspecto físico degradantes (pelo menos aos olhos dum militar que dormia em Bissau e tinha água corrente para se lavar a seu bel prazer).

Chocou-me, e ao piloto também, a situação sub-humana em que esses homens estavam a viver.

A sua reacção, ao verem o [Ten-] Coronel, foi a de parecer que o queriam linchar, tal era a sua revolta pelo que estavam a ser obrigados a suportar.

Quando regressámos a Bambadinca, o piloto foi ao bar e comprou dois pacotes de tabaco Marlboro, escreveu neles algo que creio foi: "com a amizade da Força Aérea", e quando passámos à vertical de Mato Cão largámos esses pacotes, querendo demonstrar a nossa solidariedade para com quem tão maltratado estava a ser.

Mais tarde, em [25 de] Novembro de 1972, fui ferido [com gravidade], ao proceder a uma evacuação, na mata de Choquemone, em Bula, e aí melhor me apercebi das privações e sobressaltos que, a todo o momento, uma geração de jovens, na casa dos 20 anos, foi obrigada a suportar, adquirindo mazelas físicas e, principalmente, psicológicas, que ainda hoje perduram, e que muitos teimam em não aceitar que existem e estão latentes no nosso dia-a-dia.

Abraços, do ex-1º cabo FAP Nuno Almeida (o Poeta)
(...)

(***) O sítio, paradisíaco, do Mato Cão era tão popular na época que no nosso blogue há mais de três dezenas de referências com este descritor: Vd. marcadores ou palavras-chave na coluna do lado esquerdo...

Esta estância (turística) também era muito frequentada por outros camaradas nossos como o Beja Santos (Pel Caç Nat 52, 1968/70), Luís Graça e Humberto Reis (CCAÇ 12, 1969/71), Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63, 1969/1)... Mas nesse tempo não ainda havia as luxuosas infra-estrtuturas hoteleiras aqui tão bem descritas pelo J. Mexia Alves (devem ter construídas e inauguradas depois, em 1972)... O turistame fazia lá campismo selvagem... Bons tempos! Nessa altura o Rio Geba era muito concorrido, até se faziam comboios entre o Xime e Bambadinca e até mesmo Bafatá (no chamado Geba Estreito)... Dizem-nos que o rio agora está assoreado, por aquelas bandas... (LG)

sábado, 20 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3219: Homenagem aos Ten Pil Av Lobato e Pessoa e, Enf Pára-quedista Gisela (Nuno Almeida)


Mensagem de 17 de Setembro de 2008, do nosso camarada Nuno Almeida, ex-1.º Cabo MMA de Heli, BA12, 1972/73 (1).

Olá Camaradas
Junto envio foto actual para completar os vossos arquivos.

Apesar de pouco contribuir com a minha verbe, sou um visitante assíduo do blogue e sempre atento ao que cá se escreve, por isso ao ler a nota do Beja Santos, Guiné 63/74 - P3132: Notas de leitura (10): A minha Jornada em África (Beja Santos), fiquei imediatamente interessado no livro "A Minha Jornada em África" de António Ramalho da Silva Reis e publicado pela Editora Ausência.

Porque estive dois meses internado no HM241 de Bissau, entre 25 de Novembro de 1972 e 25 de Janeiro de 1973, onde fui operado 4 vezes em 25 dias, tenho uma enorme dívida de gratidão por todos quantos ali prestavam serviço, é, para mim, fundamental ter acesso a este relato da vivência de quem do outro lado da barricada (doente/enfermeiro) via a situação daqueles que dependiam das suas capacidades para sobreviverem aos ferimentos sofridos.

Sobre o que o Beja Santos diz sobre o Tenente Lobato, é sintomático de como os heróis da Guerra, que fomos obrigados a combater, são esquecidos pela História e remetidos a uma insignificância, para que não se dimensione o que foi, na realidade, a juventude de toda uma geração.

Guiné-Conacri > Conacri > Instalações do PAIGC > 1970 > Prisioneiros portugueses, fotografados pelo fotógrafo húngaro Bara István (nascido em 1942).

Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria (com a devida vénia / with our best wishes...)


O Tenente Lobato foi um mártir, durante muitos anos prisioneiro, sem saber se regressaria ao seio dos seus, torturado fisica e psicologicamente, nunca uma Lei foi promulgada onde verdadeiramente se desse o valor a essa condição de prisioneiro e se compensasse, devida e correctamente, os anos de ausência e sofrimento que ele e muitos outros como ele sofreram.

Foto do Tenente Lobato quando, no passado dia 31 de Maio de 2008, os Especialistas da Força Aérea, que serviram na Guiné, o homenagearam com o respeito que ele nos merece. Junto e ladeando-o estão o Victor Barata e o Carlos Wilson,  organizadores deste evento.

Neste almoço de confraternização foram igualmente homenageados o Ten Pil Av Pessoa e a sua esposa Enfermeira Pára-quedista Giselda, ele abatido em 1973 por um míssil e ela representando todas as Enfermeiras Pára-quedistas que tantas vidas salvaram com a sua coragem e prontidão na recuperação de feridos em zonas de combate.

Foto da evacuação do Ten Pessoa, assistido pela enfermeira na altura e actual esposa, a nossa muito querida camarada da armas Giselda.

Capa do livro Liberdade ou Evasão; Autor: António Lobato; Colecção: Memória do Tempo; Editor: Rui Rodrigues; Editora: Erasmos. © ERASMOS e António Lobato.

Neste livro, António Lobato conta o seu percurso na FAP desde a incorporação em Setembro de 1957, até ao dia 22 de Novembro de 1970, dia em que finalmente libertado, após sete anos e meio de cativeiro. Pelo meio ficam três tentativas de fuga frustradas. Por se tratar do militar português que mais tempo esteve prisioneiro do IN, pela forma como sobreviveu às condições mais adversas a que o ser humano pode ser submetido e porque nunca traíu a Pátria nem os camaradas que no terreno continuavam a lutar, António Lobato é digno da nossa admiração, estima e reconhecimento. CV


Foto e legenda de Carlos Vinhal
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Nota de CV:

(1) - Vd. poste de 10 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1941: Estórias (nem sempre) vistas do ar (Nuno Almeida, ex-1º Cabo Mecânico de Heli, FAP)

Embarquei para a Guiné (BA12 - Bissalanca) em 27-01-1972 e fui ferido na mata de Choquemone - Bula , ao proceder a uma evacuação de dois feridos, debaixo de intenso fogo de metralhadoras e morteiros, em 25-11-1972.

Fui evacuado para o Hospital Militar de Bissau, onde fui sujeito a 5 intervenções cirúrgicas, no espaço de 25 dias, e evacuado para Lisboa em 27-01-1973 (para vir morrer ao pé da família!!!).

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2950: Com os páras da CCP 122 / BCP 12, no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (4): Opiniões (Carlos Silva / Nuno Almeida)

1. Mensagem, com data de 4 de Junho, do Carlos Silva, ex-Fur Mil At Armas Pesada, CCAÇ 2548 (Jumbembem, 1969/71):

Luís:

Aqui vão as Capas e badanas dos 2 livros que tenho do Carmo Vicente (1).

 Li o Poste sobre o livro Gadamael. Dizes que o Carmo faz críticas aos seus superiores e que desconheces o seu paradeiro.

(i) Ele é DFA, talvez consigas saber alguma coisa dele através da Associação [AFDA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas]

(ii) Quanto ao livro, é acutilante e não tem floreados, ele escreve o que lhe vai na alma, as críticas que ele faz, não sei se são ou não justas e não é a mim que compete julgá-las, são da responsabilidade dele e são públicas através do livro.

No entanto, estou de acordo com elas, porque, aliás, estou a lembrar-me de uma situação que ele descreve e por que passou em determinada operação, tendo eu e milhares de camaradas passado por situações semelhantes.

Estou a lembrar-me no caso de operações em que participei, com a avioneta PCV, com um indíviduo OPER DO AR, lá dentro, a fazer círculos por cima de nós, a denunciar ao IN a nossa posição. Por tal motivo, eu pensei, tal como o próprio Carmo refere, Aquele FP Operacional do ar condicionado merecia que se mandasse aquela merda abaixo. Aliás, também tenho este desabafo e corroboro os desabafos do Carmo.

Gostaste das fotos [da viagem à Guiné-Bissau, finais de Fevereiro e princípios de Março de 2008]? Na sua maioria estão espectaculares. O meu site está de vento em popa.

Recebe um abraço, Carlos Silva.
















Imagens digitalizadas: Cortesia de Carlos Silva (2008).



Lourenço: Outro livro de Carmo Vicente (Ed. A Chave, 1989), onde se conta o drama de um cabo pára-quedista desaparecido em combate.


2. Mensagem do Nuno Almeida, de 5 de Junho de 2008


Boa tarde, amigo Graça:

Ao consultar o nosso espaço guineense verifiquei que o camarada Leopoldo Amado (1) diz lamentar não conhecer o Carmo Vicente.

Caso possa ser útil, informo que o mesmo é sócio da ADFA e que quase diariamente aí almoça.

Poderá tentar contactá-lo através do nº telemovel da ADFA (917365219) ou pelo fixo (217512600).

A ADFA fica na Av Padre Cruz em Lisboa (quem vai do estádio de Alvalade para a Calçada de Carriche) logo a seguir ao Instituto [ Nacional de Saúde Ricardo Jorge vira à direita na Av. Rainha D. Amélia e entra e contorna 3/4 da 1ª praceta à esquerda, passa por baixo do prédio, segue em frente e à sua direita fica a ADFA.

Espero ter contribuído para o encontro de mais uma tertúlia guineense.

um abraço do Nuno Almeida (também sócio da ADFA)
Nuno
_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores desta série:

4 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2915: Com os páras da CCP 122/ BCP 12, no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (1): Aquilo parecia um filme do Vietname

5 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2917: Com os páras da CCP 122/BCP 12 no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (2): Quase meia centena de mortos... Para quê e porquê ?

12 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2933: Com os páras da CCP 122/BCP 12 no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (3): Manuel Peredo, ex-Fur Mil Pára, hoje emigrante

terça-feira, 10 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1941: Estórias (nem sempre) vistas do ar (Nuno Almeida, ex-1º Cabo Mecânico de Heli, FAP)


1. Mensagem do nosso camarada Nuno Almeida, ex-1.º Cabo Especialista MMA, com data de 2 de Julho

Camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal:

Um forte abraço e um sincero obrigado pelo excelente blogue do qual só recentemente tomei conhecimento.

Embarquei para a Guiné (BA12 - Bissalanca) em 27-01-1972 e fui ferido na mata de Choquemone - Bula , ao proceder a uma evacuação de dois feridos, debaixo de intenso fogo de metralhadoras e morteiros, em 25-11-1972.

Fui evacuado para o Hospital Militar de Bissau, onde fui sujeito a 5 intervenções cirúrgicas, no espaço de 25 dias, e evacuado para Lisboa em 27-01-1973 (para vir morrer ao pé da família!!!).

Li algumas estórias de camaradas que viveram a guerra no terreno (no sentido lato da palavra) e pensei que, como elemento dos helicópteros (Alouette III) e tendo realizado inúmeras missões, no ano de 1972, de resgate de tropas aquando de ataques do IN, ou no transporte para locais de iminente conflito bélico, poderia dar algum contributo para a História, relatando alguns episódios passados nessas operações e vistas nessa perspectiva aérea.

Mais tarde, quando fui ferido e estive internado no Hospital de Bissau, melhor me apercebi das privações e sobressaltos que, a todo o momento, uma geração de jovens, na casa dos 20 anos, foi obrigada a suportar, adquirindo mazelas físicas e, principalmente, psicológicas, que ainda hoje perduram, e que muitos teimam em não aceitar que existem e estão latentes no nosso dia-a-dia.

Junto uma foto de parte da grande equipa que mantinha os helis a voar, para dar apoio aos que no chão, por vezes, necessitavam da nossa presença.

Guine > Bissalanca > 10 de Junho de 1972 > Pessoal da linha da frente da Esquadra 122 > Os Canibais

Um até breve com mais uns relatos lá de cima
Nuno Almeida (O Poeta)


2. Mensagem do co-editor Carlos Vinhal, enviada em 7 de Julho, para o Camarada Nuno Almeida

Caro Nuno Almeida:

Acho que és o elo que faltava no nosso Blogue. A nossa Caserna (também Tabanca Grande) já é composta por elementos do Exército, Força Aérea e Marinha. Mas faltava alguém que, andando normalmente no ar, tivesse da nossa guerra uma visão mais abrangente.

Assim teríamos muito gosto em que fizesses parte da nossa Caserna Virtual, se para tal quisesses manifestar a tua vontade. Basta que nos envies uma foto tua dos teus gloriosos tempos das Máquinas Voadoras e uma actual.

Diz-nos onde moras, o que fazes e o que achares conveniente para que te possamos ficar a conhecer melhor.

Já cá temos uma estória tua, publicada no Post P1912 (1), que esperamos seja a primeira de muitas que tenhas para nos contar.

Por agora recebe um abraço meu e do Luís Graça

O camarada
Carlos Vinhal
___________

Nota do C.V.:

(1) Vd. post de 2 de Julho de 2007> Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli/Joaquim Mexia Alves, ex-Alf.Mil. Pel Caç Nat 52)

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)

Guiné > Região Leste > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1973 > O novo destacamento do Mato Cão, no tempo em que o Pel Caç Nat 52 era comandado pelo Alf Mil Joaquim Mexia Alves (1972/73). No tempo do Beja Santos (1968/70), a segurança às embarcações que passagem pelo Geba Estreito, em Mato Cão, era assegurado por diversas forças, que estavam sob o comando do batalhão sedeado em Bambadinca, desde a CCAÇ 12 até aos Pel Caç Nat (52, 53, 54, 63). O Joaquim Mexia Alves sucedeu ao Wahnon Reis e ao Beja Santos no comando do Pel Caç Nat 52. Visto do ar, o destacamento era um buraco, como tantos outros, onde flutuava a bandeira verde-rubra (se é que tinha pau da bandeira!)

Foto: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados.


1. Mensagem de Nuno Almeida, ex-mecânico de helicópteros, a quem agradeço este depoimento e convido para aderir à nossa tertúlia (LG):

Camarada Mexia Alves:

Estava a ler o blogue do Luís Graça e vi a sua referência a Mato Cão (1), o que me fez recordar um episódio, não sei se passado, também, consigo e que passo a relatar:

Fui mecânico de helicópteros da FAP e cumpri o ano 1972 na Guiné. Um dia, creio que no Verão de 1972, fui com um heli fazer o que, creio, se chamava o Comando de Sector (levar o Coronel de Bambadinca a visitar os aquartelamentos)(2).

Fomos visitando vários locais e, quando sinto o piloto fazer manobra para proceder a uma aterragem, fico em estado de choque, pois não se vislumbrava nada no terreno que indicasse haver ali alguém ou algo minimamente capaz de albergar seres humanos. Inicialmente temi que o piloto tivesse detectado alguma falha no aparelho e fosse aterrar para que eu verificasse a condição do mesmo e poder continuar a voar. Mas quando aterramos (num espaço de mato desbravado e completamente inóspito), e a intensa poeira, levantada pelas pás do heli, começa a assentar, vejo surgirem, de buracos cavados no chão, homens em estado de higiene e aspecto físico degradantes (pelo menos aos olhos dum militar que dormia em Bissau e tinha água corrente para se lavar a seu bel prazer).

Chocou-me, e ao piloto também, a situação sub-humana em que esses homens estavam a viver.

A sua reacção, ao verem o Coronel, foi a de parecer que o queriam linchar, tal era a sua revolta pelo que estavam a ser obrigados a suportar.

Quando regressámos a Bambadinca, o piloto foi ao bar e comprou dois pacotes de tabaco Marlboro, escreveu neles algo que creio foi: "com a amizade da Força Aérea", e quando passámos à vertical de Mato Cão largámos esses pacotes, querendo demonstrar a nossa solidariedade para com quem tão maltratado estava a ser.

Mais tarde, em Novembro de 1972, fui ferido, ao proceder a uma evacuação, na mata de Choquemone, em Bula, e aí melhor me apercebi das privações e sobressaltos que, a todo o momento, uma geração de jovens, na casa dos 20 anos, foi obrigada a suportar, adquirindo mazelas físicas e, principalmente, psicológicas, que ainda hoje perduram, e que muitos teimam em não aceitar que existem e estão latentes no nosso dia-a-dia.

Abraços, do ex-1º cabo FAP Nuno Almeida (o Poeta)

2. Resposta do Joaquim Mexia Alves > Ex- Alf Mil Op Esp, esteve na Guiné, entre Dezembro de 1971 e e Dezembro de 1973, tendo pertencido à CART 3492 (Xitole), ao Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e à CCAÇ 15 (Mansoa); nunca esteve sedeado em Bambadinca, mas sim no Rio Udunduma e no Mato Cão, destacamentos do Sector L1 (Bambadinca); ia de vez em quando à sede do Batalhão (BART 3873, 1972/74), a que estava adida a CCAÇ 12, nessa altura comandada pelo Cap Op Esp Xavier Bordalo.

Caro Nuno Almeida:

Obrigado pela tua mensagem. No Verão de 1972 ainda não tinha chegado ao Mato Cão, pois apenas lá assentei arraiais no começo de Novembro desse ano.

Lembro-me nessa altura de uma visita do Comandante ao Mato Cão num helicóptero e que não o recebemos propriamente de braços abertos, mas poderá ter sido outra visita, o que já me parece muito, duas visitas em tão curto espaço de tempo.

Posso estar enganado e ter sido mais tarde, mas julgo que foi antes do Natal. Para o caso não tem importância.

Realmente, aos olhos de quem estava em Bissau, a situação era terrível, mas tomávamos banho (!!!), era de lata de pessego em calda, junto ao rio Geba, que era o que se podia arranjar.

Não tinhamos luz e realmente estávamos enfiados no chão, embora fizéssemos uma vida normal.

Ainda não pertences à tertúlia deste blogue? Se não pertences, e como dou conhecimento destes mails ao Luis Graça, nosso comandante, poderás contactá-lo via correio eletrónico e passar a fazer parte do blogue dando-nos a conhecer a tua experiência, que pelo que leio deve ser muito rica.

Ah, aqui tratamo-nos por tu.

Mais uma vez, obrigado pela mensagem e um abraço forte do
Joaquim Mexia Alves
____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. alguns posts com referências ao Mato Cão (para além da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos):

25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1875: Estórias avulsas (6): Há coisas na guerra que só se podem fazer com 'boa educação' (Joaquim Mexia Alves)

27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)

(2) Possivelmente tenente-coronel... Bambadinca, sede do sector L1 da Zona Leste, tinha o comando e a CCS do BART 3873 (1972/74).