Mostrar mensagens com a etiqueta Rio Balana. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Rio Balana. Mostrar todas as mensagens

domingo, 18 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16500: (Ex)citações (317): Porto Balana era uma designação da Força Aérea, julgo que o Exército nunca lá terá ido (Miguel Pessoa, Coronel PilAv Reformado)

1. Mensagem do nosso camarada Miguel Pessoa, Cor PilAv Ref (ex-Ten PilAv, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 14 de Setembro de 2016:

Caros editores

Dou-vos esta informação por mail pois pretendo incluir uma imagem alusiva, o que não seria possível através de um comentário no Poste.

Apareceu no Poste 16494 (I Parte do texto sobre a ejecção do TCor. Costa Gomes em Gandembel) um comentário do nosso camarada Alberto Branquinho que diz que deve haver um engano e o Porto Balana deverá ser o destacamento de Ponte Balana.

Não é bem assim, eram duas coisas diferentes. Acredito que o pessoal do Exército nunca se tenha apercebido da existência do Porto Balana.

O que acontece é que quando o corredor do Guilege chegava ao Rio Balana havia um embarcadouro onde se avistavam com frequência pirogas. Nesse ponto os guerrilheiros transferiam alguma da carga que vinha pelo trilho para as pirogas e essa carga seguia depois "via fluvial" pelo Rio Balana acima em direcção à área de Salancaur.

A Força Aérea andava sempre a tentar detectar alguma actividade neste ponto e chegámos a partir algumas caixas com o helicóptero armado.~

No meu tempo (fins de 1973?) eu próprio estive envolvido em algumas missões a esse local com os Fiat G-91.

Julgo que o Exército nunca lá terá ido. A designação "Porto Balana" é da Força Aérea.

Junto uma imagem que mostra os dois pontos nas imediações do aquartelamento de Gandembel.

Abraço
Miguel Pessoa

Zona do aquartelamento de Gandembel
Infogravura: Miguel Pessoa (2016)
____________

 Nota do editor

Último poste da série de 1 de setembro de 2016 Guiné 63/74 - P16436: (Ex)citações (316): Em Fá Mandinga e Missirá, costumava declamar, de Reinaldo Ferreira, o poema "Receita para fazer um herói" (Jorge Cabral, ex-alf mil art, Pel Caç Nat 63, 1969/71)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Guiné 63/73 - P10362: CCAÇ 3325,Cobras de Guileje (1971/73): Parte VI: Atividade operacional, de outubro a dezembro de 1971 (texto: Orlando Silva; fotos: Jorge Parracho)



 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref  Jorge Parracho > Foto nº 38 > Estrada Guileje-Gadamael (?): progressão no tempo das chuvas


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do  cor inf ref   Jorge Parracho > Foto nº2 > O pessoal (todo ou quase todo) da companhia que esteve em Guileje de janeiro a dezembro de 1971


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do  cor inf ref  Jorge Parracho > Foto nº 31 > Reabastecimento por via aérea no tempo das chuvas.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do  cor inf ref  Jorge Parracho > Foto nº 34 > Reabastecimento por lançamento em paraquedas, no tempo das chuvas.


Fotos: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Sexta e última parte do texto, da autoria de Orlando Silva,  relativo à estadia da CCAÇ 3325, em Guileje, de janeiro a dezembro de 1971. (Reproduzido aqui com a devida autorização do autor, José Orlando Almeida e Silva, ex-alf mil, residente em Aveiro) (*).


Atividade operacional (continuação)

De 01 a 31 de Outubro de 1971:

Mais 18 operações de patrulhamento.

A actividade directa do IN tem sido nula. Continua no entanto, a utilizar com frequência o “Corredor de Guileje”, embora certamente com menos à vontade, dado ter accionado várias minas implantadas pelas NT nesse itinerário. Igualmente accionou minas A/P colocadas pelas NT no trilho para Simbeli (perto da fronteira), tendo tido várias baixas conforme vestígios encontrados.

A actividade das NT neste período, esteve orientada no sentido de continuar a criar insegurança ao IN no “Corredor de Guileje”, procurar novos acessos para aquele “Corredor”, continuar a patrulhar com assiduidade as bases de fogos do IN, patrulhar com certa frequência a estrada para Gadamael pois iríamos brevemente iniciar as colunas Auto, e na implantação de minas nos locais perto do quartel passíveis de ser utilizados pelo IN para a instalação de Bases de Fogos.

Neste período, foram efectuadas pela Companhia duas acções ao “Corredor de Guileje”, podendo considerar-se uma delas (acção “Prestígio”) como a mais dura realizada até então pela Companhia. A patrulha teve a duração de 15 horas, sempre por zonas difíceis, dentro de bolanhas e rios ou por mata densa em locais de contacto eminente com o IN, sendo parte dela realizada na ZICC [, Zona de Intervenção do Com-Chefe] perto de Salancaur, onde o IN costumava dispor de grandes efectivos. 

Acrescente-se que o pessoal, durante toda a patrulha, não tomou qualquer alimento, porque as rações que levavam ficaram logo no inicio totalmente inutilizadas pela água. Conseguimos no entanto o objectivo da missão, que era colocar minas no “Corredor de Guileje” num local de passagem habitual do IN, e onde o IN dificilmente admitiria a nossa ida já que, segundo informações do guia, há  mais de 5 anos que as NT não iam àquela zona.

Para que não se perdesse ingloriamente o esforço dispendido nesta patrulha até à altura, tornou-se obrigatória a travessia de um braço do Rio Balana, largo e fundo, infestado de crocodilos (que os soldados desconheciam), mas decisiva para conseguirmos os nossos intentos, possibilitando assim o cumprimento da missão.

Para que isso fosse conseguido, o Alferes Cunha a certa altura, de uma forma destemida e contra o conselho do nosso guia Abdoulai Jaló, lançou-se à água a fim de que os soldados o seguissem. Como o nosso pessoal era de uma maneira geral de baixa estatura, tornou-se necessária a nossa ajuda para que os mesmos efectuassem a travessia, o que conseguimos. Correu tudo bem, montámos as minas A/P planeadas e retirámos de imediato.

O moral das nossas tropas continuava bem, podendo mesmo dizer-se melhor que no período anterior, devido aos êxitos que a Unidade tinha tido, à notícia da nossa rendição por outra Companhia e pela visita de várias entidade militares e de uma equipa da RTP.

De 01 a 30 de Novembro de 1971:

Realizámos mais 21 patrulhas.

O facto mais saliente do período foi a abertura a viaturas do itinerário para Gadamael, ficando assim quebrado o isolamento em que a Companhia se encontrava há cerca de 5 meses.

Fomos rendidos pela CCAÇ 3477, não se notando qualquer incremento de actividade do IN para impressionar esta Companhia, como seria de esperar.

A nossa actividade continuou orientada para continuar a criar insegurança ao IN no “Corredor de Guileje”, manter em constante vigilância as bases de fogos IN e seus itinerários, manter aberta a estrada para Gadamael, e dar a conhecer a Zona de Acção à CCAÇ  3477.

Continuámos a manter em tudo a nossa actividade anterior, e o moral da tropa encontrava-se em alta.
Para essa moralização, contribuíram em parte as palavras de apreço e incitamento que a Companhia tem recebido das entidades que a visitam, sendo de salientar especialmente as proferidas por Sua Excelência o General Comandante-Chefe, que durante o período visitou por duas vezes Guileje.

Iniciou-se entretanto o período de rendição da Companhia pela CCAÇ 3477, e a ida para Nhacra do 1º e 2º Grupos de Combate da CCAÇ 3325, tendo o pessoal daquela Companhia começado a integrar-se muito bem dentro da missão que lhes irá ser atribuída.

A alimentação melhorou com a abertura da estrada, lançamentos em pára-quedas e fornecimento de frescos por avião.

Manteve-se pois sem quebras a actividade operacional, com boa colaboração no final do período da CCCAÇ 3477, prosseguindo também em bom ritmo os trabalhos de beneficiação da defesa e instalações do quartel, e podendo nós  afirmar que continuava a ser excelente o moral da Unidade.

Em Dezembro de 1971:

Realizaram-se em conjunto com a CCAÇ  3477 mais 15 acções.

O IN revelou durante o período grande actividade e agressividade. Efectuou várias flagelações ao quartel, ou para desviar as atenções das NT do “Corredor de Guileje” ou ainda para impressionar o pessoal da nova Companhia.

A actividade das NT neste período, foi totalmente orientada no sentido de procurar dar aos Oficiais, Sargentos e Praças da CCAÇ 3477 um conhecimento perfeito de toda a ZA,  bases de fogos IN, itinerários, localização das nossas minas, que foram todas levantadas e tornadas a montar por pessoal daquela Companhia, dando-se inclusivamente instrução ao pessoal dentro do quartel, de tiro, para adaptação das armas que iam passar a ser distribuídas, e instrução sobre minas e armadilhas, dada a larga difusão destes engenhos na ZA



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto nº 17 >  O com-chefe gen António de Spínola numa  duas visitas que efetuou a Guileje em 1971.


Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [As fotos de Jorge Parracho foram disponibilizadas à ONG AD- Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, em 2007, no âmbito do projecto de criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje]


Jantar no Palácio do Governador – 23/12/71

Finalmente, venho recordar com saudade o jantar no Palácio do Governador em Bissau, oferecido aos Oficiais desta Companhia após a saída da mesma daquela zona de guerra, e antes do nosso regresso à Metrópole, pelo General António Spínola, em homenagem à nossa actuação militar.

EM RESUMO…

Como se vê, apesar de tudo o que os Cobras de Guileje passaram, apesar de todos os mortos e feridos, ninguém ouviu qualquer oficial, sargento ou praça desta Companhia, vir gabar-se ou pavonear-se em público, quer fosse em jornais, rádio ou televisão.

Pelas fotos aqui inseridas, podemos ver como estava o aquartelamento quando chegámos e como ficou quando saímos. E tínhamos tempo para jogar à bola e receber visitas por avião.

Seríamos inconscientes?

No Jornal que V. Exa. dirige [, referência ao diário Correio da Manhã], e para uma correcta informação dos leitores, antes de serem publicados aqueles artigos, deveriam ter reunido à mesma mesa todos os intervenientes. Lembro ainda outro artigo, esse publicado na revista do vosso jornal de 24/05/2009, que surge pleno de dramatização e falta de verdade.

Os mortos e feridos merecem melhor!

Da nossa parte, Companhia Independente de Caçadores 3325, bastaria ouvir qualquer oficial, sargento ou praça, que, melhor que ninguém e de uma forma isenta, mostraria ao País o que foi “Guileje”.

Gostaríamos de poder convidar o Sr Jornalista (autor do/s referido/s artigo/s sobre Guileje) a estar presente na nossa próxima reunião anual, que se irá realizar em Maio de 2010, caso seja para isso devidamente autorizado pela redacção do “Correio da Manhã”.

Que [a Guiné] foi a pior zona de toda a Guerra do Ultramar, é o que dizem! Que Guileje foi o pior quartel de toda a Guerra do Ultramar Português (daí a sua importância), isso também foi. Está comprovado.

A verdadeira história do Ultramar há-de ser feita, pois ainda há Portugueses com memória e com sentido da verdade. Só exigimos respeito, principalmente pelos mortos e feridos, igual àquele que nós próprios temos pelos que então eram nossos inimigos.
______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 4 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10329: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte V: Atividade operacional, de agosto a setembro de 1971 (Orlando Silva)

segunda-feira, 29 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P813: A tragédia da ponte sobre o Rio Balana (José M. Samouco)

Guiné > Gandembel > Ponte Balana > Novembro de 1968 > Passagem de uma coluna logística Aldeia Formosa/ Gandembel.

Texto e foto: © José manuel Samouco (2006)

Aldeia Formosa - Ponte Balana - Gandembel

Depois de uma ausência mais ou menos prolongada, não do acompanhamento do blogue, mas da minha participação, volto hoje na expectativa de obter alguns esclarecimentos.Como elemento da CAÇÇ 2381, Os Maiorais, e durante a permanência em Aldeia Formosa (Quebo) participei em algumas colunas de reabastecimento a Gandembel.

Colunas de má memória! Em 22 de Agosto de 1968, já no regresso entre Chamarra e Aldeia Formosa fomos surpreendidos com uma violenta emboscada, que nos causou alguns feridos graves e outros menos graves nos quais me incluí.

Evacuado para o Hospital Militar em Bissau, regressei após o tratamento de novo a Aldeia Formosa e vá de continuar com as colunas auto de reabastecimento. Numa das idas a Gandembel veio em sentido contrário, ao nosso encontro, um grupo de Paraquedistas, comandados, se não estou em erro, pelo Tenente Terras Marques, que aproveitaram para levantar um sem número de minas que se encontravam montadas ao longo da estrada (picada) e que o Furriel José Manuel Pedro, com o curso de minas e armadilhas, ia rebentando melhor ou pior.

Chegados a Ponte Balana, momentos de descontracção e de convivência com o pessoal do pelotão aí deslocado (2). Viaturas de novo em movimento e toca a saltar para aproveitar a curta boleia até Gandembel. Curiosamente eu tinha deixado a minha G3 na cabine da última viatura e para aí saltei quando da sua passagem. Um soldado que ainda se encontrava apeado, diz-me:
- Furriel saia daí, já viu como a viatura vai carregada?

Não pensei duas vezes e rapidamente saltei indo apanhar boleia na auto-metralhadora que fechava a coluna. Segundos depois dá-se a tragédia. A viatura carregada de bidons de combustível e com inúmeros paraquedistas rebentou com a ponte. Gritos de dor do pessoal que ficou preso entre os bidons, gritos de pânico, gritos de impotência e a viatura caída no fosso em plano inclinado com a cabine bem lá no fundo.

O pessoal de Ponte Balana (2) começou aos tiros para avisar os de Gandembel que havia problemas. Nós, da CCAÇ 2381, desconhecíamos esse procedimento, pelo que devem imaginar o pandemónio que se seguiu.

Depois desta conversa toda chegam as minhas dúvidas e o pedido de esclarecimento se é que é possível. Foi-me dito na altura que, depois de destruída a ponte sobre o Rio Balana, a Engenharia se encarregou de construir um novo tabuleiro. Como se tratava de uma zona altamente perigosa, o engenheiro militar fez-se deslocar de helicóptero e, sem se apear, calculou o tamanho do tabuleiro a construir.

Tempos depois e aquando da montagem da estrutura, verificou-se que o vão da ponte era maior que o calculado. Solução? Colocar sacos de cimento em cada uma das margens do rio, encurtando o vão da ponte de modo a que a estrutura ali assentasse convenientemente. Molhado o cimento, aí está uma ponte pronta a ser utilizada. Realmente foi utilizada até que se deu a tragédia que acabei de descrever. Será verdade? Quem me esclarece esta dúvida?

Em anexo envio uma foto (em mau estado), de Novembro de 1968, no decorrer de uma coluna Aldeia Formosa/ Gandembel. Transportávamos uma estrutura necessária para a travessia de um riacho, que era montada na ida, levantada e de novo montada no regresso.

José Manuel Samouco
(Ex-Furriel Miliciano,
CCAÇ 2381- Os Maiorais)
___________

Notas de L.G.

(1) Vd. post de 4 de Abril de 20096 > Guine 63/74 - DCLXVIII: O major Fabião e o furriel Samouco, da CCAÇ 2381 (1968/70)

(...) "Apresenta-se o ex-furriel miliciano José Manuel Samouco, pertencente à Companhia de Caçadores 2381, Os Maiorais, que passou pela Guiné entre Maio de 1968 e Abril de 1970. Sou camarada de guerra do Zé Teixeira e por ele viciado no blogue" (...)

(2) Vd. post de 18 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXX: Um pesadelo chamado Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317, 1968/69)

A CCAÇ 2317, aquartelada em Gandembel, tinha um grupo de combate a defender a Ponte Balana (de Abril de 1968 a Março de 1969). Estas duas posições foram abandonadas pelas NT.