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quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23759: Mi querido blog, por qué no te callas?! (8): É como a ponte, que atravessámos duas vezes, a maior parte de nós, "ao p'ra lá e ao p'ra cá": parece que treme, mas não cai...


Lisboa > Março de 2007 > A Ponte 25 de Abril, sobre o Rio Tejo (Ponte Salazar, até ao 25 de Abril de 1974), reflectida sobre a fachada de vidro de um dos edifícios da Administração do Porto de Lisboa... Parece que treme mas não cai...

Foto: © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lisboa >  Junho de 1970 > A ponte sobre o Rio Tejo e o Cristo Rei, na margem esquerda... Em 1970, a febre da construção na outra banda já tinha começado, mas o Cristo Rei ainda era uma figura solitária na paisagem... Foto, sem legenda, do álbum do Otacílio Luz Henriques, 1.º cabo bate-chapas,  CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). 

Foto: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lisboa > 8/1/1964 > A ponte sobre o Rio Tejo, em construção: imagem do pilar norte, tirada do T/T Quanza. Uma foto notável com esta obra, emblemátca do Estado Novo, cuja construção demorou 3 anos e meio (novembro de 1962 a agosto de 1966): no regresso, o BCAÇ 619 já passou sob o tabuleiro da  Ponte Salazar... Foto do álbum  de Carlos Alberto Cruz , ex-fur mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió e Cachil,  1964/66)

Foto (e legenda): © Carlos Alberto Cruz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lisboa > Cais da Rocha Conde Óbidos> 18 de agosto de 1965> Embarque do pessoal da CCAÇ 1426 e de outras unidades para o TO Guiné, no T/T Niassa; ao fundo a ponte sobre o Tejo ainda em construção, não estando ligados as diferentes secções do tabuleiro... (Seria inaugurada um ano depois, em 6 de agosto de 1966.)

Foto: © Fernando Chapouto (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lisboa > 29 de maio de 2012 > Ponte sobre o Rio Tejo > Iniciada a sua construção em 5 de novembro de 1962, foi inaugurada em 6 de agosto de 1966... Ainda havia, em 1962, montes de golfinhos no Tejo e centenas de fragatas e outras embarcações à vela... A contentorização do transporte de mercadorias marítimas  e o fim da estiva manual marcaram o seu fim... 

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados. 
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lisboa > Rio Tejo > 5/11/2011 > Pôr do sol no Atlântico, visto do estuário do Tejo, em Belém, junto ao Museu do Combatente (Forte do Bom Sucesso).

Foto: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Os mais velhos da geração da guerra colonial / guerra do ultramar / guerra de África viram-na crescer, entre 1962 e 1966, à belíssima ponte sobre o Tejo. Foi uma das coqueluches da política de obras públicas do Estado Novo. Deram-lhe o nome do homem forte do regime de então, o Salazar (que seguramente nunca passou debaixo dela, como nós, que fomos combater em África, a seu mando).

A grande maioria dos antigos combatentes passou debaixo dela, duas vezes, de barco, na viagem com destino  a Angola, Moçambique ou Guiné, e depois no regresso à Pátria... "Ao p'ra lá e ao pr'a cá", como diria o "caçula" do meu cunhado nortenho, que foi parar a Angola, em 1970 (e o mais velho a Moçambique, em 1963, só escapou o do meio, que  era cambo... e ficou livre da tropa; o resto eram raparigas, e nenhuma se ofereceu para enfermeira paraquedista, embora o pai fosse patriota e tivesse vindo uma vez ao Terreiro do Paço, arrebanhado para um comício da União Nacional, dando vivas ao Marcello Caetano e ao Portugal pluricontinental e plurirracial).

A grande maioria de  nós fez esta viagem de regresso, por via marítima, de Bissau a Lisboa, no Niassa, no Uíge, nos navios da nossa marinha mercante postos ao serviço do transporte da tropa mobilizada para a guerra, lá longe, a milhares quilómetros de casa. Era com emoção que se avistava a barra do Tejo, o Bugio, Cascais, a Costa da Caparica, a Trafaria, a torre de Belém, os Jerónimos, a ponte, o Cristo Rei, o casario de Lisboa, os golfinhos, as frgatas, o  cais da Rocha de Conde de Óbidos, donde tínhamos partido, 22, 23, 24 meses antes...

A maioria de nós atravessou esta ponte duas vezes, mas a água que corria sob ela já não era mais a mesma.  Tal como nós, quando fomos e quando viemos, também já não éramos mais os mesmos... Ninguém sobrevive, impunemente, a uma guerra...

E depois lá se ia de comboio até à nossa unidade mobilizadora... Essa derradeira vaigem, paga pelo Estado, tinha um profundo significado: a passagem à peluda, as últimas despedidas, a promessa de nos voltarmos a ver e a abraçar, enfim,  o regresso, solitário, a casa, onde nos esperavam, em alvoroço, a família, os amigos, os vizinhos...  

O "day after", o dia seguinte, não era fácil, não foi fácil para muitos de nós...  Uma geração partida e repartida,  uns tomaram os caminhos da emigração, transatlântica  (Brasil, EUA, Canadá) ou transpirenaica (França, Alemanha)... Outros, deixaram as suas terras  de vez (as pacatas aldeias, vilórias e pequenas cidades do interior),  fixando-se na grande Lisboa e no grande Porto, procurando oportunidades de trabalho, prosseguindo os estudos, reconquistando em Abril a(s) liberdade(s) perdida(s),  constituindo família, descobrindo o prazer de viajar por essa Europa fora, agora com outra mochila e outros sonhos... 

"Cacimbados", "apanhados do clima", "estranhos", "envelhecidos", "mudados", "fechados, de poucas falas", "truculentos", "noctívagos", "bebendo e fumando em excesso"... eram expressões que trocávamos uns com os outros, ou que ouvíamos aos nossos amigos, familiares e vizinhos... a nosso respeito, depois do regresso.

A (re)adaptação, em muitos casos, não foi fácil, e levou o seu tempo... A maior parte casou, teve filhos e netos e tentou ser feliz... Mas nunca mais foi o mesmo, tal como a água do Tejo que passa sob a sua ponte...

 2. Enfim, há que lembrar, por mor da verdade,  que, a partir de 1972, 
 os TAM (Transportes Aéreos Militares) compraram dois Boeing 707 e a rapazida passou a chegar mais depressa aos teatros de operações, mas também a casa, no regresso,  os que tiveram a estrelinha da sorte (ou a "santinha da sua devoção" ) a protegê-los... 

Que a guerra os esperava e já se fazia tarde, diziam os maiorais, também eles já cansados da guerra... Mas as saudades de casa, da terra, da Pátria / Mátria / Fátria, também eram mais do que muitas... Houve quem não aguentasse a espera do avião dos TAM e se metesse no avião da TAP, pagando a passagem do seu bolso...

O nosso blogue tem a  veleidade (utópica?) ou a pretensão (ingénua?) de tentar juntar o maior número dos que ainda estão vivos e ajudá-los a reconstituir o puzzle das suas memórias da guerra (e da Guiné, muito em particular)... 

Teima, ao fim destes anos todos, em pô-los a contar as histórias dos seus verdes anos. E a partilhá-las, neste blogue. Que, tal como  sugere a primeira foto de cima, é como a ponte, parece que treme, mas não cai... 

Que os bons irãs da Tabanca Grande nos continuem a proteger. E que no final do próximo ano de 2023, posssamos dizer: chegámos à meta dos 900 (*). Mesmo sabendo que a picada  da vida é cada vez mais dura e perigosa, "cheia de minas e armadilhas"... 

Ah!, e que daqui a uns meses, lá para abril ou maio, quando chegar a primavera (se lá chegarmos), tenhamos ainda a soberana e humana vontade de nos encontrarmo-nos, no XV Encontro Nacional da Tabanca Grande, que, recorde-se,  até chegou a estar  marcado para Monte Real, em 2 de maio de... 2020. (LG)
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 8 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23684: Mi querido blog, por qué no te callas?! (7): Campanha dos 900 membros da Tabanca Grande até ao fim de 2023... Toca a "tocar o burro"... Porque, como diz o provérbio guineense, Buru tudu karga ki karga si ka sutadu i ka ta janti (O burro, com pouca ou muita carga, se não é açoitado, não anda)...

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20692: Fotos à procura de...uma legenda (127): correção às legendas de fotos do poste P13445, de 1/8/2014: Forte de São Julião da Barra, Oeiras; estação ferroviária, Entroncamento; e estação rodoviária, Rio Maior (Rui Fonseca)


Foto nº 1 > Oeiras > Estuário do  Tejo>  Junho de 1970 > Forte de São Julião da Barra


Foto nº 6 > Entroncamento > Estação ferroviária


Foto nº 9 > Rio Maior >  Av João Ferreira da Maia > Do lado esquerdo, a antiga  estação rodoviária, hoje encerrada [, segundo Rui Fonseca, 2020]


Fotos, originalmente sem legendas, do álbum do Otacílio Luz Henriques, ex-1º cabo bate-chapas.  CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Pertencia ao pelotão de manutenção, que era comandado pelo alf mil Ismael Augusto, membro da nossa Tabanca Grande. o BCaç 2852 regressou à metrópole em 28/5/1970, um ano depois, curiosamente, do ataque a Bambadinca...

Fotos: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné; legendagem complementar: Rui Fonseca, 2020]


1. Do nosso leitor Rui Fonseca:

Data: sexta, 28/02/2020 à(s) 08:00

Assunto; fotos do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Boa tarde:

Tendo passado pela vossa Tabanca de memórias da Guerra Colonial, vi uma publicação vossa de sexta-feira, 1 de agosto de 2014 [, poste P13455], onde que têm fotografias lindíssimas do nosso antigo Portugal.

Querendo ser de utilidade, venho por esta via dar as seguintes informações sobre as legendas das fotos da dita publicação na esperança de que sejam de utilidade para uma melhor informação e uma melhor memória ao torná-las mais precisas.

Assim faço as seguintes sugestões para as respectivas fotos:

Foto nº 1;  trata-se de facto da entrada na barra do Tejo. No entanto trata-se da cidadela do Forte de São Gião, actual forte de "S. Julião da Barra", e não da cidadeda de Cascais.

A foto nº 6 é da estação [ferroviária] o Entroncamento.

Na foto nº 9, podemos ver a Avenida Ferreira da Maia em Rio Maior. O edifício da camionagem ainda existe embora esteja encerrado, e o edifício ao fundo da Avenida também ainda existe,  estando ao seu lado um 'mamarracho' enorme com cerca de 13 pisos[, já na Praça da República] [Vd. Goople Maps]

Não posso deixar de expressar o meu agradecimento e apreço por blogues como aquele que dinamiza com os seus camaradas, para memória e registo dos tempos que lá vão. (**)

Bem haja,

Rui Fonseca
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terça-feira, 11 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19882: In Memoriam (343): Mário Gualter Rodrigues Pinto (1945-2019), ex-fur mil art, CART 2519 (Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71)... Era chefe de cozinha, e vivia no Barreiro... O corpo já seguiu para a capela mortuária da igreja do Lavradio, Barreiro, e o seu funeral realiza-se esta tarde pelas 16h15 (Herlânder Simões / Luís Graça)



Tabanca de Mampatá >  23 de dezembro de 2018 · > Recordações: Faz hoje 49 anos que eu e o meu camarada e amigo Furriel Bernardo e mais 5 militares, incluindo dois milicias, fomos feridos, quando procedíamos ao envolvimento do grupo do PAIGC que tinha atacado o aquartelamento da Chamarra. Foi perto do Balana,  o Grupo do .PAIGC encontrou-se frente a frente com o nosso Grupo de Combate quando fazia a retirada do ataque. Felizmente nós  tivemos 7 feridos mas o PAIGC teve mais baixas, incluindo 2 mortos confirmados.....Enfim, são recordações." (Mário Gualter Pinto)

«

Página do Facebook do Mário Gualter Pinto  >  17 de dezembro de 2010 >  S/d: Op Diamante Azul > Sambasó nas imediações de Salancaur,  com população controlada pelo PAIGC. Ao centro, em segundo plano, o alf mil Frade, OE (Operações Especiais), 2.º Comandamte da CArt 2519 ( à direita); o fur Mil Mário Gualter Pinto, CArt. 2519 (à esquerda); o Alf mil  Duarte,  da CArt. 2521, agachado, em  primeiro plano; e, à esquerda, o sélebre sold Machado,  o "Cigano", da CArt 2519.

Fotos do álbum do Mário Pinto (1945-2019)




Uma das últimas foto do Mário Pinto (1945-2019), no dia 19 de março de 2019, "Dia do Pai", com a filha, Clara Pinto: "O meu herói .. o meu melhor amigo .. este é o meu pai .. feliz dia PaPi do meu ❤ ... Gosto tanto de Ti" (Clara Pinto)


A sua neta escreveu este belísismo e comovente texto à memória do avô Mário Pinto (, o "Marinho",  como era tratado carinhosamente no seio da família,), que faleceu ontem de manhã, aos 74 anos:

"Um obrigado não vai chegar para todo o que tu fizeste por mim... A dor que sinto hoje também não cabe em mim... no meu corpo pequeno eu sinto tanta dor... é possível?? Não te vou dizer adeus porque acho que despedidas são fatelas e nós os dois não somos fatelas... Partiste hoje!! Mas nunca vais partir do meu coração!!

Obrigada por estes 14 anos incríveis e obrigada por nunca teres desistido desta batalha!! Afinal um homem da guerra nunca desiste! Estou muito orgulhosa de ti e tenho a certeza que tu estás orgulhoso de mim! 


Eu amo-te, avô! Hoje, amanhã e para sempre!! Todos os super heróis perdem os seus poderes e hoje o meu super herói perdeu os dele... Que a força esteja contigo do outro lado, eu vou estar sempre contigo independentemente de aonde tu estejas, eu vou estar contigo e tu vais estar comigo... Que tu sejas a estrela que mais brilha no meu céu (sim porque tu és só meu, então só podes brilhar no meu céu). Não é um adeus,  apenas um até logo!! Vou antigir todas as minhas metas e no fim vou dedicá-las a ti!!" (Beatriz Pinto Fernandes)



1. Mensagens de ontem, 10 de junho de 2019, do nosso camarada Herlander Simões [ex-fur mil,  passou pelo CTIG entre maio de 72 e janeiro de 74;  destinado à CCAÇ 16 (onde nunca chegou a ser colocado) foi primeiro para os "Duros" de Nova Sintra (CART 2771, onde esteve seis meses) e posteriormente para os "Gringos" de Guileje (CCAÇ 3477, 1971/73), entretanto já sediados em Nhacra]:



(i) 16:53

A pedido da família,  estou a comunicar para conhecimento da nossa Tabanca, o falecimento do nosso camarada Mário Gualter Pinto.

Ainda não sei quando é realizado o funeral pois ainda não está determinado.
Quando tiver mais notícias comunicarei á nossa Tabanca.

Um abraço. Herlander Simões

(ii) 17:32

O corpo do camarada Mário Gualter Pinto vai hoje para a capela da Igreja do Lavradio pelas 17,30 H e o seu funeral realiza-se amanhã, dia 11, e sai da capela pelas 16,15, seguindo para o crematório da Quinta do Conde. (...)


2. Comentário do editor Luís Graça:

Mário Pinto foi fur mil at art da CART 2519 (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71) (, foto à esquerda). Mais do que "morcego de Mampatá", gostava de ser tratado como "coirão"... Foi um bravo "coirão de Mampatá", alcunha coletiva dada pelo comandante da companhia, Jacinto Manuel Barrelas, hoje cor art ref, autor do do livro " Há Sangue na Picada”.

O Mário gostava de partilhar as memórias desse tempo. Tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue. O último mail que troquei com ele foi em novembro de 2018. Sabíamos que estava com  graves problemas de saúde.

Entrou para a Tabanca Grande em 24 de julho de 2009 (*), por mão do José Teixeira, outro "bravo de Mampatá". Era um camarada afável e bem disposto. Não convivemos muito, apenas uma ou outra vez, na Tabanca da Linha e creio que também em Monte Real.

Vivia no Barreiro. Amava a vida, a boa comida, o convívio com os amigos e camradas, a sua terra, o rio Tejo, a Guiné, Mampatá... O seu telemóvel, nº 931648953, esse, já não volta a tocar.  Criou  um blogue sobre a sua companhia, a CART 2519, "Os Morcegos de Mampatá", além de uma página no Facebook, Tabanca de Mampatá - Grupo Público. Também tinha a sua página pessoal, em nome de Mário Gualter Pinto. No nosso blogue alimentou uma  notável  série, "Estórias do Mário Pinto", de que se publicaram cerca de 4 dezenas de postes.

Do seu CV militar  e profissional destacamos  o seguinte:

(i) nasceu em 20 de maio de 1945; 

(ii) estudou no liceu Camões, em Lisboa, era da tirma 63;

(iii) fez a recruta na EPC;

(ii) tirou a especialidade na EPA, atirador de Artilharia, CSM. 

(iii) após o CSM é promovido a 1º cabo miliciano:

(iv) foi  colocado no RAL 4 pela EPA - GI para monitor de armamento e transmissões, no COM;

(v) mobilizado para Guiné pelo RAL 3;

(vi) pertenceu à  CART 2519, e tinha o posto de fur mil;

(viii)  na Guiné esteve em: Buba, Aldeia Formosa e Mamaptá,  nos anos de 1969/1971;

(ix)  foi desmobizado e integrou-se na vida civil;

(x) profissionalmente, estava ligado à hotelaria e restauração, era chefe de cozinha: formou-se na Escola Hoteleira de Setúbal;  criou um blogue em fevereiro de 2010 ( e que alimentou até julho desse ano) com o  sugestivo título Tacho ao Lume; nele fazia-se referência e publicidade à "Quinta do Branco, magnifico espaço, situada na Margem Sul do Tejo,  Chão Duro, Moita do Ribatejo,  Chefe Mário. Organização de eventos e carting. Contacto tel 931648953";

(xi) no seu blogue , deixa algumas dezenas de receitas e notas sobre vinhos; deixem-me destacar cinco receitas, relacionadas com os salores do mar: canja de ameijoas; robalo ao sal; arroz de lingueirão; carapaus alimados;  e lulas recheadas...

(xii) trabalhou  no grupo "Só Peso" (com cerca de duas dezenas de restaurantes), onde foi chefe executivo de cozinha.

(xiii) também era um apaixonado pelo estuário do  Tejo e a atividade piscatória ribeirinha, tendo criado o blogue A Ilha do Rato, de que publicou 37 postes entre fevereiro e maio de 2010. (A ilha ou ilhéu do Rato fica no estuário do Tejo, no mar da Palha, frente ao Lavradio, Barreiro; o Mário foi lá pela primeira vez em 1972, com um amigo pescador.)

Para a  família enlutada, os amigos mais próximos e os camaradas da CART 2519 vai a nossa solidariedade na dor...É mais uma grande perda para todos nós. O seu nome vai juntar-se à lista dos camaradas que da lei da morte já se libertaram. Com ele, são 74 os grã-tabanqueiros que já nos deixaram ao longo destes 15 anos da partilha de memórias e de afetos. 

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Notas do editor:

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16249: Agenda cultural (493): Apresentação do livro do escritor e investigador da história do Barreiro, Armando Sousa Teixeira, "Antigamente da Bela Vista Viam-se os Barcos da Muleta", Casa do Alentejo, Lisboa, sexta feira, 1/7/2016, 16h00.





1. Convite enviado pelo nosso leitor, Armando Sousa Teixeira, escritor e investigador da história do Barreiro, autor ou coautor de obras como "A CUF no Barreiro, Realidades, Mitos e Contradições", "Guerra Colonial, a Memória Maior que o Pensamento”, “A Rua Direita e a Ganilha do Lado da Praia” e “Barreiro, Roteiro das Memórias da Resistência, do Trabalho e da Luta”:


Data: 26 de junho de 2016 às 03:26

Assunto: Apresentação do livro "Antigamente da Bela Vitsa viam-se os barcos da Muleta - Sexta feira, 1/7/16, 16h00, Casa do  Alentejo, Lisboa....


Caros amigos, companheiros, senhores

Por que razão depois de 300 anos de pesca épica no mar que começa onde o rio acaba, desapareceram os Barcos da Muleta com Redes da Tartaranha, sem serem substituídos no Barreiro (e no Seixal) por outros barcos oceânicos?

Porquê as tradições culturais ligadas ao meio piscatório (Queima do Judas, Cegadas, Fado Operário/Vadio), se foram perdendo até só restarem memórias indocumentadas de traços fundamentais de identidade barreirense?

O processo de implantação e de evolução do sistema capitalista nos inícios do século XX, os fenómenos migratórios associados, as movimentações sociais à volta da grande indústria, a socialização desequilibrada e reprimida nas grandes metrópoles da bacia do Tejo, estão no âmago do romance que agora se apresenta na margem direita do grande berço civilizacional, estrada de águas calmas que nos une mas por vezes também afasta.

Estaremos na Casa do Alentejo, a lindíssima e fresca casa solidária que mais uma vez nos apoia, na Sexta-Feira, dia 1/7/16, a partir das 16.00h, para apresentar o livro "ANTIGAMENTE DA BELA VISTA VIAM-SE OS BARCOS DA MULETA". [Editora Página a Página, 2016].


Haverá animação cultural com Teatro, Dança, Fado operário/vadio, Cegada e Cante Alentejano. 

Sobre o livro trocaremos algumas ideias ao entardecer com o escritor Modesto Navarro e com o militar de Abril e prefaciador, almirante Martins Guerreiro.

Serás bem recebido e não darás o tempo por mal empregado se apareceres. E traz outro amigo também! O convite-programa segue em anexo com um abraço do autor.

Armando Sousa Teixeira

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16225: Agenda cultural (485): Inauguração da Biblioteca Central da UAC - Universidade Amílcar Cabral, Bissau, 5ª feira, 23 de junho, 10h00... Doação de livros do prof Russel Hamilton, especialista norte-americano em literatura africana de expressão portuguesa, falecido em 27/2/2016

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14918: Álbum fotográfico de Carlos Alberto Cruz , ex-fur mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió e Cachil, 1964/66)



Foto nº 1 > Lisboa, 8/1/1964, a ponte sobre o Rio Tejo, em construção: imagem do pilar norte, tirada do T/T Quanza. Uma foto notável com esta obra, emblemátca do Estado Novo, cuja construção demorou 3 anos e meio (novembro de 1962 a agosto de 1966). No regresso, o BCAÇ 619 já passou sob o tabuleiro da ponte...



Foto nº 2 > Lisboa, 9/1/1964 > O N/M Quanza, no cais da Rocha Conde de Óbidos


 Foto nº 3 >  Lisboa, 8/1/1974 > O Carlos Criz no dia da partida, no cais da Rocha Conde de Óbidos (... e não de Alcântara)... Era daqui que partiam os navios da nossa marinha mercante para as "ilhas adjacentes" e as "províncias ultramarinas"... O cais de Alcântara estava reservado às carreiras internacionais...


Fotop nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Catió > c. 1964/66 > Aspeto geral da vila, que foi sede do BCAÇ 619 (1964/66)


Fotop nº 4 A > Guiné > Região de Tombali > Catió > c. 1964/66 > Em prijmeiro plano, instalações ocupadaas pelo  BCAÇ 619 (1964/66) (1): em segundo plano, a igreja de Catió



Fotop nº 4 B > Guiné > Região de Tombali > Catió > c. 1964/66 > Em prijmeiro plano, instalações ocupadas pelo BCAÇ 619 (1964/66) (2)



Fotos do álbum do nosso camarada Carlos Alberto [Rodrigues]   Cruz, ex-fur mil, CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66), membro da nossa Tabnca Grande desde 20/1/2014 e frquentador da Magnífica Tabnaca da Linha.

Sobre Catió (vila, quartel, porto interior e porto exterior, e ainda Ganjola), vd. o valiosíssimo e vasto  álbum fotográfico do Victor Condeço (1943-2010) que foi fur mil mec armamento da CCS/BART 1913 (Catió, 1967/69). Pesquisar em Google Imagens = Catió + "Victor Condeço".


Fotos (e legendas): © Carlos Alberto Cruz (2014). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: LG]


1. A CCAÇ 617 comemorou o ano passado o 50º aniversário da sua partida para  Guiné: foi a 8/1/1964, a bordo do T/T Quanza. Estas fotos que publicamos,  com a devida autorização do autor, foram "postadas" no blogue CCAÇ  617 - Guiné, com data de 3 de janeiro de 2014, e também já pubicadas, algumas, no nosso blogue, as da partida de Lisboa. 

Além da CCAÇ 617, embarcaram também no T/T Quanza  as restantes subunidades que pertencaim ao BCAÇ 619; as CCAÇ 616, 618 e 619

Recorde-se, resumidamente, o historial do BCAÇ 619 (Catió, 1964/66)

Carlos Alberto Cruz: Lisboa, Cais da Rocha
Conde de Óbidos, 8/1/1964

(i) Mobilizado pelo Regimento de Infantaria nº 1, Amadora;

(ii) sob o comando do Tenente-coronel de Infantaria Narsélio Fernandes Matias; 2º Comandante o Major de Infantaria Manuel de Jesus Correia; e como Oficial de Informações e Operações/adjunto o Capitão de Infantaria Rogério Jorge Vale de Andrade; comandante da Companhia de Comando e Serviços (CCS)  era o Capitã SGE José Francisco Galaricha;

(iii) dvisa: “Sentinela do Sul”;

(iv) embarca em Lisboa no dia 8 e desembarca em Bissau a 15 de Janeiro de 1964;

(v) em 17 de janeiro de 1964 assume a responsabilidade do Sector F, substituindo o Batalhão de Caçadores nº 356;

(vi) tem a sede em Catió e os subsetores de Catió, Empada, Bedanda e Cabedú;

(vii) integrou a  Operação Tridente (Ilha do Como, de 5 de Janeiro a 24 de Março de 1964);

(viii) passou a integrar na sua zona de acção o subsetor de Cachil;

(ix) entre as operações que coordenou destacam-se as operações “Broca”, “Campo”, “Razia” e “Satan”, tendo apreendido 1 metralhadora pesada, 4 ligeiras, cerca de meia centena de espingardas e   pistolas metralhadoras, 30 minas e 59 granadas de armas pesadas;

(x) no  dia 11 janeiro 1965 o setor passa a ser designado por Setor S 3 e em 17 de janeiro de 1965 passa a incluir o subsetor de Cufar, então criado na sua zona;

(xi) com as populações dispersas, a 17 de março de 1965 iniciou a experiência de reagrupamento de populações, sendo criada a tabanca de Ualala, para o efeito;

(xii) é rendido em 21 de janeiro de 1966, pelo BCAÇ 1858, seguindo para Bissau w ficando a aguardar embarque.


domingo, 12 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14869: Memória dos lugares (305): A vida também corre como um rio (Juvenal Amado)

1. Em mensagem de 2 de Julho de 2015, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), fala-nos dos rios da sua vida:


RIOS HÁ MUITOS, MAS ALGUNS FICARAM MAIS NA NOSSA MEMÓRIA

Na minha terra existem dois rios que se juntam, um vindo de Nascente e outro vindo de Poente formando assim um só rio denominado Alcobaça. São rios dóceis quase inexistentes praticamente tapados por arbustos que crescem nos seu leitos e margens durante grande parte do ano, mas no entanto, não deixam de crescer avolumar-se quando as chuvas caiem nalguns anos com maior precipitação sobre toda zona de Alcobaça.


Local onde se juntam o Alcoa e o Baça

Nessas alturas as águas descem as encostas engrossam ribeiros que por sua vez descarregam no rio Baça ou no Alcoa provocando cheias, prejuízos, inundações em habitações, interrompem estradas e caminhos, inundam os campos de cultivo que vão desde Mendalvo até aos campos da Fervenç com as outrora famosas Termas da Piedade, aos do Valado dos Frades, Cela Nova e por fim à sua foz na Nazaré, onde o mar fica barrento durante o tempo em que duram as chuvas.

É uma atração ir à Cela Velha, e lá do alto, admirar os campos todos encharcados pelo então rio Alcobaça, onde desapareceram os canais de irrigação para a agricultura e por vezes só se vêm as árvores de fruto acima do nível das águas. Quando vivia na Av. Bernardino de Oliveira onde morei entre 1962 e 1980, o rio Baça, que nasce na localidade de Vimeiro, passava do lado de lá das casas e da estrada. Nessa altura inundava os terrenos e lembro-me bem da aflição dos moradores do pátio do Joaquim do Talho mesmo à entrada da minha rua, também popularmente conhecida por Portas de Fora, quando as águas o invadiam a ponto de pôr em risco as moradias ao nível térreo. Não podíamos ir à Fonte Nova, que para além de local de namoro para os/as alcobacenses, também tinha água corrente e servia de passeio no Verão ir buscar água numas bilhas de barro, que a mantinham fresca.

Dizia-se que quem bebesse água daquela fonte ficaria para sempre ligado à outrora vila de Pedro e Inês e daí o poema da canção que Tavares Belo escreveu e a cantora Maria de Lurdes Resende imortalizou, que diz “Quem passa por Alcobaça/ Não passa sem lá voltar”.

O rio atravessa grande parte da hoje cidade, por baixo de algumas ruas e acabava por galgar por cima da ponte, invadir a Av. João de Deus, arrastando alguns carros, pois os muros que o apertavam, acabavam por ceder. Também ali exercitei a pontaria com espingarda pressão-de-ar atirando às ratas, que eram quase do tamanho de coelhos bravos e quem sabe, se não devo a isso a boa nota que tive na carreira de tiro em Coimbra durante a recruta.

As águas do Baça também invadiam tumultuosas o próprio Mosteiro, onde os monges construíram no curso do rio uma extracção de água, apelidada de Mãe de Água. Este foi o ponto de partida de uma canalização de 3,2 km, na sua maior parte subterrânea, que abastecia o Mosteiro com água fresca e limpa.

O Rossio pagava a factura durante os Invernos mais rigorosos e ficava cheio de lama e pedras que desciam empurradas pelas águas desde a encosta da Vestiaria ou do Casal Pereiro galgando passeios e entrando nas lojas e acabando por engrossar caudal, que por vezes o rejeitava de tão espartilhado estar, que saía pelas grelhas dos biqueirões ou pelas pias de despejo das casas mais baixas .

Quanto ao rio Alcoa, nasce em Chiqueda, era também atracção quando o seu nascente rebentava nos Olhos de Água ou Poçoão e as rápidas cheias que provocava. No Verão tomava-se banho nalguns locais e as mulheres iam lavar a roupa disputando o sítio e enxotando a garotada. Aí rio tomava a alcunha do dono das terras por onde corria e passava a chamar-se rio Narciso, ou Aníbal, num local que fica perto da Junta Nacional dos Vinhos. Era à vontade do freguês.

Lavadinha

Rio Alcoa

Rio Alcoa

O rio Tejo também está para sempre ligado às minhas visitas aos meus tios na rua da Saudade, onde através da janela da cozinha eu via o rio e os barcos que lá navegavam. Saborosas foram também as travessias até Cacilhas no cacilheiro e a esperança de ver algum golfinho. Mais tarde este rio ficou associado a momentos dolorosos como a partida do meu irmão para Moçambique e mais tarde, a minha própria partida para a Guiné.

Mas como era de prever ao ir para a Guiné deixei para trás o rio da minha terra, mas os rios continuaram a fazer parte da minha experiência além Mar, embora não houvesse nenhum em Galomaro.

Naveguei cinco vezes no Geba, deliciei-me com abundância de água no pelo Corubal que banhava o Saltinho.

O Geba era uma artéria viva e indispensável ao reabastecimento da zona Leste e navegava-se até ao Xime ou até Bambadinca. Em Bafatá era majestoso e dava beleza à cidade.

Haviam porém, rios pequenos daqueles que nós nos esquecemos que existem, pois eram insignificantes durante quase todo o ano, até que chegavam as chuvas e se tornavam num bico de obra.

Havia um desses rios no caminho para Cancolim, que nos deu como se pode chamar água pelas barbas, quando tentávamos abastecer a Companhia 3489. Mal começava a chover, o malvado engrossava e corria rápido por baixo de uma pequena ponte, que tinha parte do tabuleiro danificado por uma mina com que o IN tentou destrui-la. Ora só tínhamos lugar para as rodas das viaturas passarem e quando a águas submergiam a ponte, nós deixávamos de ver o trilho.

Era então preciso que os camaradas que iam fazer a escolta, dessem as mãos uns aos outros e assim com água pelo o peito, indicarem-nos por onde podíamos passar. Não era fácil para eles nem para nós. Eu tirava as botas e as cartucheiras não fosse o diabos tece-las.

Depois de passarmos, mais atascanço menos atascanço, lá chegávamos a Cancolim e começávamos a fazer contas de cabeça a respeito do regresso, pois o problema do rio estava lá à nossa espera, a não ser que entretanto, as águas baixassem facilitando assim o nosso regresso.

Uma vez o rio encheu de tal forma que não houve nada a fazer e as mercadorias tiveram que ser passadas em botes e carregadas em viaturas do lado de lá.



Como se pode ver, os rios foram uma constante na minha vida, mas a melhor experiência com eles, foi a minha viagem do Xime para Bissau quando o 3872 em Março de 1974 foi rendido. Pudera, era a peluda que se aproximava à medida que nós embarcamos e descemos aquele rio barrento, de cor acinzentada, na direcção de Bissau.

Cantávamos então: Galomaro/Tem mais encanto / Na hora da despedida, com música de uma conhecida balada de Coimbra logo seguida de Cheira bem / Cheira a Lisboa...

Juvenal Amado
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14868: Memória dos lugares (302): Rio Grande de Buba, calmo e soberbo, de água salgada, que nasce no mar ao largo de Bolama e acaba em Buba (Francisco Baptista)

quinta-feira, 5 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14323: Manuscrito(s) (Luís Graça) (48): Foi você que pediu uma Kalash ?



Lisboa > Beira Tejo > Pôr do sol no Atlântico, visto do estuário do Tejo, em Belém, junto ao Museu do Combatente (Forte do Bom Sucesso). 5/11/2011

Foto: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados




Foi você que pediu uma Kalash ?

Luís Graça



Há uma luz difusa,
mistura de ternura e de saudade,
quando o sol se põe
em Lisboa,
e tudo à volta é a humanidade
que arde.

Impensável o fado da idiossincrasia lusa
sob o céu de chumbo 
de Atenas.
Impensável 
ou improvável,  apenas ?
Porque de pias intenções,
maus pensamentos 
e piores ações está o inferno cheio,
as praças, do Comércio ao Rossio,
e os marcos do correio.

Ah!, o bravo Ulisses, o grego,
o que ele andou p’ra aqui chegar, 
depois de transpostas as colunas de Hércules, 
e fundar 
a mítica cidade atlântica de Olissipo. 
Ah!, a Lisboa,
que os poetas amaram 
e onde nunca foram amados,
do Cesário Verde ao Álvaro de Campos.
Ah!, Lisboa
com as suas casas de muitas cores,
caiadas de branco.

Chora, e não é de medo,
o judeu sefardita, 
a sua desdita,
cristão novo, marrano,
a caminho do degredo:

─  Ai!, a doce luz de Lisboa,
filtrada pelo espelho de água do Tejo,
mais o pôr do sol sobre o Atlântico Norte
que começa no Bugio.
Não sei se estarei cá, p’ró ano,
que a vida e a morte
são jogos de azar e sorte.
Só sei que o que sinto,
é já saudade, 
porque… é arrepio!



No tempo em que a terra era plana,
antes das viagens de circum-navegação,
não podias imaginar o novo mundo
e, lá ao fundo, 
Copacabana,
mais as cataratas de Iguassu,
Darwin e a teoria da evolução,
e o tu-cá-tu-lá de deus com a ciência.
Muito menos a crioula e o seu cretcheu,
o tango,
o flamengo, o fado,
o dundum, a coladera
o samba, a morna, 
o lançado, o tangomau,
o escravo do Cacheu,
e a santa paciência
com que a gente vive, morre e não retorna.

Chama-lhe o que quiseres,
mas tens uma dívida de gratidão,
à Grécia antiga,
ao Homero,
ao Platão,
à bela e pérfida Helena de Troia,
ao ateniense e ao espartano,
aos deuses e deusas do Olimpo…
Que serias tu, sem o Ícaro,
mas também sem boia
nem colete de salvação ?
Que importa, afinal, a nobreza de um povo,
grego, judeu ou lusitano,
se a espada do sacro imperador romano
está suspensa por um fio
sobre a tua cabeça ?!

Em Lisboa, a norte, 
no caminho do São Tiago,
o santo decapitado,
guiando os feros exércitos da Reconquista,
no seu constante vaivém do ir e vir,
à volta da Europa e dos seus picos
de civilização.
E a sul, a autoestrada da globalização
onde cada turista 
tem direito ao seu recuerdo,
um postal ilustrado do futuro 
que seguirá dentro de momentos…
Allah Akbar!, ainda ecoa o último grito 
da batalha de Alcácer Quibir.

Mais a sul, 
as febres palúdicas do Geba e do Corubal,
grau 35 do frio polar,
esmagando os teus ossos;
grau 42 do fogo infernal,
implodindo a tua cabeça.
Viras na curva do rio,
para desceres ao fundo da terra,
verde e vermelha, 
dos pesadelos.


Dos miradouros dos grandes cruzeiros
que demandam o Tejo
não se vê a solidão dos velhos,
à beira rio,
tentando em vão
reacender o pavio
do desejo.
Muito menos os mariscadores
do mar da Palha
onde apodrece a última nau
do caminho marítimo para a Índia.
Ou ainda os moços que partem na frota branca
para os bancos de pesca do bacalhau, 
na Terra Nova,
sete vidas, sete safras,
servindo a velha pátria
em alternativa à guerra de África.

Lisboa, forrada a dourada talha,
estremece,
sob o peso da carruagem
do senhor dom João Quinto.
Dizes adeus a Fernão Mendes Pinto
que parte em viagem 
para o império do sol nascente,
levando consigo os botões, 
as armas de fogo 
e as emoções
dos bárbaros do sul.

 Canta-lhe, Mísia,  aquele fado,
que diz: “Arrefece
a última lava do vulcão
do teu corpo, amor,
mas ainda estremece,
ou não foras tu, velha Lisboa, 
sempre (e)terna,
menina e moça, bajuda, mulher”.

Entardece,
ensandece a cidade,
todas as sextas-feiras treze
do novo milénio.
Valha-nos as cruzes, canhoto,
contra o mau olhado.
E vade retro, Cronos, 
que, depois de devorares os teus filhos,
hás de devorar-te a ti próprio!
E quem tem bula come
carne,
não precisa de engenho e arte,
diz o cristão, velho e relho.
Mas é amarga a ostra,
e mortal a ameijoa
com que os pobres matam a sua fome.

Afogas-te em absinto,
bebida antiga de poeta,
depois de teres mandado cortar
as copas dos pinheiros bravos
por te taparem
a linha perdida do horizonte.
Mas já não há horizonte,
querida,
nem rosas nem cravos,
quebrada que foi a linha da vida.

Sem ajuda do Google Earth, 
à vista desarmada,
encontras aqui o teu lugar,
definitivamente provisório,
provisoriamente definitivo,
porque sabes que é tão irrisório
partir como absurdo ficar,
para quem da vida é fugitivo. 
Sentas-te numa esplanada
na doca de Belém,
com vista de mar:

─ Foi você que pediu uma Kalash ? ─ 
pergunta-te um dos sem-abrigo,
antigos estivadores e fragateiros,
pescadores e marinheiros,
agora tristes desempregados de mesa,
predadores à espera de presa.
Estão ali simplesmente à coca do turista.

 Não, obrigado, amigo,
mas não me faltava a vontade…











 Temos as melhores Kalash da cidade, 
das originais e das contrafeitas…
É só puxar a culatra

e meter uma bala na câmara,
e ficar à escuta...

Não insista!...
Para que haveria eu de querer uma arma,
essa é boa!,
se não tenho licença… para matar?!


Mal por mal, 
protestas contra o autocrata,
metes uma baixa psiquiátrica,
e pedes uma azeitona ou uma tâmara
e um copo… de cicuta,
enquanto o sol se põe em Lisboa!...


Lisboa, beira Tejo, fev 2015




Guiné > Região do Boé > Madina do Boé > CCAÇ 1589/BCAÇ 1894 (Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68). >  Uma Kalash, capturada ao PAIGC...

Foto do álbum fotográfico do nosso camarada Manuel Caldeira Coelho, ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 (Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68).

Foto: © Manuel Coelho (2011). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14308: Manuscrito(s) (Luís Graça) (47): Quem em caça, política, guerra e amores se meter, não sairá quando quiser...

Sobre a Kalash e a Kalashnikovmania, vd. entre outros os postes de:

25 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7335: Kalashnikovmania (5): Passados tantos anos sobre a guerra, continuo fã incondicional da G3 (Mário Dias)

17 de janeiro de  2008 > Guiné 63/74 - P2445: Em louvor da G3, no duelo com a AK47 (Mário Dias)

17 de maio de 2005 > Guiné 63/74 - P20: Foi você que pediu uma kalash ? (David Guimarães)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14016: Agenda cultural (364): Camarada, uma exposição a não perder, até ao dia 19 ( e, se a perderes, ficas mais pobre..): "Maresias: Lisboa e o Tejo, 1850-2014", no Torreão Poente do Terreiro do Paço (agora integrado no novo Museu de Lisboa)


Lisboa > Cais da Ribeira > A doca da Caldeirinha


Lisboa > A estátua equestre de Dom José I no centro da Praça do Comércio


Lisboa > 8 de dezembro de 2014 > O renovado Cais da Ribeira, com destaque parea a doca da visto  Torreão Poente do Terreiro do Paço. Em primerio plano, a doca da Caldeirinha


Lisboa  > 8 de dezembro de 2014 >  O Tejo visto de um janela do Torreão Poente do Terreiro do Paço (agora parte integrande do novo Museu de Lisboa, ex-Museu da Cidade)


Fotos: © Luís Graça  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. Exposição: "Maresias:  Lisboa e o Tejo, 1850-2014"

Data / horário: de 14 julho a 19 dezembro | todos os dias | 10h00-20h00

Local

Torreão Poente do Terreiro do Paço

Terreiro do Paço, Lisboa

Visitas guiadas aos sábados às 15h00 (português) e às 17h00 (inglês)

Preço: 3€ | bilhete Família: 8€ ! Séniores: 2 €
Catálogo: 5€
+ Info T. 914 273 871 | email: maresias.expo.lisboa@gmail.com

2. Exposição fotográfica e documental, organizada em 6 núcleos: 

Cais dos Aventureiros, 
Terreiro do Paço, 
Barcos do Tejo, 
Cais do Sodré, 
Arsenal
e Fantasias Lisboetas, 

Caros leitores, camaradas e amigos:

E uma pena perderem esta exposição que vai acabar, oficialmente, no dia 19 do corrente. 

Eu, que sou um apaixonado por esta cidade, pelo rio Tejo, e pelo Terreiro do Paço, onde trabalhei uns largos anos, nas décadas de 1970/80, adorei ver, com tempo e vagar, esta exposição.... Eu chamar-lhe-ia "Maresias: Lisboa, Tejo, um século e meio de memórias e amnésias"... Eu explico: a amnésia, provavelmente, não intencional, é a ausência de um núcleo sobre o porto de Lisboa, p.d., e em especial, o Cais da Rocha Conde de Óbidos, donde partiram nos anos 60/70 mais de um milhão de homens para a guerra colonial...

Não percebo o critério do comissariado, constituído por José Sarmento Matos (comissário científico) e António Miranda e Margarida Almeida Bastos (Museu da Cidade), que optou por confinar a frente ribeirinha de Lisboa à zona que vai de  Xabregas a Santos, deixando de fora Alcântara, por exemplo... Ora um dos 6 núcleos da exposição são as "Fantasias de Lisboa", que inclui a Exposição do Mundo Português (1940) (em Belém) e a Expo' 98 (na zona oriental da cidade, que vai da Matinha e Cabo Ruivo até à Foz do Rio Trancão)...

Lisboa e sobretudo o Tejo, e o seu estuário (que é o maior da Europa) fazem parte também das nossas memórias e do nosso imaginário, enquanto  combatentes da guerra colonial.  Foi do Cais da Rocha  Conde de Óbidos  que muitos de nós partimos, por mar,   para a Guiné, nos T/T Uíges, Niassas, Anas Mafalda, Alfredos da Silva... Ou foi nos bares das putas do Cais do Sodré que bebemos o último uísque marada antes de subir o portaló do navio onde fizemos o "cruzeiro das nossas vidas"... Mas isso é outra história (que contamos aqui no nosso blogue há mais de 10 anos)... Como é outra história as dezenas de milhares de contentores, com os restos do império, os haveres dos "retornados e África", que atravancaram os cais do Porto de Lisboa, durante anos, emparedando os "amantes do Tejo"...

Eu sei que esta é a parte dolorosa da nossa história recente, dos anos 60 a 80 do século passado (a guerra colonial, a descolonização, o fim do império) de que os olipógrafos provavelmente não gostam muito de falar...

De qualquer modo, aqui fica o  convite, dos organizadores,  para  "uma viagem entre Xabregas e Santos, zona de contínuas e profundas transformações que se intensificaram a partir de meados do século XIX, por força da aceleração imposta pela tecnologia e modernização".

(...) "Cantada por fadistas, celebrada por poetas e, por vezes, maldita pelos lisboetas, a maresia que, por força da geografia, o Tejo empresta à cidade, é o fio condutor d[est]a exposição" que o Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa e a EGEAC organizaram no Torreão Poente do Terreiro do Paço.

É comissariada por José Sarmento de Matos, ilustre olissipógrafo,  com António Miranda e Margarida Almeida (Museu da Cidade).

"O Tejo, intemporal, e as suas margens, alteradas pela natureza e pelo homem, reuniram ao longo dos cerca de 160 anos retratados nesta exposição um vasto património material e imaterial feito de histórias, edifícios, projetos, pessoas, objetos."

Camaradas, os de Lisboa e arredores, aproveitem este fim de semana, para verem as "Maresias",,, de que todos nós, portugas, somos feitos,,, Parafraseando a Sophia de Mello Breyner, "mar, metade da minha alma é feita de maresias"... (LG).

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de dezembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13984: Agenda cultural (367): Apresentação do livro "Angola, Terra d'Uanga", de autoria do Comandante Luís Vieira da Silva, dia 11 de Dezembro de 2014, pelas 15h00, na Messe de Oficiais, Praça da Batalha, Porto (Manuel Barão da Cunha)