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sábado, 17 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25179: Fichas de unidade (34 ): CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67)

 

Guião da CCÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67) (Cortesia: Coleção Carlos Coutinho, 2009)


1. Não temos cópia da história da CCAÇ 797, uma subunidade que foi comandada pelo ex-cap inf Carlos Fabião (1930-2006) e a que pertenceu, entre outros,  o nosso "brasileiro de Cinfães", o ex-1º cabo radiolegrafista Nicolau Esteves (*). 

Isso não nos impede de saber um pouco mais das suas andanças na Guiné, entre abril de 1965 e janeiro de 1967.  Atuou sobretudo na região de Quínara (Sector Sul 1, S1, Tite).

Há algunas referências no livro da CECA (2014) sobre a atividade operacional desta companhia, sempre no Sector S1, Tite. Aqui vão:

  • 9Mai65 - Op Ivo

No dia 9Mai65, na operação "Ivo", forças da CCav 677 e CCaç 797 destruíram um acampamento com dois grupos de casas, em Aldeia Nova e em Gambinta, onde sofreram uma emboscada.

Foi capturada 1 granada de mão, várias munições e documentos. 

No dia seguinte surpreenderam um grupo lN em Flaque Intela, causando-lhe baixas não estimadas e capturando várias granadas de mão.

 As NT foram flageladas em Feninque e Biogate (CECA, 2014, pág. 312).

  • 29Mai65 - Golpe de mão a leste de Saliquinhe

(...) Em 29Mai, forças da CCaç 797 efectuaram um golpe de mão a leste de Saliquinhe, tendo destruído 5 casas que aparentavam ser local de reabastecimento do lN, pois continham grandes quantidades de arroz, "vinho" de cajú, medicamentos, camas novas, mosquiteiros, colchões de palha e almofadas

Foram detidos 61 nativos que anteriormente residiam na tabanca Gã Sene. (...)

  •  6Jun65 - Golpe de mão a norte de Jufá

(...) Em 6Jun65, forças da CCaç 797, durante um golpe de mão, destruíram um acampamento a norte de Jufá; o lN sofreu 2 mortos e foram capturadas 11 espingardas, 1 pistola metralhadora e outro material de guerra. (CECA, 2014, pág. 313).

  • 14Dez65 - Op Onça na península de Gampará

(...) Em 14Dez65, o BCaç 1860, através das CCaç 797 e CCaç 1420, realizou a operação "Onça", na península do Gampará.

O lN opôs resistência durante o desembarque das forças da CCaç 797 em Ganquecuta; emboscou por 2 vezes as mesmas forças na região de Gambachicha, causando 3 feridos e flagelou forças da CCaç 1420, perto de Tumaná, sofrendo 5 mortos.

 As NT fizeram 10 prisioneiros e capturaram 1 espingarda (CECA, 2014, pág. 324).

9-10Jan66 - Op Orfeu, golpe de mão a sul de Fulacunda

 Forças da CCaç 797(-) e da CCaç 1487(-) executaram um golpe de mão sobre o acampamento ln localizado a sul de Fulacunda.

O acampamento era constituído por 15 casas de mato que foram destruídas.

Foi feito 1 ferido ao lN e capturado 1 lança-granadas foguete, 3 espingardas e 1 pistola, além de documentos e outro material (CECA; 2014, pág, 387).

Fonte: CECA (2014, pág. 389)


  • 10Fev66 - Op  Osso em JUfá

 Esta operação foi realizada por forças das CCav 677(-), CCaç 797, CCaç 1487(-) e CPara(-). )

Foi destruída a tabanca de Jufa e capturada 1 pistola metralhadora, munições e material diverso.

Também aniquilado acampamento em Flaque Sunha e destruída grande quantidade de arroz; capturados documentos, munições e 1 pistola metralhadora. Destroçados acampamentos em Bissilão e Flaque Cibe. Feitos 10 prisioneiros e 6 mortos ao lN (CECQA, 2014, pág. 392)

30Mar66 - Op Narceja

(...) Forças das CCav 677(-), CCaç 797, CCaç 1487 e 2 GCmds "Os Apaches" e "Os Vampiros", realizaram uma batida na região de Gã Formoso e Ganduá Porto.

Na região de Gã Formoso, foram derrubados 3 acampamentos; causado ao l N 4 mortos e aprisionado 1. 

As NT apreenderam 10  espingardas e material diverso, tendo destruído grande quantidadede arroz. Destruído 1 acampamento em Bedeta, causado ao lN 1 morto e capturada 1 espingarda e outro material.

 As NT sofreram 7 feridos (CECA, 2014, pp. 392/393)

  • 25Mai66 - Op Quezília

(...) Esta operação teve por objectivo uma batida às matas de Aldeia Nova, Vanandim, Gã Saúde, Louvado e Bila. Foi efectuada por forças da CCaç 1549 (-), 1 GComb/CCaç 797, 1 GComb/CCaç 1487 e 1 GComb/CCaç 1499.

As forças destruíram dois acampamentos e duas tabancas lN, capturando material, munições e documentos diversos. Foram destruídas grandes quantidades de arroz, chabéu", óleo de palma,gado e vários utensílios domésticos e recuperados 20 elementos da população das tabancas de Louvado e Bila. As NT causaram ao ln 3 mortos e várias baixas prováveis. (CECA, 2014, pág. 402)

(...) O conjunto de operações mais interessantes do período foi realizadono o Sector SI e correspondeu à batida sucessiva dos compartimentos de terreno a leste do rio Louvado

Da Op Osso, em que se procedeu à destruição extensiva dos recursos lN, resultou a diminuição do número de flagelações a Jabadá e na bolanha do rio Louvado. As operações Nebri e Narceja realizadas mais a leste foram caracterizadas por incidentes que obrigaram a uma constante adaptação do planeamento à evolução da situação; os resultados da última operação foram particularmente prejudicados quando, num golpe de sorte, o lN conseguiu imobilizar um helicóptero na zona de acção.

Foram alteradas as missões das Unidades para se garantir a protecção da aeronave, verificando-se uma excelente colaboração dos elementos dos três ramos das Forças Armadas que participaram no incidente. (CECA, 2014, pág. 397)

Anexo n° 1 - Ordem de Batalha - 1 de Julho de 1965 (CECA, 2014, pág. 347)

(...) c. Agrupamento 17 (CECA; 2014, pág. 353)

(1) Comando - Zona Sul Bolama

(2) BCAÇ 599

- Comando - Sector Sl Tite

- CArt 565 Fulacunda

- CCav 677 (-) S. João

- 1 Sec/CCav 677 Ilha das Galinhas

- CCaç 797 (-) Tite | - 1 Pel/CCaç 797 Enxudé

- C I M Bolama

- 1 Pel CIM Ilha das Cobras

- Pel Caç 955 Jabadá

- Pel Mort 912 (-) Jabadá

- 1 Sec/Pel Mort 912 no Sector do BCaç 619

- Pel AMetr "Daimler" 807 (-) Tite

- 2 AMetr do Pel AMetr "Daimler" 807 Jabadá (...) 

Anexo n° 3 - Ordem de Batalha - 1 de Julho de 1966 (CECA, 2014, pág, 463)

(...) Agrupamento 1975 - Comando Zona Sul  (CECA, 2014, pág. 472)

(...) • BCAÇ 1876 (CECA, 2014, pp. 475/476)

- Comando - Sector B Bissau

- CCaç 1488(-) Quinhámel

- 1 Pel Ilondé

- 1 Sec(+) Orne

- 1 Sec P.Vicente da Mata

- CCaç 1565 Bissau

- CCaç 728 Bissau

- CCaç 797(-) Nhacra  | - 1 Pel Safim | - 1 Sec(+) Ponte de Ensalmá | - 1 Sec(+) João Landim

- Pel Mort 1087 Bissau

- Pel AMetr "Daimler" 997(-) Bissau

- 2 AMetr na BA 12

- Comp Milícia 1O(-) Safim

- 1 Pel Nhacra (...) 

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 6º volume:  aspectos da actividade operacionaç Tomo II: Guiné, Livro I. Lisboa: 2014. pp. 314/316.
______________

2. Ficha de unidade > Companhia de Caçadores n.º 797


Identificação: CCaç 797
Unidade Mob: RI 1 - Amadora
Cmdt: Cap Inf Carlos Alberto Idães Soares Fabião
Divisa: -
Partida: Embarque em 23Abr65; desembarque em 28Abr65 | Regresso: Embarque em 19Jan67

Síntese da Atividade Operacional

Após o desembarque, seguiu imediatamente para Tite, onde substituíu a CCaç 423, em 29Abr65, ficando com a missão de intervenção e reserva do BCaç 599 e depois do BCaç 1860 e guarnecendo com um pelotão o destacamento de Enxudé

Na função de intervenção, tomou parte em diversas operações efectuadas no sector, de que se destacam as acções nas regiões de Gã Saúde e Jufá, em que capturou 2 metralhadoras e 14 espingardas e nas regiões de Bissa0lão, Gampari e Gã Formoso.

Em 20 e 26Abr66, por troca por fracções com a CCav 677, foi colocada em S. João mantendo o pelotão de Enxudé e destacando ainda um pelotão para Jabadá, de 13Mai66 até 30Mai66. 

Em 30Mai66 e 03Jun66, foi rendida pela  CCaç 1566, por fracções, deslocando-se então para Nhacra.

Em 6Jun66, assumiu a responsabilidade do subsector de Nhacra, com destacamentos em Sanfim e João Landim, rendendo a CCav 1484 e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1876, com vista à segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 16Jan67, foi rendida no subsector de Nhacra pela CCaç 1487, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 94 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 339
___________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


16 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25175: Faceboook...ando (51): seleção do álbum fotográfico de Nicolau Esteves, o "brasileiro de Cinfães", ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67) - II (e última)

(**) Último poste da série > 11 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25056: Fichas de unidade (33): BCAÇ 3883 (Piche, 1972/74), CCAÇ 3544 (Buruntuma), CCAÇ 3545 (Canquelifá) e CCAÇ 3546 (Piche)

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25173: Faceboook...ando (50): seleção do álbum fotográfico de Nicolau Esteves, o "brasileiro de Cinfães", ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67) - Parte I

 

Foto nº 1 > Cartão de Boas Festas e Feliz Ano Novo.  Ao canto superior direito o brasão da CCAÇ 797. Na foto, o 1º caboradiotelegrafista Esteves a escrever para a famíçia e amigos. Local: tudo indica que seja Tite (onde a companhia esteve cerca de um ano, até abril de 1966). 


Foto nº 2 >  o 1º cabo radiotelegrafista Esteves lendo, na cama,um livro, cujo título não onseguimos identifiar


Foto nº 3 > O T/T Uíge que transportou o pessoal da CCAÇ 797 em abril de  1965



Foto nº 4 > O  1º cabo radiotelegrafista Esteves no regresso de saída para o mato com "banho de bolanha"... A G3 sem carregador...
 


Foto nº 5 > Na capela do quartel de Tite, sector sul,  Se  (Tite)

 A N. Sra. de Fatima também  nas matas da Guiné. . 


Foto nº 6 > Mais uma foto para a família... em Cinfães, na serra de Montemuro.


Foto nº 7 > Brindando à vida, à camaradagem, à amizade


Foto nº 8 > "A nossa equipa de futebol" (o Esteves  usa o termo "time", à brasileira)


Foto nº 9 > "Beira rio em São João" (já em 1966)... O Esteves será o camarada da  direita. 


Foto nº 10 > Quartel de Tite (c. 1965/66)

Fotos (e legendas): © Nicolau Esteves (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Nicolau Esteves, Susano, São Paulo, Brasil


1. Uma seleção do álbum fotográfico do ex-1º cabo radiotelegrafista Nicolau Esteves. A apresentação é dele, de acordo com a sua página no Facebook. As fotos (menos de 3 dezenas, de qualidade muito desigual, algumas delas riscadas), foram disponibilizadas em 20 de junho de 2016 na sua página do Facebook.  Foram selecionadas e editadas por nós. Os créditos fotográficos continuam a ser, obviamente,  do nosso camarada Esteves.

A sua publicitação nesta série ("Facebook...ando") e no nosso blogue ("Luís Graça & Camaradas da Guiné" ) permite que cheguem a um público mais vasto, e nomeadamente aos antigos combatentes da Guiné (1961/74), incluindo os seus camaradas de armas da CCAÇ 797, que passaram por Tite, São João e Nhacra. Publicaremos proximamente a II (e última) parte.

Na sua maioria as fotos não trazem legendas, e algumas estão em mau estado,  mas no essencial foram tiradas em Tite e em São João. Ficamos a  saber que o Esteves é natural de Cinfâes (portanto, vizinho da Quinta de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses; a quinta fica em contato visual com Cinfães, com o rio do Douro pelo meio, estando em frente à serra de Montemuro). 

Emigrou para o Brasil, muito provavelmente depois da "peluda". Faz anos  a 27 de janeiro. Casou com a Cilinha Esteves em 7 de setembro de 1973. O casal tem filhos e netos já criados no Brasil. Este "brasileiro de Cinfães" é pois mais um portuguès das sete partidas que foi engrossar a diáspora lusitana. Vê-se, pelo que vai postando, que tem orgulho e saudades da sua/nossa terra.

Fica convidado a integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande, juntando-se aos 884 camaradas e amigos da Guiné que já lá estão (entre vivos e mortos). Até ao momento é apenas amigo do Facebook da Tabanca Grande (temos alguns, poucos, amigos comuns).

Temos escassas 15 referências à CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67). Não há nenhum camarada desta subuniddae reistado formalmente na Tabanca Grande. Em tempos (11 e 13 de dezembro de 2022) fomos contactdos pelo ex-furriel miliciano, da CCAÇ 797, a propósito do malogrado Julio Lemos Martins (que era de Ponte de Lima), desaparecido no rio Louvado. 
 "Sou o nº 8 da foto e fui camarada do Júlio Lemos no infortúnio do rio Louvado. Vivo desde 1976 no Canadá. Eu e o Júlio éramos os responsáveis desse grupo de combate nesse fatídico dia. A partir dai nunca mais vivi"....

Também temos referência ao ex-fur trms, Henrique A. Mendes, através de correspondência com a filha. (Ele seguiu depois a carreira militar.)

Sobre o antigo cap inf Carlos Fabião temos 60 referências. (Fez 3 comissões na Guiné.)


"Fotos do período em que estive em combate na Guiné-Bissau (1965/1967)" 

 (Nicolau Esteves)


(i) "Desembarcou em Bissau em 29/04/1965, tendo viajado no barco Uíge;

(ii) Foi "inicialmente enviado a Tite, passando por São João e finalmente Nhacra";

(iii) Em Tite pertenceu ao BCAÇ 1860 e passou a integrar a Companhia de Caçadores 797 (CCAÇ 797), "Camelos";  o lema era: "O inimigo teme sempre quem não o mostrar temer";

(iv) Exerceu "a função de 1º Cabo Radiotelegrafista do Comando da Companhia, liderada pelo Comandante Carlos Alberto Idães Soares Fabião";
 
(v) Vive em Susano, Estado de São Paulo, Brasil;

(vi) Tem página no Facebook e é amigo do Facebook da Tabanca Grande;

(vii) Há dias comentou,  num um dos nossos postes: "No meu tempo, 65/67, um soldado ganhava 450 escudos, o cabo 900 e eu ganhva maís 300 de prémios de especialidade no caso, 1º cabo radiotelegrafista. Naquele tempo, não tendo onde gastar ainda deu para juntar uns trocados" (Facebook da Tabanca Grande, 13 fev 2024, o1:48)

Em suma, à volta (ou a pretexto) de umas fotos do nossos álbuns, podemos sempre contar mais umas histórias, colmatando lacunas dos registos oficiais ou oficiosos da nossa guerra A CCAÇ 797 teve uma atividade operacional intensa. Sabemos muito pouco das suas histórias, a não a ser o que já se escreveu sobre o desastre no rio Louvado.


Guião da CCAÇ 797 (Cortesia: Coleção Carlos Coutinho, 2009)


2. Ficha de unidade > Companhia de Caçadores n.º 797


Identificação: CCaç 797
Unidade Mob: RI 1 - Amadora
Cmdt: Cap Inf Carlos Alberto Idães Soares Fabião
Divisa: -
Partida: Embarque em 23Abr65; desembarque em 28Abr65 | Regresso: Embarque em 19Jan67

Síntese da Atividade Operacional

Após o desembarque, seguiu imediatamente para Tite, onde substituíu a CCaç 423, em 29Abr65, ficando com a missão de intervenção e reserva do BCaç 599 e depois do BCaç 1860 e guarnecendo com um pelotão o destacamento de Enxudé

Na função de intervenção, tomou parte em diversas operações efectuadas no sector, de que se destacam as acções nas regiões de Gã Saúde e Jufá, em que capturou 2 metralhadoras e 14 espingardas e nas regiões de Bissa0lão, Gampari e Gã Formoso.

Em 20 e 26Abr66, por troca por fracções com a CCav 677, foi colocada em S. João mantendo o pelotão de Enxudé e destacando ainda um pelotão para Jabadá, de 13Mai66 até 30Mai66. 

Em 30Mai66 e 03Jun66, foi rendida pela  CCaç 1566, por fracções, deslocando-se então para Nhacra.

Em 6Jun66, assumiu a responsabilidade do subsector de Nhacra, com destacamentos em Sanfim e João Landim, rendendo a CCav 1484 e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1876, com vista à segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 16Jan67, foi rendida no subsector de Nhacra pela CCaç 1487, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 94 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 339
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Nota do editor LG:

Último poste da série > 14 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25070: Facebook...ando (49): O Fernando Moreira (1950-2021), ex-fur mil trms, CCS/BCAÇ 3883 (Piche, 1972/74) terá sido o último militar do exército a falar pela rádio com o ten pilav Castro Gil (1950-1979) antes do abate do seu Fiat G-91 R/4, "5437", por um Strela, em 31/1/1974, sob os céus de Canquelifá

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24488: Historiografia da presença portuguesa em África (377): O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Dezembro de 2022:

Queridos amigos,
O rei da festa deste texto é o jornalista-cronista que acompanhou Craveiro Lopes em maio de 1955 à Guiné, é a matéria do primeiro volume que aqui se trata, o segundo volume prende-se com a continuação da viagem para Cabo Verde. Inusitadamente, o jornalista Rodrigues Matias sai do registo encomiástico, deixa Craveiro Lopes no altar e saúda a natureza, o feitiço africano entrou-lhe nas veias, como aqui se procura exemplificar. E mesmo quando tem que engalanar o ilustre visitante, a sua prosa parece assombrada, estes dias que já leva na Guiné trouxeram feitiço, ora vejam como termina um verdadeiro vendaval de dança Nalu na receção de Catió: "Um Sol de fogo chameja sobre o terreiro. Os nativos bailam, suando como esponjas espremidas. A três metros de alto, as caraças de trapo e madeira pintada esfuminham-se num turbilhão de poeira e, de cinco em cinco segundos, um rugido de dezenas de milhares de vozes grita vivas a Craveiro Lopes e a Portugal." De Catió, Craveiro Lopes irá a Cufar, regressando a Catió para pernoitar.

Um abraço do
Mário



O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (3)

Mário Beja Santos

Salazar não viajava, mas pôs os seus presidentes da República a visitar parcelas do império. Eleito em 1951, o general, a sua mulher, o ministro do Ultramar e a sua mulher, partem do aeroporto da Portela em 2 de maio de 1955, pelas 7h30 e aterram em Bissalanca pelas 15h locais. É Governador da Guiné Diogo de Melo e Alvim. O jornalista de serviço tece laudas à comitiva e ao séquito político que se vai despedir do presidente da República para esta viagem que não será curta. Fizeram-se obras em Bissalanca para haver uma pista capaz de receber uma aeronave daquele tamanho. Craveiro Lopes visitou demoradamente Bissau, percorreu a desditosa Bolama, atravessa o canal e de São João parte para Fulacunda. Continuamos a acompanhar o relato do jornalista Rodrigues Matias, verificará agora o leitor que ele nos aparece manifestamente inspirado. A ilustre comitiva partiu para São João, tinha então população predominantemente Biafada, temos agora um estirão de 42 km até Fulacunda. Diz-nos que a região é a das mais ricas de caça e, toda a Guiné, abundam aqui os búfalos, as gazelas, as cabras de mato e até os leopardos.

A prosa do narrador esmalta-se:
“A clareira por onde rolam os automóveis, remendada a vermelhões de baga-baga, foi machadada no corpo denso da floresta hidrófila, que ao Sul do Geba avança desde o mar, ladeando lalas e pântanos, através do Forreá, até ao limite das paragens montanhosas do Boé.
Vê-se neve na Guiné. Parece, mas não é. O grande poilão que se ergue no meio da neve, abre, a 40 metros de altura, a sua copa imensa sobre a vegetação que o circunda. E da mancha verde-escura da sua ramaria cerrada sacudida pela brisa, desprendem-se e caem flocos brancos de sumaúma chiada, que cobrem tudo por debaixo, vestindo a terra de brancores de neve…
Ébrios ainda da luz da manhã, que acende fulgurações tremeluzentes, na orvalheira do capim, esvoaçam, às sacudidelas bandos de rolas esmeraldinas, um solitário noitibó rabilongo, a freirinha, e a face laranja, habitantes das clareiras abertas.”


Após esta exuberância inusitada, Craveiro Lopes desembarca e recebe cumprimentos do administrador de Fulacunda, os cipaios apresentam armas, descreve Fulacunda, este nome quer dizer lugar de Fulas, é a região da Guiné mais rica de espécies florestais, estranhamente não tem serrações. Veladamente, tece uma crítica: “Fulacunda ficou sempre um produto de reforma administrativa, com autoridade, mas sem alma que a faça crescer. Deram-lhe, em 1946, um campo de aterragem, um quartel para cipaios e uma fonte pública em lugar aprazível, decorada com um painel de azulejos. Traçaram-lhe, à ilharga, na mesma altura, uma espantosa reserva de caça. No entanto, Fulacunda continua como a descrevemos.” E ficamos a saber que a estrada de Fulacunda vai até Catió. Craveiro Lopes procede à condecoração de quatro régulos, o régulo de Fulacunda ofertou duas pequenas onças, destinadas ao Jardim Zoológico de Lisboa.

Seguiu-se o habitual desfile dos povos da região, apresentando-se em grande maioria os Biafadas de Fulacunda, de São João e do Cubisseco, os Fulas de Buba, os Balantas de Tite e os representantes de grupos menos numerosos. A viagem agora continua rumo a Catió, mas o autor aproveita para fazer uma descrição detalhadíssima dos Biafadas, com base no trabalho do administrador Octávio C. Gomes Barbosa, intitulado “Breve Notícia dos Carateres Étnicos dos Indígenas da Tribo Biafada” publicado no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, N.º 2, 1946.

Já chegámos a Catió, é sede de circunscrição. E vamos aprender com o relato do nosso jornalista. Catió nasceu da teimosia de um comerciante, de nome Abel Gil de Matos, mas a história de Catió vem de mais longe, vem do século XIX e da China. O que se segue já mereceu escritos do nosso saudoso António Estácio e do investigador Philip Havik. Vamos aos factos. Dois chineses, acusados de crime de homicídio e jogo clandestino, depois de condenados vieram para aqui desterrados. E o autor esclarece que a Guiné continuava então a ser uma verdadeira terra de degredo, bom local para desterro de assassinos. Pois bem, os dois chineses dedicaram-se à pesca, adquiriram embarcações e ganharam intimidade com os nativos, tendo-lhes pedido informações de terras que pudessem cultivar. Terão assim obtido a revelação de que no continente, subindo um grande rio até a umas terras mal conhecidas se encontravam enormes extensões de boa terra inundada, onde era abundante a produção do arrozal. Começava assim a sua aventura, cultivaram e foram bem-sucedidos. Depois, correu fama entre os Balantas de algures, no Tombali, a terra era milagrosa e produzia ouro sobre a forma de arroz.

Bissau e Bolama pasmaram com a qualidade do arroz do Tombali, cabo-verdianos e europeus pediram concessões de terrenos. Instalou-se um posto administrativo em Sugá, mas um comerciante discordou do local e assim nasceu Catió, hoje povoado de primeira, tem estação radiotelegráfica, delegação de saúde, capela e escola missionária, bem como recinto de jogos. Ponto curioso é haver povoados na circunscrição com nomes de inconfundível sabor chinês, como é o caso de Com-Hane.

Baseando-se no relato do ex-governador Carvalho Viegas, de sua obra Guiné Portuguesa, o jornalista faz-nos uma descrição do povo Nalu, dado o facto da circunscrição de Catió ser o chão característico dos Nalus. O jornalista já pôs de parte os seus enleios de prosador esmerado, agora o que pesa é o estilo noticiário. “Ao desembarcar do automóvel presidencial no topo da artéria, uma espécie de loucura coletiva se apossou daquelas dezenas de milhares de pessoas, que irromperam em vivas e palmas.” Craveiro Lopes entregou o seu retrato encaixilhado aos quatro régulos da região.

Estamos perante um jornalista que gosta da etnologia e da etnografia, a descrição que se segue é a observação das danças Nalus, é uma escrita empolgada:
“Os marinheiros tinham assentado no terreno as suas marimbas, em bataria, e percutiam-nas elevadamente, conduzindo os pés dos bailarinos em paralelo á dança das baquetas saltitantes. Lembravam executantes de ‘mssau’ zavala, acompanhando a contracanto a narração de pecados de amor que atraíssem sobre a tabanca as iras das divindades.
E dois bailarinos de exceção, os campós, metidos em saiões de monstros encimados de caraças horrendas varriam o terreno em fúrias de rodopio estonteante. Uma das caraças, vagamente sugerindo cabeça de cavalo, com cabeças amarelas de tachas luzindo ao Sol e riscos de zarcão circundando os olhos por sobre uma bocarra de alvaiade e lama, erguiam-se a mais de 3 metros, gesticulando hieróglifos macabros de ameaça, de espanto, de ataque e de fuga, de raiva e de medo.
Era a grande máscara da dança Nalu, aterrorizando os espíritos maus que vagueiam pelos matos do Tombali, para que o pavor os confunda e os afaste do trilho dos passos do Homem Grande, em cuja honra pipilavam as marimbas da tribo e dançava em festa o povo das suas tabancas.
Depois, entrou em cena a formação dos grandes tambores Nalus, presos à cintura de mais bailarinos, cuja fila executa marcações de reta, de círculo, de arco e de triângulo. As macetas batem na pele de todos os bombos ao mesmo tempo, ao ritmo lento de um comando que ninguém sabe de onde vem, e que faz a todos os dançarinos avançar a perna direita, fletir o joelho esquerdo, executar um golpe de rins, jogar a cabeça para trás, avançar ou recuar um passo. Conjuntamente, corpos e tambores executam a pancada uníssona, coletiva, lenta como o desespero. Depois, a fila faz repentinamente meia-volta e gira em sentido oposto. O ritmo das macetas acelera. Os tambores agitam-se, a golpes de rins mais frequentes.
E o cavalão-caraça, montado sob o bailarino estrela que obedece às marimbas, entra de novo em cena, faz vénias aos tambores e manda-os a anunciar aos longes, por bolanhas e matagais, que o Homem Grande chegou à terra dos Nalus e traz consigo a paz e a alegria e a fertilidade dos arrozais de Catió.”


E digam-me lá se este jornalista não estava verdadeiramente inspirado, a gravar as suas emoções para uma literatura luso-guineense.

Os dois volumes respeitantes à viagem de Craveiro Lopes à Guiné e Cabo Verde, Agência Geral do Ultramar, 1956
General Craveiro Lopes
Diário da Manhã de 11 de maio, general Craveiro Lopes junto da estátua de Nuno Tristão, imagem do Museu da Presidência, com a devida vénia
Placa evocativa da visita de Craveiro Lopes durante a construção da ponte sob o Corubal, maio de 1955, imagem de Albano Costa, com a devida vénia
1.ª página do Diário Popular de 7 de maio de 1955
De Bolama para São João
De São João para Fulacunda

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24472: Historiografia da presença portuguesa em África (376): O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (2) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22522: Fichas de unidades (19): A CCAÇ 423, a última companhia a deslocar-se para o sul (São João) por terra, em maio de 1963 (António Abrantes)



António Abrantes, hoje e ontem



Data - 7 set 2021 12:22  
Assunto - Última Companhia a deslocar-se por terra para o sul da Guiné.

A CCaç 423 foi a última Companhia a deslocar-se para o sul da Guiné por via terrestre, tendo saído de Bissau em 7 de Maio de 1963, logo de manhã, e passado por Nhacra, onde na época acabava a estrada alcatroada e chegado a Mansoa.

Aí efectuou a primeira paragem, seguindo por estrada de terra (não havia outra) e com uma poeira infernal chegámos a Mansabá, onde numa serração abandonada, vi recibos de pagamento diário ao pessoal de um escudo e um escudo e cinquenta (!).

Chegados a Bafatá para almoçar (já tarde), estávamos irreconhecíveis.  Banho rápido, almoço e siga que se faz tarde... rumo a Aldeia Formosa, hoje Quebo, passando a ponte do Saltinho, única ponte digna desse nome, as outras, mais pequenas, eram compostas por umas travessas com umas tábuas ao longo da ponte e em que era preciso acertar com os rodados das viaturas, o que nem sempre acontecia, e quando eu reclamava o condutor dizia: "o que quer, meu alferes, eu tirei a carta com um Jipão brasileiro".

No dia seguinte, 8 de Maio, partimos para Buba, onde chegámos já de noite, não sem antes sofrermos a primeira emboscada, perto de Buba, no depois "célebre cruzamento de Buba", pela quantidade de emboscadas sofridas pelas NT, a ponto de não haver uma única árvore que não tivesse um palmo sem o impacto de uma bala nossa ou do IN. 

Nessa primeira emboscada estivemos cerca de 15 a 20 minutos (que pareceram horas) parados em zona de fogo, valendo-nos o facto de o IN estarmos abrigados em buracos e, dado o nosso potencial de fogo, (aqui já iam duas Companhias, suponho que era a C CAÇ 413), não saíam dos abrigos e ao dispararem as balas passavam por cima de nós, de um lado e do outro, ficando nós como que num túnel. 

Mesmo assim uma granada caiu na minha GMC, dois soldados ao meu lado, e o militar que a apanhou nos joelhos, deitou-a e ...ela explodiu fazendo abanar a viatura. O soldado que teve a granada nos joelhos, teve então consciência do que havia sucedido e desmaiou, tendo o furriel enfermeiro, vindo de outra viatura, prestar-lhe a devida assistência. 

Entretanto o fogo inimigo parara, mas o mato começou a arder junto às viaturas e então ouvia-se, no meio da escuridão: "filho da puta chega à frente", sem sabermos que não podíamos avançar porque a autometralhadora caíra num buraco feito pelo IN e tapado com ramos de árvore e terra e não conseguia sair.

Poucos minutos depois chegámos a Buba, onde a GMC ardeu e houve que retirá-la para uma extremidade do aquartelamento junto ao rio, e não pegar fogo às outras viaturas. Com a confusão gerada o Comandante da Companhia de Buba teve receio que o IN atacasse o aquartelamento e mandou-nos reforçar a segurança, mas... nada aconteceu.

No dia 10 de Maio seguimos viagem por Fulacunda Bianga (onde eu mais tarde, a 2 de Julho,  sofri uma emboscada debaixo de uma chuvada como só há na GUINÉ, e no dia seguinte a primeira mina, no regresso a São João). 

Seguiu-se Brandão e depois Nova Sintra e em cujo trajecto, feito quase todo a pé, retirámos dezenas de abatizes, embora a Força Aérea nos tenha informado que eram 22 (!). Sofremos a segunda emboscada e alguns tiros esporádicos ao retirar algumas árvores.

Na zona de Brandão  já não tínhamos água e recorremos a um charco e água coada por um lenço, só para molhar a boca. O dia estava no fim e embora perto do nosso destino, São João, havia ainda muitas árvores a retirar e em Nova Sintra desviámos para Tite por esta estrada estar desempedida.

Aí, em Tite, recebi ordem para ir, no outro dia, de barco desde o Enxusé (cais a alguns quilómetros de Tite), com o meu pelotão reforçado e metade dos cozinheiros, desembarcar em São João, onde uma Companhia não tinha conseguido fazê-lo, e ter lá uma refeição quente para o pessoal que ia por terra.

Ao que eu perguntei: "Qual o cozinheiro que corto ao meio?!", uma vez que eram 3 por um ter sido evacuado para Bissau, com um tiro no cu, na realidade numa nádega. Pretendia com isso ganhar tempo e provar que era uma Ordem mal dada. 

Efectivamente pouco depois chegou uma mensagem-rádio de Bissau, a dizer que ía a Companhia toda de barco. De facto, em 13 de Maio, a Companhia seguiu para o Enxudé, onde embarcou na draga Geba (soube algum tempo depois que esta tinha sacos de cimento a tapar buracos no casco, os quais serviam também de lastro), passou ao largo de Bissau e de tarde seguiu para Bolama.

Como devido à mare e à carga que levava não podia passar na chamada "coroa de Bolama", entre as ilhas e o continente, (mais tarde fiquei lá num barco, a seco, aguardando nova maré) foi por fora, ou seja, em mar aberto, tendo apanhado um temporal incrivel, a ponto do piloto ter dito que em 20 anos de Guiné nunca apanhara nada assim. Pensou-se em lancar uma ou duas viaturas ao mar mas ainda bem que não se fez, pois suponho que com o balanço iria tudo ao fundo.

Noite escura (13 para 14 de Maio), temporal, a época das chuvas começava a 15, havia quem não sabendo rezar, pedia a outros para o ensinarem... Com o amanhecer chegamos a Bolama, ou melhor entre Bolama e São João, almocámos (os oficiais) no NRP Vouga, ali fundeado,  e planeámos com os fuzileiros o desembarque, passámos para uma lancha de desembarque e com os fuzileiros e a proteccão de dois avioes da FAP, suponho que T6, desembarcámos em São João  (tipo desembarque na Normandia) sem um único tiro,  tirando partido do efeito surpresa.

Um grande abraco
A. R. Abrantes

Obs. Peço desculpa mas o meu IPad na parte final teve problemas.


2. Comentário do editor LG:

Temos 14 referências à CCAÇ 423.  Depois do ex-alf mil António Abrantes (n.º 748), entrou para a Tabanca Grande o fur mil Gonçalo Inocentes (Matheos), com o n.º 810. De rendição individual, esteve  depois CCAV 488 / BCAV 490 (tendo passado por Bissau, Bolama, S. João, Jabadá e Jumbembem, entre 8 de abril de 1964 e 14 de agosto e 1965).

 A CCAÇ 423, "independente", é uma das primeiras subunidades a ser mobilizada para a Guiné: pertencia ao RI 15, partiu em 16/4/1963 e regressou, dois anos depois, em 29/4/1965. Esteve em São João e em Tite, mas também em Jabadá (1 grupo de combate). O comandante era o cap inf Nuno Gonçalves dos Santos Basto Machado.

Terá sido a primeira a conhecer o pesadelo das minas A/C e dos fornilhos.

Fichas de unidades > Companhia de Caçadores n.º 423 (**)

Identificação: CCaç 423
Unidade Mob: RI 15 - Tomar
Cmdt: Cap Inf Nuno Gonçalves dos Santos Basto Machado
Divisa: -
Partida: Embarque em 16Abr63; desembarque em 22Abr63 | Regresso: Embarque em 29Abr65

Síntese da Actividade Operacional

Após o desembarque, foi atribuída, por um curto período, em reforço do BCaç 236, a fim de colaborar na segurança e protecção das instalações e das populações da área de Bissau, até à chegada da CCaç 526.

Na sequência de uma série de acções ofensivas desencadeadas pelo BCaç 237 na área Jabadá-Gã Chiquinho, em fins de Abr63, seguiu, em 07Mai63, por Bafatá-Xitole-Bambadinca-Fulacunda, para ocupar a povoação de S. João, que atingiu em 6Mai63, correspondendo à criação do respectivo subsector, na zona de acção do referido BCaç 237.

De 01 a 27Jun63, tomou ainda parte em operações sob controlo operacional do BCaç 356, realizadas na região de Iusse (Quínara), em conjunto com outras subunidades, nomeadamente na Op Seta.

Em 24Abr65, foi rendida, por troca, pela CCav 677, tendo seguido para Tite, onde permaneceu temporariamente até chegada da CCaç 797, após o que recolheu em 29Abr65 a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Não tem História da Unidade.

Fonte: Excerto de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág. 318

quarta-feira, 10 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21991: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (22): minas, terríveis minas...


Guiné > Região de Quínara > São João > CCAÇ 423 (1963/65) > Os efeitos devastadores das primeiras minas e fornilhos A/C no CTIG, na estrada Nova Sintra-Fulacunda.


Foto (e legenda): © Gonçalo Inocentes (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mais uma pequena história do Carlos Barros:

(i) ex-fur mil, 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), "Os Mais de Nova Sintra", os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974; 

(ii) membro da Tabanca Grande nº 815, tem cerca de 3 dezenas referênciasmo nosso blogue.


Minas, terríveis minas...


O soldado Sousa, da 2ª CART / Bart 6520, de Nova Sintra  –Ramiro de Silva Sousa, natural de Quiaios, Figueira da Foz
 – estava no destacamento à espera do correio que vinha numa avioneta, DO-27,  e, nesse dia, não tinha recebido correspondência, o que o entristeceu, um sentimento semelhante ao de todos nós, quando não recebíamos correio.

Estava junto à sua caserna e um seu amigo encontrava-se a ler um jornal da sua região onde noticiava que tinha havido um acidente na zona Quiaios, terra do Sousa,  e, por infelicidade, esse acidente foi grave e trágico...  Tratava-se de  familiares do soldado Sousa que, compreensivelmente,  ficou num estado psicológico desesperado.

Pela tardinha, furtivamente, o Sousa desertou do destacamento de Nova Sintra e foi ao aquartelamento de S. João, onde se encontrava o seu amigo Alferes Garcia, do qual esperava um apoio para a sua situação .

O Alferes Garcia (já falecido) era um grande amigo dos militares, homem simples, colaborador, alegre, simpático e com um elevado sentido de humor e quando se juntava ao alferes Figueira, e aos furriéis Elias e Mendonça, era um ambiente de alegria transbordante e grandes “palhaçadas” no bom sentido do termo.

O soldado Sousa seguiu pelo caminho ou trilho em direção a S. João e pisou uma mina anti-pessoal e deu-se a tragédia! Essa mina tinha sido colocada pelos sapadores de S. João, como “armadilha” de defesa do destacamento.

Um milícia, chamado Atilo, que andava à caça, ouviu essa explosão e aproximou-se do local onde tinha deflagrado a mina e encontrou o Sousa, o “Meio Quilo”, estendido no solo poeirento e com ferimentos extremamente graves.

O milícia Atilo foi, de imediato, avisar o alferes Garcia,  comandante do destacamento que mandou uma Berliet buscar o ferido, sendo, posteriormente, evacuado de helicóptero, pela tardinha, de S. João para o Hospital Militar de Bissau.

O Sousa recuperou, regressou à Metrópole, casou e constituiu família e foi a todos os Encontros – Convívios Anuais organizados pelos “Os Mais de Nova Sintra”. Como um dos organizadores, desses convívios, eu posso afirmar e justificar que o Sousa esteve presente com a sua esposa, pelo menos, nos últimos 41 anos consecutivos.

Infelizmente, há 4 anos faleceu, deixando-nos imensas saudades.

Fisicamente perdemos o Sousa mas, espiritualmente, está sempre presente entre nós.

Testemunho do ex-furriel Barros, 2ª Cart / BART 6520, sendo apoiado neste testemunho, pelo amigo Joaquim Manuel Rodrigues Cunha (que estava em São João).

Carlos Manuel de Lima Barros,

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21426: Notas de leitura (1313): "O Cântico das Costureiras", de Gonçalo Inocentes (Matheos) - Parte IV (Luís Graça): as primeiras minas e fornilhos A/C



Guiné > Região de Quínara > São João > CCAÇ 423 (1963/65) > Os efeitos devastadores das primeiras minas e fornilhos A/C no CTIG, na estrada Nova Sintra-Fulacunda.


Fotos (e legenda): © Gonçalo Inocentes (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Capa do livro

1. Continuação da apresentação do último livro do Gonçalo Inocentes (Matheos),  "O Cântico das Costureiras: crónicas de uma vida adiada, Guiné, 1964/65" (Vila Franca de Xira, ModoCromia, 2020, 126 pp, ilustrado).

Recorde-se que o autor do livro, de que já publicámos três notas de leitura (*),  Gonçalo Inocentes (Matheos), membro nº 810 da nossa Tabanca Grande, foi fur mil, CCAÇ 423 e dpois da CCAV 488 / BCAV 490, de rendição individual, tendo passado por Bissau, Bolama, S.João, Jabadá e Jumbembem, entre 8 de abril de 1964 e 14 de agosto e 1965... 
 
Nasceu em 1940, em Nova Lisboa (hoje, Huambo, Angola). Está reformado da TAP e vive em Faro.

Esta CCAÇ 423, "independente",  é uma das primeiras subunidades a ser mobilizada para a Guiné: pertencia ao RI 15, partiu em 16/4/1963 e regressou, dois anos depois,  em 29/4/1965. Esteve em São João e em Tite, mas também em Jabadá (1 grupo de combate). O comandante era o cap inf Nuno Gonçalves dos Santos Basto Machado.

Segundo o nosso autor, terá sido a primeira a conhecer o pesadelo das minas A/C e dos fornilhos:

"As minas form um pesadelo desde os primeiros dias da companhia. Quase todas as baixas resultaram  do rebentamento destes engenhos" (...) "O IN percebeu cedo de sua eficiência e começaram até a juntar aos fornilhos bombas que a nossa força aérea lançava e não rebentavam" (p. 60).

A nossa  historiografia militar (por ex., Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes) aponta para a segunda metade do mês de outubro de 1964 para o início do emprego generalizado de minas e fornilhas anticarro.

 No Leste, na região de Bafatá, o primeiro engenho a explodir acontece na estrada Bambadinca-Xitole. É desta época a debandada de várias tabancas fulas e futa-fulas, nomeadamenet do regulado do Corubal e Xime, que se refugiam em Bambadinca. Intensifica-se a atuação do PAIGC nas margens, esquerda e direita do rio Geba, nas áreas de Jabadá, Porto Gole, Enxalé, Xime, Bambadinca.

Os fornilhos, permitindo atuar à distância através de um fio ou arame, e selecionar a viatura (, em geral a do meio) cujo rebentamento provocaria mais estragos.  resposta das NT foi deixar de  de fazer colunas auto, deixando as viaturas no quartel e optando por operações a pé. Os picadores começaram a detetar minas antigas e criou-se então o "vício" de as levantar por causa do "ronco" e do prémio monetário.

Tudo indica que nos primeiros fornilhos e minas  A/C, a provocar baixas mortais entre as NT, tenham sido postos na estrada Nova Sintra-Fulacunda. E que as primeiras vítimas tenham sido os nossos camaradas da CCAÇ 423. 

Veja-se a lista, publicada pelo nosso camarada A. Marques Lopes sobre os militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (**)





Guiné > Região de Quínara > CCAÇ 423 > c. 1964 > S/l> O fur mil Arménio Dias de Almeida a levantar uma mina A/C... Será morto, por ferimentos em combate, na zona de São Jioão- Nova Sintra, em 9 de janeiro de 1964. Estas podem ser das últimas fotos dele.

Fotos (e legenda): © Gonçalo Inocentes (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Na pág. 61 do seu livro, o autor publica três fotos do furriel [Arménio Dias de] Almeida a levantar uma mina A/C. Será mais tarde abatido pelo IN, em 9/1/1964, sendo o seu corpo ficado inumado em Bolama, conforme lista que se reproduz a seguir, com os mortos da CCAÇ 423, de 3/7/1963, 18/7/1963 e 9/1/1964.


NOME e POSTO / UNIDADE / DATA DA MORTE / LOCAL DA MORTE / CAUSA D MORTE NATURALIDADE / LOCAL DA SEPULTURA (**)

António Augusto Esteves Magalhães, 1.º Cabo / CCaç 423 / 03.07.63 / Estrada Nova Sintra-Fulacunda, HM241 / Ferimentos em combate / Amares / Cemitério de Bissau, Campa 291, Guiné.

Alberto dos Santos Monteiro, Soldado / CCaç 423 / 03.07.63 / Estrada Nova Sintra-Fulacunda / Ferimentos em combate / Rio Tinto, Gondomar / Cemitério de Fulacunda, Guiné.

José Rato Casaleiro, Soldado / CCaç 423 / 18.07.63 / Estrada Tite-Nova Sintra / Ferimentos em combate / Freiria, Torres Vedras / Cemitério de Bissau, Campa 360, Guiné.

Arménio Dias de Almeida, Furriel / CCaç 423 / 09.01.64 / São João, Nova Sintra / Ferimentos em combate / Vila Cova de Perrinho, Vale de Cambra / Cemitério de Bolama, Campa 3/64, Guiné.


De qualquer modo, a situação nas estradas e picadas de Quínara tornaram-se um terror para as NT, ao ponto da "Maria Turra" , na "Rádio Libertação", em Conacri, considerá-las já como "áreas libertadas"... 

Daí ter sido decido, por ordem de Bissau, já no tempo de Schulz, fazer uma "demonstração de força", em 13 de outubro de 1964, realizando-se para o efeito de uma coluna de carros que fizeram o percurso Nova Sintra-Serra Leoa, ida e volta. 

O moral do pessoal estava em baixo, Mas a operação realizou-se,  com detetores de minas na frente e levando as viaturas  troncos de palmeira e sacos de areia para amortecer o impacto dos fornilhos e minas A/C (p. 171).

Felimente nenhum  engenho explosivo foi accionado desta vez. Mas no regresso a São João, via Nova Sintra, , o pessoal da CCAÇ 423 foi surpreendido com fogo cerrado de "costureirinha" e "kalash". 

Regressou-se a São João, com o moral mais em alta, apesar de um Unimog ter capotado e ter havido feridos cuja gravidade obrigou a helievacuação.

(Continua)

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PS - O livro pode ser adquirido pelo correio, com pagamento por transferência bancária. Preço de capa com portes incluidos: 15 (quinze) euros.


Email do autor: Goncalo Inocentes <rpeixoto.inocentes@gmail.com>


NIB - 0018 0000 0160 5800 0013 9

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Notas do editor:

(**) Vd. poste de 28 de abril  de 2008 > Guiné 63/74 - P2799: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (1): De 1963 a 1964 (A. Marques Lopes)

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21358: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (6): a evaporação das cervejas


Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > s/d > Largada de frescos e correio, de paraquedas... Foto do álbum de Herlânder Simões, ex-fur mil da companhia de "Os Duros de Nova Sintra", de rendição individual, tendo estado no TO da Guiné, em Nova Sintra e depois Guileje, entre maio de 1972 e janeiro e 1974.

Foto ( e legenda): © Herlânder Simões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Quínara > Mapa de São João (1955) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bolama, São João, Nova Sintra, Serra Leoa, Lala, Rio de Lala (afluemte do Rio Grande de Buba)


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)


1. Mais uma pequena história do Carlos Barros, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974:


Cervejas evaporadas… 

por Carlos Barros


É o mês de reabastecimento em Nova Sintra e a coluna auto e os militares que prestavam segurança, iam a caminho de Lala, local de atracagem das LDG e LDM no rio de Lala, afluente do rio Grande Buba. 

Chegado ao local, esperavamos pela chegada das lanchas e, enquanto aguardavamos, uma criança africana que tinha sido transportada numa Berliet de Nova Sintra, pega num fio de electricidade, com um chumbo improvisado, um “joelho” de canalização enferrujado, um anzol com isco e lançou ao rio. 

Passados cinco minutos sente-se um grande puxão e o miúdo alou a “pesqueira” e pescou um grande peixe-serra que foi puxado para a margem e, com uma afiada faca do mato, foi morto e esquartejado , servindo mais tarde, de alimento para a tabanca. 

Um dos graduados do 3º grupo de combate levou uma granada ofensiva e lançou-a para um cardume de peixes que nadavam à superfície e, após da explosão, só se viam peixes “à tona” e só foi recolhê-los para uma caixa que serviram de jantar, na Messe para os graduados, e quase todos comeram, menos o sargento Rasteiro, para nós, “persona non grata”… 

Foi o regresso das viaturas e militares ao destacamento , sendo conferido todas as bebidas e materiais transportados e, como  era habitual, faltavam cervejas … 

Como desapareciam, todos nós sabíamos e o Rasteiro ficava “fulo” pela “evaporação” das cervejas que eram transportadas em caixas de cartão e em contacto com a água, no transporta para as viaturas, o cartão desfazia-se e as cervejas caiam para o rio mas podem acreditar que não ficavam lá… 

As viaturas “ marchavam” de regresso a passo de caracol para dar tempo aos soldados beberem as suas cervejas para arrelia do Rasteiro… 

Naturalmente que nós, graduados, sabíamos da marosca e eramos cúmplices.  A tropa manda(va) desenrascar… 


Carlos Barros, Nova Sintra 1974 (**)


[Carlos Barros, ex-fur mil. 2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), membro da Tabanca Grande  nº 815; vive em Esposende; é professor reformado]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de maio de  2007 > Guiné 63/74 - P1747: Tabanca Grande (8): Herlânder Simões, ex-Fur Mil, um dos Duros de Nova Sintra (1972/74)