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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18277: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (54): lusitos e infantes da Mocidade Portuguesa, uns, ou da "Mocidade Tareco", outros... Lá íamos "cantando e rindo"...









Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Miúdos da Mocidade Portuguesa  (MP) local, trajando  de acordo com o figurino, com exceção dos sapatos (que deveriam ser pretos)... Mas a MP, na Guiné, não era para todos e, já nessa época, estava em franca decadência  na metrópole, desde o final da II Guerra Mundial... No meu tempo, os jovens mais politizados ou simplesmente mais contestatários  chamavam à organização, com desprezo, a "Bufa"...


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (*)




Guiné > Região do Cacheu > Ingoré > CCAÇ 2381 > 1968 > O 1º cabo aux enf  José Teixeira no início da sua comissão," com duas crianças vestidas com a farda da Mocidade Portuguesa". Já na época, o Zé era um praticante do escutismo católico. Não sei se já era conhecido pelo seu nickname, "Esquilo Sorridente". Sobre Ingoré escreveu ele: "Foram dias, em geral, alegres e descontraídos, os dias de Ingoré, com o pessoal da CCAÇ 2381 em treino operacional antes de ser colocado no sul (Buba, Empada, região de Quínara)"

Foto (e legenda): © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné > Zona leste > Fajonquito > s/d [c. 1965] > O Sérgio Neves  com miúdos da localidade... Alguns deles acampavam literalmente no aquartelamento... e usavam a farda ou peças da frada da Mocidade Portuguesa. Fotos do álbum  do Sérgio Neves que foi Furriel Miliciano da CCAÇ 674 (Fajonquito, 1964/66), irmão do nosso camarada Constantino Neves.

Fotos (e legendas): © Constantino (ou Tino) Neves (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Zona leste > Fajonquito > 10 de junho de 1971 >  "O meu irmão Carlos (2 anos mais velho, hoje Farmacêutico, formado pela faculdade de Farmácia da Universidade Técnica de Lisboa), durante a alocução por ocasião do dia 10 de Junho de 1971, Dia de Portugal e de Camões, na escola primária de Fajonquito. Na imagem estão dois oficiais da companhia do cap Figueiredo (CART 2742), um dos quais, o alferes Félix encontrou a morte no mesmo dia que o seu capitão."

Foto (e legenda): © Cherno Baldé s (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Cherno Baldé, com data de 1 do corrente:

Caro amigo Luis,

Talvez não tenham dado conta, mas com alguma frequência tenho referido,  "en passant",   a Mocidade Portuguesa [MP] em diferentes textos das minhas memórias. Por exemplo, no tema "Quem roubou o nosso canhão" (**), falo do regresso de uma delegação da Mocidade Portuguesa na coluna da tropa que vinha de Bafatá, coberta de poeira.

Eu não fazia parte dos bons alunos porque era desenfiado e gostava mais de andar à solta, deambulando no quartel, ir à lenha ou à agua com os meus amigos condutores e/ou simplesmente passar o dia todo a andar no mato com um desvairado qualquer a caçar animais ou pássaros.

A minha primeira e única participação [erm actividades da MP] foi em 1973, mas já sabia de todos os pormenores dos participantes mais experimentados, pois que todos os anos acontecia a mesma coisa.

Os participantes que vinham de localidades como Fajonquito, Contuboel ou Sare-Bacar estavam sempre em desvantagem. Primeiro porque o nível de informação, as fardas e equipamentos nunca eram os mesmos dos da cidade de Bafatá, assim como o nível de preparação académica e performance desportiva que daí resultavam. Todas estas disparidades criavam um complexo de inferioridade e sentimentos de discriminação aliados a condições logisticas e de recepcão pouco agradáveis.


O "infante" Cherno Baldé
aos 14 anos
Em Bafatá o local dos acampamentos situava-se na Boma, o tal jardim (muito fresco e acolhedor) já aqui descrito por Fernando Gouveia, situado ao lado do quartel da Cavalaria. E, nestas ocasiões a cidade de Bafatá ficava repleta de jovens oriundos de todas as escolas da região e, normalmente, cada localidade tinha fardamentos com tonalidades um pouco diferentes, pois quem comprava eram os pais das criançaas e nas localidades onde residiam. A cor verde não era a mesma em todos os sítios.

A Mocidade Portuguesa destinava-se a preparar os mais jovens para os sacrifícios ligados à vida da
tropa porque no tempo do Estado Novo o serviço militar era obrigatório. Para os participantes deslocados as condições nem sempre eram as melhores e passava-se mesmo fome, mas sempre valia a pena fazer aquela deslocação até Bafatá, a cidade maravilha, para no regresso fazer o "ronco" frente aos demais colegas que não sabiam das dificuldades e da afronta por que tinham passado com aquelas fardas e equipamentos já em desuso. 

Para as crianças de Bafatá, nós éramos a "Mocidade Tareco", isto é, participantes que não preenchiam os requisitos indicados para a Mocidade Portuguesa e, às vezes, nem nos deixavam desfilar. Isto repetia-se todos os anos, só quem não tinha participado é que não sabia. No regresso às origens, transformavam-se em heróis.

Em varios textos das minhas memórias, tenho referido,  "en passant",  aspectos ligados à MP (ver por exemplo no tema "quem roubou o nosso canhão" onde faço referência ao regresso dos participantes da MP na coluna da tropa que vinha de Bafatá, cheios de poeira.


2. Mais comentários do Cherno Baldé sobre este tema e afins (*)

Com as reformas introduzidas por Adriano Moreira em 1961 (muito tardiamente), o estatuto do indigena foi substituido por uma lei que facilitava a assimilaçãoo e desta forma permitia a obtenção do BI de cidadao português. Em 1971 o meu irmão Carlos, que tinha concluido a 4ª classe, obteve em Bissau o seu BI,  como muitos outros colegas.

Caro Valdemar, a obtenção do BI nao era difícil, mas era preciso preencher certas condições. Todos os casos que conheço sao de pessoas que tinham concluido, no mínimo, a 4ª classe. A milícia (voluntarios da sua própria desgraça) não precisava na altura e, se calhar nem preenchiam as condições exigidas.

Desde 1968 ou mesmo antes, que em todas as escolas da Provincia havia a formação e preparação da Mocidade Portuguesa...  e mocidade que se preza tinha que ter o equipamento completo: camisa verde, calções, meias, sapatilhas e chapéu de cor castanho. Depois eram organizados encontros a nível de cada região para competições desportivas e confraternização e ainda um acampamento nacional para os mais destacados,  em Quinhamel.

Surpreende-me que o Luis Graça nunca tenha visto jovens da Mocidade Portuguesa em Bambadinca e Bafatá. Em Fajonquito sempre aproveitávamos a boleia da tropa para vir a Bafatá ou Contuboel.

Na foto nº 7  [do poste P18273] ((*) o elemento da mocidade do lado esquerdo parece-me que é uma menina com o par de ténis (Sancho) que não era propriamente um equipamento oficial da Mocidade portuguesa. Do lado esquerda da bandeira pode-se ver parte do edificio da escola. Nos anos 60, com o inicio da guerra, foram construidas em todas as localidades com alguma importancia demografica. Ja era tarde demais para o imperio. (Mas, pensandio bem, não p

Compreende-se que vocês que vieram fazer a Guerra não tivessem olhos para ver outras coisas, pois o esforço para a sobrevivência falava mais alto e não era por menos. Em Paunca [, onde esteve o Valdemar Queiroz], de certeza que havia uma escola a funcionar,  o que não se pode dizer de Guiro Iero Bocari que é uma aldeola perdida no mato.

O 10 de Junho era festejado em todas as escolas e com a participação da administração civil e, em alguns casos, também de oficiais das companhias em quadricula como mostra a foto que enviei mostrando o meu irmão mais velho a discursar na presença de oficiais do exército e dos professores por ocasião do 10 de Junho de 1971, em Fajonquito, fardado a rigor e com o chapéu colocado por cima do ombro esquerdo, como mandavam as regras. No local estávamos muitos, mas o fotógrafo concentrou-se no alvo principal.

Por outro lado, duvido muito que os jovens da Mocidade Portuguesa fossem Felupes, como pensa o Luis Graca, mais plausivel seria que fossem filhos de familias de comerciantes ou  assimilados originários de outros grupos e que trabalhavam em S. Domingos e arredores, pois os verdadeiros felupes ainda não teriam saído dos seus tarrafos, de qualquer modo ja se notavam algumas mudanças sociais em todos os grupos etno-linguísticos da Guin´+e. A este periodo os nossos velhos apelidaram de "a epoca dos brancos" que na linguagem moderna se convencionou chamar de globalização ou mundialização.

Caro Valdemar, há um proverbio nosso que diz assim: "O velho não é, de modo algum, amigo de Deus, simplesmente convivem os dois há muito tempo". Isto a propósito das tuas palavras de elogio (?).

3. Comentário do editor:

Obrigado, Cherno, este teu contributo é, mais uma vez, importante para o nosso blogue e enriquece a tua série, "Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé)" (**)...

Tentei fazer um apanhado do essencial  que escreveste sobre a MP na Guiné... Tens aqui uma entrada, na Wikipédia, com informação relevante sobre a MP (sobre a qual, confesso, que sei pouco...).-

Criada em 1936 e obrigatória para os jovens até aos 14, a MP pelo Decreto n.º 29453, de 17 de fevereiro de 1939, a organização foi alargada «à Mocidade Portuguesa das colónias, de origem europeia, e à juventude indígena assimilada» (sic) a quem é «dada (....) uma organização nacional e pré-militar que estimule a sua devoção à Pátria, o desenvolvimento integral da sua capacidade física e a formação de carácter, e que, incutindo-lhes o sentimento da ordem, o gosto pela disciplina e o culto do dever militar, as coloque em condições de concorrer eficazmente para a defesa da Nação.»

Tens razão, os felupes em S. Domingos, em 1968/69, não deviam ser "elegíveis"...

Porque é de antologia, volto a reproduzir aqui, na íntegra, o teu fabuloso texto  "Quem roubou o nosso canhão?". Como eu não sei russo, diz-me o querem dizer estes caracteres do alfabeto cirílico (?), que aparecem no penúltimo parágrafo... Deve ser um palavrão... ȹɎψ₳

Tens aqui a letra e a música do Hino da Mocidade Portuguesa. Não sei se algum dia o chegaste a aprender a cantar... A letra é do poeta Mário Beirão (1890-1965) e a música do Rui Correia Leite.
_________________

QUEM ROUBOU O NOSSO CANHÃO?

por Cherno Baldé (***)

No período da guerra colonial, pouco antes ou durante a permanência da CÇAC 3549,  “Deixós-poisar” (1972-74), em Fajonquito, pequeno povoado com um aquartelamento militar, rodeado de arame farpado e torres de vigia construídos com troncos de palmeira, certo dia, no regresso da coluna que regularmente ia à cidade de Bafatá, sede do batalhão [e sede de circunscrição administrativa], trouxeram em reboque dois canhões muito grandes. Normalmente, tudo que a coluna trazia era suposto ficar na localidade.

Atrelados aos veículos, os canos largos, ameaçadores, olhavam para trás, virados na direcção contrária do sentido da marcha, o que, nas nossas cabeças de crianças, parecia ser, sem dúvida nenhuma, uma tolice dos nossos militares brancos, tão insensata como a ideia descabida de obrigar as nossas milícias a carregar,  na cabeça, granadas pesadas de morteiro ou bazooka, nas saídas ao mato, com as armas nas costas, sabendo de antemão que em caso de uma emboscada traiçoeira, a vida e a morte se jogavam em milésimos de segundos.

No caso dos canhões, se de repente, numa emboscada do inimigo, tivessem que ripostar rapidamente, iam fazer o quê?
– Ficávamos a imaginar a reacção dos artilheiros. Primeiro iriam parar, virar o engenho, apontar ao alvo e depois disparar. Mas, havia uma questão importante, no entanto, sem resposta. Será que teriam tanto tempo?... 

Perguntas de crianças que tinham nascido e crescido no teatro de uma guerra que se teimava em eternizar e onde viviam como se de uma grande escola se tratasse, caldeirão efervescente que, de certeza absoluta, haveria de consumir gerações inteiras, caso não a tivessem posto fim, em boa hora. 

Mas, voltando à nossa coluna, nesse dia, a nossa atenção não foi para os militares, cobertos de pó vermelho da estrada, à cata de novos amigos nem para os extravagantes jovens da Mocidade Portuguesa que regressavam dos festejos de 10 de Junho, nas suas novas fardas, camisas verdes, calções castanhos, o emblema das quinas ao peito, cor de ouro brilhando ao sol e, nem sequer nos lembramos de fazer o nosso trabalho de rotina que era recolher por baixo dos bancos de conduzir as armas e o cinto pesado de cartucheiras dos nossos patrões condutores. 

Os nossos olhos ficaram presos naquelas máquinas, engenhos escuros de metal, montados sobre gigantescas rodas, "caterpillars" de pólvora, fogo e de morte que, finalmente, tinham chegado. Doravante a barraca de Samba-Ulencunda estava ao alcance das nossas mãos. Desde a porta d’armas, acompanhámo-los, cuidadosamente, parando quando paravam, correndo atrás quando andavam, até ao centro do quartel onde foram estacionados. Deixando os apressados condutores partir, aproximámo-nos ligeiros, abraçando os canos enormes, encostando os nossos corpinhos franzinos à frieza metálica daqueles monstros impassíveis que nos pareciam velhos conhecidos.

Mesmo ali ao lado e rodeado de tanques repletos de areia, estava instalado o morteiro 81 que, em vista das novas e imponentes armas, fazia uma figura pálida, quase inútil na sua pequenez, boca ao ar, pedindo chumbo para cuspir ao céu. Tantos anos a viver com ele, estávamos por demais familiarizados com o “poc” da saída das suas granadas que caíam algures, perto das nossas bolanhas de arroz, quando batiam a zona para afastar o medo que crescia nas noites de chuva, calor e humidade.

Nessa noite, demorámos algum tempo a pegar no sono, devido à curiosidade que nos consumia antecipando o gozo de ouvir os estampidos da nova artilharia, mas dormimos melhor, embalados pela segurança que as máquinas de guerra nos proporcionavam. Ter canhões de guarda, nessa época, mais que segurança e prestígio, era uma questão de honra. Os mais velhos contavam que em terras de Gabú, mesmo as localidades mais insignificantes tinham canhões para aterrorizar as povoações fronteiriças do Senegal onde habitavam os bandidos, lançando suas granadas compridas e grandes, um pouco maiores que o pénis de um jumento.

Mas, para nossa desilusão, e da mesma forma como tinham vindo, atrelados aos veículos, os canos largos, ameaçadores, insensatamente virados para trás, na direcção contrária do sentido da marcha, as máquinas de guerra tinham retomado sua marcha tenebrosa mais ao norte, para Cambaju, aldeia situada a menos de 500 metros da fronteira, o que, nas nossas cabeças de crianças, parecia ser, sem sombra de dúvida, mais uma tolice dos nossos militares, tão insensata como a ideia descabida de entregar armas repetitivas “Mauser” às populações civis para enfrentar guerrilheiros armados com Akas e metralhadoras automáticas, assim diziam os mais velhos.

No dia seguinte, voltando ao quartel para o habitual café com leite, as crianças constataram com grande tristeza que os seus canhões não só não estavam no local do dia anterior como tinham sumido do pequeno aquartelamento, rodeado de arame farpado e torres de vigia construídos com troncos de palmeira. Estupefactas e inconformadas,  as crianças interrogavam-se entre si:
- Quem foi o …ȹɎψ₳… que roubou os nossos canhões?

Ao menos deixassem ficar um para salvar a honra da aldeia, afastar o espectro do medo que crescia nas noites de chuva e conquistar o respeito dos nossos vizinhos, Samba-Ulencunda ali tão perto de nós.

Bissau, 7 de Dezembro 2012
Cherno Baldé (Chico de Fajonquito)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18273: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XIII: uma mudança (histórica) sob o spinolismo: em 1 de janeiro de 1969, o administrador de São Domingos, cabo-verdiano, é substituído por um guineense

(**) Último poste da série >A 3 de janeiro 2018 > Guiné 61/74 - P18170: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (53): três balas de kalash para uma missão suicida: o trágico fim do ex-soldado 'comando', Cissé Candé, em abril de 1978

(***) Vd. poste de 13 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10796: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (42): Quem roubou o nosso canhão?

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14301: Pensamento do dia (20): "Em Mueda, os cordeiros que entram, são lobos que saem. Adeus, checas". (Grafito, c. 1968/70)


Moçambique > Mueda > CART 2369 (1968/70) > O 2º sargento miliciano Sérgio Neves (que também passou pela Guiné), irmão do nosso camarada Tino Neves, junto a um mural onde se lê: "Em Mueda, os cordeiros que entram, são lobos que saem. Adeus,  checas". Recorde-se que o checa, em Moçambique, era o nosso pira ou periquito, na Guiné (ou maçarico, em Angola). (**)

Foto: © Tino Neves (2007). Todos os direitos reservados.[Editada por L.G.]


1. Comentário do editor:

Pode ser uma boa frase ou um pretexto para uma reflexão à volta do tema da sondagem desta semana (*). Em que   medida a guerra muda os combatentes, física e psicologicamente ? E como é que os antigos combatentes, nomeadamente os que passaram pelo TO da Guiné,  se veem hoje, 40 ou 50 anos depois ?... Obviamente, o grafito (a frase inscrita na parede, algures num quartel em Mueda, no norte de Moçambique,. por volta de 1968/70) não tem que ser tomado à letra... Tem um sentido figurado. (**)

_____________


(**) Último poste da série > 25 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14297: Pensamento do dia (19): A sociedade de Brunhoso (Francisco Baptista)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7360: Memória dos lugares (115): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (3) (Constantino Neves)

Fim da publicação das fotografias do espólio de Sérgio Neves que foi Furriel Miliciano na CCAÇ 674 (Fajonquito, 1964/66), irmão do nosso camarada Constantino Neves.


Fotos 17 e 18 > Foto tirada com camaradas. Em todas elas está um grande amigo dele, chamado Faria, que residia em Sobral do Monte Agraço, tão amigo, que pôs ao filho o nome de Sérgio. Há já algum tempo que perdi o contacto dele. Gostava muito de o rever.

Fotos 19 e 20 > Sérgio Neves em actividade fluvial

Foto 21 > Sérgio Neves ao volante do único carro de Fajonquito, na altura, [Simca]

Fotos 22 e 23 > Quando se tem sede, até um bom tinto, (não sei se do Alentejo, Algarve, Douro ou do Cartaxo), talvez seja da Manutenção Militar com toda a certeza.
__________

Nota de CV:

Vd. postes da série de:

26 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7341: Memória dos lugares (112): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (1) (Constantino Neves)
e
28 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7352: Memória dos lugares (113): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (2) (Constantino Neves)

domingo, 28 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7352: Memória dos lugares (114): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (2) (Constantino Neves)

Continuação da publicação de fotografias do espólio de Sérgio Neves que foi Furriel Miliciano da CCAÇ 674 (Fajonquito, 1964/66), irmão do nosso camarada Constantino Neves.

Foto 8 > Sérgio Neves acompanhado de dois jovens

Foto 11 > Foto tirada com camaradas. Em todas elas está um grande amigo dele, chamado Faria, que residia em Sobral do Monte Agraço, tão amigo, que pôs ao filho o nome de Sérgio. Há já algum tempo que perdi o contacto dele. Gostava muito de o rever.

Foto 12 > Um dos muitos miúdos que nos acompanhavam nos aquartelamentos

Foto 13 > Sérgio Neves junto a um velho poilão

Foto 14 > Sérgio Neves junto a um bagabaga

Foto 15 > Sérgio Neves e um camarada em cima de uma autometralhadora Daimler

Foto 16 > Sérgio Neves junto a viaturas Unimog 404
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 26 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7341: Memória dos lugares (112): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (1) (Constantino Neves)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7341: Memória dos lugares (113): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (1) (Constantino Neves)

1. Mensagem de Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego (Gabu), 1969/71, com data de 23 de Novembro de 2010:

Camaradas
Já vai algum tempo que não vos envio uma das minhas histórias, pois, chegou a altura de o fazer.

Não é nenhuma das minhas histórias, mas sim algumas das fotos do espólio do meu irmão, Sérgio Neves, tiradas em Fajonquito nos anos 1964/66.
Vou tentar comentá-las, pois o meu irmão não tinha o costume de escrever no verso delas, nalgumas apenas escrevia Fajonquito 1964/65/66.

Há muito que as queria enviar, pois o nosso Amigo e Tertúliano Guineense, Cherno Baldé tinha feito o apelo para quem tivesse alguma coisa de Fajonquito, o enviasse.

Também o Camarada Beja Santos comentou no poste P2244, sobre os burros da Guiné.


MEMÓRIA DOS LUGARES

FAJONQUITO (1)

Localização de Fajonquito


Foto 1 > Foto tirada com camaradas. Em todas elas está um grande amigo dele, chamado Faria, que residia em Sobral do Monte Agraço, tão amigo, que pôs ao filho o nome de Sérgio. Há já algum tempo que perdi o contacto dele. Gostava muito de o rever.

Fotos 2; 3 e 4 > Alguma semelhança com a Feira do Cavalo Lusitano em Santarém, é só isso, semelhança, pois é o meu irmão Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto/Burros da CCaç 674, a montar um dos famosos Burros (R) [marca Registada] da Guiné, mais propriamente de FAJONQUITO.

Foto 5 > O meu irmão com o dono do único carro de Fajonquito, na altura, [Simca] seu amigo, que lhe emprestava o carro para ele dar umas voltinhas.

Fotos 6 e 7 > Sérgio Neves, durante as visitas às Tabancas
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7280: Memória dos lugares (111): Mondajane, a sudoeste de Dulombi, tabanca fula em autodefesa que ameaçámos queimar no princípio de Setembro de 1969 (Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil, CART 2339, 1968/69)

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2127: História de vida (5): Sérgio Neves, meu irmão, um homem bom (Tino Neves)

Moçambique > 1968 > Sargento Miliciano Sérgio Neves (esteve anteriormente na Guiné, na CCAÇ 674, como furriel miliciano (Zona Leste, Fajonquito, 1964). Trabalhou no Arsenal do Alfeite. Morreu em 1997.

Foto: © Tino Neves (2007). Direitos reservados.



1. Texto do Tino Neves, ex-1º Cabo Escriturário, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego (Gabu), 1969/71). Enviado em 11 de Setembro de 2007:

Camaradas da Tabanca Grande:

Aqui vai mais umas pequenas histórias sobre o meu irmão Sérgio Faustino das Neves, Furriel Miliciano na Guiné (Fajonquito, 1964/66), e 2º. Sargento Miliciano em Moçambique (Lourenço Marques, Mueda, Vila Cabral, Nampula, 1968/70) (1).

Não diria que são histórias, mas sim uns pequenos apontamentos, sobre as suas qualidades como homem.


(A)Começo por pela mais recente, cá em Portugal nos anos 90.


Estava o meu irmão a viver no Algarve, em Luz de Tavira, com os meus pais, e tendo nessa altura muita dificuldade em arranjar trabalho, pois como eu já devo ter dado a entender numa história atrás contada, o meu irmão tinha um grande problema com o álcool, não podia beber sequer um dedal do mesmo, que ficava logo grogue mas quando trabalhava ou estava a fazer alguma coisa com responsabilidade, conseguia aguentar várias semanas ou até meses sem beber.

Em dada altura, surgiu a oportunidade de trabalhar numa conhecida empresa de construções de Abrantes, que estava na construção de estradas naquela zona, e como o meu irmão tinha a carta de condução profissional, para todos os veículos, conseguiu arranjar para andar com um camião de combustíveis para abastecer as máquinas a operar.

Estava a correr tudo bem, estava todo o mundo contente com ele, até que um dia o meu irmão assistiu a uma discussão entre o encarregado das obras, o responsável, (o Big Boss) ou lá quem era, com um preto da Guiné, pois ele tentava-se exprimir através do crioulo da Guiné, que o meu irmão sabia falar muito bem.

E o que ele ouviu, não gostou nada, por isso no final do dia foi procurar saber mais a fundo o que se teria passado, e procurou primeiro junto do Guineense, tendo constatado o seguinte: (i) que era um grupo de cerca de 12 guineenses, (ii) que estavam hospedados nuns contentores sem condições algumas, e (iii) que o Big Boss só lhes pagava aquilo que queria e quando queria, (iv) que era precisamente isso que o guineense estava a pedir, o seu dinheiro, porque estava sem patacão, assim como ele e todos os outros (que na maioria deles não falavam português nem sequer crioulo, e eram todos eles jovens).

O meu irmão, em face disso, resolveu ir pedir explicações ao Sr. Big Boss, e dizer-lhe que ele não podia tratar assim aqueles homens, e que devia pagar todo o dinheiro em falta a todos eles, se não… E como o Sr. Big Boss era o Big Boss, respondeu à letra, e a partir dali gerou-se uma forte discussão em que o meu irmão lhe chamou todos os nomes, menos de Santinho.

Não tenho presente quando, mas passados poucos dias o Sr. Big Boss arranjou um pretexto para despedir o meu irmão.

Conclusão: O meu irmão, mesmo sabendo que poria em risco o seu emprego, não hesitou em defender os pobre guineenses de serem explorados daquela maneira. Quando ele via uma injustiça, ele não pensava duas vezes, para ir em socorro do injustiçado.


(B) O segundo apontamento, foi em Lourenço Marques, no período em que ele deu instrução militar aos mancebos de lá.


Num determinado dia em que esteve de Sargento de Dia, ao passar junto das celas dos presos, ouviu o som de alguém que estava a soluçar (chorar), e foi ver o que se passava. Era um soldado recruta, que tinha recebido um recado a dizer que a mulher estava na Maternidade, para ter o filho, e que ele gostava muito de estar presente nesse momento inesquecível, e não podia por estar preso.

O meu irmão, resolveu o assunto, fazendo um trato com ele, de estar de volta às 00:00 horas (meia noite).

Promessa cumprida e agradecida, mas chegou aos ouvidos de um tenente, que não gostou do que o meu irmão fez, e resolveu fazer queixa do meu irmão.


(C)E por última, numa povoação chamada Meponda, perto de Mueda (julgo eu), onde ele esteve aquartelado.


Perto de Meponda há ou havia uma ponte, que tinha que ser protegida, e iam para lá destacados durante um mês, não sei se um Grupo de Combate ou Secção ou Pelotão, só sei que era a vez dos homens do meu irmão.

Pelo facto de a ponte ficar num sítio isolado, os homens andavam à vontade, de tronco nu, só de calções.

Um determinado dia aparece lá um Major que, ao ver os homens naquele estado, deu logo ordem de prisão ao meu irmão.

Nesse mesmo dia à noite, alguém bate à porta do Sr. Major, e este ao abrir a porta depara com um inesperado espectáculo, à sua frente:

Todo o pessoal fardado à maneira e armado até aos dentes, de tudo o que havia e mais potente, apontando para a porta do Sr. Major, e um dos elementos gritava:
- Solta já o nosso sargento da prisão ou arrasamos já isto tudo!

Escusado será dizer, qual foi a opção escolhida pelo Sr. Major.

Conclusão: Não tenho comentários.

Um Abraço

Tino Neves
Almada

__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

6 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2032: Estórias de vida (4): Ainda sobre o meu irmão, o Srgt Mil Sérgio Neves, que foi amigo em Moçambique de Daniel Roxo (Tino Neves)

7 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1933: Questões politicamente (in)correctas (30): os cordeiros e os lobos de Mueda ou a adrenalina da guerra (Luís Graça)

6 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1928: Estórias de vida (3): Sérgio Neves, meu irmão: em Moçambique, o Mercenário, amigo do lendário Daniel Roxo (Tino Neves)

14 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1367: Concurso O Melhor Bagabaga (3): Fajonquito (1964) (Tino Neves)