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segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24867: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (31): Já estava com saudades de Farim e das canoas de transporte público...


Foto nº 1 >  A minha companhia para Farim, na canoa de transporte público


Foto nº 2 > Chegando ao cais de Farim


Foto nº 3  > Canoa de transporte de mercadorias


Foto nº 4 > Canoa de tipo "Uber" ...


Foto nº 5 >  Rio Farim: canoas de transporte público


Foto nº 6 > O nosso almoço em Farim

Foto nº 7 > Farim: monumento do tempo colonial, comemorativo do 5.º centenário da morte do Infante D. Henrique (1460-1960): ainda dá para perceber a estrofe de Camões. "Por mares nunca dantes navegados"... As letras e os algarismos, em metal, foram retirados (muito provavelmente roubados). De qualquer nodo, o monumento  resistiu ao "camartelo paigecista"... Já estava assim em 25 de abril de 2020. (*)


Foto nº 8 > Cais de Farim


Foto nº 9 > A minh canoa, no regresso

Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > 18 de novembro de 2023 

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem (e fotos) que nos foi enviada pelo  Patrício Ribeiro (nosso correspondente em Bissau, colaborador permanente da Tabanca Grande para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau, onde vive desde 1984, e onde é empresário, fundador e diretor técnico da Impar Lda; tem mais de 130 referências no blogue; autor da série, entre outras, "Bom dia desde Bssau"):


 Data - domingo, 19/11/2023, 13:57 

Assunto - Bom dia desde Bissau: as canoas de Farim 

Bom dia, desde Bissau (**)...  Os meus passeios... No dia 18/11/23, fiz uma pequena volta até Farim, estava com saudades das canoas de transporte público. 

Saída de Bissau às 7h, passagem na ponte João Landim, percorri os buracos no pó vermelho até Bula, depois alcatrão até Bissorã e segui na estrada com pó para Mansoa. Dali para a frente, há boa estrada de alcatrão até a rampa sul do rio de Farim.
A viagem demorou 4 horas.
Na rampa do rio, lá encontrei diversas pirogas, algumas muito bonitas, algumas a remos e outras trabalham com um pequeno motor a gasolina, destinadas ao transporte público (Fotos nºs 1, 2, 3, 4, 5, e 9). Lá “cambarmos” dentro de uma, onde vão 12 pessoas, para a outra margem, onde está a cidade de Farim.

Encontrámos tudo na mesma (Fotos nºs 7 e 8)… Fizemos lá nosso trabalho, para pôr a funcionar o Banco de Sangue do Hospital.

Almoçámos o que havia (Foto nº 6)... No caminho de regresso, parar em algumas tabancas para afinar alguns equipamentos, do fornecimento de água nos fontanários, à população, assim como ver os sistemas de água das hortas das mulheres, agora é muito necessária, a chuva só volta dentro de 7 meses.

Visitámos também o projeto, de área protegida de Djalicunda, Mansabá,  onde se pode descansar e dormir (na Zona de K3 / Saliquinhedim).

Passado 13 horas, estávamos em Bissau prontos para outros passeios.

Abraço. Patricio Ribeiro
IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guine Bissau
Tel,00245 966623168 / 955290250
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com
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Notas do editor:

 (*) Vd. poste de 26 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20907: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (14): O 25 de Abril passado em Farim, com crocodilos à mistura no rio Cacheu..., mas levando o luxo (!) da água e da luz ao hospital local... E, hoje, almocei ostras na grelha!

domingo, 9 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24212: Fotos à procura de... uma legenda (174): Legendas para as fotos do Ramadão de 1971, na tabanca de Saliquinhedim (K3) (José Carvalho, ex-Alf Mil Inf / Cherno Baldé)

1. O nosso amigo Cherno Baldé prontamente respondeu ao nosso pedido de legendar as fotos que o camarada José Carvalho nos enviou, e que foram publicadas no poste P24207.
O nosso obrigado a ambos.
Ficam agora devidamente ordenadas e legendadas:


Foto 1 - Chegada e antes do início da reza que se inicia com a chegada do Imame acompanhado dos seus discíplos. O grupo deve posicionar-se de acordo com as regras da tradição islâmica, os mais doutos, com maior idade e experiência ficam a frente, junto do Imame. A lógica é simples, nenhum humano é perfeito e infalível, em caso de evidentes falhas ou impossibilidade, deve-se substituir o Imame sem interromper o ritual da reza. A seguir vem o grupo dos mais novos, mulheres e crianças.
Foto 2 - Após a chegada do Imame, dá-se início a reza com a leitura, pelo Imame, de alguns Surats do sagrado Corão, como recomenda a Sunna (prática) do Profeta do Islão, em fileiras unidas e bem compactas, fazendo lembrar o período conturbado do início do Islão no meio de rivalidades, guerras, traições e assassinatos, sobretudo no período que se seguiu a morte do Profeta em Medina.
Foto  3 - Após a leitura dos Surats, os participantes inclinam-se para a sua frente, imitando o Imame, em sinal de submissão e devoção a Alláh, o todo poderoso e misericordioso.
Foto  4 - A seguir à inclinação, o grupo levanta-se ao mesmo tempo para de seguida se prosternar, e com a testa no chão, numa postura de total submissão e devoção a Alláh e ao seu Profeta.
Foto 5
Foto 6
Foto 7
Foto 8
Fotos 5 a 8 A - Na parte final da reza tem lugar o que chamam de "Cutuba" ou Sermão com a participação de um grupo seleto de discíplos e pessoas dedicadas a causa da religião na comunidade, todos do sexo masculino, durante o qual é revisitada a longa história do Islão dos primórdios a actualidade, incluindo partes do periodo Judaico e dos textos do antigo testamento do Cristianismo com particular destaque as peripécias do antes, durante e após a fuga dos Hebreus do Egipto e a épica ou mitológica travessia do mar vermelho com o Profeta Moísés (Mussa para os Árabes) a frente da nação rumo ao deserto do Sinaí e que culmina com a vida e obra do Profeta Muahammad.
Esta parte é a mais importante, mas também é a mais monótona e menos interessante para a rapaziada que já está com os sentidos voltados para as comidinhas que, entretanto, estariam a preparar em casa de maneiras que, não raras vezes, só ficam os mais velhos a acompanhar esta longa narrativa prenhe de recomendações dogmáticas sobre a religião, a vida em comum e a necessidade e fundamentos da preservação dos ensinamentos e da tradição islámicas, a bem da comunidade.

Fotos: © José Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753
Legendagem: Cherno Baldé

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Nota do editor

Vd. poste de 7 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24207: Fotos à procura de... uma legenda (173): O Ramadão de 1971 na tabanca de Saliquinhedim (K3) (José Carvalho, ex-Alf Mil Inf)

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24207: Fotos à procura de... uma legenda (173): O Ramadão de 1971 na tabanca de Saliquinhedim (K3) (José Carvalho, ex-Alf Mil Inf)

1. Mensagem do nosso camarada José Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72), com data de 20 de Fevereiro de 2023:

Caríssimos Luís Graça e Carlos Vinhal

Formulo votos de boa saúde.

Decorrendo o Ramadão, lembrei-me que no meu baú das memórias da nossa Guiné, existiam diapositivos sobre este período, celebrado pelos povos muçulmanos.

Estas fotos foram tiradas em Saliquinhedim (K3) no ano de 1971.

Na altura e mesmo agora os meus conhecimentos sobre o Ramadão são muito escassos, pelo que a sequência das fotos é perfeitamente intuitiva.

Assim, envio-vos estas fotos para se entenderem que se revela interessante a sua publicação, até com eventuais acréscimos de comentários de entendidos no assunto, fica à vossa consideração.

Desejo-vos uma Boa Páscoa.

Abraço,
José Carvalho


Foto 1
Foto 2
Foto 3
Foto 4
Foto 5
Foto 6
Foto 7
Foto 8
Foto 8A

********************

Comentário do editor:

Talvez o nosso amigo Cherno Baldé, especialista em assuntos étnico-linguísticos da Guiné-Bissau, nos possa legendar as fotos quanto aos momentos de oração aqui retratados, especialmente o momento da foto 8A.

Fotos: © José Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753

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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24185: Fotos à procura de...uma legenda (172): Ainda a tragédia do Quirafo, de 17 de abril de 1972: comparando as fotos da GMC destruída, de 2005 (Paulo / João Santiago) e de 2010 (Rogério Paupério / José António Sousa)

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21703: Álbum fotográfico de José Carvalho (2): A CCAÇ 2753, ”Os Barões”, e o K3 (Parte I)



Foto nº 7 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Em finais de Abril de 1971, estava concluída a ligação, por estrada alcatroada, Farim-Mansabá... Finalmente, a população podia   deslocar-se de Farim (ao fundo), para vários destinos,  até Bissau, com maior segurança


Foto nº 6 >  Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Asfaltagem  da estrada Farim-Mansabá, à entrada do K3. Heliporto, edifício do comando, zona dos chuveiros, enfermaria


Foto nº 5 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 >   Construção da estrada Farim - Mansabá > Centenas de trabalhadores no final do dia de trabalho, recebendo géneros alimentícios (sal e arroz) antes de serem transportados para Mansabá.


Foto nº 1 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K> Auto tanque do BENG 447 que accionou mina anti-carro, colocada na facha lateral da nova estrada, utilizada para a circulação de viaturas, envolvidas nos trabalhos do novo troço.



Foto nº 2 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Edifiício do Comando


Fotos (e legendas): © José Carvalho (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem, com data de 28 do corrente,  do camarada José Carvalho [, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72); médico veterináruio, a residir no Bombarral]:
 
Caros Amigos Luís e Carlos,

Os meus votos de Boas-Festas e um Ano Novo, que nos devolva a normal vivência, com Paz e Saúde, para vós e Família. São igualmente os meus votos, para todos membros da Tabanca Grande.

Envio-vos em anexo um texto, complementado com fotos do tempo em que os “Barões” passaram por Saliquinhedim / K3 e que poderá ter algum interesse para os que antes, durante e depois, por lá passaram.

Deixo ao vosso inteiro critério a sua publicação.

Com amizade, abraço do
José Carvalho


2. Álbum fotográfico do José Carvalho  > CCAÇ 2753 - ”Os Barões” e o K3  (Parte I )


No 3º dia de Março de 1971, a CCAÇ 2753 deixa o destacamento provisório de Madina Fula (*) e ocupa as instalações militares de Saliquinhedim, mais conhecidas por K3, por se situarem ao Km 3 da margem sul do Rio Farim, afluente do Rio Cacheu, ficando Farim na margem oposta.[Há 100 referências ao K3 no nosso blogue,]

Nessa mesma data, uma mina A/C, destrui um autotanque do BENG 447, causando quatro feridos, sendo dois graves.[Foto nº 1, acima].

As novas instalações onde permanecemos cerca de um ano, eram de “muitas estrelas”, face às que a companhia desfrutou, nos anteriores três meses.

Contudo as construções eram bastante precárias, com telhados de zinco, muito ondulados e esburacados, que se repartiam por vários locais em redor de uma edificação dita do Comando (secretaria, quartos dos oficiais e posto de transmissões). [Foto nº 2, acima]



Foto nº 3 >   Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Memorial ao Cap Mil Inf Corte - Real, cmdt da CCAÇ 1422, 
morto em combate, em 12/6/1966


Em frente da referida construção, a parada, com um memorial ao Capitão  [Mil Inf Dinis] Corte-Real, Comandante da CCaç 1422, que terá sido o primeiro  Capitão,  vítima da guerra na Guiné, a poucas centenas de metros do quartel. [Foto nº 3].



Foto nº 4 >   Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 >   Telheiro/cozinha, com o forno ao lado esquerdo


A estrada Mansabá - Farim dividia o quartel, ficando o edifício do comando, o heliporto, as casernas, a enfermaria, a cantina e a messe de oficiais e sargentos de um lado e um telheiro com um forno de lenha
apelidado de cozinha, a escola, a zona de oficinas auto, e um terreiro com balizas de futebol, do outro lado.

A primeira noite no K3, jamais saiu da minha memória, pois foi com grande satisfação que voltei a dormir numa cama, com a sensação de alguma protecção, que nos era dada pelas frágeis paredes e cobertura com troncos de palmeiras, encimada por folhas de zinco.

O telheiro que cobria o forno, na realidade o local onde se preparava a alimentação para quase duas centenas de seres humanos, era aterrador. Quem nos sucedeu encontrou condições muito mais aceitáveis. [Foto nº 4]

A CCAÇ 2753, integrada no COP 6, toma a responsabilidade do Sub - Agrupamento B, que englobava outros efectivos;

1 Pelotão da CCAÇ 2549
1 Sec AML/ERec 2641
1 Pelotão Milicias  (nº 282)
1 Sec Mort./ Pel Mort 2116
1 Sec Sap./ Pel. Sap/BCaç 3832

A missão da CCaç 2753 mantinha-se com a segurança próxima e imediata dos trabalhadores e máquinas, envolvidas nos trabalhos de reabertura da estrada, até à margem do rio Cacheu e a protecção da população de Saliquinhédim, na maioria Fula, que rondava as 200 pessoas.


Foto nº 5 >  Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Centenas de trabalhadores no final do dia de trabalho, recebendo géneros alimentícios, (sal e arroz) antes de serem transportados para Mansabá

Missão da CCÇ 2753:

(i) Ocupa, organiza e defende a povoação e quartel de Saliquinhedim:

(ii) Executa e apoia a Autoridade Administrativa de Farim, no sub-sector atribuído;

(iii) Intersecta com carácter de continuidade, por acção combinada de patrulhamentos ofensivos e emboscadas, os movimentos do IN do Biribão para o Morés, entre o Bironque e Colimansacunda;

(iv) Executa à ordem do comando do COP  6, em coordenação com outras forças, acções ofensivas em áreas fulcrais de intervenção (Biribão - Ionfarim - Irabato - Colimansacunda - Madina Fula – Madina Madinga - Tiligi, etc.) e também segurança a frequentes colunas auto, dada a grande
movimentação das populações no itinerário Farim - Mansába, depois de cinco anos inactivado;

(v) Garante o funcionamento do Posto Escolar Militar de Saliquinhedim.

Em finais de Abril de 1971, a estrada chegou à margem sul do rio Farim / Cacheu,  ficando restabelecida a ligação Mansabá - Farim. [Foto nº 7, acima]

A partir da conclusão dos trabalhos de construção da estrada, a CCAÇ 2753, passou a ser a única força militar no K3.

 (Continua)



Guiné > Região do Oio > Carta de Farim (1954)  > Escala 1/50 mil) >  Pormenor: localização de Saliquinhedim / K3, entre o Olossato e Farim. (Não confundir com o verdadeiro Olossato, que fica a sudoeste de Farim, e que está localizado na carta de Binta.)

Infografia; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011)

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quinta-feira, 11 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21067: Álbum fotográfico de José Carvalho (1): A CCAÇ 2753 (1970/72) e os Destacamentos Provisórios

1. Mensagem do nosso camarada José Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72), com data de 1 de Junho de 2020:

Caros Editores,
Cumprindo a intenção manifestada, quando da minha inscrição na TG,[1] de enviar umas fotografias, aqui vai uma resumida descrição da vida da CCAÇ 2753, nos Destacamentos Provisórios, de apoio à construção da estrada Mansabá – Farim, acompanhada de fotografias.
É quase um atrevimento descrever o que no seu notável estilo de escrita, já foi abordado pelo nosso amigo Vítor Junqueira, mas deixo a quem de direito, decidir da sua divulgação.
Ao Carlos Vinhal, que conheceu estes cenários, as minhas saudações e agradecimento também pelo trabalho desenvolvido, na sua envolvência da Tabanca Grande.

Ao vosso dispor, para todos um abraço do,
José Carvalho


A CCAÇ 2753 (1970-1972) e os Destacamentos Provisórios

A CCAÇ 2753 formada no BI 17, Angra do Heroísmo, constituída maioritariamente por açorianos, com representantes da totalidade das Ilhas, partiu em Maio de 1970, para Lisboa.

Sediada no Regimento de Infantaria 1 - Amadora, em 25 de Maio, onde acontece a concentração de todo efectivo inicial da Companhia. Fazendo parte daquela unidade, foi incorporada nos seus efectivos, nas cerimónias do 10 de Junho, no Terreiro do Paço.

A 15 de Junho inicia-se o IAO, na zona de Caneças, alcançando um grupo da companhia, folgadamente o primeiro lugar no campeonato de tiro de combate, da escola de recrutas de 1970, da Região Militar de Lisboa.

No final de Junho a companhia fica a aguardar embarque, na 9.ª Bateria do 3.º Grupo Misto da RAAF no Pragal, o que aconteceu no dia 8 de Agosto, a bordo do N/T Carvalho Araújo.

A companhia chega a Bissau a 17 de Agosto, depois de uma agradável escala em Cabo Verde.

Os primeiros dois dias a ração de combate e dormidas em camas metálicas sem colchões. A recepção foi fraca, mas longe se adivinhava, o que viria mais tarde…

Colocada depois no COMBIS, com excelentes instalações, foi dada à companhia a missão de patrulhamento terrestre, fluvial e ainda rusgas de modo a evitar infiltrações do IN na Ilha de Bissau.

Depois de cerca de três meses de bonança, adivinhava-se a tormenta…

No dia 30 de Novembro um primeiro pelotão da Companhia, deixa a região de Bissau e conhece uma nova realidade, chegando ao Bironque, o primeiro dos dois Destacamentos que iríamos conhecer.[2]

A 7 de Dezembro, o Comandante da Companhia, Cap Mil Art João da Rocha Cupido, assume o comando daquele Destacamento Temporário, que em meados de Dezembro, aloja os operacionais da CCAÇ 2753 e ainda alguns elementos sapadores - BCAÇ 2885 e dum ESQ MORT 81, após a retirada da CCAÇ 17.

Estrada Mansabá-Farim - O troço entre o Bironque e o K3 foi asfaltado no tempo da CART 2732 e da CCAÇ 2753. Localização dos destacamentos de Bironque e Madina Fula e, na margem esquerda do rio de Farim (Cacheu), em frente a Farim, o aquartelamento do K3 (Saliquinhedim)
© Infografia Luís Graça & Camaradas da Guiné - Carta da Província da Guiné, 1:500.000

Os efectivos militares presentes, tinham como missão, montar a segurança dos trabalhadores (centenas) e as máquinas envolvidos na construção da nova estrada Mansabá – Farim.

A reabertura desta rodovia, constituía um importante óbice à movimentação estratégica do IN na área do Morés, aonde concentrou um importante contingente de combatentes, calculado na época, em 4 a 6 bigrupos e ainda outros efectivos representativos nas áreas de Canjaja, Biribão, Queré e Maqué.

Foto 1 - Bironque - A “enfermaria”, algumas tendas, uma máquina no abrigo e uma das barracas cobertas por vegetação

Foto 2 - Bironque – Espaldão do morteiro 81 e tenda

Foto 3 - Bironque – Telheiro cozinha e os bidões das lavagens

Foto 4 - Bironque – Messe de oficiais depois de uma flagelação, em que o fogareiro a petróleo, do Alf Mil Junqueira, que no momento cozinhava uma galinha “turra”, explodiu.

Decorrido cerca de mês e meio, o Destacamento do Bironque, foi abandonado e os efectivos militares, ocuparam o novo destacamento de Madina Fula, situado a cerca de 5 Km a norte.

O segundo local nada de novo ou de mais confortável proporcionou, pois o modelo era o mesmo, com a agravante de ser mais afastado de Mansabá e por consequência pior nas situações de necessidade de auxílio.

Estes destacamentos tinham uma área de cerca de um hectare, de forma quadrilátera, localizados em zona pré-desmatada, contíguos à nova via e delimitados por barreiras de terra deslocada e acumulada na periferia. Esta terra era retirada de vários pontos do interior, resultante da abertura de valas de grandes dimensões, destinados a proporcionar estacionamentos/abrigo às máquinas pesadas, envolvidas na construção da estrada.

As barreiras tinham uma altura de dois a três metros e a sua crista teria cerca de dois metros de largura, onde eram escavados covas para protecção das tropas, postos de sentinela e colocação de armas pesadas. Nesta crista, estavam também colocados vários holofotes, que permitiam iluminar as imediações do destacamento, numa distância de cerca de 50 metros.

No interior deste espaço, além dos referidos buracos destinados às máquinas, situados na zona central, a periferia era segmentada por barreiras de terra com cerca de 1,5 m de altura, com área reduzida, onde eram colocadas, as tendas cónicas de lona com capacidade de alojamento para vários homens e um número apreciável de pequenas barracas feitas de ramos e folhagem de árvores.

Existia um gerador, que fornecia energia para a iluminação periférica, para um telheiro apelidado de cozinha, para uma roulotte “enfermaria” e mais uma dezena de lâmpadas espalhadas, entre as quais para as “messes” dos sargentos e oficiais.

Havia um espaldão para o morteiro 81, sendo as munições colocadas em bidões colocados na horizontal e cobertos de terra.

Na entrada do destacamento havia uns cavalos de frisa, não havendo qualquer vedação de arame farpado. Recordo-me que em alguns locais, foram colocadas armadilhas, em que caíram alguns animais selvagens. O abastecimento de água era feito diariamente a partir de Mansabá em pequenos atrelados-cisternas destinado à precária higiene das tropas, reduzida confecção de alimentos, lavagem de roupa, panelas, pratos, etc. Havia uns bidões colocados em cima de uma armação de paus e que debitavam uns borrifos, para o duche!

A lavagem dos utensílios de cozinha era feita segundo as mais exigentes normas de higiene. Existiam cinco meios bidões, com água, numerados de 1 a 5, começando a imersão das louças sujas no bidão 1 e depois sucessivamente nos restantes até sair do bidão 5, em perfeitas condições de adequada utilização…

Cada militar dispunha de um colchão pneumático, com esvaziamento automático ao fim de poucas horas. Muitos dormiam nos buracos, na crista das barreiras, envoltos em panos de tenda e com a G3, colada ao corpo.

A alimentação disponibilizada era ração de combate, intervalada, com cavala de conserva com batata cozida ou esparguete, dia sim, dia sim! Havia quem descobrisse umas iguarias selvagens e variasse um pouco a dieta. No tocante a líquidos menos mau… coca-cola, cerveja, vinho, whisky!

Vivíamos sempre em coabitação com um pó vermelho, principalmente durante o período de trabalho na estrada, que até o esparguete no prato, ficava enriquecido com este “ketchup”, se não deglutido rapidamente.

Em relação às condições de vida da CCAÇ 2753 durante estes três meses, talvez houvesse igual, até talvez pior, mas para muito mau bastava!

O relacionamento com o IN era verdadeiramente íntimo, pois raro terá sido o dia ou noite que por flagelações, emboscadas, minas, não houvesse “festa”.

Foto 5 - Madina Fula

Foto 6 - Madina Fula ao fim de um dia de trabalhos, coluna dos trabalhadores regressando a Mansabá, com segurança de helicóptero (ponto minúsculo no horizonte)

Foto 7 - Um felídeo, que tropeçou numa das armadilhas NT, nas imediações do destacamento

Foto 8 - Trabalhos na abertura da estrada

Foto 9 - Damas… só as do tabuleiro de jogos improvisado numa barrica pintada. Eu e o Vítor Junqueira no Bironque, dias antes do Natal de 1970

No início de Março deixámos Madina Fula, que foi aterrado e substituímos a 27.ª Companhia de Comandos, nas instalações “muitas estrelas” do K3, que até eram visíveis do interior das casernas… mas mesmo assim foi um dia inesquecível, julgo que para toda a companhia.
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Notas do editor

[1] - Vd. poste de 25 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20900: Tabanca Grande (493): José Carvalho, natural do Bombarral, com amigos na Lourinhã, ex-alf mil inf, CCAÇ 2753, "Os Barões do K3" (Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansába, 1970/72): senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 807

[2] - Vd. poste de 10 DE ABRIL DE 2009 > Guiné 63/74 - P4168: Os Bu...rakos em que vivemos (4): Acampamentos de apoio à construção da estrada Mansabá/Farim (César Dias)