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quarta-feira, 13 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11246: E as nossas palmas vão para... (6): Patrício Ribeiro, talvez o português que melhor conhece a Guiné profunda... e que está a fazer lá o milagre da energia solar...



Blogue Novas da Guiné-Bissau > 11 de março de 2013 > Água e eletricidade chegam a aldeias isoladas na Guiné-Bissau (reproduzindo uma peça da Agência Lusa, emitida de Bissau, 10/3/2013, fonte aliás que lamentavelmente não vem citada, como devia, e conforme mandam as boas regras )... 

Este blogue, de "informação, sem fins lucrativos e apartidário" (sic), é mantido por alguém, do sexo masculino,  que vive em Lisboa, é autor também do blogue Braga por um canudo, mas que não dá a cara (o que é pena)... É presumivelmente um antigo combatente da guerra colonial, um antigo cooperante ou  mais provavelmente um guineense da diáspora (a avaliar pelos seus seguidores, cerca de 360)... O blogue Novas da Guiné-Bissau tem um milhão de visualizações de páginas, desde 2009, ano em que foi criado...




Guiné > Bijagós > Ilha de Imbone > Orango > Casa da rádio de comunicação > Postal de boas festas, 2012, da empresa do Patrícío Ribeiro, Impar Lda, líder em instalações fotovoltaicas... "Gente isolada pelo mundo, que nós tentamos aproximar"... Foto: Cortesia de Patrício Ribeiro.


1. Mensagem, com data de ontem,  do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro [, português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bssau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]

Assunto Novas da Guiné ... e os problemas das minhas costas, por tantas picadas..."São tabancas (pequenas aldeias) como as de Culcunhe ou Unfarim, como Sansabato ou Maque, perto de Bissorã, região de Oio, que estão a beneficiar de um projeto concebido pela organização não governamental ADPP (Ajuda ao Desenvolvimento do Povo para Povo), financiado pela União Europeia e concretizado pela Impar, uma empresa da área da energia." [...]

Vd. o resto aqui, no blogue Novas da Guiné-Bissau
 (ou mais abaixo), 


Patricio Ribeiro

IMPAR Lda

Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau ,

Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau

Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa

www.imparbissau.com

impar_bissau@hotmail.com


2. Atualizo o que em tempos escrevi sobre o Patrício Ribeiro, rapaz hoje com os seus 65 anos, e que merece as nossas palmas, não só como empresário mas como antigo fuzileiro, homem, português, diplomata económico, cidadão do mundo, pai dos tugas, protetor dos jovens cooperantes, amigo do seu amigo, nosso grã-tabanqueiro e sobretudo grande amigo da Guiné e do seu povo...

Africanista, apanhado do clima ?... Hesitei em chamar-lhe 'africanista'... O termo está conotado com o passado da expansão colonial: o homem, o especialista que 'explora' ou 'estuda' África... Um explorador como Serpa Pinto, mas também um antropólogo, um etnólogo, um especialista em 'estudos africanos' (por exemplo, como o Eduardo Costa Dias, do ISCTE, meu amigo, amigo da Guiné-Bissau, igualmente nosso grã-tabanqueiro...).

Por outro lado, o termo também está conotado com nacionlismo panafricano... Amílcar Cabral e Nelson Mandela, por exemplo, são vistos muitas vezes como 'africanistas', 'panafricanistas', homens que têm ou tinham uma certa ideia de África, pós-colonial, continental, independente, desenvolvida, solidária, plurirracial...

Em contrapartida, 'apanhado do clima' é uma expressão, divertida mas ambígua, do nosso calão de caserna, do tempo da guerra colonial (1963/74)... A ironia é óbvia: O Patrício tem uma larga vivência de África, nasceu em Portugal (, é beirão liitoral, de Águeda) mas foi cedo, com a família, para o Huambo, Angola... E lá casou, com uma portuguesa do Huambo... Tem muitíssimos mais anos de África do que de Portugal: regressou  em finais de 1975 ao Puto, mesmo em cima da declaração da independência de Angola, pelo MPLA, veio  como 'retornado' (um termo que felizmente se ouvia cada vez menos, mas que foi reavivado com a série televisiva 'E Depois do Adeus'...), para, passados menos de 10 anos, em 1984, ter voltado a África, neste caso á Guiné, por razões aparentemente profissionais... (Não acredito no 'apelo misterioso' da África profunda, ou existe mesmo ?...).

E lá está ele, há mais de um quarto de século, não se imaginando já capaz de viver e trabalhar noutro sítio do planeta... mas sobrevivendo a tudo o que mata na Guiné e em África, em geral (a sida, o paludismo, a cólera, as infecções nosocomiais, as canoas inhomincas, as armas, o tráfico de droga, a violência, a droga de vida, os golpes de Estado, a ausência de Estado, as picadas mal alcatroadas, o tempo seco, o tempo das chuvas...).

É certo que o Puto não está longe, e sabe (ou sabia) bem ter uma retaguarda segura, à entrada da velha Europa... Apesar de tudo, Portugal é um país milenar, consistente, amigável, maneirinho, ao alcance da mão e... fiável. (Ou era ?)... Ele, Patrício, vem cá de vez em quando 'carregar baterias', revisitar família e amigos, fazer as suas análises de saúde... É bom ter uma retaguarda segura, é bom ter uma Pátria, ou duas ou três... Tiro-lhe o chapéu pela sua longevidade na Guiné, e para mais num período que foi conturbado e amargo...

Espero que ele um dia ainda nos possa contar como, em 1998, ajudou a salvar não sei quantos portugueses e guineenses, apanhados pela guerra civil que se travou à volta do poilão de Bandim... Mas o mais importante é o trabalho que ele faz hoje, como empresário, levando água, luz, calor, comunicação e sobretudo amizade e esperança a muitos guineenses do interior que vivem isolados do mundo... Um Alfa Bravo, camarada!.. Grande abraço, do tamanho da distância de Lisboa a Bissau. E cuida-me dessas costas!... Que Deus, Alá e os bons irãs te protejam sempre!...LG


3. Reprodução com a devida vénia da reportagem da Lusa, de 20/3/2012 (que foi divulgada em diversos órgãos de comunicação portugueses, como por exemplo RTP ou a Visão):

A 120 quilómetros de Bissau, em aldeias quase inacessíveis, decorre uma revolução silenciosa que está a mudar a vida de 15 mil pessoas. Energia solar leva luz a quem nunca teve, leva água perto a quem a tinha longe. 

São tabancas (pequenas aldeias) como as de Culcunhe ou Unfarim, como Sansabato ou Maque, perto de Bissorã, região de Oio, que estão a beneficiar de um projeto concebido pela organização não governamental ADPP (Ajuda ao Desenvolvimento do Povo para Povo), financiado pela União Europeia e concretizado pela Impar, uma empresa da área da energia.

Uma união de esforços que começou em novembro passado e que em quatro anos vai dar qualidade de vida a 24 aldeias de Oio, iluminando pouco a pouco escolas, centros de saúde e centros comunitários, e trazendo água para consumo e para rega através de furos, bombas e torres com depósitos.

É um pequeno painel solar a mudar a vida de pessoas como nenhuma mudança política em Bissau mudará, dando luz para aulas noturnas, para partos à noite, para bombear água, para ver televisão ou carregar telemóveis (para muitos o principal benefício). É por isso que na tabanca de Sansabato o imã Quimo Safé não se cansa de agradecer. "Ficamos contentes com a vossa presença, os mais velhos viram o que vocês trouxeram e não temos palavras para agradecer". Fala para a ADPP, fala para a Impar. "Os homens e as mulheres da tabanca vão sempre recebê-los de braços abertos. Os homens da tabanca não tinham forças para fazer este furo. Se vissem onde as nossas mulheres iam buscar água antes iam ter pena", diz o imã ao lado da torre de água no centro da aldeia onde já só falta montar os painéis solares que vão servir a bomba.

A mesquita já lá tem um e o benefício é visível mas também audível. "Antes gritávamos e ninguém ouvia, agora com o microfone as pessoas já podem ouvir as rezas". E à entrada da aldeia, junto da escola, Braima Camará, responsável de tabanca, diz que o painel permite ter aulas à noite e acabar com o analfabetismo. Todas as noites 20 mulheres e 10 homens têm aulas, das 20:00 às 23:00. "Estamos muito contentes porque antigamente não tínhamos luz mas neste momento a tabanca está feliz, toda a área, a mesquita, o centro de saúde, a escola, todos têm luz", diz Baima Camará.
A distância entre tabancas não é grande mas demora-se horas a percorrê-la, por caminhos que na época das chuvas são ribeiros, quando o isolamento é maior. Ao lado de Sansabato, na aldeia de Maqué a ADPP (na Guiné-Bissau há 30 anos) e a Impar estão a montar bombas para tirar água e fazer um sistema de rega gota a gota, tudo no âmbito do mesmo projeto, chamado "Clube de Agricultores".

Félix Fresnadillo, responsável pela área de energia solar e água da ADPP, explica à Lusa, no meio da horta, que o projeto compreende a eletrificação de 11 escolas, nove mesquitas e sete centros de saúde, além de 48 fontes com bombas alimentas a energia solar, 24 de água para consumo e outras tantas de água para rega. Paralelamente é ensinado aos agricultores novas técnicas de cultivo e a melhor forma de aproveitar a água. E a ADPP, diz Félix, vai também fazer sete centros de produção, para que alguns alimentos sejam processados (descasque de arroz, óleo de palma e de amendoim) e comercializados.

E Félix lembra ainda outra valência do projeto: "nos centros comunitários, local de encontro para jovens e para reuniões, vamos pôr televisões grandes, para que as pessoas possam ver o que se está a passar no mundo". 

É um novo mundo "servido" por Patrício Ribeiro, um português diretor da Impar que há 25 anos instala painéis fotovoltaicos na Guiné-Bissau, mais de 600 instalações até hoje, em aldeias perdidas no país na maior parte dos casos. Deverá ser quem melhor conhece o interior da Guiné-Bissau, arquipélago dos Bijagós incluído.

Em Cawal, junto de uma escola onde o professor Ângelo Gomes agora dá aulas noturnas a 45 alunos, Patrício Ribeiro frisa à Lusa que nas tabancas não havia nenhuma energia e que agora têm lâmpadas que ficam acesas toda a noite e que as mulheres e meninas podem aprender a ler (porque de dia têm de trabalhar). O pequeno painel não precisa de manutenção e permite três horas de aulas por dia. No caso de Cawal está previsto também montar uma televisão com leitor de CD para cursos de alfabetização, explica.

Boné na cabeça e muitos papeis nas mãos, Patrício Ribeiro percorre tabanca a tabanca por caminhos inexistentes, mede terrenos, dá indicações. "Procuramos sempre comprar materiais fabricados na União Europeia e os fabricantes dão 20 anos de garantia", diz. "A Impar já deu luz a muitos milhares de pessoas, estamos em mais de 100 centros de saúde e hospitais, em sítios onde ninguém chega a não ser as populações", garante.
Nas tabancas de Oio, entre Bissorã e Mansabá, é ele, com Félix Fresnadillo, a face visível de uma revolução que só não é mais silenciosa porque dá luz aos microfones das mesquitas. Quimo Safé reza por eles todos os dias.
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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11176: E as Nossas Palmas Vão Para... (5): Daniel Rodrigues, 25 anos, português, fotojornalista, que ganhou o "óscar" da melhor fotografia, na categoria "Vida Quotidiana", do concurso de 2013 da "Word Press Photo", com um belíssima foto de uma jogatana de futebol entre miúdos de Dulombi, março de 2012 (Luís Dias)