Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça, com o objetivo de ajudar os antigos combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra da Guiné (1961/74). Iniciado em 23 Abr 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência desta guerra. Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, e gostamos de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 10 de dezembro de 2023
Guiné 61/74 - P24938: Estórias do Zé Teixeira (61): Crónica de uma tarde, em sábado de Festas Natalícias (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381)
Olá Carlos e Luís
Espero que este sábado esteja a correr bem - é Natal.
Junto uma crónica do que me aconteceu hoje ao sair da Tabanca de Matosinhos depois do nosso almoço de Natal.
Se entenderdes que merece ser publicada, estai à vontade.
Aproveito para dar a infausta notícia da morte da Zélia Neno, a ex-esposa do falecido Xico Allen.
Um Grande abraço e continuação de bom fim de semana.
José Teixeira
Crónica de uma tarde, em sábado de Festas Natalícias
Não sei se a culpa foi do “pisca” que se recusou a acender, se foi do automóvel que usualmente por defeito, costuma não trazer “piscas” ou… talvez os seus condutores não se lembrem que os “piscas” são para usar sempre que necessário. Talvez tenha sido o homem que orgulhosamente, pensou que os “piscas” são para os outros usarem… Talvez não tenha acontecido nada disto.
O certo é que, deparei com dois carros parados, com os piscas apagados, atravessados na autoestrada, ao sair da cidade e dois homens engalfinhados na relva húmida da berma. Uma outra viatura, tinha parado. Vi dois/três homens a aproximarem-se e parei. Saltei da viatura e juntei-me ao grupo, com os meus respeitáveis setenta e tantos anos, e conseguimos afastá-los.
As línguas soltaram-se e espalhavam brasas por todo o lado:
- Seu filho deste… olha o pisca… (e mais uma tentativa de aproximação).
- O pisca, o carvalho, seu fils de…
Ora agora, insultas tu, ora agora, insulto eu, num vai e vem de palavras, que não constam no dicionário por serem ocas e vazias de sentido, mas que ferem e incendeiam o ego… e matam… se matam!
- Olha que eu, …seu (ver no dicionário) – e mais uma tentativa de chegar a roupa ao pelo do outro… mais uma corridinha… mais uma barreira. – O pisca está lá é para se usar! Seu…
Logo de seguida trava-se uma investida do outro, que está muito nervoso. Leva tudo à frente, mas… é melhor parar e dar mais duas de língua.
Qual deles está com mais medo? Não sei. Estranhamente, eu sinto-me sereno, como quando estava na Guiné, depois de apanhar com as primeiras, que me atiravam para o chão.
- Calma! Calma! Vamos ficar por aqui! Não estrague a sua vida… entre para o carro… vá, vá-se embora... despreze quem não respeita a Lei.
…E havia no meio de tudo isto havia um “pisca” de um dos carros que não tinha acendido na devida altura. Pelo andar da contenda, creio que o proprietário continuava sem saber que o “pisca” estava lá nos comandos da viatura para ele utilizar.
No meio de tudo isto, havia dois carros parados no meio da estrada, sem se tocarem, a olhar espantados para tudo isto, a apreciarem este espetáculo.
E o raio dos “piscas” continuavam apagados.
O mais gratificante para mim, foi sentir a gratidão de um dos contendores, que ajudei a acalmar. Ao partir, já mais sereno, olhou-me nos olhos e disse: OBRIGADO.
Entrei no meu carro. Dei dois murros no volante e deixei-me invadir pela comoção.
9 de dezembro, depois de um almoço de Feliz Natal na Tabanca de Matosinhos.
José Teixeira
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Nota do editor
Último poste da série de 9 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23602: Estórias do Zé Teixeira (60): O Senhor Augusto - Parte III (Conclusão) (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381)
quarta-feira, 26 de julho de 2023
Guiné 61/74 - P24504: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (5): O "Felgueiras", de 1º cabo hortelão a comendador (1943-2017) (Parte I)
Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Missirá> Pel Caç Nat 52 > c. 1973/74 > A horta. Não havia quartel ou destacamento que não tivesse a sua horta... E hortelãos diligentes e trabalhadores, na maior parte dos casos mal aproveitados...
Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
Texto, em duas partes, elaborado para a série literária do nosso editor Luís Graça, "Contos com Mural ao Fundo" (*),
A história do "Felgueiras" já me tinha sido contada, muito por alto, pelo pai do noivo. Antigos camaradas da Guiné, tinham estado numa companhia independente, colocada no setor de Teixeira Pinto (hoje Canchungo), na região do Cacheu.
Por nascimento e residência, eram de concelhos vizinhos, do Norte. Conheceram-se na tropa e ficaram amigos desde então. O Arlindo era do Marco de Canaveses, filho e neto de ferroviários, ele próprio maquinista da CP, já reformado.
Eu é que vinha do Sul e sentia-me ali um pouco deslocado, apesar dos laços afetivos que criara (e que ia mantendo desde há cerca de 40 anos), na região do Vale do Tâmega, berço, juntamente com o Vale do Sousa, deste pequeno, belo, velho e às vezes cansado mas sempre supreendente país que se chama Portugal.
Eu fazia parte do grupo dos convidados da noiva, Clara. Tinha sido orientador da sua dissertação de mestrado, na área da gestão em saúde, na Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa. Acabámos por estabelecer relações de convívio e até de amizade. Conheci o Jorge, o noivo, por ocasião da discussão, em provas públicas, desse trabalho académico.
O Jorge era médico, interno de medicina geral e familiar, na altura colocado em Lisboa. Não arranjei alibis nem tive argumentos para recusar o insistente e amável convite da Clara (e, por extensão, do Jorge) para ir a Braga ao seu casamento. Confesso que nunca gostei de batizados, bodas e funerais. Mas neste caso faltou-me mesmo uma boa desculpa, consistente e convincente, para declinar o convite.
Mas não vou falar mais dos noivos, jovens, simpatiquíssimos e felizes, nem da festa, líndissima, que deram num hotel de charme, nos arredores de Braga, rodeado de vinhedos e de carvalhos.
A figura do padrinho do noivo, ou melhor, a sua história de vida, é que me prendeu a atenção, logo de imediato. Encorpado, de estatura meã, olho azul, verbo fácil, sotaque tipicamente nortenho, bom copo – e, no passado, "melhor garfo" −, simpático, sedutor, bem humorado, às vezes também sarcástico e truculento, pareceu-me logo à partida que ficaria bem na minha série dos "Contos com mural ao fundo".
−"Felgueiras", um seu criado! – e estendeu-me a mão, em gesto franco, amistoso e descontraído, como é timbre da gente de Entre Douro e Minho.
−Na tropa e, depois, na Guiné, éramos conhecidos, não pelos apelidos paternos – os Silva, os Ribeiro, os Magalhães… − mas pelos nomes das terra ou do sítio donde provínhamos: o Alenquer, o Peniche, o Setúbal, o Paranhos… Eu era (e continuo a ser) o Felgueiras.
−Então hoje já aqui estamos pelo menos três antigos camaradas da Guiné – respondi eu, beneficiando da cumplicidade do pai da noiva que fizera as despesas da minha apresentação.
No contexto festivo de uma animada, ruidosa e farta boda nortenha, o topónimo "Guiné" funcionou logo como uma espécie de senha ou palavra-passe. A par do Alvarinho que foi servido com os aperitivos, ajudou de imediato a quebrar eventuais barreiras.
−Então, à saúde dos noivos! – atalhou logo o "Felgueiras".
− À saúde dos noivos! – repeti eu. – E também à nossa, aos velhos camaradas da Guiné que, como tal, tratam-se por tu! – acrescentei logo de seguida, sabendo que o tratamento por tu, noutras circunstâncias forçado, deslocado, indelicado e até deselegante, contribuiria aqui para criar um clima propício à confidência, à desinibição, à cumplicidade e à partilha de memórias entre três veteranos de guerra.
−Então, à saúde da noiva e do noivo, e dos seus convidados!... E, já agora, à memória dos rapazes que por lá ficaram naquelas terras de Cristo! – brindou o Arlindo, o pai do Jorge, o noivo.
− Mouros e morcões, somos todos iguais, todos portugueses e.... "irmões"! – brincou comigo o "Felgueiras", visivelmente bem disposto e feliz.
Ao longo do dia, e sobretudo depois do copioso e demorado almoço, com as diversas iguarias da mesa minhota, fomos dando uns dedos de conversa, enquanto o "Felgueiras", padrinho, fazia sala com o noivo e os seus convidados, como lhe competia. Mas, de tempos a tempos, vinha ter comigo e com o Arlindo, puxava-nos o braço e retomávamos o fio à meada, entre uns golos de uísque velho que foi o nosso digestivo com o café.
Enfim, com o "material" recolhido nesse dia e com mais umas conversas posteriores, com ele e com informantes privilegiados que o conheciam, a começar pelo Arlindo, pude traçar um primeiro retrato-robô do "Felgueiras", de resto uma figura em tempos conhecida e até popular, na região do Vale do Tâmega. Os mais novos, naturalmente, já não se lembrarão dele.
Não confessei a ninguém, como me convinha, a minha intenção de recolher umas notas biográficas sobre "Felgueiras". Para o leitor, também não preciso de justificar a minha escolha. No final, fará o seu juízo crítico. Por mim, tratava-se de uma figura tão digna como outras que figuram na minha série, afinal seres humanos como eu, com as suas pequenas misérias e grandezas, tendo como traço de união a guerra que um dia se travou na Guiné, entre 1961 e 1974, "guerra colonial", para uns, "guerra do ultramar", para outros, "guerra de libertação" para os militantes e simpatizantes do PAIGC.
O nosso camarada tinha sido 1.º cabo de infantaria e estado na Guiné, entre 1966 e 1968. Passo por cima de detalhes mais concretos, porque ainda há muita gente viva desse tempo e dos lugares por onde passou o "Felgueiras" (bem como o Arlindo e demais camaradas aqui citados).
Era apontador de armas pesadas de infantaria mas, por "azar", não fora colocado no esquadrão do pelotão morteiros, adido à companhia, como ele tanto gostaria. Coube-lhe, isso sim, integrar o 3.º pelotão da companhia, pelotão esse que só tinha 2 furriéis. Na prática, iria comandar uma seção de atiradores, ao substituir um 2.º sargento do quadro permanente que ficara em Lisboa com uma úlcera no estômago, a primeira "baixa" da companhia.
Na realidade, o "Felgueiras" não dera as habilitações literárias corretas, aquando da inspeção militar. Não era caso virgem, outros o fizeram antes e depois dele... Apresentou apenas o diploma da 4.ª classe da instrução primária e indicou como profissão a de operário fabril. Queria, intencionalmente, safar-se do Curso de Sargentos Milicianos (CSM), e de uma mais que provável mobilização para o ultramar como "furriel atirador"…
Ainda teve a veleidade de sonhar com uma especialidade que o tirasse do mato: cripto, escriturário, ou até mesmo sacristão, mecânico ou estofador… "Condutor auto, nem pensar", por causa das colunas logísticas e das minas. "E enfermeiro, ainda pior: sempre tivera horror ao sangue". Mas orgulhava-se de não ter posto cunha a ninguém, muito menos ao seu patrão, o industrial José Joaquim Gonçalves de Abreu, o dono da Tabopan, político de peso do regime, presidente da câmara local, futuro deputado e comendador.
E, no entanto, o melhor que lhe coube na rifa foi o posto de 1.º cabo atirador de armas pesadas de infantaria.
−Vou ficar no quartel, pensei. Ele haverá lá um morteiro 81, um canhão sem recuo…
− Seguramente uma Breda, ou uma Browning… − acrescentei eu.
− Santa ingenuidade!, fui logo parar à 'tropa-macaca', a que saía para o mato! – lamentou-se o "Felgueiras".
E explicou:
− Azar o meu: quando cheguei ao quartel, o morteiro 81 já tinha dono, havia lá um esquadrão de morteiro, uns gajos já velhinhos, completamente 'apanhados do clima', que lá viviam no seu buraco quais lagartos…
Acabou por ficar no quartel com a responsabilidade da horta e do espaldão da Browning 12.7, tendo para o efeito um abrigo "privativo", cheio de cunhetes de munições até ao teto, incluindo balas tracejantes.
− Ainda fiz o gosto ao dedo, num dos grandes ataques ao quartel. Era um arma do carago, a Browning!... Devo ter despachado uns gajos mais cedo, com carimbo para o inferno, nesse ataque, em que eles vieram quase ao arame farpado...
Tinha de facto alguns conhecimentos (básicos) de hortofruticultura. Quando miúdo, ajudava o pai e os irmãos mais velhos na quinta que trabalhavam, de renda, na Lixa, em Felgueiras, em regime da parceria agrícola, versão moderna da servidão da gleba. O pai chegou a estar emigrado em França, onde tratava de cavalos num "château" da região do Loire.
Com as remessas de dinheiro, "bem suado e poupado", que mandava de França, lá conseguiu pôr o filho mais novo a estudar, primeiro no seminário menor da Diocese do Porto, e depois num colégio privado em Amarante.
O "Felgueiras", "mau aluno, cábula" (sic), lá conseguiu "à rasca" completar o almejado 5.º ano do liceu, mas, para grande desgosto do pai que lhe desejava melhor sorte do que a de "filho de rendeiro", desistiu de prosseguir os estudos. E este não teve outro remédio senão o de dar ordens terminantes à mãe para pôr o filho a trabalhar na Tabopan, logo que completasse os 16 anos. Tinha lá um tio materno que era encarregado e que o podia, de algum modo, proteger.
A Tabopan, na altura, era uma das grandes fábricas da região, dava trabalho a muita gente e era o sustento de muitas famílias de Amarante e arredores. Isto ainda antes da febre da indústria do calçado que, no caso do concelho de Felgueiras, irá enriquecer alguns e desgraçar muitos, sobretudo depois da entrada do País na CEE, em 1986, e da vinda de pipas de massa para a modernização das empresas…
Para o nosso cabo, a Tabopan foi uma das suas "faculdades da Universidade da Vida" (sic), a par da tropa e, depois, da Guiné.
−Abriram-me os olhos!
Self made man, gosta muito de evocar a "escola da vida" em que se formou e não esconde o seu desdém pelos "doutores de Coimbra".
−Mais vale um ano de tarimba do que dez de Coimbra!... Era o que se dizia até à reforma do Marquês de Pombal… − contemporizei eu.
−No meu caso, valeram mais os quatro anos de Tabopan e outros tantos de tropa, Guiné e, depois, Angola. (Fiquei a saber que ele também tinha passado por Angola, depois de vir da Guiné.)
Na Tabopan, com as boas graças do tio que procurou puxar por ele, o "Felgueiras" percorreu quase todas as secções, desde a produção à distribuição, do armazém ao escritório, onde aprendeu a escrever à máquina no teclado HCESAR.
−Quando assentei praça, já era um homem feito e vivido. Mas já que estamos aqui entre amigos e camaradas, juro que nunca fui um gajo 'putanheiro' e muito menos… 'azeiteiro'.
− O que é bem diferente de dar uma facadinha no matrimónio, de vez em quando – acrescentou, timidamente, entre dentes, o Arlindo, olhando em redor, não fossem as senhoras ouvi-lo...
− Ora… quem as não deu?! –interrogou-se o “Felgueiras”.
− Jesus Cristo, que, tanto quanto se sabe, não era casado… − galhofei eu
Sete ou oito meses depois, lá vai o 1.º cabo "Felgueiras" (mais o furriel Arlindo) no T/T "Niassa" a caminho da Guiné.
Mas passemos por cima dessas peripécias da pequena história pátria: não se deu mal com as novas funções que lhe foram atribuídas, a de 1.º cabo hortelão da companhia (uma especialidade que, diga-se de passagem, não existia na tropa).
A horta cresceu e ajudou a equilibrar as "finanças" da companhia.
−Não sei se havia essa categoria no exército, a de 1.º cabo hortelão… Não me lembro – repliquei eu.
−Os furriéis, que eram quase todos do Norte, chamavam-me o "Pencas", os alferes que eram do Sul, puseram-me a alcunha do "Couves"… Os meus camaradas, soldados e cabos, esses, tratavam-me, como sempre me trataram, desde a IAO, por "Felgueiras"… E foi essa alcunha que vingou.
− "Pencas"… mas porquê. ?
− Imagina que no segundo Natal que passámos no mato, em 1967 (e ainda haveríamos de passar um terceiro…), eu apostei com o meu capitão, que era nortenho, que ele iria ter pencas (a couve "tronchuda"…) na noite da Consoada, a acompanhar o bacalhau…
−Meu capitão, arranje-me o bacalhau, as batatas e o azeite, que eu trago-lhe as pencas. Para si, para mim e para o resto do pessoal.
Ele não acreditou e perdeu a aposta (uma nota de 100 pesos, ainda se lembrava o "Felgueiras", ou uma garrafa de uísque velho)…
−No primeiro Natal, mal chegámos, em finais de 1966, comemos uma merda liofilizada, uns grelos, um desconsolo.
O clima da Guiné não ajudava a criar pencas, a couve portuguesa, devido às temperaturas elevadas… Por outro lado, não fazia frio nem geada, muito menos neve, para "cozer" as "tronchudas", antes do Natal… Mas a verdade é que o "Felgueiras" conseguiu obter sementes pelo correio… mais uns "pozinhos de perlimpimpim" (sic). Em dezembro, afinal, fazia frio de rachar, à noite!...
Com o "Paranhos", seu "ajudante de campo", conseguiu operar "o milagre das pencas" lá na região do Cacheu. Primeiro, fez um viveirinho de plantas. Depois, plantou-as e pôs, a toda a volta, no talhão das couves, uma rede em tecido camuflado, para as pencas não apanharem o sol direto (ou em excesso) e evitar a passarada…
Ninguém acreditava, até o comandante de batalhão foi lá um dia visitar a horta…
− Sim, senhor, nosso cabo... Bela horta!
Enfim, "houve bacalhau com batatas e tronchudas na noite de Natal, se calhar pela primeira vez na Guiné!"...
− Foi uma alegria, sobretudo para a rapaziada do Norte, do Minho e do Douro Litoral… Sim, porque os gajos de Trás-os-Montes têm a tradição do polvo, e vocês, os alfacinhas, a mania do peru recheado... Com a tua licença, uma merda afrancesada...
Foi um sucesso, a horta. E as "tronchudas" ficaram na memória de todos, mesmo que nem todas vingassem. A horta cresceu e multiplicou-se para gáudio do capitão, do 1.º sargento e do furriel vagomestre…
O nosso cabo tinha especial habilidade para descobrir talentos, tendo desde logo garantido o concurso do tal "Paranhos", que também trabalhara num quinta do Porto, antes da tropa.
− No tempo em que ainda havia quintas no Porto, justamente em Paranhos… Hoje o betão e o alcatrão tomaram conta de tudo – esclareci eu que ainda conheci o Porto… "rural", em 1975.
− E consegui depois arranjar mais dois ou três civis de uma tabanca próxima. Tinham em tempos trabalhado na horta das missões católicas do Cumeré, se não me engano. Eram manjacos, cristãos, falavam razoavelmente o português. Foram-me recomendados pelo capelão do batalhão, um gajo do Norte, também porreiraço. Eram pagos em patacão e em géneros. Formávamos uma bela equipa, tenho saudades deles, confesso... Chamavam-me o "irmão hortelão". O meu braço direito era o "Paranhos", que sabia muito mais de horta do que eu.
− Na realidade, a "ponta", com uns bons hectares, não tinha sido totalmente abandonada. De facto, uma parte, junto à casa, continuara a ser cultivada por uma família manjaca, cristã, que trabalhava para o cabo-verdiano, ainda antes da guerra.
− O que é que lhe aconteceu, ao dono, o tal cabo-verdiano? − perguntei eu, curioso.
− Nunca soube ao certo, contavam-se várias versões da história. Dizia-se que era compadre do Amílcar Cabral e que estaria em parte incerta. Uns juravam que tinha ido para Conacri. Outros garantiam que tinha sido morto em 1962, quando se deslocava na sua camioneta até Canchungo. Também era comerciante de arroz e mancarra.
− Não seria um tal Brandão?
− O nome já não me lembro, nem para o caso aqui interessa. Era conhecido dos meus manjacos, e não seria mau tipo: deixou boas recordações (e filhos fora do casamento, ao que parece).
Veio-se a descobrir, mais tarde, por finais de 1964 ou princípios de 1965, graças ao "trabalho de sapa" do agente da PIDE de Teixeira Pinto, que o tal manjaco, que fora empregado do cabo-verdiano, e que desde 1962 tomava conta da "ponta", fazia parte de uma "célula civil" do PAIGC… Foi acusado de ajudar (e até de abastecer) os "turras do Choquemone".
− Acho que se chamava Gomes e ainda por cima era o sacristão da igreja local, o sacana… – acrescentou o "Felgueiras" – mas isso já não era do meu tempo… nem da minha conta.
Foi preso, interrogado, torturado e, com sorte, deportado, sem julgamento, para a Ilha das Galinhas, nos Bijagós, e depois para o Tarrafal.
− Houve quem, por menos, tivesse acabado numa vala comum ou na bolanha com um balázio na testa – confidenciou o "Felgueiras"... – Pelo menos os meus manjacos contaram-me algumas merdas que a polícia administrativa de Canchungo terá feito no início da guerra.
− A polícia administrativa, os "cipaios", ou a milícia do régulo…? Como é que ele se chamava?
− Não me lembro, mas adiante… Disseram-me que mais tarde o Gomes foi solto, já a gente tinha acabado a comissão. Deve ter sido por volta de 1969, por ordem do Spínola.
A mulher e os filhos do Gomes foram recambiados para a ilha de Pecixe, donde eram originários. A casa e uma parte da horta foram cercados de arame farpado, passando a ser integradas no perímetro do quartel que, de resto, confinava com a tabanca.
A "ponta" sempre dera boa e abundante fruta tropical como a banana, o mango, a lima, a papaia, o abacate, o abacaxi… O nosso cabo introduziu culturas hortícolas europeias, adaptadas ao clima e ao terreno, graças a sementes que conseguiu obter da granja de Pussebé onde, por ironia, tinha trabalhado o eng.º Amílcar Cabral, e outras que encomendou à Intendência ou mandou vir da metrópole, pelo correio, através de um antigo colega, mais velho, do colégio de Amarante, que se formara como regente agrícola.
Os terrenos, por sua vez, foram lavrados e estrumados. Bosta era coisa que não faltava na "vacaria" do quartel… Como estavam de pousio, começaram logo a produzir em grande.
A produção de frutas e legumes dava para abastecer não só a companhia como o pessoal da CCS e a outra unidade de quadrícula que estava em Teixeira Pinto. Para gáudio do médico do batalhão que, logo de início, alertara o comando para as insuficiências nutricionais que os militares iam sofrer ou já estavam a sofrer. Havia muita falta de "frescos", frutas e legumes, as companhias eram abastecidas, com alguma irregularidade, quer por colunas terrestres quer por avioneta (que também trazia o correio).
Com os restos do rancho e com as sobras da horta, o nosso cabo montou uma pocilga (uma "corte") e um galinheiro. Passados escassos meses, a companhia já era autossuficiente em galinhas, frangos, ovos e até leitões.
Quando o furriel vagomestre foi evacuado para o Hospital Militar 241, em Bissau, e dali para a Metrópole, com uma hepatite (o raio de uma doença que "toda a gente queria apanhar", já que dava, na altura, direito a evacuação imediata para o Hospital Militar de Belém, especializado em doenças infecto-contagiosas…), o capitão, por sugestão do 1.º sargento, achou que o "Felgueiras" era o homem certo para o lugar certo. Para já, não havia nenhum sargento ou furriel disponível para o lugar de vagomestre e, quanto ao substituto, já pedido, só viria lá para as calendas gregas.
Interinamente, o nosso cabo, "até porque afinal tinha estudos", ficaria a desempenhar o cargo de vagomestre. Como, de resto, ficou, até ao fim da comissão, "a contento de todos".
− A fazer as vezes de um furriel e a ganhar como 1.º cabo, estás a ver?!
Por outro lado, o 1.º sargento ia também, muito em breve, deixar a companhia para frequentar, em Águeda, a Escola Central de Sargentos. Tratava o "Felgueiras" de modo algo paternal, e os dois sempre tiveram uma boa relação desde a IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional). De resto, a companhia irá ficar sem sargentos: um outro 2.º sargento do quadro permanente, que era operacional, teve um problema disciplinar, e acabou por ser colocado em Bissau. O 1.º sargento não chegou a ser substituído em tempo útil. Na prática, foi o capitão quem assegurou o serviço de secretaria com o 1.º cabo escriturário.
− Foi um pai e um mestre, para mim! – disse-me o "Felgueiras", já no fim da tarde, quando os mais novos, na festa do casório, se divertiam ao som de uma banda de música rock… − Nunca mais o vi. Pena que tenha morrido, cedo, com o posto de capitão SGE, ao que me disseram.
Para o comandante da companhia, capitão de infantaria, miliciano, 33 anos, solteiro, "homem bom", antigo seminarista, professor de português num colégio particular, a "horta", a "corte", a "vacaria" e o "galinheiro" da companhia foram uma bênção do céu. Resolveram uma grande parte dos problemas de abastecimento e de segurança alimentar da companhia (e até do batalhão).
O capitão ficou, por outro lado, bem visto pelos seus superiores hierárquicos, pelo empenho e apoio que deu a estas iniciativas. E até os comandantes das companhias em redor não lhe regateavam elogios. Mas "ninguém mexeu uma palha para seguir o seu exemplo"...
Por outro lado, com a "contabilidade criativa" do 1.º sargento, a companhia passou a ter um "histórico superavit". Não cabe aqui contar, neste espaço, como é que o capitão reinvestiu esse patacão em obras para a melhoria do bem-estar dos militares (camaratas, casas de banho, campo de futebol…) e da população civil (posto escolar, centro médico, chafariz…), juntamenente com o patacão que vinha do batalhão para a "psico-social". Até deu para fazer obras de ampliação e beneficiação da pequena igreja local, para contentamento do capelão.
− Um homem com H, um grande capitão, mesmo que já não tivesse grande jeito (nem idade) para alinhar no mato e comandar tropas…
− Voltaste a encontrá-lo?
− Sim. Estivemos, pelo menos, em dois encontros, em convívios anuais da companhia, que eu organizei por aqui perto, um em Fafe, e outro no Marco de Canaveses.
− No Marco?
− Sim, na tua terra de adoção... Ainda hoje, vinte e tal anos depois, a malta fala da grande almoçarada que eu proporcionei: a vitela assada à moda de Fafe, em Fafe, num ano; e logo, a seguir, num outro ano, o anho assado com arroz de forno, lá no Marco… Até convidei o Ferreira Torres, de quem eu era amigalhaço, mas o homem nessa data tinha outros compromissos. Mas, mesmo assim, foi lá de propósito só para me dar um abraço e saudar a rapaziada.
− E essa história da padaria e dos leitões assados, de que me falou aqui o nosso camarada (e teu compadre) Arlindo?
− Foi a cereja no bolo, camarada! – respondeu o "Felgueiras", orgulhoso. − Vim no "Uíge", fizeram-me uma festa de despedida, fui carregado em ombos… Até parecia que eu era um herói de guerra, carago!
− Conta lá como isso foi, camarada. Se me deres licença, quero tomar boa nota dessa história.
− Pois, foi assim… Quando substitui o vagomestre (que Deus nosso Senhor o tenha em bom descanso!), havia muitas queixas das nossas praças, em relação ao pão que era servido às refeições. Até então, andava tudo de bico calado… Quando eu assumi funções, não houve cão nem gato que não reclamasse. "O casqueiro está uma merda, ó Felgueiras!"…
− O costume, dá a mão ao vilão, morde-te logo a mão! − atalhou o Arlindo que estava a seguir a conversa.
− Bom, tive que tomar providências imediatas. O capitão deu-me carta branca. Arranjei um rapaz do Carregado, o "Alenquer", que andava a coçar o cu pelas tabancas, e promovi-o a ajudante de padeiro. Já era padeiro na vida civil. Em contrapartida, o padeiro da companhia era um básico, que nasceu sem jeito para nada a não ser para a sornice. Melhorámos a mistura das farinhas, fizemos obras no forno, começamos a fazer pão com chouriço e torresmos ao fim de semana… E às tantas um leitãozinho. E não é que a coisa pegou?
− Isso mesmo, ao fim do mês, havia mais patacão para cada um poupar ou gastar… Tudo com o "ámen" do capitão que nestas coisas tinha vistas largas... Pergunta ao "Paranhos", se por acaso o encontrares lá nessa tal Tabanca de Matosinhos, de que me falaste, e que eu não conheço, mas um dia ainda tenho mesmo que lá ir… Almoço à quarta-feira, é isso?
− Sim, vou-te dar os contactos e as coordenadas... Vais adorar, há lá malta do teu tempo e da região do Cacheu.
(Continua)
Nota do editor:
Último poste da série > 20 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24491: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (4): Amigos para sempre!
terça-feira, 4 de abril de 2023
Guiné 61/74 - P24196: Tabanca Grande (547): Rogério Paupério, ex-1.º Cabo Escriturário, CCAV 3404 / BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73). Natural de Valongo, vive atualmenmte em Vila Nova de Gaia; passa a ser o membro n.º 874 da Tabanca Grande.
Boa noite Luís Graça
Tal como o Gomes de Sousa falou, também estive no BCav 3854 / CCav 3404 que embarcou para a Guiné a 4/7/71 e lá chegou a 11/7/71 com destino a Cabuca, Nova Lamego. Fui o escriturário da Companhia.
Em 2010 convenci uns camaradas a ir à Guiné, organizei um grupo de oito, três da companhia (sendo um o Gomes de Sousa, que nos tinhamos acabado de reencontrar 37 anos depois), dois de Canquelifá, um de Angola (que tinha o sonho de visitar a Guiné) e ainda meu filho.
Partimos a 12/3/2010 e regressámos a 20/3/2010. Uma viagem inesquecível. Uma decepção pelo estado lastimoso de tudo; abandono, destruição etc. Salvou-se o amor que tínhamos aquela terra e que se reforçou depois da nossa vinda. Não nos cansamos de recordar aqueles 8 dias da nossa vida.
Ficámos no Saltinho, visitámos Bafafá, Nova Lamego, Cabuca, Piche, Canquelifá, Bissau, Quebo, Buba, Guilege e outros pequenos locais com história principalmente Quitaro, local trágico para as NT.
Junto, como pediste, uma foto minha da minha passagem pela Guiné e uma actual.
Quanto à minha colaboração no teu blogue terei o maior prazer em fazê-lo.
Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Cabuca > Brasão da CCAV 3404 / BCAV 3854 (1971/73).
- António Barbosa, ex-alf mil op esp/ranger, 2.ª C / BART 6523 (Cabuca, 1973/74);
- Armando Gomes ex-1.º cabo ap armas pesadas, CCAÇ 2383 (Cabuca 1968/70);
- Carlos Arnaut, ex-alf mil art, 16º Pel Art (Binar, Cabuca, Dara, 1970/72);
- José da Luz Rosário, ex-fur mil, Pel Canh S/R 2298 (Cabuca e Buruntuma, 1971/72);
- José Pereira, ex-1.º cabo inf, 3.ª CCAÇ e CCAÇ 5 (Nova Lamego, Cabuca, Cheche e Canjadude, 1966/68);
- Ricardo Figueiredo, ex-fur mil, 2ª C / BART 6523, Cabuca (1973/74);
- Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70).
Trabalhaste na empresa Barbot
Andaste na escola de Valongo
Vives em Vila Nova de Gaia
És natural de Valongo.
(*) Vd. poste de:
2 de abril de 2023 _ Guiné 61/74 - P24185: Fotos à procura de...uma legenda (172): Ainda a tragédia do Quirafo, de 17 de abril de 1972: comparando as fotos da GMC destruída, de 2005 (Paulo / João Santiago) e de 2010 (Rogério Paupério / José António Sousa)
1 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24183: Efemérides (384): A tragédia do Quirafo foi há 51 anos, em 17 de abril de 1972... Em 2010 ainda havia vestígios da fatídica GMC... (Rogério Paupério / José António Sousa, membros da Tabanca de Matosinhos, ex-militares da CCAV 3404 / BCAV 3854, Cabuca, 1971/73)
(**) Último poste da série > 7 de março de 2023 : Guiné 61/74 - P24126: Tabanca Grande (546): António Figueiredo, ex-sold cond auto, CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67); natural de Sátão, Viseu, vive em São Domingos de Rana, Cascais; senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 873
sexta-feira, 9 de dezembro de 2022
Guiné 61/74 - P23860: Convívios (949): Almoço de Natal da Tabanca de Matosinhos, dia 14 de Dezembro de 2022, no restaurante Espigueiro, em Matosinhos, a partir das 12 horas (José Teixeira)
1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) com data de 8 de Dezembro de 2022:
Bem-vindo ao almoço de Natal na Tabanca de Matosinhos.
Quarta feira dia 14 de Dezembro na Tabanca de Matosinhos.
Podes vir acompanhado e traz uma pequena prenda para dar a alguém. Levarás de volta uma recordação deste dia que alguém trouxe para ti.
Um grande abraço
Pela Tertúlia da Tabanca de Matosinhos
Zé Teixeira
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Nota do editor
Último poste da série de 22 DE NOVEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23805: Convívios (948): 82.º Encontro da Tabanca do Centro, a levar a efeito no próximo dia 30 de Novembro no Restaurante "Tertúlia do Manel", Cortes, Leiria
terça-feira, 18 de outubro de 2022
Guiné 61/74 - P23717: In Memoriam (456 ): Xico Allen (1950-2022), ex-Soldado Condutor Auto, CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972/74), um dos nossos pioneiros nas viagens de saudade à Guiné-Bissau
Era um homem de ação, pouco dado à escrita, afável, amigo do seu amigo... Guardo dele as melhores recordações, incluindo as suas idas ao Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real (a última vez, em 2018).
Sobre ele escrevi algures, legendando a feliz foto do Hugo Costa, a do Xico com um saraui, na Mauritãnia, a caminho da Guiné-Bissau:
(...) O Xico Allen em acção: ele tem o melhor dos portugueses (a abertura aos outros, o sorriso aberto e frontal, a alegria de viver, o sentido da aventura) e dos ingleses (a organização, a tenacidade, a teimosia, o pragmatismo)... Pelo menos, dos portugueses e dos ingleses do Porto. É o que eu deduzo da apreciação feita pelos amigos que o conhecem... e também daquilo que eu já sei dele (...). Desejo-lhe good luck / boa sorte nas suas próximas aventuras terrestres a caminho dessa "terra vermelha e ardente", como chama o Torcato Mendonça à nossa Guiné" (...)
À família enlutada, e em particular à sua filha querida, a Inês Allen, bem como ao seu filho, fica a nossa manifestação de dor e do nosso apreço por este camarada e amigo, cuja memória prometemos honrar: o Xico era muito querido por todos nós. E este é o "In Memoriam" possível que eu aqui deixo, feito em escassas duas horas, antes de ir para a minha sessão matinal de fisioterapia.
Até sempre, Xico! (LG)
Viagem Porto-Guiné > Abril de 2005 > O Xico com um saraui
Expedição Porto-Bissau, organizada por Xico Allen e A. Marque Lopes... 9 de abril de 2006... Dia 5... A caminho de Nouakchott, capital da Mauritânia... Um encontro amigável com sarauis e camelos... Fabulosa esta foto do Xico com um saraui, Grande fotógrafo, o nosso Hugo Costa, filho do Albano Costa que, juntamente com a Inês Allen, integrou esta viagem à Guiné, por terra, pelo deserto do Sara...
Foto (e legenda(: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné-Bissau > Região de Quínara (Buba) > Empada > Abril de 2006 > Pai, Xico Allen, e filha, Inês Allen, juntos na pesquisa de vestígios da presença dos "Metralhas" (CCAÇ 3566) nos já idos tempos de 1972/74.
Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Brasil > Cidade de Praia Grande > Estado de São Paulo > 2014 > Da esquerda para a direita, o António Chaves, o Joaquim Pinheiro da Silva e o Xico Allen.
Foto (e legenda): © Joaquim Pinheiro (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Leiria > Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 > O Xico Allen e o Agostinho Gaspar
Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Matosinhos > Leixões > Restaurante Casa Teresa > 9 de Abril de 2008 > Reunião habitual, às quartas feiras, da Tertúlia de Matosinhos (ou Tabanca Pequena de Matosinhos)... Da esquerda para a direita: (i) de pé, A. Marques Lopes, João Rocha (1944-2018), Eduardo Reis, José Teixeira, Armindo; na primeira fila, Jorge Félix, Xico Allen (1950-2022) e Silvério Lobo... À entrada da Casa Teresa, o António Pimentel. Foi na Casa Teresa, em Leixões, que começou a Tabanca Pequena de Matosinhos.
Foto (e legenda): © Jorge Félix (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]Vila Nova de Gaia > Madalena > Vésperas de Natal de 2005 > Uma minitertúlia de camaradas e amigos da Guiné: da esquerda para direita: Luís Graça (que costuma passar o Natal no Norte, em casa dos cunhados), A. Marques Lopes, José Teixeira, Albano Costa, Hugo Costa e Francisco Allen (mais conhecido pelo Xico de Empada ou Xico Allen...)
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 11 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23696: In Memoriam (455): Mensagens do Coronel Paraquedista Nuno Mira Vaz, enviadas a Mário Beja Santos, a propósito do falecimento ocorrido no passado dia 2 de Outubro do Alf Mil Paraquedista Jorge da Cunha Fernandes (JOTA) (Nuno Mira Vaz / Mário Beja Santos)(...) O Xico ainda hoje falei com ele e disse-lhe para ele também entrar na nossa tertúlia. Eu tenho a certeza que ele vai contar a sua estória mas ele não se sente muito à vontade para a escrita: é daqueles que só de empurrão mas vai...
Ja mandei um e-mail ao José Teixeira para nos encontrarmos um dia destes. Afinal também somos vizinhos. O Allen é uma pessoa que tem uma visão da Guiné muito grande, ele já lá foi muitas vezes, conhece muitissimo bem a Guiné, e os guinéus conhecem-no bem a ele (...)
quarta-feira, 21 de setembro de 2022
Guiné 61/74 - P23635: Convívios (941): Um total de 72 inscritos no 49.º almoço-convívio do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, amanhã, quinta feira, dia 22/9/2022, em Algés, o que é um número muito bom depois do "longo inverno social" que foi a pandemia de Covid-19
Cascais > São Domingos de Rana > Adega Zé Dias > 14 de janeiro de 2010 > Alguns dos 10 históricos que fundaram a Magnífica Tabanca da Linha (sete dos quais membros da Tabanca Grande): da esquerda para a direita: (i) Zé Dias (dono do restaurante), (ii) António Fernandes Marques (ex-fur mil at inf, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71); (iii) José Manuel Matos Dinis (1948-2021) (ex-fur mil at inf, CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71) (foi coorganiador de muitos dos convívios posteriores, juunatmente com o Jorge Rosales); (iv) Manuel Domingos ( falecido logo a seguir, nesse ano, era do Batalhão do Rogério Cardoso, era fadista amador com prémios); (v) Rogério Cardoso (ex-fur mil art, CART 643 / BART 645, Bissorã, 1964/66); (vi) António Graça de Abreu (ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74); (vii) José Carioca (ex-fur mil trms e cripto, CCAÇ 3477, Gringos de Guileje, Guileje, 1971/72); (viii) Jorge Rosales (1939-2019 (ex-alf mil da 1.ª CCAÇ, Farim, Porto Gole e Bolama, 1964/66) (foi o primeiro régulo da Tabanca da Linha); e (ix) Zé Caetano.
Falta o Mário Fitas (ex-fur il op esp, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66) (que deve ter sido o fotógrafo)
49.º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha.
Quinta feira, dia 22/9/2022, das 12h30 às 15h00.
Algés, Restaurante Caravela de Ouro.
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 16 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23622: Convívios (939): 49º almoço-convívio do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, na próxima quinta feira, dia 22 de setembro de 2022, em Algés... Inscrições até ao dia 19, segunda-feira (Manuel Resende)
(**) Vd. poste 19 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23276: Convívios (927): A Magnífica Tabanca da Linha reabre hoje, em Algés, no Restaurante Caravela de Ouro, ao fim de mais de dois anos de pandemia... Uma luzidia representação do Porto, de "O Bando" (incluindo 3 escritores), vem animar este 48º convívio, já histórico...
(***) Vd. postes de:
23 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5691: Os nossos seres, saberes e lazeres (16): Nascimento da fabulosa Tabanca da Linha (António Graça de Abreu / José Manuel Dinis)domingo, 8 de maio de 2022
Guiné 61/74 - P23243: Convívios (924): A Tabanca de Matosinhos, que tem um historial de convívio entre combatentes, está vivinha da costa como a sardinha. Está a comemorar 17 anos de vida (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro)
Meus caros amigos editores.
A Tabanca de Matosinhos está vivinha da costa como a sardinha.
No seu seio nasceu a Associação Tabanca Pequena - Grupo de amigos da Guiné-Bissau, que tem desenvolvido um trabalho de ajuda às populações na Guiné. Num próximo poste daremos informações sobre o trabalho desenvolvido nos últimos temos.
Abraço fraterno
José Teixeira
A Tabanca de Matosinhos comemora 17 anos de vida
Como os combatentes leitores do nosso Blogue sabem, todas as Quartas-Feiras do ano, quer chova, haja ventania ou faça sol (e nem o Covid nos assustou), marcamos encontro para almoçar e conviver no Restaurante O Espigueiro em Matosinhos.
Uma fonte inesgotável para criar laços de amizade, ou estreitar os laços que já existiam; falar das nossas aventuras, desventuras, alegrias e tristezas vividas na Guiné em tempo de guerra; falar das terras por onde passamos, das pessoas que se cruzaram connosco na vida militar; falar daquela gente que tão simpaticamente nos acolhiam nas suas tabancas, nas suas casas. Contar estórias que nos marcaram para a vida toda; mazelas que em alguns de nós ficaram para sempre; viver a saudade de tempos que não voltam mais...
Outras tabancas foram aparecendo, e ainda bem, depois da Tabanca de Matosinhos ter surgido muito naturalmente, sem qualquer plano ou projeto. Simplesmente porque três carolas tinham voltado à Guiné por terra, atravessando meia África em romagem de saudade e quiseram encontrar-se com os pés debaixo da mesa da Casa Teresa em Matosinhos para saborear uma sardinhada em jeito de festejar e avaliar a sua aventura. A necessidade de se reencontrarem mais vezes falou alto e marcaram novo encontro para a semana seguinte, mas já não vierem sós… e marcaram novo encontro para a semana seguinte. Depois deixaram de marcar, simplesmente apareciam à quarta-feira e já eram tantos que até o dono do restaurante não tinha mesas para tanta gente. Mudamos de poiso e continuamos pelo tempo fora, até hoje.
Mudamos para o Milho Rei, que se transformou em Espigueiro, mas lá está à espera dos combatentes da Guiné e porque não toda a gente que goste de comunicar, conviver e apreciar um bom petisco, sobretudo se passou pelas terras da África que foi portuguesa.
Muitos dos nossos tabanqueiros já voltaram à Guiné e alguns mais que uma vez, em romagem de saudade, ao encontro dos lugares por onde passaram, onde sofreram e lutaram para sobreviverem e regressarem a casa e porque não, aos lugares onde se sentiram felizes, porque também os houve. Foram à procura de pessoas africanas com quem conviveram e em muitos casas a sorte foi-lhe madrinha. (Pessoalmente sinto-me um felizardo, pois não só reencontrei amigos como fiz mais amigos – os filhos, os netos e muitos mais.)
Através do convívio, das conversas e das vivências em grupo; através do regresso aos locais que mais nos marcaram na dura luta que travamos na flor da idade, fomos fazendo a catarse. O nosso estado de espírito mudou, tornou-se mais aberto, correram-se os fantasmas que nos atrancavam a mente
Sentimos que a velhice continua a ser um posto, mas agora está a tornar-se um empecilho que nos assusta. Alguns camaradas já partiram para o eterno aquartelamento contra a sua vontade; outros há que a doença os marcou e sofremos com eles a dua dor e o seu afastamento.
… E há sempre gente que vem pela primeira vez, trazidos por um camarada amigo ou da Companhia a que pertenceram. Outros vêm por simples curiosidade, porque ouviram falar e…voltam. Às vezes vêm em magotes e há sempre lugar para mais um.
É assim a vida na Tabanca de Matosinhos.
Ainda na última quarta-feira éramos 21 convivas. Talvez porque chegou a bela e saborosa sardinha de Matosinhos.
Esta é a história da Tabanca de Matosinhos de que muito nos orgulhamos.
Mas, se a necessidade de nos reencontrarmos foi um fator de união, outro fator nos uniu – a solidariedade.
No seio da Tabanca de Matosinhos nasceu A TABANCA PEQUENA DE MATOSINHOS – Grupo de Amigos da Guiné-Bissau.
Sobre a sua ação nos últimos tempos falaremos no próximo poste.
José Teixeira
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Nota do editor
Último poste da série de 23 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23192: Convívios (923): XII Almoço/Convívio do pessoal do BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71), dia 28 de Maio de 2022 em Venda da Serra-Mouronho-Tábua (Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário)