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sexta-feira, 28 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17626: Notas de leitura (981): Relatório sobre a situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau, 2008/2009, Lema: a força sem discernimento colapsa sob o seu próprio peso (2) (Mário Beja Santos)

Tagme Na Waie e Nino Vieira


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,

Deve-se à Liga Guineense dos Direitos Humanos um labor sem precedentes na análise e no protesto às violações dos direitos humanos no país, e no seu mais vasto ecrã.

Reservámos para esta resenha as suas chamadas de atenção para devastadores crimes ambientais, como sejam os turvos negócios que permitiram um grupo de chineses desflorestar no Sul do país com total impunidade e a criação de um corredor aberto ilegalmente na zona que liga o futuro porto de Buba à estrada Buba-Fulacunda, outra violação miserável. Mais adiante, o relatório da Liga referente a este período chama atenção para o papel quase ditatorial das forças de Defesa e de Segurança que, conforme escreve a Liga, constituiu o principal óbice à sua conversão em forças republicanas.

Um abraço do
Mário


Relatório sobre a situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau, 2008/2009, 
Lema: a força sem discernimento colapsa sobre o seu próprio peso (2)

Beja Santos

Trata-se de um importantíssimo relatório onde se analisa o largo espectro dos direitos humanos, incluindo aqueles que se prendem com a inclusão social, tipo educação, saúde e emprego. Referimos no texto anterior os domínios que têm a ver com a antidemocracia decorrente do poder das Forças Armadas que subvertem a vida das instituições democráticas. No período em análise ocorreram o assassinato de um Presidente da República, um Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, houve prisões arbitrárias, torturas, uma completa deriva dos poderes regionais, como é o caso da região do Oio onde os N’Kumans detiveram ilegitimamente o poder, perpetrando toda a casta de furtos, espancamentos e intimidações.

Os crimes ambientais são uma outra vertente que o relatório contempla. No ano 2009 assistiu-se a um escândalo de corte ilegal e desenfreado de madeiras provocado por um grupo de chineses, na zona sul do país, com o único propósito de exportar a madeira para a China, facto que mereceu uma reação dos populares e de alguns deputados eleitos naquela zona; contudo, apurou-se que os chineses atuavam naquela zona a coberto de uma ordem superior em troca de interesses fictícios e de duvidosa legalidade.

Caso de extrema gravidade é o da demarcação de cerca de 25 hectares de terreno pela empresa Bauxite Angola, no Sul do país, com o único propósito de abrir uma estrada em direção ao local onde supostamente irá ser construído o futuro porto de Buba. A abertura desta via de acesso não teve estudo prévio e decorre à revelia dos departamentos do Estado. O mais grave de tudo é que esta zona é reconhecida internacionalmente como uma área protegida denominada RAMSAR, zona protegida das lagoas de Cufada. A empresa angolana procedeu a derrubes desenfreados de milhares de árvores nesta zona protegida. Esta mesma empresa contratou uma sua congénere brasileira para fazer o estudo do impacte ambiental sem ter havido um contrato definitivo com o Estado guineense que espelhasse de forma clara as modalidades e a forma como devia ser conduzida o estudo. Aqui se pode avaliar como o Estado é frágil, não se consultaram previamente as entidades estatais competentes, caso do IBAD, encarregado de gerir o Parque Natural das Lagoas de Cufada, dentro do qual se pretende construir o futuro porto.

 Parque Natural das Lagoas de Cufada

Passando para outro domínio, o funcionamento das instituições democráticas, escreve-se que o desempenho dos órgãos de soberania ao longo deste período ficou caraterizado pela desconfiança, falta de coabitação e primazia de interesses pessoais sobre os interesses institucionais. O princípio da complementaridade institucional, fundado na interdependência dos referidos órgãos não foi observado. O Presidente da República tentou controlar o governo e impor controlo político na administração do aparelho de Estado – esta pretensão esteve na origem do derrube do primeiro governo de Carlos Gomes Júnior, em 2005. Com o termo do mandato do governo em Abril de 2008, o presidente da República foi obrigado a anunciar ao parlamento a necessidade da adoção de medidas para evitar o vazio institucional. A Assembleia Nacional Popular aprovou a Lei Constitucional Excecional e Transitória, em 16 de Abril de 2008, com o objetivo de prorrogar a legislatura e o funcionamento regular e pleno da Assembleia e continuidade do governo do Pacto de Estabilidade liderado pelo Engenheiro Martinho N’Dafa Kabi. Um grupo de deputados submeteu ao Supremo Tribunal de Justiça uma ação de pedido de inconstitucionalidade, e o Supremo Tribunal de Justiça decidiu que a prorrogação da legislatura não era razoável, fazendo ocorrer o perigo de uma transição constitucional sem eleições legislativas. Com base nesta decisão, o Presidente da República dissolveu a Assembleia, demitiu o governo de Martinho N’Dafa Kabi e nomeou Carlos Correia como novo primeiro-ministro, que liderou o governo de gestão até às eleições legislativas de 2008, ganhas pelo PAIGC. Esta queda de governo inaugurou o corte de relações entre Nino Vieira e Tagme Na Waie. Os dois tinham estado em concertação permanente depois do conflito político-militar de 1998-1999, mesmo estando Nino Vieira com o estatuto de exilado político em Portugal. A perda de Tagme Na Waie como aliado foi um rude golpe para o Presidente. A desconfiança foi de tal ordem que Nino Vieira preferiu recrutar os elementos das milícias, que ficaram conhecidos pelo nome de “aguentas” para lhe servirem de segurança pessoal.


Carlos Gomes Junior


Martinho N'Dafa Kabi

A vitória das legislativas de 2008 pelo PAIGC abriu uma nova luta desenfreada sobre o controlo do poder entre Nino, Carlos Gomes Júnior e Tagme Na Waie, tornaram-se em antagonismos pessoais, a coabitação desequilibrou-se profundamente. Segundo o relatório, o combate ao narcotráfico agudizava a referida relação triangular na medida em que a determinação e predisposição dos três não eram convergentes. A sociedade civil ia reclamando que se adotassem mecanismos eficazes com vista a assegurar a neutralidade das Forças Armadas na vida política.

No que respeita à Assembleia Nacional Popular, este órgão não foi além de empreender esforços para viabilizar diplomas e resoluções em benefício da classe parlamentar e político-partidária. No entender da Liga, o funcionamento da ANP reflete a imagem real da classe política, caraterizada pela falta de ideologias. Os partidos políticos carecem de democracia interna, marcada pelo não funcionamento dos órgãos dirigentes dos partidos, não realização de congressos, partidos unipessoais que se resumem apenas à figura do líder, partidos sem sede e estruturas nacionais. Quanto às iniciativas orientadas para uma verdadeira reconciliação nacional, observa a Liga que esta precisa de um processo preparatório bem pensado e consistente para construir a confiança entre os atores envolvidos, abertura ao diálogo, respeito pela minoria, compromisso com a verdade e determinação contra a impunidade.

E o que se escreve sobre as forças de Defesa e Segurança é também de uma grande importância. Lembra-se neste relatório que estas forças surgiram muito antes da proclamação da independência, são património da luta de libertação nacional, foram concebidas como braço armado de uma luta política e militar de libertação nacional. Pois bem, esta politização perdurou formalmente até 1991, data em que através de revisão constitucional se pôs fim ao regime de partido único. Mas como diz a Liga, a matriz formal destas forças de Defesa e Segurança sobrevive sustentada pelos argumentos de que foram os promotores de independência e conseguintemente têm a responsabilidade histórica de imprimir um determinado rumo ao país. É esta visão que justifica as várias interferências de tais forças na vida política e constitui o principal óbice à sua conversão em forças republicanas.
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17614: Notas de leitura (980): Relatório sobre a situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau, 2008/2009, Lema: a força sem discernimento colapsa sob o seu próprio peso (1) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 9 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4002: Nino: Vídeos (2): O amigo de Cuba... e de Portugal, que em Março de 2008 pedia mais professores de português (Luís Graça)




Guiné-Bissau > Bissau > Palácio Presidencial > 6 de Março de 2008 > Excerto da audiência que o Presidente João Bernardo 'Nino' Vieira (1939-2009) deu, por volta das 12 horas, a cerca de duas dezenas de participantes estrangeiros do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008).

O grupo incluía 3 cubanos, Oscar Oramas e Ulises Estrada (acompanhados do respectivo embaixador na Guiné-Bissau) e três ou quatro guineenses.

Uma boa parte eram ex-combatentes da guerra colonial, portugueses... Estiveram também presentes o Dr. Alfredo Caldeira, da Fundação Mário Soares, a Diana Andringa, jornalista e cineasta, e o José Carlos Marques, jornalista do Correio da Manhã. Creio que o Prof Doutor Patrick Chabal, o melhor biógrafo de Amílcar Cabral, também estaria presente. Há outros camaradas que fizeram parte da delegação, e que poderei mencionar mais tarde: por exemplo, o Coutinho e Lima e o Carlos Silva. Ao todo, não estariam na sala mais do que vinte pessoas (, número máximo imposto pela segurança presidencial).

A audiência foi decidida à última hora, ao que parece por vontade expressa do 'Nino' Vieira. Não estava prevista no programa do Simpósio, se bem que uma hora antes, fomos também recebidos pelo então 1.º Ministro, Martinho N'Dafa Cabi. Não estava prevista, de resto, qualquer intervenção do Presidente da República, que fazia apenas parte da comissão de honra (**).

Escusado será dizer que, nesta audiência, cada de um de nós se representava a si próprio. À entrada do edifício da Presidência fomos todos cumprimentados pelo Gen Tagme Na Waie que, se bem me lembro, não assistiu à audiência: julgo que ele não falava português, apenas crioulo... A sua presença não era, porém, de todo acidental: o Simpósio agitou as águas mornas de Bissau, e nomeadamente remexeu as memórias dos velhos combatentes... A essa hora, no Hotel Palace, havia comunicações em crioulo de gente que combatera em Guileje, do lado do PAIGC...

Como em todos os rituais de poder, o Presidente fez-se esperar, enquanto os seguranças e o homem do protocolo nos distribuíam pelos lugares disponíveis da sala, à volta da mesa em U. 'Nino' chegou e pôs-nos logo à vontade, tendo cumprimentado, um a um, todos os presentes à volta da mesa. E ao mesmo tempo ia metendo conversa com este e com aquele. Em resultado disso, eu não tive direito a um bacalhau... Enfim, o senhor passou à frente... Mas era visível a sua satisfação pessoal por estar ali, numa certa cumplicidade e furando o protocolo de Estado, a conversar com os antigos 'tugas' (a expressão é minha, ele nunca a usaria naquela circunstância)... 

Curioso: "circunstância da vida" é uma expressão que ele vai usar duas ou três vezes, e uma delas para comentar a decisão de Coutinho e Lima de retirar de Guileje... e lamentar a sua sorte... "Morto por circunstância da vida" poderia ser também o epitáfio a pôr, amanhã, no mausoléu onde será sepultado...

Ao lado de 'Nino', à sua esquerda estava um coronel, seu assessor e homem de confiança (João Monteiro, se não me engano). Dos portugueses, falaram a Diana Andringa e o Cor Art Ref Coutinho e Lima. Creio que também houve uma pequena intervenção do Carlos Silva, um homem que vai regularmente à Guiné e já tinha sido em tempos recebido pelo 'Nino'. (É advogado e tem clientes guineenses. Por brincadeira, chamo-lhe o régulo de Farim). Falou também o cubano Oscar Oramas e a guineense na diáspora Fernanda de Barros, intervenções de que não fiz registo.

Neste excerto de vídeo, de menos de 9 minutos, 'Nino' Vieira aborda três ou quatros temas:

(i) saudação aos representantes cubanos, cuja participação na luta foi evocada com apreço e reconhecimento, com destaque para apoio a nível dos serviços de saúde militares (o PAIGC nem sequer tinha enfermeiros e muitos feridos em combate morriam de infecções e falta de assistência (até 1' 45'');

(ii) a Op Amílcar Cabral, contra Guileje (18 a 25 de Maio de 1973), a evocação do famigerado 'Corredor da Morte' onde o PAIGC tinha frequentes baixas, a manifestação de apreço e admiração pelo comportamento do então major Coutinho e Lima que poupou vidas de um lado e de outro, e que ia ao encontro do pensamento de Amílcar Cabral que não queria a guerra (de 1' 45'' a 5'00);

(iii) a importância do ensino do português e da cooperação com Portugal e a CPLP; a confissão de ele, 'Nino', ter sido obrigado a emigrar para Conacri, para poder singrar na vida, antes de aderir ao PAIGC, pedido do presidente em exercício da CPLP para Portugal mandar mais professores de português para a Guiné-Bissau (de 5' 01'' até ao fim).

Desta audiência há ainda mais três pequenos vídeos que iremos aqui apresentar, sendo este o segundo. Embora de fraca qualidade, os vídeos poderão ter algum interesse documental, agora que morreu e vai a enterrar o último dos grandes combatentes da luta de libertação levada a cabo pelo PAIGC, o partido do Amílcar Cabral (1924-1973). O malogrado Tagme Na Waie, embora também um histórico da guerrilha, no sul, não tinha a mesma dimensão e estatura.

Uma nota final: Os vídeos não foram editados, alindados, cortados/censurados... Foram apenas divididos em partes inferiores a 10 minutos, o tamanho suportado pelo You Tube. Amigos e camaradas: façam com eles o que bem entenderem... Às vezes uma imagem vale mais do que mil palavras...

Vídeo (8' 43''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

Alojado em You Tube > Nhabijoes


Guiné-Bissau > Bissau > Palácio Presidencial > 6 de Março de 2008 > Audiência do Presidente João Bernardo 'Nino' Vieira a um delegação dos participantes estrangeiros do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008) > Um aspecto da sala de audiências, em forma de U. Ao fundo da sala, um segurança; no lado direito da foto, identifico dois camaradas nossos, do nosso blogue, o José António Carioca, ex-Fur Mil de Transmissões e Cripto, e Abílio Delgado, ex-Capitão Mil, ambos da CCAÇ 3477, Gringos de Guileje (Guileje, 1971/72). No lado esquerdo, a Professora Doutora Fernanda de Barros, uma feminista guineense na diáspora (vive no  Brasil, em São Paulo), e mais um ex-combatente português que não consigo agora identificar.

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Da esquerda para a direita: Sérgio Manuel Silvestre de Sousa, ex-Fur Mil At, CCAÇ 3477 (Gringos de Guileje, 1971/72), Diana Andringa (RTP), Alfredo Caldeira (Fundação Mário Soares), Oscar Oramas (antigo Embaixador de Cuba na Guiné-Conacri, em 1973), Ulises Estrada (antigo combatente cubano, nas fileiras do PAIGC, 1966) e o embaixador de Cuba em Bissau.


Da esquerda para a direita: José Rocha, ex-Alf Mil, CART 2410, Os Dráculas, e Alexandre Coutinho e Lima, antigo Comandante do COP 5 (1973).

À saída do edifício da Presidência da República, a então Ministra dos Antigos Combatentes da Liberdade da Pátria, Isabel Buscardin, de costas; e um elemento da comissão organizadora do Simpósio, presidente da Assembleia Geral da AD - Acção para o Desenvolvimento, Roberto Quessangue.

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje > 3 de Março de 2008 > Os participantes cubanos Oscar Oramas, antigo embaixador de Cuba na Guiné-Conacri em 1973, e Ulisses Estrada, antigo 'combatente internacionalista' que integrou, como voluntário, as fileiras do PAIGC.

Ambos manifestaram o seu regozijo por voltar a encontrar antigos camaradas de armas (guineenses e cabo-verdianos) mas também também portugueses que estavam do outro lado da barricada... No final do Simpósio, Ulises Estrada fez um belíssimo improviso sobre o "momento histórico" que se estava a viver, ao juntar-se antigos inimigos, hoje reconciliados, num seminário "científico mas também político" que honrava e premiava "a qualidade do ser humano" (sic) (***)...

Fotos: © Luís Graça (008). Todos os direitos reservados
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste anterior desta série > 8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3996: Nino: Vídeos (1): Ouvindo a versão do Coutinho e Lima sobre a retirada de Guileje (Luís Graça)

(**) Recorde-se a composição do Comissão de Honra do Simpósio [A página já não está disponível. LG, 3/11/2014]

Presidente da República da Guiné-Bissau, General João Bernardo Vieira
Dr. Francisco Benante, Presidente da Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau
Dr. Martinho N’Dafa Cabi, Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau
Doutor Nuno Severiano Teixeira, Ministro da Defesa de Portugal
Doutor João Cravinho, Secretário de Estado da Cooperação Internacional de Portugal
Professor Doutor Patrick Chabal, docente da King’s College, Londres, Grã-Bretanha
Professor Doutor Luís Moita, Vice-Reitor da Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
Doutor Óscar Oramas, Ex-Embaixador de Cuba na Republica da Guiné-Conakry.
Professor Doutor João Medina, Professor Catedrático da Universidade de Lisboa, Portugal
Flora Gomes, Cineasta guineense
Professor Doutor Peter Mendy, docente no Rhoad Islands College, Boston, USA.

(***) Vd. poste de 24 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3090: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação do cubano Ulises Estrada

Guiné 63/74 - P4001: Nuvens negras sobre Bissau (19): 'Nino' Vieira (1939-2009): tão bom combatente como mau político (Virgínio Briote)


Guiné-Bissau > Bissau > Presidência da República > 6 de Março de 2008 > 'Nino' em pose de Estado... Fotos extraídos de vídeos feitos durante a audiência que o Presidente João Bernardo Vieira 'Nino' (1939-2009) deu a cerca de duas dezenas de participantes estrangeiros do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008).

Fotos: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Com a devida vénia, fomos ao blogue do Gil Duarte (pseudónimo literário do nosso co-editor Virgínio Briote), Guiné, Ir e Voltar, Tantas Vidas, e repescámos esta nota biográfica sobre o 'Nino' Vieira, cujos restos mortais vão a sepultar, na próxima 3ª feira, em enterro de Estado... Recorde-se que no sábado passado foi enterrado no Cemitério Municipal de Bissau o general Tagmé Na Waie, o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, outro histórico da guerrilha, no sul.

O nosso querido co-editor, VB, tem andado um pouco mais arredado do nosso blogue, por razões de saúde... A publicação, à revelia dele, destas notas, é também uma pequena homenagem ao um amigo e um camarada que, tanto quanto eu sei, já desistiu diversas vezes da tentação de fechar, definitivamente, o dossiê Guiné (1963/74). É que houve um ir e voltar, mas há sempre um ir e voltar, haverá sempre uma eterno retorno... A Guiné é uma espécie de segunda pele que ficou colada ao nosso corpo...

O VB tem vindo a fazer, no seu blogue, a recolha e a divulgação de pequenas mas preciosas notas biográficas dos principais protagonistas do PAIGC... Como é sabido, faltam-nos biografias (sérias) destes homens e mulheres que nos combateram, ou melhor, combateram um sistema e um regime, e que são os pais-fundadores e as mães-fundadores da República da Guiné-Bissau. (LG)


Nino Vieira (1939/2009) passa à história como o símbolo da guerrilha na luta pela independência da Guiné-Bissau.

João Bernardo Vieira, 'Nino' Vieira, 'Nino' ou 'Kabi Nafantchammma', como também era chamado, foi uma personalidade que nos acompanhou ao longo dos anos que durou a guerra. Uns só ouviram falar dele, outros, principalmente os que estiveram no sul do território, sentiram na pele as acções em que directa ou indirectamente esteve envolvido.

Nino nasceu em Bissau, em 27 de Abril de 1939. Em Janeiro de 1961 partiu para a China, integrado num grupo de dez camaradas (Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Rui Djassi, Vitorino Costa, Constantino Teixeira, Hilário Gomes, Pedro Ramos, Manuel Saturnino da Costa e Chico Mendes) escolhidos por Amílcar Cabral, a fim de receber treino militar. Foram esses os primeiros comandantes da guerrilha.

Com 25 anos apenas, Nino já era o Comandante Militar da zona sul, que abrangia a região de Catió até à fronteira com a Guiné-Conacri. Aliás, foi quase sempre no Sul que actuou durante a luta, transformando esta zona, que abrangia o Cantanhez e o Quitafine, num dos mais duros, senão o mais duro, de todos os teatros de operações em que as forças portuguesas estiveram empenhadas e do qual ainda restam nomes míticos como Guileje, que ele veio a ocupar em 25 de Maio de 1973, Gadamael, Gandembel, Cacine, Catió, Cufar, Cadique, Bedanda e tantos outros.

Embora se tenha dedicado principalmente à actividade operacional, como comandante de unidades de guerrilheiros, Nino Vieira ocupou os mais altos cargos na estrutura do PAIGC, sendo membro eleito do bureau político do seu Comité Central desde 1964, vice-presidente do Conselho de Guerra presidido por Amílcar Cabral em 1965, acumulando com o comando da Frente Sul, e ainda comandante militar de todo o território a partir de 1970.

Foi eleito deputado em 1973 e, posteriormente, Presidente da Assembleia Nacional Popular, que proclamou no Boé a República da Guiné-Bissau, em 24 de Setembro de 1973.

Após a Independência foi Comissário do Estado para as Forças Armadas. Em 1980, Nino após o golpe que levou à destituição do Presidente da República, Luís Cabral, assumiu os cargos de secretário-geral do PAIGC e a Presidência da República.

As consequências do golpe levaram ao fim do projecto de Amílcar Cabral, a união dos povos guineense e cabo-verdiano. Em 1984 foi aprovada uma nova Constituição e só em 1991 terminou a proibição dos partidos políticos.

Com o novo regime, as primeiras eleições tiveram lugar em 1994. Nino Vieira, concorrendo contra Kumba Yalá, foi eleito Presidente da República à 2ª volta, tomando posse em 29 de Setembro de 1994. Quatro anos depois, ainda conseguiu suster um golpe que visava a sua destituição. Mas não por muito tempo.

A propósito de um nunca esclarecido fornecimento de armas para a guerrilha de Casamansa, em Junho de 1998 travou-se uma violenta guerra civil entre partidários de Ansumane Mané e forças fiéis a Nino. Mané destituiu-o em 7 de Maio de 1999, substituíu-o por Malan Bacai Sanhá, e Nino Vieira foi obrigado a refugiar-se na Embaixada Portuguesa em Bissau, de onde só saiu em Junho para Portugal.

Fazendo jus à sua antiga imagem de combatente, Nino regressou a Bissau em 2005 para anunciar a candidatura às presidenciais de Junho de 2005, que venceu à 2.ª volta contra Malan Sanhá. Mas a sorte, que tantas vezes o protegeu, estava prestes a abandoná-lo.

Há guineenses que dizem que, depois do regresso de Portugal, Nino nunca mais conseguiu recuperar os poderes políticos e militares que antes detivera. Que o poder militar se mantinha nas mãos dos que o tinham exilado e que, apesar das várias tentativas para fazer e compor alianças, o poder político se manteve longe dele. Outros afirmam que Nino foi tão bom combatente como mau político.

Certo é que, nos últimos trinta anos, Nino sempre esteve no centro das muitas crises que têm afectado a vida da ainda jovem República. E na sequência de mais um grave conflito político-militar, Nino Vieira morreu, em 2 de Março de 2009, às mãos de alguns militares das Forças Armadas de que foi um dos principais criadores.

Ironias do destino: os corpos de 'Nino' Vieira e o do general Tagme Na Waié, também vítima de uma explosão violenta no seu gabinete, ambos companheiros na luta pela independência, repousaram juntos, bem perto um do outro, na morgue do Hospital Simão Mendes, em Bissau, antes de serem sepultados.

[Título do poste e bold, a cor, são da responsabilidade do editor L.G.]
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Nota de L.G.:

(*) Vd. 7 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3992: Nuvens negras sobre Bissau (18): Um povo afável e generoso que ainda nos recebe com um sorriso... (Torcato Mendonça)

quarta-feira, 4 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3977: Nuvens negras sobre Bissau (13): Como acabar de vez com esta espiral de violência? (Pepito)

Guiné > PAIGC > Manual escolar, O Nosso Livro - 2ª Classe, editado em 1970 (Upsala, Suécia). Exemplar cedido pelo Paulo Santiago, Águeda (ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho , 1970/72) > Fotografia do "Camarada Amílcar Cabral, Secretário Geral do Partido", pág. 107.

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.


1. Mail que mandei hoje ao meu amigo Pepito:

Na segunda-feira, de manhã, andávamos todos angustiados por vossa causa... Imagino também o que vos ia na alma... Falei logo com a tua mãe, sei que lhe telefonaste duas vezes... Ele acha-te um 'optimista profissional'...

De qualquer modo, foi uma tragédia shakespeariana, essa que aconteceu, aí, e que vai deixar marcas na memória e na identidade do teu povo... Há uma geração que cresceu marcada pela violência (armada) das máfias...

Os nossos tugas também devem ter apanhado o seu susto... Tive que tranquilizar um das nossas mulheres... Desta vez porém os tropas não desataram aos tiros uns aos outros, incendiando a Guiné... Vocês agora precisam de todo o apoio (diplomático e não só) da comunidade internacional e da CPLP.

O que se diz por aí, que a gente aqui não saiba? Quem era esse comando de Mansoa? Balantas, uma sociedade secreta, à margem da hierarquia militar? O Nino, apesar de tudo, era popular em Bissau, e era o "último moicano"... Aqui era apontado como um 'amigo de Portugal'...

Não sei quais são os teus sentimentos pessoais (sei que também era um arqui-inimigo teu e da AD), mas será que estas duas mortes (físicas e simbólicas) representam também um 'virar de página' ? Gostava de ter um escrito 'guineense' sobre estes acontecimentos, vistos de Bissau... Tens um quarto de hora para nós? Ou a Isabel...que é portuguesa. Tens que lhe recordar que ela é também membro da Tabanca Grande?

Um chicoração. Cuida-te. (Não tenho o teu telemóvel de Bissau).
Luís


2. Resposta do Pepito (a quem agradeço a amizade, a frontalidade, o desassombro, a reafirmação dos valores éticos e políticos que são uma herança de Amílcar Cabral e que continuam a ser inspiradores para muitos de nós, cidadãos de Portugal, da Guiné-Bissau e do mundo) (*):

Luís

Sempre ouvi aos combatentes da independência da Guiné-Bissau referir que Amílcar Cabral se opunha com todas as suas forças à morte praticada por camaradas a camaradas de luta, por razões, fossem elas qual fossem, das "mais" às "menos" justificadas.

Ele promoveu julgamentos contra camaradas que mandavam matar outros que se iam entregar nos quartéis portugueses, porque tinham momentos de fraqueza ou desistiam de lutar. Ele dizia que a luta não era para nos matarmos uns aos outros. Que se assim fosse e se assim desejassem que continuasse a ser, então ele ia embora porque não se reconhecia nessas práticas.

Durante a organização do simpósio de Guiledje voltei (re)ouvir estas histórias contadas na primeira pessoa, por aqueles que as viveram.

Cabral ensinou-nos a todos que a luta não era contra os portugueses mas sim contra o regime colonial que oprimia uns e outros. Esta lição foi bem aprendida e hoje todos podem verificar o carinho com que os ex-militares são recebidos em Bissau.

Infelizmente já a primeira lição, a de não usarmos a violência, não foi aprendida. Ele foi a primeira grande vítima e nós acabámos todos por apanhar por tabela. O assassinato dele tem implícito a conivência de camaradas de luta que o mataram duas vezes: uma fisicamente e outra, nos últimos 30 anos, ao "esquecermos" completamente a sua existência, o seu pensamento e o seu exemplo. Os que estiveram implicados na primeira morte voltaram a estar implicados na segunda.

Daí em diante foi um rol infindável de aniquilamentos, de assassinatos, de matanças. Revoltado, vi morrer o meu Ministro da Agricultura, Paulo Correia, o melhor que tive em 18 anos de técnico daquele Ministério. Ele, entre muitos outros. Todos camaradas de luta mortos por camaradas de luta.

A espiral de violência atingiu neste fim de semana o grau que nunca antes tinha atingido.

Se há um nome a quem se possa imputar a responsabilidade maior desta cultura de violência, não pode ser outro senão o de Nino Vieira.

Depois do regresso de Portugal do pós-conflito armado de 1998, veio claramente fragilizado. Não tinha o poder que antes tivera: o poder militar estava na mão daqueles que lhe tinham imposto o exílio; o poder político e partidário escapava-lhe ao seu controlo absoluto. O regresso ao país e ao poder foi permanentemente marcado por uma estratégia de reconquista desses 3 poderes (militar, governo e partido). Fez e desfez alianças. Perdeu aquilo em que no passado era um mestre: a intuição.

Falhou estrondosamente nas últimas eleições ao apostar num partido sem liderança credível e sem militantes, convencido que o seu nome e figura era o bastante.

O seu último falhanço foi no plano narco-militar. Geriu mal os interesses de uns e outros, fossem eles de poder ou narco-financeiros. A bomba que matou Tagme cheirava a Colômbia e este, que tinha conhecimento do que se estava preparar, não sabendo apenas a data e local, pediu antecipadamente aos seus camaradas: "se ele me matar de manhã, matem-no à noite". Talvez tenha sido a primeira vez que um morto mata um vivo.

Morreu de forma ultrajante, violenta e repugnante: à catanada.

Mais do que a morte deles, o que me preocupa é como é que vamos acabar com esta espiral de violência de vez.

abraço do teu amigo
pepito
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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 3 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3975: Sr. jornalista da Visão, nós todos somos combatentes, não assassinos (12): José Teixeira, ex-1.º Cabo Enf da CCAÇ 2381

terça-feira, 3 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3973: Nuvens negras sobre Bissau (11): Em Novembro de 2000, no golpe de Ansumane Mané, eu também estava lá... (Albano Costa)


Guiné-Bissau > Bissau > Novembro de 2000 > Tensão em Bissau com mais uma tentativa de golpe de Estado, liderada por Ansumane Mané (1940-2000). Albano Costa, o filho Hugo Costa e os camaradas que estavam, com eles, na Guiné, em 'turismo de saudade', foram apanhados pelos acontecimentos, mas não alteraram os seus planos.

Fotos: © Albano Costa (2009). Direitos reservados

A história (recente e passada) da Guiné-Bissau tem sido marcada pela violência política. Recorde-se que em 14 de Novembro de 1980, o presidente Luís Cabral é derrubado pelo 1.º golpe de Estado da jovem República, liderado por Nino Vieira, seu primeiro ministro e antigo camarada de armas.
Em 1984 é aprovada uma nova Constituição mas só em 1991 passa a haver um sistema multipartidário. Com o novo regime, as primeiras eleições têm em 1994. Nino Vieira, concorrendo contra Kumba Yalá, é eleito Presidente da República à 2.ª volta, tomando posse em 29 de Setembro de 1994.

Em 1998, a Guiné-Bissau mergulha numa sangrenta guerra civil. O golpe que derruba Nino Vieira é precedido por uma rebelião militar em 7 de Junho de 1998, causada pela destituição do general Ansumane Mané como Chefe do Estado Maior das Forças Armadas.

Mané destitui Nino Vieira em 7 de Maio de 1999 (que se vê obrigado a refugiar-se na Embaixada Portuguesa em Bissau, de onde só saiu em Junho para Portugal).

Em 13 de Maio de 1999, o presidente do Parlamento, Malam Bacai Sanhá, ocupou interinamente a presidência, ficando Ansumane Mané à frente da Junta Militar.

Em Janeiro de 2000, o líder do Partido da Renovação Social (PRS), Kumba Yalá é eleito presidente e tem pela frente a difícil tarefa de reconstruir um país, devastado pela guerra civil. Em Novembro de 2000, o general Mané, que reivindicava o comando supremo das Forças Armadas, protagoniza mais uma frustrada tentativa de golpe. É assassinado a 30 desse mês. Há novas tentativas de golpe de Estado em Dezembro de 2001 e em Maio de 2002.

Em Novembro de 2002, Yalá dissolve o Parlamento. A pedido das Nações Unidas, são convocadas eleições para Outubro de 2003, mas, em 14 de Setembro desse ano, um novo golpe depõe Yalá. A Junta Militar nomeia Henrique Rosa como presidente interino.

As eleições legislativas de 28 de Março de 2004 foram ganhas pelo o PAIGC: Carlos Gomes Júnior é nomeado primeiro-ministro. Em Outubro daquele ano, devido à falta de pagamento de salários dos capacetes azuis guineenses em serviço na Libéria causou um motim no qual morreu o chefe de Estado-Maior, general Correia Seabra.

Em Maio de 2005, Nino Vieira e Kumba Yalá regressam ao país. Nino ganha a segunda a volta das eleições, contra Bacai Sanhá, o candidato oficial do PAIGC.

Em agosto de 2008, Nino Vieira nomeou Carlos Correia como primeiro-ministro, após dissolver o Parlamento e convocar eleições legislativas para novembro.

Poucos dias antes, os serviços de segurança militar prendem o almirante José Américo Bubo Na Tchuto, acusado de preparar um golpe de Estado. Em 16 de novembro de 2008, o PAIGC obteve a maioria absoluta nas eleições legislativas.

Após outra tentativa de golpe militar, em 23 de novembro, o presidente 'Nino' Vieira nomeou Carlos Gomes Júnior, líder do PAIGC como primeiro-ministro, em 26 de Dezembro.

Em 2 de Março de 2009 Vieira é assassinado por militares leais ao Chefe do Estado-Maior do Exército, general Tagme Na Waie, de etnia balanta, morto no dia anterior num atentado à bomba.


1. Mensagem de Albano Costa (Guifões, Matosinhos)

Eu estava na Guiné, em 2000, quando se deu um golpe de estado na Guiné-Bissau (*).

Queria deixar uma palavra de conforto para os familiares e amigos dos nossos colegas portugueses que estão hoje na Guiné-Bissau em missão de solidariedade e turismo de saudade.

Devem estar descansados, porque os guineenses são um povo que sabe destrinçar as coisas, ao contrário do que muitas vezes se pensa deles, isto quero dizer pela experiência que tive, os estrangeiros e principalmente nós portugueses somos sempre muito bem aceites, eles vão ter o cuidado de informar que nada lhes vai acontecer e que vão poder continuar o seu percurso normal por terra da «nossa» Guiné-Bissau.

Aos familiares e amigos podem ficar descansados que tudo vai seguir o seu percurso normal com um pequeno senão, que é uma pequena tensão, o que é normal, e quando regressarem, ficam logo com saudades de lá voltar.

Também queria deixar aqui um abraço de esperança ao povo da Guiné-Bissau, para que ultrapassem mais este percalço no seu país, e que há sempre vida para além da morte.

Um abraço de amizade e conforto para todos,
Albano Costa
__________

Nota de L.G.

(*) Vd. último poste da série Nuvens negras sobre Bissau > 3 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3968: Nuvens negras sobre Bissau (10): Voluntários da missão humanitária 2009 a distribuir água pelos militares nas ruas da capital

segunda-feira, 2 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3961: Nuvens negras sobre Bissau (4): João Bernardo Vieira, 'Nino' (1939-2009) (José Martins)

1. Mensagem do José Martins:

Boa tarde: Segue anexo uma breve biografia de Nino Vieira, sem comentários de qualquer espécie. É um tributo a um homem.

Segue também um vota solidário para os nossos amigos da Guiné
José Martins


João Bernardo Vieira, 'Nino'
(n. 27 de Abril de 1939,
† 02 de Março de 2009)


Pequena resenha biográfica:

(i) Ingressou na PAIGC em 1960, tendo-se tornado uma peça chave daquele movimento, onde era conhecido por Comandante Nino ou Kabi Nafantchamna, tendo sido responsável pela orientação política e operacional do sector Sul/Leste da Guiné.

(ii) Foi nomeado Presidente da Assembleia Nacional Popular nos finais de 1972, tendo sido lida por si a proclamação unilateral da independência, na região do Boé, em 24 de Setembro de 1973.

(iii) A 28 de Setembro de 1978 é nomeado Primeiro-ministro da Guiné-Bissau.

(iv) Derruba o governo de Luís Cabral (irmão de Amílcar Cabral) em 14 de Novembro de 1980 através de um golpe militar, suspendendo a Constituição do país e formando um Conselho Militar de Revolução.

(v) Suspensa a proibição dos partidos, foram efectuadas eleições que venceu, à segunda volta, obtendo 52% dos votos (46.2% na primeira volta), conta 48% de Kumba Yala.

(vi) Tomou posse em 29 de Setembro de 1994.

(vii) Uma tentativa falhada de golpe de estado, encabeçado por Ansumane Mané e perpetrado em 8 de Junho de 1998, é seguido de uma violenta guerra civil, a que sucede novo golpe veio a depor Nino Vieira em 7 de Maio de 1999, que se refugiou em Portugal.

(viii) Em 2005 regressa à Guiné-Bissau e candidata-se à presidência, alcançando 28,9% dos votos, ficando em segundo lugar, em 19 de Junho. Na segunda volta, em 24 de Julho, derrota o seu rival Malam Bacai Sanha, com 52.3% dos votos, tomando posse em 1 de Outubro desse ano.

(ix) Às primeiras horas de 2 de Março de 2006, foi morto quando tentava sair de sua casa. Consta que o grupo atacante era formado por militares ligados ao comandante do Estado Maior Tagme Na Waié, também ele morto, ontem, durante um ataque ao Quartel General, que consideraram o presidente responsável por tal acto.

Voto solidário:

Bandeira da Guiné-Bissau

Curiosamente, tem as mesmas cores da Bandeira de Portugal.

Ao POVO AMIGO da Guiné-Bissau, enviamos as nossas condolências, a nossa amizade fraterna e a nossa solidariedade.

De facto, aquela terra que tanto odiámos por lá termos sido obrigados a passar dois dos melhores anos da nossa vida, e que agora amamos como se fosse a nossa segunda Pátria; aquela POVO a que chamamos amigos, porque com ele fizemos amizade e foi livremente que tal aconteceu, não pode continuar a viver em instabilidade constante. Merecem que ALGUÉM, de facto e de jure, os abrigue e proteja, para que em breve, e definitivamente, encontrem o caminho da paz, da felicidade e do progresso.

José Martins
2 de Março de 2009

Guiné 63/74 - P3958: Nuvens negras sobre Bissau (1): Portugal lamenta profundamente a morte de Nino Vieira, ocorrida esta madrugada


Guiné-Bissau > Bissau > Presidência da República > 6 de Março de 2008 > Aspecto da Casa da Presidência, no dia em que o Presidente João Bernardo Vieira 'Nino' deu uma audiência a cerca de duas dezenas de participantes estrangeiros do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008), incluindo 2 cubanos (e o respectivo embaixador), mas a maior parte eram portugueses (e ex-combatentes da guerra colonial)... Nesse dia fomos cumprimentados também pelo Gen Tagme Na Waie.

Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados


1. Mensagem do José Marcelino Martins, às 9h18:

Bom dia Camaradas

Ontem no noticiário das 23 horas da Renascença, ouvi que tinha havido um assalto ao Quartel General na Guiné-Bissau, que tinha ficado semidestruído.
Hoje as notícias veiculadas indicam que foi morto o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, [o balanta Tagme Na Waie,] assim como durante a madrugada terá sido morto, por militares, o Presidente João Bernarda Vieira e esposa, durante um assalto à sua residência, durante a madrugada.

Estão camaradas nossos na Guiné-Bissau em visita de solidariedade para com o povo guineense.
Há notícias deles. Há forma de contactá-los. Espero que com eles esteja tudo bem.

Abraço
José Martins


2. Comentário de L.G.:

É uma tragédia para todos nós. Só espero que esta violência irracional (que periodicamente se abate sobre a Guiné-Bissau e o seu povo) não degenere em guerra civil. Dois líderes máximos do país estão mortos. Para mais, dois históricos da guerrilha do PAIGC, que estiveram na batalha de Guileje. Há, naturalmente, um vazio de poder, embora o governo se mantenha em funções. É fundamental que a CPLP intervenha imediatamente para assegurar ou apoiar o funcionamento dos outros órgãos de soberania e garantir a normalização da vida política do país.
O José Manuel Lopes, o Nina, o António Carvalho mais o Leça e a esposa estavam em Buba, esta manhã. O resto da malta (José Moreira, Xico Allen, etc.) estava em Bissau (?). A informação foi-me dada pela Luísa, a mulher do José Manuel Lopes, da Régua. Estava preocupadíssima com as notícias, como devem imaginar.

Leio no Público, 'on line', desta manhã:

"Forças militares atacaram a residência oficial do Presidente da Guiné-Bissau, Nino Vieira, tendo o chefe de Estado sido dado como morto às primeiras horas da manhã pelo responsável pelas relações exteriores do exército – sugerindo tratar-se de um acto de retaliação pelo atentado mortal, na véspera, contra o Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas do país".

O Governo Português já "lamentou profundamente" a morte de Nino Vieira, presidente eleito da Guiné-Bissau. Segundo a agência angolana de notícias, Angop, "ninguém reivindicou o atentado [contra Tagme], não se sabendo ao certo se o caso tem a ver ou não com a velha rivalidade entre o presidente Nino Vieira e o general Tagme na Waie ou se por trás deste caso também não estarão implicados os barões da droga que nos últimos anos tomaram o país de assalto".

Contactem-nos se tiverem notícias dos nossos camaradas, que estão na Guiné-Bissau (cerca de 3 dezenas), bem como dos nossos amigos guineenses (Pepito, família e malta da AD, Patrício Ribeiro, etc.).

A nossa amiga Luisa Valente Lopes, esposa do José Manuel Lopes (Régua), já procedeu a contactos oficiosos, com vista a fazer chegar à nossa Embaixada na Guiné-Bissau a lista completa (nomes, moradas e telefones) dos nossos amigos e camaradas que estão no país, em missão humanitártia e turismo de saudade. Aqui fica, para mais contactos, o telemóvel da Luisa: 916 651 639.Ela não tem a lista de toda a malta.
Soube que o Pepito já telefonou hoje duas vezes, à família que aqui vive, em Lisboa: segundo ele, está tudo calmo em Bissau.
O Zé Teixeira (Tabanca de Matosinhos), por sua vez, fez-me o ponto da situação, por volta da 13h: os nossos amigos e camaradas estão divididos em dois grupos: (i) o José Manel e a malta de Mampatá estão em Buba; (ii) o José Moreira, o Xico Allen, o João Rocha, o Pimentel e o resto da malta de Coimnbra e da Tabanca de Matosinhos estão em João Landim (onde estão hospedados). Estão em contacto com a nossa Embaixada, que os aconselhou a estarem quietinhos, por enquanto. Não há movimentações de tropas, o que significa não ter havido, em princípio, uma golpe de estado, mas apenas ajustes de contas entre duas facções, ligadas às vítimas, Nino Vieira e Tagme Na Waie.