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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17056: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (51): Pelo mundo, ninguém aprecia os nossos Generais, só os nossos Santos... (A propósito do bisavô materno do escritor e nosso camarada Antónioo Lobo Antunes, o gen José Joaquim Machado, 1847-1925)

1. Mensagem de António Rosinha:

[Foto à esquerda, Angola, 1961

(i) acaba de ultrapssasr as 100 referência no blogue, este beirão;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos';

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974;

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, mesmo quando as nossas opiniões podem divergir;

(x) Ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]



Data: 16 de fevereiro de 2017 às 21:54
Assunto: Pelo mundo, ninguém aprecia os nossos Generais, só os nossos Santos.


Grandes africanistas portugueses, principalmente militares, eternizaram os seus nomes em vilas e cidades, baias e promontórios e fortalezas. pelas várias colónias portuguesas.

Penso que foi errado porque essa eternização foi errada…não foi eterna, teve um fim.

Teve um fim porque os militares não eram santos.

Se fossem usados nomes de Santos como se fazia antigamente, ainda hoje tínhamos muitos santos espalhados pelo mundo.

Por exemplo na Guiné, já não há Teixeira Pinto,(Canchungo) mas ainda temos bairro de Santa Luzia, jangada de São Vicente.

Até mesmo cá, se a ponte de Lisboa, se fosse ponte Santo António de Lisboa, não seria preciso arrancar a placa do outro António.

Dá a ideia que só se começou a usar nomes militares em vez de santos, com o aparecimento de Pombal e a maçonaria e a independência do Brasil.

No Brasil ainda hoje temos lá desde a Baia de todos os Santos, São  Salvador, São Sebastião do Rio de Janeiro, Santos do Pélé, São Paulo, São Bernado, Santo André, São Caetano, Santa Cruz (várias), São Januário, Estado do Espírito Santo, etc. etc.

Conheço várias cidades brasileiras, não vi nenhuma cidade ou rua Pedro Alvares Cabral, nem Padre António Vieira.

Então no Cao de Angola quetirando a Vila Salazar que caíu este porque não era santo e ficou Dalatando, e nem era africanista nem lá pôs os pés,  e a cidade de Carmona, que hoje é Uige, todos os outros nomes foram em geral militares e grandes africanistas. E com um grande espírito colonialista.

Mas já não há nenhum desses nomes porque nenhum era santo. Ele era Vila Pereira d'Eça, (N'Giva), vila Roçadas, (Humbe), Vila Henrique Carvalho, (Saurimo), cidade Serpa Pinto, (Menongue), Vila Paiva Couceiro, (?) e para ficar por aqui termino com a vila geograficamente mais central de Angola, Vila General Machado que ficou com o nome indígena Camacupa..

Nesta Vila General Machado (Camacupa) há, ou havia, no fim da guerra MPLA/UNITA, nunca se sabe o que sobrou, um marco geodésico que é considerado o centro de Angola.

José Joaquim Machado
[Lagos, 1847 - Lisboa, 1925], bisavô 
materno do escritor e nosso camarada
António Lobo Antunes
 Fonte:Cortesia de Wikipédia

E quem foi o General Machado [, José Joaquim Machado, Lagos, 1847 - Lisboa, 1925] ? Vem muita coisa na Wikipédia, mas um pormenor que soube lá, é que foi o português que chefiou parte da construção do Caminho de Ferro de Benguela que leva o comboio ao Leste de Angola ("Cús de Judas")  e segue para o Katanga e Zâmbia, inicitiva dos ingleses e que Portugal assumiu

E é por causa desta Vila de Camacupa, ex- General Machado, que para mim é muito célebre, como outros generais que deram nomes a outras vilas, mas este especialmente, é que me deu na cabeça para escrever sobre esta dos nomes de generais espalhados pelas colónias.

Então não é que este homem que dedicou parte da sua vida colonial no comboio que levaria um pouco de modernidade às terras do fim do mundo aos "Cus de Judas", é um dos avós de António Lobo Antunes, o nosso escritor que várias vezes já foi referido nesta tertúlia?

Fiquei surpreendido e inspirado para este post, ao ler a revista Visão desta semana que termina [vd. crónica de António Lobo Antunes, "A minha família^", Visão, nº 1250, de 16/2 a 22/2/2017, pp. 6-7)


Luís Graça, se houver espaço e tenha interesse fica ao teu dispor.

Boa noite e um abraço,
Antº Rosinha

2. Comentário do editor CV:

E os topónimos, Rosinha, os nomes das nossas terras (do "Puto"...) que levámos para as terras de além-mar ? Na Guiné, não havia muitos, mas lembro-me de alguns (onde nunca estive); Nova Lamego, Nova Sintra... Já em Angola, que tu conheceste bem, eram mais, a começar por Nova Lisboa (hoje Huambo)...Mas isso aconteceu em todo o lado: veja-se o Brasil, veja-se a América, que foram grandes colónias... Os europeus chamavam Novo Mundo às terras que estavam do outro lado do Atlântico: por exemplo, New York / Nova Iorque,  Também havia uma Nova Lamego (em Angola) e uma Nova Sintra (em Cabo Verde)...Há um município de Santarém, no Pará (Brasil)... E por aí fora.

_________________

Nota do editor:

Últimos poste da série, do ano de 2016 > :

22 de dezembor de 2016 > Guiné 63/74 - P16868: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (50): Mandela não mentiu

9 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16468: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (48): O filme das cartas de amor e guerra de António Lobo Antunes, realizado por Ivo M. Ferreira


25 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16331: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (46): Quando Bismarck, Leopoldo II e as outras potências, Inglaterra e França (Cecil Rodhes e outros) dividiram África em Berlim, estavam-se nas tintas para os africanos... Ensaiaram depois o neocolonialismo a que chamaram independência

12 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16079: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (45): A brutal emboscada do dia 22/3/1974, na estrada (alcatroada, construida pela TECNIL ) Piche-Nova Lamego: só por negligência, propositada ou intencional ou casual, estes casos podiam acontecer... É coincidência apenas, ou as Forças Armadas só já estavam preocupadas com outros valores?...

3 de maio 2016 > Guiné 63/74 - P16044: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (44): Os desentendimentos constantes entre alguns PALOP e Portugal... A luta continua.!...

30 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15913: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (43): Os receios europeus de um antigo colonialista português, gen Norton de Matos, em dezembro de 1943

22 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15781: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (42): A unidade que os cabo-verdianos ajudaram a criar

5 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15748: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (42): As riquezas das matéria primas africanas e as fantasias criadas


16 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15623: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (41): o que foi mais devastador para o PAIGC foi precisamente a campanha psicológica spinolista por uma "Guiné Melhor"

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13856 Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (35): O Manuel Simões, de Judgudul, e os Africanistas à portuguesa... Ser africanista é um estado de espírito, e não precisa de andar com "os pretinhos ao colo".

1. Mensagem de Antº Rosinha (o único grã-tabanqueiro que tem direito a abreviatura do nome, Antº, é um traço de distinção por, à boa maneira africana, ele um dos nossos "mais velhos", quer dizer, com mais experiência, mundo e sabedoria; na nossa Tabanca Grande, respeitam-se os mais velhos, mesmo quando aqui e ali podemos discordar das suas opiniões e conselhos; pessoalmente, é um camarada por quem nutro afeto e respeito, embora só o tenha encontrado uma vez, no II Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Pombal, em 2007) [, foto à esquerda, tirada por LG]



Data: 5 de Novembro de 2014 às 14:24
Assunto: Manuel Simões de Judgudul e os Africanistas à portuguesa (*)


Amigo Luís Graça, sobre o poste em referência [P13821] (*)  penso que devo um pequeno  esclarecimento.

Em primeiro lugar, queria dizer que as dúvidas quanto à construção da estrada Jugudul- Bambadinca, actual, não é do tempo colonial, é de 1982/3, com uma empresa, lembro-me que seria  francesa, com financiamentos habituais daquele tempo, Banco Mundial, Árabes, CEE,  etc.

Sobre o que o Luís Graça comenta sobre a minha «boca» ao chamar " africanista à portuguesa" a Manuel Simões, que representa a imagem de muitos milhares que durante séculos embarcaram para África e esqueceram  a terra deles ou dos pais e avós, penso com toda a sinceridade que não há palavra mais apropriada para eles do que chamar-lhe «africanistas».

Há aquela ideia dos exploradores ingleses, portugueses como Serpa Pinto ou Cecil Rodes, (Brancos) enviados como estudiosos para o  interior de África, ou militares para expandir fronteiras, e regressavam às metrópoles com a imagem,  aquela imagem vestidos à safari, caqui e capacete de cortiça, atribuindo-se a eles  vagamente essa palavra «africanistas».

Também a missionários ou estudiosos (brancos) de línguas e costumes africanos também se lhes atribui o nome de africanistas.

Porque não se deveria ter chamado a estes geógrafos uns, geólogos outros, missionários que estudavam dialectos, simplesmente, chamarem-se «africanólogos»?

Também  serão africanistas aqueles funcionários que fazem comissões atraz de comissões em África, através de ONG e ONU, ajudando "aquele pobre povo", como dizem,  comovidos, que os colonialistas exploraram.

(E nessa ordem de ideias ainda teremos um dia  que chamar «europeistas» aos inúmeros africanos que "estudam" muitíssimo bem todos os europeus e estudam e praticam todos os seus hábitos e suas línguas.? E num momento em que os africanos avançam para a «Europa e em força» por Melila e Lampedusa, qualquer dia até lhe chamaremos  de colonialistas  e invasores? Quem sabe, um dia?)

Alguém  considerar-se africanista, ou colonialista, ou emigrante em África, penso que é mais um estado de espírito, do que aquilo que alguém o queira classificar.

Para um branco ser um grande africanista à portuguesa  não era obrigatório dormir numa esteira, (quirintim) e encher a casa de crianças mulatas,  mas também ajudava.

Os milhões de brancos que emigraram ou nasceram em África durante séculos, e optaram por qualquer circunstância  adoptar África como sua terra (forçados pela família em criança, deportação,  dificuldades económicas para regressar, boa  adaptabilidade climática ou vida social muito bonita e fácil) se esqueceram das terras de origem, jamais será correto dizer que se trata de um colonialista, ou mesmo emigrante.

Sejam portugueses, boers da África do Sul ou rodesianos (Zimbabué), esses brancos, não podem ser considerados simples colonialistas, antes pelo contrário, eram antes, grandes africanistas.

Casos como na Guiné, Manuel Simões, Luandino Vieira em Luanda, Mia Couto em Moçambique, para vincar bem a minha ideia,  mais do que guineense, ou angolano ou moçambicano, intimamente estes brancos sentem-se africanos.

Ora quem se sente africano e não tem carapinha,  não pode deixar de ser um perfeito  africanista, mesmo que os " Mugabes"  não os considerem  africanos.

E quem é europeísta? Será que pelo facto de os turcos e israelitas insulares como os gregos e cipriotas e peninsulares como  íberos e ítalos, pelo facto de entrarmos na taça dos campeões europeus, somos europeus? Ou europeístas apenas?

Ora quem se sente europeu tem que ser europeísta, mesmo que os Napoleões e os Hitleres não  considerem como europeus muito loiros, os insulares  peninsulares do sul e outros vizinhos.

No entanto há brancos que viveram a vida em África e nunca tiveram o mínimo sentimento de africanista, e outros brancos que em menos de um ano se tornam, ainda hoje, genuínos africanistas.

Ser africanista é um estado de espírito, e não precisa de andar com "os pretinhos ao colo".  Nem deve!

Quando no 25 de Abril vieram para Portugal os retornados,  poucos  tínhamos espírito  africanista, mesmo os que estávamos há muitos anos em África, porque a maioria era funcionário público, mais tarde "trabalhador da Função Pública", e estávamos só à espera da reforma para regressar para a terra dos brancos, «a minha terrinha»

Aqueles que na realidade se sentiam africanistas, não aceitavam um dia repor a gravata e as ceroulas  e tornar a "enclausurar-se" nestes pequenos e limitados espaços da idade média, as nossas aldeias,  e largar aqueles espaços abertos, embora  da idade do ferro.

Infelizmente a maioria destes africanistas perderam a vez na terra que tinham adoptado como sua.

No caso dos portugueses, os genuínos africanistas e seus descendentes foram muito incomodados em África e recebidos com muitas reservas em Portugal, quando vieram com os retornados.

A maioria dos africanistas,  em idade de reprodução, desapareceram para o Brasil, EUA, Canadá e França.

Falam muito mal dos portugueses, e têm, tal como os actuais dirigentes africanos das nossas ex-colónias,  que tomaram conta "dos seus destinos", pouca consideração por nós.

Claro que têm motivos diferentes para criticarem o tuga, mas de qualquer maneira, sempre que tenham que fugir de onde estão,  recebemo-los  de braços abertos.

Uma curiosidade sobre os africanistas à portuguesa, não foi só nas ex-colónias portuguesas que se instalaram inúmeros portugueses.

No ex-Congo Belga foram tantos os portugueses que permaneceram após a fuga total dos Belgas em 1960, que protegidos pelas populações e que se foram entendendo com aqueles que tomaram "conta dos seus destinos", que foi possível o comércio de distribuição não desaparecer completamente, e evitar alguma fome.

Os africanistas à portuguesa levaram séculos a ajudar a construir os PALOP que sobraram.

Acontece que alguns dirigentes desses países não escondem grande desgosto por esses africanistas não tenham sido outros um pouco mais "loiros".

Os dirigentes africanos,  em geral,  não gostam de africanistas, detestam.

Isto é uma regra, e com todas as regras têm uma excepção, apareceu Mandela.

Como português, tenho a maior admiração pelos africanistas como Manuel Simões.(**)

Cumprimentos,

Antº Rosinha

__________________


(...) Luís Graça disse...

Confesso que tenho um certo fascínio por homens como este, "africanistas", como diz o Rosinha... Não sei se o termo não será pejorativo e sobretudo inapropriado...

Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o/a africanista (substantivo com 2 géneros) é “a pessoa que se dedica à exploração ou estudo da África”.

Presume-se que venha de outras paragens, de outros continentes, a Europa, por exemplo, que foi a grande potência “colonizadora” desde os finais do séc. XIX até à emergência dos nossos estados africanos.

Nesse sentido, o “africanismo” antecederia o “colonialismo”: como se costuma dizer, primeiro vem o explorador, depois o antropólogo, depois o missionário, e depois a tropa, o administrador, o cobrador do imposto de palhota e, por fim, o o comerciante (porque sem dinheiro não há economia monetarizada)...

Mas talvez o Rosinha queira dizer, com o termo africanista (não confundir com panafricanista. que tem um outro sentido, mais filosófico e político…) aquele (em geral branco…) que se considera nascido e crescido em África, ou que tenha vivido e trabalhado em África, ou que muito simplesmente ama a África, as suas paisagens, as suas gentes, as suas culturas… sem ter que ser um “colon”.

Nesta acepção, mais lata, somos todos, aqui, "africanistas"...

Manuel Simões, africanista ? Antes de mais, era português e guineense, nascido em Bolama, com costela beirã, do lado do pai, e provavelmente caboverdiana, do lado da mãe...  E, não menos importante, sobreviveu quer ao “colonialismo” quer ao “paigecismo” (, nas suas várias versões cabralismo, ninismo, etc.)…

Deixou muitos amigos e conhecidos, lá e cá, a começar pela nossa Tabanca Grande.  Tenho pena que não tenha deixado escrito um "manual de sobrevivência"... Ele atravessou dois séculos (1941-2014), "prenhes” de história e de histórias... LG