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quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24726 Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (10): I want you, dead or alive!



O célebre Tio Sam, desenho por J.M. Flagg... Cartaz norte-americano, de 1917, inspirado no original britânico, de 1914. Foi usado pelo exército norte-americano para recrutar soldados tanto para a Primeira como para a Segunda Guerra Mundial. Imagem do domínio público. Cortesia de Wikipedia.


À memória:

do Umaru Baldé,, menino de sua mãe,  que morreu de sida e tuberculose, no terminal da morte que dava pelo nome de Hospital do Barro, em Torres Vedras; membro da nossa Tabanca Grande a título póstumo);

do Abibo Jau (o gigante do 1º Gr Comb da CCAÇ 12, fuzilado em Madina Colhido, logo a seguir à independència da Guiné.Bissau);

do Joaquim de Araújo Cunha (1948-1970), que o Abibo Jau trouxe às costas, da antiga estrada Xime-Ponta do Inglês, até Madina Colhido, o primeiro de seis mortos e nove feridos graves da Op Abencerragem Candente, em 26/11/1970, trágica lista onde se incluem os nomes do Ribeiro, do Soares, do Monteiro, do Oliveira, todos da CART 2715, e ainda o nosso guia e picador Seco Camará;

do cap art Victor Manuel Amaro dos Santos (1944- 2014),  primeiro cmdt da CART 2715, que começou a morrer nesse fatídico dia de 26/11/1970;

do Abdulai Jamanca (cmdt da CCAÇ 21, fuzilado também em Madina Colhido que eu conheci em Fá Mandonga, por ocasião da formação da 1ª CCmds Africanos);

do Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015). membro da nossa Tabanca Grande, e o único comando africano, ao que se saiba, que escreveu e publicou em vida as suas memórias;

do Iero Jaló (o 1º morto em combate, da CCAÇ 12, em 8/9/1969);

do Manuel da Costa Soares (sold cond auto, da CCAÇ 12, morto em Nhabijões, em 13/1/1971, por uma mina A/C, sem nunca ter chegado a conhecer a sua filha);

do Luciano Severo de Almeida (furriel mil, da CCAÇ 12,  que "morreu de morte matada", já como paisano, após o regresso da guerra, em data que ninguém sabe precisar);

do José Carlos Suleimane Baldé (c. 1951-2022), que chegou a estar encostado ao poilão de Bambadinca para ser fuzilado. tendo sido salvo 'in extremis' pelos homens grandes de regulado Badora; membro da Tabanca Grande;

do António da Silva Baptista (1950-2016), o "morto-vivo" do Quirafo, membro da nossa Tabanca Grande;

 de todos os demais camaradas  de armas, brancos e pretos, mortos em combate no TO da Guiné, ou feitos prisioneiros, ou abandonados à sua sorte, depois do regresso a casa ou da independência da Guiné-Bissau;

de todos os soldados desconhecidos de todas as guerras;

enfim, dos mortos da minha terra que lutaram pela pátria na batalha do Vimeiro,  em 21 de agosto de 1808.
 

I want you, dead or alive!


F_d_r_m-te, meu irmão! Enganaram-te, meu irmãozinho! Traíram-te, amigo! Deixaram-te para trás, camarada!

Não, não era este país milenário que vinha no cartaz de promoção turística, com montes, vales,  montados, e charnecas, com rios, praias e enseadas, com fama de gente patriótica, clima ameno e aprazivel, riqueza gastronómica, brandos costumes e forte sentido identitário. 

Não, não era esta a terra prometida onde corria o leite e mel... 

“I want you”, disseram-te eles, e tu respondeste sem hesitar: “Pronto!”. 

Meu tonto, disseste "presente!", mesmo sem poderes avaliar todas as consequências presentes e futuras da tua decisão, em termos de custo/benefício.

Decidiste com o coração, não com a razão, deste um passo em frente, abnegado e generoso, mesmo sem saberes onde era o distrito de recrutamento, e sem sequer conheceres o teatro de operações, o estandarte, o fardamento, a ciência e a arte da guerra, o comandante-chefe ou até mesmo a cara do inimigo. Nem sequer o RDM, o regulamento de disciplina militar nas principais línguas do mundo.

Um homem não vai para a guerra sem fixar a cara do inimigo, sem reconhecer a voz do inimigo, pode ser que seja teu pai, mãe, irmão, irmã, vizinho, amigo, ou até mesmo um estrangeiro, um pobre e inofensivo estrangeiro, apanhado à hora errada no sítio errado, num dos setes caminhos de Santiago ou na peregrinação a Meca. 

Camarada, um homem não mata outro homem só porque é estrangeiro, ou é branco, ou é preto, ou tem os olhos em bico. Ou só porque não pensa ou não sente como tu. Ou não come carne de porco como tu. Um homem não puxa o gatilho ou saca da espada, sem perguntar quem vem lá!

Enfim, não se mata um homem, de ânimo leve, gratuitamente, só porque alguém o elegeu como teu inimigo. Malhado ou corcunda, tuga ou turra, rojo ou blanco, cristão ou mouro, comunista ou fascista, bárbaro ou romano.

Não, meu irmãozinho, não eram estes outdoors e muros grafitados, ao longo da picada, não, não era este trilho, que era pressuposto levar-te do cais do inferno do Xime às portas do paraíso em Bagdá..

Sim, porque no final, meu irmão, há sempre alguém a prometer-te o paraíso, o olimpo, o panteão nacional ou a cruz de guerra com palma, um coro de anjos e querubins, ou a prenda nupcial das 72 virgens  para os mártires.... em troca da dádiva suprema da tua vida, do teu corpo, da tua alma ou da tua liberdade (no caso de teres o azar de ser apanhado à unha pelo inimigo que te espreita por detrás do bagabaga).

Todos te querem, todos te queremos. "I want you”, sim, quero-te, mas por inteiro, quanto mais não seja para tirar uma fotografia contigo, beber um copo contigo, não vales nada cortado às postas, decepado, decapitado, dinamitado, ou, pior ainda, perdido, errático, com stress pós-traumático,  sem bússola nem mapa, levado para o campo de prisioneiros do Boé ou fuzilado no poilão de Bambadinca ou de Madina Colhido. Ou para forca de Ariz dos anos sombrios das nossas guerras fratricidas de 1828-1834.

Fuzilado, és um cadáver incómodo, apanhado, és um embaraço diplomático, pior do que tudo isso, doente psiquiátrico, apátrida, refugiado... Deixas de ter valor de troca, muito menos valor de uso, diz o comissário político da base central do Morés, de Kalashnikov em punho. 

Não, não foi este destino que compraste, com o patacão do teu sangue, suor e lágrimas, enganaram-te, os safados, os profetas, os iluminados, os gurus, os estrategas, os generais e os seus ajudantes de campo, os burocratas da secretaria, os recrutadores, a junta médica, os psicotécnicos, os instrutores e até os historiadores que escrevem direito  por linhas tortas.   Ou a corte que fugiu para o Brasil para que o Napoleão não pudesse apanhar a rainha louca e o seu filho primogénito, João.

“Guinea-Bissau, far from the Vietnam”, alguém escreveu no poilão de Brá ou na estrada de Bandim, a caminho do aeroporto, tanto faz, "Tuga, estás a 4 mil quilómetros de casa”. 

Ou então foi imaginação tua, pesadelo teu, deves ter sonhado com essa placa toponímica, algures, numa noite de delírio palúdico, deves tê-la visto a sul do deserto do Sará no avião da TAP de regresso a casa. Um pesadelo climatizado. Carregaste no botão errado. Ou então foi um erro de casting. Ou um sonho de menino esse de ires para os rangers, os páraa, oa comandos ou os fuzos.

Alguém sabia lá onde ficava a Guiné, longe do Vietname, alguém se importava lá com o teu prémio da lotaria da história, mesmo que em campanha te tenhas coberto de honra e glória!

Acabaram por te meter num avião “low cost” ou num barco de lata, ferrujento, deram-te um pontapé no cu ou cravaram-te a tampa do caixão de chumbo. "Bye, bye, my friend. Fuck you, man”. Nem sequer te desejaram "Oxalá, inshallah, enxalé, que a terra te seja leve!"

“País de merda!"... Tinha razão o polícia, racista, que te quis barrar a entrada no aeroporto de Saigão (ou era Lisboa ? ou era Amsterdão?). 

Quem disse que os polícias de todo o mundo são estúpidos ? Até o polícia racista entende o sofisma do país de merda: “Pensando bem, soletrando melhor, país de merda, país de merda, só pode ser o meu”.  Por que todos os outros fazem parte da rede turística do paraíso. 

Os gajos estavam fartos de ti, meu irmão, meu camarada, meu amigo. Os gajos pagavam-te, se preciso fosse, para se verem livres de ti, vivo ou morto, devolvido à procedência, usado e abusado.

“I want you, alive or dead”, porque na contabilidade nacional tudo tem de bater certo, diz o cabo RM, readmitido. Todo o que entra, sai, é o deve e o haver do escriturário, encartado, mesmo que seja merda: “Garbage in, garbage out”, se entra merda, sai merda, diz o gajo dos serviços mecanográficos do exército.

Procuraram-te por toda a parte, os fotocines, do Minho ao Algarve, do Cacheu ao Cacine, só te queriam fotogénico, bem comportado, escanhoado, ataviado, de botas engraxadas, se possível herói de capa e espada, medalhado, condecorado, de cruz de guerra ao peito, mesmo que viesses amortalhado, as persianas dos olhos fechadas,  as mãos sobre o peito em derradeira oração, o enorme buraco atrás das costas, feito por um bálizio de 12.7, cozido e recozido pelo cangalheiro da tropa.

E tu ? Sabias lá tu o que era a pátria, onde ficava a tabanca da pátria, onde começava e acabava o chão da pátria ?!...

 Muito menos sabias a geografia da guerra, as nossas geografias emocionais,  Aljubarrota, Alcácer Quibir, Vimeiro, Waterloo, Nambuangongo, lha do Como, Gandembel,  Guidaje, Guileje, Gadamael,  Madina do Boé, Ponta do Inglês, Madina/Belel, Morés, Caboiana, Fiofioli... Ah!, e La Lyz!... Ah, e  o desembarque da Normandia!... Ah!, e Dien-Bien-Phu onde combateste pela Legião Estrangeira!...

Conhecias lá tu, da pátria,  a anatomia e a fisiologia , o intestino grosso e delgado, o que é que a pátria comia, o que é que a pátria defecava, ou até mesmo o que é que a pátria sentia e pensava, se é que a pátria deveras sentia e pensava.

Queriam-te sedado, anestesiado, amnésico, de preferência, sobretudo amnésico, alienado, aculturado, desformatado, paisano, só assim eles te queriam de volta ao teu anódino quotidiano, à tua origem obscura, à tua Sintchã qualquer-coisa, ao teu Montijo, â tua Ventosa do Mar...

Meu irmão, meu pobre camarada, fizeste por eles o trabalho sujo que compete a qualquer bom soldado em qualquer guerra. Mas nem como soldado eles te trataram, nem sequer como mercenário te pagaram, em espécie ou em géneros.

Afinal a guerra acabou, como todas as guerras acabam, até mesmo a guerra dos cem anos teve um fim com o seu rol de mortos, feridos e desaparecidos, a sua nave de loucos, a sua vala comum dos esquecidos...

 “Para quê mexer agora na merda, ó nosso cabo ?!”, interpela o sorja da companhia. “Boa pergunta, meu primeiro, mas há muito já que eu não cheiro, a guerra embotou-me os sentidos”.

Luís Graça
Lourinhã, Vimeiro, 18/7/2015.

Reconstituição histórica da batalha do Vimeiro (21/8/1808).

Revisto em 1/9/2023, 84 anos depois do início da II Guerra Mundial.
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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de setembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24626: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (9): Requiem para um paisano

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21574: In Memoriam (374): Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro, Lourinhã, 1 out 1952 - Torres Vedras, 23 nov 2019): um ano de saudade - Testemunhos: Parte II (Luís Graça e Jaime Silva)



Foto nº 1 > Lourinhã, Vimeiro, Cemita´rio local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  > Pequena placa deixada pelos amigos, colegas e camaradas: as palavras são do 1º quarteto do soneto lido por Luís Graça [vd. texto abaixo]


Foto nº 2 >  Lourinhã, Vimeiro, Cemiério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  > Aspeto da campa (que é da família da São)


Foto nº 3  >  Lourinhã, Vimeiro, Cemiério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  > A viúva, Conceição Ferreira, e o filho João junto à campa. [O outro filho, Rui, vive e trabalha em Inglaterra.)


 Foto nº 4  >  Lourinhã, Vimeiro, Cemiério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  >  Em primeiro plano, a Alice Carneiro, fotogrfando a placa deixada pelos amigos


Foto nº 5  >  Lourinhã, Vimeiro, Cemitério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  > Um aspeto da assistência, composta apenas de amigos e colegas, num total de 11, para além da viúva São e do filho João, e todos da Lourinhã, com exceção do João Baptista, que veio de òbidos. Aqui ficam os seus nomes: Rui Chamusco, Jaime Silva, Luís Graça e Alice Carneiro, Joaquim Pinto Carvalho e Maria do Céu Pinteus, Carlos Silvério e Zita, Laurentino Marteleira e Glória 



Foto nº 6 > Lourinhã, Vimeiro, Cemitério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  > O Rui Chamusco lendo os seus versos-



Foto nº 7 > Lourinhã, Vimeiro, Cemitério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  >  Intervenção do nosso camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva, membro da nossa Tabanca Grande (tal como Pinto Carvalho, o Carlos Silvério e a Alice Carneiro, além do nosso editor).



Foto nº 8 > Lourinhã, Vimeiro, Cemitério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  > O Rui Chamusco, professor reformado, junto à campa do seu amigo e colega da Escola C +S de Ribamar, Lourinhã  (*)


Foto nº 10 >  Lourinhã, Vimeiro, Cemitério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  > Cruz encimando a entrada do cemitério local, que construído em 1887


Foto nº 11 > Lourinhã > Vimeiro > Centro de Interpretação  da Batalha do Vimeiro: O Eduardo Jorge Ferreira foi um um dos grandes animadores da recreação histórica da batalha do Vimeiro  que se travaou aqui em 21 de agosto de 1808... Mais dos 1500 mortos desse dia terão ficado por aqui e arredores, em valas comuns...



  Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019) (**)


Fotos (e legendas): © Luís Graça  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Texto lido pelo Luís Graça, editor do nosso blogue, amigo e conterrâneo do Eduardo:

Para o nosso (e)terno Eduardo:
notícias dos amigos



Eduardo, p’lo bem, amor e amizade
Qu’ em vida connosco quiseste partilhar,
A tua memória prometemos honrar,
Deixando aqui o rasto doce da saudade.

Notícias te damos também da nossa terra,
Onde nasce e se põe o sol todos os dias,
Sabes como é, há tristezas e alegrias,
Mais a pandemia, que lavra como guerra.

Mas faz-nos falta teu sorriso luminoso,
Tua gargalhada fraterna e sonora,
Teu abraço acolhedor e generoso.

Teimamos em falar contigo, cá deste lado,
Também um dia chegará a nossa hora,
Mas até lá serás sempre... por nós lembrado!


Vimeiro, 23 de novembro de 2020

Os teus amigos, colegas, companheiros, camaradas.


 
2. Intervenção do Jaime Bonifácio Marques da Silva [Seixal, Lourinhã]:

Lembro-me que os primeiros contactos que tive com ele foi através do hóquei em patins nos encontros entre Seminários.

Depois, cada um fez-se à vida e só nos anos oitenta volto a reencontrá-lo, por acaso, em Guimarães, quando ele fazia a Profissionalização em Exercício na Escola Secundária Francisco de Holanda.

A partir daí os nossos encontros foram mais frequentes, mas só no início dos anos 2000 eu e Dina começamos a partilhar mais assiduamente nas suas iniciativas:

Primeiro, nos encontros de professores de Educação Física na festa de Ribamar, depois nas caldeiradas com o nosso pessoal na Festa e em Porto Dinheiro.

Como homem amigo, generoso e atento aos outros apercebeu-se bem cedo da evolução da doença da Dina e, a partir dai nunca mais nos largou e sempre que surgia uma oportunidade de convívio, telefonava-me para aparecermos. E lá estava ele e muitas vezes a esposa, a São, à nossa espera para nos acompanhar.

Durante o “Tempo Dele” foi, para mim e a Dina, de uma dedicação e ajuda que nunca mais o esquecerei. Lembro-me da Dina, apesar de já não reconhecer quase ninguém, dizer um dia quando estávamos com ele – Nós temos muita sorte em termos estes amigos!

Como te disse, há dias, li um poema do Ruy Belo que me fez lembrar o Eduardo.

O Poema intitula-se: José, o homem dos sonhos  e foi editado na obra – Homem de Palavra, numa edição da Assírio e Alvim (1.ª Edição de 2011).

Pensei em dar o meu modesto contributo neste ato de solidariedade e de memória lendo o poema do Ruy Belo, mas alterando o nome que o poeta usou.

Ficaria assim, após a minha alteração afetuosa que o Ruy Belo aprovaria, certamente, nesta causa:


EDUARDO… O HOMEM DOS SONHOS!

Por Ruy Belo / Jaime Bonifácio


Que nome dar ao poeta,
esse ser dos espantos medonhos?
um só encontro próprio e justo:
o de EDUARDO…o homem dos sonhos!

Eu canto os pássaros e as árvores
Mas uns e outros nos versos ponho-os…
Quem é que canta sem condição?
É EDUARDO…o homem dos sonhos!

Deus põe e o homem dispõe
E aquele que ao longo da vereda vem,
homem sem pai e sem mãe,
homem a quem a própria dor não dói,
bíblico no nome e a comer medronhos,
só pode ser EDUARDO…o homem dos sonhos!

Vimeiro, 23 de novembro de 2020
 

___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 23 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21571: In Memoriam (373): Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro, Lourinhã, 1 out 1952 - Torres Vedras, 23 nov 2019): um ano de saudade - Testemunhos: Parte I (Rui Chamusco e João Crisóstomo)

(**) 31 de agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8714: Tabanca Grande (300): Apresenta-se o Eduardo Jorge Ferreira, lourinhanense, ex-Alf Mil da Polícia Aérea (BA12, 1973/74)

(...) Estive [, na Guiné, em Bissalanca,] na BA12 de 20 de janeiro de 1973 (, triste data, a do assassínio de Amilcar Cabral, ) a 2 de setembro de 1974, colocado na EDT (Esquadra de Defesa Terrestre) como Alferes miliciano da Polícia Aérea, onde era conhecido por Ferreira.

(...) Depois de vir da Guiné, e como era voluntário na Força Aérea por 6 anos, passei pela Comissão de Extinção da PIDE/DGS (Gabinete de Imprensa) e pelo Estado Maior General das Forças Armadas (1ª Divisão) donde passei à disponibilidade em junho de 1977.

Entretanto tirei o curso de Instrutores de Educação Física e, mais tarde, a licenciatura em Administração Escolar, realizando o percurso normal de professor até uma determinada altura, a que se seguiram 15 anos de ligação à gestão escolar, dos quais 12 como presidente. Voltei a ser unicamente professor nestes últimos 9 anos lectivos acabando a minha carreira profissional em Abril último. (...)

 

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20097: Manuscrito(s) (Luís Graça) (170): Viagens ao fundo da (minha) terra e outros lugares: Parte II - Extremadura(s): doce é a guerra para quem não anda nela...




Torres Vedras > União das freguesias de A dos Cunhados e Maceira > Maceira > Estrada (particular) das Termas do Vimeiro (Fonte dos Frades) até à Praia de Porto Novo; ao lado passa o  Rio Alcabrichel (, nome que presumimos ser de origem árabe: o rio nasce na Serra de Montejunto e desagua na Praia de Porto Novo, Maceira)

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

EXtremadura(s)


por Luís Graça



1. Casas caiadas, paradas, o silêncio escorrendo, liquefeito, pelas paredes; nas águas furtadas já não dormem as criadas e na antiga praça do paço da rainha, ah!, já não se ouve o frufru das sedas, corroídas pelo bicho da traça. 

2. “Esquecei o que vedes”, diz um "aviso ao povo", apregoado pelo almotacé da cidade, poeta, negro, escravo liberto, enquanto, não longe, em Porto Novo, o mar é de labaredas, e os turistas, "voyeuristas", espreitam por ruelas e veredas e pátios e vãos de escada. 


Com a globalização, veio a gentrificação, lamenta-se a menina do posto de turismo.

3. Há bonecas de porcelana, quiçá das Chinas dos mandarins, às janelas, e os dedos delas confundem-se com as rendas de bilros, as teias de aranha, as cortinas, os brocados de cetim, os deveres e os lavores femininos, as máscaras de Arlequim, as fantasias de antigos carnavais, as marcas (imateriais) do jejum e abstinência.

5. Dedos que teceram intrigas e redes, redes de pescadores, há muito perdidos nas colinas do alto mar. Ou dedos que fiaram outras redes, clientelares, sociais, clandestinas, sob os portais, os corredores e as esquinas dos paços, dos passais, das rodas e das celas conventuais, dos passos perdidos, das antecâmaras reais.

6. O silêncio não pára ou só vai parar a um metro do chão, na barra azul dos moinhos de vento, mais a sul, entre pomares e vinhedos e, agora, campos de abóboras e estufas, quentes e frias. 

Indiferentes ao filme da história ao vivo, fiadas de pequenos nepaleses encavalitam-se em caixotes para apanhar  a pêra rocha que é exportada "by air". Os Himalaias ali tão longe!

À entrada, fora das muralhas, o cemitério, cofre forte de segredos, aqui onde se acabam todos os medos. E os heróis da última batalha que não tiveram sequer honras de mortalha. E os búzios e o cavername das caravelas e naus naufragadas no Porto das Barcas do inferno. E as façanhas dos soldadinhos de chumbo das tropas coloniais que ficaram por contar, trepando a rampa da praia de Paimogo acima.


7. Valha-te a brisa do mar que te faz algum refrigério na canícula do fim de estação da tua civilização. Pedes uma moreia frita no bar da Peralta. E contornas o Montoito e a Atalaia onde o guarda-mor da saúde decretou o cordão sanitário.

8. Casas paradas, caiadas com a mesma cal viva das valas comuns da última guerra e da epidemia da cólera de Deus que se lhe seguiu.

Pelos claustros do convento, agora transformado em palácio do povo, entre suspiros, sussurros e zunzuns, esquivam-se padres e frades, cavaleiros de Deus, noctívagos, e outros trânsfugas, infiéis, pecadores, hereges, proscritos, pederastas, mulheres da vida, esbirros do intendente, iluministas e iluminados, refractários e desertores, penitentes, almas penadas, danadas, poetas de botequim malditos, taberneiros, tocadores de rabeca, quiçá bruxas e duendes e peregrinos do caminho de Santiago. 

Como é vasto e triste o zoo humano. E não há albergarias para todos. Muito menos senhas de racionamento e vitualhas.

9. A calçada, outrora portuguesa, está agora gasta pelos cascos dos cavalos dos invasores... Picam-se os brasões dos solares da mui antiga nobreza, corta-se rente a árvore genealógica dos velhos senhores e arrasados e salgados são, até às fundações, os seus doces lares.

10. Um estranho cheiro a incenso, mirra, algas, maresia e enxofre sobe pelos ares, do lado da praia de Porto Dinheiro. Arde a Extremadura, do Atlântico ao Tejo.

Violadas as filhas, raptadas as servas, acorrentados ao pelourinho os criados, que vão ser vendidos como escravos na feira do gado do Rossio, passados a fio de espada os primogénitos, fundido o ouro e a prata dos palácios e igrejas, postos os novos deuses nos altares, pergunta a jovem guia do centro interpretativo da batalha do Vimeiro, "o que é pior, se a triste e vil desonra do presente ou o silêncio premonitório do futuro".


11. Por ti, nada antevês de bom augúrio. Não sabes que lugar é este, sem memória nem glória, à beira da estrada do Atlântico Oeste da tua infância revisitada, o mar do Cerro em frente, as linhas de Torres de alta tensão. Numa tabuleta lês: "A guerra, o mal absoluto".



12. Não há mais quem cante o cante dos poetas, a doce cantilena das Naus Catrinetas, o fero cântico dos últimos guerreiros do Império, ou até a última oração, de raiva, lamento e impropério, em canto chão, que é devida aos bravos que pela Pátria deram a vida.

"Que pátria, minha querida ? Ninguém morre pela pátria, morres pelos teus, que te estão mais próximos, a família, os animais de estimação, os bois, as leiras, jeiras ou courelas,  os pomares, as vinhas, a casa, os vizinhos, os amigos, os camaradas. Sobretudo os camaradas. E matas, para não morreres".

"É doce morrer pela pátria, diz o meu capitão".

"É doce a guerra, meu amor, mas é para quem não anda nela".

"Mas tu deves cheirar a pólvora, meu soldadinho, e eu a incenso".


13. Fora de portas, num atalho ou trilho que leva ao monte das forcas, compras o último pão de centeio, puro, duro e escuro, e a última boroa, já bolorenta, de milho, à última padeira de Aljubarrota que ainda estava viva, à hora do pôr do sol. Padeira, precisa-se, dão-se alvíssaras. E artilheiros, que saibam ler e escrever, por causa do manual de instrução.

Padeira, viandeira, de peito farto, mãe coragem, altiva, que nem sempre o que parece é, a vitória ou a derrota, medindo forças no tribunal da história. Não há tropa que caminhe para o combate com o estômago vazio.

14. Águas paradas do Rio Alcabrichel, tingidas de verdete e de sangue, no fim de tarde de todas as batalhas. “Pour Monsieur Junot, c’était encore trop tôt!”, manda dizer o ajudante de campo, enquanto sobe para a carruagem do comboio que o levará ao inferno. 


"O arco de triunfo, espera-te, idiota!, para que no alto, no pau da bandeira, te enforquem os milhares de homens que tu mandaste para a morte, em fila, organizados!".

As freiras improvisaram um hospital de campanha com bandeira branca e bufê. Que quadro idílico, patriótico, humanitário, que ternura!...

Saqueada a cidade, enchem-se as tulhas, despejam-se as talhas, ainda a guerra é uma criança, e quem não viu não crê, como são Tomé, acrescenta o enviado especial da TV em apontamento de reportagem. Teve o seu momento de glória, acabando por ser vítima do fogo amigo.



15. O último terno de cornetins da fanfarra do exército dizimado toca a silêncio, enquanto te despedes na parada, em ruínas, do quartel. Uma despedida que te destroça o coração, como todas as despedidas em tempo de guerra.

Em boa verdade, nem todos os que vão à guerra são soldados. Mas em todas as guerras só os soldados mortos não falam. E o silêncio é, afinal, a única linguagem universal que tu conheces, na Torre de Babel.
[1]

Lourinhã, Vimeiro, fim de verão, agosto de 2014. Revisto

[1] Périplo pelas terras da Lourinhã, em 15 passos, entre a Praia de Paimogo e a Praia de Porto Novo, fim de verão, 2014. Aqui desembarcaram tropas luso-inglesas que derrotaram Junot, general de Napoleão, na batalha do Vimeiro, em 21 de agosto de 1807, depois da Roliça (a 17).
____________

Nota do editor:

Último poste da série >  23 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20088: Manuscrito(s) (Luís Graça) (169): Viagens ao fundo da (minha) terra e outros lugares: Parte I - O rio Grande...

terça-feira, 30 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P20022: Os nossos seres, saberes e lazeres (346): Viva a confraria da batatada de peixe seco (Luís Graça)



















Lourinhã, "capital dos Dinossauros" > Ventosa  > Festa anual > ACR da Ventosa > 29 de julho de 2019 > Batatada de peixe seco...  A Lourinhã não é apenas a capital dos dinossauros, e da aguardente DOC, é também a capital da batatada de peixe seco: Ribamar, Marquiteira e Ventosa, rivalizam em matéria no campeonato das terras da Lourinhã (e de Portugal) com a melhor "batadada de peixe seco"... 

Entretanto, é urgente que se crie a respetiva confraria para se poder salvaguardar e promover esta iguaria popular, outrora comida dos "pobres", que fazia parte da "segurança alimentar" no inverno, hoje, produto "gourmet" (batata, cebola, raia, sapata, safio, cação, etc.: é um daqueles pratos do tudo ou nada, como a lampreia: ou se gosta ou se odeia; mas confesso que é um espetáculo ver centenas de pessoas a comer esta iguaria, em meses compridas, numa coletividade ou associação como a ACR da Ventosa). 

No final da refeição, o digestivo é a fabulosa aguardente vínicola DOC Lourinhã, uma das três DOC do mundo (Cognac, Armagnac e Lourinhã).

Nas fotos, a contar de cima para baixo: na 4ª, a famosa aguardente vínica DOC Lourinhã,na 5ª, os nossos camaradas Joaquim Pinto Carvalho e Belarmino Sardinha, representando a delegação do Cadaval (, o Pinto Carvalho trouxe a esposa mais uma prima, o Sardinha, a esposa e dois dos seus netos); na 6ª, o presidente da câmara municipal da Lourinhã, engº João Duarte, ao centro, sentado, ladeado à sua esquerda, pelo presidente da direção da ACR Ventosa; e à sua direita, por um antigo combatente; na 7ª, o nosso camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva, e a esposa, Dina; na 8ª, a Maria João Picão (que vive e trabalha em Macau) com o mano Jaime; na 9ª a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro, com o 'canito' do Jaime e da Dina, ladeada pela Maria do Céu Pinto de Carvalho; na 10ª, o Pinto Carvalho a falar com o presidente da junta de freguesia de Ribamar, o nosso comun amigo Pedro Rato, com o Rogério Gomes (, que foi alferes miliciano em Angola), e a Esmeralda, mana do Jaime; na 11ª, o principal salão de festas da ACR da Ventosa, antes do início das "hostilidades", ainda vcazio; na 12ª, um dos jogos tradicionais da festa anual da Ventosa, o de espetar pregos, com um martelo, num cepo de madeira; na 13ª, a rotunda dos dinossauros, na Lourinhã.

Recorde-se que foi nos altos da Ventosa, hoje parte integrante da freguesia de Santa Bárbara, Lourinhã,  que se começou a desenhar a derrota das tropas napoleónicas, comandadas por Junot, na batalha do Vimeiro, em 21 de agosto de 1808.


Fotos (e legenda): © Luís Graça(2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






Cartaz da festa da Ventosa, Lourinhã, de 27 a 29 de julho de 2019



Em louvor da futura confraria
da batatada de peixe seco
com sede na ACR da Ventosa 



1
Viva a Ventosa do Mar
E a sua Associação,
Tem uma festa sem par
Que se celebra no verão.

2
Que se celebra no verão
E termina… à batatada,
E aquele que é comilão,
Traz consigo um camarada.

3
Traz consigo um camarada,
Que peixe seco adora,
Um prato do tudo ou nada,
Que foi dos pobres outrora.

4
Que foi dos pobres outrora,
Comida mais do inverno,
No céu não há disto, agora,
Muito menos no inferno.

5
Muito menos no inferno
Há semelhante iguaria,
E eu tive um sonho fraterno,
Sonhei com uma confraria.

6
Sonhei com uma confraria
Desta batata gostosa,
E que a sede até seria
Na ACR da Ventosa.

7
Na ACR da Ventosa,
Que tão bem sabe receber,
Um terra venturosa,
Que merece fama ter.

8
Que merece fama ter,
P’lo peixe seco e sua gente,
E o João Duarte há de ser…
O senhor presidente!

9
O senhor presidente
Há-de puxar esta carroça,
Ou não fosse filho eminente,
Desta terra de gente moça.

10
Desta terra de gente moça,
De antepassado valente,
Que deu uma grande coça
Ao Junot e seu contingente.

11
Ao Junot e seu contingente,
Vencidos todos a eito,
Nunca lhes passou pelo estreito,
Tal comida adstringente.

12
Tal comida adstringente,
Batata, cebola, raia,
Faz do cagarolas valente,
E mulher, de uma catraia.

13
E mulher, de uma catraia,
De pelo na venta mas formosa,
Mariscadora na praia,
Honrando sempre a Ventosa.

14
Honrando sempre a Ventosa,
Terra de nobre tradição,
P’ra sua gente corajosa,
Vai o nosso xicoração.

15 

Vai o nosso xicoração
P’rós mordomos desta festa,
Desculpem esta invasão,
… Mas não há janta como esta!


Viva a Confraria da Batatada de Peixe Seco,
com sede futura no ACR [Associação Cultural e Recreativa] da Ventosa

Luís Graça e mais 15 amigos da Lourinhã, do Cadaval e de Macau (RP China).

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 27 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20015: Os nossos seres, saberes e lazeres (345): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (7) (Mário Beja Santos)

sábado, 20 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19996: Agenda cultural (695): o fabuloso grupo musical Galandum Galundaina, 4 vozes, 20 instrumentos, os sons únicos, ancestrais, das Terras de Miranda, Nordeste Transmontano, hoje, às 24h00, na "Batalha do Vimeiro, 1808", Vimeiro, Lourinhã


Foto do grupo Galandum Galundaina: da esquerda para a direita: (i) Paulo Preto:  voz, sanfona, gaita de fole mirandesa, dulçaina, flauta pastoril e tamboril; (ii) Paulo Meirunho: voz, bombo, rabel, gaita de fole, realejo, garrafa, castanholas, pandeireta, pandeiro mirandês; (ii) Alexandre Meirunhos: voz, caixa de guerra, bombo, pandeireta, pandeiro mirandês, tamboril, cântaro, almofariz; (iv) João Pratas: voz, flauta pastoril , flauta de osso, tamboril , saltério, flauta transversal, bombo, pandeiro mirandês, charrascas


Hoje, 20 de julho, às 24h00, no Vimeiro, Lourinhã, no âmbito do Programa da Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro de 1808 e Mercado Oitocentista, Vimeiro, Lourinhã, 19, 20 e 21 de julho de 2019 (*).

Entrada gratuita!




Sobre o Galandum Galundaina:

Faz parte da genealogia de uma região com um património musical e etnográfico único, que durante muito tempo ficou esquecido. 

Ao longo dos últimos 20 anos o grupo contribuiu para o estudo, preservação e divulgação da identidade cultural das Terras de Miranda, Nordeste Transmontano.

O seu trabalho de investigação e recolha, junto de pessoas mais velhas com conhecimentos rigorosos do legado musical da região, a par da formação académica na área da música, concretizou-se num sentido renovado no modo de entender as sonoridades que desde sempre conheceram. 

Com a sua música não procuram criar novos significados, mas antes descrever os lugares e a vida; encontrar as raízes que permitem que a cultura se desenvolva.

Para além da edição de três discos e um DVD ao vivo, o trabalho do grupo inclui:

(i) a padronização da gaita-de-foles mirandesa;

(ii) a construção de instrumentos tradicionais (usados em concerto);

(iii)  a organização do Festival itinerante de cultura tradicional “L Burro i l Gueiteiro”;

(iv) bem como a produção e programação de outros festivais/eventos relacionados com a cultura tradicional.

Em palco os quatro elementos apresentam um repertório vocal e instrumental na herança do cancioneiro tradicional das Terras de Miranda, onde as harmonias vocais e o ritmo das percussões nos transportam para um universo atemporal. 

Das memórias da Sanfona, da Gaita-de-foles Mirandesa, da Flauta pastoril, do Rabel, do Saltério, do Cântaro, do Pandeiro mirandês, do Bombo e da Caixa de Guerra do avô Ventura, nasce uma música que acumula referências, lugares, intensidades, tempos. 

Para Galandum Galundaina a música não se inventa; reencontra-se.

Os álbuns editados têm tido uma excelente apreciação pela crítica especializada. Em 2010 para além da atribuição do Prémio Megafone, o álbum Senhor Galandum foi reconhecido pelos jornais Público e Blitz como um dos dez melhores álbuns nacionais. 

Do seu roteiro fazem parte alguns dos mais importantes Festivais de World Music/Folk em Portugal, Espanha, França, Itália, Bélgica, Alemanha, Marrocos, Cuba, Cabo Verde, Brasil, México e Malásia.

Fonte: Página do Galandum Galundaina
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 10 de julho de  2019 > Guiné 61/74 - P19965: Agenda cultural (694): Programa da Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro de 1808 e Mercado Oitocentista, Vimeiro, Lourinhã, 19, 20 e 21 de julho de 2019: entrada gratuita (Eduardo Jorge Ferreira)

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19965: Agenda cultural (694): Programa da Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro de 1808 e Mercado Oitocentista, Vimeiro, Lourinhã, 19, 20 e 21 de julho de 2019: entrada gratuita (Eduardo Jorge Ferreira)








Programa da Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro de 1808 e Mercado Oitocentista, Vimeiro, Louirnhã, 19, 20 e 21 de julho de 2019.


Mensagem, de hoje, do nosso camarada, amigo e conterrâneo, Eduardo Jorge Ferreira:

[(i) professor de educação física, reformado;

(ii) tem mais de 4 dezenas de referências no nosso blogue; 

(iii) entrou para a Tabanca Grande em 31/8/2011; 

(iv)  foi alf mil da Polícia Aérea, na BA 12, Bissalanca, de 20 de janeiro de 1973 a 2 de setembro de 1974, colocado na EDT (Esquadra de Defesa Terrestre); 

(v)  presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro; 

(vi) noutra encarnação foi sargento, integrado no exército luso-britânico que derrotou o exército napoleónico na batalha do Vimeiro, Lourinhã, em 21 de agosto de 1808;]

(vii) natural do Vimeiro, Lourinhã, residente em A dos Cunhados, Torres Vedras]


Meus (minhas) caros(as) amigos(as):

Junto envio em anexo o programa da recriação da Batalha do Vimeiro e Mercado oitocentista, a decorrer já nos próximos dias 19,20 e 21 deste mês.

Se vos aprouver passar por cá serão bem-vindos e decerto não dareis o vosso tempo por mal empregue.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17644: Efemérides (262): recriação histórica da batalha do Vimeiro (1808). Parada e desfile na vila da Lourinhã, dos grupos de recriadores (Portugal, Espanha, França e Inglaterra)



Vídeo (0' 38'') > You Tube > Luís Graça (2017)


Vídeo (1' 12') > You Tube > Luís Graça (2017)





Foto nº1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Recriação da batalha do Vimeiro (1808). Desfile dos grupos de recriadores (oriundos de Portugal, França, Espanha e Inglaterra) pelas ruas da Lourinhã em direção à Praça José Máximo da Costa. Cerimónia do hastear de bandeiras junto ao edifício dos Paços Município, seguida de mensagem de boas-vindas do Presidente da Câmara, eng João Duarte.


Fotos e vídeos: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Recorde-se que a Batalha do Vimeiro foi travada no dia 21 de agosto de 1808 entre o Exército Francês, comandado por Junot, e o Exército Anglo-Luso, sob o comando de Arthur Wellesley.

Após os combates na Roliça (que integra hoje o concelho de Bombarral),  no dia 17 de agosto,  Arthur Wellesley marcha para a zona do Vimeiro, Lourinhã,  a fim de fazer o desembarque de reforços na Praia de Porto Novo (, concelho de Torres Vedras).

As tropas anglo-lusas mantiveram uma posição defensiva no Vimeiro, aproveitando a geografia do terreno. Os franceses, reunidos em Torres Vedras, decidiram tomar a ofensiva, chegando à Carrasqueira na manhã de 21 de agosto. A partir desse ponto, Junot (antigo embaixador da França em Portugal...) deu ordem de marcha para a batalha.

Os confrontos mais importantes e decisivos aconteceram no outeiro do Vimeiro. Após dois ataques fracassados e percebendo a impossibilidade de tomar o outeiro, Junot enviou tropas para tomar a localidade. Na zona da igreja, travou-se uma sangrenta peleja que acabou com a retirada dos franceses, perseguidos pela cavalaria anglo-lusa.

Sem conhecimento da situação do flanco esquerdo, duas brigadas francesas confrontaram os britânicos nos altos da Ventosa. Uma vez mais, os franceses viram-se forçados a recuar.

A batalha do Vimeiro foi uma vitória inegável do Exército Anglo-Luso sobre as forças da França Imperial, pondo termo à Primeira Invasão Francesa. Junot perdeu cerca de 2000 homens, entre mortos, feridos e prisioneiros e o exército anglo-luso cerca de 700.

Fonte: Sítio do Município da Lourinhã.

Para saber mais:
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segunda-feira, 24 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17615: Efemérides (261): D. Manuel II (1889-1932), último rei de Portugal, no Vimeiro, Lourinhã, em 21/8/1908, para a inauguração do monumento comemorativo do 1º centenário da batalha do Vimeiro (1808): Reconstituição histórica.


 Lourinhã > Vimeiro > Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro [1808] > 14 de julho de 2017 > Reconstituição histórica da chegada de D. Manuel II que  veio inaugurar, em 21/8/1908, o monumento comemorativo do 1º centenário da batalha do Vimeiro.

Vídeo (0' 42'') > You Tube > Luís Graça (2017)




Foto nº 1


Foto nº 2  

Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7



Foto nº 8



Foto nº 9


Foto nº 10



Foto nº 11


Foto nº 12


Foto nº 13


Foto nº 14

Lourinhã > Vimeiro > Local do Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro [1808] e Monumento do 1º Centenário da Batalha do Vimeiro > 14 de julho de 2017 > Reconstituição da chegada de D. Manuel que inaugurou, em 21/8/1908, o monumento comemorativo do 1º centenário da batalha do Vimeiro.


Vídeo, fotos e legendas: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Foi um evento que atraiu ao Vimeiro, Lourinhã, milhares de turistas, a recriação da batalha do Vimeiro (1808) e o mercado oitocentista, nos dias 14, 15 e 16 do corrente. (*)

Fomos lá inauguração do evento, eu, o Jaime Bonifácio Marques da Silva e o Joaquim Pinto de Carvalho (mais as "respetivas": Alice, Dina e Maria do Céu) e tivemos oportunidade de dar um abraço ao nosso amigo e camarada Eduardo Jorge Ferreira [ex-alf mil, Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1973/74, presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro  e um dos naturais da terra mais entusiastas desta recriação. É ele, de resto, quem dá a instrução militar aos voluntários do Vimeiro que fazem parte das forças portuguesas (Fotos nº 2, 3, 4).

O Eduardo tem subido rápido na hierarquia militar, começou como  simples 1º cabo exército português, foi promovido por mérito a sargento, agora deve ser alferes:  ainda não vi o seu CV militar atualizado. Mas a responsabilidade é grande, a de comandar homens... para a glória e para a morte (foto nº 4). Sei que empunha uma enorme lança com mais de 3 metros: "Infelizmente não é para usar contra os franceses, sim contra os portugueses, metade dos quais aproveita a mais pequena oportunidade para desertar!!!"... Ontem como hoje, o patriotismo é uma "folha de tipo excel" com duas colunas, o deve e o haver... Os figurões não morriam no campo de batalha e o seu patriotismo era da treta. (Parece que não era o caso do D. Manuel II que, mesmo no exílio, pouco dourado, não deixou esmorecer o amor à sua Pátria.).

Assistimos, mais de 100 anos depois, à chegada do nosso pobre rei D. Manuel II  que vinha inaugurar o monumento do 1º centenário da batalha (fotos nº 11 a 14), na sua primeira visita oficial fora de Lisboa.  Parece que na época o concelho da Lourinhã não lhe era muito favorável, nem a ele nem à casa de Bragança, nem à bandeira azul e branca. Mesmo assim foi recebido pelas "forças vivas" da terra (nobreza, clero e povo....) com vivas à Monarquia (fotos nº 6 a 10). 


O jovem rei Dom Manuel II (Lisboa, 15/11/1889-Londres, 2 de julho
de 1932).

Fonte: Arquivo da Junta de Freguesia do Vimeiro,
Lourinhã,disponível aqui
.
2. O jovem, que as trágicas circunstâncias do regicídio de 1908, obrigaram a ser rei, terá proferido o seguinte discurso, depois dos discursos oficiais, em que intervieram o gen João Carlos Rodrigues da Costa, presidente da Comissão Nacional das Comemorações do Centenário da Guerra Peninsular, e o gen Sebastião Custódio de Sousa Teles, ministro da guerra:
«Meus senhores (**):

Celebra-se, hoje, o centenário do combate do Vimeiro.

Aqui nos reunimos para solenemente consagrar imorredoiro padrão ao brilhante feito de armas, primeiro, dessa longa série, através da qual se afirmaram o patriotismo dos nossos maiores e a sublime decisão do nosso povo na defesa da sua independência e libertação do solo sagrado da Pátria!

O General Rodrigues da Costa e o meu Ministro da Guerra, sr. General Sebastião Teles, deram-nos a impressão quente e sentida de que foi essa Guerra Peninsular, esses período doloroso da nossa história, dos mais difíceis que Portugal tem ultrapassado e do qual ressurgiu coberto de louros e de glória, colhidos pelo seu exército, alcançados pelo seu povo!

Angustiosa mas extraordinária época, em que
Vimeiro, 14/7/2017.  "E vivó o Rei!"!... Foto de LG.
 tivemos a lutar a nosso lado, quem não posso, nem quero neste momento esquecer, a Inglaterra, a grandiosa Nação, desde séculos nossa aliada e empenhada na mesma contenda, e a vizinha e amiga Espanha, nossa irmã na Península.

Não me cabe, nem me proponho fazer o quadro brilhante, que perante os vossos olhos foi posto nas orações precedentes. Mas, não podia faltar neste lugar e nesta ocasião, e vindo, não me consinta o meu coração de verdadeiro Português o indiferente silêncio.

Aqui se reúne o Povo em piedosa e patriótica romagem; e, vindo o Povo com ele vem o seu Rei para o acompanhar nas suas patrióticas expansões que em absoluto sente, para proferir estas singelas palavras à memória daqueles que há cem anos neste mesmo lugar e neste mesmo dia, aqui pelejaram e venceram o combate do Vimeiro!

Honra e Glória aos libertadores da Pátria!

Meus senhores:

Quando releio e relembro toda a nossa História, a formação da nossa nacionalidade, as nossas descobertas e conquistas, a nossa expansão e domínio, a áspera defesa da nossa independência, por vezes ameaçada e sempre mantida, e como foi durante esta Guerra Peninsular, de que hoje celebramos o primeiro episódio, sinto evadir-me o orgulho, de um modo tão sublime, expresso nos versos do nosso grande épico:

“E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de tal gente.”
Sim: Rei de tal gente! Com ela e ao lado dela sempre.» (***)

Para saber mais ver aqui a página do Facebook do Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro.



Lourinhã > Vimeiro > 21 de agosto de 1908 > O Zé Povinho que nunca tinha visto o rei... O mesmo Zé Povinho que lutou com toscas armas (foto nº 5) contra o invasor francês (e seus aliados), no  âmbito da guerra peninsular (1807-1814). Em 1908 alguns dos seus filhos combatiam em África no âmbito das "guerras de pacificação",  na sequência do Ultimato Inglês de 1890 e da Conferência de Berlim de 1884/85 que apressaram o fim da  monarquia em Portugal (5 de outubro de 1910). E, meio século depois, eram mobilizados para a "guerra do ultramar" (1961-1974). Um dos camaradas que morrerá em combate, na Guiné, será o soldado paraquedista da 3ª CCP / BCP 12, Carlos Alberto Ferreira Martins (1950-1971), natural de Toledo, freguesia do Vimeiro, concelho de Lourinhã.


Foto:  Arquivo da Junta de Freguesia do Vimeiro, Lourinhã,disponível aqui. (Com a devida vénia...)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17546 Agenda cultural (571): Recrição da batalha do Vimeiro, de 1808, e mercado oitocentista: Vimeiro, Lourinhã, 14, 15 e 16 de julho de 2017 (Eduardo Jorge Ferreira, ex-alf mil, Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1973/74; presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro)

(**) In: CIPRIANO, Rui Marques -  Comemorações do Primeiro Centenário da Batalha do Vimeiro. Lourinhã: Câmara Municipal da Lourinhã, 2008.

Vd. também a página de Ribamar - Agrupamento de Escolas > A República na Lourinhã

(***) Último poste da série > 17 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17592: Efemérides (260): O dia em que entrei para a tropa... Foi há 50 anos, em 10/7/1967, na EPC, Santarém (Valdemar Queiroz, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]