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quinta-feira, 7 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23149: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXV: O "meu" regresso à Guiné (1): Enfim, pontes em vez de...muros!

 

Foto  1>  Guiné-Bissau>  Região do Cacheu > Rio Cacheu > S. Vicente >  2010 > Ponte de S. Vicente (Ponte Europa) sobre o Rio Cacheu, ligando S. Vicente ao Ingoré.  Construída pela Soares da Costa.


Foto 2> Guiné-Bissau> Região do Cacheu > Rio Cacheu > S. Vicente > 2008 > Ponte de S. Vicente em construção. Vd. blogue criado na altura por Pedro Moço (e que ainda está "on line"). obre o período de outubro de 2007 a junho de 2011. Tiago Costa também lá escreveu.



Foto 3 > Guiné Bissau> Região do Cacheu > S. Vicente > A travessia do Rio Cacheu, antes da ponte, era feita por um "ferry" que transportava veículos e pessoas (e, claro, porcos galinhas a cabras!), de seu nome “Saco Vaz”. nome de um herói de guerra guineense




Foto 4 > Guiné-Bissau> Região do Cacheu > Rio Cacheu > S. Vicente> 2009 > Mais uma travessia da “Saco Vaz”, depois de longos dias parada devido a mais uma avaria. Em frente a ponte promete desenvolvimento, contudo a "Saco Vaz"  vai deixar saudade…



Foto 5 > Guiné-Bissau> Região de Cacheu> S. Vicente> 2008 >  Festa de Natal > A cumplicidade com as gentes de S. Vicente mitigava as saudades de Portugal. Ninguém fica indiferente à afabilidade destas gentes. Como família se reuniram nos estaleiros da empresa para festejarem, conjuntamente, o Natal, onde as prendes às crianças, como em qualquer outra família, é o ponto alto da festa> 

 

Foto 6> Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Rio Cacheu >  S. Vicente > 2009 >  Jaime Gama,  chefiando os representantes dos financiadores da obra (a União Europeia), numa visita à construção da ponte, cujo nome oficial é “Ponte Europa”. O Tiago Costa é o quarto a contar da direita. É engenheiro civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

A ponte Euro-africana tem 730 metros de comprimento, 11 metros de largura total,  dividido em duas faixas de rodagem de três metros e meio e dois passeios. O finaciamento da UE foi de 31 milhões de euros.



Foto 7 > Guiné Bissau> Cacheu> S. Vicente > A equipa de trabalhadores da Soares da Costa que construiu a Ponte de S. Vicente. O  Tiago Costa é o terceiro da esquerda da primeira fila.



Foto 8 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > S. Vicente> A equipa de trabalhadores guineenses contratados pela Soares da Costa (Era conhecida pela equipa maravilha!) 


Fotos (e legeendas) © Tiago Costa / Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Joaquim Costa, hoje e ontem. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondamar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado. Foi também professor.

Já saiu o seu livro de memórias (a sua história de vida),
de que temos estado a editar largos excertos, por cortesia sua.
Tem um pósfácio da autoria do nosso editor Luís Graça (*)


Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (*)


Parte XXV - O "meu" regresso à Guiné (1): Enfim!, pontes em vez de muros


Aproveitando o facto de ter o meu filho Tiago (Engenheiro  Civil da Soares da Costa) a trabalhar na Guiné (de 2007 a 2009), na construção de uma ponte sobre o rio Cacheu, junto a S. Vicente, considerei fortemente a possibilidade do meu regresso à Guiné, aproveitando toda a logística da empresa em termos de mobilidade e segurança. 

Fui planeando com entusiasmo o meu regresso não só aos locais mais marcantes no tempo de guerra, mas também, uma visita às várias ilhas do arquipélago dos Bijagós, e, se possível, ao Senegal e à Gâmbia. Por razões várias, a visita foi sempre adiada e, infelizmente, nunca chegou a acontecer.

Concretizei o “regresso”, por interposta pessoa, neste caso o meu filho, que não obstante as dificuldades colocadas na construção de uma ponte de grande complexidade no meio do nada e onde tudo falta, deu ainda para conhecer toda a Guiné continental, as mais importantes ilhas dos Bijagós e fazer umas incursões aos "resorts" do Senegal e da Gâmbia.

 

Imagens arcantes durante a construção da ponte. 


Foto 9 > Guiné Bissau> Região de Cacheu> S. Vicente> A segurança do estaleiro da Soares da Costa era levada muito a sério. Para além do musculado guarda, havia sinalética  (ISTOP) e equipamentos de intrusão sofisticadíssimos 


Foto 10


Foto 11

 
A grande família da Obra de S. Vicente, na Guiné-Bissau, conta com um novo e surpreendente membro. O seu nome é Vicentina, tem uns poucos meses de idade, e uns belos e sedutores olhos castanhos. (Fotos  1o e 11).

A Vicentina rapidamente seduziu todos os trabalhadores, com o seu ar frágil e inseguro, e a sua graciosidade própria das gazelas.

Dada a sua tenra idade, foi no início da sua estadia alimentada a biberão, com toda a paciência e desvelo. Passada a infância, mais arisca, mais confiante, já se desloca pelo estaleiro, comendo tudo o que é verde no jardim, e confraternizando com a restante equipa técnica. Foi a mascote da obra e já faz parte das vidas de todos, com o seu ar que desperta ternura.

Seria uma ótima companhia para a Cabra Joana que a minha Ccav 8351 trouxe de Nhacobá para o Cumbijã, em 1973, na operação Balanço Final.

(Fonte: Fotos 9, 10 e 11: Cortesia do blogue Construção da Ponte S. Vicente - Guiné Bissau

(Continua)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 8 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23057: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXIV: O regresso a casa, com a cidade do Porto a abrir os seus braços só para mim

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21493: Notas de leitura (1318): "Guia turístico: À descoberta da Guiné-Bissau", 2ª ed., 2018, 176 pp. Uma notável iniciativa da ONGD Afectos com Letras, com apoio da União Europeia.



Capa






Contracapa


À descoberta da Guiné-Bissau : guia turístico / Joana Benzinho, Marta Rosa ; il. Jorge Mateus, Nuno Tavares. 2a ed. rev. e atualiz. [S.l.] : Afectos com Letras, 2018, 176 pp- ISBN 978-989-20-6252-5.


Disponível em pdf, em 4 versões (em português, inglês, francês e espanhola). Descarregar aqui a versão portuguesa:

Versão portuguesa - Guia Turístico: À Descoberta da Guiné-Bissau

 
A 2ª edição, revista e aumentada, deste belo livro, escrito a quatro mãos, foi lançada em março de 2018, e apresentada em Bissau em 10/5/2018. É um edição da ONGD Afectos com Letras ( que tem sede em Pombal), com apoio da União Europeia. Esta ONGD tem já mais de dez referências no nosso blogue.

Sobre o "making of" do livro, vale a a pena reler ou reler uma crónica da sua primeira autora, Joana Benzinho, publicada na "Bird Magazine", na devida altura. É também um convite para os nossos leitores descarregarem o livro, em formato digital, lerem-no, divulgarem-no e fazerem chegar, ao nosso blogue, algumas notas de leitura ou simples comentários. (**)

Para alguns dos nossos leitores vai permitir o regresso a lugares (vd. índice alfabético do livro) que ficaram, com marcas indeléveis, na sua memória da guerra, desde Bambadinca a Buba, passando pelo Boé, ou desde Mansoa a Gabu, passando pelo Saltinho e Guileje ... Para outros, pode ser um sugestão para uma viagem... "on line" à Guiné-Bissau, que tem hoje o triplo da população do nosso tempo, mais de 1,5 milhões de habitantes, metade dos quais têm menos de 18 anos, Existem entre 27 e 40 grupos étnicos.

E há lugares de que ouvimos falar pela primeira vez... É o caso de Nhampassaré (p. 101):

(,..) "Nas imediações de Gabú, é possível visitar as Grutas de Nhampassaré, onde se encontra reunido um património de valor arqueológico e natural notável. Aqui, podemos ver as referidas grutas ocupadas pelo homem pré-histórico com alguns vestígios de gravuras e formações em quartzito com várias formas de erosão produzidas pela natureza, nomeadamente com formas colunares. A gruta e as pedras gigantescas de Nhampassaré são, de facto, uma fascinante obra natural e terão sido habitadas pela primeira vez na época do neolítico. Neste local, também existe um santuário muçulmano, onde é comum as pessoas fazerem pedidos." (...)

Ficamos a saber também que, de acordo com o censo de 2009, os grupos étnicos com maior expressão na Guiné-Bissau, são os Fulas (28,5%) que vivem essencialment no leste do país (Bafaté e Gabu), seguidos dos Balantas (22,5%)) que se encontram principalmente na região Sul (Catió) e Norte (Oio), e dos Mandingas (14,7%), que vivem no Norte do país. Em 4º e 5º lugares, vêm os os Papéis (9,1%) e os Manjacos (8,3%). Balantas, Papéis e Manjacos são essemcialmente povos ribeirinhos.

Os indicadores de desenvolvimento mostram que praticamente metade da população (48,9%) da população vive em condições de extrema pobreza, com menos de $1,25 dólares por dia. Só 13% falam português, a língua oficial, a par do crioulo (que só 60% entende)...Há cerca de 20 línguas locais, fazendo a Guiné-Bissau uma autêntica Babel... Além da sua diversidade cultural, é um país, com uma espantosa biodiversidade, tendo em conta o seu diminuto tamanho (o equivalente ao nosso Alentejo). Basta referir, por exemplo, que estão identificadas mais de 370 espécies de aves, Tem 5 (cino!) parques nacionais... Infelizmente, na agricultura, continua a predominar a monocultura do caju (, que sucedeu à mancarra colonial), e de cuja exportação a Guiné Bissau está dependente: representa mais de 90% das exportações, mais de 60% do PIB e cerca de 17% das receitas fiscais...

Em suma, um país que nso diz muito e que vale a pena conhecer, visitar ou revisitar... E o turismo, se sustentável, pode ser uma alavanca para o tão necessário e desejável desenvolvimento integrado, que continua a ser uma miragem desde a independência, em 1974.

No entanto, com os problemas de saúde que já têm ou começam a ter os antigos combatentes portugueses que lá estiveram entre 1961 e 1974, torna-se cada vez menos exequível (e recomendável) um regresso (feliz e seguro) à terra onde passaram dois anos das suas jovens vidas, agora em "turismo de saudade".

Há regiões da Guiné, como por exemplo, o Boé ou quase todas as ilhas do arquipélago dos Bijagós onde é extremamente difícil (e caro) chegar. E os preços que as agências de turismo praticam ainda são incomportáveis para as nossas bolsas. Vamos ver, daqui a uns meses, as ofertas turísticas pós-pandemia Covid-19.

Mas àparte as acessibilidades, o país não pode oferece ainda, ao turista estrangeiro, grandes garantias de apoio sanitário, em caso de acidente ou doença súbita... O hospital mais próximo é... Dacar, no Senegal. E as infraestruturas hoteleiras são extremamente rudimentares...

A primeira edição deste guia é de 2016. Alguns reparos nossos foram corrigidos (*). E esta 2ª edição é altamente meritória e profissional, com excelente ilustração e boa execução gráfica. Merece seguramente uma leitura, mais crítica e atenta, da nossa parte, numa próxima oportunidade. Joana Benzinha, uma "mulher de armas", mas também dotada de uma grande sensibilidade sociocultural e ecológica, explica aqui o impacto que teve, na sua vida, a primeira descoberta da Guiné-Bissau em 2008. (LG)


GUINÉ-BISSAU: A VIAGEM DA MINHA VIDA

por Joana Benzinho


[Com a devida vénia à autora e ao editor...)

Aterrei pela primeira vez na Guiné-Bissau em Agosto de 2008, com muita chuva , para duas semanas de férias que iriam moldar o meu futuro e levar à criação da ONG Afectos com Letras que tem levado a cabo um trabalho intensivo na área da educação, no apoio às mulheres e na criação de bibliotecas por todo o país.

E foi nessa condição inicial de turista que conheci a enorme dificuldade em encontrar informação sobre as características económicas, sociais, culturais ou geográficas do país. 

Depois de uma busca demorada por livrarias em Portugal e na Bélgica acabei por encontrar no Amazon um guia dos anos 90, completamente desfasado da realidade do país que passou por momentos difíceis com uma guerra em 1998 que o desvirtuaram de algumas das suas características arquitectónicas mas não ao abalaram a sua fabulosa biodiversidade.

Surgiu assim em 2015 a possibilidade de passar para o papel o muito que palmilhei e conheci na Guiné-Bissau, numa parceria com a União Europeia e em co-autoria com a Marta Rosa em nome da Afectos com Letras. Este Guia Turístico, a quem demos o nome “À descoberta da Guiné-Bissau” veio colmatar uma falha sentida por quem queria visitar a Guiné e permitiu também aos próprios guineenses conhecerem o seu país de uma forma mais aprofundada.

A procura da primeira edição, de Fevereiro de 2016, superou todas as nossas expectativas e cruzou fronteiras e oceanos. Fomos contactadas desde o Brasil, a Cuba, Alemanha ou Suécia por pessoas interessadas no guia. Chegou a vários países como presente oficial em visitas de Estado, o que muito nos honrou. E isso é sintomático da falta que fazia e do interesse que suscitou. 

É um trabalho que nos fez correr centenas de quilómetros e outras tantas milhas em busca do mais interessante para dar a conhecer deste maravilhoso país que é a Guiné-Bissau. Posso dizer que foi esta “A Viagem” da minha vida.

Agora, dois anos passados, o guia caba de regressar numa segunda edição revista e atualizada, apresentada esta semana em Bissau.

A Guiné-Bissau tem variados recursos que podem ditar uma mudança positiva no seu futuro e um turismo sustentável é claramente um deles. Foi precisamente isso que tentámos trazer até ao leitor, o melhor deste país berço de uma biodiversidade fabulosa e detentor de um arquipélago de quase 100 ilhas onde a palavra paraíso encontra a sua definição e o seu conteúdo.

Este Guia serve vários propósitos e públicos que vão desde o turista clássico, ao investidor que procura informação sobre o país, passando pela simples curiosidade de quem quer aumentar a cultura geral sobre as suas características ou para dar a conhecer aos guineenses, residentes no país ou na diaspora, as belezas que a Guiné abriga.

O Guia Turístico “À descoberta da Guiné-Bissau”, está disponível em papel nas versões portuguesa, inglesa e francesa e pode também ser descarregado gratuitamente nestas três versões e ainda na versão espanhola.

A quem não conhece este paraíso, fica a sugestão de um passeio pelas páginas do livro. Quem sabe se uma viagem até Bissau não mudará a vossa vida, como mudou um dia a minha, já lá vão nove anos.

Joana Benzinho

[ Licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra, Diplomada em Direito Europeu pelo Institut d'Études Européens - Université Libre de Bruxelles e Diploma da Academia Diplomática Europa e pelo Institut Européen des Relations Internationales. Assessora Parlamentar no Parlamento Europeu desde 1999. Fundadora da Associação Afectos com Letras, criada em 2009 e professora de informática de emigrantes portugueses na Bélgica em regime de voluntariado desde 2004. "A minha casa é a minha de viagem", vd. a sua página no Facebook ]


2. Amostra (por ordem alfabética)  de projetos financiados pela União Europeia (entre 201o e 2020), e citados no "guia turístico":

O guia turístico não podia deixar de referir, com algum detalhe, os diversos projetos de desenvolvimento apoiados com o dinheiro dos contribuintes europeus, entre 2010 e 2020. É uma amostra:

Áreas Protegidas e Resiliência às Mudanças Climáticas, regiões de Quinara, Tombali,Gabú, Bafatá, Cacheu, Bolama-Bijagós: c. 3,9 milhões de euros (p.  27);

Bafatá Misti Igua, Bafatá, c. 880 mil euros (p. 89);

Bambadinca Sta Claro  – Programa Comunitário para Acesso a Energias Renováveis, Bambadinca: c. 1,6 milhões de euros (p. 93)

Bubaque Cidade Aberta, ilha de Bubaque, arquipélago dos Bijagós; c. 480 mil euros (p. 131);

Conservação pelas Comunidades dos Valores Culturais e Naturais do Setor de Boé: c. 500 mil euros (p. 100)

Conservação e Desenvolvimento das Ihas Urok   – projetos “Urok Osheni! “, “Bemba di Vida!” e “ Etikapun N'ha - Urok”, ilhas Urok: c. 1,8 milhões de euros;

Cultura i Nô Balur – Uma estratégia de Educação para a Cultura na Guiné-Bissau. c. 700 mil euros (p. 44);

EcoCantanhez – Ecoturismo no Parque Nacional de Cantanhez, região de Tombali; c. 490 mil euros (p. 117)

Festivais de Cultura  – Sustentar o Homem e a Biosfera. Bubaque: c. 330 mil euros (p. 132)

Gestão Sustentável dos Recursos Floresais no ParqueNatural dos Tarrafes de Cacheu, região de Cacheu, c. 2 milhões de euros (p. 68):

Gestão Transparente  – Recursos Sustentáveis: Projeto de Reforço de Capacidades da Sociedade Civil para a monitorização da gestão dos Recursos Naturais na Guiné-Bissau, c. 200 mil euros (p. 27);

Memorial da Escravatura e do Tráfico Negreiro de Cacheu   – projetos “Cacheu, Caminho de Escravos” e “Cacheu di si Cultura i istoria “, região de Cacheu, c. 1,05 milhões de euros (p. 65);

No Cultura i No Riqueza – Promoção da Economia Criativa, c. 690 mil euros, região de Bissau (p. 43);

Observatório dos Direitos  - Casa dos Direitos, c. 300 mil euros (p. 37);

Parque Europa – Lagoa N’Batonha – projeto “Kau di catchu ku kau di pecadur”, c. 390 mil (p.

Projeto de Apoio Integrado ao Desenvolvimento Rural nas  regiões de Bafatá, Quinara e Tombali (PAIDR), regiões de Baftá, Quinara e Tombali, c. 3,5 milhõs de euros (p.108):

Reforço do Turismo Natural, Histórico e Cultural como Crescente Atividade Económica para o  Desenvolvimento da Guiné-Bissau, ilha de Orango, arquipélagos dos Bijagós: c. 500 mil euros (p. 138)

Tchossan Soninké  – Panos de Ponte Nova, Bafatá: c. 1,150 milhões de euros  (p. 91)

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quinta-feira, 9 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21155: Da Suécia com saudade (76): A propósito dos 'elefantes brancos' da cooperação sueca com a Guiné-Bissau: o caso do laboratório de saúde pública... (José Belo)






Bandeiras da Guiné-Bissau e da Suécia



1. Mensagem de José 
 Belo, régulo da Tabanca da Lapónia:


Date: quinta, 9/07/2020 à(s) 08:31

Subject: A propósito do texto publicado na Tabanca do Centro.

O artigo lá publicado sobre a Guiné [, vd. ponto 2] é, infelizmente, mais um dos infindáveis que hoje se podem encontrar nos arquivos da imprensa sueca das últimas décadas.


Saúde Pública, Educação, Agricultura, Pescas, Transportes, Indústria Alimentar, Refrigerantes, Investimentos e outras actividades bancárias..., as conclusões das Comissões Estatais suecas que as analisaram (demasiadamente tarde!) são quase fotocópias nos seus negativismos.

Houve, nos anos sessenta e setenta, um genuíno interesse, por parte das sociedades escandinavas, em preencher os vácuos criados por seis séculos de Administração colonial.

Seria incapacidade? Seria não vontade?

A política spinolista "Por uma Guiné Melhor", surgida a contra corrente de todo o desinteresse anterior, apesar de tardia, limitada por uma situação de guerra então já bem implantada, não dispondo das muito avultadas verbas necessárias, ainda conseguiu por um curto espaço de tempo criar condições sociais únicas cujos resultados nos deixaram antever o que poderia ter sido se a política do governo colonial tivesse seguido o caminho do desenvolvimento.

"Quanto mais atrasados , educacional e socialmente, mais fáceis de governar": poderia ter sido a definição concisa da Administração Colonial. Princípios não só aplicáveis em África mas também em Portugal.

Em ambos os locais os resultados finais desta política de "Iluminismo saloio" falaram por si. 
Muito fácil, e limitativo, o apontarem-se como raízes de todos os erros (muitos e graves) os tempos pós-Abril de 74.

Mas está "bagunceira" final foi criada por uma longa e abrangente história de criminosas incompetências políticas, sendo Goa um bom exemplo das mesmas.

Alguns (!) dos "actores " deste histórico final de época em 74, fossem eles militares ou civis, mais não foram que pequenos palhaços de um vasto circo de interesses internacionais que em tudo os ultrapassava e...ultrapassou!

Apesar de todos os tão saudosistas "velhos do Restelo ", as gerações do nosso querido Portugal de hoje poderão cometer muitos erros e...certamente o fazem! Têm no entanto uma possibilidade não disponível a tantas e tão sacrificadas gerações anteriores: podem fazê-lo em LIBERDADE !

Um abraço do J. Belo.

PS - Aproveitando esta “janela” climatérica criada pelas curtíssimas semanas do Verão lapónica, vou arrancar este fim de semana, com a minha mochila e dois cães, para mais uma longa passeata (aqui chamada de “vandring”) pelos infindáveis rios, lagos e montanhas locais.

Um facto óbvio é o de não haver aqui em todas as árvores uma tomada elétrica para recarregar o telefone que (recomendavelmente!!!) deverá ser usado com prioridades bem escolhidas.

É um pequeno detalhe a acrescer ao facto de por aqui não haver nem casas nem gente, o que torna por vezes as coisas... complicadas... Enfim, é da natureza do Árctico ser “a modos que” imprevisível.

A haver alguns simpáticos “piropos” de alguns comentadores, tentarei, da minha parte e dentro destes condicionalismos, dar a sempre mui respeitosa mas devida resposta.

2. Tabanca do Centro > Quarta-feira, 8 de julho de 2020 > P1240: Desventuras dos Amigos Suecos > Elefante branco em história negra

[Reproduzido com a devida vénia...]
 

Após a independência,  a Guiné procurou obter avultados apoios económicos da Suécia para o sector da saúde. Um moderno laboratório clínico fazia parte prioritária da lista apresentada.

O Departamento Estatal Sueco para o auxílio aos países em desenvolvimento (SIDA) estava dividido entre consultores com opiniões díspares.


Deveria ser um laboratório de elevado nível internacional? Ou antes um laboratório adaptado às realidades guineenses, capaz de funcionar com pelo menos cinco paragens de electricidade diárias e pessoal não especializado?Como o auxílio a ser prestado deveria respeitar os desejos dos recebedores... ambas as sugestões foram apresentadas ao Presidente guineense [, Luís Cabral].

Este, sem o mínimo de dúvida, decidiu-se pelo modelo de laboratório mais avançado… e de custo mais do que duplo!

Argumentou o Presidente ser este o modelo que correspondia ao seu sonho de uma Guiné desenvolvida em futuro próximo.

As realidades vieram dar razão aos críticos:
  • O funcionamento parava continuamente;
  • Os cabos eléctricos e os compressores queimavam-se regularmente;
  • O sistema de refrigeração avariava-se;
  • O fornecimento de água era irregular devido a problemas da canalização...

O laboratório passou a ser conhecido como o elefante branco…

A SIDA.desejava acabar com os apoios mas, graças aos esforços e muita dedicação dos trabalhadores do laboratório, este lá se foi arrastando até 1998.

Dá-se a guerra civil e o laboratório acaba por ser atingido por algumas granadas, iniciando-se um importante fogo.

Como pode o laboratório sobreviver a todos estes incidentes Como são hoje analisados os resultados?

Todos os apoios aos mais variados sectores da Guiné acabaram por falhar, decidindo a SIDA terminar com a cooperação económica no início dos anos 2000. (2,2 mil milhões! Tendo sido a Guiné o país que recebeu maior auxílio económico per capita).

A cooperação por parte do Instituto Sueco da Saúde Pública também terminou então. O laboratório passou a ser financiado por diversos Institutos Suecos de Investigação.

A universidade sueca de Lunde, através de um grupo de investigadores e do laboratório, tem vindo a estudar um tipo especial de HIV/Sida  que existe na Guiné, chamado de hiv-2.

Os resultados foram já apresentados em publicações científicas, tendo gerado grande interesse quanto a vir a ser criada uma vacina.

Hoje considera-se terem sido estes apoios económicos contra-produtivos para o país, o qual, deste modo, não sentiu necessidade de mobilizar os seus recursos próprios.

Ao terminarem os apoios,  criou-se um vazio económico, agora preenchido pelas avultadas verbas do tráfego internacional da droga.

Excerto da revista “OmVärlden”
Texto: Mats Sundgren

UTVECKLINGSSAMTALET
Avsnitt 7: Det svenska biståndets vita elefant
Publicerad: den 31 maj 2015 Uppdaterad: den 31 maj 2015


[Tradução / adaptação livre: José Belo; revisão / fixação de texto para efeitos de publicação no nosso blogue: LG]

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de julho de 2020
Guiné 61/74 - P21145: Da Suécia com saudade (75): Pedagogias várias para proveito do macho-ibérico: as representações sociais das... suecas, "muito dadas" (José Belo)

sábado, 27 de junho de 2020

Guiné 61/74: P21113: Da Suécia com saudade (72): Guiné-Bissau: milhões e milhões de ajuda sueca desperdiçados: resumo de artigo de Peter Bratt, "Dagens Nyheter", 1994 (José Belo)

1. Mensagem do José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia:

[(i) ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70;

(ii) manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década;

(iii) está reformado como capitão de infantaria do exército português;

(iv) jurista, vive entre Estocolmo, Suécia, nem como nas imediações de Abisco, Kiruna, Lapónia, no círculo polar ártico, já próximo da fronteira com a Finlândia, mas também Key-West, Florida, EUA;

(v) é o único régulo da tabanca de um homem só, a Tabanca da Lapónia (, mas sempre bem acompanhado das suas renas, dos seus cães. dos seus alces e dos seus ursos)]

Date: quarta, 24/06/2020 à(s) 15:50
Subject: Suécia / Guiné

Mais uma auto-crítica significativa por parte dos Serviços Estatais suecos quanto ao seu programa de auxílio económico à Guiné-Bissau de 2,2 mil milhöes [de coroas suecas]. (*)

Um abraço.
J. Belo
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**O projecto do auxílio sueco funcionou mal, foi extremamente custoso,e procurou resultados irrealistas***

(Resumo de um artigo de Peter Bratt, publicado no "Dagens Nyheter". em 1994)

O auxílio económico à Guiné-Bissau desde 1974 (2,2 mil milhöes de coroas suecas) [, cerca de 460 milhões de euros, 1 euro=10,47 coroas suecas, ao cambio atual] foi em termos gerais capital perdido. (**)

Pode-se hoje verificar que a totalidade do auxílio internacional ao país acabou por provocar mais danos do que bons resultados.

São as conclusöes de um inquérito efectuado pelo Secretariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros Sueco (Secretariado do Auxílio e Cooperação para o Desenvolvimento, SAU).

O relatório deste Secretariado apresenta uma fortíssima crítica quanto ao auxílio prestado pela Agência Estatal responsável pelo auxílio aos países em desenvolvimento (SIDA, em sueco).

Este relatório foi efectuado sob a direção do Ministério dos Negócios Estrangeiros e é da responsabilidade do Prof. Peter Svedberg.

Após a independência, baseando-se fundamentalmente em razöes ideológicas, a Guiné-Bissau passou a fazer, muito rapidamente, parte do programa de auxílio estabelecido pela SIDA.

O que este relatório diz, já há muito que era do conhecimento de todos os implicados no assunto, só que ninguém  foi suficientemente corajoso para o dizer em "voz alta". Um auxílio que,  nas suas "razöes ideológicas", há muito que tinha sido ultrapassado quanto aos enquadramentos políticos iniciais.

O relatório demonstra que o auxílio internacional,  em vez de criar desenvolvimento,  acabou por causar graves entraves quanto ao sistema económico do país. Gigantesco afluxo de capital que acabou por não provocar qualquer crescimento económico. Os investimentos internos acabaram por näo surgir quando as rendas do capital de aforro se tornaram negativas.

Colocar-se capital no Banco tornou-se perca óbvia.

Mais tarde, por razões políticas e para manter a população calma, o Regime apoiou uma enorme
importação de arroz aos preços do mercado internacional.(Importação paga pela Suécia.)

Deste modo,e com estes preços, acabou-se por impedir o desenvolvimento da agricultura interna.
Na práctica o auxílio económico estrangeiro acabou por paralisar a produção alimentar. É um pouco como dar esmola a um pobre em vez de lhe criar condições de trabalho.

Pode concluir-se que o auxílio económico acabou por provocar efeitos negativos abrangedores,entre outros, extensíveis à área da educação.

Näo existem exportações para financiar as importações necessárias. Näo existe uma economia privada funcional em escala representativa fora do sector estatal, sendo este totalmente dependente dos auxílios internacionais.

As disparidades económicas entre rurais e citadinos têm vindo continuamente a agravar-se em resultado destes programas.

Uma análise profundamente negativa que nos leva à conclusão de não ter sido exclusivamente o auxílio sueco a merecer as críticas mais severas,mas sim todos os auxílios económicos internacionais prestados à economia da Guiné-Bissau.

Os resultados a níveis sociais,políticos,e do bem estar das populações,  infelizmente comprovam-no.

Peter Bratt
(Dagens Nyheter)

[Tradução livre / adaptação: JB]

2. Nota do editor:

Peter Bratt , nascido em 1944, é um jornalista sueco, trabalhou, até 2003, para o jornal de referência "Dagens Nyheter". Escreveu muitos textos críticos sobre o partido social-democrata. Em 1974 teve problemas com a justiça, tendo sido condenado a um ano de prisão por espionagem.

Não encontrámos o artigo a que se refere o J. Belo, mas pode ser este: "GUINEA-BISSAU: Svenskt miljardbistånd bortkastat", Dagens Nyheter. 2 de junho de 1994. Não conseguimos confirmar, porque o acesso ao jornal é pago... (Em português, o título seria qualquer como Guiné-Bissau: milhões e milhões de ajuda sueca desperdiçados).

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Nota do editor:



4 de movembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13847: Da Suécia com saudade (41): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte II)... Um apoio estritamente civil, humanitário, não-militar, apesar das pressões a que estavam sujeitos os sociais-democratas, então no poder (José Belo)

5 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13849: Da Suécia com saudade (42): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte III)... Pragmatismos de Amílcar Cabral e do Governo Sueco, de Olaf Palme, que só reconheceu a Guiné-Bissau em 9 de agosto de 1974 (José Belo)


7 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13859: Da Suécia com saudade (44): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte V): Quando se discutia, item a item, o que era ou não era ajuda humanitária: catanas, canetas, latas de sardinha de conserva... (José Belo)


11 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13874: Da Suécia com saudade (46): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VII): Não deveria ter ficado surpreendido, com algumas reações... (José Belo)

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20921: 16 anos a blogar (7): Os camiões Volvo... e outras peripécias da cooperação com Bissau (António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

1. Mensagem de António Ramalho  [ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), natural da Vila de Fernando, Elvas, a viver em Vila Franca de Xira, membro da Tabanca Grande, com o nº 757: tem mais de duas dezenas de referências no nosso blogue]
Date: terça, 28/04/2020 à(s) 17:25

Subject: Camions Volvo na Guiné!

Caro Luís Graça,  boa tarde.

Cada dia louvo mais a tua iniciativa da criação deste excelente blogue!

Ao visitá-lo preenche-me o tempo e confirma aquilo com que muitos de nós nos questionamos: O que fomos lá fazer?

Os políticos não aproveitaram a nossa presença nada fizeram,  os nativos muito menos, o resultado está bem à vista!

lá que a Suécia só enviou Volvos para trabalhar, ainda bem que não enviou também Suecas para os conduzir!

O que será feito do navio/escola de pesca "Noruega", último grito da tecnologia à época, assim se dizia, que este país para lá enviou após 1974, tens algumas notícias?

Na mesma linha conheço uma pessoa ligada ao fornecimento de geradores, instalação, conservação e reparação dos mesmos.

Este ano fez uma instalação para um hotel, recomendando que o cabo deveria ser enterrado, protegido, sinalizado e coberto com areia.

Muito bem, estava aterrando de regresso a Lisboa, recebeu a notícia de que o cabo e o quadro tinham ardido, todos adivinhamos a razão, total desprezo pelas recomendações sugeridas.

Além da interrupção do fornecimento de energia, e os transtornos que provocou os custos foram elevadíssimos, e assim continua aquele país para o qual nós contribuímos com o nosso esforço e abnegação em várias ocasiões, é no mínimo lamentável!

Outro amigo ligado ao descasque e branqueamento de arroz, com uma unidade móvel, viu-se e desejou-se para progredir e libertar-se de um emaranhado de situações, deixando lá uma mão cheia de dólares!

Um dia que passe por Oliveira de Azeméis terei todo o gosto em ir visitar a barbearia do Simão que ostenta um nome pomposíssimo, não consegui fixá-lo, irei levar-lhe um bife de Carne Alentejana para oferecer ao "seu" Alferes!

Não dou como tempo perdido e aprecio os camaradas que têm a coragem de lá voltar em visita, não consigo apesar de algumas boas recordações e bons momentos de sã camaradagem, não consigo ver destruído aquilo que construí ou tentei ajudar a construir!

Qualquer ONG, com o patrocínio da ONU ou outra, deveria encarar e preocupar-se com aquele país em total consonância com as entidades locais, ser entreposto para negócios ilícitos poucos lucram, tanta mancarra, caju e beanda que haverá para produzir!

Continuação de uma excelente quarentena para todos, temos que nos cuidar!

Um forte abraço


António Fernando Rouqueiro Ramalho

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terça-feira, 28 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20913: Da Suécia com saudade (69): Eu destrui um país [em sueco, "Jag har förstört ett helt land"], por Patrik Engellau... (José Belo)


Guiné-Bissau > Bissau > 2020 > Afribaba > Anúncio de venda de "Camião Volvo, de 20 toneladas, báscula para dois lados, com motor,  arroçaria e caixa em muito bom estado". Preço: 9 100 000 CFA (cerca de 13 870 euros, ao câmbio de hoje, 1 euro = 655,96 CFA).  Anunciante: Afribaba.(Reproduzido com a devida vénia...)


1. Mensagem de  José Belo,  ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, e manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década; está reformado como capitão inf do exército português; jurista, vive entre (i) Estocolmo, Suécia, (ii) nas imediações de Abisco, Kiruna, Lapónia, no círculo polar ártico, já próximo da fronteira com a Finlândia, e (iii) Key-West, Florida, EUA; é o único régulo da tabanca de um homem só (, mas sempre bem acompanhado das suas renas, dos seus cães e dos seus ursos)

Data: sábado, 25/04, 20:16



Assunto: : "Eu destruí completamente um País" (*)


Luís: seguem as as declaracões de Patrik Engellau, um alto quadro do funcionalismo público sueco, sobre a Guiné-Bissau.. Junto foto dele, Patrik Engellau em artigo publicado no "Alla Skribenter", 27 dezembro de 2015. Faço uma tradução adaptada do artigo. Atenção aos muitos erros ortográficos na língua de Camões, por mim pouco usada há muitas décadas, a pedir benevolências extras quando escrita sobre o joelho nesta tradução do sueco original.



Ámen, J.Belo


2. Eu destrui um país [em sueco, "Jag har förstört ett helt land"]

"Alla Skribenter", 27 de dezembro de 2015.

por Patrik Engellau


Trabalhei durante cerca de 10 anos na ajuda económica ao Terceiro Mundo, primeiro nas Nações Unidas e depois  na agência sueca para o a cooperação internacional e o desenvolvimento (SIDA - Swedish International Development Cooperation Agency), em países como o Brasil, Índia, Etiópia, e por último como chefe na embaixada sueca em Bissau.

Cheguei a Bissau em 1976, com 50 milhões de coroas suecas, no bolso, por ano,  para apoio económico (,hoje equivalente a cerca de 250 milhões). Isto foi mais ou menos na mesma altura em que o novo governo guineense tomava posse após a queda do império português.

A Guiné-Bissau era um dos países favoritos da Suécia. Tanto a União Soviética como a Suécia tinham feito grandes doações ao PAIGC, o movimento de libertação de orientação socialista, agora no poder. Mas a Suécia era, então, de longe, o maior doador.

As nossas contribuições totalizavam uma soma muito superior ao Orçamento do Estado guineense. Sentia-me, então, como um dos elementos com maior influência no país. Tanto o Presidente [, Luís Cabral,] como os Ministros procuravam-me quase diariamente para obter as mais variadas coisas.

Mas os que julgam que tudo então se perdeu por os políticos terem aberto contas particulares em bancos suíços, estão enganados. Pelo menos no início, a líderança política eram constituída por gente honesta, bem intencionada, verdadeiros socialistas idealistas.
Queriam reformar e fazer progredir o país.

Obviamente que, ao olhar-se hoje [2015] retrospeticamente, não teria sido pior se a nossa ajuda económica tivesse terminado nas tais contas bancárias particulares.

A principal produção da Guiné-Bissau, além da agricutura de autosubsistência, era o arroz e o amendoim, os dois produtos de exportação,O comércio entre os produtores e o porto de Bissau estava nas mãos dos libaneses. Estes usavam carrinhas de marca Peugeot, em estradas lamacentas e com pouca manutenção, para transportarem para o interior produtos importados (, artigos de plástico, tecidos e outros), consumidos pelas populações, e no regresso a Bissau voltavam carregados com arroz e amendoim.

O governo não estava nada satisfeito com este sistema por considerar que os libaneses ganhavam demasiado com estes negócios de verdadeira exploração dos produtores locais. Considerava também que as pequenas quantidades transportadas não eram economicamente viáveis na perspetica da exportação em grande escala.

Ambos os problemas foram resolvidos com um plano que previa a nacionalização do comércio por grosso e a retalho e o transporte das mercadorias a realizar por camiões modernos.

Claro está que foi a Suécia quem, a meu pedido, veio a fornecer umas dúzias de moderníssimos camiões Volvo, desembarcados em Bissau em poucos meses.

Estes camiões último modelo,com ar condicionado, rádio estereofónico e confortável cabine para o condutor dormir, eram naves espaciais aos olhos da populção, e depressa se tornaram num instrumento de "engate" das belezas locais nas ruas de Bissau.

Durante uns tempos era mais importante esta "mercadoria" do que os tradicionais produtos de plástico e tecidos a serem transportados para o interior.

Se o problema tivesse sido só esse, as coisas näo teriam sido tão graves. Mas...quando os camionistas mais consciencios finalmente se puseram a caminho do interior (o que não deveriam ter feito!), concluiu-se que as estradas existentes [, "picadas",] não foram feitas para estes mastodontes ma sim para as carrinhas Peugeot.

Todos os tipos imagináveis de problemas surgiram, acabando por liquidar este tipo de transporte. Em menos de seis meses todos os camiões Volvo estavam parados.

Sendo as marcas de camiões Volvo e Scania as mais vendidas mundialmente, e utilizadas nas condições mais extremas, foi enviada a Bissau uma equipa de mecâncios para estudar o problema surgido.

Chegou-se à conclusão de que, para além dos problemas quanto ao peso que as estradas não suportavam, ambém tinham surgido pequenos problemas de manutenção das viaturas, do tipo: esqueceram-se de mudar o óleo, houve componentes dos motores que desaparecera, etc.

Com a falta de intermediários tradicionais, como os comerciantes libaneses, os camponeses não conseguiam escoar a sua produção, pelo que se voltaram a concentrar-se na produção para consumo local.

O arroz passou a não chegar para alimentar a população de Bissau. Aí a coisa tornou-se grave! O Presidente [, Luís Cabral,] justificou perante mim, que as coisas tinham-se agravado por razões climatéricas que teriam acarretado doenças para as plantas. Devido a isto, perguntou-me de imediato se seria possível um aumento da ajuda económica estipulada para estas situações de emegência.

Telegrafei de imediato para os escritórios centrais da SIDA (que são as iniciais ou o acrónimo da Agência Estatal Sueca para a ajuda aos países em vias de desenvolvimento) e, em muito curto espaço de tempo, tínhamos em Bissau um barco fretado, chinês, que transportava 3 mil toneladas de arroz para que a população não morresse de fome.

Estou a simplicar mas as coisas passaram-se basicamente assim.
História semelhante poderia ser aqui contada quanto ao enorme apoio económico sueco à indústria da pesca local.

São muitos os detalhes e sobre eles escrevi um romance publicado pela editora Atlantis. [Obs : Tenho em minha posse esses "detalhes"... Referência bibliográfica: Patrik Engellau - Genom Ekluten. Stockholm, Atlantis, 1980].

Pessoalmente acabei por me cansar destes contínuos fracassos na utilização de tão vastos recursos económicos, afastando-me de vez deste negócio escuro que é a assistência económica aos países pobres.(**)

Mas antes ainda de puxar a mim prórpio as orelhas, dei-me conta de que fui cúmplice no ato de destruição de um país.

Alguns anos depois, tanto o Ministério dos Negócios Estrangeiros como a 
agência sueca para o a cooperação internacional e o desenvolvimento (SIDA) cansaran-se, decidindo terminar com estes apoios à Guiné-Bissau, com o argumento de que este país, afinal,  não tinha o perfil adequado. Mas não podemos nem devemos "lavar as mäos" quanto ao processo e aos resultados.

Fomos nós, afinal, quem forneceu ao governo do PAIGC as ferramentas e as oprotuniades, para eles efectuarem as suas estúpidas experiências sociais...

Enquanto isto sucedia, nós estávamos ao lado deles e aplaudíamos este país heróico com os seus belos princípios sociais.

Agora que Guiné-Bissau se tornou num "narco-estado", o estado ganha dinheiro com a ajuda ao tráfego de droga da América Latina para os mercados europeus.

E o que pode fazer o pobre do governo? Os camiões Volvo são agora sucata e os libaneses provavelmente foram-se embora!



Em defesa das ajudas deste tipo aos países pobre, é claro que pode-afirmar-se que geralmente o seu montante é tão pequeno em relação aos recursos próprios do país destinatário que o eventual insucesso  não é assim  tão importante.

Patrik Engellanm 27/12/2015.
Publicado no "Alla Skribenter"


[Reprodução com a devida vénia... Tradução, revisão e fixação de texto: JB. O editor LG cotejou o original em sueco, e a tradução livre do JB, com tradução automática,pelo Google Translate, em inglês e português]. 

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20878: Da Suécia com Saudade (68): por causa da tal pandemia, as minhas renas não podem agora andar em bicha de pirilau e muito menos em manada... (José Belo)
 

(**) Vd, postes de:

3 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13842: Da Suécia com saudade (40): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte I)... à Guiné-Bissau, de 1974 a 1995, foi de quase 270 milhões de euros... Depois os suecos fecharam a torneira... (José Belo)

4 de movembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13847: Da Suécia com saudade (41): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte II)... Um apoio estritamente civil, humanitário, não-militar, apesar das pressões a que estavam sujeitos os sociais-democratas, então no poder (José Belo)


5 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13849: Da Suécia com saudade (42): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte III)... Pragmatismos de Amílcar Cabral e do Governo Sueco, de Olaf Palme, que só reconheceu a Guiné-Bissau em 9 de agosto de 1974 (José Belo)

6 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13853: Da Suécia com saudade (43): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte IV): Rússia e Suécia, vizinhos e inimigos fidalgais, foram os dois países que mais auxiliaram o partido de Amílcar Cabral (José Belo)

7 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13859: Da Suécia com saudade (44): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte V): Quando se discutia, item a item, o que era ou não era ajuda humanitária: catanas, canetas, latas de sardinha de conserva... (José Belo)

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20295: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXXII: 1984/85: um regresso, quinze anos depois (ii): as minhas andanças por Bissau e Dakar a tentar vender um projeto de desenvolvimento agrícola em Cabuca, junto ao rio Corubal


Foto nº 21 > Senegal > Dakar > 7 de janeiro de 1985 > A nossa viagem a Dakar no Senegal. Sou eu, de fato claro, ao centro, o Isidro Gomes Quaresma em mangas de camisa, e o nosso adido comercial da Embaixada Portuguesa, junto do Governo do Senegal.  Ao fundo, a ilha de Gorée, onde  se localiza  a "Casa dos Escravos".


Foto nº 22 > Senegal > Dalar > 8 de janeiro de 1985 > Foto numa estrada no cimo de um monte com vista para a baía de Dakar, e o carro do Adido Comercial da Embaixada Portuguesa, foi ele que tirou a foto. Estou eu, e o Isidro Quaresma [, técnico agrícola,retornado de Angola].


Foto nº 23 > Senegal > Danar > 8 de janeiro de 1985 > Foto minha em Dakar,  nos arredores do Centro da Capital. Os ventos secos de Dakar. Um dia de vento quente e seco, nada comparado com o martírio de Bissau.  Influência francesa em tudo, a começar pelos carros.


Foto nº 20 > Senegal > Dakar > 8 de janeiro de 1985 > ma família Senegalesa nos arredores de Dakar, mãe e 5 filhos.  Apesar de tudo dá para perceber que era outra cultura e outro poder de compra, não se via disto em Bissau, eram pessoas conhecidas do Adido Comercial.


Foto nº 19 > Vista aérea da Guiné, sobrevoando a zona de Bafatá, com os arrozais e o local do futuro projecto a levar a efeito. Céus da Guiné, 8Jan85. 



Foto nº 17 > Guiné-Bissau > Aeroporto Osvaldo Vieira > 8 de janeiro de 1985 > O avião Bi-Turbo dos TAGB a percorrer a pista do aeroporto, para levantar voo.


Foto nº 18 >  Guiné-Bissau > Aeroporto Osvaldo Vieira > 8 de janeiro de 1985 > O avião da TAGB já a levantar voo com destino ao Senegal, aeroporto de Dakar, ainda com paragem na cidade fronteiriça de Zinguinchor no Senegal.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Continuação do texto, sobre o regresso à Guiné-Bissau (*), em 1984/85, do nosso amigo e camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); economista e gestor, reformado; é natural do Porto; vive em Vila do Conde; tem já perto de 140 referências no nosso blogue.


Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T999 – O regresso à Guiné em 20OutT84
- 10 anos após a independência em 74Set24
- 15 anos depois da minha saída em 4Ago69
- 17  anos depois da minha primeira chegada, em 21Set67


II Parte – A viagem de negócios à Guiné-Bissau e Senegal 
(de 30/12/1984 a 14/1/1985)


Anotações  e introdução ao presente Tema 


Este tema tem tanto de louco como apaixonante

Não vou entrar em pormenores, porque teria aqui tanto para escrever que daria sono a qualquer um que tivesse a ousadia de querer ler tudo. Já escrevi, no meu livro inédito,  todos os dramas pessoais e familiares que esta saga me trouxe, nunca saberei se valeu a pena, abandonar a família, desbaratar dinheiro que viria a fazer falta, com resultados nulos.

Sobre a  primeira viagem de saudade à Guiné-Bissau, já aqui escrevi, em poste anterior (*):


 A preparação da 2ª viagem à Guiné


E entrei mesmo no esquema, foi feita uma apresentação do que precisavam, e eu nem sequer olhei para o lado, tal a minha obsessão pelas gentes da Guiné, integrei-me totalmente, mediante certas condições, negociadas em cima do joelho.

Após o levantamento das necessidades para o projecto, durante aproximadamente 2 meses trabalhou-se neste plano, e nessa altura era tudo feito à máquina de escrever, e com a ajuda de uma máquina de calcular, não havia os computadores como hoje, tudo seria muito mais fácil então.

Falamos com o Major (, o Valentim Loureiro, ) pois programamos nova viagem à Guiné para finais do ano de 1984, era preciso pagar a viagem e despesas de estadia para ambos, nesta fase apenas era necessárias duas pessoas. O Isidro convence o Major, mas não há dinheiro para me pagarem os meus honorários, conforme havia sido combinado para eu entrar dentro da organização.

Alguns dos outros sócios, lá vão adiantando algum, não muito, 50 a 100 contos no máximo [ de 1.188,72 € e 2.377,43 €, respetivamente, a preços de hoje, segundo o conversor de moeda da Pordata],  o que era muito pouco. Eu aguento, pois estou a perceber que se este negócio vai para a frente, há muito dinheiro a ganhar.

Apostei tudo neste projecto, foi a minha grande ilusão na vida, e acreditava cegamente em tudo. Mas enganei-me redondamente.

O Major mandou comprar as passagens de ida e volta para os dois, e na minha frente entregou ao Isidro 2.000 USD em notas para as outras despesas, incluindo as minhas.

Em 28 de Dezembro de 1984 tinha já o 2º visto no passaporte. A viagem foi marcada, por razões que desconheço, para sair de Lisboa na manhã do dia 31 de Dezembro, por isso teria de ir passar o ano em Bissau e não em casa, mas tinha de ser.

Vou passar o fim de ano de 1984 em Bissau

Novamente saí de casa na tarde do dia 30 de Dezembro de 1984 e lá fui carregado com o dossiê do projecto e uma máquina de escrever portátil, pois era importante para complementar qualquer coisa e não havia onde pedir ajuda naquele pobre país.

As despedidas do costume, agora com outro ambiente, havia qualquer coisa no horizonte, foi mais fácil, mas deixar a casa e família custa sempre muito. Vou para Lisboa no então chamado Foguete e pelas 18 horas já estou a escrever uma carta que vou novamente pedir a uma hospedeira para colocar no correio em Lisboa quando ela regressar.

Chegamos a Lisboa eu e o Isidro às oito horas da noite, fomos pôr as malas no Hotel, o VIP, não era mau, ficava perto das instalações da TEOR – uma empresa de consultoria, onde tinha já trabalhado como Director da Delegação Norte no Porto – era no Saldanha, e eu já lá tinha ficado uma vez.

Fomos jantar a uma Churrasqueira.  na Baixa de Lisboa, na Rua das Portas de Santo Antão, e encontro aí, a servir à mesa, um antigo soldado da CCS do meu batalhão, o José Espadana, era condutor de especialidade, mas lá arranjou alguma cunha e ficou a servir à mesa na messe de oficiais quando estávamos na Guiné. Falamos um pouco e disse-lhe que ia voltar às origens, ele ficou admirado, despedi-me e nunca mais o vi. Mais tarde venho a ver na Internet que ele estava à frente de um "site" sobre as passagens do nosso batalhão pela Guiné, e com relatos, memórias e fotografias, umas que eu tirei na altura e outras dele próprio.

Na manhã do dia 31 de Dezembro fomos para o aeroporto, a viagem estava prevista para mais cedo, mas só levantou voo às 11h25, devido a uma avaria ou problemas de carga. Não havia muita gente a bordo, não era o dia ideal para alguém se deslocar para a Guiné na véspera de ano novo, mas há sempre malucos e anormais para tudo, e outras razões, que a ‘razão’ desconhece.

Chegados a Bissau, fechei a carta, pedi agora a um comissário de bordo para me levar a carta para Lisboa e a colocar no correio. O envelope tem o carimbo dos correios do dia 4 de Janeiro de 1985, é normal por causa dos feriados do fim do ano.

Na noite de passagem de ano, ficamos no quarto e bebemos uma daquelas garrafinhas pequenas que servem a bordo, nós pedimos às hospedeiras duas de vinho branco e elas fizeram esse pequeno favor, e assim se festejou a passagem de ano, de 1984/85.

A suite 3002 só tinha um quarto com duas camas. Nós mudamos uma das camas para a sala de entrada, onde ficou o Isidro, e eu fiquei com o quarto só para mim. Ficamos melhor. A casa de banho era só uma, havia frigorífico, ar condicionado e as respectivas e sempre omnipresentes baratas. Á noite quando me ia deitar olhei para o teto e lá estava uma enorme, mesmo por cima da cama. Tivemos de andar atrás dela, atirando com as almofadas para ela cair, e após muito tempo teve mesmo de cair dali e matei-a, esborrachando-se toda, mas pelo menos já poderia dormir sem aquele nojento e pequeno monstro por cima da minha cabeça.

O dia 1 de Janeiro [de 1985] é feriado como em toda a parte e por isso o dia foi passado a passear. Nós quando arranjamos um táxi do aeroporto para o Hotel, era mesmo um Mehari, que eu já tinha visto antes, pertencia a um homem Fula, talvez chamado Mamadu. Falamos com ele, perguntando quanto é que ele ganhava em 2 semanas ele disse o preço, e então combinamos ficar com o carro e ele ficou em casa a descansar com a mulher e os filhos. Só o entregamos quando viemos embora, pagamos o combinado e ficamos amigos.

O Virgílio Teixeira, de motorizada, em Safim,
em 11/3/1968
Fomos a Safim, que fica a uns 20 km de Bissau, eu já lá conhecia um pequeno tasco que servia antigamente uns petiscos e mariscos, e outras coisas, arriscamos e fomos. Comemos 2 kg de camarão com cerveja e voltamos, não havia mais nada de comer. Tudo tinha mudado radicalmente.

No dia 3 de Janeiro falei por telefone com a minha mulher, foi muito empolgante e fiquei excitado com a voz dela, parece-me que estamos no fim do mundo. A chamada foi conseguida, porque já tinha ido ao Ministério do Comércio, que ficava na Avenida que todos nós conhecemos, pedi à menina que me deixasse fazer um telex para o BESCL em Vila do Conde, quase ao lado de minha casa. O nosso amigo Macedo levou lá a mensagem, na qual eu pedia para ela pedir uma chamada ‘via Marconi’ para o telefone do Hotel em Bissau, marcando o dia e hora. Isto parecem coisas, nesta época, da era dos Descobrimentos, mas lá chega a mensagem e o telefonema é feito. [Telex , lembram-se ?  "Serviço de dactilografia à distância, posto à disposição dos utentes por meio de teleimpressores", segundo Dicionário Priberam da Língua Portuguesa...(LG)].

Vou voltar atrás um pouco, por causa deste telex. Já na primeira viagem, o dinheiro que levei acabou muito rápido, eu precisava de mais e não sabia como arranjar. Então fui eu próprio, sem ligações nenhumas, ao tal Ministério do Comércio, falei com uma dessas Secretárias simpáticas e atenciosas, e pedi-lhe para mandar um telex, para o BESCL – Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, balcão de Vila do Conde, no qual pedi ao nosso amigo e vizinho Macedo, funcionário do BESCL – depois BES, depois NB [, Novo Banco,]  – , para ir a minha casa e combinar com a minha mulher para me fazerem chegar mais uns 100 contos [, em 1985, a preços de hoje, seria o equivalente a 1.988,66 €], e ele lá chegou, só não sei como, não me lembro, mas não havia cartões!

Agora aproveito, porque estes favores das meninas do MC [Ministério do Comércio]de Bissau, não são gratuitos, ela então, sabendo já que eu voltaria novamente, está na posse do meu telefone de casa, e do telex do Cônsul da Guiné, e envia um telex, ao meu cuidado, ainda o tenho em meu poder, como aliás quase toda a documentação desta aventura, a pedir-me para lhe levar ou mandar até ao fim do ano, além de sapatos tamanho x, vestido tamanho y, roupa interior tamanho z, e ainda uns medicamentos para uma infecção intima, ‘Gyno qualquer coisa’ e o que pudesse arranjar.

Levei o medicamento quando cheguei em 31 de Dezembro e entreguei-o quando lá fui novamente pedir o mesmo favor. São coisas simples demais para aqui escrever, mas não sendo eu romancista, isto até dava um belo romance. Não de ‘amor’ pois nunca passamos a 'linha vermelha', mas de amizade pura.

Voltando ao assunto que estava a contar, depois do telefonema, ouvir a voz da minha mulher, dos filhos, fico desperto demais, e escrevo às 5 horas da manhã, já do dia 4, umas primeiras palavras de uma carta que seguiria no dia 5, não conseguia dormir, estava muito excitado, e precisava de estar fresco pois íamos ter muitos contactos. No dia 5 de Janeiro voltei a escrever dando conta da situação e mandei a carta para o correio, via normal, e tem a marca do dia dos correios de Bissau, e saída de 7 de Janeiro.

E é assim tudo muito lento, pois está muito calor, mas não está aquela humidade incrível e viscosa e pegajosa do tempo das chuvas, o tempo está quente e seco, é a época mais fresca do ano.

Naquele telefonema os meus filhos a pedirem sempre a mesma coisa, que lhes ficou na mente depois de verem as minhas fotos, algumas claro, do tempo na Guiné. A mais velha, 13 anos, só me pedia para eu trazer aquela motorizada que via nas fotos, o meu filho seguinte, de 11 anos, que lhe trouxesse a minha G3 que via na cabeceira da cama, a mais nova de 10 anos, que lhe trouxesse o macaquinho que viu nas fotos.

Coitados,  ficaram todos desiludidos, mas porquê as crianças não sabiam que isso era de todo impossível?

Por vezes e agora com a idade avançada, já passei os 75, como é possível que eu tenha feito aventuras destas, com as responsabilidades que tinha a meu cargo, uma mulher em casa e mais 3 filhos menores... Foi a loucura dos meus 40 anos, hoje vejo outras pessoas que correm o mundo e andam atrás de ganhar algum ou procurar uma vida melhor, e admiro-os, mas afinal eu fiz o mesmo em muito piores condições, sem ajuda ou apoio de ninguém, e não era preciso sair de Portugal para viver uma vida normal.


O presidente 'Nino ' Vieira, em 6/3/2008,
um ano antes de ser assassinado.
Foto: Luís Graça (2008)
Os contactos com o Presidente 'Nino' Vieira 


Nos dias seguintes, tivemos o primeiro contacto com o Presidente 'Nino' Vieira, no seu palácio. Fomos recebidos à frente de toda a gente que lá esperava, pois tínhamos a carta diplomática do Major Valentim, cônsul honorário e amigo pessoal do 'Nino' Vieira.

Falamos e expusemos a nossa ideia, mostramos o projecto, mas ele não percebia nada daquilo, deu-nos a promessa de toda a sua ajuda, e encaminhou-nos para outros diversos ministérios, e em especial o Desenvolvimento Regional, era aí que passava o primeiro crivo. Tinha lá um engenheiro local, técnico destas áreas, e a quem competia a análise do nosso projecto, mas tinha atrás de si toda uma série de pessoal do Leste Europeu e de outros países que se diziam amigos, e com a mesma filosofia que aqui não vou comentar, apesar de já a ter escrito, fica por escrever.

Estes amigos, os novos imperialistas, que eram os seus conselheiros e consultores, instalados nos grandes centros de decisão, eram por isso nossos inimigos, não nos queriam lá, e por isso encontramos todas as resistências, pois o nosso grupo era 100% capitalista e europeu em busca do lucro fácil e imediato.

Era assim mesmo, não vale a pena andar à volta de outros ideais, o objectivo era sacar o máximo possível, para isso teríamos de ajudar o país em causa, mas não era ideia de ninguém ajudar por ajudar, mas sim para retirar o máximo proveito legal. Bem ou mal era esse o alvo dos principais capitalistas, eu não pertencia a esse ‘núcleo duro’, mas os ideais eram os mesmos, nesses tempos.

Encontrávamos uma cáfila de gente de todo o mundo, ou nos aviões ou nos Hotéis com esses ideais e piores ainda, vender a alma se fosse preciso.

O nosso projecto transitou pelos serviços governamentais, sob a designação inventada por mim, de “AGRINÉ – Agricultura da Guiné, Lda.,“ e ocupava uma zona previsional de 7000 hectares de terreno [, mais do que 7 mil campos de futebol...], já inscritos a nosso favor, e com mapa registado, na zona de Cabuca, nas margens do Rio Corubal, que eu tão bem já conhecia.

Bem,  como um elevado montante de investimento nacional e internacional, eram 20 Milhões de USD que ao câmbio daquela época, já tinha baixado de 200 para 180, dava em dinheiro português cerca de 3,5 Milhões de contos.

Aquele valor a preços actuais com a inflacção de mais de 30 anos, e com as mudanças de Escudos para Euros, significava algo como 70 milhões de euros!...  [Em rigor,  3,5 milhões de contos, em 1985, dava qualquer coisa como 69.603.048,44 €, a precos de hoje, usando o conversor de moeda da Pordata. ] E fosse o que fosse era sempre muito dinheiro, e da parte do Estado da Guiné significava pouco mais do que a cedência do terreno.

Andei um ano às voltas com este projecto, e para elaborar o estudo tive de me deslocar 2 vezes àquele país, a burocracia era tanta que quase dava para desistir, formamos a empresa local, arranjamos sócios locais – o próprio 'Nino' Vieira, presidente da república, também entrava através do sogro, e mais um brigadeiro local, ajudante de campo do 'Nino'...  E cada viagem custava uma pequena fortuna, era arriscar muito.


As burocracias do projecto junto das instâncias do Estado 


Havia um investimento em dinheiro a realizar pela República Portuguesa, através dos seus sócios, com transferências – em dinheiro e em espécie - , e havia o retorno a prazo destas verbas para Portugal, logo que houvesse os lucros. Tudo isto estava legislado no CIE - Código do Investimento Estrangeiro português e guineense, que era a cópia integral do português, mais coisa menos coisa.

Elaborei o maior estudo realizado até então – técnico, económico e financeiro -, a apresentar junto do Banco de Portugal, que era a entidade que autorizava e protegia este investimento. Levei muitos meses de trabalho no conjunto, mas ao fim de 6 meses já havia um dossier para apresentar junto das imensas entidades envolvidas e que teriam de dar o seu parecer, nacionais e guineenses. Tudo era feito à mão e com uma máquina de calcular, e seguidamente passado à máquina de escrever, se fosse hoje o tempo seria infinitamente menor, e fiz tudo com a ajuda dos técnicos, o português na parte Agrícola e o alemão na área de Agroindustrial, pois isto envolvia para aquela data um investimento enorme.

O Banco de Portugal aprovou o nosso projecto, pois o retorno estava garantido com taxas de rentabilidade fora de normal, e com uma inscrição de louvor que passo a citar, não é para me regozijar, mas tenho de levantar também a minha moral e puxar dos meus galões, quando é preciso, não é só lamechices que tenho de contar:

Decisão:  “Porque jamais deu entrada no Banco de Portugal um projecto de investimento externo, tão pormenorizado e tão completo, como este”.  Conclusão:  Aprovado.

Havia apenas de dar seguimento ao mesmo, isto é, solicitar o envio das remessas para o estrangeiro, em dinheiro e em espécie. O governo da Guiné-Bissau também deu o seu ‘parecer favorável de princípio’, sempre com grandes resistências e com pareceres pouco favoráveis dos técnicos das zonas de influência já referidas. E isso atrasou tudo, o despacho final em papel timbrado não saía e então não podia andar nada. O tempo passa e nada acontece. Mas viria a acontecer.


A preparação do pacto social e quotas 


Entretanto e durante este longo período – Agosto de 84 (data em que foram iniciadas conversações entre o Major e os Técnicos) e Julho de 85 (data em que tudo acabou), vão sendo discutidas e acertadas as condições de cada sócio, as suas percentagens e tudo em função da capacidade de influência de cada um, então liderada sempre pelo Major, que achava que o seu peso político era mais importante que qualquer outro.

São feitas várias alterações de quotas e com entradas e saídas de alguns, fazem-se acusações mútuas entre uns e outros, e ameaças de denúncias e de procedimentos criminais. Mas tudo volta ao normal. E lá estou eu metido no meio de malabaristas, era a minha sina...

Eu passo a ficar instalado a partir talvez de Dezembro de 1984, no edifício do consulado, na Praça Marquês de Pombal, numa sala do 1º andar ao lado do gabinete do Major, e acabei por ter conhecimento de muitas coisas que ele tratava ao telefone, ou até em reuniões, pois como todos sabem o Major fala sempre muito alto e até aos berros, por isso é fácil ouvir tudo. [Soube muitas coisas sobre o mundo do futebol, ele era também Presidente do Boavista, pude ver como foi tratado o caso do famoso ‘Luvas Pretas’, o João Alves,  agora comentador de programas desportivos com que a TV nos enche a barriga todos os dias.]

O Gabinete – aquilo era uma mansão - era frio, mas ele gostava das janelas abertas, não queria muitas luzes acesas, não ligava o aquecimento e não gostava de água a pingar das torneiras. Manias que fui vendo e aprendendo, mesmo com muito dinheiro que ele já tinha e as suas influências, era assim um forreta como poucos. [Nas minhas atuais andanças de fotógrafo pelo Porto, fui lá fotografar este palacete do Marquês, e o edifício, antes em ruinas, é hoje um hotel de luxo!]

A viagem a Dakar

Aguardando o impasse nas negociações e estudos lentos do Estado da Guiné, e porque já estava em carteira esta ideia, partimos no dia 7 de Janeiro de 1985 rumo ao Senegal, num avião Bi-Turbo das Linhas Aéreas da Guiné-Bissau, com capacidade para uns 50 passageiros, com paragem de escala em Zinguinchor, depois de atravessar o Rio Casamansa, e correu tudo bem até aterrar no Aeroporto Internacional de Dakar.

A nossa viagem ao Senegal, tinha como objectivo principal, ‘vender’ o projecto ao Governo deste país, o Senegal, tivemos uma reunião com o Ministro do Desenvolvimento Rural, ele gostou e apreciou muito e disse que seria interessante para eles. Pediu para deixar uma cópia, ficamos com todos os contactos, mas nunca mais disse nada. Coisas de África…

Verificamos que toda a Economia do Senegal estava nas mãos dos Franceses, vimos isso em Dakar, mas era o mesmo nos outros locais do país, foi o que também nos assegurou o nosso Adido [Comercial, da Embaixada Portuguesa], pois já tinha muitos anos daquele país.

Dakar [, hoje com mais de 3 milhões de habitantes,] era uma grande cidade, moderna e desenvolvida, era uma espécie de ‘Paris em África’, mas habitada na sua maioria por cidadãos de diferentes etnias, de religião muçulmana.  Quando desembarcamos no aeroporto de Dakar – a 25 km da capital – parece que tínhamos chegado a outro mundo, o clima muito diferente para mais suave, e não faltava nada. Mas tudo muito caro, uma garrafa de águas de 0,25 custou 400$00 na nossa moeda, e tomada em pé na rua.[, 7,95 €, a preços de hoje].

Ficamos instalados num Hotel novo, no centro da capital, o Hotel ‘Al Afifa’ era tudo gerido por franceses, só os criados eram africanos. Tudo muito caro, almoçamos lá, com a fome que trazíamos de Bissau, e foi bom mas caro, uma garrafa de vinho normal francês, custou 7 contos, no total pagamos mais de 20 contos por tudo [397,73 €, hoje ]. A moeda circulante era o Franco CFA, e com os câmbios para a nossa moeda ficava tudo muito caro, para nós, portugueses. Nessa altura o câmbio de 1USD era à volta de 200$00 [3,98 €, a preços de hoje].

Ficamos lá 2 dias, pois o visto que foi dado no aeroporto, a troco de suborno, pois não tínhamos as vacinas em dia, custou 100$00 este pequeno suborno, eles não conheciam a nossa moeda, eu disse-lhes que era equivalente a Dólares Americanos, por isso 100 USD era muita massa.

Tivemos um contratempo, levamos só dinheiro em escudos, lotes de notas de 5 contos, e quando fui no aeroporto ao balcão para trocar pela moeda deles, ele devolveu as nossas notas de 5 contos, dizendo que era ‘merde’,  não tinha câmbio. Ficamos enrascados, mas não havia problemas, apanhamos um taxista, levou-nos até à Embaixada de Portugal, os gajos faziam aquilo a uma velocidade louca, mas chegamos vivos, o meu amigo ficou no carro, pois o taxista nunca desligou o motor, estava sempre a contar, entrei e pedi para falar com o Embaixador, ele ouviu a explicação e mandou logo o Adido com dinheiro para pagar ao táxi e não aumentar a conta.

Depois explicamos que tínhamos ali dinheiro de sobra, mas era preciso cambiar, ele explicou aquilo que já sabíamos uma hora antes, não tinha câmbio em Francos CFA. Ele falou com o Governador do Banco Nacional do Senegal, depois este falou para um Banco Comercial, e fomos com o Adido juntos falar com o Presidente. Trocamos aquilo que eles pensaram que era necessário para os dois dias e hotel, e extras, acho que 20 ou 30 contos. Ainda tenho a nota de câmbios e sei que ficava tudo muito caro com base na nossa moeda. O Presidente do Banco foi ele mesmo que nos pagou em Francos CFA, não fomos à caixa porque não era possível, foi assim feito tipo saco azul, não sei, mas para nós ficamos aliviados.

Este Adido depois é que nos orientou em tudo, convidou-nos para um jantar inolvidável na casa dele, a mulher era de Macau, e falava também Chinês, mas cozinhava muito bem. Um grande peixe inteiro dos mares de Dakar, comemos até dizer chega, depois ainda ficou mais de metade, pesava aí uns 5 kg, os pescadores transportavam aquilo aos ombros, um pau grande e um peixe de cada lado, era um postal da cidade. Eles tinham de ir trabalhar no dia seguinte, deixaram-nos a chave de casa, e ao almoço fomos lá comer o resto sozinhos. Depois pagamos um jantar fora, ficamos muito agradados com aquele casal.

Ainda fomos ao cinema uma noite, e andamos pelos bares, e quase deu para o torto, eu pegava no dinheiro vivo das calças, um monte de notas, às tantas estava já cercado por meia dúzia deles, senegaleses,  o Adido a ver tudo, ele já os conhecia a todos, daí que, ele mesmo sendo baixinho, investe contra eles aos pontapés, a maioria tinha uns 2 metros de altura, com insultos na língua deles, a verdade é que fugiram e nós lá ficamos. O Adido alertou-me para não exibir o dinheiro, ele disse que eles estavam a preparar-se para me sacar a nota, pois eu fiquei no meio deles sem dar por isso.

Na última noite fomos para o Hotel já tarde, havia música africana e miúdas giras, todas falavam Francês, e vi uma coisa do outro mundo, a mulher preta mais bonita que vi até hoje, e de uma beleza tipo sueca, as feições como branca, mas preta mesmo, era da Guiné Conacri. Estava ali para ganhar dinheiro, como é óbvio, fiquei com os olhos feitos em bico, mas já não tínhamos dinheiro para mais.

O Adido, sabendo das vigarices que os taxistas  faziam, combinou com um deles, a hora que deveria estar no Hotel para irmos para o aeroporto, e o ‘preço’ certo para a viagem, tudo escrito e falado.

No dia seguinte fomos com ele à hora certa, quando chegamos ele estacionou à beira de um Policia, depois teve a lata de pedir o dobro do preço combinado. Como não tínhamos muito tempo, e apesar de barafustar, o polícia foi-se chegando, eles falaram, e deu para entender que tínhamos de pagar, senão ficávamos em terra. Por isso o Adido dizia que eles eram todos uns 'filhos DP'...

Deixamos aquela terra no dia 9 de Janeiro de 1985, com muita saudade e com grande gratidão ao Adido comercial e à sua mulher. Nunca mais nos falamos nem nos vimos, e já lá vão 33 anos, agora 35 e nem o nome dele e dela me lembro.

Em Bissau, depois voltamos aos contactos, tivemos imensas reuniões sempre inconclusivas, conhecemos muita gente, Africana e de todo o mundo, andavam por lá a tentar fazer negócios de rentabilidade imediata, eram do tipo ‘mercenários comerciais’ com muita experiência por países africanos e do terceiro mundo.

Regressamos a 14 de Janeiro, sem nada na pasta. Com grande tristeza pelo tempo e dinheiro perdidos. Mas ainda com a esperança de que íamos dar a volta àquela gente.

Lembro-me das mensagens dos meus filhos, que tenho escritas nas cartas que enviavam, que me pediam para trazer ‘um macaco’, outro perguntou se já tinha encontrado as minhas motorizadas que lá tinha deixado em 1969, a minha G3 e coisas de crianças que tinham entre 10 e 13 anos.

O que trouxe, foi um caixa de 10 kg de camarão da Guiné, tudo devidamente embalado em gelo, que pedi ao comissário de bordo para as colocar nas geleiras do avião. Ficou depois no Hotel onde fiquei hospedado com a minha mulher, nas câmaras frigoríficas, e no dia seguinte veio de comboio para o Porto e Vila do Conde, à temperatura ambiente, fria naturalmente.

Foi o nosso jantar no dia 16 de Janeiro de 1985, fazia o meu filho do meio 12 anos.

O camarão foi cozido e preparado à moda da Guiné, comprei lá o piripiri natural, os limões muito diferentes dos nossos, e fiz o molho que era servido lá nas esplanadas no tempo da guerra.

Num prato pequeno, piripiri moído, sal e o indispensável sumo de limão da Guiné, não tem nada a ver com o nosso. Depois ficou um petisco e foi até acabar.


O regresso de Dakar até Bissau 

Regressamos no mesmo avião e com o mesmo piloto, ainda fizemos escala em Zinguinchor, que eu ainda não conhecia, era uma cidade do tipo de Bissau, ainda deu para dar umas voltas.

Regressados à luta ‘armada’ dos papeis e reuniões, não vou maçar mais ninguém, pois as muitas reuniões não levam a nada, e não é objectivo deste trabalho contar isto tudo, mas com a máquina de escrever fiz muitos requerimentos e adendas ao projecto, sempre tentando que fosse ultrapassado os impasses que eram colocados, muito embora as reuniões com altas patentes governamentais não davam passos significativos, nunca se tentou corromper ninguém, talvez fosse esse o mal.

Havia o problema das colheitas, a cultura do arroz seria de sequeiro e não de bolanha, previam-se 4 colheitas por ano, e os senhores do Leste, não percebendo nada, diziam que não ia além das duas, e as quantidades por hectare eram muito diferentes, estava tudo emperrado.

O problema do financiamento ficou assegurado por um Consórcio Árabe-Espanhol, mas havia que ter um ‘garantia idónea’. Então era a do próprio ‘Aval do Estado Guineense’. Ninguém aceitava, pois, a Guiné não tinha ‘crédito’ nenhum. Tentou-se então entre muitas a COSEC, que era do Estado, mas também não alinhavam. Só mesmo aquele Consórcio. Depois o nosso Banco de Portugal não dava o aval porque não aceitava também o aval do Estado Guineense, o mais pobre país do mundo nessa altura.

Foi um trabalho hercúleo, cá e lá, que não ficou resolvido na segunda viagem.

(Continua)

Legendas das fotos:

Das fotos já enviadas e para esta Parte II são válidas as seguintes:

F17 a F23 – A VIAGEM DE TRABALHO A DAKAR NO SENEGAL

Esta viagem foi realizada de Bissau para o Senegal, com paragem em Zinguinchor, feita num avião médio Bi-Turbo dos Transportes Aéreos da Guiné Bissau – TAGB, comandando por um piloto negro, guineense e hospedeiras morenas, possivelmente de Cabo Verde.

F17 – O avião Bi-Turbo dos TAGB a percorrer a pista do aeroporto Amílcar Cabral, para levantar voo. Bissau 8Jan85.

F18 – O avião da TAGB já a levantar voo com destino ao Senegal, aeroporto de Dakar, ainda com paragem na cidade fronteiriça de Zinguinchor no Senegal. Bissau, 8Jan85.

F19 – Vista aérea da Guiné, sobrevoando a zona de Bafatá, com os arrozais e o local do futuro projecto a levar a efeito. Céus da Guiné, 8Jan85.

F20 – Uma família Senegalesa nos arredores de Dakar, mãe e 5 filhos.  Apesar de tudo dá para perceber que era outra cultura e outro poder de compra, não se via disto em Bissau, eram pessoas conhecidas do Adido, não são muçulmanos. E se ficássemos mais uns dias, ainda poderíamos assistir à chegada do rali Paris-Dakar, que chegou uns dias depois. Dakar, 8Jan85.

F21 – A nossa viagem a Dakar no Senegal. Sou eu, de fato claro, o Isidro Quaresma em mangas de camisa, e o nosso Adido comercial da Embaixada Portuguesa, junto do Governo do Senegal.  Não me lembro agora do nome deste homem que foi o nosso anfitrião, guia e amigo naquele país. Ao largo pode ver-se a ilha onde se traficavam escravos, tem um nome qualquer como símbolo contra a escravatura, não me lembro do nome, e agora serve como prisão de alta segurança no Senegal. Dakar, 7JAN85.

F22 – Foto numa estrada no cimo de um monte com vista para a baia de Dakar, e o carro do Adido, foi ele que tirou a foto. Estou eu, e o Isidro Quaresma. Dakar, 8Jan85.

F23 – Foto minha em Dakar, na viagem ao Senegal, nos arredores do Centro da Capital. Os ventos secos de Dakar. Um dia de vento quente e seco, nada comparado com o martírio de Bissau.  Pode ver-se ainda uma Renault 4L, a maioria dos carros de origem Francesa. Dakar. 8 Jan85.

Em, 06-06-2018 - Virgílio Teixeira

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ1933  / RI15, Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21Set67 a 04Ago69».

Corrigido, aperfeiçoado e modificado novamente,

Em, 2019-10-29

Virgilio Teixeira

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 23 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20271: Guiné 61/74 - P19815: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXXI: 1984/85: um regresso, quinze anos depois: (i) a primeira viagem de saudade