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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13175: Lembrete (3): Lançamento do livro "O Corredor da Morte", de Mário Vitorino Gaspar, 22 de maio, às 17h30, no Forte do Bom Sucesso, Belém, Lisboa, com apoio da Liga dos Combatentes e da associação APOIAR





1. Mensagem,  de 11 do corrente, do nosso camarada e grã-tabanqueiro Mário Gaspar [ex-fur mil at art, minas e armadilhas, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/68; autor do livro "O corredor da morte", a ser lançado no Forte do Bom Sucesso, Belém, Lisboa, no próximo dia 22 de maio]:


Homem Grande da Tabanca:

Divido o livro em três partes:

(i) a minha operação ao coração e o quanto estive perto da morte, fugindo dela; 

(ii) episódios da minha vida infanto-juvenil, escrita com a beleza de uma poesia dedicada ao bom e ao belo;

(iii)  e a minha história militar e o que pensava e fiz antes da partida para a Guiné para onde fui mobilizado como Furriel Miliciano, Atirador, Especialista de Explosivos, Minas e Armadilhas, na Companhia de Artilharia 1659 (CART 1659), mais conhecida por "Zorba" para Gadamael Porto e Ganturé, desde Janeiro de 1967 a Outubro de 1968. 

E no livro - quase na totalidade - narro operações militares, patrulhas, emboscadas, ataques aos aquartelamentos desde Mejo, Guileje, Gandembel, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Cacine. 

Foco o nosso desespero ao assistir às mortes e aos ferimentos dos nossos camaradas, narro episódios de levantamento - principalmente de minas - do PAIGC e também da montagem e desmontagem de minas, armadilhas e fornilhos não só por mim montadas.

E o livro indica ter existido algo de comum na minha vida: “O Corredor da Morte”:

(i) estive no “corredor da morte”, quando fui sujeito a uma operação cirúrgica ao coração, ficando em coma;

(iii) estive no “corredor da morte”, quando manuseava explosivos, minas e armadilhas; 

(iii) estive no “corredor da morte” quando frequentemente tinha de participar nas emboscadas no famigerado “corredor da morte”, também chamado “corredor de Guileje”, junto à fronteira da ex-Guiné Francesa, hoje Guiné Conacri.

Os intervenientes, portanto Oficiais, Sargentos e Praças não possuem nem rosto nem nome, embora na grande maioria dos casos estejam identificados.

A CART 1659 que tinha como lema “Os Homens não Morrem” era constituída por verdadeiros heróis, aliás como todos os outros jovens que combateram na Guerra Colonial, nas três frentes.

Dos mortos que esta Companhia teve, constam os nomes, dos feridos pensei não os enumerar, o que não é desrespeito.

Depois descrevo a minha abreviada participação na APOIAR – Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.

Sendo um dos fundadores, iniciei o primeiro mandato, de mais de dois anos como Vogal e Secretário; o segundo mandato, de dois anos como Vice Presidente, e o terceiro e quarto mandato, mais de seis anos como Presidente. Sempre na Direção Nacional. Fui fundador e o primeiro Diretor do Jornal APOIAR.

O Lançamento do Livro “O Corredor da Morte”, da autoria de Mário Vitorino Gaspar,  é no dia 22 de Maio pelas 17H30, no Forte do Bom Sucesso, em Belém – Lisboa.

A mesa de lançamento do livro, terá a seguinte composição:

1 – Preside a Mesa o Presidente da Direção Central da Liga dos Combatentes, General Joaquim Chito Rodrigues;

2 – Professora Ermelinda Caetano fará a apresentação do livro e representará a Associação Cultural e Social dos Seniores de Lisboa – Academia de Seniores de Lisboa;

3 – O Psiquiatra Doutor Afonso de Albuquerque, autor do prefácio do livro,  falará decerto sobre a sua Comissão em Moçambique como Médico, assim como da sua intervenção em trabalhos científicos em Portugal sobre o estudo do Stress Pós-Traumático de Guerra;

4 – Eu, autor do livro;

5 - Jorge Gouveia,  Presidente da APOIAR – Associação de Apoio aos Ex- Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.

Envio em anexo o Convite e Cartazes que se encontram expostos em vários locais.

Cumprimentos do Homem da Tabanca Grande

Mário Vitorino Gaspar

______________

Nota do editor:

Último poste da série > 8 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12947: Lembrete (2): Lançamento do livro "Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau: Um Roteiro" por Francisco Henriques da Silva e Mário Beja Santos, a ter lugar no Salão Nobre da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Largo S. Domingos, Lisboa, amanhã, dia 9 de Abril, pelas 18 horas (Francisco Henriques da Silva / Mário Beja Santos)

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13077: Agenda cultural (312): Convite para o lançamento do livro “O Corredor da Morte”, de Mário Vitorino Gaspar, no próximo dia 22 de Maio, 4ª feira, pelas 17h30, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa, com a presença, entre outros, do ten gen Joaquim Chito Rodrigues, presidente da Liga dos Combatentes, e do psiquiatra Afonso de Albuquerque, autor do prefácio



Convite do autor para o lançamento do seu livro, "O corredor da morte"


1. Mensagem de 29 de abril último, do nosso camarada Mário Gaspar:


Camaradas e amigos da Tabanca Grande


 I. Fiz a minha Comissão de Serviço como Furriel Miliciano de Artilharia, Atirador e com a Especialidade de Explosivos de Minas e Armadilhas, na Companhia de Artilharia 1659 - CART 1659 - também conhecida como a "ZORBA" em Gadamael Porto e Ganturé - desde Janeiro de 1967 a Outubro de 1968.

Divido o livro em três partes: (i) a minha operação ao coração e o quanto estive perto da morte, fugindo dela após 16 dias em coma; (ii) a minha vida infanto-juvenil, escrita com a beleza de uma poesia dedicada ao bom e ao belo;  e (iii) a minha história militar e o que pensava e fiz antes da partida para a Guiné, para onde fui mobilizado.

E o livro tem o significado de ter existido algo de comum na minha vida, "O Corredor da Morte":

(i) estive no "corredor da morte" quando fui operado ao coração;

(ii) estive no "corredor da morte", quando manuseava explosivos, minas e armadilhas;  e

(iii) estive no "corredor da morte" quando frequentemente tinha de participar nas emboscadas no famigerado "corredor da morte", também chamado "corredor de Guileje", junto à fronteira da ex-Guiné Francesa, hoje Guiné Conacri.

Os intervenientes, Oficiais, Sargentos e Praças,  não possuem rosto, nem nome, embora na enormidade dos casos se possam reconhecer. A Companhia que tinha como lema "Os Homens não Morrem", formada por verdadeiros heróis, aliás como todos os outros jovens que combateram na Guerra Colonial, nas três frentes

Dos mortos que esta Companhia teve, constam os nomes, dos feridos pensei em não os enumerar, o que não é desrespeito.

II. O Lançamento do livro “O Corredor da Morte”, da autoria de Mário Vitorino Gaspar,  é no dia 22 de Maio pelas 17h30, no Forte do Bom Sucesso, em Belém – Lisboa.

A mesa de lançamento do livro, terá a seguinte composição:

1 – Preside a mesa o Presidente da Direção Central da Liga dos Combatentes, General Joaquim Chito Rodrigues;

2 – A Professora Ermelinda Caetano que fará a apresentação do livro e representará a Associação Cultural e Social dos Seniores de Lisboa – Academia de Seniores de Lisboa;

3 – O Psiquiatra Doutor Afonso de Albuquerque, autor do prefácio do livro,  falará decerto sobre a sua comissão em Moçambique como médico, assim como da sua intervenção em trabalhos científicos em Portugal sobre o estudo do Stress Pós Traumático de Guerra;

4 – Eu, como autor do Livro projecto uns slides sobre o livro;

5 – O representante da APOIAR – Associação de Apoio aos Ex Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.

Envio em Anexo o Convite para o Lançamento do Livro.

Cumprimentos do Homem da Tabanca Grande

Mário Vitorino Gaspar

PS - Gostaria imenso que o blogue Luís Graça & Camaradas na Guiné estivesse representada na mesa de lançamento.

Assim, convido-os a fazerem-se representar no mesmo. Para tal necessito da resposta dos Homens Grandes da Tabanca, tão breve quanto possível, visto pensar iniciar o envio dos Convites já para a semana que vem.
______________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de abril de 014 > Guiné 63/74 - 13058: Agenda cultural (311): Lançamento do livro de Henrique Tigo, "As Portas de Abril", 30 do corrente, 4ª feira, 19h, Centro Cultural Malaposta, Olival Basto, Loures

sábado, 2 de outubro de 2010

Guiné 63/74 – P7070: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (22): A morte no final da comissão, Bissau, em 3 de Outubro de 1969


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Álbum fotográfico do Albano Gomes > Foto nº 10 > "O Obus 10.5, virado à fonte, que, conjuntamente com outro instalado do lado contrário do Aquartelamento, e quando manuseados pelo Pelotão de Artilharia ali instalado, faziam Manga de Ronco" (AG). 

Fotos (e legendas): © Albano Gomes (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os  direitos reservados.


1. Mensagem de Torcato Mendonça, de 28 de Setembro último:

Assunto: Destinos


Meu Caro Camarada e Amigo [Carlos Vinhal]: 


Antes que o mês acabe vou fazer paragem na sabática. Ou seja, envio um texto lamechas na leitura apressada. O 3 de Outubro está perto. Sabes,  aquele escrito e outros estão "aquietados". Mas li este e fiquei a pensar, a recordar. São coisas que só um homem sabe bem e, se for lido em linhas e entrelinhas ou se vai lá ou, em gente de certo passado como nós, estabelecemos analogias.

Tenho ultimamente lido mais ao correr do rato. Outros paro e consumo devagar. Concordo, discordo e,  como anteriormente disse,  não comento. É pior e fica-se a remoer. Há concepções...bem não adianto mais ou... delete. A pluralidade opinativa é um valor adquirido e tem toda a razão, Felismina, de existir. Mas será extensível a tudo o que aqui aparece. O "aqui" é o blogue.

Eu nem sei se estás ao serviço ou de serviço. Parto do princípio que sim e, como quase sempre peço,  diz se chegou...basta um Ok. Quanto ao anexo é vosso e dele fazem o que quiserem.

Ainda vou tratar de uns assuntos e já é 28 de Setembro

Abraço a ti e extensível aos Editores e a Todos claro está.
Torcato

PS- Esta Bolha pode ser a uma por semana. Serei capaz? Sem compromisso,  como sempre. 

 
2.  Estórias de Mansambo II > Logo Ali, o Vazio…
por Torcato Mendonça (**)

Alegre, sorriso fácil, normal gosto por festas e bailaricos. Cresceu na planície com horizonte largo, a cidade lá muito ao fundo, e, á noite, sentado no portal da casa, olhava as luzes da cidade a tremerem devido ao calor a sair lento, lentamente da terra quente.
Planície de terra negra, fértil, terra de barros e terra mãe a dar sustento a ranchos de homens e mulheres que nela trabalhavam.
Ele trabalhava-a com carinho, mesmo com jorna magra e quando o sol se começava a querer esconder no horizonte a casa voltava.
Recebeu, através da Junta de Freguesia, a carta a dizer que teria que ir para um quartel. Carta curta, simples e a partir daquele momento estava incorporado como militar. Assim, poucos dias depois beijou a mulher, tocou-lhe ao de leve na cara a desviar a lágrima que descia.
Partiu então e por lá andou, correu, saltou, aturou berros e gritos. Nada disse, quase nada sentia a não ser o desejo de voltar. Voltar para junto da mulher, da terra negra, afagar ambas e á tardinha olhar a planície sem fim.
Um dia disseram que teria que ir para África. Onde? África e Guiné.
Ficou triste. Voltou a casa por breves dias, olhava ternamente a planície, o horizonte e com a mulher ao lado sem nada dizerem. Sentia quanto aquela aproximação seria breve. Sentiam, ele e ela, de modo diferente tudo o que os rodeava. Guiné? África? Porquê?
Voltou a despedir-se da mulher, fez-lhe uma festa no ventre e sorriu. Sorriram ambos na angústia de um destino desconhecido.
Meteram-no num barco, barco enorme, barco prenhe de militares companheiros de viagem em porão mal cheiroso e, cada vez mais nauseabundo á medida que os dias passavam. Sulcavam mares como o seu povo há séculos fazia mas, ele e outros, certamente também de pronto dispensavam. Passaram os dias, lentos e numa manhã ouviram o grito de que estava terra á vista.
Olhou e ao longe viu a neblina a levantar-se da terra. Lembrou a sua planície e rápido desviou o pensamento.
Horas depois aí estava o barco parado, a azáfama do desembarque, o calor a encharcar o corpo, a humidade a fazer-se sentir. Olhava e sentia ser tudo diferente, tudo a nada lhe dizer, tudo a levar a questionar-se o que ali fazia.
Não o deixaram gastar muito tempo, em visitas, olhares ou pensamentos. Não tardou a ser metido num batelão de nome esquisito. Ele, viaturas, caixotes enormes e, claro, os seus e outros companheiros, que aqui eram camaradas, lá seguiram viagem. Desta vez, não por mar, mas por um rio enorme acima.
Foi parar a um quartel. Chamavam àquele amontoado de casas desgastadas, barracões e buracos enormes tapados por troncos e com valas, no chão abertas, quartel. Seria um quartel ou um aquartelamento. Tudo bem para ele.
Tudo diferente, tudo estranho, onde o horizonte era já ali baço e verde, com a floresta num verde-escuro a sobressair da terra vermelha e quente.
Os amigos eram os camaradas do grupo e da Companhia. Falavam, riam, tentavam adaptar-se e afugentar para longe as recordações do seu Pais.
O tempo passava lento, tão lento que, sem por isso dar, veio a carta e nela a nova de que era pai de uma menina.
Se até aí as saídas para o mato em operações, as colunas com muitas viaturas, os tiros e rebentamentos eram a normalidade daquele estúpido viver e até a vontade de rir ou sorrir iam desaparecendo, naquele momento ficou parado, quieto, olhar vazio. Não soube o tempo que assim passou. Despertou com o vozear dos camaradas e sentiu que as forças lhe fugiam corpo abaixo, a cara a ficar molhada, os cheiros a serem os da planície, da mulher, da terra negra. Sentiu-se só, demasiado só. Sentou-se e o corpo ali e ele lá, ele a lá voltar, não sabia quem já era, que fazia ali, que tinham feito dele, porque, em tão pouco tempo, vira tanta desgraça e tanta miséria. Sentiu medo, mais medo, medo de tudo e dele também.
A partir daquele dia sentiu-se outro, mais temeroso e a desgastar-se no tempo. Tempo a passar cada vez mais lento, tão lento.
Andava cabisbaixo, diferente e fazia contas ao tempo que faltava. Quanto? Um ano, seis meses, três?
Se saía para o mato sentia-se mais fraco, sentia mais o medo, os medos que todos sentem e mais os dele.
Recebeu a notícia com certa indiferença. Ia para Bissau para tratar e cuidar de teres e haveres dos seus Camaradas da Companhia. Tinha tantos meses de comissão e nunca vira Bissau, excepto, brevemente, ao desembarcar e nem dera para ver nada. Vida de soldado era difícil.
Passados dias aí estava Bissau. Habituou-se rapidamente e reaprendeu a sorrir. Os pensamentos continuavam caminhando para a sua planície, família e os seus camaradas no mato. Como a guerra ali era diferente. Guerra só de nome e gente com risos e vidas a correrem rápidas e alegres. Muito deles em passagem para voltarem ao mato, aos medos, á vida que dispensavam.

Naquela manhã saiu alegre. Entrou no jeep, o amigo a conduzir, Bissalanca logo ali. Estrada fora ele a dizer que teria o embarque daí a dois meses. Seria?

A hiena apareceu, o jeep guinou, saiu célere da estrada, o baga-baga parou-o. Da testa escorria-lhe um ligeiro fio de sangue. Talvez o seu último pensamento tivesse chegado á planície, á terra mãe, á mulher e a sua filha…talvez…

Nenhures ou entre o Alentejo e Bissau aos 3 de Outubro de 1969
_____________

Nota de L.G.:

18 de Maio de 2010

Guiné 63/74 – P6423: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (21): Zumbidos em noite de Verão


(**) 

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/05/guine-6374-p6423-estorias-de-mansambo.html

(***) Na lista dos Mortos do Ultramar, organizada pelo portal Guerra do Ultramar, consta, no concelho de Beja, o nome de  José Francisco Gaié Casadinho, natural da freguesia de São Matias, sold da CART 2339, vítima de acidente de viação em 2 (e não 3) de Outubro de 1969. 

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4238: Blogpoesia (40): A tua última emboscada, irmão (José Brás)

1. Mais um belo texto do poemário do José Brás, alentejano, reformado da TAP, vivendo hoje em Montemor-O-Novo, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622 (Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), autor do romance Vindimas no Capim, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura) (*):




Irmão

de valor carecem
as palavras
que eu queira construir
sobre
o mistério grande
do teu corpo agora
inerte

tu que alongaste os dias
cruzando o mar
na memória
da voz quente
das cidades
nem ouves aquelas
à tua volta
sussurrando espantadas
sobre as glórias que tiveste
o costume do sorriso ou
simplesmente
a trivialidade da morte

da tua última emboscada
ninguém dirá
que a perdeste
ou que a ganhaste
se não é
ainda dado
a humano
ler na paz definitiva
que te vara o rosto
seguro é
nos companheiros
todos
da travessia
que por dentro de nós
fizeste
o futuro guardará
a palavra
irmão

José Brás

[Revisão / fixação de texto: L.G.] (**)
________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3842: Tabanca Grande (111): José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Guiné 1966/68

(**) Vd. a lista completa dos postes desta série (Blogpoesia):

16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4196: Blogpoesia (39): CCAÇ 557, Missão cumprida na Guiné (José Colaço/Francisco dos Santos)

6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4147: Blogpoesia (38): A Criatura e Rambo Guinéu (Manuel Maia)

30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4112: Blogpoesia (37): Para fechar o dia dos poetas da guerra colonial, celebrado hoje, aqui e em Coimbra... (Alberto Branquinho)

30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4109: Blogpoesia (36): E Viva a Vida, Vida a Poesia! (Jorge Cabral)

30 de Março de 2009 Guiné 63/74 - P4107: Blogpoesia (35): Tinhas no olhar / sinais seguros de esperança... (José Brás)

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4100: Blogpoesia (34): Regressei um dia / lavando a alma na espuma das lágrimas... (António Graça de Abreu)

27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4087: Blogpoesia (33) : O bardo de Cafal Balanta (Manuel Maia)

25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4078: Blogpoesia (32): João, 20 anos, apto para todo o serviço... (José Brás)

15 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4037: Blogpoesia (31): Quando eu era menino e moço... (Manuel Maia)

9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3858: Blogpoesia (30): Em Cutima, tabanca fula... (José Brás / Mário Fitas)

31 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3688: Blogpoesia (29): Este ano não mandei cartões de boas festas a ninguém (Luís Graça)

28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3672: Blogpoesia (28): O Menino Jesus chinês (António Graça de Abreu)

25 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3669: Blogpoesia (27): A velha Amura dos tugas (Luís Graça)

26 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3243: Blogpoesia (26): 35 anos de Guiné-Bissau: A minha contribuição para a tua festa, meu irmão, minha irmã (Luís Graça)

11 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3193: Blogpoesia (25): Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma a uma madrinha de guerra (Luís Graça)

6 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3178: Blogpoesia (24): A minha pequenez é que era uma tristeza (Rui A. Ferreira)

4 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3169: Blogpoesia (23): Amálgama de sentimentos e emoções...(Rui A. Ferreira)

6 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3115: Blogpoesia (22): No mesmo navio, piscina e música em camarote de 1ª, suor nos porões...(José Belo).

[Por lapso, houve um salto na numeração, de 10 para 22]

30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2701: Blogpoesia (10): Olhando para uma foto minha, no Mato Cão, ao pôr do sol, com o Furriel Bonito... (Joaquim Mexia Alves)

27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2589: Blogpoesia (9): Sangue derramado (José Manuel, Mampatá, 1972/74)

27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

12 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2259: Blogpoesia (7): Nas terras de Darsalam, no Cantanhez, adormeceste, para sempre, como herói, meu querido Sasso (J.L. Mendes Gomes)

7 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2248: Blogpoesia (6): África Raiz, de Fernanda de Castro

16 de Outubro de 2007 > Guiné 63774 - P2180: Blogpoesia (5): O vigésimo sexto aniversário de um gajo nada sério, Missirá, 6 de Novembro de 1970 (Jorge Cabral)

23 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2125: Blogpoesia (4) : A morte do pássaro de areia (Luís Graça)

30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2009: Blogpoesia (3): Explorador ? Mineiro ? Não, um Soldado ! (Jorge Cabral)

18 de Julho de 2007 > Guine 63/74 - P1964: Blogpoesia (2): O Combatente (Magalhães Ribeiro)

17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1963: Blogpoesia (1): O embondeiro do Cachil (J. L. Mendes Gomes)

quarta-feira, 4 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3979: Nuvens negras sobre Bissau (15): Morreu o Comandante Nino (David Guimarães)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xitole > 1970 > Vista aérea do Xitole (aquartelamento, posto administrativo e tabanca), localizado perto da margem direita do Rio Corubal. O sector L1 era essencialmente composto pelo triângulo Xime - Bambadinca - Xitole (havia ainda o Cuor, a norte do Rio Geba). O PAIGC tinha, praticamente desde o início da guerra, uma forte presença, em homens armados e em população civil ao longo na margem direita do Rio Corubal (região rica em bolonhas e em florestas-galeria, como a Mata do Fiofioli). Nino também conheceu bem esta zona. Não sei se alguma vez terá ouvido a viola do Guimarães a gemer o fado de Coimbra... Em contrapartida, o Guimarães levantou-lhe as suas minas e armadilhas... Mas nunca as devolveu...

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados



Porto > Maio de 2006 > O David David Guimarães e o António Marques Lopes, dois históricos do nosso blogue, e que são também figuras conhecidas e populares da Tabanca de Matosinhos, encontrando-se regularmente, todas as semanas, ao almoço de 4ª feira, no Restaurante Milho Rei... Como eu costumo lembrar, foram os primeiros, a atabancar, logo em Maio de 2005, no nosso blogue, por mão do Sousa de Castro (se a antiguidade fosse um posto, entre nós, eles os três já hoje eram generais de muitas estrelas)... Por razões circunstanciais, não têm aparecido este ano no nosso blogue.

Foto: © David J. Guimarães (2006). Direitos reservados



1. Mensagem do camarada nº 3, em termos de antiguidade, da nossa Tabanca Grande, o David Guimarães (ex-Fur Mil At Atilharia e Minas, Xitole, sede da CART 2716 / BART 2917, 1970/73), que vive em Espinho, é funcionário da Segurança Social, reformado, e membro do Grupo de Fado de Coimbra do Choupal até à Lapa.


Assunto - Lamento (*)

Nino Vieira... Morre um Presidente de um País que afinal a nós nos é querido, um país que por força de convicções e época nós todos evitamos que se constituísse mais cedo - era assim.

Para mim hoje morre um homem que ontem lutou em favor de sua Pátria e morre às mãos de seus irmãos guineenses. Não me interessa as circunstâncias porque foi morto e se tinham ou não razão para tanto ódio, mas para matar, NÃO.

Curvo-me perante um Comandante, herói da Guiné Bissau, que, quando da minha comissão, lutou nas fileiras do PAIGC exactamente na região onde perstei serviço - a confirmação era dele... E que viveu em Vila Nova de Gaia e de que Luís Cabral faz menção no seu livro Crónica da Libertação .

Morreu, para nós, ex-combatentes, o Comandante Nino, Presidente democraticamente eleito da Guiné-Bissau, um ser humano e isso é que tem significado - NÃO HÁ DIREITO, que se acabe com ninguém nem ninguém tem o direito de matar.

Toda a argumentação de morte adivinhada, anunciada, etc., etc., não cabe nestes parágrafos sob risco de ingerência, embora eu entenda que haja essa tentação, porque também conheci outros comandantes que morreram também desta forma, mas isso é de outro capítulo que não este.

David Guimarães

Ex-Furr Mil At Artilharia e Minas
Xitole 1970/1972

_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 4 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P3978: Nuvens negras sobre Bissau (14): N' cansa tchora guine (Anastacio di Djens / Luís Graça)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3468: Poemário do José Manuel (24): Sabes o que é morrer... ?


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Material de guerra capturado ao IN: uma mina anti carro e uma antipessoal ainda por armar, um morteiro com prato e as respectivas granadas, e duas armas ligeiras nas mãos do Pinheiro"... De óculos escuros, o Fur Mil José Manuel Lopes.

O Pinheiro era 1º cabo de transmissões, um homem por quem o José Manuel nutria muito respeito e admiração pela sua coragem física. Este material foi apanhado ao PAIGC quando um grupo tentava pôr minas na estrada em construção, já para lá de Nhacobá... "Nessa altura já tínhamos um destacamento em Nhacobá"... As minas nem sequer chegaram a ser enterradas. Mas o pessoal de minas e armadilhas contou outra história, a do bandido, no relatório enviado ao comando, já que mina anticarro levantada pelas NT valia mil pesos (uma antipessoal, 500$00)... Nesta estrada em construção (Mampatá, Cumbijã, Nhacobá, Salancaur...) ou nas suas imediações foram montadas centenas de minas, de parte a parte... O pessoal de minas e armadilhas da CART 6250 ganhou rios de dinheiro com minas levantadas... que depois era esbanjado em Bissau, no Pilão... (Inconfidèncias de um "unido de Mampatá").

Fotos, legendas e poema © José Manuel (2008). Direitos reservados.

1. Mais um dos poemas (sobreviventes...) do poemário do josema (*)


Sabes o que é morrer
com a vida por viver?
sabes o que é sentir
toda uma vida a fugir?
ter de cerrar os olhos
para voltar a sorrir?
eu fecho-os
para ver as vinhas e os montes
eu fecho-os
para ver o Douro correr
eu fecho-os
para ver uma mulher
eu fecho-os
para não pensar
nem me lembrar
que também posso morrer.

Mampatá 1973
josema
___________

Notas de L.G.:

(*) Sobre o Poemário do José Manuel, vd. os postes já publicados:

9 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3289: Poemário do José Manuel (23): Naquela mata o silêncio magoa...

23 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3145: Poemário do José Manuel (22): (...) Como os dias passam devagar / Contados a riscar um calendário...

22 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3084: Poemário do José Manuel (21): O recordar dos sentidos: como é bom ver, sentir, ouvir, cheirar, saborear, falar...

9 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3039: Poemário do José Manuel (20): Mãe, se eu não regressar, lembra-te do meu sorriso...

1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3010: Poemário do José Manuel (19): Aqueles assobios por cima das nossas cabeças...

22 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2973: Poemário do José Manuel (18): Não se morre só uma vez...

15 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2946: Poemário do José Manuel (17): A Companhia dos Unidos

2 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2911: Poemário do José Manuel (16): Saudades do Douro e do Marão...

25 de Maio de 2008 >Guiné 63/74 - P2884: Poemário do José Manuel (15): Dois anos e alguns meses

17 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2844: Poemário do José Manuel (13): A matança do porco, o Douro, os amigos de infância, os jogos da bola no largo da igreja...

9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...

2 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata

24 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973

19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2757: Poemário do José Manuel (8): Nhacobá, 1973: Naquela picada havia a morte

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...

5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?

28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...(...)

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!

9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?

3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...


Sobre o nosso camarada José Manuel Lopes, vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

O José Manuel Lopes foi Fur Mil Inf Armas Pesadas, na CART 6250 (Mampatá, 1972/74). Natural da Régua, é um conceituado vitivinicultor, explorando a Quinta da Senhora da Graça, com sede em Senhora da Graça, 5030-429 S. João de Lobrigos, concelho de Santa Marta de Penaguião, distrito de Vila Real, Telef. 254 811 609 (Email: quinta.graca@mail.pt ).

Tem vinhos premiados e partilha os seus néctares com os amigos e os clientes. Destaque para dois vinhos de classe, que orgulham a produção nacional:

(i) Pedro Milanos 2005, Douro DOC: Tinto, 13,7º: Castas: Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca: medalha de prata no Wine Masters Challenge 2008; seleccionado em 2006 e 2007 pela Néctar entre os melhores vinhos do ano; está no Top 100 da Blue Wine, em 2008; (preço por garrafa: 6 pesos...). Enólogo: Vasco Valente Lopes.

(ii) Penedo do Barco 2005, Douro Doc: Tinto, 14,2º; castas: Touriga Nacional (40%), Touriga Franca (20%), Tinta Roriz (20%), Tinta Barroca (0%) e Tinta Amarela (10%). (preço por garrafa: 10 pesos...). Enólogo: Vasco Valente Lopes.

O nosso camarada tem uma equipa de cinco estrelas: a esposa, Maria Luísa Valente Lopes, e uma filha, ainda estudante, e um filho, o Vasco Valente Lopes, promissor énologo, com prémios já ganhos e estágio na Austrália. O nosso camarada faz também turismo rural. É membro da nossa Tabanca Grande desde finais de Fevereiro de 2008 e frequenta, religiosamente, às 4ªs feiras, a Tabanca de Matosinhos.

Vai estar este fim de semana em Lisboa, na 3ª edição do Porto e Douro Wineshow, num ambiente místico e sofisticado, o Convento do Beato, em 22 e 23 de Novembro de 2008, das 15h às 22h.
Recebi hoje, pelo correio, seis convites, cada um válido para duas pessoas... Já fiz contactos com a malta da Tabanca Grande. Ainda tenho dois convites disponíveis (4 pessoas) para quem me telefonar (21 471 0736 / 931 415 277).

Neste próximo fim de semana, mais exactamente, no domingo à tarde, espero poder encontrá-lo, dar dois dedos de conversa, partilhar com ele a sua paixão pelo Douro, e provar os seus vinhos... Se aparecer mais alguém da Tabanca Grande (Virgínio Briote, Humberto Reis, e outros), muito melhor.


Vd. ainda o poste de 3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3165: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (6): Com o José Manuel, in su situ, um pé no Douro e uma mão no Marão (Luís Graça)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3403: In Memoriam (11): Júlio Marques, ex-1º Cabo, CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, morto no dia de finados (Idálio Reis)

1. Mensagem do Idálio Reis, com data de hoje. Engenheiro agrónomo, reformado, residente em Cantanhede, foi Alf Mil Op Esp, CCAÇ 2317, Gandembel/Balana, 1968/69:


Meus caros Luís, Vinhal e Briote.

Perdemos mais um companheiro que viveu essa guerra que outrora se travou na Guiné. E há um enorme sentimento de perda.

Cordialmente, Idálio Reis


ASSUNTO: Morreu o Júlio Marques, meu conterrâneo e contemporâneo em terras da Guiné


A efemeridade da vida. Regressava o Júlio, da missa de finados celebrada no cemitério da freguesia, quando o seu coração o trai repentinamente, caindo fulminado por uma paragem cardíaca, deixando na maior dor os seus entes mais queridos.

Morre ainda relativamente novo, com 63 anos, após uma vida em que a sorte que lhe estava reservada, de tantas vezes lhe foi adversa, dando mostras de não o querer bafejar.

Paradoxalmente, o Júlio teve uma juventude feliz, mercê de um desvelado afã dos seus pais, que lhe proporcionaram que fosse estudar, e que viria a abandonar por iniciativa própria, algum tempo antes de ser chamado a cumprir o serviço militar.

Não quis, soube ou teve bastante capacidade para aproveitar a benesse ofertada, e os resultados que conseguiu almejar, foram praticamente nulos. E quando chega da Guiné, a única opção que foi capaz de enfrentar e para a qual estava melhor talhado, como a de tantos outros, foi a de dar continuidade à agricultura que era a forma de vida da casa paterna, e que, em princípio, lhe auguraria um futuro com algum desafogo.

Numa aldeia essencialmente rural, a sua casa agrícola despontava entre as melhores, e, conhecedor da actividade, rasgava-se-lhe um horizonte com razoáveis perspectivas para se inserir no seu meio. Estávamos mesmo no princípio da década de 70.

E os primeiros tempos correram-lhe de feição, sentindo-se um homem feliz, ainda que apenso a muito trabalho e canseiras. Mas esta agricultura, de minifúndio, vai entrando em crise, acentuada de ano para ano, e o Júlio perde rentabilidade. Dificulta-se-lhe a vida, manifestam-se dificuldades impossíveis de superar, e hoje vivia para sobreviver, com uma agricultura de subsistência.

Das vezes que nos encontrávamos, reconhecia nele um homem vencido pelas vicissitudes da vida. Cansado, sem queixumes, continuava bastante apegado às suas courelas, pois só com muito esforço conseguia juntar algum pecúlio para o seu quotidiano.

Tinha como vício o tabaco, e tantas vezes o aconselhava para deixar o cigarro. Ripostava-me que andava a tentar abandonar e que um dia o faria. Debalde!

Se lhe apontava este conselho, era tão só para ter um motivo de conversa, pois era bastante lacónico, pouco propenso para falar do que quer que fosse. E, em poucos minutos, desculpava-se e seguia o seu destino. Tornara-se um aldeão “à antiga”, um homem bom, com um tipo de vida muito caseiro.

Éramos conterrâneos, vivíamos nos extremos da aldeia, e durante a meninice raramente brincámos conjuntamente. A nossa grande amizade foi muito cimentada, quando a minha Companhia esteve em Buba, onde ele já se sediava, julgo que pertencendo à CCaç 2381 ou CCaç 2382 como 1º cabo.

No pretérito dia 1, tínhamo-nos cumprimentado no cemitério da freguesia. Era um homem que sempre dedicou um carinho muito especial à memória dos seus pais, que tanto labutaram por ele. Talvez, neste dia de homenagear mais sentidamente os nossos, um turbilhão de sentimentos e comoções mais transparece nas preces que lhes endereçamos. Não resistiu no Júlio.

Em dia de finados, porventura cismando na roda e rumo que a sua vida tomara, num ápice uma folha de Outono tomba para sempre. E deixa-nos mais pobres, pois a perda de um amigo é sempre uma fatalidade pesarosa.

Curvo-me em silêncio à perenidade da memória do homem grande que foi o Júlio Marques. Até sempre, bom amigo.

Um forte abraço a toda a Tertúlia
do Idálio Reis.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3045: Convívios (72): Em Campia, Vouzela, homenageando os esquecidos da guerra (Artur Conceição / José Manuel Lopes)

Guiné > Região do Oio > Jumbembem > CART 730 (1965/67) > O Sold Trms Artur Conceição, natural da freguesa de Campia, concelho de Vouzela, residente hoje na Damaia/Amadora e membro da nossa Tabanca Grande desde Maio de 2007... Aqui com duas meninas de Jumbembem, a Fili e a Djar. Que será feito delas ? - pergunta o Artur, apreensivo. Também elas são as esquecidas da guerra...


Vouzela > Campia > Monumento aos Combatentes do Século XX > Inaugurado em 13 de Novembro de 1999 e dedicado aos campienses combatentes deste século. Lembra aos vindouros a participação de muitos naturais de Campia na Guerra Colonial, na Primeira Grande Guerra e em expedições a África e à India. A iniciativa inseriu-se no IV Convívio dos Combatentes e Forças Expedicionárias da Freguesia de Campia. Em 2007, realizou-se o XII Convívio. No início da cerimónia, o nosso camarada Artur Conceição no uso da palavra. Ao centro, o Capitão Álvaro Dório Correia Tavres, que esteve em Bedanda.

___________________



Gostava de vos falar
dos esquecidos,
dos heróis que a história
não narra,
que as viúvas choraram
mas já não recordam,
daqueles
que nem tempo tiveram
de ter filhos
que os amassem,
descendentes
que os lembrassem,
daqueles
que nunca tiveram
o dia do pai,
vítimas de guerras
que não inventaram,
em tempo que já lá vai;
falar deles é prevenir,
se bem que de nada lhes valha,
de guerras que possam vir,
geradas pela ambição
dos que nunca morrerão
num campo de batalha.


josema

[s/d nem local,
possivelmente escrito em Mampatá,
no sul da Guiné,
c.1972/74](*)

Revisão e fixação do texto (pontuação): L.G.

Poema: © José Manuel Lopes (2008). Direitos reservados.
_____________________

1. Mensagem do Artur Conceição. com data de 9 do corrente, dirigida ao José Manuel Lopes (que assina os seus poemas por josema):

Assunto - Permissão

Olá, José Manuel

Os Combatentes da Freguesia de Campia vão efectuar o seu convívio anual no dia 13 de Setembro do corrente ano.

De alguns anos a esta parte cabe-me a missão de Relações Públicas e redactor de algumas palavras alusivas ao evento.

Leio os teus poemas, e procuro entendê-los da mesma forma que me obrigavam a entender os Lusíadas, e juro que não encontro nenhum adjectivo para os classificar.

Seguindo o princípio "O seu a seu dono" ou a "César o que é de César", quero pedir-te permissão para ler o teu poema [,acima transcrito]:

Gostava de vos falar
dos esquecidos
dos heróis que a história
não narra (...)


aquando da homenagem aos que tombaram, junto ao monumento aos Combatentes do século XX, sediado em Campia.

Um abraço

Artur António da Conceição (**)
Damaia / Amadora

2. Comentário de L.G.: Meu caro Artur, ainda não sei qual será a resposta do José Manuel... Mas, como camarada generoso e solidário que ele é, terá todo o gosto que recites este seu poema, no dia do XIII Convívio dos Antigos Combatentes de Campia, no dia 10 de Setembro de 2008.

A pensar em ti, e em futuras declamações, em público, tomei a liberdade de, ao arrepio do poeta (mas procurando sempre respeitar o espírito e a letra), fazer a necessária pontuação. Ajudar-te-á a recitar melhor estes versos que calam fundo na alma da gente. Os poetas têm liberdades que os outros utentes da língua portuguesa não têm E uma delas é o não uso da pontuação, por razões estéticas ou de liberdade criativa. O josema nunca usa pontuação. Para quem diz poesia, a pontuação ajuda muito... Espero que o autor concorde com a minha pontuação... Vou interpretar o seu silêncio como um OK (para ti, Artur, e para mim).

_______

Notas dos editores:

(*) Enviado em 14 de Março e último e já publicado no
Poemário do José Manuel. Sobre o José Manuel Lopes, vd. o último poste publicado: 9 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3039: Poemário do José Manuel (20): Mãe, se eu não regressar, lembra-te do meu sorriso...

(**)
Artur Conceição, ex-soldado de Trms, CART 730 (1965/67), Bissorã, Farim e Jumbembem (actual Região do Oio). Vd. os postes do nosso camarada, publicados no nosso blogue:

16 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2355: O meu Natal no mato (1): Jumbembem, 1965: Os homens às vezes também choram... (Artur Conceição)

8 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2335: A trágica morte do Cap Rui Romero: 10 de Julho de 1966, dia de correio (Artur Conceição)

21 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2291: Convívios (36): XII Convívio dos combatentes da Freguesia de Campia, no dia 10 de Novembro de 2007 (Artur Conceição)

24 de Julho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1989: Homenagem ao António da Silva Batista (Artur Conceição, CART 730, Jumbembem, 1965/67)

8 de Junho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1824: O Aeroporto de Jumbembem e os ecologistas 'avant la lettre' (Artur Conceição)

21 de Maio de 2007 >
Guiné 63/74 - P1772: Tabanca Grande (5): Também quero estar ao lado dos que não permitem o virar da página (Artur Conceição, CART 730, 1965/67)

sexta-feira, 28 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cananime > Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Um grupo de participantes do Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) atravessam, de canoa motorizada, o Rio Cacine, entre Cananime e Cacine... De cima para baixo: o barqueiro, ao entardecer; o José Carlos Marques, jornalista do Correio da Manhã, em primeiro plano, do lado esquerdo; a discretíssima Catarina Santos, da Fundação Mário Soares, com a sua inseparável máquina fotográfica...

Fotos: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.



1. Mais poemas do dia, do José Manuel Lopes, da Quinta da Graça, no Douro, o José Manuel, muito simplesmente (como era conhecido em Mampatá)... Poemas de um imenso poemário, recebidos, dia a dia, ao longo de uma quinzena, de 16 a 28 de Março de 2008. Foram escritos na Guiné, um por dia.

Por detrás da máscara do José Manuel (que eu não conheço pessoalmente, nem por fotografia, só por voz e por mail), que foi Fur Mil, Op Esp, CART 6250 (Mampatá, 1972/74), há uma voz muito original, pessoal, uma surpreendente revelação da escrita poética sobre a guerra colonial na Guiné... Até agora guardada o baú do sótão...

Muitos dos poemas (assinados por josema) que temos recebido, por e-mail, todos os dias, não têm título. E alguns não estão datados. Vão-se publicando (1), ao sabor da espuma dos dias, e das remessas do poeta, e dos humores do(s) editor(es)... Que já conquistou leitores fiéis aqui, na nossa Tabanca Grande... Eu, o Torcato Mendonça e, seguramente, muitos outros camaradas... Pode morder, que esta poesia é para morder, para comer, para trincar.... (LG).


Calor, cansaço, suor
saudades de tudo
e de um rio...
mas podia ser pior
pois há ali o Corubal
com sombras e água boa
nem tudo é mau afinal
não é o Douro, eu sei
nem o Tejo de Lisboa
são outros os horizontes
falta o xisto e o granito
as encostas e os montes
mas diga-se na verdade
há o Carvalho, há o Rosa
há um hino à amizade
há o Gomes e o Vieira
a sonhar com a Madeira
há o Farinha e o Polónia
gestos e solidariedade
há o Esteves e o Pinheiro
amigos e sinceridade
há o Nina e até amor
também sofrimento e dor
há o desejo de voltar
e um apelo à liberdade.

Josema
Mampatá 1974


Ouve-se um violão
numa noite de luar
tocado pelo Gastão
p'ra algo comemorar
cantigas de Zeca Afonso
de raíz popular
põem magia no ar
mas eis
outro som a chegar
mais grave e persistente
é Guiledje a embrulhar
é a guerra noutra frente
até que o ataque acabe
a festa é interrompida
e recomeça num brinde
à vida da nossa gente.

s/d


As brincadeiras loucas
acabam por ter sentido
se as alegrias são poucas
neste cantinho perdido

já vi tourear uma cabra
entre os arames farpados
e outros ao beber água
ir pelos ares aos bocados

desde o carreiro de Uane
à estrada para Nhacubá
todo o cuidado é pouco
ninguém quer ficar por cá

chegam do patrulhamento
cobertos de pó a suar
anseiam pelo momento
de se refrescar no bar.

Mampatá 1973
josema


Guernica!
pintura
visão, mensagem, recado?
para quem e porquê?
Pearl Harbour, Hiroshima
Londres, Leninegrado
e tantas mais
Vietnam, napalm
e o mundo não reage
se espera que acalme?
se esquece Nabuangongo
Guidage, Guiledje
e as minas de Mueda
dão graças à sua sorte
os regressados
dos corredores da morte
e agora
eis a bomba inteligente
mais importante
que gente
e o mundo estúpido
consente!

s/d


Quantas batalhas e guerras
geradas pela ambição?
quantos pior que feras
mataram o seu irmão?
sem nunca se aperceberem
das causas e da razão
mortes em troca de quê?
a que preço e porquê?
a resposta está no ganho
no lucro que é tamanho.

s/d


Ao menino do papá
"É mais fácil entrar um camelo no cu duma agulha, que
um rico no reino dos céus"


Metam-lhe a agulha no cu
para ver
se ele acorda
não vá morrer de repente
e venha culpar a gente
do encontro
com belzebu.

s/d


O calor húmido nos envolve
abraça-nos a escuridão
e a noite se faz dia
c’o ribombar do trovão
cai a água em catadupa
numa suave carícia
fecho os olhos
que delícia
até sinto um arrepio
sinto-me bem afinal
até chego a sentir frio
e penso que é Natal...

Guiné 1972
Josema


Neste imenso sofrer
pensar Nele ajuda
mas Ele parece não ouvir
então solta-se a raiva
incham as veias do pescoço
outro homem nasce
e cai-se dentro do fosso.

josema
Guiné 1972


Um ruido vem do céu
e há cabeças no ar
hoje é dia de correio
há novas para chegar
faz-se a distribuição
com chamada frente ao bar
para o Santos nada veio
será que vai desmaiar?
p'ró Zé Manel veio a Bola
com as novas do Benfica
p’ró Pinheiro uma encomenda
e alguém lhe manda uma dica
fazendo-se para a merenda
sim de correio foi o dia
não pode haver melhor prenda
é altura de alegria
retiram-se os felizardos
relêem a mesma carta
até afogar a saudade.

Mampatá 1972
josema


Quero irmas não sei onde
tudo
me parece um delírio
sem sentido nem razão
neste mundo desumano
quero fugir
mas não posso
prende-me
o sentir-me solidário
à união dos Unidos (*)
prende-me
o cheiro a mosto
prende-me
o calor de Agosto
prende-me
um regresso ao Douro
prende-me
uma família que espera
por tudo isso
não posso partir.

Bolama 1972
Josema

(*) Cart 6250, Os Unidos
________

Nota de L.G.


(1) Vd. postes anteriores:

27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...

9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1862: 42 anos depois, com emoção e revolta, sei das circunstâncias horríveis em que morreu o meu irmão... (Adelaide Gramunha Marques)

Guiné > Zona Leste > Pirada > "O meu grande Amigo Gramunha Marques", nas palavras do António Pinto... Poucos dias antes de morrer, em Madina do Boé, heroicamente, em grande sofrimento...


Foto: © António Pinto (2007). Direitos reservados (3).


Guiné > Zona Leste > Madina do Boé > 1966 > Vista aérea do aquartelamento (1966). Imagem reproduzida, sem menção da fonte, no Blogue do Fernando Gil > Moçambique para todas. Presumo que a sua autoria seja de Jorge Monteiro (ex-capitão miliciano da CCAÇ 1416, Madina do Boé, 1965/67) ou de Manuel Domingues, nosso tertuliano, ex-alf mil da CCS/BCAÇ 1856, Nova Lamego, 1965/66 (autor do livro: Uma campanha na Guiné, 1965/67).


1. Mensagem de Adelaide Gramunha Marques:

Exmo. Senhor Dr. Luis Graça

Estou a escrever-lhe porque através de um dos meus sobrinhos (1) veio parar-me às mãos um blogue que fala da Guiné, daqueles que por força do destino ou da cegueira de um homem, se viram envolvidos em lutas que não provocaram e cujo desfecho final nem sempre foi o mais agradável.

Deixe que me apresente primeiro: o meu nome é Maria Adelaide Gramunha Marques Sales Crestejo, irmã do falecido Martinho Gramunha Marques (2).

Quero que saiba que a minha primeira reacção quando vi o blogue, foi de expectativa pois fiquei entusiasmada com a ideia de que aqui podia finalmente encontrar alguém, que durante aquele período de tempo em que ele esteve na Guiné (3), conviveu com ele, quem sabe assistiu aos seus últimos momentos, o confortou, lhe deu apoio enfim, não o deixou morrer sozinho (2).

Quando vi a mensagem do Sr. António Pinto e vi o nome do meu irmão ali escrito com todas as letras, nem parei para pensar e foi então que um murro me atingiu em cheio o estômago, a cabeça começou a girar e as lágrimas não paravam de brotar dos meus olhos.

Ali à minha frente estava aquilo que durante anos e anos eu tentei saber e nunca tive ninguém que mo dissesse. Como foi a morte do Martinho Gramunha Marques ? O meu coração pedia a Deus que tivesse sido rápido, que ele não tenha sofrido.

Agora sei que isso não foi assim. Agora que já passaram 2 dias desde que tive conhecimento da vossa existência, e tendo lido com mais calma alguns dos comentários e narrativas, acho que foi bom, esta revelação aproximou-me mais dele.

Há no entanto tanta coisa que eu gostaria de saber, por essa razão lhe escrevo este email, pois gostaria se isso fosse possível, entrar em contacto directo com o Sr. António Pinto (4), seja através de telefone ou email.

Dr. Luis Graça, não quero terminar este email sem antes mandar para si e para todos os que de uma maneira ou doutra tornaram este cantinho uma realidade, um BEM HAJAM e as maiores felicidades.

Adelaide Gramunha Marques


2. Comentário de editor do blogue:

Querida senhora, cara amiga: Deixemos as deferências. Deixe-me ser solidário na sua dor e na sua revolta. Deixe-me que lhe fale do meu próprio espanto. O seu irmão morreu há mais de 42 anos, no dia 30 de Janeiro de 1965, em Madina do Boé (de má memória para muitas famílias portuguesas) e, tanto quanto sei, está sepultado no cemitério de Cabeço de Vide, concelho de Fronteira, distrito de Portalegre.

Mas a família nunca soube as circunstâncias da morte do Martinho. Vem a sabê-lo, há dias, casualmente, impessoalmente, através da blogosfera, através do do relato de um camarada e grande amigo do seu tempo de Guiné, o ex-Alf Mil António Pinto...

É triste que as coisas tenham acontecido assim. É revoltante que o Exército, na época, não tenha conseguido sequer humanizar a notícia da morte dos seus homens. Percebo hoje a sua revolta, que é também a nossa. Resta-nos a consolação de termos contribuído um pouco - todos nós, a começar pelo António Pinto - para que você, irmã do nosso camarada Martinho Gramunha Marques, e os seus familiares mais próximos, consigam finalmente fazer o luto e preservar o melhor da sua memória... Através do nosso blogue, através do pungente relato do seu amigo e camarada António Pinto, o Gramunha Marques não será esquecido... Vou pedir ao António que entre rapidamente em contacto consigo: ele vive hoje em Monção (email> antoniopinto67@sapo.pt ).

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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 23 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1456: Gabu: Fotos com legendas (António Pinto, BCAÇ 506 e 512) (1): Pirada e Piche

(...) Comentário do Bernardo: "Boas, sou sobrinho do Martinho Gramunha Marques (que nunca conheci) e qual não foi o meu espanto quando encontrei estas breves histórias em que ele participou e não conhecia. Foi uma surpresa agradável.Cumprimentos,Bernardo Gramunha Marques" (...).

(2) Sobre a morte do Alf Mil Gramunha Marques, vd. post de 17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1437: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (1): a morte horrível do Gramunha Marques e o ataque a Beli em que fui ferido


(...) "(1) Gramunha Marques, morto em Madina do Boé.

"Estava em Beli, já noite, quando através do rádio do Chefe de Posto soube o que aconteceu aos nossos camaradas, que foram vítimas duma emboscada fatal. A minha primeira reacção foi entrar em contacto com Nova Lamego e pedir autorização para ir tentar ajudá-los.

"Levei uma nega do Ten Cor Figueiredo Cardoso que me deu ordens terminantes para ficar onde estava, em Beli, com redobrada vigilância. Com os nervos à flor da pele desliguei-lhe a comunicação depois de quase o ter insultado (e que mais tarde pedi desculpa, do acto impensado).

"Pedi voluntários para irem comigo, mesmo desobedecendo às ordens e quem conseguiu demover-me, já com a pequena coluna pronta para arrancarmos, foi o Furriel Stichini, que me disse e não posso mais esquecer:
- Nós vamos, mas será o responsável pelas nossas mortes.

"Acabei por ficar, destroçado e cheiro de raiva. O Gramunha Marques, soube-o depois, teve uma morte horrível, com uma perna esfacelada, esvaindo-se em sangue e sempre consciente até ao fim" (...).


(3) Segundo pesquisas feitas pelo nosso camarada José Martins, o Martinho Gramunha Marques, Alferes Miliciano Comando, natural de Cabeço de Vide / Fronteira, inumado no cemitério de Cabeço de Vide, tombou em Madina do Boé em 30 de Janeiro de 1965. Pertencia à 3ª Companhia de Caçadores Indígenas.

Vd. post de 15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

Sobre a 3ª Companhia de Caçadores Indígenas, o José Martins coligiu mais os seguintes elementos informativos:

"Esta unidade foi constituída em 1 de Fevereiro de 1961, como unidade da guarnição normal do CTIG, formada por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local, iniciando a sua formação adstrita à 1ª CCAÇ I.

"Em 1 de Agosto de 1961, com a constituição de dois pelotões, substitui a 1ª CCAÇ I na guarnição de Nova Lamego. Desloca elementos para guarnição de várias localidades do Sector Leste, por períodos e constituição variáveis, sendo de destacar as localidades de Che-Che, Béli e Madina do Boé. Passou a guarnecer, em permanência as localidades de Béli e Madina do Boé instalando, em 6 de Maio de 1963, um pelotão em cada localidade.

"Em 1 de Abril de 1967 passa a designar-se por Companhia de Caçadores nº 5".

Vd. post de 18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)

(4) Sobre o António Pinto e as unidades a que pertenceu, vd. posts:

18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1378: António de Figueiredo Pinto, Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli

20 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)

3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1397: Ataque ao destacamento de Beli em Maio de 1965 (António Pinto, BCAÇ 512)

4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1493: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (2): Eu e o Furriel Comando João Parreira