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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16744: Em bom português nos entendemos (15): Comer macaco, não obrigado... "Santchu bai fika na matu"... E cão ("kakur") fica com o dono, no restaurante em Bissau... Ajudemos a salvar os primatas da Guiné... O "santchu", o "dari"..., ao todo são 10 primatas que correm o risco de extinção se os hominídeos continuarem a destruir o seu habitat e a fazer deles um petisco...



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 1972 > O macaco ("santchu") e o cão ("kakur")... Ou mais exatamente um babuíno, "macaco-cão" (em cativeiro) (e que é produto "gourmet"  em Bissau),  e um cão (animal que os hominídeos domesticaram há cerca de 12 mil anos). 

Foto: © Herlânder Simões (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Ainda na sequência do inquérito "on line" da passada semana sobre quem come(u) ou não come(u) carne de macaco, lembrámo-nos de que há vários provérbios sobre o nosso "sancu" (ou "santchu", é assim que se pronuncia) tanto na Guiné-Bissau como em Cabo Verde... 

É uma delícia poder lê-los,  em voz alta, em crioulo,  e entendê-los em português...  Aqui vai uma mão cheia de provérbios, recolhidos por aí,  na Net (. baseados no trabalho do ecolinguista brasileiro Hildo Honório do Couto), e uma fábula, que diz tudo sobre a necessidade (urgente) de salvar o "santchu" (macaco) e o "dari" (chimpanzé)...

Por muitas razões, incluindo os vorazes apetites gastronómicos de alguns hominídeos, as 10 espécies de primatas que existem na Guiné-Bissau (inckuindo o "dari", o chimpanzé) estão em perigo de extinção, a médio ou a longo prazo...

Seria uma tragédia que os bisnetos de Amílcar Cabral tenham, um dia, que vir a Lisboa ao Jardim Zoológico para verem "ao vivo" o "santchu" e o "dari"... O mesmo podemos dizer nós de espécies ameaçadas ou quase extintas, em Portugal, na Península Ibérica ou na Europa como o lobo ou a águia real...

Enfim, este poste é um pequeno contributo para reforçar a nossa sensibilidade e consciência ecológicas... O planeta não tem fronteiras, a terra é só uma, homens e (outros) bichos vão ter cada vez mais que saber partilhá-la... e defendê-la!




2. Quanto à fábula do macaco e do cão...  

Comece-se por dizer que  as fábulas são pequenas narrativas, contos ou histórias, em forma oral ou escrita, em verso ou em prosa,  em que as personagens são animais (dos mamíferos às aves, dos répteis aos peixes), podendo apresentar características antropomórficas (, ou sejam, semelhantes aos seres humanos) e que fazem parte da cultura de todos ou de quase todos os povos, com ou sem escrita. Em geral, destinam-se a um público infantil e têm um propósito pedagógico, didático ou educativo, ao estabelecerem uma analogia entre o mundo da experiência dos seres humanos e as "falas" dos animais. Acabam sempre ou quase sempre, com uma "lição moral". Nas fábulas africanas, por exemplo, o mais fraco tende a triunfar sobre o mais forte, graças à sua honestidade, inteligência, capacidade de cooperação, aliança ou entreajuda... Podem também ser vistas como formas de crítica social ao poder (dominante), ao "statu quo".

 Esta "Storia di sancu ku kacur" (história do macaco e do cão) pode resumir-se em duas linhas: o macaco e o cão representam os mais fracos, sujeitos à violência, arbitrariedade e prepotência dos mais fortes (aqui respresentados pela onça, "onsa", um felino predador, que obriga  o cão a desempenhar o papel de carrasco ou torcionário, sendo o macaco a vítima...   O cão ("kacur"), humilhado e ofendido,  procura sucessivamente a ajuda de outros companheiros, mais fortes do que ele, para com eles se aliar contra a tirania da onça... Mas todos os grandalhões e valentões, da vaca ("baka") ao búfalo ("boka-branku") fogem quando chega a hora do confronto, a hora da verdade...

Acaba por um ser destemido e esperto carneiro ("kamel") quem enfrenta a onça. A luta acaba com a vitória do bem sobre o mal. E o cão e o macaco, aliados mas não necessariamente amigos,  seguem, cada um o seu caminho e o seu destino... O do macaco ("santchu") é o do mato, onde é verdadeiramente a sua casa...E o cão vai para a cidade, para o pé do seu dono, que tem um restaurante em Bissau... e que vai prometer nunca mais fazer grelhados... de carne de macaco.

Enfim, é uma uma leitura, ecológica, otimista, minha,  da velha fábula... que os guineenses vão contando de geração em geração. Espero que ainda haja macacos, na Guiné-Bissau, daqui a cinquenta anos, para as crianças de hoje possam contar aos seus netos esta e outras fábulas do tempo em que os animais falavam e eram  mais sábios do que  o bicho homem... 








3. O estudo e a divulgação do crioulo da Guiné-Bissau devem muito aos escritores e académicos guineenses, mas também a outros, especialistas lusófonos, de Portugal, de Cabo Verde e do Brasil...  

Deste último país é justo destacar o nome do especialista em ecolinguística Hildo Honório do Couto, professor titular aposentado e pesquisador associado da UnB [Universidade de Brasília]. Doutorou-se em Fonologia na Alemanha, tendo-se dedicado ao estudo do(s) crioulo(s) durante duas décadas. A ecolinguística no Brasil deve-lhe muito, sendo um pioneiro neste domínio.

È autor, entre outros títulos, de "O crioulo português da Guiné-Bissau" (Hamburg: Helmut Buske Verlag, 1994,  80 pp.).

Dessa obra consultei excertos, disponíveis aqui, incluindo a fábula que se publica (com adaptações da tradução para o português europeu; também revi o texto em crioulo, de modo a aproximá-lo da oralidade corrente: por exemplo, "santchu" em vez de "sancu", ou "tchiga" em vez de "ciga", "djuntu" em vez de "juntu"...).

A fábula do macaco e do cão também está, entre outras, reproduzida aqui (em crioulo e versão portuguesa do Brasil).

Ainda não há um a verdadeira normalização do crioulo da Guiné-Bissau ou do "guineense": há várias grafias, uma mais oficiosa (Direção-Geral da Cultura, Bissau, 1987) e outra mais académica (por ex., Luigi Scantamburlo, 1999)... O padre italiano Luigi Scantamburlo, doutorado em línguística, e há muito radicado na Guiné-Bissau (, no arquipélago dos Bijagós, desde 1975), é o autor do primeiro dicionário de guineense-português. É também direitor da ONG guineense, FASPEBI,

Para ele, "a escolha do termo guineense para designar a língua crioula é fundamental para promover melhor o estatuto nacional, veicular e inter-étnico desta língua, evitando a conotação negativa que o termo crioulo tem no país e no mundo".

Por exemplo, "sancu" (norma de 1987) é grafada como "santcu" (lê-se "santchu") no dicionário de Scantamburlo (1999); outros exemplos: bulaña (1987) e bulanha (1999)... Mas atenção: nós não somos "especialistas" do guineense, nem muito menos falantes, mas apenas "curiosos" (**)... (LG)
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Notas do editor:

(*) Sobre o crioulo da Guiné-Bissau:

Guiné-Bissau Kriol Docs

Grupu Kriol Papia Skirbi (Facenook, grupo fechado)

Dicionário Guineense-Português, de Luigi Scantamburlo, de I a XXXVIII pp.

Dicionário Guineense-Português, de Luigi Scantamburlo, de 1 a 636 pp.

Gramática de Crioulo, de Luigi Scantamburlo.

domingo, 13 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16713: Inquérito 'on line' (83): Pelo menos mais de metade dos respondentes, até agora, dizem que "nunca comeram macaco-cão"... A proporção é mais elevada aqui, no blogue (63%), do que na página do Facebook (55%)... No blogue é que importa responder.... Até 5ª feira, às 7h32, faltam 26 para chegar às 100 respostas...



 Foto nº 1


Foto nº 2

Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2006 > Viagem Porto-Bissau > Na foto nº 1 um chimanpanzé (que não é macaco, é símio, "dari", em crioulo),  em cativeiro, o que é ilegal; na foto, aparece também a Inés,  filha do Xico Allen... Na foto nº2, um babuíno, macaco-cão (sancu, em crioulo), segura a mão de outro elemento da comitiva [, talvez o Hugo Costa]... O dari, o sancu e a Inês pertencem à ordem dos Primatas... O dari é um símio e a Inês um(a)hominídeo(a), ambos têm 99%  do mesmo ADN... O dari é um Pan (género) Troglodytes (espécie). A Inês,  um exemplar da espécie Homo Sapiens Sapiens. Por sua vez, o macaco-cão (babuíno) é um antropóide cercopitecídeo do género Papio... Os três têm eomum um antepassado longínquo,  que remonta há 70 milhões, antes da extinção dos dinossauros... O  sanctu e o dari são espécies ameaçdas, o  dari é seguramente o que vai desaparecer primeiro...

De um modo geral, as populações da Guiné-Bissau, não muçulmanas, caçam e comem o sancu. Sobretudo depois de 1980, a caça (ilegal) ao macaco-cão aumentou. Quanto ao dari, o chimpanzé da matas do Cantanhez e do Boé , há em princípio um maior respeito pelas suas semelhanças com o ser humano.  Mas os juvenis são objeto de tráfico...  O habitat do dari está condicionado pelas atividades humanas (além da caça, o risco de epidemias, a expansão das áreas de cultivo, e nomeadamente do caju, e a desmatação ilegal para extração de madeiras exóticas,  como  o pau de sangue, exportado para a China).

Fotos (e legendas) : © Hugo Costa / Albano Costa (2006). Todos direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



I. INQUÉRITO 'ON LINE':

"NUNCA COMI MACACO-CÃO (BABUÍNO) NA GUINÉ"  




Resposta no nosso blogue (até às 23h00 ontem, sábado, 12/11/2016) (n=74)
1. Nunca comi  > 47 (63,5%)

2. Comi e não gostei  > 6 (8,1%)

3. Comi e gostei  > 13 (17,6%)

4. Não tenho a certeza se comi  > 8 (10,8%)


Total > 74 (100,0%)

Respostas na nossa página do Fabebook (até ontem) (n=98)

1. Nunca comi >  54 (55,1%) 

2. Comi e não gostei >  9 (9,2%)

3. Comi e gostei = 30 (30,6%) 

4. Não a certeza se comi = 5 (5,1%) 

Total > 98 (100,0%)

II. Alguns comentários selecionados (10) da nossa página no Facebook e do blogue:


(i) António Branco

Numa companhia africana como a CCAÇ 16 onde estive, não era dificil passar por experiências de gastronomia diferenciadas. Recordo-me de ter comido macaco pelo menos por duas vezes.
A primeira na companhia, embora com alguma relutância , acedi à experiência, confeccionada por furriéis africanos. Depois.  e numa das idas a Bissau, numa tasquinha da qual não me recordo o nome que fornecia bitoque de macaco com batata frita por um preço bastante acessível. [resposta 3] (...)


(ii) Mário Gualter Pinto

Não tenho a certeza se comi [ resposta 4]. Em Bissau falava-se na altura que vários restaurantes serviam bifes de macaco cão por vaca nos bitoques. Agora uma coisa é certa, por diversas vezes vi no mato, macacos esquartejados dos traseiros! Porquê? Não sei! (...)

(iii) Manuel Amaro

Eu penso que não, mas a D. Carlota de Nhacra dizia que alguns de nós já tinham comido.... Nunca me preocupei com isso [resposta 4].

(iv) Joaquim Pinto Ferreira

A maior parte da minha tropa foi passada em Aldeia Formosa. Passei aquele tempo onde os abastecimentos eram raros e os fumadores tiveram muita dificuldade em comprar tabaco. Comi gazela, comi porco bravo (javali), comi muitas galinhas roubadas na população. Mas macaco, nunca! [resposta 1].

(v) Manuel Mendes-Ponte

Vi matar muitos mas nunca comi [resposta 1]. em Farim,  na tasca do Pedro Turra,  diziam que comiam pensando que era gazela.

(vi) Candido Cunha

[Resposta 1] Quem, sabendo comeu, mesmo passados quarenta e cinco anos, não era, nem é boa rolha. Isso se se passou, envergonha-nos !

(vii) Luís Mourato Oliveira


Segundo a opinião do Cândido Cunha.  não sou boa rolha! Comi e gostei [resposta 3].

(viii) Ernesto Marques

Vi comer muitos e gatos também, eu nunca consegui, nem queria ver matá-los. [resposta 1].

(ix) Valdemar Queiroz

(...) Na nossa CART 11,  'Os Lacraus',  os nossos soldados eram todos fulas e nunca ouvi, que me lembre, alguém dizer ter comido carne de macaco [resposta 1]. A sua alimentação era,
essencialmente,  uma papa de farinha de milho painço, depois como eram desarranchados passaram a comer arroz que compravam na cantina, acompanhado com um preparado de umas 'ervas', ou com um 'guisado' de carne de 3ª. (muita tripa e pouca carne) de galinha ou vaca. (...)

(x) Cherno Baldé:

(...) Para vossa informação, os muçulmanos em geral estão interditos pela tradiço e sobretudo pela religão de comer macacos e pelo facto de um ou outro o fazer não invalida esta proibição que, como deverão saber, vem dos tempos hebraicos (Tora de Moisés) onde consta a listagem dos animais que seriam lícitos e ilícitos aos filhos de Israel e que por herança passa também para os seguidores do Profeta Mohamed. (...).

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