Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça, com o objetivo de ajudar os antigos combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra da Guiné (1961/74). Iniciado em 23 Abr 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência desta guerra. Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, e gostamos de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 17 de julho de 2023
Guiné 61/74 - P24483: In Memoriam (482): Notícia do falecimento de um dos filhos do nosso camarada Eduardo Moutinho Santos, o Jaime, com 56 anos de idade. Cerimónias fúnebres, amanhã, dia 18 de Julho, pelas 15 horas, no Centro Funerário-Crematório da Lapa (Igreja), Rua de São Brás - Porto
1. SMS do nosso camarada Eduardo Moutinho Santos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2366, Jolmete e Quinhámel, e ex-Cap Mil Grad, CMDT da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, chegada há poucos minutos ao telemóvel do coeditor CV:
Amigo(a).
A cerimónia do funeral do meu filho Jaime é às 15,00 horas de amanhã - 18/07/2023 no Centro Funerário - Crematório da Lapa (Igreja), na Rua de São Brás, 1, no Porto.
Velório entre as 10,30 e as 15,00 horas.
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Notas de CV
1 - Já ontem, domingo, o nosso camarada José Teixeira nos havia mandado a seguinte SMS:
Bom dia amigos.
Lamento informar que faleceu um filho do Capitão Moutinho Santos. Tinha 52 anos. Teve uma paragem cardíaca.
Quando tiver mais notícias, informo.
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2 - Perante tão grande dor, como esta, a da perda de um filho, não temos palavras para confortar o nosso amigo Eduardo Moutinho Santos, a sua esposa e o outro filho do casal, apenas podemos deixar o nosso abraço solidário e a certeza de que estamos com eles nesta hora dramática.
Para os demais familiares, as nossas sentidas condolências.
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Nota do editor
Último poste da série de 6 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24456: In Memoriam (481): Licínio Monteiro Cabral (Lamego, 1948 - Porto, 2022), ex-fur mil op esp, MA, CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72)
quinta-feira, 27 de abril de 2023
Guiné 61/74 - P24259: Tabanca Grande (548): Inês Allen, senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 875... Voltou a Empada, 17 anos depois, para cumprir a última vontade do pai, Xico Allen, entregar ao clube de futebol local, "Os Metralhas", o emblema da divisa da CCAÇ 3566 (Empada e Catió, 1972/74)
Brasil > Cidade de Praia Grande > Estado de São Paulo > 2014 > Três "Metralhas": da esquerda para a direita, o António Chaves, o Joaquim Pinheiro da Silva (o "Brasuca") e o Xico Allen, de seu nome completo Francisco Jorge Allen Gomes Pereira (1950-2022). O Joaquim e o Xico são membros da Tabanca Grande e eram grandes amigos.
Uma terceira viagem foi em 1996 e uma quarta em 1998. Temos vários fotos dessa viagem, em que o Xico (e a Zélia) foram inclusive a Madina do Boé. Depois disso, o Xico passou a lá ir regularmente. Perdemos as contas que fez essa viagem, por terra e por ar...
Por sua vez,o Albano Costa, pai do Hugo Costa e primo do Manuel Costa, tinha lá estado em novembro de 2000 (incluindo o Armindo Pereira, o Manuel Casimiro, o Manuel Costa e mais uma vez o Xico Allen). Foi a sua primeira e única vez. Fotógrafo profissional, fez uma excelente cobertura fotográfica dessa viagem, ele e o filho, Hugo Costa, percorrendo a Guiné de lés a lés, incluindo uma ida a Guidaje, onde ele fizera a sua comissão. (Foi 1.º cabo at inf, CCAÇ 4150, Guidaje, Bigene, Binta, 1973/74).
A Inès Allen com o "boneco" de "Os Metralhas", exibido no convívio anual do pessoal, em Fátima, em 22/4/2023 |
Passa a ser a nossa tabanqueira n.º 875 (**). E esperamos que ela, por email ou no seu Facebook nos vá dando conta do andamento do seu projeto em Empada.
(*) Vd. poste de 24 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24247: Facebook...ando (26): Homenagem ao Xico Allen (1950-2022): a filha Inês, em Fátima, no passado sábado, no convívio anual da CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972-74)
(**) Último poste da série > 4 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24196: Tabanca Grande (547): Rogério Paupério, ex-1.º Cabo Escriturário, CCAV 3404 / BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73). Natural de Valongo, vive atualmenmte em Vila Nova de Gaia; passa a ser o membro n.º 874 da Tabanca Grande.
segunda-feira, 24 de abril de 2023
Guiné 61/74 - P24247: Facebook...ando (26): Homenagem ao Xico Allen (1950-2022): a filha Inês, em Fátima, no passado sábado, no convívio anual da CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972-74)
1. Poste do nosso camarada Antero Santos [ex-fur ml at inf MA, CCAÇ 3566 e CCAÇ 18 (Empada e Aldeia Formosa, 1972/74), publicado ontem no Facebook da Tabanca Grande:
No sábado, dia 22, em Fátima, realizou-se mais um convívio da CCAÇ 3566, Os Metralhas de Empada".
Foi o primeiro convívio em que não esteve presente fisicamente o Xico Allen, o organizador de sempre destes convívios embora estivesse presente no espírito de todos os presentes.
Contámos ontem com a presença da filha do Xico Allen, a Inês, que nos deu conta de várias coisas e especialmente do projecto que já está em marcha para atribuir o nome do Xico Allen ao campo de futebol que o clube de futebol de Empada espera conseguir construir de forma a perpetuar a memória deste nosso camarada, o combatente que garantidamente visitou Empada depois do nosso regresso em 24 de Junho de 1974.
PALAVRAS DA INÊS ALLEN:
"Conheço-vos a 'todos' desde criança, mas hoje foi a primeira vez que estive fisicamente presente no vosso encontro anual.
"O Xico descobriu muitos onde ,'Judas perdeu as bota', visitou alguns no hospital e ia pôr flores à campa de tantos outros…
"Sem internet ou GPS comprometeu-se a dedicar horas e kms a encontrar os cerca de 150 Metralhas espalhados por Portugal e além fronteiras!
"Na estrada, por onde passava, fazia questão de telefonar… fosse para almoçar ou tomar um café!
"Hoje foi difícil…representá-lo foi uma grande responsabilidade, mas… a toda a família Metralhas de Empada - Guiné muito obrigada pelo vosso incrível carinho e apoio.
"O orgulho que me fizeram sentir do meu pai… não cabe no peito.
"Muito obrigada também pelas 375 'empadas' angariadas hoje, por amizade e pela compra de livros, para a concretização do Csampo de Futebol Xico Allen”.
https://www.facebook.com/15492.../posts/10223198459100347/lp
2. Seleção de alguns comentários a este poste do Facebook:
(i) Manuel Galvão
(...) "Pois eu até fui um dos mais próximos companheiros do nosso querido Xico. Por vezes tivemos diferenças na forma de viver,mas ele foi realmente um marco da companhia 'Os Metralhas' do após-Guiné, aonde por meios diversos tentou procurar sempre este e aquele e a mim foi num belo de verão, em Agosto, no Gerês: eu pelo meu lado e ele com os seus, ao passarmos uns pelos outros,uns metros após,ele gritou: 'Galvão, Galvão!' e eu olhei para trás e deparei-me então com o Xico e os seus todos e eu claro logo o reconheci e então foi logo ali uma emoção de encontro uns oito anos após fim do serviço militar.
Eu não pertenço aos "Metralhas", mas permitam que, depois de ler o comovente texto anoto a minha admiração pela vossa amizade. Felicidades para vocês.
Excelente texto, gostei daquela citação, "conheço-os a todos", faz me lembrar o dia em que Spinola fazia o discurso de boas vindas às tropas chegadas da metrópole, aconteceu comigo em Dezembro 72 no Cumeré.
(v) Florinda Sousa
Conheço esta menina, Inês Allen, desde que nasceu. Conheço o Xico desde 1974, depois do fim da sua comissão na Guiné , por intermédio da que mais tarde foi sua esposa e mãe de seus filhos a minha querida amiga Zélia Neno .
O Xico deixou os genes da aventura, do empreendedorismo e da vontade de conviver na sua querida filha Inês que tão bem tem dado continuidade aos seus desejos.
Saudações para todos os seus "Amigos da Tropa".~
(vi) António Carvalho
Na minha única mas emocionante viagem à Guiné, em 2009, foi o Chico o guia e impulsionador. Tive com ele convivências inesquecíveis. Louvo a filha por dar continuidade à obra solidária do pai.
Os 'Metralhas' não mereciam a fatalidade da perda do seu maior impulsionador, pós- "guerra", felizmente que tem na sua filha Inês a continuidade da sua obra. Parabéns!... Fazia parte do "Bando do Café Progresso" e acompanhou-nos sempre que possível. Descansa em paz amigo, Xico!...
(viii) Tabanca Grande Luís Graça
Justa homenagem, Inês. O Xico Allen, teu pai, continua connosco como grande amigo e camarada da Guiné!...Vou fazer um poste no blogue.
Nota do editor:
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023
Guiné 61/74 - P24056: Facebok...ando (72): Nós, os antigos combatentes, porque nos tornaram proscritos? (Angelino Santos Silva, ex-fur mil 'cmd', 26ª CCmds, Bula, Teixeira Pinto e Bissau, 1970/72)
Para já aqui um breve apontamento biográfico do autor:
(iii) aos 17 anos entra na Efacec como estagiário escolar, situação que se manteve até ingressar no Serviço Militar Obrigatório;
(viii) regressado à Efacec em 1972, inicia a carreira profissional como Técnico de Projetos de Engenharia de Equipamentos de Produção e Distribuição de Energia Elétrica, profissão que manteve até 1982;
(ix) em 1982 despede-se da Efacec e inicia uma nova carreira profissional como vendedor de Produtos Químicos de Manutenção Industrial; promovido a Chefe de Vendas ao fim de meio ano, foi promovido a Diretor Técnico/Comercial da zona Norte, ao fim de três anos, cargo que ocupou durante 20 anos na Quimivenda;
(x) o gosto pela escrita em prosa e poesia é de sempre, mas apenas em 2010 começou a publicar os seus textos; Pedaços de Vida foi o seu primeiro romance.(**)
Fonte: Adapt. de Wook (com a devida vénia)
II. Facebok...ando (***) > Nós, os combatentes: Porque nos tornaram proscritos?
A vida é um somatório de passos por caminhos sinuosos com encruzilhadas à mistura. Por vezes temos dúvidas quanto ao caminho a tomar, porém, temos consciência de que temos de prosseguir por um. Noutros, alguém os escolhe por nós sem apelo nem agravo e poucas saídas nos restam para o evitar e sempre com custos elevados.
Nós, os Combatentes pertencemos a este último grupo: perante a maior encruzilhada que a vida nos reservou, alguém nos traçou o caminho e sem qualquer recurso, tivemos que o percorrer.
Vamos aos factos históricos.
Enquanto miúdos, víamos o enorme sacrifício que faziam para nos subtrair a um estilo de vida de grande dificuldade que lhes era imposto pelo Estado Novo. Nessa época quase metade da população portuguesa era analfabeta, principalmente nas aldeias, sendo que – analfabeto – significava apenas não saber ler e escrever com desenvoltura, porque da vida e do trabalho os nossos pais eram mestres: aos dez anos iniciavam uma profissão, aos vinte sabiam quase tudo sobre a mesma e aos trinta eram mestres na arte que escolheram para ofício.
Por cá, o esforço e empenho dos nossos pais, também não foram aproveitados por quem tinha o dever de melhorar o nível social do país e acompanhar o desenvolvimento social da Europa do pós-guerra mundial. Aproveitamos nós - seus filhos - cada um por si e todos criamos condições para melhorar a vida de nossas famílias.
A pandemia veio acelerar este consumo, sendo que nos jovens se verificou o maior aumento.
Ao prosseguir nesta forma de “olhar o mundo”, ou seja, sob orientação puramente económica, chegaremos a 2030 com uma juventude sem perspectivas quanto ao futuro, com um curriculum académico puramente administrativo que pouco serve, sem emprego ou com emprego mal pago, insuficiente para fazer face à vida.
2. É muito importante que falemos aos nossos netos. É muito importante que lhes expliquemos, porque motivo existe, desde o 25 de Abril, um esforço da parte dos governantes em ignorar os Combatentes e se possível, fazer deles, cidadãos Proscritos ou seja, banidos da História de Portugal.
3. Este esforço tem sido feito por todos os governos com maior ou menor disfarce e todos comungam do mesmo objectivo: passar em branco as páginas da História da Guerra Colonial e nela, a dos Combatentes.
4. Cabe-nos, não permitir que tal objectivo tenha sucesso. Como fazer isso? Escrever. Escrever muito sobre nós, Combatentes.
5. Porque o tempo não pára e porque estamos confrontados com a verdade inquestionável da idade, deparamos com uma nova e derradeira encruzilhada: escrever sobre nós, utilizar as redes sociais falando sobre nós, porque no ensino escolar ninguém o faz.
6. Os nossos filhos também não, porque ao longo da vida familiar pouco falamos sobre a nossa presença em África, absorvidos que estávamos – tal como os nossos pais – a trabalhar para lhes dar um nível social melhor do que o nosso.
7. Entre nós falamos muito, facto que por vezes causava espanto aos nossos familiares, quando nos acompanhavam aos Encontros Anuais e encontros de ocasião.
8. Mas devemos falar mais, porque o tempo urge. Seremos hoje cerca de 250 mil, número com algum impacto, se unidos, coisa complicada num país que se uniu para derrubar o Estado Novo, mas logo se dividiu nas artimanhas dos políticos.
9. Porque, parte significativa de nós anda entre os 70 e 80 anos – os mais velhos já ultrapassaram este limite – daqui a 10 anos seremos talvez, menos de 50 mil, porque segundo as estatísticas é na idade dos 80 em diante que morre mais gente. Não fugiremos a esta realidade, até porque em cima de nós vieram algumas mazelas que nos causaram desgaste físico e psíquico.
10. De abril de 74 para cá, temos andado divididos entre religião, futebol e política. Tem sido este o desenho bem aproveitado pelos políticos, que sabem que quem não tem potencial para fazer lóbi, fica irremediavelmente para trás. E assim tem acontecido e acontece com os Antigos Combatentes, disfarçado com esmolas que “desarmam” alguns.
11. Se nos achamos injustiçados e entendemos fazer alguma coisa, está na hora de encontrar o caminho, porque o tempo urge e já não teremos outra encruzilhada pela frente. Esta será a última das nossas vidas.
• Quanto à pergunta, PORQUE NOS TORNARAM PROSCRITOS?
A resposta é fácil: depois de manipuladas e arregimentadas as gerações que fizeram a Guerra Colonial e, por consequência, a divisão do grupo de Capitães/Combatentes, que se tinham unido para derrubar o Estado Novo, nenhum dos governantes conheceu a guerra colonial portuguesa em África.
Um abraço a todos Combatentes.
Angelino dos Santos Silva
Combatente na Guerra Colonial Portuguesa na Guiné-Bissau
(*) Vd. poste de14 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15486: Notas de leitura (788): “Geração de 70”, por A. Santos Silva, Euedito, 2014 (Mário Beja Santos)
terça-feira, 13 de dezembro de 2022
Guiné 61/74 - P23877: Em busca de... (318): Fernando José Machado Gouveia (1945-2022), ex-militar da FAP, que passou pelo CTIG; era natural de (ou morador em) Crato, distrito de Portalegre... Sobrinha procura antigos camaradas.
1. Mensagem de uma nossa leitora, sábado, 10/12, 01:38, sobrinha de um camarada nosso da FAP:
Nas minhas andanças na Net encontrei este vosso blog (andava à procura de um determinado livro RTP, um da colecção dos que chamavam "livros brancos", segundo entendi da leitura do post no vosso blog para onde fui direccionada).
Filha de militar (dessa guerra), já falecido, sou muito sensível a esta temática do ponto de vista humano, tendo um respeito enorme para com todos os que passaram por essa experiência de vida.
O que me leva a escrever-vos é notícia triste e uma pergunta.
Meu tio, Fernando José Machado Gouveia, faleceu no passado dia 9 de Novembro de 2022 (n. 19 Outubro 1945). Era tio querido e muito sofreu nos seus últimos anos devido a um estado de saúde débil (muitos problemas por sequelas de enfermidade tropical aquando da sua passagem pela Guiné), agravado por faculdades cognitivas em sucessiva perda.
Praticamente nada sei da sua vida militar, mas julgo saber que foi furriel (se não estou equivocada no posto) da força aérea, e que esteve na Guiné, embora não saiba onde nem em que anos ou funções e muito menos o seu nº mecanográfico.
Supondo ser informação escassa, daqui surge a minha pergunta:
Um grande abraço com desejos de um feliz Natal a todos vós e vossas famílias.
SS
2. Resposta do editor Luís Graça, sábado, 10/12/2022, 10:56 :
Sinto muito, querida, a morte do seu pai e do seu tio, nossos camaradas... Veja se nos consegue dar mais dados sobre o tio Gouveia, que em princípio seria da Força Aérea: piloto ? especialista ? paraquedista ?...
http://especialistasdaba12.blogspot.com/
Endereço de email:especialistasdaba12@gmail.com
Um bom Natal e um melhor Ano Novo,
Luís Graça, editor
3. Nova mensagem da nossa leitora que se assinada apenas pelas iniciais SS;
Sr. Luis Graça,
Obrigada pelo acolhimento a esta visitante, caída no vosso blog por acaso (pára-quedas seria mais apropriado?).
Quanto a informações mais detalhadas sobre o meu tio, sei que não foi piloto, mas também que não esteve em sítio "bom".
Quanto a mais referências, teria de perguntar à minha tia, sua viúva. No entanto, sendo tão recente o falecimento, não quero estar-lhe a provocar mais perturbação. Ela culpa intensamente a ida de meu tio para a Guiné na juventude pelos tantos problemas de saúde física e mental que ele teve durante a sua vida adulta, como igualmente nutre revolta pela falta de respeito, de responsabilidade do Estado ao não ter desenvolvido cuidados de acompanhamento psicológico e médico aos ex-combatentes, pelo que falar-lhe só iria infligir mais mágoa. Quando (e se) sentir o momento próprio, poderei perguntar-lhe, agora ainda não.
Esta é também a razão por que não posso recorrer aos canais oficiais de arquivos, porque só ela os poderia demandar e tal não lhe vou pedir.
O querer saber é meu, porque quero compreender o meu tio em todas as suas dimensões, as que puder encontrar e conseguir assimilar. Julgo ser uma forma de o homenagear ao sentir-me mais próxima dele, é necessidade minha no meu luto.
Ja corri o blog que me indicou, quase de fio a pavio, mas nada encontrei. Entretanto, tomei a liberdade de ler alguns posts do vosso blog, na procura de alguma referência ou foto. Ainda não encontrei nada de efectivo, mas pelo menos posso confirmar que, apesar de homónimo, o meu tío não é este sr. Fernando Gouveia [que foi alf mil rec e inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70, e é arquiteto da CM Porto, reformado; e membro da Tabanca Grande desde 9/4/2009].
Por outro lado, pareceu-me reconhecê-lo (sem certeza) na foto em anexo. O rapazito de óculos no canto superior esquerdo (céus, alguns eram tão novos, umas crianças). Será ele? Algum ex-camarada poderá esclarecer?
Desculpe se o aborreço ou se estou a fazê-lo sentir-se meu sofá de psiquiatra (pensará o senhor, suponho), sinceramente, não quero pesar com esta insistência, mas se for possível ter um vislumbre do que se terá passado com meu tio na Guiné, fico muito agradecida.
Meus melhores cumprimentos. SS
(*) Último poste da série > 15 de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23172: Em busca de... (317): Camaradas de armas de João Carvalheiro, falecido há cerca de 2 anos no Porto e que pertenceu à 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4512/72 (Cuntima, 1973/74). Procura a sua sobrinha, Sílvia Zayas Serra
quarta-feira, 24 de agosto de 2022
Guiné 61/74 - P23552: Meu pai, meu velho, meu camarada (68): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte VII
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 11h11 > Baía do Porto Grande e Monte Cara, ao fundo.
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 14h45 > Praia da Lajinha, porto e Ilhéu dos Pássaros, e a silhueta da Ilha de Santo Antão ao fundo.
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 12h59 > O calçadão da Praia da Lajinha.
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 12h11 > Edifício da Câmara Municipal (trasnformado em hospital militar em 1941, com a chegada de tropas expedicionárias)
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 16h45 > Rua típica, de traça colonial, com vendedeiras ambulantes.
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9 de novembro de 2012 > Algumas das fotos do álbum de João Graça, que passou por aqui, e passeou pela "capital da morabeza", em trânsito para a Ilha de Santo Antão, com a sua banda, os Melech Mechaya, por ocasião do Festival Sete Sóis Sete Luas.
Mindelo, cidade cosmopolita com uma arquitetura de toque colonial que reflete a influência portuguesa e inglesa, é a capital cultural de Cabo Verde, a terra da Cesária Évora, B.leza, Bana, Luís Morais, Tito Paris, Bau, e de outros grandes músicos e cantores, terra da morna, da coladera, do funaná, do festival da Baía das Gatas... Terra que faz parte do imaginário da minha infância e à qual nunca cheguei a ir... Foi lá o João por mim, e pelo avô... em 2012. Espero ainda lá poder ir um dia, mesmo sem o meu pai que amou tanto aquela terra... (LG)
Fotos (e legendas): © João Graça (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Ao João,
que foi visitar o avô Luís Henriques (1920-2012)
ao Mindelo,
em 9 de novembro de 2012,
seis meses depois da sua morte.
Ouço os passos do meu avô,
arrastando as botas cardadas
ao longo do calçadão da Praia da Lajinha.
E, mais atrás, vislumbro
a sombra frágil do seu impedido, o Joãozinho,
que há-de morrer, meses mais tarde,
por volta de junho de 1943.
De fome. Da grande fome.
Ouço a voz do dr. Baptista de Sousa,
diretor do hospital:
- Então, ó nosso cabo,
há quantos meses é que estás na ilha ?
- 26 meses, meu capitão.
- Eh!, pá, estás farto de engolir pó,
vou te já mandar p'ra casa!
Ouço o meu avô falar, em verso,
em certas noites de luar,
com o Monte Cara,
a Baía do Porto Grande,
e o Ilhéu dos Pássaros.
Ouço o meu avô perguntar
ao Fortunato Borda d'Água
enquanto lhe escreve mais uma das suas cartas
às suas namoradas:
- Ó Fortunato, afinal, de quem é que tu gostas mais ?
Da que ri ou da que chora ?
Vejo uma multidão de gente,
portugueses, africanos, ingleses,
erguer-se do Monte Verde,
abraçar a ilha
e cantar uma morna
à doce e mágica cidade do Mindelo.
Luís Graça
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > "A antiga cãmara [municipal] de Mindelo que hoje é hospital de soldados. Julho de 1942. Luís Henriques". [É hoje de novo, o edifício da Câmara Municipal do Mindelo]
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Hospital de São Vicente, fundado em 1899, no reinado do Rei Dom Carlos I (1889-1908). Foto do álbum do expedicionário, 1º Cabo Luís Henriques, nº 188/41. Foto; arquivo da família
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Título de caixa alta do “Diário
de Lisboa”, 3 de setembro de 1945.
7. Continuação da "história de vida" de Luís Henriques (Lourinhã, 18/8/1920 – Atalaia, Lourinhã, 8/4/2012), conhecido popularmente na sua terra natal como "ti Luís Sapateiro": “Morreu o Luís Sapateiro (1920-2012), uma figura muita popular e querida da nossa terra”, lia-se no jornal “Alvorada”, Lourinhã, nº 1103, 20 de abril de 2012, p. 26.
Recorde-se que, aos 13 anos, por volta de 1933/34, o meu pai terá uma nova família de acolhimento, a do seu tio materno, Francisco José de Sousa Jr. (de alcunha, “Fofa”), industrial de sapataria e músico, membro da então Banda dos Bombeiros Voluntários da Lourinhã ( atual Banda da AMAL - Associação Musical e Artística Lourinhanense, cujo presidente da direção é um seu neto, Paulo José de Sousa Torres). E é na empresa do tio, na Rua Grande (R João Luís de Moura) que aprende o ofício de sapateiro, que era a sua profissão antes da tropa.
Mas, no verão de 1945, ainda voltará a ser “chamado para a tropa”, para se integrar no desfile das forças expedicionárias portugueses que se iriam juntar às brasileiras, em Lisboa, em 3 de setembro de 1945. (Não sabemos se chegou a participar nesse desfile, uma vez que entretanto partiu uma costela quando estava no quartel.)
Recorde-se este episódio, documentado em filme da então SPAC –Sociedade Portuguesa de Actualidades Cinematográfcias, documento hoje guardadoCinemateca Nacional:
(...) No dia 2 de setembro de 1945, aporta ao estuário do Tejo o navio “Duque
de Caxias”, levando a bordo um regimento composta 162 oficiais e 1.636
sargentos e soldados, parte da FEB (Força Expedicionária Brasileira) que lutara
na Itália, integrada no exército dos Aliados,
na segunda guerra mundial,
vem do porto de Nápoles com destino
final ao Rio de Janeiro .
No dia seguinte, 3 de setembro de 1945, o Exército Português recebe os
bravos militares brasileiros com um
desfile que envolveu mais de 14 mil soldados, viaturas militares de diversos
tipos, das armas de infantaria e cavalaria. A Força Aérea, voando
sob os céus de Lisboa, associou-se ao
evento. Milhares de pessoas assistiram entusiasticamente ao desfile.
O regimento expedicionário brasileiro desfilou igualmente, saindo do
Terreiro do Paço, passando pela Rua
Augusta, Rossio, Praça dos Restauradores, e subindo a Avenida da Liberdade até
chegar a Praça do Marques de Pombal. Aí o general António Óscar Fragoso
Carmona, presidente da república portuguesa, condecorou a bandeira do batalhão
de infantaria da FEB com a Medalha de Valor Militar em grau de Ouro, a mais
alta condecoração portuguesa.
O “Diário Popular”, desse dia, referiu-se ao evento, em título de caixa
alta como “uma epopeia jamais vista em terras lusitanas”. O “Diário de Lisboa”,
por sua vez, sublinha que “as tropas brasileiras (…) causaram esplêndida
impressão e foram muito aclamadas”.
À noite, houve jantar com fados para oficiais e sargentos, portugueses e brasileiros, em locais diferentes. Na Feira popular, militares e civis se misturaram numa confraternização raramente vista em terras lusitanas. (...)
Foto: arquivo da família.
Luís Henriques casa, entretanto, em 2 de fevereiro de 1946 com a Maria da Graça, natural do Nadrupe, criada de servir de senhores e senhoras de Lisboa, da Praia e da Lourinhã, desde tenra idade. Namoravam-se há já uns anos, ainda antes da tropa. [Foto à direita].
Ela era filha de Manuel Barbosa, natural do Nadrupe, e de Maria do Patrocínio, natural da Lourinhã. O apelido Graça não é de família: ela nasceu no dia 6 de agosto, dia da festa da padroeira da terra, a N. Sra. da Graça… A última (ou uma das últimas senhoras) onde ela serviu, foi a dona Rosa Costa Pina, professora primária, oriunda das Beiras.
Lourinhã, jardim da Senhora dos Anjos, c. agosto / setembro de 1947: eu, aos 8 meses, ao colo da minha mãe, Maria da Graça (1922-2014) e ao lado do meu pai, Luis Henriques (1920-2012).
A 29 de janeiro de 1947 nasci eu. E 18 meses depois, a Graciete (que riá casar com o Cristiano Sardinha Mendes Calado, Alter do Chão, 19/1/1941- Lourinhã, 21/5/2021).
(Continua)
terça-feira, 7 de junho de 2022
Guiné 61/74 - P23334: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXVI: O "meu" regresso à Guiné (2): Os Bijagós que muitos de nós nunca vimos - Parte I
Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > 2008 >A engenharia (sendo o Tiago Costa o segundo da esquerda) bebendo umas cervejas no antigo "Clube de Oficiais no Saltinho"
Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Em dia de festa a melhor indumentária...para impressionar as Bajudas!!!
Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Não parece mas estamos na Guiné. Um resort numa das Ilhas paradisíacas dos Bijagós.
Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Ainda há encantos destes...
Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Aves marinhas...
Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Encantos de recantos...
Fotos (e legendas) © Tiago Costa / Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
(*) Vd. poste de 8 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23245: Agenda cultural (811): Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar, 11 de junho de 2022, sábado, 11h00: Luís Graça apresenta o livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul"