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sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24686: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (7): Tempo de lazer...

 


Foto nº 29A


Foto nº 29


Foto nº 28


Foto nº 30



Foto nº 25A


Foto nº 25


Foto nº 27


Foto nº 26


Foto nº 31 
 

Guiné > Região de Quínara > Buba > 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Bula, 1973/74) > As fotos vão dispostas, não pela numeração, mas por conveniència e  afinidade temática.  Ver legendagem em baixo.

Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]



António Alves da Cruz, foto atual:
lisboeta der Belém, vive em Almada (onde trabalhou na Lisnave)


1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz (ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 45113/72, Buba, 1973/74), que tem 12 referências n0 nosso blogue. O descritor Buba tem c. 380 referências.

São imagens do quotidiano da malta... Nos quartéis do CTIG, e não obstanmte a guerra, também havia tempo para o lazer, o futebol, os copos, o mergulho no rio, as jogatanas de cartas, o convívio no bar...
 

Legendagem:

f-25 >  da esquerda para a direita: Cruz, ex-fur mil Vitor Domingues, o nosso comandante de companhia cap mil Brás Dias, 1º cabo cripto (não recordo o nome); em baixo, os ex-fur mil Gonçalves e Costa,  e o 1º cabo cripto (não recordo o nome);

f-26 >  o hastear da bandeira nacional na parada;

f-27 > três ex-alf mil da 1ª companhia do BCAÇ  4513/72: da esquerda par a direita,  o Jorge (era o comandante do meu pelotão; como era formado em direito, depois de tirarmos as IAO,  em Bolama,  foi para Bissau para secção de justiça, ficando eu e o Vitor a comandar o 3º pelotão); o Gatões  e o Torres (infelizmente o Gatões e o Torres já não estão entre nós);

f-28  > bar de Sargentos, à esquerda o furriel do quadro Corola, eu ao centro, à direita o ex-fur mil mil Gonçalves;  em baixo não recordo o nome;

f-29 > eu na palheta com o Gonçalves , o quadro ao fundo é da autoria do ex-fiur mil Peixoto;

f-30 > no bar com o meu grande amigo, ex-fur mil operações especiais Gica;

f-31 > O Gonçalves coça a cabeça e o ex-fur mil José Carlos coça a micose.
____________

Nota do editor:

Último pposte da série > 15 dc setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24654: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (7): Quartel e tabanca de Buba, e rio Grande de Buba

segunda-feira, 31 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24522: Tabanca Grande (551): cor inf ref Cunha Ribeiro (Gondomar, 1926 - Porto, 2023), antigo 2º cmdt, BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), fica simbolicamente inumado, à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 879


Foto nº 1


Foto nº 2 > O major Cunha Ribeiro falando para o "corresponde local"... do jornal "A Bola"...


Foto nº 3 > O fatídico jipe...

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Coamndo e CCS/BCAÇ 2852 (1968/70)  > O  então major Cunha Ribeiro, integrando uma equipa de futebol (Fotos nº 1 e 2)... Na terceira  e última foto pode ver-se o estado em que ficou o seu jipe no acidente que lhe ia sendo fatal, e que o mandou para o hospital durante vários meses.

Na foto nº 1 está a equipa de futebol de oficiais de Bambadinca que acabara de jogar contra uma equipa de sargentos (*). Na fotografia aparecem, na segunda fila, da esquerda para a direita:  de pé, o alf mil Beja Santos (cmdt do Pel Caç Nat 52, 1968/70), o alf mil médico, David Payne Pereira (já falecido, era um conhecido psiquiatra), o major Cunha Ribeiro, 2º comandante do BCAÇ 2852,  o cap inf Carlos Alberto Maqcahdo de Brito (hoje cor ref), comandante da CCAÇ 12, e ainda o alf mil at int Abel Maria Rodrigues, também da CCAÇ 12.

Na primeira fila, da esquerda para a direita, um militar que não conseguimos identificar, seguidos de três alf mil,   José António G. Rodrigues, da CCAÇ 12 (já falecido), o António Carlão, da CCAÇ 12 (jã falecido) e o Isamel Augusto (CCS). O Fernando Calado, alf mil trms, também fazia parte da equipa mas fracturou um braço, não aparecendo por isso na foto.

O major Cunha Ribeiro  substituiu, em setembro de 1969,  major Viriato Amílcar Pires da Silva, transferido por motivos disciplinares. 

Fotos (e legenda): © João Pedro Cunha Ribeiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Cunha Ribeiro, no 1º convívio do pessoal de Bambadinca, em 1994, 
em Fão, Esposende. 

Foto: Beja Santos


1. Mensagem de João Pedro de Paiva Cunha Ribeiro, filho do  cor inf ref Ângelo Cunha Ribeiro (1926-3023):

Data - quarta, 26/07/2023, 02:03  
Assunto - Cunha Ribeiro, Cor

Caro Amigo,
Revisitei hoje o blogue de que é autor,  para recuperar a notícia que lá publicou do falecimento do meu pai, da autoria do Dr Mário Beja Santos, com a intenção de divulgar o respetivo link no dia em que o meu pai faria 97 anos. 

Deparei assim com o pedido de fotografias dele na campanha da Guiné, o que me levou a contactá-lo e consigo partilhar as poucas fotografias que dessa altura dele possuímos. Inclusive do estado em que ficou o veículo onde teve o acidente.

Com as minhas mais cordiais saudações,
João Pedro Cunha Ribeiro
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa | 
School of Arts and Humanities – University of Lisbon


2. Comentário do editor LG:

Aquando da notícia da morte do cor Cunha Ribeiro,  manifestei em comentário ao poste P24216 (*), os meus votos de pesar à família pela sua perda, aos 97 anos... E mais disse: 

"Conheci  o coronel Cunha Ribeiro, em Bambadinca, como major, segundo comandante do BCAÇ 2852. Estivemos juntos uns escassos meses até ao seu fatídico acidente na rampa de acesso ao quartel. E falei com ele poucas vezes. Eu era um simples furriel, para mais não pertencia ao seu batalhão.

Foi um superior hierárquico de que temos vivas memórias pela energia e entusiasmo que punha na sua atividade de comando. Vejo agora que era natural de Gondomar e vivia no Porto. Era de facto um homem do Norte.

Foi lembrado no blogue diversas vezes, tem cerca de uma dúzia de referências. Voltei a vê-lo em Fão em 1994. Morreu em paz com 96 anos, isso também nos consola, a todos nós, antigos combatentes.

O Beja Santos já há muito que formulou o desejo de juntar o seu nome à lista dos membros da Tabanca Grande. Ele gostava muito de lembrar os tempos de Bambadinca. Por mim, tudo bem. Será que o Beja Santos (ou a família) nos disponibiliza algumas fotos dele, desse tempo?"

O filho João Pedro acaba de nos mandar três fotos do seu querido pai. Fica satisfeito o nosso pedido, estando agora em condições de, a título póstumo, integrar na Tabanca Grande o nosso "major elétrico", como ele é afetuosamente conhecido pelos seus subordiandos em Bambdinca. O seu lugar, sob o nosso poilão, será pois o nº 879. Que descanse em paz! 



3. Ficha de unidade : Batalhão 
de Caçadores nº 2852

Identificação: BCaç 2852
Unidade Mob: RI 2 - Abrantes

Cmdt: TCor Inf Manuel Maria Pimentel Bastos | TCor Cav Álvaro Nuno Lemos de Fontoura | TCor Inf Jovelino Moniz de Sá Pamplona Corte Real

2.° Cmdt: Maj Inf Manuel Domingues Duarte Bispo | Maj Inf Viriato Amílcar Pires da Silva | Maj Inf Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro | Maj Inf Herberto Alfredo do Amaral Sampaio

OInfOp/Adj: Maj Inf Viriato Amílcar Pires da Silva | Maj Inf Ângelo Augusto Cunha Ribeiro

Cmdts Comp:
CCS: Cap Inf Eugénio Baptista Neves | Cap Mil Art António Dias Lopes | Cap Inf Manuel Maria Pontes Figueiras | Alf Millnf Ismael Quitério Augusto (não confirmado)

CCaç 2404: Cap Mil Inf Carlos Alberto Franqueira de Sousa | Cap Mil Inf Francisco António Brito Limpo Trigueiros | Cap Inf António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira | Alf Mil Inf Manuel Abreu Barbosa | Cap Inf Eugénio Baptista Neves | Cap lnf Manuel Dias Chagas

CCaç 2405: Cap Mil Inf José Miguel Novais Jerónimo

CCaç 2406: Cap Inf Diamantino Ribeiro André

Divisa: Sacrifícios Não Contamos

Partida: Embarque em 24Ju168; desembarque em 30Jul68 | Regresso: Embarque em 16Jun70 (CCaç 2405 e 2406 em 28Mai70)

Síntese da Actividade Operacional

Inicialmente, ficou colocado em Bissau na situação de reserva do Comando-Chefe, sendo as suas subunidades atribuídas em reforço de outros batalhões.

Em 160ut68, rendendo o BArt 1904, assumiu a responsabilidade do Sector LI, com sede em Bambadinca c abrangendo os subsectores de Xime, Xitole e Bambadinca, este com sede temporariamente em Fá Mandinga até 18Ju169.

Em 04Dez68, foi criado o subsector de Galomaro e, em 25Fev69, ainda o subsector de Saltinho, com as consequentes reformulações dos subsectores.

Em 290ut69, a zona de acção foi alargada da área de Enxalé, então retirada ao BCaç 2885. Em 28Jul69 e 07Nov69, os subsectores de Galomaro e Saltinho deixaram de pertencer ao Sector LI, por atribuição ao COP 7 e ao BCaç 2851, respectivamente.

Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, emboscadas e acções ofensivas sobre as linhas de infiltração inimigas, por forma a impedir o alastramento do seu esforço na zona Leste; a par disso, continuou a promover a organização do sistema de autodefesa das populações e respectivos aldeamentos.

Pela duração e áreas batidas, destacam-se as operações "Hálito", "Guia II" e "Dá Forte" e a sua colaboração na operação "Mabecos Bravios" - na qual, por acidente na travessia do rio Corubal, pereceram 17 militares - e na operação "Lança Afiada".

Dentre o armamento capturado mais significativo, salienta-se: 2 metralhadoras pesadas, 2 pistolas-metralhadoras, 4 espingardas, 117 granadas de armas p
esadas e cerca de 10000 munições de armas ligeiras.

Em 07Jun70, foi rendido no sector pelo BArt 2917 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 117/118.
___________

Nota do editor:



sábado, 26 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23817: In Memoriam (463): Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022)... Um excerto do livro "Quebo" (2014): Recordando os tristes acontecimentos que ensombraram Aldeia Formosa, na noite de Consoada de 1971, "se não a pior, uma das mais trágicas da minha vida"


Rui Alexandrino Ferreira (Angola, Sá da Bandeira, 
h0je Lubango, 1943 - Viseu, 2022) (*)





Guiné > Região de Tombali Aldeia Formosa > CCAÇ 18 (jan 197/set 72) > 1971 > Os primeiros foguetões 122 a serem capturados aos guerrilheiros do PAIGC. No foto, ao centro Cap Mil Rui Ferreira, comandante da CCAÇ 18, com dois dos seus homens, guineenses: o furriel mil Aristóteles Tomé Pires Nunes  e o furriel  mil Carlos Solai Só. Foto, com a devida vénia, reproduzida de "Quebo: nos confins da Guiné", Coimbra, Palimage, 2014, pág. 107. 




Capa do livro "Quebo: Nos confins da Guiné" (Coimbra, Palimage, 2014, 364 pp.).
Um exemplar deste segundo livro do Eui Alexandrino Ferreira, foi-me gentilmente ofertado pelo Manuel Gonçalves, ex-alf mil mec auto, CCS/BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73), Reproduzo aqui a sua dedicatória: "Tendo estado em Aldeia Formosa com o autor, quero partilhar com o meu ilustríssimo amigo Luís Graça alguma dessa vivência. Manuel Gonçalves, s/d  [2022] ".



1. Em homenagem ao nosso ten cor inf ref Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022), deixamos aqui a sua versão sobre os tristes acontecimentos que ensombraram Aldeia Formosa, na noite de Consoada de 1971,  sob a forma de confrontos armados, opondo militares, guineenses, da CCAÇ 18, a camaradas, metropolitanos da CCS e da CCAÇ 3399 / BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, jul 1971 / set 1973).  O Rui Alexandrino Ferreira estava então na sua segunda comissão no CTIG, desta vez a comandar a CCAÇ 18 (de janeiro de 1971 e setembro de 1972).

Trata-se de um excerto do seu livro "Quebo: Nos confins da Guiné" (Coimbra, Palimage, 2014). Com a devida vénia aos herdeiros do autor e à editora, a Palimage. É também uma homenagem à sua esposa, a quem dedica (a ela e às filhas) este livro, com palavras  de enorme ternura e humanidade que merecem ficar aqui registadas no nosso blogue:

"Este livro  (...) é principamente dedicado à minha esposa, que continua a ser dos meus sonhos o mais lindo, pro quem tive a ousadia de pedir a Deus: "Senhor! Cuida bem dela. Dá-lhe uma velhice calma e sem abrolhos, que a compense da imensidão de sacrifícios que por mim temfeito. Quando a tiveres de a chamar a Ti, não o faças sem primeiro o teres feito a mim, pois  sem ela nem o mundo seria o mesmo, nem a  minha vida teria qualquer sentido" (pág. 19).

Chama-se a atenção para o facto de haver outras versões dos acontecimentos a seguir relatados: vd. por exemplo, o testemunho do soldado do pelotão de morteiros que estva a altura em Aldeia Formosa, Joaquim dos Reis Martins ("Quebo: nos confins da Guiné", op cit, 2014,  cap 12º, ponto 10.5. A Revolta dos Militares Nativos, pp. 330-335); ou ainda a versão do nosso camarada Manuel Gonçalves, já aqui citado (**). 



Capítulo décimo primeiro – A noite dos horrores, ou o conflito armado entre metropolitanos e africanos e ainda a morte de Virgolino Ribeiro Spencer (pp. 197 – 202)


Por Rui Alexandrino Ferreira 



(...) Se durante a permanência do [BCAÇ] 2892, a coexistência entre brancos e africanos decorreu de forma natural, (…) dentro do aquartelamento e da povoação [de Aldeia Formosa] (…), com a chegada do [BCAÇ] 3852 tudo se tinha modificado.

(…) Sucedia que entre os fulas, para publicamemte mostrarem a grande amizade que os unia, estes se passeavam de mão dada. Tal facto foi originando alguns piropos da parte dos soldados metropolitanos, que foram agravando com o correr do tempo.

Longe de qualquer prática homossexual, que aliás não foi detetada nenhuma, na CCAÇ 18, durante todo o tempo em que lá estive (…). Os militares do [BCAÇ] 3852 pareciam, a este respeito, estar desinformados, pouco mentalizados, como se fosse coisa de que nunca tivessem ouvido falar.

Foram-se assim agravando as relações. E, se não me custa aceitar que havia alguns militares da [CCAÇ] 18, que estariam mais perto dos ideais do PAIGC, e atentos a uma oportunidade para lançar uma confusão, tal não me parece ter sido esse o presente caso.

Confusão que acabou por acontecer na noite da consoada de 1971. Foi seguramente, se não a pior, uma das mais trágicas da minha vida.

E tudo começou por uma violenta discussão entre africanos e metropolitanos no bar do Cabo Verdiano, envolvendo o campeonato de futebol da primeira divisão. Do Benfica ao Sporting (…), foi subindo de tom e passou para o futebol de Aldeia Formosa, onde tinha recentemente terminado o campeonato inter-unidades.

E assim, normalmente, acabava por vir a lume a minha própria pessoa. Não sendo efetivamente um elemento muito disciplinado, usando e abusando da força que então tinha, era extremamente corajoso, lutador e, sem ser violento, impunha o físico, nunca tirava o pé do sítio onde metia e raramente perdia um confronto a dois.

Tendo sido injustamente expulso durante um desafio por um furriel árbitro que, na busca de protagonismo, não encontrara melhor solução que me pôr fora de campo, ordenei então à equipa da 18 que abandonasse o terreno, pois o futebol para nós tinha acabado naquele momento.

Foi um alvoroço. Chamado às preces
 [ou à pressa ?]    o comandante [ten cor inf António Afonso Fernandes Barata], [este ] ordenou-me que fizesse reentrar o pessoal no campo, ao que lhe respondi que nem pensar.

− Então mando-os eu entrar – retorquiu.

−Essa é que eu gostava de ver, entrar um que fosse, depois de eu ter dito para o não fazerem.

− Então, eu prego-lhe uma porrada.

− E eu preocupado com isso, seguramente viu daqui para melhor, porque não há nada mais perigoso em matéria operacional do que uma companhia africana. E venha quem os ature.

− Mau…, então vamos conversar. O que é o senhor quer ?

− Mande substituir o árbitro.

E assim foi feito (…).

Do futebol se passaram às malévolas insinuações, se julgaram ações, se estabeleceram suposições, numa alusão a eventuais práticas homossexuais, metendo pelo meio o uso dos balandraus, alguns ricamente costurados, que os fulas usavam em ocasiões especiais, mas que efetivamente mais pareciam vestimenta de mulher.

E tudo acabou num confronto físico, quando um soldado africano enfiou pela cabeça abaixo de um soldado africano uma cadeira. Criadas fixaram assim as condições para o pandemónio que se seguiu.

Impotente para reagir fisicamente, dada a diferença de arcaboiço, o soldado africano foi a casa buscar a arma. Os soldados metropolitanos refugiaram-se no quartel e os africanos instalaram-se numa casa fronteiriça a este, de onde desencadearam o ataque.

A notícia chegou como uma bomba à tabanca da [CCAÇ ] 18 [fora do quartel, onde ficavam o comandante e os demais graduados da companhia].

− Nosso capitão, o pessoal está todo aos tiros uns aos outros.

(…) Desatmado, usando, tal como me encontrava, as calças do camuflado e uma t-shirt branca, dirigi-me rapidamente ao local do conflito.

Já então o tiroteio era verdadeiramente infernal. Os soldados metropolitanos tinham começado a responder de dentro para fora do quartel. Tendo feito rapidamente um balanço à situação, só havia um solução: terminar imediatamente com a troca de tiros, antes que a situação ficasse incontrolável.

Identificando-me e ordenando, tão alto quanto consegui, que pusessem fim ao tiroteio, avancei direto à casa onde se encontravam entrincheirados os soldados da 18.

Os tiros passaram por mim zumbindo, dilagramas iam rebentando um pouco por todo o lado. E fosse por intervenção divina, por interferência de Nossa Senhora de Fátima que protege os portugueses quando estes se encontram em más situações, ou pela intervenção que era conferida pelo amuleto que me fora dado pelo Cherno Rachid Jaló, não sofri nem a mais ligeira beliscadura.

Continuando a avançar em direção à casa, consegui que os meus soldados a abandonassem e assim se findou o tiroteio. No rescaldo, e num balanço final, tinha um dos majores um dos lados da cara completamente esfacelado, por se ter mandado abaixo do jipe que estava a ser atacado.

Mais grave, estava o Virgolino Ribeiro Spencer, um dois furriéis da 18, que transitava de boleia na motorizada do Ganga, outro furriel da mesma 18, que era avançado de centro da seleção da Guiné (…)[com família no Pilão]… [E a propósito do Pilão], ainda estava bem presente na mente de todos a morte de quatro elementos da polícia militar, vítimas de uma granada que lhes meteram dentro do jipe.

Virgolino Ribeiro Spencer foi inacreditavelmente atingido por uma bala que, tendo feito ricochete no farolim, o foi apanhar naquele exíguo pedaço do seu corpo, que não estava protegido pelo corpo do Ganga. (…)

Evacuado para Bissau, na madrugado do dia seguinte, morreu um dia depois [na realidade, umas três semanas depois, em 15 de janeiro de 1972]. Para o seu velório e enterro, Spínola mandou-me buscar a Aldeia Formosa.

Foi mais uma noite de profundo desgaste psíquico, físico e mental. Com o calor que se fazia sentir, o corpo já tinha começado a decompor-se. A família, num cantochão, misto de prece e oração, lamentava em conjunto a sua morte. Toda a noite, sem descanso, sem tréguas, sem intervalos. De madrugada, [eu] tinha os nervos arrasados. O enterro constituiu mais uma provação.

Mas voltando a Aldeia Formosa e à noite das facas longas, findo o tiroteio e após ter passado pela enfermaria, dirige-me à sala de operações onde se encontrava reunido o comando do batalhão. O comandante propôs-me então que se esquecesse o que se tinha passado, não informando Bissau do sucedido.

Ao que lhe respondi que não precisava ele de se preocupar em prestar qualquer esclarecimento, pois a essa hora já por toda a cidade de Bissau se sabia o que se tinha passado, com base no agente da PIDE, em Aldeia Formosa.

− E mais, temos de nos preparar para amanhã receber a visita de Spínola.

E assim foi. Formadas as unidades, Spínola determinou que os comandantes das companhias fizessem sair os cabecilhas. E quando viu que os elementos da 18, que tinha mandado sair, estava um cabo com uma cruz de guerra (que ostensivamente colocara), dirigiu-se-me dizendo que não era forma de tratar um herói nacional. Ao que eu respondi:

−Que em matéria de cruzes de guerra, ele ainda ficava a perder comigo.

A verdade é que Spínola estava absolutamente determinado a arranjar alguém que arcasse com as culpas e, se eu não lhe tenho respondido com a mesma arrogância, ele tinha-me passado por cima.

Embarcados os elementos que tinham sido dados como cabecilhas, Spínola regressou a Bissau.

De seguida, mandou quês e apresentasse em Bissau o comandante do [BCAÇ] 3852 e enviou, para Aldeia Formosa, o brigadeiro Ramires, comandante do CTIG, que, tendo como escrivão o major Carlos Azeredo, elaborou o auto respetivo. (Aliás, Carlos Azeredo conhecia muito bem Aldeia Formosa, pois tinha aí comandado um COP).

Ouvidos exaustivamente todos os possíveis intervenientes, foi o comandante punido. Salvo erro, com 12 dias de prisão disciplinar, findos os quais, foi mandado regressar à Metrópole.

No rescaldo, a vida regressou a uma efetiva normalidade, melhoram as relações entre militares, e eu sentia que o grosso que tinha que fazer naquela comissão já estava feito.

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Parênteses retos / Negritos , para efeitos de publicação deste poste:  LG]

2. Comentário adicional do editor LG:

Chama-se a atenção para o facto de haver outras versões dos acontecimentos acima relatados, que podem divergir, nalguns aspetos circunstanciais ou até essenciais, da versão do Rui Alexandrino Ferreira. Costuma dizer-se que quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto. Neste caso, ver por exemplo:

(i)  o testemunho do soldado do pelotão de morteiros que estava a altura em Aldeia Formosa, fotógrafo amador, e amigo do coamndante da CCAÇ 18, de seu nome Joaquim dos Reis Martins: ele próprio doou sangue para fazer uma transfusão ao furriel Spencer, assistido de imediato pelos quatro médicos do batalhão, por sorte todos reunidos nesse dia festivo em Aldeia Formosa: levado de helicóptero para o HM 241, logo no dia seguinte de manhã,   foi recuperando dos ferimentos de bala; mas terá morrido de uma hepatite no hospital (in "Quebo: nos confins da Guiné", op cit, 2014,  cap 12º, ponto 10.5. A Revolta dos Militares Nativos, pp. 330-335).

(ii) ou ainda a versão do nosso camarada Manuel Gonçalves, já aqui citado (**):. 

(...) Oficialmente, o exército considerou a  (...) morte   [do furriel mil Spencer] como "acidente". Na realidade, ele terá sido assassinado, quando circulava pela tabanca com a sua motorizada. Era um guineense, de origem cabo-verdiana,  sendo natural de Nª Sra. Natividade, Pecixe, Cacheu.

Era o único militar, ao que parece, que possuía uma motorizada  [o alf mil João Marcelino, da CCS, também tinha uma Honda, não sei se nessa altura, se mais tarde... LG] . 

Para o Manuel Gonçalves, terá sido morto mais provavelmnete morto por alguém da sua própria companhia. a CCAÇ 18,  As praças da CCAÇ 18 viviam na tabanca, estando por isso armados.

A haver crime. não se apurou o móbil do crime, nem se identificou o autor do disparo.. Pode-se pôr a hipótese de vingança ou racismo. Esta história acabou por ser um "pretexto" para uma "insubordinação militar", com o pessoal da CCAÇ 18,  a revoltar-se e virar as suas armas contra os "tugas" da CCS/BCAÇ 3852.

Foi preciso mandar avançar uma Panhard para serenar os ânimos... Isto passa-se na véspera de Natal, na noite de Consoada, 24/12/1971. O Spencer, evacuado para o HM 241, em Bissau, acabou por não resistir aos ferimentos, três semanas depois. (...)

Há outras referêcncias a estes acontecimentos da noite de Natal de 1971 em depoimentos prestados no livro do Rui Ferreira por militares que o conheceram e que com ele conviveram em Aldeia Formosa, quer pertencentes à CCAÇ 18 quer ao BCAÇ 3852. Não vamos, por ora, citá-los. Os seus depoimentos são importantes para se melhor conhecer o homem e o militar que foi o Rui Alexandrino Ferreira.

___________

Notas do editor:

(*) Último poste da sérue > 24 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23813: In Memoriam (462): Rui Alexandrino Ferreira (ex-Sá da Bandeira, Lubango, 1943 - Viseu, 2022), ten cor inf ref, ex-alf mil inf, CCAÇ 1420 (Fulacunda, 1965/67); ex- cap mil, CCAÇ 18 (Aldeia Formosa, 1970/72); autor de 3 livros de memórias: Rumo a Fulacunda (2000), Quebo (2014) e A Caminho de Viseu (2017)

(**) Vd. poste de 12 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19006: (De) Caras (120): A morte do fur mil, da CCAÇ 18, Virgolino Ribeiro Spencer, em Aldeia Formosa, em 15 de janeiro de 1972... Acidente ou homicídio na Consoada de Natal de 1971 ? A versão do Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS/ BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73).

sexta-feira, 8 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23151: Recordando o Salgueiro Maia, que eu conheci, o meu comandante, bem como os demais bravos da minha CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (José Afonso) - Parte V: Histórias pícaras: (viii) O brutibol e os treinadores de bancada

Guiné > Região do Cacheu > Bula > CCAÇ 2790 > A equipa de futebol... De pé, do lado direito, de camuflado, o cap inf  Gertrudes da Silva, que sucedeu ao cap José Pedro Sucena , no comando da CCAÇ 2790, entre fevereiro e setembro de 1972. Foto gentilmente cedida pelo José Câmara (que vive nos EUA) ao António Matos, ex-alf mil, MA, CCAÇ 2790 (Bula, 1970/72). 

Foto (e legenda): © José Câmara (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra >  2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) > Equipa de futebol dos graduados...

Foto (e legenda): © Carlos Barros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Bissau > HM241 (1968/70) > A equipa de futebol do Hospital Militar

Fotos: © Manuel Freitas (2011).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A equipa de futebol de onze, aqui vestida a rigor, com o equipamento a condizer: simbolicamente, camisola preta e calção branco... Esta era a equipa principal...em que tinha lugar o fur mil Arlindo Teixeira Roda (, o primeiro da primeira fila, a contar da direita, o autor da foto). Mas, curiosamente, numa companhia em que as praças eram do recrutamento local (c. 100) e os restantes elementos (graduados e especialistas) de origem metropolitana (c. 50), não havia nenhum guineense...

Foto (e legenda) : © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Nâo temos nenhuma foto da equipa de futebol de Os Progressistas, mas sabemos que o futebol era acarinhado pelo cap cav Salgado Maio, comandante da CCAV 3420 (Bula, 1971/73). 

E no "jornal de caserna" o futebol ocupava um importante lugar nas edições (não sabemos quantas...) que se fizeram, como se pode avaliar por dois recortes, com prosa bem humorada, que republicamos hoje. A seleção é do José Afonso.

Como em todos os lados havia alguns craques e "treinadores de bancada" que, não sabendo jogar, escreviam sobre o "brutibol" no "jornal de caserna"... O Salgueiro Maia devia ser um bocado  "sarrafeiro", à falta de jeito para a bola... É o que deduzo destas crónicas...

É verdade que, para além da bola  (e das jogatanas de cartas) não havia muito mais formas de ocupar o tempo, nas horas de lazer, no TO da Guiné... Alguns liam ou ouviam rádio, nalguns aquartelamentos havia um armário com algumas dezenas de livros, em geral oferta do Movimento Nacional Feminino.  Um ou outro militar recebia jornais e revistas da metrópole ("A Bola", mas também a "Vida Mundial", a "Seara Nova", o "Comércio do Funchal", o "Notícias da Amadora", o "Jornal do Fundão", etc.). 

Em 1971/73, o país vivia ainda, desde 1926,  sob a "mordaça da censura", e praticamemte todas as notícias sobre a "guerra colonial" eram filtradas... Aliás, eram escassas, praticamente não saíam notícias sobre a guerra na Guiné, por exemplo, a não ser os "comunicados" das Forças Armadas, noticiando mais uma ou mais mortes de militares, no período de tal a tal...

A maior parte escrevia, obsessivamente, cartas e aerogramas para a metrópole... às carradas. Para os pais, as mulheres, as noivas, as namoradas, as madrinhas de guerra, os amigos... Mas escondia-se a dura realidade da guerra, por medo, por autocensura,  etc. Em contrapartida, os militares  adoravam receber os "bate-estradas", que chegavam ao SPM. No caso da CCAV 3420, era o SPM 1898.  

Outra forma de "matar o tempo" era passear pelas tabancas em redor dos aquartelamentos. Pescar  podia-se nalguns sítios. Mas, em geral, o peixe era intragável, sabia a lodo.  Quanto à caça,  era um luxo só permitido, em geral, aos oficiais (ou aos  milícias autorizados a  caçar para abastecer a tropa e/ou a população civil).

Sessões de cinema ou espetáculos de música podiam acontecer uma vez por festa, num sítio ou noutro... Raras eram as povoações (em  geral, sedes de circunscrição ou concelho) que tinham cinema: Bissau, Bafatá, Teixeira Pinto, Nova Lamego...

 As saídas às povoações mais importantes (Bafatá, Nova Lamego, Bissau, Teixeira Pinto...) era condicionadas por motivos de segurança, tal como os torneios de futebol "interregionais"... A feitura do "jornal de caserna" podia dar trabalho a uma pequena equipa...Mas a verdade é que, para além do futebol (e do "jornal de caserna") não sabemos como os Progressistas de "divertiam"... em Bula e outros aquartelamentos e destacamentos por onde passaram como Capunga,  Pete, etc. Talvez o José Afonso nos possa dizer algo mais sobre isto.




Capa do "jornal de caserna" da CCAV 3420 (Bula, 1971/73). Diretor: Cap cav Salgueiro Maia. 


Histórias pícaras > (viii) O brutibol e os treinadores de bancada


por José Afonso (*)



(i) COMENTÁRIO: O BRUTIBOL 

 Os Progressistas assistiram estupefactos aos acontecimentos no campo do Sporting Clube de Portugal num dos últimos domingos. Era visível em todos a consternação e incredulidade. Seria possível? Um árbitro a comer no toutiço,  ainda por cima daquela maneira? 

Fizeram-se mesas para comentar o caso e a opinião foi unânime, aqui no campo dos Progressistas nunca sucedeu nem pode suceder tal coisa. E, no entanto, todos nós somos profissionais e desejamos ganhar o nosso campeonato. Mas entre nós cada jogador para além do elevado grau de tecnicismo que possui, dispõe também de uma correcção impecável. 

 Mas concretizemos para ver que não falamos de cor: antes de entrarmos em campo, uma das equipes, formada por oficiais e sargentos do QP,  já vai a ganhar entre 3 a 5 bolas à outra, a dos furriéis. Ora desta maneira já não há aquela ansiedade que estraga e destrói o verdadeiro desporto. Uma equipe ganha e a outra já sabe que perde até porque quando por qualquer motivo imprevisto começa a reduzir a diferença, o nosso Capitão acaba logo com o jogo porque entretanto já se está a fazer noite e a qualidade dos jogadores perde-se. 

 E há exemplos admiráveis de jogadores natos de correcção estrema: é o Monteiro fazendo triangulações e pasodobles; é o Almeida, autêntica locomotiva em ataques furiosos e que terminam algumas vezes no chão por placagem sempre serena do nosso Capitão; é o 1.º Beliz, guarda-redes magnífico, que com alguns empurrões e muita ciência acaba por dominar a situação; o sargento Pascoal sempre à frente, à espera da bola e nunca consegue terminar nenhuma avançada e, sou eu, cuja importância é tão grande no desenrolar do jogo que noutro dia o nosso capitão até me disse: - Saia daí que você está a atrapalhar tudo! 

 Temos ainda o sargento Carreteiro muito bom em discussões futebolísticas mas, uma negação na defesa; o furriel Sancho, el ninho d’ouro”, o máximo que se pode exigir em técnica, pena que ande constantemente com os calções a cair-lhe, não fosse isso, o rapaz daria que falar; também o que nos vale é não haver por estes lados uma “liga dos costumes”. 

 Bem ainda não falamos do Seringa que quer que os golos dos furriéis sejam golos quando o nosso capitão considera que, como ninguém pediu autorização para marcar, o golo seja anulado! 

 Depois temos o alferes Mendonça,  “el Olívia Palito”,  que cada vez que entra no jogo, arranja um paludismo para os dias seguintes. Esclareço que cada falta ao prélio é paga com um garrafão de verde. 

 Pois é assim. Cá os Progressitas  não vão em agressões ao árbitro. E, para mostrarem bem que isso nunca sucedeu nem poderá suceder, continuarão a fazer como até aqui. Jogar com delicadeza e quanto a árbitro, “Cá Tem”. 

 Se quer praticar bom brutibol, se quer desenvolver as nódoas negras e os joelhos descascados, se enfim quer ser um homem, então frequente às terças, quintas e domingos, no extraordinário complexo desportivo do estádio “Erva” em Pete. 

BIGODES, jornal Os Progressistas, 9 de novembro de 1972


  (ii) O TEMA É CRITICA 

 Antes de mais quero dizer a quantos lêem o Jornal dos Progressiats  que não sou crítico de rádio ou televisão. Sou crítico em exclusivo deste jornal, de que é propriedade a CCav 3420, comandada pelo Capitão de Cavalaria, Fernando José Salgueiro Maia 

 A crítica que vou fazer é sobre a nossa equipa de futebol, já que no último jornal se falou muito de futebol, mas ao que parece o autor do artigo não falou daquilo que devia falar. 

 Falando no valor individual de cada elemento, começo já pelo guarda-redes, o nosso sargento Carreteiro, sem dúvida, bem constituído e com grande poder de elevação mas, pareceu-me que é altura de ser substituído e, o melhor substituto é o Bártolo do depósito de género ou o Paulo, o cozinheiro. A defesa central tem um elemento com longa experiência adquirida ao longo de 4 comissões que já fez no ultramar. 

Trata-se do 1.º sargento Beliz que, quanto a mim,  parece ter uns quilos a mais mas, como o campeonato está ainda em princípio parece-me ter possibilidades de recuperação. 

Quanto ao sargento Pascoal, é pedra base na equipe, porque consegue estar os 90 minutos no mesmo sítio à espera que a bola lhe venha ter aos pés. Dos furriéis, Sancho e Moreira, prefiro nem falar. 

Quanto ao furriel Gomes consegue ser superior em todos, mas em bigode; temos ainda os furriéis Monteiro, Almeida e Marques. O primeiro em vez de pensar no futebol anda mas é a pensar como pode acontecer faltar o frango aos domingos. 

Estou mesmo a ver que qualquer dia o Santos cozinheiro fica sem os seus frangos que parecem andar a mais cá no destacamento. O segundo é um elemento também muito habilidoso mas muito rafeiro, entrando sempre em falta, mas suponho eu, que um jogador com a sua classe não precisa de fazer tantas faltas sobre o adversário. 

 Temos ainda o Marques, o jogador mais disciplinado que entra em campo, é bom também em técnicas Resta apenas falar no trio da avançada que é composto pelos jogadores: Alferes Simões, Alferes Mendonça e Capitão Maia e, ao que me parece ser este ultimo, o capitão da equipe porque,  para além de dar ordem para terminar o jogo quando está a perder, está constantemente a dizer aos espectadores para que saiam para fora do arame farpado. 

 Quanto ao alferes Mendonça que nem mesmo a tomar leite em pó com flocos de cereais, não consegue dar um pontapé certeiro. O alferes Simões, é um jogador de cabeça e que joga sempre à vontade, talvez por daqui a uns meses ir no “gosse” para a Metrópole. O capitão Salgueiro Maia parece-me ter medo da disputa de bolas de cabeça. Talvez seja derivado, a trazer sempre o cabelo curto, não deixa, no entanto de ser um bom extremo esquerdo e cheio de dinamismo e iniciativas que, por vezes são perigosas para o guarda-redes. 

 Resumindo e fazendo um balanço colectivo, parece-me que toda a equipa precisa de preparação física adequada e, essa preparação podia ser dada da seguinte maneira: Juntar todos os jogadores em grupos de 4 e fazerem talvez uns blocos de cimento pelo menos, sempre contribuíam para o bem estar de todos e, ainda para uma “Guiné Melhor” 

 Eu peço desculpa quanto à crítica. Não foi feita para prejudicar ninguém mas sim, para que o jornal em vez de 4 folhas comece a ter 6, se possível. Para isso, precisamos de mais colaboradores. 

Soldado João Ribeiro, jornal "Os Progressistas", setembro de 1972


[ Revisão / fixação de textos e títulos / negritos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: LG ]

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 6 de abril de  2022 > Guiné 61/74 - P23145: Recordando o Salgueiro Maia, que eu conheci, o meu comandante, bem como os demais bravos da minha CCAV 3420 (Bula, 1971/73) (José Afonso) - Parte IV: Histórias pícaras: (vii) Os Mais dos... Progressistas (divisa da companhia e também título do jornal de caserna)

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22396: As (des)venturas da CART 6552/72, desviada para o sul da Guiné, em maio de 1973 - Parte II: a história do Lemos, jogador do FC Porto, e nosso soldado de transmissões... Nunca teve tratamento VIP até ser transferido para a UDIB (Manuel Domingos Ribeiro, ex-fur mil, grã-tabanqueiro nº 844)


O Manuel Domingos Ribeiro, um "andrade" (, portista de alma e coração), 
da Areosa, Rio Tinto.

Foto (e legenda): © Manuel Ribeiro (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O Lemos, do FC Porto,  que foi camarada do Manuel Domingos Ribeiro,
 CART 6552/72 (Cameconde e Cabedú, 1972/74). 
Vive hoje em Fânzeres, Gondomar. Em fevereiro de 2019 o Manuel Ribeiro 
visitou-o pela última vez, estava com graves problemas de saúde. 

Foto: Cortesia do blogue Estrelas do FCP, do Paulo Moreira (Gondomar)


1. Mensagem do Manuel Domingos Ribeiro (ex-fur mil at art, MA, CART 6552/72, Cameconde e Cabedú, 1973/74):


Date: quarta, 21/07/2021 à(s) 16:58
Subject: História do Lemos

Boa tarde, Luís

Vou tentar contar um pouco da história do Lemos na Cart 6552  (*).

O Lemos foi colocado na Cart 6552 no fim de 1972 ou princípio de 1973 com a especialidade de transmissões, quando foi colocado na Cart 6552, encontrava-se detido no RI 6 no Porto, sendo eu encarregue de comandar uma força para o vir buscar sob detenção e transportá-lo para o RAL 5 em Penafiel.

Quando o sargento da guarda me fez a entrega do Lemos, a grande preocupação dele, Lemos, era o carro (Ford Capri de cor amarela), que se encontrava estacionado à porta do quartel e se era possível ser ele a conduzi-lo para Penafiel. Claro que de imediato lhe comuniquei que não, pois se acontecesse alguma coisa quem sofria as consequências era eu, mas em conversa com o Lemos logo ali se encontrou uma solução para o problema.

Quando cheguei a Penafiel com o Lemos, já o carro se encontrava estacionado no Largo da Feira e o Lemos tinha à espera dele o António Oliveira, também jogador do F. C. Porto (nascido em 1952, em Penafiel). Enquanto esteve detido, ele sempre teve refeições servidas pelo restaurante Roseirinha, em Penafiel, que era propriedade da família Oliveira.

Durante o tempo que permanecemos em Penafiel e depois de cumprido o tempo de detenção, o Lemos foi um militar como os outros, tendo de executar os serviços para os quais estava escalado.

Em Março de de 1973 fomos deslocados para a carreira de tiro em Silvalde, Espinho, para aí fazermos o IAO pois o nosso destino era S. Tomé e Príncipe e não Cabo Verde e muito menos a Guiné, mas quis o destino que fôssemos mesmo para a Guiné, hoje sabemos quais as razões.

O Lemos sempre nos acompanhou até ser transferido para o UDIB em Bissau, não tenho ideia quanto tempo esteve no mato (Cameconde), mas foi mais de três meses, alinhou como todos  nós no mato.

Tenho uma história caricata com ele no regresso de uma operação: quando estávamos a acabar de atravessar uma bolanha, o Lemos de repente diz-me, "Furriel acabei de perder uma bota, ficou presa na lama"... Eu só lhe disse: "Vê se a encontras pois terás que ir descalço e ainda faltam uns quilómetros"... Foi ver o Lemos com o Racal às costas, enterrado na lama até encontrar a bota e não foi nada fácil.

Como podes verificar, o Lemos enquanto esteve na Cart 6552 foi um militar com um tratamento igual a todos os colegas e não tinha que ser diferente e ele também não agia como tal, sendo sempre um excelente camarada, nunca exibindo a imagem de figura pública, antes pelo contrário.

Quando foi para Bissau teve os seus problemas, mas era a sua maneira de ser. No dia em que o Pavão morreu (, em 16 de dezembro de 1973), encontrava-me eu em Bissau com o Lemos e aí me confessou que,  ao sair da companhia,  se tinha sentido órfão, pois mais uma vez a família tinha ficado para trás.

A última vez que estive e falei com o Lemos foi em Fevereiro de 2019, em casa dele, em Fânzeres, Gondomar. Na altura encontrava-se muito debilitado e com graves problemas de saúde, 
não voltei a contactá-lo por não me ser possível.

Esta é a minha história sobre o Lemos na Cart 6552 e, como podes verificar, o Lemos não teve qualquer tratamento VIP (**)  e de certeza que alguém que tenha pertencido à Cart 6552 terá algo mais para contar. 

Mas só quero mais uma vez dizer que fomos mobilizados para S. Tomé e Príncipe, que não fomos desviados a meio da viagem, que quando saímos da carreira de tiro em Silvalde, Espinho já praticamente todos sabíamos que o nosso destino era a Guiné.

Aproveito para dizer que sou da Areosa, Rio Tinto, para quem não sabe fica localizada mesmo no fim da Av Fernão de Magalhães, junto às Antas e, como tal, sou Andrade desde que nasci, doença de família.

Um forte abraço
Manuel Ribeiro
___________

Notas do editor:

(*) Últmo poste da série > 21 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22393: As (des)venturas da CART 6552/72, desviada para o sul da Guiné, em maio de 1973 - Parte I: Entrei no avião, em Figo Maduro, a chorar de revolta (Manuel Domingos Ribeiro, ex-fur mil, grã-tabanqueiro nº 844)

domingo, 18 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22384: (In)citações (191): Todos iguais mas uns mais iguais do que outros ?!... O caso dos futebolistas e outros "atletas de alta competição" a quem Pátria isentava do "imposto de sangue"


O Lemos, do FC Porto, "carrasco" do SL Benfica na época de 1970/71,
mobilizado para a Guiné com a CART 6552/72 
(Cameconde e Cabedú, 1972/74).

Cortesia do blogue Estrelas do FCP, do Paulo Moreira (Gondomar)


1. Não falamos no nosso blogue,por uma questão de princípio (e de pudor e de "higiene mental"...), de futebol, política e religião (, futebol clubístico, política partidária, religião apolegética, entenda-se). 

Mas podemos, concerteza, falar dos nossos camaradas que foram capelães (caso do Arsénio Puim, por exemplo), ou futebolista (como, por exemplo, o Lemos, do FC Porto) ou de alguns políticos que foram nossos contemporâneos  (, como James Pinto Bull, guinense, que foi eleito deputado à Assembleia Nacional em 1969, tendo sido membro da chamada Ala Liberal, que defendeu reformas políticas do regime, e que encontrou a morte na sua própria terra natal).

Mas hoje é dos futebolistas  que queremos falar. Dos futebolistas profissionais, craques da bola dos principais clubes e da seleção nacional... Não terão sido muitos, por certo,  os que fizeram a guerra do ultramar / guerra colonial. Eu, pelo menos, não conheci nenhum...

Um dos casos já aqui falados foi do  Lemos [, António José de Lemos, nascido em  Angola, em  1950],ex-jogador do F.C.Porto, que foi nosso camarada na CART 6552/72 (Cameconde e Cabedú, 1972/74). Ou, mais exatamente, camarada do novo membro da Tabanca Grande, o Manuel Domingos Ribeiro (*). Ao que parece, acabou a
 comissão a jogar no UDIB em Bissau, "não deixando de ter alinhado no mato até à sua transferência", como  garante o Ribeiro. (**)

2. Sobre o Lemos, lê-se no blogue  Estrelas do FCP, este detalhado apontamento biográfico, da autoria de Fernando Moreira (que reproduzimos com a devida vénia e as necessárias adaptações);

António José de Lemos:

 (i) nasceu no dia 2 de Fevereiro de 1950 em Luanda, Angola;

(ii) começou por jogar futebol nos juniores do Clube Ferroviário de Luanda até que em 1966 vem para Portugal;

(iii) ingressou nos juniores do Futebol Clube do Porto até passar a sénior, o que aconteceu em 1968;

(iv) por empréstimo dos portistas, ingressou no Boavista FC onde estve esteve durante duas temporadas,  tendo disputado 25 partidas oficiais e apontado 12 golos;

(v) em 1970/71 regressa ao FC Porto;

(vi) na tarde de 31 de Janeiro de 1971, o nome de Lemos "soou alto e soou longe, pela rádio":  marcou, no Estádio das Antas, os 4 golos da vitória do FC  Porto sobre o SLB; 

(vii) os benfiquistas jamais se esqueceram dele; é que, também na Luz, ainda na época 1970/71, Lemos fez o gosto ao pé e desfeiteou as "águias" por mais duas vezes no empate (2-2) no reduto encarnado;
 
(viii) ele recordou, mais tarde,  com precisão e com orgulho, cada pormenor dessa partida que foi um marco na sua carreira de futebolista:

(...) "No primeiro golo, o falecido Pavão fez-me uma assistência primorosa e só tive de empurrar a bola. O meu segundo golo foi espectacular! Quando ninguém acreditava que chegasse à bola, quase na linha de fundo, desferi um pontapé que surpreendeu o Zé Henriques. No terceiro, o Bené fez um lançamento lateral, apanhei a bola e fiz um chapéu ao guarda-redes. E no quarto, estava com um problema num joelho e o Humberto Coelho não acreditou que eu chegasse a tempo mas ultrapassei-o e toquei a bola à saída do guarda-redes." (...)

(ix)   Nas épocas de 1970/71 e 1971/72 marcou, respectivamente, 18 (melhor marcador da equipa) e 8 golos no Campeonato Nacional;

Em 1973 (decorria a época de 1972/73) Lemos – que não obtivera o estatuto de "Atleta de Alta Competição", imprescindível para o subtrair à guerra do Ultramar – foi mobilizado para Cabo Verde pelo Exército Português....

Mas o inesperado aconteceu: o avião, que transportava Lemos e a sua "Companhia de Operações Especiais" (, leia-se: a CART 6552/72), fez um "desvio" na rota e aterrou em… Bissau (Guiné). 

(...) "E todos aqueles soldados que julgavam ir para uma "guerra" branda no arquipélago das belas mulatas e da romântica morna, lá ficaram naquela que era a colónia portuguesa com a conjuntura militar mais difícil e perigosa. Acresce que, no início do ano de 73, o PAIGC (movimento independentista) incrementara as acções de guerra criando muitas dificuldades às tropas portuguesas que combatia desde Janeiro de 1963. A Guiné estava a 'ferro e fogo' e, talvez por isso, a "Companhia" de Lemos tenha sido desviada para aquele território." (...)

Diz o Fernando Moreira que o Lemos "voltou da Guiné em 1974 ainda a tempo de participar na época de 1974/75, a última que faria pelo FC Porto", (...) teno jofadao" ao lado de grandes futebolistas como Rolando, Custódio Pinto, Nóbrega, Pavão, Bené, António Oliveira, Flávio, Abel, Seninho, Heredia, Rodolfo, Fernando Gomes e o extraordinário Cubillas.  Contudo não logrou qualquer título pois, desafortunadamente para ele, esteve nos últimos anos de um período em que as agruras do futebol passaram pelas Antas. (...) Em quatro temporadas no FC Porto, nos 92 jogos do campeonato em que interveio, marcou 47 golos."

Depois veio a inevitável "curva descendente": Em 1975/76 ingressou no SC Espinho, na temporada seguinte rumou ao USC Paredes, em 1977/78 jogou no AD Sanjoanense, passou na época seguinte pelo Académico de Viseu FC e, entre 1979/80 a 1983/84, defendeu a camisola do FC Infesta...

3. No mesmo blogue, Estrelas do FCP, do Paulo Moreira, de Gondomar,  escreveu o seguinte comentário o Ludgero Lamas, companheiro do Lemos no FC Porto:

(...) Joguei futebol com o Lemos no FC Porto. Devo dizer que o jogo com o Benfica 4-0, foi delirante. O meu Amigo Lemos, ganhou nesse dia, um camião TIR cheio de tintas, electródomesticos, e outros, sendo que um televisor Grundig foi por mim comprado, sendo o dinheiro apurado na venda distribuido por todo o plantel. Uma atitude de grande nobreza. 

Devo referir que na altura não existia o estatuto de alta competição, a menos que fosse só para atletas do Benfica, dado que eram os únicos que não eram mobilizados para as Províncias, pois no nosso clube, ainda tivemos os casos de Séninho, e o falecido Chico Gordo, mobilizados para Angola, onde jogaram, e foram campeões (no Moxico), para onde também fui mobilizado, e posteriormente desmobilizado.

Do Lemos, devo referir a sua semelhança com o alemão Gerd Muller, e que se não chegou mais longe, o mesmo se deve às vicissitudes da vida." (...)

4. Até o circunspecto "Diário de Lisboa", que era veepertino,  perdeu... a cabeça,  dando em título de caixa alta, na 2ª edição de domingo, dia 31 de janeiro de 1971, o resultado do jogo nas Antas,  que foi conhecido como "Lemos, 4 - Benfica, 0", com desenvolvida notícia na 1º página e na página 23. Era então presidente do FC Porto o banqueiro Afonso Pinto de Magalhães.







Citação:
(1971), "Diário de Lisboa", nº 17281, Ano 50, Domingo, 31 de Janeiro de 1971, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_6022 (2021-7-18)


4. A propósito deste tema ("todos iguais mas uns mais iguais do que outros"), num depoimento já aqui em tempos publicado, escreveu o nosso camarada Mário Gaspar (***):
 
(...) "Discute-se um facto, e é a verdade que flui da minha boca, e os filhos dos ricos e poderosos de então – do nosso tempo de guerra, que não é nunca foi uma brincadeira de criança – falo por mim como Miliciano, esses filhos de ricos e poderosos que andaram na Escola da Câmara e mais tarde num Colégio Sousa Martins, em Vila Franca de Xira,  estiveram na Recruta na "minha tropa", mas na Especialidade de Atirador não vi nenhum.

Dei os meus primeiros passos no Serviço Militar no dia 3 de Maio de 1965 no Curso de Sargentos Milicianos (CSM), no RI 5, em Caldas da Rainha.

No mesmo Curso estiveram Rui Rodrigues e Gervásio, entre outros, jogadores da Académica de Coimbra. E Peres, este julgo também ser já jogador do Sporting Clube de Portugal, e o "famoso", "poderoso" de facto, Simões, do Benfica, Campeão Europeu, e que fez parte dos heróis do Futebol na Seleção Portuguesa, terceira classificada no Campeonato do Mundo de Futebol, em 1966.

Este acontecimento se dá quando eu – nunca fui voluntário – tive de "prestar provas para o Curso de Rangers, em Lamego".

Muitos os Milicianos recusaram frequentar o mesmo, ainda fiz parte da Equipa de Natação que representava o RI 14, em Viseu, no Campeonato da Região Militar, na Piscina, em Tomar. O Comandante deste Regimento que chefiava os nadadores era o conhecido também ex-futebolista da Académica de Coimbra, que venceu uma Taça de Portugal, o então Tenente-Coronel Faustino.

Nadei contra "nadadores civis federados", militares que representavam as suas Unidades. Julgo que também esses estavam no grupo dos "poderosos". Continuei por não ser voluntário, e por sorteio da vida, saiu-me ir frequentar o XX Curso de Minas e Armadilhas, na Escola Prática de Engenharia, em Tancos. 

Aí há a excepção, encontra-se o Aspirante Miliciano Oliveira Duarte, outro dos "poderosos". No meu conceito incluo estes que falei, nunca os culpando por estarem no grupo. Oliveira Duarte, jogador já do Sporting Clube de Portugal,  foi vítima de um jogo de "poderosos", estes sim "poderosos e «cunhas»", destes mesmos Militares que se livraram da guerra. 

Oliveira Duarte teve de partir para Angola, mas sendo "poderoso", frequentou o Curso de MA e lá foi para o grupo de futebol, livrou-se da guerra – perdeu, como nós todos, tempo – e nós não só tempo – lembrar que nos ofertavam por estarmos em zonas de guerra.

Ainda outros Desportistas, e não só do Futebol, caiu-lhes na sorte terem frequentado outras Especialidades, e atractivas e não foram à guerra.

Curioso, e é bom lembrar que os Milicianos na Guiné recebiam, julgo que ate fins de 1968 ou 1969 inclusive, menos verba mensal que os dos mesmos postos em Angola e Moçambique. Dizem estarmos mais junto à metrópole.

Estive na frente de um outro grupo que lutou para que o aumento de tempo que consta nas Cadernetas Militares ou Documentos que referissem o mesmo. E esse aumento é de 100%. Considerando que as horas de trabalho normal é de 8 horas, se nos encontrávamos de Serviço 24 horas, seriam 400%. Pois eu nem me contaram os 100%.

Nós somos, neste caso os não poderosos. Senhores com o nome de baptismo Cunha conheço… Mas esses "poderosos cunhas", vi por aí. Até na entrada em alguns "lares" e incluo todos, os "poderosos cunhas" estão presentes.

Quero lembrar um outro grupo que bem podia servir para dar a opinião, desconheço se foi ou não analisado: o caso dos nossos Capitães Milicianos que,  após terem cumprido o Serviço Militar e terem regressado a casa e frequentarem finais de Cursos Académicos,  são chamados e foram Camaradas não só, como nós na Guiné como noutras frentes de guerra. (...) (****=
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Notas do editor:



(***)  Vd. poste de 5 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16564: Inquérito 'on line' (71): Os Filhos dos Ricos e Poderosos, incluindo os jogadores de futebol... (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) 

(****) Último poste da série > 18 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22383: (In)citações (190): Saudando uma decisão amadurecida, de oito anos, a entrada do Manuel Domingos Ribeiro para a Tabanca Grande: é o único representante , até à data, da CART 6552/72 (Cameconde e Cabedú 1972/74)