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sábado, 28 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20506: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (7): edição, revista e aumentada, Letras F, G e H


Guiné > Bissalanca > BA 12 > 1973 > O helicanhão AL III, com a nova configuração de armamento. Créditos fotográficos: Grupo Operacional 1201 (comandamte : ten cor pilav Fernando Jesus Vasquez, hoje ten gen ref).

Foto do AL III 9377 na BA 12 em 1973 que é histórica e tem um certo interesse. Vemos o helicóptero armado com dois ninhos de foguetes SNEB de 37 mm e duas metralhadoras de 7.62 mm, tudo armamento que se usava no T-6G.  Na altura, por indicação do comandante do Grupo Operacional 1201 (ten cor pilav Vasquez) , foi testada esta configuração de armamento no AL III com vista a ser usada no TO, no caso de se verificar novos ataques em força contras os quartéis de fronteira.  O armamento foi testado em primeiro lugar acoplado a uma viatura na carreira de tiro da BA12 para ver se os suportes aguentavam a pressão das armas. Depois foi adaptado ao helicóptero e experimentado nos Bijagós.  Podemos também ver na imagem uma mira no lugar direito do helicóptero, que era a mira do Fiat calibrada para o AL III para pontaria das armas. Esta configuração nunca foi experimentada em combate, mas era uma possibilidade improvisada na BA12, que podia ter tido alguma utilização. 


Foto (e legenda): José Matos (2017) [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






Guiné > Bissau > Bissalanca > BA 12 > Fiat G-91 R4: linha da frente da esquadra 121, "Os Tigres"

Foto (e legenda): © Mário Santos (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional de Cantanhez > Iemberém > 9 de dezembro de 2009 > 15h50 > Macaco fidalgo vermelho (ou fatango, em crioulo). Espécie, nome científico: Procolobus badius. Em inglês, western red colobus. É uma espécie ameaçada, fundamentalmemte devido à caça e à desflorestação.


Foto (e legenda): © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z 

[Em construção, desde 2007]


Letras F / H


1. Continuação da publicação do Pequeno Dicionário da Tabanca Grande (*), de A a Z, em construção desde 2007, com o contributo de todos os amigos e camaradas da Guiné que se sentam aqui à sombra do nosso poilão. Entradas das letras F, G e H:


F 86 Sabre  - Avião a jato, supersónico, que chegou a operar na Guiné, entre 1961 e 1965. Foi retirado por pressão dos norte-americanos. Foi substituído em 1966 pelo Fiat G-91.

Fala mantenha - Partir mantenha, cumprimentar, saudar (crioulo) 

Fanado - Festa da circuncisão, ritual de passagem da puberdade para a vida adulta (crioulo) 

Fanateca - Mulher que pratica a MGF – Mutilação Genital Feminina (crioulo)


FAP - (i) Forças Armadas Portuguesas; (ii) Força Aérea Portuguesa 

FARP - Forças Armadas Revolucionárias do Povo, a elite combatente do PAIGC 


Fatango - Macaco-fidalgo (crioulo). Colobus polykomos é uma espécie de macaco do Velho Mundo, que se pode encontrar, por ex., na floresta do Cantanhez.  

FBP - (i) Fábrica Braço de Prata; (ii) também nome dado a uma pistola metralhadora portuguesa, usada no início da guerra, feita na FBP 

Ferrugem - Serviço de Material; termo depreciativo, para o pessoal não-operacional, ligado ao SM) (gíria)

Festa, festival - Ataque aparatoso, ou flagelação, do PAIGC a aquartelamento ou destacamento das NT (gíria) 


Fiat G-91 - Caça-bombardeiro, com motor turbojato, monomotor monoplano, subsónico, de de fabrico italiano.

Fiju (lê-se: fidju) - Filho (crioulo)

Fiju di tuga - Filho de português (crioulo)(Há uma associação, em Bissau, com este nome)

Filhos do Vento - Filhos de militares portugueses, sem reconhecimento da paternidade nem da nacionalidade  


Firma - Estar, ficar, morar (crioulo)

Firminga - Formiga (crioulo)


FLING - Frente de Libertação e Independência Nacional da Guiné

Floresta-galeria - Floresta que forma um corredor ao longo dos rios e áreas húmidas e se projeta na paisagem, tornando-se esparsa em áreas de savana (por ex., floresta do Cantanhez, mata do Fiofioli)

FNAC - Fundação Nacional dos Apanhados do Clima (, criada em Jolmete, em meados de 1970, pelos graduados da CCaç 2585 do BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto,1969/71) (Vd. poste P8377)

Fogachal - Fogo intenso (em ataque ou emboscada)

Fogo de artifício - Flageações ou ataques, a aquartelamentos ou destacamentos vizinhos, vistos de longe (gíria)

Fornilho - Armadilha com cordão de tropeçar




Forte Apache - Destacamento do Cachil, feito com troncos de palmeira (cibe).

Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > 

Foto falante..., que não precisaria de legenda... Um dos piores lugares do inferno verde e vermelho que foi, para muitos de nós, a Guiné... Foto do álbum do José Colaço (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) (*)

Foto (e legenda): © José Colaço (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Fotocine - Operador de imagem (fotografia e cinema); destacamento

Fur - Furriel

Fur Enf - Furriel Enfermeiro

Fur Mil - Furriel Miliciano

Fuzos - Fuzileiros especiais

FZE - Fuzileiro Especial (Marinha)


G3 - Espingarda Automática G-3

GAC 7 - Grupo de Artilharia de Campanha nº 7 (Bissau) (vd. BA7)

GA 7 - Grupo de Artilharia nº 7 (Bissau)

Gaita à bandoleira (Andar de) - Ter uma doença sexualmente transmissível, em geral blenorragia (ou 'esquentamento') (calão)

GB - Guiné-Bissau

Gen - General

Genti di mato - Turras, população sob controlo do IN (crioulo)

Gês - Força da gravidade (FAP)

Gila (lê-se djila) - Comerciante, vendedor ambulante, contrabandista (que circula pela Guiné e países vizinhos)

GMC - Viatura automóvel pesada, de rodado duplo atrás, de fabrico americano

GMD - Granada de Mão Defensiva

GMO - Granada de Mão Ofensiva


GO - Grupo Operacional (FAP)

Gorro Novo - Metralhadora Pesada Goryounov, Cal 7,62 mm M-943 SG (PAIGC, gíria)

Gosse, gosse - Depressa (vg, retirar no gosse, gosse) (crioulo)

Gouveia - Casa comercial ligada ao grupo CUF

Gr Comb - Grupo de Combate; pelotão

Gr Comb (-) - Grupo de Combate desfalcado

Gr Comb (+) - Grupo de Combate reforçado

Gr M Of - Granada de mão ofensiva

Grã-tabanqueiro - Membro da Tabanca Grande (blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



Heli - Helicóptero

Helicanhão - Helicóptero armado com canhão de 20 mm (vd. Lobo Mau)(FAP)

HK 21 - Metralhadora Ligeira

HM 241 - Hospital Militar nº 241, Bissau

HMP - Hospital Militar Principal (Estrela, Lisboa)

Homem Grande - Chefe de Família (crioulo)



___________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20411: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (6): edição, revista e aumentada, Letras D/E

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16717: Manuscrito(s) (Luís Graça) (101): Comer macacos... só os do nariz!... Ajudemos os guineenses a proteger o "sancu" (macaco) e o "dari" (chimpanzé)...Ficaremos todos mais pobres quando eles se extinguirem... e quando as areias do deserto do Sará chegarem às portas de Bissau!... Ficaremos todos mais pobres, os guineenses, os amigos da Guiné, todos nós, os últimos dos hominídeos..


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Madina > 10 de Dezembro de 2009 > 7h32 > Um "dari" (chimpanzé) descendo uma árvore ... Este grande símio (o mais aparentado, do ponto de vista genético, ao ser humano) é muito difícil de observar e fotografar... Contrariamente a outros primatas que existem no Parque, ainda com relativa abundância como o macaco fidalgo ("fatango", em crioulo).

Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Hoje temos de encorajar os nossos amigos da Guiné e o povo guineense a proteger o "sancu"  e o "dari"


por Luís Graça


Eu já respondi ao inquérito 'on line' desta semana... Tinha de resto a obrigação de ser o primeiro ou um dos primeiros a fazê.lo. E a resposta foi: "1. Nunca comi [macaco]"... ( E se comi, juro que nunca soube...).

Sem ofensa para ninguém, comer babuíno é, para mim, como comer um parente nosso, mesmo que muito afastado... Zoologicamente falando, pertencemos à mesma ordem, a dos Primatas... Temos um antepassado comum, longínquo, que ainda vem do tempo dos dinossauros (, ou seja, de há cerca de 70 milhões de anos)... Claro que os babuínos não são hominídeos... São macacos, nem sequer são símios, nem muito menos hominídeos...

 Mas macaco, infelizmente, é produto "gourmet" em muitas partes do mundo (incluindo a Guiné-Bissau)...

Tanto quanto me lembro e sei, nós - as nossas tropas - não caçávamos babuínos (a não ser muito esporadica ou pontualmente: havia muiras armas naquele tempo, e nem todas estavam em boas mãos...  Eu também não, nunca cacei, não sou nem nunca fui caçador...

Os nossos  soldados fulas, da CCAÇ 12,  também não os caçavam, de resto as ocasiões não eram muitas: a atividade operacional era intensa e eles não tinham tempo para ir à caça. Por outro lado, eles eram crentes e tementes a Alá.

As milícias e os caçadores das tabancas em autodefesa poderiam eventualmente  fazê-lo,  um pouco às escondidas... Também os comiam, nas nossas costas - dizem que com algum sentimento de culpa, sendo muçulmanos. Além disso, os nossos amigos fulas  sabiam que, para os "tugas", carne de macaco era tabu alimentar (tal como o porco, para eles; tabu que procurávamos respeitar quando partilhávamos as nossas rações de combate com eles, embora também houvesse quem gostasse de pregar partidas de mau gosto com os derivados da carne de porco como o chouriço, mas os fulas não se deixavam enganar facilmente).

Nas tabancas fulas por onde passei ou onde estive em reforço ao sistema de autodefesa, vi crianças ou adolescentes com mausers (!) nos campos de cultivo: afugentavam os macacos-cães e às vezes matavam os mais atrevidos, quando eles tentavam invadir (e destruir) os campos de "mancarra" (amendoim)... Não acredito que os enterrassem ou os deixassem para os "jagudis" (abutres)... Em tempo de guerra, a carne era um luxo...

Amigos e camaradas, não façamos apressados juízos de valor, em função dos nossos próprios padrões civilizacionais,  princípios, valores ou pré-conceitos: no passado, os nossos caçadores também matavam, por exemplo, as aves de rapina, para poderem ter coelhos em abundância... E ainda hoje matam, o que é uma vergonha para todos nós, além de crime!

O consumo de carne de macaco era raro ou esporádico, entre os "tugas". Alguns faziam-no por "bravata", por "fanfarronice", por "desfastio", por "tédio" ou simples "provocação": um gajo na guerra tem de provar de tudo, desde que sobreviva;  noutros casos, terá sido  por mera "curiosidade" e ainda, também, por "necessidade" (que é uma coisa fisiológica, elementar,. animal)... Não ignoremos nem escamoteemos o facto de ter havido muito boa gente, do nosso lado,  que passou fominha, fome  mesmo, na Guiné, durante o longo período da  guerra em que estivemos envolvidos, para mal dos nossos pecados...

Enfim, nalgumas situações haveria também o "gosto do petisco" que leva os "tugas" a comerem coisas "esquisitas" (e até "nojentas", para outros)  como os "túbaros de carneiro"  (no Alentejo) ou as "tripas" (à moda do Porto), os "pézinhos de coentrada",  o ensopado de enguias, os passarinhos fritos,  as perninhas de rãs,  os caracóis e as caracoletas, a moreia frita, a sopa de navalheiras,,,, e eu sei lá que mais!

No meu tempo, vi uma vez um macaense, de origem chinesa, nosso camarada (já não posso precisar a subunidade, creio que era já no tempo da CCS / BART 2917,  Bambadinca, 1970/72), preparar e assar na brasa um pequeno babuíno (macaco-cão)... No final, a pequena carcaça (completamente preta) fez-me lembrar os nossos bebés (humanos)... Reconheço que me chocou, apesar do meu "relativismo cultural" e da tolerância que julgo ter em relação a "usos e costumes" que não são  os da "minha tribo"...

Nas diversas tabancas fulas, em autodefesa, por onde andei (em geral, por períodos de duas semanas), nunca me apercebi do consumo de carne de babuíno... Mas havia tantas coisas de que a gente não se apercebia naquela terra e naquela guerra (por exemplo, a mutilação genital feminina, o infantícídio, a feitiçaria, entre os fulas; as negociatas e a corrupção, entre os chefes "tugas")...

A única (e pouca) carne de caça que eu relutantemente comprava (ou que me ofereciam) era de gazela... O estado sanitário da caça era sempre suspeito... A carne, o peixe e os demais produtos frescos deterioravam-se rapidamente com o calor (e as moscas)... "Peixe da bolanha", julgo que comi pouco: sabia a lodo... No destacamento rio Udunduma, apanhávamos peixe, em abundância, com granadas de mão... Já dos lagostins ou camarões gigantes do Rio Geba Estreito eu era fá...

A caça era uma actividade de risco nas tabancas por onde passei, de diferentes regulados: Joladu, a norte do Geba, Corubal, Xime... Implicava sair do relativo "conforto" da  tabanca e internarmo-nos no mato, que era "terra de ninguém"...Por outro lado, a caça já era escassa no meu tempo, devido à guerra: para além de lebres, galinhas e porcos de mato, só me lembro de ver uma gazela a atravessar, como uma bala a bolanha de Ponat Coli no Xime...

Para o Zé Turra, o pobre do macaco-cão era o substituto da vaca... Quem tinha vacas eram sobretudo os fulas. E só as matavam na morte do dono... Nas chamadas "zonas libertadas" era arriscado ter vacas... Entre os apoiantes do PAIGC havia muçulmanos, cristãos e animistas...  Nas tabancas da margem direita do Rio Corubal, de biafadas e balantas,  em tabancas onde só podíamos ir no tempo seco ou em operaçõe com tropas helitransportadas (por ex., mata do Fiofioli),  havia vacas, porcos e galinhas... Contra as mais elementares regras de segurança, diga-se de passagem...

Mas hoje sabemos que os guerrilheiros do PAIGC,  animistas  e não-animistas,  caçavam em larga escala o macaco-cão... Ninguém pode fazer a guerra com a  barriga a dar horas...Por muito frugais que eles fossem (e tinham fama de só comer arroz um avez por dia!), de vez em quando era preciso "macaco-kom" para fazer o "mafé"...

Pobre do "sancu" que foi também uma das vítimas daquela maldita guerra!

Quanto à fauna e flora da Guiné que se tem vindo a  degradar nos últimos 30/40 anos, ou seja, desde que o PAIGC é poder... Nas floresta-galerias do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole e nas matas do Cuor, era relativamente frequente depararmo-nos, no decurso de operações, com bandos de cem e mais babuínos, ruidosos e agressivos perante a invasão do seu território... Eram zonas sem população ou que a guerra tinha despovoado... "Terras de ninguém", ou terras onde a guerrilha do PAIGC se movimentava muito melhor do que nós..

Quem esteve no sector L1 (Bambadinca), connosco, " tropa macaca" - como eu, o Humberto Reis, o Jorge Cabral, o Beja Santos, o Joaquim Mexia Alves, só para citar  alguns "senadores" da Tabanca  Grande ... - nunca mais esquecerá o maldito Mato-Cão onde se fazia segurança às embarcações (civis) que passavam pelo Geba Estreito, entre Xime, Bambadinca e Bafatá... Enfim, mais tarde, por volta do último trimestre de 1971 foi lá construído um destacamento, inaugurado pelo Pel Caç Nat 63...

De um modo geral, pode dizer-se que as populações da Guiné-Bissau, não muçulmanas,  tradicionalmente caçavam e comiam o "sancu". E «as que estavam no "mato" (ou seja, do lado ou sob controlo do PAIGC) deviam recorrer mais vezes à carne de macaco...

Depois de 1980, a caça (ilegal) ao macaco-cão terá aumentado significativamente. E as populações de algumas espécies começam a figurar na lista vermelhas das espécies criticamente em perigo...

Já em relação ao "dari", o chimpanzé das matas do Cantanhez e do Boé (Pan troglodytes verus  cuja população estimada, em 2015, é de 35 mil indivíduos, em toda a África Ocidental, tendo sofrido um brutal decréscimo de c. 6,5% ao ano, entre 1994 e 2014!), parecia todavia haver, tradicionalmente, um maior respeito, por parte da população local, devido  às suas "semelhanças" com o ser humano. Pelo menos, no meu tempo!...

No entanto, o seu habitat , na África Ocidental,  está cada vez mais ameaçado pelas actividades humanas (destruição da floresta, fragmenmtação da mancha florestal, expansão das áreas de cultivo, captura ilegal para o mercado negro, doenças e epidemias, industrialziação, instabilidade política, corrupção, falhanço das políticas de conservação...). Em toda a África ocidental, esta  espécie (uma das três espécies de chimpanzés) vai mesmo desaparecer se falharem as políticas de conservação, se falharmos todos nós... Em boa verdade, não sei se ainda vamos a tempo....MAS TEMOS QUE IR A TEMPO!

Voltando ao babuíno, e às recordações do meu tempo: era difícil precisar o números  de machos adultos, talvez dois ou três, que integravam um bando de 100... Talvez mais (posso estar a ser influenciado pelas minhas leituras posteriores na área da etologia, pela qual me interesso...).

Nunca vi, felizmente, ninguém, à minha frente, matar um babuíno... Em contrapartida, havia crias de babuíno que serviam de mascote nos nossos quartéis... Um triste hábito que era tolerado por todos nós... Naquela época não havia "consciência ecológica", nem se falava de "direitos dos animais"...

Também nunca dei conta da utilização da pele do babuíno para efeitos medicinais, por parte das populações com quem lidei (fulas, mandingas, balantas), quer em Contuboel (junho/julho  de 1969), quer em Bambadinca (julho de 69 / março de 71)...

Passado meio século, e face às dramáticas mudanças  que se estão a operar na Guiné, ao nível  da fauna e da flora, nós, antigos combatentes, temos a obrigação de alertar e encorajarar  a Guiné e o seu povo para a necessidade de proteger o seu património natural, e mais concretamente proteger o "sancu" e o "dari".

Não é admissível que haja restaurantes em Bissau que tenham nas suas ementas a carne do "sancu"...Igualmente inadmissível, é o crime (irreparável) da destruição das sagradas florestas-galeria da Guiné...

Em suma, passemos a mensagem: "Comer macacos... só os do nariz!"...

Ficaremos todos mais pobres quando eles se extinguirem e quando as areias do deserto do Sará chegarem às portas de Bissau!  Ficaremos todos mais pobres, os guineenses, os amigos da Guiné, a humanidade, nós todos, afinal, os  últimos hominídeos, o Homo Sapiens Sapiens... (**)

_____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

29 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13667: In Memoriam (196): Claúdia Sousa (1975-2014), estudiosa do dari (chimpanzé) do Cantanhez, morre aos 39 anos, de doença. O funeral é amanhã, na Figueira da Foz

11 de janeiro de 2009 > Guiné 63774 - P3720: Fauna & flora (2): Os macacos-cães do nosso tempo (Luís Graça / J. Mexia Alves)

8 de março de  2007 > Guiné 63/74 - P1575: A TSF no Cantanhez, com uma equipa de cientistas portugueses, em busca do Dari, o chimpanzé (Luís Graça / José Martins)

(...) 1. Reportagem TSF > Dari, Primata como Nós > 2 de Março de 2007 .

No sul da Guiné-Bissau, o chimpanzé tem nome de gente. Na pista de Dari, uma equipa de cientistas portugueses estuda, há cinco anos, os chimpanzés das matas de Cantanhez com o objectivo de ajudar a salvar uma espécie ameaçada, sobretudo pela redução do seu habitat e pela dificil coexistência com as populações humanas do sul da Guiné-Bissau (e do norte da Guiné-Conacri).

A par do chimpanzé (em tempos, um homem, ferreiro, que Deus transformou, por castigo, em alimária, segundo as lendas locais), há outros primatas e outros mamíferos como o búfalo e até o elefante na mata do Cantanhez. (...)

(**) Último poste da série >  3 de novembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16678: Manuscrito(s) (Luís Graça) (100): O desertor

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16707: Inquérito 'on line' (82): Quem nunca comeu macaco-cão ? Em 35 respostas (provisórias), mais de metade (60%) diz que nunca comeu ... Só 4 dizem que comeram e gostaram... Outros tantos comeram e não gostaram... O prazo para responder termina em 17/11/2016, às 7h32. Cem respostas, no mínimo, precisa-se!


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional de Cantanhez > Iemberém > 9 de dezembro de 2009 > 15h50 > Macaco fidalgo vermelho (ou fatango, em crioulo).  Espécie, nome científico: Procolobus badius. Em inglês, western red colobus. É uma espécie ameaçada, fundamentalmemte devido à caça e à desflorestação. (*)

Por esta altura, havia uma jovem bióloga portuguesa, a fazer o seu doutoramento em Inglaterra, com um estudo sobre os babuínos da Guiné-Bissau.Verificamos com muita satisfação, passados quase 8 anos (!),  que a Maria Joana Ferreira da Silva doutorou-se em 2012 e trabalha agora em Portugal, na CIBIO-InBIO, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos,  Universidade do Porto. Demos lhe em 2009 uma ajudinha para contactos e entrevistas (**),  a par  dos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento, ONG à frente da qual estava o nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014)... O nosso blogue cumpre, também  assim, a sua missão como "fonte de informação e conhecimento"...mas também de tomada de consciência dos problemas ecológicos, globais, regionais e locais,,,

Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 (1972/73) > O "Pifas", mascote da companhia...

Foto: © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Em muitos aquartelamentos das NT, durante a guerra colonial, havia animais destes, em cativeiro... Macaco-cão, macaco-kom, uma espécie que nos era familiar...Nome científico: Papio hamadryas papio.

No mato, era,  para as populações e para os guerrilheiros do PAIGC,  uma das principais fontes de proteína animal. As populações sob o nosso controlo, ou que viviam perto dos nossos aquartelamentos e destacamentos, também os caçavam, mais ou menos furtivamente.  Mas era frequente, quando em operações,  avistarmos bandos de 100 ou mais babuínos em estado selvagem nas matas e florestas do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, em finais  dos anos 60 / princípios dos anos 70...

A sua caça chegou a ser proibida pelas autoridades da Guiné-Bissau logo a seguir à independência... Mas foi sol de pouca dura... Nos últimos 30/40, a população guineense de babuínos tem vindo a decrescer dramaticamente, devido à combinação de diversos factores:

(i) mudanças no território devidas às plantações extensivas de caju,  que ocupavam já no início do séc. XXI mais de 2/3 de toda a terra arável da Guiné-Bissau; (ii) a desflorestação ilegal, devido à procura externa de madeira exótiocas (por ex., pau sangue); (iiii) caça intensiva praticada por grupos de militares como forma de compensação extra-salarial; (iv)  crescente procura da carne de macaco-cão e de outros primatas (macaco-fidalgo, etc.), como produto "gourmet",  pelos restaurantes de Bissau e periferia; (v) o uso da pele do babuíno pelos praticantes da medicina popular tradicional; e., por fim , (vi) o tráfico de juvenis para alimentar o mercado interno de animais de estimação.

Fonte: Adapt. de Maria J. Ferreira da Silva,  Catarina Casanova  & Raquel Godinho - On the western fringe of baboon distribution: mitochondrial D-loop diversity of Guinea Baboons (Papio papio Desmarest, 1820) (Primates: Cercopithecidae) in Coastal Guinea-Bissau, western Africa. "Journal of Threatened Taxa" | www.threatenedtaxa.org | 26 June 2013 | 5(10): 4441–4450

 [Consult em 10 de novembro de 2016]. Disponível em:  http://threatenedtaxa.org/ZooPrintJournal/2013/June/o321626vi134441-4450.pdf



I. INQUÉRITO 'ON LINE': 

"NUNCA COMI MACACO-CÃO (BABUÍNO) NA GUINÉ" (***)

Respostas (preliminares) (n=35), às 23h30 de ontem


1. Nunca comi >  21 (60,0%)

2. Comi e não gostei  > 4 (11,4%)

3. Comi e gostei  > 4 (11,4%)

4. Não tenho a certeza se comi  > 6 (17,2%)

Total  > 35 (100,0%) 


O prazo para resposta ao inquérito termina no dia 17/11/2016, 5ª feira, às 7h32.  Esperamos até lá obter 100 ou mais respostas.



II. Seleção de comentários dos nossos leitores:


(i) Henrique Cerqueira (****)

Eu nunca comi macaco-cão, mas experimentei comer macaco doutra espécie (o mais avermelhado) que pelos vistos era vegetariano [ fatango, em crioulo, macaco fidalgo vermelho, vd. foto acima].

A sua carne depois de cozinhada tinha o aspecto da carne de gazela e sabor idêntico a carne de mato. Não era mau de todo e como a fome de carne era muita até se safava. O pior era quando se via o animal após ter sido chamuscado para queimar o pêlo como se faz ao porco.É que parecia uma criança autêntica.

Mas a minha experiência gastronómica também passou por comer calau ou urubu que os civis chamavam de pato da bolanha. Quando chegavam ao nosso poder já vinham devidamente esfolados e sem alguns apêndices que os identificavam . E assim sendo a fomeca apertava, o paladar não era mau e as cervejas (basucas) empurravam muito bem o repasto.

Outro dos petiscos muito apreciados  eram o porco espinho do mato e o papa formigas.Que em Bissorã apreciam com alguma frequência à venda pelos civis.
Só não experimentei comer cobra e rato do mato porque para mim eram mesmo repugnantes, mas para os meus soldados africanos [, da CCAÇ 13,] era um petisco de tal ordem que,.  mesmo que estivéssemos em missões,  eles quebravam todo o silêncio e entravam numa euforia tal que toda a segurança que tivéssemos montada ficava desde logo comprometida.

Foram experiências interessantes e às vezes até de recurso.

(ii) José Nascimento (****)


Mesmo tendo passado alguma fomimha, nunca comi carne de macaco, mas houve alguns elementos do meu pelotão [, CART 2520, Xime e Quinhamel, 1969/70, ] que comeram, não sei em que condições. 

Pelo Mato de Cão passei por lá uma vez, fiz o percurso entre Bambadinca (atravessei o Geba) e o Enxalé. Deve ter sido em Abril-Maio de 1970. Não vimos vivalma, só tabancas abandonadas.

(iii) José Nunes (****) 


Aquando da montagem eléctrica da Carpintaria Escola de Cumura, comia na Missão de Padres Italianos.

Um dia ao almoço veio para a mesa umas travessas com aves,pois muita alimentação era feita à base de caça, patos,  galinhas do mato... Como não sou amante de aves esperei que viesse algo mais, então surgiu uma travessa com carne,  uns "bifinhos" jeitosos, e o rapaz aviou-se... Ao dar a primeira dentada, pensei, estes "italianos" são mesmo malucos,  temperar a carne com açúcar....

Lá fui mordiscando, quando do topo da mesa o Padre Settimio me diz: "desculpa,  não sei se gosta de macaco ?!"... Já não consegui comer mais...

Depois da independência,  D. Settimio Ferrazzeta veio a ser o 1º  bispo da Guiné. Passei momentos inesquecíveis nesta Missão que na altura abrigava todos os leprosos da Guiné, as "pastas" eram feitas na Missão e como eram deliciosas!


 (iv) Artur Conceição (*****)


(...) Comi macaco em Bissau num restaurante que tinha essa especialidade, e que ficava localizado numa rua em frente aos Correios, para o lado do Forte da Amura, uma ligeira subida do lado esquerdo. 

O nome 'cabrito pé da rocha'  para mim é novidade (...).

(...) Eu comi porque me garantiram que era macaco fidalgo, porque. sem tal garantia, o macaco cão penso que não seria capaz de comer, sendo que uma das razões era exactamente o contacto que tinha com eles, o macaco cão.

Para além de macaco fidalgo confeccionado em restaurante, e que já não posso dizer se gostei ou não, comi também gazela, uma ou duas vezes, javali, várias vezes, águia e raposa uma vez. Cobra... embora digam que é um petisco, penso que era mais fácil comer capim. (...) 

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Notas do editor:


(**) 13 de janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3734: Fauna & flora (8): O estudo do Papio hamadryas papio (Maria Joana Ferreira Silva)

(...) O meu projecto de doutoramento tem três principais objectivos: (i) Determinar o estatuto de conservação dos babuínos da Guiné na Guiné-Bissau. (...); (ii) Investigação de aspectos socio-ecológicos (...); (iii) Investigação da história demográfica passada (...)

(***) Último poste da série > 4 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16684: Inquérito 'on line' (81): a avaliar pelo total de respostas (n=91), só uma minoria (15%) refere a existência de casos de deserção (n=15) na sua unidade (companhia ou equivalente)... Menos de metade do que terá ocorrido na metróple (=34)... Impossível saber se há casos repetidos... A nossa estimativa, grosseira, é de 500 casos de deserção em toda a guerra: 2/3 na metrópole, 1/3 no TO da Guiné

(****) Vd. poste de 10 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16706: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (2) - Experiências gastronómicas (Parte II): Restaurante do Mato Cão: sugestões de canibalismo, bom pão e melhor... macaco cão no forno com batatas!


domingo, 27 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5548: Álbum fotográfico de João Graça (2): O Fatango ou macaco fidalgo (Procolobus badius) do Parque Nacional do Cantanhez


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional de Cantanhez > Iemberém > 9 Dezembro de 2009 > 15h50 > Macaco fidalgo vermelho (ou fatango, em crioulo). Nome científico: Procolobus  badius.

O Parque Nacional do Cantanhez, inaugurado em 19 de Março de 2008, tem um superfície de mais de 100 mil  hectares / 1000 km2 (superior ao nosso Parque Nacional da Peneda-Gerês, que tem 70 mil). No Parque vivem cerca de 40 mil pessoas. As suas potencialidades para o desenvolvimento integrado e sustentado da Guiné-Bissau estão estudadas, nomeadamente do ponto de vista do ecoturismo.

A falta de investigação científica sobre a rica e diversificada fauna do Cantanhez não tem permitido definir e sobretudo aplicar uma eficaz política,  integrada e transfronteiriça,   de conservação e protecção. Prevê-se que no final do 1º trimestre de 2010 já esteve disponível, em livro, o Guia dos Mamíferos do Cantanhez, segundo informação da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau.

A AD tem tido um papel pioneiro na criação e dinamização de EVA - Escolas de Verificação Ambiental (Elemento de contacto: Engª Agr e doutoranda em Educação, a nossa amiga Isabel Levy Ribeiro, portuguesa, esposa do Eng Agr Carlos Schwarz Silva, Pepito). (LG)

Fotos: © João Graça (2009). Direitos reservados. (*)

O fatango, macaco fidalgo vermelho, western red colobus (em inglês). Espécie: Procolobus badius. É uma espécie ameaçada,  fundamentalmemte devido à caça e à desflorestação.

São Mamíferos da ordem dos Primatas, ordem que compreende  o homem, os macacos e os prossímios.  Os primatas são: (i) especialmente arborícolas e omnívoros, (ii) dotados de cérebro grande e diferenciado, (iii) olhos bem desenvolvidos e voltados para a frente, permitindo a visão binocular, e (iv) membros com cinco dedos, o primeiro geralmente oponível aos demais.
 
O Procolobus badius é originário de África. Distribui-se pela África Ocidental (Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Serra Leoa, Libéria...). Habita as florestas húmidas ou florestas-galeria. Na Guiné-Bissau, é uma das várias espécies de primatas existentes no Parque Nacional do Cantanhez (que inclui o dari, o chimpanzé).
 
Vive em grupos de 5 a 100 indivíduos. Cada grupo possui um território de cerca de 35 hectares. Alimenta-se de frutos, folhas, raízes e flores. Mede, em comprimento, entre 47 e 69 cm. A cauda mede entre 50 e 80 cm.  Pesa cerca de 8 quilos. É uma espécie ameaçada, EM PERIGO (EN, Endangered, isto é, considerada como estando a sofrer um risco muito elevado de extinção na natureza), segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) das espécies ameaçadas (versão 3.1, de 2001).
 
Vd. sítios na Net >

The IUCB Red List of Threatened Species >  Procolobus badius (em inglês)
Primate Factsheets > Red Colubus (em inglês)
Animal Diversity Web (em inglês)
ARKive (em inglês) (com excelentes vídeos)
Damisela (em espanhol)
GORP (em inglês)


[Dados recolhidos por L.G.]

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior > 24 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5531: Álbum fotográfico de João Graça (1): Médico em Iemberém por cinco dias

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3747: Fauna & flora (9): Do macaco-cão ao macaco-fidalgo... à mesa (José Nunes / Artur Conceição)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Visita ao Cantanhez dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008) > 2 de Março de 2008 > Os macacos-fidalgos vinham, de manhã, acordar-nos e dar-nos as boas vindas (*)...

Foto: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do José Nunes, com data de 11 do corrente:

Como descrevi no poste sobre a Missão Católica ou missão heróica (**),comi macaco-cão à mesa com os missionários italianos na Missão,não por mero prazer mas por necessidade. O caçador da Missão era um jovem de nome Cabi, os missionários entregavam-lhe uma espingarda de caça e ele saía à caça. Quando regressava tanto podia vir um macaco,como meia dúzia de patos farons,era o que aparecia.

A carne é muito adocicada,como se temperassemos a carne de vaca em vez de sal pormos açucar.
Nas tascas do Pilão e de Bandim era normal ver-se assarem macacos para petiscarem, desde que houvesse água de lisboa sabe!

Sempre me causou muita náusea ver o animal inchar por acção do fogo,muitas vezes era assados tal cpomo eram caçados,e quando espreitei para a panela de bianda que era cozinhada, a primeira coisa que vi foi a cabeça. Fez-me muita náusea,e desde então,nunca mais tive curiosidade de ver.

Para dar comida aos leprosos era necessário recorrer de engenho e tudo era comestível.

Por onde andei vi macacos na ilha de Bissau, ali para os lados de Prabis, na Ponta do Inglés [Xime], e em Bissum-Naga.

Mas parece que eram muito ariscos e não facilmente domesticáveis.

Cordiais Saudaçoes a toda a Tabanca.

José Silvério Nunes
1º Cabo Mec Elect de Centrais
Beng 447
Brá, Bissau, 1968/70

2. Mensagem de Artur Conceição (ex-Sold Trms Inf e Cond Auto, CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembém, 1965/67 ):

Meus caros Luís graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote:

Este será o meu modesto contributo para uma causa tão nobre como é a defesa do nosso “primo” babuíno, em que está empenhada Maria Joana Ferreira da Silva, investigadora portuguesa, a fazer, no Reino Unido, a sua tese de doutoramento sobre o macaco-cão da Guiné,

Quando da minha passagem pela Guiné nos anos de 1965 a 1967, existiam muitos macacos, e de várias espécies.

Insisto: no meu tempo - e com isto quero ressalvar o facto de que a Guerra na Guiné não pode ser tomada como sempre igual, tudo evolui, para não se correr o risco de entrar em contradições inexistentes. A guerra durou 13 anos, e teve várias fases, que eu não me atrevo, por incapacidade, a definir, mas todos sabemos que os militares que passaram pela guerra na Guiné, essa guerra foi muito pior para alguns do que para outros, em função do período em que por lá passaram.

No início da guerra, a fauna era muito mais abundante do que no final da guerra, e não vale a pena inventar as razões, dado que são tão óbvias que todos percebem.
Em relação aos macacos, conheci três espécies diferentes, embora saiba que existem mais para além destas:

(i) O macaquinho sagui, pequenino, engraçado, e que era propriedade de algum militar que os tinha a seu cargo;

(ii) O macaco-cão, o tal babuíno que se procura e que quase todas as unidades militares possuíam como mascote. (Era pertença de todos, embora mais amistosos com alguns, que lhes dedicavam mais atenção);

(iii) E finalmente o macaco-fidalgo, que talvez por ser bastante mais ágil e muito mais barulhento, nunca o vi em cativeiro na Guiné.

Comi macaco em Bissau num restaurante que tinha essa especialidade, e que ficava localizado numa rua em frente aos Correios, para o lado do Forte da Amura, uma ligeira subida do lado esquerdo. O nome cabrito pé da rocha para mim é novidade (***).

Para colocar alguma ordem, eu comi porque me garantiram que era macaco fidalgo, porque. sem tal garantia, o macaco cão penso que não seria capaz de comer, sendo que uma das razões era exactamente o contacto que tinha com eles, o macaco cão.

Para além de macaco fidalgo confeccionado em restaurante, e que já não posso dizer se gostei ou não, comi também gazela, uma ou duas vezes, javali, várias vezes, águia e raposa uma vez. Cobra... embora digam que é um petisco, penso que era mais fácil comer capim.

Utilização de macacos para fins medicinais ou outros nunca me apercebi. Os nativos capturarem macacos para os comer também não me parece, pelo menos na zona dos Fulas onde estive 18 meses.

Macacos cão em grupo também nunca vi, mas macacos fidalgo era frequente aparecerem na estrada que liga Jumbembem a Canjambari, a Oeste de Farim, na região do Oio. Eram grupos constituídos por duas a três dezenas, de pelagem bastante mais escura que o macaco cão, muito ágeis e muito barulhentos, de cauda mais alongada e que pareciam voar de uma árvore para a outra.

A captura do macaco é muito fácil, uma vez que o macaco fecha a mão para apanhar o isco e nunca mais a abre, também há humanos assim…!! Se o orifício for pequeno, a mão não sai e o macaco fica preso.

Uma das grandes virtudes do macaco é ser o grande propagador da semente do cajueiro, uma vez que ele vai roubar as castanhas do cajú e foge, levando-as na boca. Quando tenta trincá-las, a castanha liberta um liquido amargo e ele deita-a fora, dando origem a um novo cajueiro naquele local.

Um abraço do tamanho do Cacheu porque o Cumbijã eu não conheci...

Artur António da Conceição
Damaia - Amadora

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes desta série:

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3734: Fauna & flora (8): O estudo do Papio hamadryas papio (Maria Joana Ferreira Silva)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3733: Fauna & flora (7): Babuínos, chimpanzés, caçadores, militares, pitéus e... turismo científico (Pepito)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3732: Fauna & flora (6): A mensagem da Maria Joana e a resposta do Patrício Ribeiro

12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3727: Fauna & flora (5): Coluna de Macacos Kom dizimada na estrada de Cutia para Mansabá. (Jorge Picado)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3722: Fauna & flora (4): Tudo o que sabemos sobre o macaco-kom (Jorge Teixeira / António Costa)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3721: Fauna & flora (3): Mais histórias de macacos (Henrique Cabral / Luís Faria)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63774 - P3720: Fauna & flora (2): Os macacos-cães do nosso tempo (Luís Graça / J. Mexia Alves)


10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3714: Fauna & flora (1): Pedido de apoio para investigação científica sobre o Macaco-Cão (Maria Joana Silva)

(**) Vd. poste de 13 de Setembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3202: Estórias avulsas (22): Missão Católica ou Missão Heróica? (José Nunes)

(***) Vd. poste de 11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)