Mostrar mensagens com a etiqueta mosquito. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta mosquito. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13775: Inquérito online: Resultados preliminares (n=133): um em cada dois teve o paludismo... Mas só um um terço tomava sempre ou quase sempre a Pirimetamina, comprimido oral, de 25 mg, do Laboratório Militar (LM), como profilaxia... 40% tomava o medicamento e mesmo assim teve o paludismo

Foto; Cortesia de António Tavares (2014)
A.  Resultados preliminares da nossa "sondagem", em linha (n=133),  quando faltam dois dias para encerrar a votação (*):

SONDAGEM:  NO TO DA GUINÉ TIVE O PALUDISMO E TOMAVA O MEDICAMENTO... (Resposta múltipla. Vd. blogue, no canto superior esquerdo)


1. Não me lembro se tive paludismo  > 3 (2%)


2. Não me lembro do medicamento para o paludismo  > 7 (5%) (**)


3. Sim, tive paludismo  > 64 (48%)


4. Não, nunca tive paludismo  > 26 (19%)


5. Não,  nunca tomava o medicamento    > 2 (1%)


6. Sim, tomava sempre (ou quase sempre)  > 45 (33%)


7. Sim, tomava, mas só às vezes  > 26 (19%)


8. Tomava o medicamento e tive o paludismo  > 53 (39%)


9. Tomava o medicamento e nunca tive o paludismo  > 19 (14%)


10. Nunca tomei o medicamento nem nunca tive paludismo  > 9 (6%)


Votos apurados: 133 (até às 6h00 de hoje). Dias que restam para votar: 2




Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande  > 20 de Junho de 2009 >

Nada nos faltou, neste dia, nem o calor da Guiné (em sentido físico e figurado) nem o cheiro (inesquecível) do repelente anti-mosquito, da marca Lion Brand... Não sei quem trouxe a amostra, mas vi várias nas mãos do António Graça de Abreu e do José Casimiro Carvalho... Neste pequeno vídeo ouve-se várias vozes (Luís Graça, Joaquim Mexia Alves e sobretudo Álvaro Basto que conta aqui uma pequena história com um Lion Brand que pegou fogo aos lençóis da cama...).

Vídeo (1' 02''): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados

Mosquito Anopheles gambiae.
Foto: cortesia da Wikipedia

Como prevenção e proteção contra o temível Plasmodium Falciparum (o mais perigoso dos quatro parasitas da malária, e que era  e é endémico na Guiné-Bissau, transmitido pelo mosquito anopheles, foto à direita), usávamos várias medidas quer individuais quer coletivas, como o uso correto de vestuário (sobretudo à noite: roupas largas, calça  e camisa compridas, "à boa maneira colonial"), protetores e repelentes (ainda não havia ou não estavam vulgarizados os aerossois, pelo que usávamos pomadas LM, no mato, horrorosas, mal cheirosas...), rede mosquiteira na cama, portas e janelas fechadas ou protegidas com rede (não havia ar condicionado fora de Bissau!), fumigações, desinfeções, remoção e tratamento do lixo, etc., para além da quimioprofilaxia...

Como se sabe,  apenas as fémeas dos mosquitos se alimentam de sangue... E picam (picavam)  essencialmente durante a noite, e logo nas zonas do corpo mais frequentemente  expostas (face, orelhas, pescoço, braços e pés)... Alguns de nós, não sei porquê, atraíam mais mosquitos (fêmeas) do que outros... Havia  a crença que o álcool (gin tónico, uísque, etc.) era um "bom repelente"... Pobre fígado!... (LG)

________________

Notas do editor.

(*) Vd. poste anterior: 18 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13753: Sondagem: Quem não apanhou o paludismo, que ponha o dedo no ar ?!...

(**) Sobre a Pirimetamina (substância ativa), ver aqui a informação do INFARMED [, folheto aprovado em 13/1/2104]. Segundo alguns camaradas (e nomeadamente o dr Rui Vieira Coelho,  médico), o comprimido, do Laboratório Militar (LM), era tomado duas vezes por semana (às 5ªs e domingos, em Galomaro, em 1972/74), em doses de 25 mg, como quimioprofilaxia do paludismo. (***). Não sabemos durante quantas semanas, mas presume-se que era durante a toda comissão. O medicamento (preventivo) não era (nem é) 100% eficaz.

Sobre a doença, sintomas e tratamento, vd aqui o Manual Merck [Biblioteca médica "on line". Edição de saúde para a família]

(***) Vd,. poste de 16 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13743: Os nossos médicos (80): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (12): Até a Maria Turra dizia que o antipalúdico Pirimetamina, do Laboratório Militar, fazia mal à tusa...


(...) Na Guiné pedia aos operacionais para não se esquecerem de tomar um anti-palúdico do Laboratório Militar, de nome Pirimetamina, ás quintas e domingo, para evitar as crises palúdicas, que por vezes tomavam características graves como o Paludismo Cerebral.

Por vezes sentia-me a pregar aos peixes como Santo António, pois o pessoal achava que se tomassem os comprimidos teriam alterações negativas no seu desempenho sexual. (...)

Nas crises palúdicas o tratamento era feito com Resochina em soro polielectrolítico e aplicação endovenosa e dava sempre uma incapacidade de alguns dias, sobrecarregando os colegas e diminuindo a capacidade operacional do grupo de combate a que pertenciam ou levando á substituição por outro pessoal o que moral e eticamente era reprovável no caso de serem feridos em combate. (...) 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11573: Em Mansoa, nem mezinha má nem picada de mosquito boa... Ou as nossas doenças em tempo de guerra (1): Um mosquiteiro barato para um pira (Magalhães Ribeiro)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 > Abril de 1968 > Fase de construção do aquartelamento (que o PAIGC, através da rádio Libertação, em Conacri, chamava "campo fortificado de Mansambo")... Os alferes milicianos Cardoso e Rodrigues apanham banhos de luar... Mosquitos ? Rede mosquiteira ? Não há... Estamos na época seca...

Legenda do Carlos Marques dos Santos, o primeiro dos Viriatos a chegar ao nosso blogue, tendo depois trazido com ele o Torcato Mendonça: "A propósito!... Sabem onde foi tirada esta foto? Em Mansambo, a céu aberto. Camas de ferro nos fossos que iriam ser o aquartelamento fortificado de Mansambo. Data: Abril de 1968. A foto é do Henrique Cardoso, alferes da CART 2339 e seu comandante. Os 3 Capitães, que comandaram a Companhia anteriormente estiveram sempre doentes !!! Ele assumiu o comando. Era miliciano e responsável. Podes publicar, se quiseres. O Cardoso autorizará. Tenho o seu aval".

Foto: © Henrique Cardoso / Carlos Marques Santos (2005). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Os comentários ao poste P11556 (*), encorajaram-nos a abrir uma nova série sobre um  tema até aqui pouco abordado: a nossa experiência de doença em tempo de guerra...

Eu próprio comentei:

"Amigos e camaradas, ora cá está um bom tema para a gente discorrer, escrever, comentar, acrescentar, melhorar, aumentar, delirar... 

Temos falado pouco, muito pouco, nestes nove anos a blogar, da nossa experiência (pessoal, única mas transmissível...) de doença em tempo de guerra...  Como é que a gente lidava com os esquentamentos, os ataques de paludismo, as lesões cutâneas, as depressões, as diarreias, os problemas musculoesqueléticos... E, mais do que isso, como é que a gente viveu e sobreviveu nos hospitais militares (Bissau, Estrela/Campolide...), aqueles de nós que foram feridos gravemente em combate ou evacuados por doença grave (por ex., hepatite, tuberculose; felizmente ainda não havia o HIV/SIDA)

O meu primeiro ataque do paludismo, em Bambadinca, já no final da época das chuvas ou até mesmo no princípio da época seca (já não posso precisar, talvez no último trimestre de 1969), foi uma experiência brutal para mim... Um pesadelo. A imagem que ainda tenho é a do ciclo (curto) da temperatura do corpo que ia do muito baixo (abaixo dos 36!) ao muito alto (quase a roçar os 42!)... Pensei que morria...Sozinho, no meu quarto (que aliás não era só meu, era de mais 4 ou 5), com o meu amigo 'Pastilhas' (ex-fur mil enf João Carreira Martins, da CCAÇ 12, que se reformou como enfermeiro chefe do Hospital Curry Cabral e é hoje pai de 2 médicos) a vigiar-me de tempos e a medicar-me com doses de cavalo...

Como se tratava o paludismo, na época, não sei... Mas a sensação que tinha, era a de abandono, solidão, desespero... Ora ardia em febre, ora tiritava de frio, entrando em hipotermia... Um dia vou ter que transfiormar esta "descida ao inferno" em posia... Emfim, não sei quantas vezes tive paludismo na Guiné... E cá tive ressacas (ou recidivas, em linguagem médica), como muita malta... Por outro lado, trouxemos o fígado em mau estado, de tanto uísque, água da bolanha, gin tónico, cerveja, tintol, brancol e outras merdas que emborcávamos. (...)

Até ao séc. XIX dizia-se que "em Lisboa nem sangria má nem purga  boa", ou mesmo é dizer que as técnicas terapêuticas da época eram agressivas, invasivas, brutais e ineficazes... Chegava-se a sangrar um doente dez, vinte, trinta vezes... E quanto purgas, bom, "purgai-o e purgai-o e se morrer enterrai-o"... Parafraseando este dichote, podia dizer-se que, no nosso tempo, "em Mansoa, nem mezinha má nem picada de mosquito boa"... Em Mansoa, em Catió, em Cacine, em Bedanda, em Nova lamego, em Bissorã, e por aí fora... havia a crença de que a Guiné não era para brancos...

As principais doenças que afetam hoje a Guiné-Bissau não serão muito diferentes das do passado colonial, com exceção do HIV/SIDA: são o paludismo, a diarreia, as doenças respiratórias agudas, a tuberculose, as doenças sexualmente transmissíveis (incluindo o HIV/SIDA), as parasitoses intestinais, a oncocercose (ou "cegueira dos rios")  e outras endemias tropicais. Estávamos expostos a estas doenças, mas também tínhamos problemas de saúde específicos da nossa "condição militar", devidas à duras de condições de vida e às deficiências da alimentação e do abastecimento de água potável...
Fica aqui dado o mote para a elaboração, remessa  e publicação de postes sobre o paludismo [ou malária] e outras doenças que nos afetaram no TO da Guiné, a sua prevenção, profilaxia, tratamento... Recorde-se que algumas dava direito a evacuação imediata para a Metrópole: estou-me  a lembrar da Hepatite.

O pontapé de saída vai ser dado pelo nosso coeditor, Eduardo Magalhães Ribeiro: fomos recuperar um velho e delicioso texto seu,  da I Série do nosso blogue (**).


2. Um mosquiteiro barato para um pira
por Magalhães Riberio [, foto à esquerda, Mansoa, setembro de 1974]


Uma das características na Guiné é a variação bidiária da sua área total de território seco de 31 800 Km2 — devido à subida das águas do mar, nas marés altas —  para cerca de 28 000 Km2. Isto acontece devido a dois factos: a cota territorial média que é muito baixa e a existência de múltiplos rios.

Por isso, durante a maré baixa, ficam a descoberto, mais ou menos 3 800 km2 de zonas pantanosas que, localmente, se designa por “bolanhas”.

Ora, este é o habitat natural da mosquitada, que por ali prolifera aos milhões e se espalha por todo o lado em busca de alimento. Um dos seus “pratos” favoritos é o sangue humano.

Durante a Guerra do Ultramar as vítimas preferidas por estes parasitas incomodativos e asquerosos, eram sem dúvida os incautos periquitos ou piras (nome dado pelos tropa mais velha aos recém-chegados à Guiné).

Dizia a sabedoria destes velhinhos — talvez com alguma razão —  que os mosquitos eram atraídos, pelo tom de pele branquinha e/ou pelo sangue fresco e puro dos periquitos. E, acrescentavam mais:
— Do nosso sangue, envenenado e apanhado pelo clima como está, os mosquitos até fogem!.

Acredite-se ou não nesta teoria, a verdade, é que de cada vez que um pira se expunha à fúria daquela praga com asas,  ficava completamente crivado das picadelas.

Estas picadas,  além de dolorosas e irritantes,  eram temidas porque através delas se transmite ao ser humano, o paludismo, uma doença muito debilitante fisicamente e, consequentemente, muito perigosa.

Em Mansoa, quando entrei pela primeira vez na camarata verifiquei que nas cabeceiras das camas todos tinham, de maior ou menor tamanho, ventoínhas, e adaptadas nas armações das camas encontravam-se estruturas de tubos e verguinhas metálicas, com cerca de 0,75 metros de altura, todas revestidas até ao chão com redes de malha muito fininha.

O velhinho e meu grande amigo Furriel Ranger Marques, com a sua calma e longa experiência de vinte e muitos meses,  deu-me, então, uma lição sobre “Como dormir sem zumbidos nem picadas dos mosquitos na Guiné”, assim:

1º) Não se faz mal às osguinhas e salamandras que deslizam ali no tecto — estavam lá três de vários tamanhos —,   apesar do seu aspecto repelente elas são nossas amigas, e ajudam-nos a eliminar os mosquitos que, à noite, abundam e atacam muito mais, comendo-os;

2º ) O "aparelho de ar condicionado" está com problemas de falta de ar e foi para consertar para o continente há onze anos, pelo que, para dormir fresquinho só com as janelas todas abertas; mas em contrapartida os mosquitos entram e picam-te durante toda a noite;

3º ) Evitas os mosquitos e as respectivas picadelas, fechando todas as janelas e frinchas, mas ficas sujeito a morrer aqui abafado;

4º ) Pedes para ir a Bissau, compras o material (verguinha de aço, e rede ou tule) e constróis um mosquiteiro;

5º ) Como estou para ir embora, podes fazer como eu fiz quando cá cheguei, compras a um de nós o mosquiteiro e só pagas o material, com desconto e tudo; olha, o meu está bem conservado !?... Novo custou 570$00, mas devido ao uso e tal, vendo-to por 350$00.

Os mosquitos continuavam à minha volta a comer-me vivo! Que fazia [um gajo]  no meu lugar?...

Eu também fiz! Comprei logo!

RANGER Magalhães Ribeiro
Fur Mil
CCS/BCAÇ 4612/74
Guiné, Mansoa, 1974
____________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 12 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11556: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (3): Era do caraças o paludismo

(...) Comentário de José Brás:
Não me lembro exactamente quantas crises de paludismo sofri na Guiné nem de quantas recaí já civil. Lembro-me que a primeira me aterrou em febre/frio e dores de cabeça.  Na altura, deitado no meu catre que ficava no último edifício na parte mais alta do quartel de Aldeia Formosa, comecei a ouvir uns soldados a abrir latões de gasolina para chapas à porrada de martelo e o barulho rebentava-me a cabeça. A custo vim à porta pedir-lhes que fossem fazer aquilo para outro lugar e responderam-me que eram ordens superiores. Pouco me importavam tais ordens e avisei que não aguentava aquilo. Pararam um pouco, voltei à cama e ouvi recomeçarem. De novo me levantei, peguei na G3, meti um carregador e fui à porta pedir de novo mas já de canhota na mão. Disseram-me que seria melhor ir falar com o Alf PG e eu já nem pensei mais, culatra atrás e bala na câmara, um tiro pró ar. 'Tá bem, chamem lá o PG'... Foram embora e o PG veio ao meu quarto e percebeu tudo. Recaí duas vezes,  dramaticamente, já a voar na TAP, uma no hotel no Algarve e outra em Nova Iorque, assustando ingleses e americanos, mas isso fica, talvez, para uma próxima.  (...)

 (**) Vd. I Série, poste de 7 de dezembro de 2005 >  Guiné 63/74 - CCCXLVI [346]: Cancioneiro de Mansoa (3): um mosquiteiro barato para um pira... [Magalhães Ribeiro] 

domingo, 21 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4558: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (4): Até nem faltou o Lion Brand, o repelente antimosquito... (Luís Graça)

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Da esquerda para a direita, três camaradas do Norte: o Ribeiro Agostinho (Matosinhos) (*), o José Carlos Neves (Leça da Palmeira / Matosinhos) (**) e, por fim, o Fernando Oliveira (Porto) (***)


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Nada nos faltou, neste dia, nem o calor da Guiné (em sentido físico e figurado) nem o cheiro (inesquecível) do repelente anti-mosquito Lion Brand... Não sei quem trouxe a amostra, mas vi várias nas mãos do António Graça de Abreu e do José Casimiro Carvalho... Neste pequeno vídeo ouve-se várias vozes (Luís Graça, J.Mexia Alves e sobretudo Álvaro Basto que conta aqui uma pequena história com um Lion Brand que pegou fogo aos lençóis da cama...).

E a propósito do Lion Brand, reproduzo aqui um excerto de um poste (****) do Fernando Oliveira, ex-Fur Mil Rec Inf, Guidage e Mansoa, 1968/70, e que esteve presente no nosso encontro com a sua Maria Manuela:

(...) Após a aterragem no campo de aviação de Farim e feitas as habituais diligências de apresentação ao respectivo comando, foi-me dito que a coluna militar para Guidage sairia apenas na manhã do dia seguinte.

Nessa noite, se me recordo bem, fiquei instalado num barracão ou num hangar junto do aeródromo. E pela primeira vez tomei contacto com a realidade dos mosquitos na Guiné, que atacam em força e de qualquer jeito. Como no sítio não havia mosquiteiros, a alternativa foi a utilização do Lion (1) durante toda a noite (...).

(...) (1) Aquele nome era a marca de um produto, de cor verde, formatado em tiras finas e em espiral, que se colocava em cima de uma pequena base metálica. Queimando-se a ponta exterior da espiral, então, o produto ardia lentamente e deixava o ar impregnado de um odor que afugentava os mosquitos (...).


Vídeo (1' 02''), foto e legendas: Luís Graça (2009). Direitos reservados

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4098: Tabanca Grande (129): Manuel José Ribeiro Agostinho, ex-Sold Radiotelefonista, Condutor Auto e Escriturário, QG/Bissau, 1968/70

(**) Vd. poste de 11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4322: Tabanca Grande (138): José Carlos Neves, ex-Soldado Radiotelegrafista do STM, Cufar, 1974

(***) Vd. poste de 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4214: Tabanca Grande (135): Fernando Oliveira, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné, 1968/70)

(****) Vd. poste de 29 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4265: Estórias avulsas (32): De que me lembro é dos mosquitos e do Lion-Brand (Fernando Oliveira)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3569: Ao chegar à Guiné ainda pensei em safaris, leões, elefantes...(António Matos)

O bicho mais feroz que vi na Guiné foi, sem sombra de dúvida, um ovovivíparo, munido de probóscide ou tromba (mas não era elefante, que por sinal não é ovovivíparo) que lhe serve para a alimentação, esta à base de sangue dos vertebrados, pertencente à família dos culicidae, da ordem dos diptera e sub-ordem dos nematocera, cuja fêmea, também chamada de trompeteiro, pertence à classe dos insectos - o mosquito!

Dotado de um espírito conflituoso, ataca branco ou preto, homem ou mulher, adulto ou criança, de maneira indiscriminada.
Quando apanhava sangue fresco de periquito, enchia o papo dum néctar dos deuses, deixando a vítima a coçar-se desesperadamente, mas à medida que a comissão se prolongava no tempo, não raras eram as vezes em que caíam de bêbados depois de emborcarem o que nos corria nas veias, onde os glóbulos vermelhos tinham sido apaladados por doses extra de taninos ....

Um dos entreténs era deixá-los pousar nos braços, cravarem fundo o ferrão, deixá-los encher a pança e depois, ZÁS! Uma valente palmada que os esborrachava. Eram verdadeiras vítimas de autêntica roleta russa! E a quantidade de sangue desperdiçado era fantástica!
Coitados, que pena tenho deles....
Quando, por vezes, me empoleirava na arquitectura sofisticada que sustentava uma arejada latrina a céu aberto, tinha ocasião de, enquanto mirava lá para baixo e tentava fazer pontaria acertando naquele ou naqueloutro ponto de referência, detectar pequenas cobritas que me pareciam inofensivas ao pé do mosquito.

No destacamento de Augusto Barros
, tive uma gazela que mais tarde, e na ausência de uma comissão de protecção dos animais, foi transformada em deliciosos bifes e substituída por um ganso fêmea.
Esta tinha como função pôr 2 ou 3 ovos por dia e à noite funcionava como detector de amigos do alheio.
Foi uma altura de suculentos pequenos almoços com monstruosos ovos estrelados, com elevados índices de colesterol, mas isso agora não interessa nada.

Ao chegar à Guiné ainda pensei em safaris, com leões, chimpanzés, elefantes, rinocerontes, mas nada!
Tínhamos mosquitos e já nos podíamos dar por satisfeitos!
Uma vez ou outra, eram reforçados por uns primos afastados de seu nome abelhas mas que se dedicavam mais a operações especiais.
Os mosquitos eram mais tropa fandanga...





Levei dentada de criar bicho, fui evacuado várias vezes tal a dimensão dos hematomas mas não cheguei a ter paludismo!

Aliás, felizmente, não estive nunca doente à excepção do agravar duma duodenite que já levava de cá mas que um tratamento no hospital militar em Bissau, em regime de taskforce à base de whisky, resolveu em três tempos.



António Matos
__________

Notas de vb:

1. António Matos foi Alf Mil da CCaç 2790.

2. Artigo do Autor em

2 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3555: Navio "Carvalho Araújo". (António Matos)