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domingo, 24 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23456: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (93): (i) A 7.ª Companhia Móvel de Polícia atuava também fora de Bissau? (ii) Onde se situava, em Bissau, a sede ou o aquartelamento principal da PSP? (Alberto Helder)

 
A PSP acaba de comemorar 155 anos de
existência.  A sua origem remonta a 2/7/1867, em que
foi criada a Polícia Cívica de Lisboa e do Porto,
Esteve também presente nos teatros de operações da
guerra do ultramar através das 
Companhias Móveis de Polícia (CMP), entre 1960 
e 1974. No TO da Guiné, havia a 7ª CMP, 
sediada em Bissau

1. Mensagem de Alberto Helder, autor do blogue "Alberto Helder":

Data - domingo, 26/06/2022, 16:31

Assunto - Estado da Índia: 466 anos de história | Solicitação: 
a Companhia Móvel de Polícia da Guiné

Ilustre e Nobre Amigo
Luís Graça.

Boa tarde!
Espero que esteja bem assim 
como os seus familiares e amigos.
 Por cá, felizmente já estamos 
libertos do vírus da moda.

Com os melhores cumprimentos dou conta que acabei de publicar ontem no meu blog, o último episódio da série “Estado da Índia-466 anos de história”, cuja tarefa foi iniciada em 27 de setembro de 2021, e, para efeitos 
de divulgação, coloco-a à sua disposição, se assim o entender.

Entretanto, vou iniciar as correspondentes pesquisas para avançar com o novo projeto, complexo, enorme e histórico, intitulado: “As Companhias Móveis de Polícia no Ultramar”, as quais foram mobilizadas para Angola (9), Moçambique (3) e Guiné-Bissau (1) e que foram envolvidos mais de 7.500 agentes policiais, tendo ocorrido, infelizmente, cerca de 60 óbitos e atribuídas perto de 50 Medalhas de Cruz de Guerra.

É sobre este tema que solicito, por favor, que me esclareça o seguinte: dado que os elementos das unidades policiais que estiveram em Angola e Moçambique fizeram os seus serviços não só nas Capitais de Distrito, nas suas Esquadras, como em postos policiais sediados noutras localidades e em muitos outros lugarejos, onde tiveram baixas em combate, nas operações que faziam em conjunto com o Exército, já os agentes que estiveram na Guiné (7.ª Companhia Móvel de Polícia), e segundo as suas Ordens de Serviço, os locais das suas patrulhas eram nas: 
  • Instalações da Sacor,
  • Central Elétrica,
  • Mãe d’Água, 
  • Palácio do Governo, 
  • Emissor de Radiodifusão, 
  • CTT, 
  • Armazéns de arroz, 
  • Mercado Municipal, 
  • Banco Nacional Ultramarino (BNU), 
  • Tribunal Judicial, 
  • Aeroporto, 
  • Junta Autónoma dos Portos, 
estruturas situadas, penso, na cidade de Bissau. 

E nos arredores? Como em Bafatá, Bór e Ilha das Galinhas, haviam postos policiais? Ou noutras localidades? Os agentes da Guiné-Bissau participavam nas operações militares com o Exército? (*)

Peço, pois, o especial favor de me facultar as suas preciosas informações, assim como indicar onde se situava o aquartelamento principal da Polícia de Segurança Pública (PSP) em Bissau. (**)

Muito e muito obrigado pela sua importante e valiosa informação.

Saudações de apreço, consideração e respeito.
Alberto Helder
 

2. Comentário do nosso editor LG:

Obrigado, Alberto Helder pelo contacto. Pedimos desculpa pelo atraso na resposta. E damos-lhe os parabéns pelos trabalhos que tem publicado.  

Temos, infelizmente, pouca informação sobre a 7.ª Companhia Móvel de Polícia (temos apenas 3 referências à 7.ª CMP, e outras tantas à PSP), a sua orgânica, a sua área de atuação, o seu historial, etc. 

Pessoalmente não me lembro de ver, fora de Bissau, uma farda da PSP. E em Bissau, via-se o polícia sinaleiro e pouco mais. Não sei onde era a sede da PSP, em todo o caso não seria longe do Pilão (**).

 Fora de Bissau, a nível das circunscrições e postos administrativos, havia a polícia administrativa, constituída por elementos locais (vulgo "cipaios").  Mas julgamos que muitas das suas funções acabaram, com o tempo,  por ser assumidas pelo exército e/ou pelas milícias. E, se calhar em Bissau, pelas próprias Companhias de Polícia Militar.

Nos livros da CECA (Comissão de Estudo para as Campanhas de África), e no que diz respeito à Guiné,  há escassas referências à 7.ª CMP (***), onde em novembro de 1973 haveria problemas de recrutamento de elementos europeus e de enquadramento. O COMBIS (Comando de Agrupamento de Bissau) é reforçado com a Companhia de Milícias Urbana (sic), subunidade de que sabemos muito pouco ou nada.

Na Ilha das Galinhas, onde havia uma "colónia penal e agrícola" (transformada em prisão política com a guerra) não sabemos se os guardas prisionais pertenciam à PSP.  O mais provável é que pertencessem à  PIDE.  Era, pelo menos, a polícia política que transportava os presos. O nosso camarada  José António Viegas foi fur mil do Pel Caç Nat 54, Guiné, 1966/68, tendo integrado a guarnição militar da  ilha das Galinhas. É a mais pessoa mais indicada para esclarecer este ponto (****). 

Sobre Bafatá, há que ter em conta que passou a concelho em 1964 e a cidade em 1970. Tirando Bissau e depois Bafatá, não havia cidades  no antigo território da Guiné portuguesa, contrariamente a Angola e Moçambique.  Não me lembro, no meu tempo (1969/71),  de  ver em Bafatá elementos da PSP ou da 7.ª CMP,  Em Bolama, antiga capital, também não devia haver. A Bor nunca fui.

Espero que nossos leitores possam ajudá-lo melhor do que eu. Esperemos pelos seus contributos. Boa saúde, bom trabalho. LG

3. Em comentário a este poste,  o José Manuel Cancela (que vive em Penafiel) acaba de nos informar, às 10h51 de hoje,  o seguinte:
 
Pelo que recordo, a Companhia Móvel de Polícia estava aquartelada à saìda do Alto de Crim.

Fui lá várias vezes almoçar, porque era mais barato que o restaurante quase em frente, o "Arquinho", e melhor que o rancho geral no Depósito de Adidos. Pelo que me foi dito pelos militares da PSP,  faziam rondas em volta de Bissau de G-3 na mão, e pouco mais...
__________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 28 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23305: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (93): Projecto “Querido Pai”, que tem como objectivo investigar e dar a conhecer o modo como os militares mobilizados em África mantiveram uma relação com os filhos que ficaram na Metrópole (Joana Ponte e Ana Vargas)

(**) Vd. poste de 26 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9101: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (7): Um acidente... no Pilão

(...) E aí fomos os dois andando em busca de lugares conhecidos com o A.T., caminhando de pernas abertas, e deixando um rasto de merda... E os dois, às gargalhadas. Lá chegámos ao pé do quartel da PSP onde entrei para chamar um táxi para o levar para o hospital militar onde recebeu um banho de antibióticos e mais não sei quantos medicamentos.

O resto deste acidente: o taxista que chegou quando viu o estado em que estava o A. T., disse logo:
- Não senhor, não entra no carro, nunca mais tiro esse cheiro do assento!

Por sua vez, os cabrões da PSP não deixaram o A. T. usar os seus chuveiros. Lá consegui uma mangeira da PSP. O A.T. despiu-se e eu de mangeira na mão a dar-lhe um duche como se estivesse a lavar um cavalo (...)


(...) b. Forças Amigas

A PSP tem tido o encargo da defesa dos pontos sensíveis referidos. Porém, a partir de Novembro de 1973, os guardas europeus da 7ª CMP - Companhia Móvel de Polícia são, na sua quase totalidade, soldados no cumprimento do serviço militar obrigatório, com pouca idade, experiência e prática de serviço.

Este facto, aliado à fraca capacidade de enquadramento, tornam impossível à PSP continuar a garantir satisfatoriamente a segurança e defesa de todos os pontos sensíveis.

c. Reforços e cedências

(1) Reforços

O COMBIS passa a ser reforçado com a Companhia de Milícias Urbana. (...)

(****) Vd. poste de 16 de março de  2015 > Guiné 63/74 - P14374: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (27): Ainda sobre o cantor José Carlos Schwarz (Bissau, 1949 - Havana, 1977) e a letra da canção "Djiu di Galinha" [, Ilha das Galinhas] (Helena Pinto Janeiro, historiadora)

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17856: (De) Caras (96): os três antigos bravos comandantes de pelotão da Companhia de Milícias nº 17, de apelido Camará, o Quebá, o Sitafá e o Bacai, recordados no memorial aos mortos da CART 1525, Bissorã, 1966/67 (Rogério Freire / Adrião Mateus)


Foto nº 1 B


Foto nº 1 A



Foto nº 1 

Guiné > Região do Óio > Bissorã > CART 1525 > Galeria de Fotos >   "Os três Comandantes dos Pelotões de Milícia de Bissorã: Bacai Camará,  alferes de 2ª Linha Quebá Camará e Sitafá Camará  [, junto a armamento capturado ao inimigo em 3 de fevereiro de 1967 em Conjogude]


Foto (e legenda) : © Adrião Mateus  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].(Cortesia do sítio da CART 1525 > Galeria de Fotos, de que é administrador o nosso grã-tabanqueiro Rogério Freire)



1. Comentário do nosso camarada Rogério Freire (ex-alf mil, MA, CART 1525, "Os Falcõe", Bissorã, 1966/67) ao poste P17853 (*):

(...) O Quebá e o Citafá Camará eram comandantes de pelotão da milícia. Eram irmãos e ambos foram promovidos a alferes [de 2ª linha] durante a nossa Comissão. O Quebá veio com um prémio a Portugal.

O Quebá foi ferido com gravidade em combate por duas vezes durante a nossa comissão: a primeira em 5 de dezembro de 1966 na Operação Bissilão, ao Biambi; e e na segunda vez em 9 de junho de 1967 na Operação Bizarma, ao Tiligi.

Foram dois heróis a quem entregávamos as nossas vidas quando íamos para o mato ...e foram muitos milhares de portugueses que, ao longo do tempo em que eles estiveram ao serviço das NT, a eles se entregavam durante a noite pelas bolanhas fora a caminho do objetivo.

Triste ... Triste mesmo é que eu li no Diário de Notícias uns meses depois da saída das NT da Guiné (1974 ou 1975) que, tanto o Quebá como o Citafá, tinham sido fuzilados pelo PAIGC ... abandonados à sua sorte pela forma infeliz com que a descolonização foi efectuada.

Caro amigo ... sugiro uma visita ao nosso Historial (não sei se haverá outros documentos tão completos disponíveis na Internet) publicado no nosso site em www.cart1525.com. Lá encontrarás muita informação. Páginas 109/110 nº 4 - Valorização das Forças Nativas.

Quanto ao [José] Ramos ...

Pág. 35/36 do Historial: 7. Operação FURÃO II, QUERÉ, 21MAI66

RESULTADOS 
Memorial da CART 1525,
em Bissorã (*)

- Foram feitos 10 mortos confirmados ao IN, entre os quais se conta um natural de São Tomé, José Ramos, responsável pela base de BANCOLENE, o qual foi trazido para Bissorã. (...) (**)

2. Informação adicional que encontramos na legenda da foto nº 0015, do Adrião Mateus (ex-fur mil mec auto), publicada em CART 1525 > Galeria de Fotos:


(...) "Os 3 Comandantes dos Pelotões de Milícia de Bissorã: Bacai Camará,  alferes de 2ª Linha Quebá Camará e Sitafá Camará.

"Os dois últimos foram premiados com o prémio 'Governador da Guiné' por terem prestado serviços de extraordinária valia às nossas tropas, com exceptional valor e coragem com brilhantes actuações em combate, reveladores da sua alta determinação e patriotismo. Foram condecorados e vieram a Portugal em inícios de 1968 conhecer a capital da que consideravam a sua Pátria.

"Depois do 25 de Abril estes valorosos militares portugueses que consideravam Portugal a sua Pátria foram abandonados pelo governo português e foram assassinados pelas tropas do PAIGC, durante a governação do Presidente da Guiné Bissau Luís Cabral, sem qualquer julgamento ou meio de defesa, perante um pelotão de fuzilamento Cremos que os seus restos mortais foram depositados numa vala comum em Mansoa". (..)


3. Excerto do Historial da CART 1525, pág. 109/110 (com a devia vénia):

(...) VALORIZAÇÃO DAS FORÇAS  NATIVAS

(...) Aquando da nossa chegada a esta vila, viemos encontrar dois pelotões da Companhia de Milícia nº 17 e uma Companhia de Polícia Administrativa, constituída a 4 pelotões. A actividade destas forças era bem diversa e, assim, enquanto que a Milícia era empenhada em operações, encabeçando as colunas, à Polícia Administrativa era atribuído um papel secundário, saindo para o mato apenas integrada em colunas-auto, para colaborar nas picagens de estrada.

Dependia a Milícia da CCAÇ 1419, para todos os efeitos, ao passo que a Polícia Administrativa, como o nome indica, disciplinar e administrativamente estava subordinada à Administração, podendo contudo dispor-se dela operacionalmente, sempre que as circunstâncias o exigissem. Assim, desde a chegada da nossa CART até cerca do 10º mês de comissão, altura em que a CCAÇ  1419 foi para Mansabá, apenas podia haver um conhecimento relativo da verdadeira situação dessas forças nativas e das dificuldades ou problemas que poderiam ter.

Passou então o comando militar de Bissorã para a CART 1525 e, consequentemente, a dependência das referidas forças. A constituição das mesmas não foi alterada, não só por que vinha do antecedente, mas também porque, salvo algumas e poucas excepções, se provou que estava correcta. A Milícia continuou assim com Quebá Camará, no comando do pelotão nº 157 e Bacai Camará comandando o nº 158, estando a cargo de Citafá Camará e Landim Camará as funções de guias e informadores da NT.

(...) Mas, à medida que o tempo foi decorrendo, começaram a surgir outros problemas, da mais variada ordem. Estes, uma vez apresentados ao Comandante da CART 1525, mereceram sempre a melhor atenção e respeito, tentando dar-lhe a devida solução, dentro das suas possibilidades.

Os guias Citafá Camará e Landim Camará acusavam o peso dos anos e não podiam manter o mesmo ritmo em que até aí tinham sido utilizados e a Milícia, a começar nos seus comandantes, não tinha ainda visto premiado o seu valor, quer individual, quer colectivamente.

As numerosas operações que se seguiram reforçaram mais profundamente, no Comandante da CART [1525], o real mérito que as forças nativas possuíam e do qual já se tinha algum conhecimento. Com base nos relatórios dessas operaçõe surgiram as primeiras citações e o primeiro objectivo foi conseguido,  a promoção a alferes de 2ª linha de Quebá Camará e de Citafá Camará, na realidade, dentre todos, os mais merecedores, por tantos e tão relevantes serviços prestados. 

Estas duas promoções, que há muito haviam sido prometidas, mas sem que efectivamente se concretizassem, causaram natural júbilo, não só aos galardoados, mas também aos seus subordinados e à maioria da população nativa que muito os estima. 

Posteriormente foi ainda proposto, também para ser promovido a alferes de 2ª linha, o outro comandante de pelotão de Milícia, Bacai Camará. Seguiram-se propostas de Cruzes de Guerra para dois comandantes de secção de Milícia, Bacar Camará e Bajeba Jana e para o comandante de pelotão de Polícia Administrativa, Pedro Sambajuma. A culminar foram ainda propostas para o Prémio do Governador da Guiné,  deslocação à Metrópole os já referidos Quebá Camará e Citafá Camará.

 (...) Não foram, contudo, descurados outros problemas que se nos apresentavam, pelo que surgiram bastantes oportunidades de se ajudarem os elementos das forças nativas, conseguindo-se coberturas de zinco para as casas de alguns deles, emprestando-lhes dinheiro e arranjando-lhes alguns géneros alimentícios, nas alturas mais difíceis. Os processos para a concessão de subsídios aos feridos e incapacitados seguiram o seu curso normal, aguardando apenas o deferimento superior e aos mortos a nossa homenagem foi prestada com a inscrição do seu nome no monumento de reconhecimento a Bissorã, por nós erigido.

Quando se abandonou Bissorã e para mostrar o nosso incontestável reconhecimento e apreço pelas forças da Milícia local, foi por nós elaborada [uma] proposta de louvor que, mais tarde, veio a ser considerada pelos Comandos Superiores" (...)
____________



(**)  Último poste da série > 15 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17770: (De) Caras (97): O AVC na primeira pessoa e o processo de recuperação e reintegração (José Saúde)