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segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23627: (In)citações (220): Homenageando os bravos do Batalhão de Comandos da Guiné (Raul Folques, em 15/4/2010, na sessão de lançamento do livro do Amadu Djaló, "Comando, Guineense, Português")

 

Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, 2010, ). Intervenção do cor inf 'comando' na situação de reforma ef Raúl Folques (n. 1939, em Vila Real de Santo António).

Vídeo (8' 43''): © Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes (conta do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné) (*)


1. Raúl Folques, com o posto de major, e de acordo com a nota biográfica da Wikipédia,  foi o último comandante do Batalhão de Comandos da Guiné, antes do 25 de Abril de 1974, mais exactamente entre 28 de Julho de 1973 e 30 de Abril de 1974, tendo sido antecedido pelo major Almeida Bruno (2 de Novembro de 1972 a 27 de Julho de 1973), e imediatamente seguido pelo Cap Matos Gomes (1 de Maio a 12 de Junho de 1974).  

 Estes três oficiais, juntamente com o cap pára António Ramos, foram os únicos europeus a participar, com os militares do Batalhão de Comandos da Guiné (a três companhias, a 1ª, a 2ª e 3ª CCms Africanos), e o Grupo Especial do Marcelino da Mata, na célebre Op Ametista Real, de assalto à base do PAIGC em Cumbamori, no Senegal, em 19 de Maio de 1973, e cujo sucesso permitiu aliviar a pressão sobre Guidaje. Nessa dramática operação, o major Folques foi ferido. Os números oficiosos apontam para 9 mortes, 11 feridos graves e 23 ligeiros, do ladfo das NT.(**)

O Amadu Djaló, no seu livro de memórias, deixou-nos  um testemunho de grande intensidade dramática, sobre esta operação, e nomeadamente sobre a retirada dos comandos africanos até Guidaje e depois até Bigene, já aqui publicado no nosso blogue. (***)

Merece ser recordada aqui a intervenção do cor inf 'comando' ref Raúl Folques por ocasião do lançamento do livro do nosso saudoso Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), num vibrante cerimónia realizada há mais de 12 anos no Museu Militar, em Lisboa, 15 de abril de 2010. (*)

Cnco anos depois o Raúl Folques seria condecorado com o  Colar de Grande Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada (****)., 

Na altura, o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, no Regimento de Comandos, na Carregueira,  disse, a seu respeito o seguinte

(...) "O Coronel Folques é um algarvio de Vila Real de Santo António, que deixou o liceu aos 13 anos para vir frequentar o 3.º ano do Colégio Militar, aí permanecendo até ingressar na Academia, onde concluiu, em 1961, o Curso de Infantaria.

Fez parte dos militares que estiveram na origem e integraram as primeiras forças “Comando”, unidades de elite do Exército adaptadas à natureza e às exigências do ambiente operacional de África.

Nas quatro comissões que cumpriu, três em Angola e uma na Guiné, demonstrou ser um Soldado de exceção, exemplo maior de coragem, sangue-frio e serena energia debaixo de fogo. Um líder que todos estimavam e admiravam. 

 (...) Condecorado por feitos extraordinários em campanha, dando provas de elevada coragem física e grandeza moral, o Coronel Folques é um homem de bem, de carácter impoluto e altamente prestigiado entre os seus pares. Serviu Portugal com distinção, total desprendimento e a simplicidade dos grandes.
Militares,

(...) Manifestamos hoje o nosso reconhecimento a um Oficial de excecional craveira cujo exemplo deverá constituir fonte de inspiração para as gerações futuras, porque a Pátria em que nos revemos foi e será sempre determinada pelo querer, pela dedicação e pela coragem dos Portugueses.

Como Presidente da República, associo-me com todo o gosto a esta homenagem a quem, como o Coronel Raúl Miguel Socorro Folques, pautou a sua vida pelo culto da Pátria, da honra e do dever. É este homem e este militar que o Comandante Supremo das Forças Armadas distingue com a mais alta condecoração do Estado, a da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. (...)"

2. O Raúl Folques tem 20 referências no nosso blogue. Não integra a nossa Tabanca Grande embora o seu amigo e camarada Virgínio Briote já o tenha convidado. O convite continua de pé. A sua presença, sob o nosso poilão, honrar-nos-ia a todos.  É membro da Magnífica Tabanca da Linha.

Recordamos aqui hoje a sua intervenção na festa do Amadu Djaló, em vídeo que voltamos a reproduzir, e que os nossos camaradas que chegaram mais tarde ao blogue, não tiveram oportunidade de ver e ouvir.  

É uma homenagem ao Amadu Djaló e aos demais bravos comandos do Batalhão de Comandos da Guiné, alguns dos quais tiveram um  miserável destino às mãos dos seus cobardes algozes, ao tempo do regime de Luís Cabral. (*****)

_________


(**) Vd. poste de 18 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23364: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (5): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte IV: Op Ametista Real, de 17 a 21 mai73, destruição da base de Cumbamori, no Senegal


(*****) Último poste da série > 13 de setembro de  2022 > Guiné 61/74 - P23614: (In)citações (219): Reflexão (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

domingo, 11 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15237: (In)citações (77): Cor inf 'comando' Raul Folques condecorado com Colar de Grande Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, em cerimónia no Regimento de Comandos (Carregueira), no passado dia 9 (Virgínio Briote)


Sintra > Carregueira > Quartel do Regimento de Comandos > 9 de outubro de 2015 >  O cor inf cmd Raul Folques, condecorado pelo Presidente da República com a Ordem Militar da Torre e Espada  (1)


Sintra > Carregueira > Quartel do Regimento de Comandos > 9 de outubro de 2015 > O cor inf cmd Raul Folques, condecorado pelo Presidente da República com a Ordem Militar da Torre e Espada  (2)



1. Mensagem do nosso coeditor Virgínio Briote [, ex-alf mil comando, Brá, 1965/67]:

Data: 10 de outubro de 2015 às 14:15

Assunto: Cerimónia no Regimento de Comandos (Carregueira)

Olá,  Luís,

Estive lá no meio de cerca de cinco centenas de espectadores, para aí, [ no Regimento de Comandos, quartel da Carregueira, dia 9 do corrente].

Estiveram presentes numerosos camaradas e amigos do cor inf cmd Raul Folques. Para além das entidades oficiais, CEME e CEMFA entre outras, vi os generais Ramalho Eanes, Rocha Vieira, Almeida Bruno, Garcia dos Santos, Pinto Ramalho, coronéis Matos Gomes, Manuel Bernardo, Roberto Durão, Vítor Caldeira (um dos meus camaradas nos Cmds da Guiné), Rui Rodrigues (um dos mais importantes operacionais do 25 de abril: veio de Mafra tomar conta do aeroporto e foi a Monsanto, horas depois, transportar várias entidades militares ligadas ao anterior regime para a Pontinha).

Destacaram-se entre os presentes um razoável número de antigos comandos africanos que fizeram questão de serem fotografados com o seu antigo comandante de BCmdsAfr.

Foi uma cerimónia simples, bem ao gosto do cor cmd Raul Folques, ele também um homem simples, dedicado aos seus homens, que lhe retribuíram estando presentes e que se sentiram condecorados quando o seu antigo camarada e comandante recebia o grau Oficial, com Palma, da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

Gostei de lá ter estado e de ter abraçado antigos camaradas que já não via há tempos. Não tirei fotos. No Facebook do Paulo Pedro [https://www.facebook.com/paulo.pedro.129] estão cerca de 300 fotos de excelente qualidade que, estou certo, não levantará objecções na utilização, desde que a fonte seja citada, claro.

Um abraço e bom fim de semana.
VBriote

PS1 - Há fotos e um vídeo (11' 46'') desta cerimónia militar na página oficial da Presidência da República.

Eis a notícia que consta na página do PR:

O Presidente da República condecorou com o grau Oficial, com Palma, da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, o Coronel de Infantaria “Comando" Raúl Miguel Socorro Folques.

A cerimónia de condecoração decorreu no Regimento de Comandos, na Carregueira, em cuja parada estavam formadas companhias do Colégio Militar, da Academia Militar e militares dos “Comandos”, e à qual assistiram cidadãos civis e militares agraciados com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

O Ministro da Defesa Nacional, o Presidente da Câmara Municipal de Sintra, os Chefes do Estado-Maior General das Forças Armadas e do Estado-Maior do Exército, Marinha e Força Aérea, bem como outras altas entidades civis e militares estiveram presentes na cerimónia.

Antes da imposição das insígnias ao condecorado, o Presidente Aníbal Cavaco Silva proferiu uma intervenção
. (...)
PS2 -  Luís, para fazer um resumo da actividade militar do cor Folques necessito de alguns dias, Luís. [Raúl Folques é algarvio, natural de Vila Real de Santo António, de onde saiu aos 13 anos para frequentar o 3.º ano do Colégio Militar... Faz quatro comissões, três em Angola e uma na Guiné, onde foi ferido em combate... Outras funções que desempenhou: comandante do Regimento de Comandos, professor do Instituto de Altos Estudos Militares e Chefe do Estado-Maior do Governo Militar de Lisboa].


Lisboa > 2009 > Da esquerda para a direita, o coronel inf 'comando' ref Raul Folques e o ten general 'comando' ref Almeida Bruno (os dois primeiros comandantes do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné) e o saudoso grã-tabanqueiro Amadu Jaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015).

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

quarta-feira, 13 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25268: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Lançamento do livro em 2010 - Parte II: vídeo (8' 43'') da intervenção do cor 'cmd' ref Raul Folques

Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) > Raul Folques e Rui A. Ferreira (Sá da Bandeira / Lubango, 1943- Viseu, 2022)


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) > Intervenção do cor 'comd' ref, Raul Folques

Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) > O nosso editor, Luís Graça,  à esquerda, gravando em vídeo a intervenção do cor 'comd' ref, Raul Folques

Foos (e legendas): © Virgínio Briote (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) > Em primeioro plano, oss nossos camaradas, membros do nosso blogue, João Parreira (de costas) e Mário Dias, ex-comandos do CTIG (1964/64),contempporâneos do Amadu Djalõ; em segundo plano, entre os dois,   comandante Alpoim Calvão  (1937-2014).

 Foto (e legenda): © Luís Graça  (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Lisboa >  Museu Militar >  15 de Abril de 2010 >  Lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010). Intervenção do cor  'cmd' Raúl Folques,  cmdt do Batalhão de Comandos da Guiné  entre 28jul73 e 30abri74. 

 Vídeo (8' 43''): © Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes (conta do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


 


Capa do livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) 




O autor por volta de meados de 1966.


1.  O lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il.) foi um acontecimento cultural, social e militar, juntando mo Museu Militar alguns conhecidas personalidades e sobretudo muitos amigos e camaradas, incluindo guineenses, e membros da nossa Tabanca Grande (alguns, infelizmente, já falecidos: o JERO (José Eduardo Oliveira), o Coutinho e Lima, o José Manuel Matos Dinis, o Rui A. Ferreira...

Estamos  recordar alguns dos melhores momentos desse evento, a que o nosso blogue dedicou, na altura,  nada mais mais nada menos do que cinco postes, e nomeadamente as intervenções dos três oradores: deppois do jornalista, escritor e analista político Nuno Rogeiro (*), segue-se o cor 'cmd' Raul Folques, que foi cmdt do Amadu Djaló, em 1973, no Batalhão de Comandos da Guiné. Infelizmenete não temos o texto em formato doc, apenas em vídeo.


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 >  Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) >

 Um guineense, Bamba, antigo dirigente do partido Resistência da Guiné-Bissau / Movimento Bafatá, e antigo ministro da Saúde Pública (Partido criado em 1986 como Movimento Bafatá, na sequência da execução de antigos dirigentes do PAIGC como Carlos Correia e Viriato Pã; nas primeiras eleições multipartidárias, realizadas em 1994, o RGB-MB conquistou 19 dos 100 lugares da Assembleia Nacional; em 1999, tornou-se o 2º maior partido da Guiné-Bissau com 29 lugares dos 102 lugares da Assembleia Nacional). Na altura, em 2010, devia viver em Lisboa. ~

Na foto, Bamba cumprimenta a Giselda, ladeada pela Alice e pelo Miguel Pessoa.  O Bamba era amigo pessoal do Agostinho Gaspar, nosso tabanqueiro e membro da Tabanca do Centro.


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010  >Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) >  Os nosos 'tabanqueiros' Alberto Branquinho e o Coutinho e Lima (1936-2022),  




Lisboa >  Museu Militar > 15 de Abril de 2010 >   Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) >O Rui Alexandrino Ferreira,  ten cor inf ref, ex-cap mil da CCAÇ 18 (1970/72), membro do nosso blogue, veio expressamente de Viseu, para assistir ao lançameno do livro do Amadú. Em contrapartida, teve a agradável surpresa de encontrar ali, por acaso, o Manuel Gonçalves, ex-alf mil mec Auto da  CCS / BCAÇ 3852,   do batalhão  que estava então sediado em Aldeia Formosa (1971/73). O Manuel Gonçalves, companheiro actual da minha amiga Tuxa, estava em vias de se tornar membro da nossa Tabanca Grande. Um dos soldados do seu pelotão era o Silvério Lobo, membro da nossa Tabanca Grande e da Tabanca de Matosinhos. Os dois já se voltaram a encontrar.

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

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domingo, 18 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6180: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (3): Intervenção do Cor Cmd Ref Raúl Folques

 


 Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril de 2010. Lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, 2010). Intervenção do Cor Comando Ref Raúl Folques.

 Vídeo (8' 43''): © Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes (conta do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)




Raúl Folques, com o posto de major foi o último comandante do Batalhão de Comandos Africanos, antes do 25 de Abril de 1974, mais exactamente entre 28 de Julho de 1973 e 30 de Abril de 1974, tendo sido antecedido pelo major Almeida Bruno  (2 de Novembro de 1972 a 27 de Julho de 1973), e imediatamente seguido pelo Cap Matos Gomes (1 de Maio a 12 de Junho de 1974).  Os dois aparecem aqui na foto, à esquerda, o Matos Gomes, e à direita o Folques.

Foto editada, extraída de Amadu Bailo Djaló  - Guineense, comando, português. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, p., 240 (com a devida vénia...)

Estes três oficiais, juntamente com o cap pára António Ramos, foram os únicos europeus a participar, com os militares do Batalhão de Comandos Africanos, e o Grupo do Marcelino da Mata, na célebre Op Ametista Real, de assalto à base do PAIGC em Cumbamori, no Senegal,  em 19 de Maio de 1973, e cujo sucesso permitiu aliviar a pressão sobre Guidaje. Nessa  dramática operação, o major Folques foi ferido. Os números oficiosos apontam para 9 mortes,  11 feridos graves e 23 ligeiros.

Amadu tem onze páginas (da 248 à 258), de grande intensidade dramática, sobre esta operação, e nomeadamente sobre a retirada dos comandos africanos até Guidaje e depois até Bigene. Cite-se o trecho que começa com a conversa que o Sargento Comando graduado Amadú tem com  o tenenente comando graduado Jamanca , que está ferido [ era o comandante da 1ª CCmds, e será depois fuzilado eplo PAIGC em 1975]:

(...)

- Amadú, anda cá! Mata-me, não deixes o PAIGC levar-me. Mata-me, Amadú, mata-me!
- Tu não ficas, levamos-te de qualquer forma! Não ficas aqui! Descansa um pouco, Jamanca!

Durante esta conversa vi o Alferes Melna, de pé, com dois soldados, um deitado, de frente para eles.
- Melna, de quem é esse corpo ?
- É o Alferes, o Mama Samba Baldé!

Fui para a beira deles. O Melna apontou para uma árvore e perguntou-me se eu sabia de quem era o corpo que estva lá. Não, não sabia, respondi.
- É o corpo do José Vieira,  [sold, 1ª CCmds].

Ouvi o Jamanca chamar-me:
-Vai chamar o Demba.

Dirigi-me para um grupo de soldados e perguntei pelo Demba.
- Já retiraram todos, só estamos nós aqui, respondeu alguém.

Quando transmiti ao Jamanca o que tinha ouvido, ele não queria acreditar. Depois, levantou-se e foi ver com os seus próprios olhos. Não viu nenhum dos seus oficiciais e abanou a cabeça.

No local estávamos 31 militares, três capitães europeus e vinte e oito comandos africanos. Os capitães eram o Folques, o Matos Gomes e o Ramos que era pára-quedista.

O grupo ainda ficou mais reduzido, pouco depois. Quando tentava recuperar o corpo do Alferes Mamassamba, o Melna foi atingido gravemente nas pernas com estilhaços de uma roquetada e os ossos ficaram a ver-se.

(..) De todo o pessoal que partiu, quatrocentos e noventa e tal militares com dois guias de Bigene, estávamos ali vinte e nove, porque um dos soldados do Melna também tinha sido atingido gravemente. Conseguimos abandonar o local, comigo em último lugar, a olhar para trás, de vez em quando, com a imagem, do Melna, que ainda hoje está na minha cabeça. Ele olhava para nós e voltava a cara para o lado de onde faziam fogo contra nós. E ainda consegui ouvir um grito, pareceu-me de contentamento (...). (pp. 252/253).

 Publicam-se mais fotos de camaradas nossos, que se associaram  à festa do Amadu Djaló (*).



Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > O Virgínio Breiote "adiantando serviço" ao Amadú que não teve mãos a medir em matéria de pedidos de autógrafos... A seu lado, inclinado, apenas com a careca visível, o nosso amigo Rui Alexandrinho Ferrera, tratado afdectuosamente como Ruizinho. Recorde-se que foi que o Rui A. Ferreira, nascido em Angola,  cumpriu duas comissões de serviço na Guiné, primeiro como Alf Mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67, e depois  como Cap Mil na CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72.




Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Um guineense, Bamba, antigo dirigente do partido Resistência da Guiné-Bissau / Movimento Bafatá, e antigo ministro da Saúde Pública (Partido criado em 1986 como Movimento Bafatá, na sequência da execução de antigos dirigentes do PAIGC como Carlos Correia e Viriato Pã; nas primeiras eleições multipartidárias, realizadas em 1994, o RGB-MB conquistou 19 dos 100 lugares da Assembleia Nacional. Em 1999, tornou-se o 2º maior partido da Guiné-Bissau com 29 lugares dos 102 lugares da Assembleia Nacional). Julgo que viva actualmente em Lisboa. Dei-me o seu contacto de telemóvel.

Na foto, Bamba cumprimenta a Giselda, ladeada pela Alice e pelo Miguel. O Bamba é amigo pessoal do Agostinho Gaspar, recém entrado para o nosso blogue, membro da Tabanca do Centro.



Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010  > Sessão de autógrafos > Na foto, à esquerda e de perfil o nosso camarada António Santos.


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010  > O Alberyo Branquinho e o Coutinho e Lima, possivelmente à procura de referências a Guileje no livro do Amadú.


Lisboa >  Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > O Rui Silva,  Ten Cor Inf Ref, ex-Cap Mil da CCAÇ 18 (1970/72), membro do nosso blogue, veio expressamente de Viseu, para assistir ao lançameno do livro do Amadú. Em contrapartida, teve a agradável surpresa de encontrar ali, por acaso, o Manuel Gonçalves, ex-Alf Mil Mec Auto da  CCS do batalhão  que estava então sediado em Aldeia Formosa. O Manuel Gonçalves, companheiro actual da minha amiga Tuxa, está em vias de se tornar membro da nossa Tabanca Grande. Um dos soldados do seu pelotão do Manuel Gonlçalves era o Silvério Lobo, membro da nossa Tabanca Grande e da Tabanca de Matosinhos. Os dois já se voltaram a encontrar.

Fotos: © Luís Graça (2010).  Direitos reservados
 
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Nota de L.G.:


sexta-feira, 3 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4638: Um comando africano na Guerra da Guiné. Amadu Bailo Djaló. (V. Briote)

Um comando africano na Guerra da Guiné

Amadu Bailo Djaló


Caros Camaradas

Está na fase final o trabalho a que me propus. Passar para português legível todas as páginas que o Amadu foi escrevendo ao longo dos anos que durou a Guerra.

Não podemos estar à espera de uma obra-prima, nem de um trabalho exaustivo sobre os nossos anos na Guiné. Nem eu tenho arte nem o Amadu conta a sua história assim. Não há ficção, não se trata de um romance.

A maior parte dos textos referem-se a contactos com o PAIGC, a combates com mortos e feridos, de um e outro lado. Amadu escreve sobre saídas em colunas auto, em Dorniers, em helis, de lançamentos e apeamentos, de progressões na mata, de encontros com os nossos INs de então, de trocas de tiros, morteiros, roquetes, de feridos e mortos, de evacuações e abandonos.

E de nomes de localidades, de Bafatá, Bissau, Bolama, Bambadinca, Fá Mandinga, Farim, Cuntima, Guidage, Guileje, Gandembel, Gadamael, Conakry, Gabu, Piche, Mansabá, Canquelifá e de tantas outras. Dos rios Corubal, do Cacheu, do Geba e de outros, de afluentes, margens, tarrafos, poilões, bissilões, mangueiros e cajueiros.

1. Infelizmente o Amadu Djaló trouxe poucas fotos, meia dúzia no máximo.

E é aqui que faço um pedido a todos os Camaradas que têm escrito e enviado imagens desses anos da Guiné para o nosso blogue, de Luís Graça e Camaradas da Guiné. Que disponibilizem fotos com a qualidade possível para, eventualmente, serem inseridas no livro.

Muitos livros que se têm publicado sobre a Guerra que travámos na Guiné trazem fotos, a maioria de fraca qualidade. Não me parece ser boa ideia inserir uma foto de dimensões reduzidas, de fraca resolução. Estou consciente que é um pedido difícil.


Lanço aqui lançado o pedido aos Camaradas que têm fotos, em condições indispensáveis para serem tratadas, para as disponibilizarem com a indicação do local, ano provável e do autor.

2. Para esclarecer dúvidas sobre factos relatados pelo Amadu Djaló continuo a recorrer a testemunhos de camaradas que assistiram ou participaram em alguns desses acontecimentos.
Nos últimos tempos contactei:

o Coronel Raul Folques que, como capitão participou em algumas das operações relatadas pelo Amadu, nomeadamente na "Ametista Real", a Kumbamory, agrupamento de que Amadu fez parte.

Nessa operação, já na retirada, o então Capitão Folques foi atingido por uma bala que lhe atravessou uma perna.

Disse-me que a retirada para Guidage foi penosa, embora com grande ajuda dos seus comandos africanos. Que via forças do PAIGC e de páras senegaleses com apreciável poder de fogo, a aproximarem-se do último grupo em retirada, grupo de que ele e o Amadu faziam parte.

Que pediu apoio aéreo e que, devido à proximidade das forças em combate, mandou lançar granadas de fumo para melhor referenciação.

Que no contacto rádio com o comandante da patrulha, insistiu que o apoio dos Fiats era indispensável para a retirada, e que, face à superioridade numérica e de fogo das forças INs, se o apoio aéreo não se concretizasse acabavam por ficar todos no local.


Relata que Amadu Djaló nunca o abandonou, que se manteve sempre ao seu lado até o ver estendido numa sala a abarrotar de feridos no aquartelamento de Guidage. Lembra-se do cheiro da sala e da assistência prestada por um médico (Trindade? Espírito Santo? Do nome não se lembra ao certo, ficou foi com a ideia que o nome do médico lhe soou a santidade).

Que, acabado de o socorrer, o médico lhe perguntou se queria alguma coisa. Um copo de uísque, respondeu. Era a última coisa que lhe podia dar, foi a resposta que ouviu.
Minutos mais tarde viu entrar na sala o Coronel Correia de Campos, Comandante do COP, com um copo de uísque na mão. E que o uísque não se sentiu bem, preferiu sair logo.


Mais tarde o então Capitão Folques foi promovido a major e nomeado Comandante do Batalhão de Comandos da Guiné, em substituição do Major Almeida Bruno.
Voltou a encontrar-se, ainda em 1973, na zona de Canquelifá com os seus antigos comandos então destacados na CCaç 21, quando fez uma sortida a uma povoação fronteiriça, tentando aliviar a pressão a que as povoações da área estavam sujeitas.


E destaca o papel da referida Companhia, comandada pelo capitão Abdulai Queta Jamanca e da qual o então alferes Amadu Djaló, hoje cabo, fazia parte.

Depois foi a vez de procurar chegar à fala com o General Almeida Bruno, que ainda como capitão foi um dos criadores dos comandos africanos e, como major, o 1º Comandante do Batalhão de Comandos da Guiné.
Interessado em dar todos os esclarecimentos necessários que possam contribuir para elaboração das memórias do Amadu, o General convidou-nos para um encontro.

Estive presente com o Coronel Raul Folques e o Amadu Djaló. Foram horas de uma tarde a ouvir os três antigos comandos, sobre a formação dos comandos africanos, Kumbamory, de episódios que um ou outro já tinham esquecido e que agora, ao recordarem, ainda acrescentam um ou outro pormenor.


- Ah, eras tu que vinhas ao meu lado no regresso a Binta? Eras tu, Amadu? Perguntava o General.
- E a minha conversa com o major pára senegalês! Ele puxou de um cigarro de uma marca que eu apreciava, os Gauloises. Ofereceu-me um, sentámo-nos a fumar e a conversar. Era um tipo simpático. Uma chatice o que lhe aconteceu a seguir. E Morés, Amadu, Morés que tanto sarilho nos deu!




Coronel Raul Folques, General Almeida Bruno e Amadu Bailo Djaló, em 28/06/09. Foto de V. Briote.

Em 2 de Julho o General Almeida Bruno telefonou-me. Tinha precisado apenas de meia dúzia de dias para ler o rascunho das Memórias do Amadu Djaló.
Que o achava um documento único e importante por ter sido escrito por um antigo Camarada Africano.
Nas passagens em que o seu nome aparece mencionado, que se lembrava de algumas, de outras não. E que era importante proceder a uma nota de rodapé: a designação oficial, correspondente à ideia com que foi formado, era Batalhão de Comandos da Guiné e que a designação de Batalhão de Comandos Africanos se popularizou depois e foi com esta última que passou a ser conhecido.

E fotos são precisas, acrescentou. Que não tinha nenhuma, que as que trouxe da Guiné arderam num incêndio que vitimou a sua mãe.

O Comandante Alpoim Calvão é várias vezes citado pelo Amadu e o objectivo do meu contacto pessoal era solicitar-lhe alguns esclarecimentos nomeadamente sobre incursões da 1ª CCmds Africanos a aldeias senegalesas na zona de Pirada e sobre a operação a Conackry.

Em 29 de Junho de 2009, levei o Amadu ao encontro com o Comandante.
Conheci o então 2º Tenente Calvão na Guiné, ainda no início da minha comissão, talvez entre Abril e Junho de 1965. Recordo-me de o ver a conversar com um camarada, penso que era o tenente Saraiva, que estava connosco na esplanada do Hotel Portugal.
Nessa altura, eu fazia parte de uma tetúlia que incluía gente que tinha participado com os fuzileiros do então 2º Tenente em várias operações, particularmente na “Tridente”, em que o DFZ se tinha particularmente feito notar.

Depois das apresentações, o Comandante sentou-se connosco numa grande mesa oval.
- Já sei, Amadu, que tens várias coisas escritas sobre aqueles tempos. Fazes bem, relatar os acontecimentos pelos teus olhos, independentemente dos relatórios oficiais.

Mostrei-lhe duas ou três fotos de 1965, inéditas para ele. Olha o general Schulz, o Maurício Saraiva, ia dizendo enquanto folheava o rascunho das partes em que o seu nome aparece.
O Amadu relembrou-lhe as incursões na zona de Pirada, de que o Comandante mostrou ter ainda bem presente e que ainda acrescentou um ou outro pormenor.

Depois falou-se de Conackry e do muito que já se escreveu sobre o assunto.
Diz ter conhecimento que John McCain publicou em inglês, ainda não traduzida para a nossa língua, uma obra sobre a nossa Marinha na Guerra da Guiné. E que teve recentemente conhecimento de que a op. “Mar Verde” é tratado como um “case-study” numa escola naval norte-americana.
E mais, que, muito recentemente, foi publicada uma brochura sobre as operações navais da nossa Marinha de Guerra, em que a “Mar Verde” é descrita com algum pormenor. E finalmente que, de todas as obras publicadas até à data, a do Luís Marinho lhe parece aproximar-se mais do que pensa ter sido a ida a Conackry.

Relatou factos sobre a retirada, sobre a incrível história do Nanque, que andou de país em país até aparecer em Lisboa. Na altura, Alpoim Calvão era, se ouvi bem, o Comandante da Defesa Marítima quando foi alertado que um tal Nanque, que afirmava ter participado na ida a Conackry, se encontrava em Lisboa.

Não tenho palavras para descrever a colaboração que o Coronel Matos Gomes tem dado. A formação dos cmds em Mansabá (julgo que no tempo do então Capitão Pereira da Costa), nomes de operações, datas, pormenores, e sobretudo, o enquadramento das acções, quais os motivos porque certas ops foram executadas em determinadas áreas, aspectos que faltam nos escritos do Amadu Djaló.

Falou da mata da Coboiana, do local do Irã que encontrou, das acções de fogo em que a 1ª CCmds se envolveu, do momento em que a zona em que um heli se aprestava para uma evacuação foi varrida pelo fogo IN atingindo todos os oficiais da 1ª CCmds.
Nem o heli escapou mas, aos abanões lá conseguiu levantar com os feridos rumo ao HM 241.
Dali para a frente a acção prosseguiu com o sargento mais antigo a comandar e com o então Capitão Matos Gomes, o menos ferido, a supervisionar.

Fico por aqui, não me alargo mais se não acabo de contar o livro todo.

__________

Notas de vb:

artigo relacionado em 16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4359: Tabanca Grande (143): Amadu Bailo Djaló, Alferes Comando Graduado, incorporado no Exército Português em 1962 (Virgínio Briote)

sábado, 18 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23364: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (5): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte IV: Op Ametista Real, de 17 a 21 mai73, destruição da base de Cumbamori, no Senegal


Raúl Folques, com o posto de major foi o último comandante do Batalhão de Comandos Africanos, antes do 25 de Abril de 1974, mais exactamente entre 28 de Julho de 1973 e 30 de Abril de 1974, tendo sido antecedido pelo major Almeida Bruno (2 de Novembro de 1972 a 27 de Julho de 1973), e imediatamente seguido pelo Cap Matos Gomes (1 de Maio a 12 de Junho de 1974). Os dois aparecem aqui na foto, à esquerda, o Matos Gomes, e à direita o Folques.

Foto editada, extraída de Amadu Bailo Djaló - Guineense, comando, português. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, p., 240 (com a devida vénia...)

Estes três oficiais, juntamente com o cap paraquedista António Ramos, foram os únicos europeus a participar, com os militares do Batalhão de Comandos Africanos, e o Grupo do Marcelino da Mata, na célebre Op Ametista Real, de assalto à base do PAIGC em Cumbamori, no Senegal, em 19 de Maio de 1973, e cujo sucesso permitiu aliviar a pressão sobre Guidaje. Nessa dramática operação, o major Folques foi ferido. Os números oficiosos apontam para 9 mortes, 11 feridos graves e 23 ligeiros, entre as nossas força.




Lisboa >  2009 >  Da esquerda para a direita, o cor inf 'comando' ref Raul Folques e o ten gen 'comando' ref Almeida Bruno (os dois primeiros comandantes do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné) e o saudoso grã-tabanqueiro Amadu Jaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015).

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

O Amadu Jaló tem onze páginas (pp. 248-258), no seu livro "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, 2010), de grande intensidade dramática, sobre a Op Ametista Real, e nomeadamente sobre a retirada dos comandos africanos até Guidaje e depois até Bigene, com o Raul Folques ferido e amparado pelos seus soldados.



1. Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G... Daqui a  um ano, em 2023, a "batalha dos 3 G" vai fazer meio centenário...

Será que já está tudo dito, escrito e lido sobre os 3 G ?  Não, ainda há muito coisa para dizer, ler, ouvir e aprender, sobretudo aqueles de nós que não viveram na pele as agruras daqueles longos, trágicos mas também heróicos dias de maio e junho de 1973... Dias que não se podem resumir à contabilidade (seca) das munições gastas ou das baixas de um lado e do outro (e foram muitas, as baixas, as perdas).

Nestes dia que correm de fim de primavera, em que passam 49 anos sobre a Op Amílcar Cabral, em que o PAIGC jogou forte (em termos de meios humanos e materiais mobilizados) contra as posições fronteiriças de Guidaje (no Norte) e Guileje e Gadamael (no Sul), pareceu-nos oportuno repescar alguns postes e comentários que andam por aí perdidos... E publicar novas histórias ou informção de sinpose dos aconteimentos.

Daí esta série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?"...

Felizmente que ainda temos muitos camaradas vivos, que podem falar "de cátedra! sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael... Outros, entretanto, já não estão cá, que "da lei da morte já se foram libertando"... Do lado do PAIGC, por seu turno, é cada vez mais difícil poder-se contar com testemunhos, orais ou escritos, sobre os acontecimentos de então.

Damos continuação à publicação de um excerto da CECA (2015) sobre estes acontecimentos (*).


CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas >

 2. 2. Operação Ametista Real - 17 a 21Mai73


(...) A partir da segunda semana de Maio de 1973 a situação na área de Guidaje foi-se agravando, quer pelas flagelações inimigas ao aquartelamento, quer pelos ataques lN às colunas de reabastecimentos vindas de Farim.

Houve a notícia de movimentações de tropas do PAIGC junto à fronteiran com a República do Senegal e existiram dificuldades em evacuar os feridos em combate devido às limitações de emprego dos meios aéreos.

Estes factos levaram o Cmdt-Chefe a decidir avançar com uma operação de grande alcance para conter as forças do PAIGC que atacavam Guidaje e abrandar a tensão sobre este aquartelamento a fim de possibilitar o reabastecimento da guarnição militar e a evacuação dos feridos.

A missão de executar a operação foi atribuída ao Batalhão de Comandos da Guiné.

Transcreve-se o relatório da operação elaborado pelo Cmdt do BCmds em 25Mai73. Estão omitidos os Anexos A, B, C e D.

Relatório da Operação "Ametista Real"

Realizada de 17 a 21Mai73 na Região de Guidaje - Bigene - Binta. Referência: Folhas da Carta de Guiné: Guidaje - Bigene - Binta. Escala 1/50.000

1 - Situação

a. Forças Inimigas

- O mencionado na ordem de Operações "Ametista Real"

b. Forças Amigas

- COP 3 Bigene; Guidage. | COP 2 Binta | BA 12 6 aviões "G-91", alerta em Bissau.

2 -Missão

Aniquilar ou, no mínimo desarticular os elementos ln na região compreendida ntre Guidaje e Bigene.

3 - Forças Executadas

a. Comando: Cmdt/Oper - Maj Cav, "Comando" João de Almeida Bruno.

b. Composição e Articulação de Forças

- Agr Centauro (3ª CCmds a 6 Gr Cmds) | Comandante Cap Inf"Comando" Raul Folques.

- Agr Bombox (2ª CCmds a 6 Gr Cmds) | Comandante Cap Cav "Comando" Matos Gomes.

- Agr Romeu (1ª CCmds a 6 Gr Cmds + 1 Gr COE) | Comandante Cap Para António Ramos.

c. Meios:  13 CCmds; 2ª CCmds; 3ª CCmds; 1 Gr COE; 4 helis ALL III - TEVS; 2 helis ALL III - armados; 6 aviões G-91 - ATIP e ATAP (alerta em Bissau); 4 aviões DO-27 - DCON.

d. Alterações à Orgânica Regulamentar - Nada.

4 - Planos estabelecidos para a Acção

Foram estabelecidos contactos pessoais com a REPOPER, REPINFO, COAT/BA 12 CMDDEFMAR.

5 - Desenrolar da Acção

Dia 17Mai73:  18h00- Saída de Bissau para Bigene em LDG.

Dia 18Mai73: 23H50 - Saída de Bigene para a base de ataque.

Dia 19Mai73

06h20 - Chegada à base de ataque.

08h20 - Início do bombardeamento da FAP e exploração da zona de objectivos.

09h05 - Estabelecido o primeiro contacto com o lN.

14h10 - Estabelecido o último contacto com o lN. ln estimado em 500/600 elementos armados, com apoio de mort 82 mm, canhões s/recuo e foguetões.

14h30 - Início da progressão para a base de recolha.

18h20 - Chegada a Guidaje.

Dia 20Mai73

08h30 - Saída para Binta.

19h30 - Chegada a Binta.

Dia 21Mai73

07h30 - Saída de Binta para Bissau.

16h00- Chegada a Bissau.

6 - Resultados obtidos

(1) Obtidos pelas NT sobre o lN

a. Baixas causadas ao ln

- Mortos (confirmados) 67.

- A FAP deve ter provocado com os seus bombardeamentos elevadas baixas ao lN que se estimam, dado o facto de o último bigrupo lN referenciado ser de efectivo de cerca de 150 elementos, entre 100 a 150 elementos.

b. Material destruído e capturado:

Material destruído

- Depósito de Material 16

- Paiois (bombardeados pela FAP) 6

- Mort AA (bombardeados pela FAP) 2

- Munições de armas ligeiras 50 mil

- Esp aut Kalashnikov 300

- Pist metr PPSH 112

- Gra mão 560

-Minas A/C  505

- Minas A/P  400

- Metr Lig  Degtyarev 100

- Mort 82 mm 11

- Canhão s/r  14

- LGFog RPG-7 138

- LGFog RPG-2 450

- Gran Canhão s/r  1.100

- Gran mort 60 mm 225

- Gran mort 82 mm 406

- Gran LGFog  RPG-7 54

- Rampas de foguetões 122 mm 21

- Foguetões de 122 mm 53

Estes números são estimados, embora tenha havido o cuidado de, tanto quanto possível, contar o material destruído.

Os paióis destruídos pelos bombardeamentos da FAP devem triplicar o material destruído mas não é possível estimar nem o seu volume nem a sua natureza, embora se pense que seriam na sua grande maioria munições de morteiro e de canhão s/r, dados os violentos rebentamentos que provocaram.

c. Material capturado

- Anexo B

d. Documentos

- Nada

e. Objectivos lN destruídos

A FAP e as FT devem ter destruído quase na totalidade a organização militar lN sediada na Zona. No entanto julga-se que o lN ainda ficou com algumas instalações que não poderam ser
referenciados na altura.

(2) Baixas causadas às NT pelo lN

a. Pessoal

- Anexo C

b. Material

- Anexo A

(3) Baixas sofridas pelas NT por outras causas.

a. Pessoal

- Nada.

b. Material

- Anexo A

(4) Munições consumidas

- Anexo A

7 - Serviços

- Ração de reserva para 4 dias | Água para 4 dias.

8 - Apoios

O COATIBA 12 apoiou a Operação em ATAP e ATIP com aviões G-91

9 - Ensinamentos colhidos

a. Referentes ao lN

- Revelou-se muito forte e organizado, defendendo a todo o custo as suas posições.

- Além de enquadramento cubano (?), foram referenciados 4 elementos da Mauritânia (3 mortos e 1 ferido que veio a morrer posteriormente).

b. Referentes às NT

- Necessidade de armas de apoio (mort 81 mm e canh s/r  5,7 cm).

10 - Diversos

a. Citações

- Anexo D.

ANEXOS

A - Mat das NT extraviado, danificado e consumido.

B - Mat capturado ao lN.

C - Baixas sofridas pelas NT.

D - Citações [... ]"

Execução"

"As forças do batalhão de comandos saíram em 17 de Maio de Bissau numa LDG, apoiadas por duas LFG, e desembarcaram em Ganturé nessa tarde. 

Depois de briefing em Bigene, saíram pelas 23h50 para norte, pela seguinte ordem: agrupamentos Bombox, Centauro e Romeu.

Pelas 05h30 de 19 de Maio, a testa da coluna alcançou o itinerário que apoiava a base de Cumbamori, objectivo principal da operação. O agrupamento Bombox passou para norte da estrada, o agrupamento Centauro ocupou posições a sul e o agrupamento Romeu instalou-se à retaguarda, numa pequena povoação.

Às 08h20 iniciou-se o ataque aéreo com aviões Fiat G-91, que destruíram os paióis da base, tendo as munições explodido durante algum tempo.

Às 09h05, o Agrupamento Bombox executou o assalto inicial, provocando o primeiro contacto com as forças do PAIGC. Estes combates desenrolaram-se até às 14h10, quando o comandante da operação deu ordem para o Agrupamento Centauro apoiar uma ruptura de contacto entre as suas forças e as do PAIGC.

Foi uma operação de grande dificuldade, porque os combatentes de um e de outro lado se encontravam muito próximos. O comandante do Agrupamento Centauro  [Raul Folques]
 ferido, mas conseguiu realizar essa separação [... ]. 

Às 14h30 o batalhão de comandos iniciou o movimento para a base de recolha e às 18h20 os seus primeiros elementos chegaram a Guidaje. 

Em 20 de Maio, o mesmo batalhão saiu de Guidaje para Binta, a pé, deixando ali os seus feridos e os militares que não se encontravam em condições de prosseguir a marcha. Em Binta, embarcou numa LDG de regresso a Bissau".

[Nota: Aniceto e Gomes, Carlos de Matos, "Guerra Colonial" ... pp. 506-507. ]

(Continua)


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo ads Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 313/319. (Com a devida vénia...)

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos e itálicos, pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]

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domingo, 18 de setembro de 2022

Guné 61/74 - P23625: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (12): A Op Ametista Real: o batalhão de comandos em Cumbamori, no Senegal, 19 de maio de 1973 (Amadu Bailo Djaló, alf graduado 'comando', 1940-2015)

Guiné > Brá > 1973 > Cerimónia das promoções dos comandos africanos (pág. 257 da edição em livro)

Guiné > Brá > 1973 > Foto nº 108 > O general Spínola a dirigir-se ao Batalhão de Comandos da Guiné, em Brá. À direita, os majores Almeida Bruno e Raul Folques e atrás, por baixo do emblema dos Comandos, o tenente graduado 'comando' Zacarias Saiegh, de camisa mais clara. Fotos retiradas, com a devida vénia, do livro de Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, pág. 256)

Batalhão de Comandos da Guiné (Brá, 1972/74): guião
 

A Op Ametista Real,  19 de maio de 1973

por Amadu Bailo Djaló (2010, pp. 248-260) (*)

Em homenagem à  memória do nosso camarada Amadu Djaló (nascido em Bafatá, em 1940 e falecido em Lisboa, no Hospital Militar, em 2015, com 74 anos), e com a devida vénia aos seus herdeiros, à Associação de Comandos (que oportunamente, ainda em vida do autor, editou o livro, entretanto há muito esgotado), e com um especial agradecimento ao Virgínio Briote que, na qualidade de "copydesk" e grande amigo do autor, e coeditor jubilado do nosso blogue,  nos facultou o "manuscrito" (em formato pdf), vamos reproduzir aqui o excerto, sem a totalidade das respectivas fotos, relativo à Op Ametista Real, Cumbamori, Senegal, 19 de maio de 1973 (correspondente às pp. 248-260 da edição em livro).  

Este é um valioso (e raro) testemunho, escrito na primeira pessoa do singular sobre uma operação arriscada e temerária, realizada em solo estrangeiro, contra a base do PAIGC em Cumbamori, e que permitiu aliviar a pressão militar sobre Guidaje. Nove militares do Batalhão de Comandos da Guiné morreram na Op Ametista Real. O Amadu Djaló até então 2º sargento graduado 'comando', será depois promovido a alferes, e irá fromar, com o tenente graduado 'comando' Jamanca a CCAÇ 21.


(...) 51. O Batalhão de Comandos[1] em Cumbamori, Senegal

Embarcámos em Bissau, ao início da tarde de 18 de maio de 1973, numa lancha de desembarque, e navegámos durante a tarde e a noite toda até Ganturé[2].

Quando desembarcámos, já passava do meio da tarde, encontrámos soldados conhecidos. Estávamo-nos ainda a cumprimentar, ouvimos um companheiro gritar alto “atenção, ataque!”

Ouvimos as saídas de morteiros 120. Não falando nos estilhaços, só os rebentamentos desorientavam. Cada um procurou um local para se abrigar, mas a flagelação[3] não durou mais de cinco minutos. Para nós, foi um sinal do PAIGC. Acalmámo-nos e rimo-nos um bocado, enquanto comíamos da comida que nos trouxeram.

Mantivemo-nos em Bigene até aproximadamente às 22h00, que tinha sido a hora destinada para nos prepararmos para a saída. Mais ou menos, uma hora depois, começámos a andar rumo ao objectivo para cumprir a missão de atacar e destruir os locais que estavam a servir de base às flagelações a Guidaje[4] e a toda aquela zona, Bigene, Barro, Binta.

O agrupamento onde ia o comandante Almeida Bruno[5] seguia à frente, em direcção à zona de fronteira com o Senegal. Foi uma noite toda a andar, até atingirmos uma estrada alcatroada, paralela à fronteira, de Koldá a Ziguinchor, entre Tanafo e Samine, mais próximo deste. Portanto, bem dentro do Senegal[6].

A certa altura foi-nos ordenado um alto e ali nos mantivemos. Tínhamos sido avisados que a aviação vinha a caminho. Neste intervalo ia a passar uma viatura das obras que andava a carregar material para a estrada.

Como tínhamos recebido ordens para não deixarmos passar nenhuma viatura[7], o Alferes Tomás Camará mandou-a parar. O condutor não quis obedecer ao sinal de stop, mas como viu muitos militares armados parou mesmo. O Major Almeida Bruno abeirou-se dele e disse-lhe que “hoje não há trabalho. Vai avisar o PAIGC de que estamos aqui à espera deles”. Mas o condutor não deve ter ido ter com o PAIGC, arrancou a correr na direcção de Samine.

Nós continuávamos a aguardar a entrada da aviação, que não devia demorar. E poucos minutos depois começámos a ouvir os ruídos dos aviões e, nessa altura, levantámo-nos para nos prepararmos para os ataques aos objectivos, que eram diferentes para cada companhia.

Por volta das 07h00, mais ou menos, começámos a ouvir os rebentamentos das bombas dos aviões, uns atrás dos outros. A seguir, avançámos, formados em bigrupos e lançámo-nos ao ataque.

Lembro-me de ter entrado numa clareira e, depois mais nada, desmaiei. Soube mais tarde que tinha sido atacado na cabeça por um enxame de abelhas. Tiraram-me dali, não sei de onde nem para onde. Dei por mim deitado no chão, a ouvir uma voz, era o capitão Folques a dizer tratem o homem, e eu a pensar no que teria acontecido. Não me lembrava de nada do que se passou, nem me lembrava do local onde estava, nem o que estava ali a fazer. Sentia dores e não via nada, só ouvia as vozes. Minutos depois, recuperei a memória e já me lembrava do que me tinha acontecido na saída e do ataque de abelhas. E eu, a falar para mim, estou deitado no chão, devo estar a morrer.

Perguntei qualquer coisa mas ninguém deu resposta. Levantei-me a custo, comecei a ver, sentia dores na cabeça, na cara, nas mãos. Então, não estou a morrer! Mais animado, procurei a minha arma e as cartucheiras, era um soldado radiotelegrafista do meu grupo que tinha o meu material. Tinha trazido arma, levava a minha arma, assim estava mais tranquilo, tão tranquilo que me preparei para avançar.

Alguns homens de um dos nossos bigrupos, que caminhava na nossa retaguarda, quando nos viram, não estiveram com cerimónias, atiraram-se para o chão e abriram fogo sobre nós. Fizemos o mesmo, respondemos e durante cerca de um minuto o fogo intensificou-se. Não sei porquê, parámos o fogo, os dois lados ao mesmo tempo. Começámos a ouvir gritos “Comandos, Comandos”[8]. Restabelecido o contacto procurámos saber dos feridos. Eles não tinham nenhum e nós também não, por sorte.

Juntámo-nos e continuámos o avanço para o local onde se deveria encontrar o comandante Bruno. Quando chegámos, instalámo-nos e ficámos a aguardar ordens. Havia grupos que ainda não tinham regressado ao local.

Neste espaço de tempo, foi recebida uma mensagem de um grupo a pedir apoio. Tinha sofrido baixas e pedia auxílio para os tirar daquele local. Já íamos a sair e nova mensagem chegou a dizer que já não precisavam. Que o grupo do Marcelino estava a trazer os feridos e os mortos para o local onde estávamos. Entretanto, começámos a preparar as macas para facilitar o transporte. Sabíamos que a retirada ia ser feita na direcção de Guidaje. Não demoraram muito.

Um dos feridos estava a contar-me como tinha sido atingido quando chegou o 1º cabo José Có, que tinha sido meu instrutor na recruta em Bolama.

− Amadu, onde é que estamos?

− Aqui é o Senegal − respondi.

− Então, vou-me embora. Estive ali à frente, ouvi muitos barulhos, de gente a falar e a gritar alto, barulho de gente a cortar ramos das árvores para fazer macas, olha, era tanto barulho que parecia o mercado de Bandim.

Só voltei a ver o José Có em Guidaje. Saí do local onde estavam quatro ou cinco feridos e o corpo de um soldado, para verificar o andamento dos trabalhos das macas e, momentos depois começaram os rebentamentos.

Foi um inferno. Ao primeiro estouro ninguém pensou em mais nada senão em escapar dali. Eu corri para a frente, com sete ou oito soldados, armados de bazucas e RPG, para respondermos ao fogo. Todos dispararam uma vez, outros duas vezes, depois saíram dos locais, porque a posição deles estava denunciada quando fizeram fogo. Sabíamos isso da instrução.

Fiquei muito satisfeito com eles, porque foi com os disparos que fizeram que travámos a contra-ofensiva do PAIGC e dos páras senegaleses[9].

O tenente Jamanca estava à minha esquerda, sentado, com as pernas estendidas, encostado a uma pequena árvore, parecia exausto.

− Então, o que é que se está a passar? − perguntei.

− Amadu, anda cá! Mata-me, não deixes o PAIGC levar-me! Mata-me, Amadu, mata-me!

− Tu não ficas, levámos-te de qualquer forma. Não ficas aqui! Descansa um pouco, Jamanca!


Durante esta conversa vi o Alferes Melna, de pé, com dois soldados, um deitado, de frente para eles.

 −  Melna, de quem é esse corpo?

− É o Alferes, o Mama Samba Baldé!

Fui para a beira deles. O Melna apontou para uma árvore e perguntou-me se eu sabia de quem era o corpo que estava lá. Não, não sabia, respondi.

− É o corpo do José Vieira[10].

Ouvi o Jamanca chamar-me:

 − Vai chamar Demba[11].

Dirigi-me para um grupo de soldados e perguntei pelo Demba.

  −  Já retiraram todos, só estamos nós aqui −  respondeu alguém.

Quando transmiti ao Jamanca o que tinha ouvido, ele não queria acreditar. Depois, levantou-se e foi ver com os seus olhos. Não viu nenhum dos seus oficiais e abanou a cabeça.

No local estávamos 31 militares, três capitães europeus e vinte e oito comandos africanos: um tenente, um alferes, não sei quantos sargentos e praças. Os capitães eram o Folques, o Matos Gomes e o Ramos, que era paaquedista.

O grupo ainda ficou mais reduzido, pouco depois. Quando tentava recuperar o corpo do Alferes Mama Samba, o Melna[12] foi atingido gravemente nas pernas com estilhaços de uma roquetada e os ossos ficaram a ver-se.

O guarda-costas do alferes estava atrás do Melna, mas só o alferes e outro soldado apanharam com os estilhaços. Depois de atingido, o Melna tirou a carteira onde levava o mapa e a bússola do pescoço e pousou a Kalash. Quando estava a tentar ver o estado em que tinha as pernas, toda aquela zona foi varrida por uma série de rajadas.

Tentámos ir lá, arrancá-los, tirá-los dali, uma, duas, três vezes. Não conseguimos. Na terceira tentativa o capitão Folques foi também atingido numa perna, uma bala perfurou-a de um lado a outro. Demos tudo por tudo, mas não conseguimos chegar lá. A força deles era maior, naquele local.

De todo o pessoal que partiu, quatrocentos e noventa e tal militares com dois guias de Bigene, estávamos ali vinte e nove, porque um dos soldados do Melna também tinha sido atingido gravemente. Conseguimos abandonar o local, comigo em último lugar, a olhar para trás, de vez em quando, com a imagem do Melna, que ainda hoje está na minha cabeça. Ele olhava para nós e voltava a cara para o lado de onde faziam fogo contra nós. E ainda consegui ouvir um grito, pareceu-me de contentamento.

Estavam a apanhar o Melna, pensei. "Apanharam Melna", gritava eu alto. Uma dor cá dentro, no coração, é o que ainda hoje sinto quando me vem à memória a imagem dele, a olhar para nós e para o outro lado, o do inimigo.

Mas para trás ficaram mais três ou quatro feridos que o grupo do Marcelino tinha trazido para aquele local. Não sei quem era o comandante deles, só sei que também lá ficaram.

Continuámos a retirar em direcção à nossa fronteira. Não podíamos forçar muito, porque o Jamanca só podia andar com o apoio de alguém e o capitão Folques, com a perna ferida, também tinha muita dificuldade em andar e estávamos ainda longe de Guidage.

Pedimos apoio à aviação, mas recusaram. Disseram que estavam a voar muito alto, que era difícil localizarem-nos. Quando ouvi a resposta do ar, perguntei ao meu soldado, que transportava o morteiro, se ele tinha ainda alguma granada de fumos de morteiro, para a aviação ver onde nós estávamos. O capitão Folques transmitiu para os aviões que íamos lançar uma granada de fumos. Tomei conta do morteiro e fui eu que disparei, para sinalizar o local a partir do qual os aviões já podiam bombardear.

Uma grande bola de fumo, branca, já tinham visto dos aviões, ouvimo-los dizer. A partir deste momento, o Capitão Folques[13] disse "a sueste do fumo, a sul, a sudoeste e a oeste, arrasar tudo, tudo!" ‘

Vimos bem a potência do bombardeamento e sentimo-la também, enquanto continuávamos a retirar lentamente. Do ar, perguntaram se estávamos a ser seguidos, nós respondemos que não. Então, “Pentágono”[14] disse que estavam a ver uma grande coluna na estrada e que iam destruí-la. A partir desta comunicação, não ouvimos nem mais um tiro atrás de nós. E atrás de nós, já não havia mais ninguém nosso.

Essa granada de fumo ajudou-nos muito, talvez tenha sido a nossa salvação. Não me lembro do nome do soldado que acarretou o cunhete de granadas de fumo, mas lembro-me de ele me responder que eram granadas de morteiro de fumo, quando lhe perguntei "granada de quê?"

Esta conversa aconteceu, depois do grupo estar pronto para a saída. Leva uma ou duas, respondi sem muita certeza. Nunca tinha levado granadas dessas de morteiro, de fumo só usávamos granadas de mão, mas como era uma operação fora do território nacional, talvez viesse a ser útil. Quem adivinhava?

Chegámos junto do arame farpado do aquartelamento de Guidage, entre as 18 e as 19h00[15], mortos de sede e de fome. Em Guidaje não havia nada para comer. Nem medicamentos[16].

Fomos avisados de que partíamos no dia seguinte, às 07h00[17], a corta-mato na direcção da estrada Farim a Binta. O programa era sair de Guidaje, em marcha forçada, a corta-mato, pela estrada de Farim a Binta. Ia ser uma grande volta para quem quisesse ir, ninguém era transportado.

Quem cair, caiu. Seja quem for, fica no local. Se não vai aguentar, então é melhor não arriscar. Quem quiser ficar em Guidaje tem que saber que não há comida. E outra coisa mais, para quem quiser ficar aqui: não sabemos quando sairá de cá, nem em que meios o fará, porque a estrada está como um campo de milho, só que não tem milho, tem minas. Já muitas vidas ficaram nesta estrada, a picá-la. E de avião, também não sabemos quando vai haver, porque já foram abatidos 3 ou 4 nesta área! Então, quem quiser ficar, pode ficar, mas têm que ter muita paciência até quando houver possibilidade de os retirar. 

Foram estas as palavras que todos ouviram. O aviso correu depressa, à volta de todo o arame farpado e ficou a noite para cada um pensar na sua vida.

Logo de manhã, ainda antes das 06h00, começámos os preparativos. Viu-se logo quem queria arriscar, quem estava decidido. Agora, não era hora de falar, se ia ou não ia.

Chegada a hora, partimos, decididos, não me lembro de olhar para trás, na direcção da estrada entre Farim e Binta.

O objectivo da etapa era Binta. A certa altura o calor começou a apertar e ainda era de manhã. As baixas começaram a surgir, sem ataques armados, alguns afrouxaram a marcha, um ou outro caiu. Era para aí meio-dia quando o major Almeida Bruno mandou fazer um alto para o pessoal descansar um pouco. Trinta minutos, mais ou menos, depois, recomeçámos a marcha. Falar do calor que fazia, não adianta. Toda a gente da Guiné sabe como é. A marcha forçada estava a ser difícil para alguns colegas, até o guia se foi abaixo.

A partir de um dado momento, o comandante 
[Almeida] Bruno e eu fomos para a frente, eu a abrir a coluna, o nosso major em segundo, o segundo guia era o terceiro homem, sempre a andar sem parar, com a estrada ainda longe. Quando chegámos com o pôr-do-sol[18] ao local que queríamos atingir, ouvi o comandante pedir pelo rádio, na ponte, os cavalos[19] para nos virem buscar.

Quando chegou a primeira viatura, pensei que íamos embarcar. O major disse “Amadu, vamos andando”, chegou a segunda disse o mesmo. Nessa altura, eu disse para mim, “se eu sabia, ficava para trás”. Cada viatura que chegava, o nosso comandante mandava passar para trás de nós, sempre a dizer “Amadu, vamos andando”. Eu estava muito cansado, mesmo muito.

Quando voltou uma viatura sem ninguém ele disse que agora era a nossa vez, que já não havia ninguém para trás. Fomos dos últimos a entrar em Binta. Atrás de nós cerca de quarenta homens arrastavam-se ainda na estrada, foram chegando durante a noite. Alguns colegas nossos tinham voltado para trás para ajudar os atrasados. Aproximavam-se do portão e faziam sinal às sentinelas. Quando chegámos a Binta entrámos logo na LDG.

Na lancha soubemos o que tinha acontecido com dois soldados nossos, que tinham ficado em Bigene e não participaram na operação. Um, do grupo do Marcelino da Mata, não foi porque estava bêbado e o outro, dos Comandos, porque se queixava de fortes dores de cabeça.

O que aconteceu com eles? Quando a lancha se estava a deslocar de Ganturé para nos vir buscar a Binta, ninguém sabe como ou porquê, o soldado do Marcelino, o Abdul Raman disparou o lança-roquetes. O disparo atingiu-o e desapareceu na água[20]. O outro, o Malan Baldé, o das dores de cabeça, que ia ao lado, foi atingido por estilhaços nas duas vistas e ficou cego.

Com todo o pessoal embarcado, iniciámos a navegação de manhã[21]. Todos calados, pensando em nada. Quando chegámos ao Cacheu, horas depois, ainda estávamos em silêncio. Mandaram-nos saltar do barco e aproveitámos para nos abastecermos no mercado do Cacheu. Eu comprei um grande peixe. Depois, destino Bissau.

Chegámos à tarde. Com as viaturas ali, à nossa espera, foi um trabalho pequeno tomar os lugares e rolar para o quartel. Quando chegámos a Brá, fizemos o costume, entregámos as armas e os equipamentos. Disseram-nos para estarmos no quartel no dia seguinte, para conferirmos quem tinha ficado para trás, no território do Senegal, quem tinha sido ferido, quem tinha ficado no nosso território, no Ingoré, em Barro, em Binta, em Farim.

Os números dos desaparecidos não batiam certo[22], iam mudando. Depois do 25 de Abril ainda apareceu um soldado, Aba Coné, um balanta, que tinha sido ferido com o alferes Melna, com os estilhaços da mesma roquetada.

Três dias depois[23] de Cumbamori, o comandante deu-nos uma semana de descanso. No dia combinado, quando cheguei ao quartel a ordenança do comandante Bruno disse-me para eu estar no gabinete dele, às 10 horas.

 − Não sabes por que é que me mandou chamar?

Não sabia, mas disse que tinha mandado chamar mais oito homens e mostrou-me a lista. Eram todos meus amigos.

Chegada a hora, concentrámo-nos no gabinete do major Bruno, ansiosamente à espera, ninguém sabia de quê.

Era para nos comunicar que dois tenentes e seis alferes iam dirigir duas companhias. O tenente Jamanca ia ser o comandante de uma companhia de Fulas. E os alferes eram o Demba Chamo Seca, o Ali Sada Candé, o Braima Baldé[24] e eu, Amadu Bailo Djaló

Para a outra companhia iam três oficiais, o Tomás Camará, o Vicente Pedro da Silva e o João Uloma, o felupe. Dois furriéis, um dos quais o Hélder Pereira[25], da CCaç 18, com vários louvores, iam ser integrados na companhia do Tomás Camará.

Duas companhias comandadas por oficiais dos comandos africanos: a CCaç 20, comandada pelo Tenente Tomás Camará iria para Gadamael Porto. A CCaç 21, uma companhia quase só constituída por militares de etnia fula, comandada pelo Tenente Jamanca, iria ficar sediada em Bambadinca.

Três dias depois, embarcámos para Bolama e, passadas duas semanas, o General Spínola atribuiu aos quadros das duas companhias a Medalha de Lealdade e Mérito[26], em cobre. E poucos dias depois, fomos chamados a Bissau, para sermos graduados: o Tomás Camará em tenente e eu em alferes.

Depois de voltarmos a Bolama, esperava-me novo destino. Bambadinca [a CCAÇ 21]. (**)

[Seleção / revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de edição deste poste: LG. ] 



Lisboa > 2009 > Da esquerda para a direita, o cor inf 'comando' ref Raul Folques e o ten general 'comando' ref Almeida Bruno (1935-2022)  (os dois primeiros comandantes do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné, e ambos Torre e Espada) e o nooso saudoso grã-tabanqueiro Amadu Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015).

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do autor e do editor ("copydesk") Virgínio Briote:

[1] Nota do editor: designação oficial do que veio a ficar conhecido por Batalhão de Comandos Africanos. A unidade foi criada em 1 Abril 1973, tendo a sua organização sido aprovada pelo Ministro do Exército, em despacho de 21 Fevereiro 1973.

[2] Nota do editor: Ganturé, porto no rio Cacheu que servia Bigene onde se encontrava o comando do COP.

[3] Ataque de morteiros e foguetes, disparados do lado de lá da fronteira.

[4] Nota do editor: Guidaje estava praticamente isolada. A guarnição era composta por cerca de duas centenas de homens da CCaç19 e do PelArt24. Junto ao aquartelamento havia uma pequena tabanca. As entradas pelo sul estavam praticamente cortados, com as vias de acesso semeadas de minas.

A própria FAP estava limitada, uma vez que nos primeiros dias de Maio, um T-6 e dois Dornier 27 tinham sido abatidos por mísseis.

Calcula-se em cerca de seiscentos o número de homens que o PAIGC tinha na zona, comandados por Francisco Mendes “Chico Té” e Manuel dos Santos “Manecas”. O PAIGC abastecia-se a partir de uma base em Cumbamori, Senegal.

Segundo o relatório, na tarde de 19 de Maio de 1973, cerca de 450 homens do Batalhão de Comandos da Guiné, divididos em três agrupamentos (efectivos de uma companhia), embarcaram em lanchas da marinha e subiram o Cacheu até Bigene, onde desembarcaram ao final do dia. À meia-noite começaram a deslocar-se para Norte e entraram no Senegal por volta das seis da manha do dia 20.

[5] Nota do editor: a ordem de progressão era o Agrupamento “Bombox”, comandado pelo capitão Matos Gomes, o agrupamento “Centauro” pelo capitão Raul Folques e o agrupamento “Romeu” pelo capitão António Ramos e onde seguia o Major Almeida Bruno. Informação de “Guerra Colonial”, de Aniceto Afonso e C. Matos Gomes.

[6] Nota do editor: na chamada “Grand Route” do Casamance, que estava em construção. As NT tinham os objectivos marcados nas fotografias aéreas referenciados a sul desta estrada em construção.

[7] Nota do editor: passaram autocarros e viaturas da construção civil de uma empresa francesa. Ao agrupamento “Bombox”, quando começou o bombardeamento da aviação, surgiu, num Peugeaut 404, um engenheiro francês, que, de olhos arregalados, se viu rodeado de negros. O Capitão Matos Gomes mandou-o desaparecer. Estava iminente o ataque à base.

[8] Nota do editor: o agrupamento do Capitão Folques tinha ficado a sul da base enquanto o “Bombox” atacou a norte. Por volta do meio-dia o Major Almeida Bruno deu ordem ao “Bombox” para sair do local e mandou avançar o agrupamento “Centauro”, do Capitão Folques, para se intrometer entre o “Bombox” e o PAIGC, numa manobra de ruptura do contacto. Seguiu-se o combate e a confusão. Dois agrupamentos de Comandos Africanos, mais o PAIGC e mais forças do Exército do Senegal, praticamente com fardamento e armas idênticas, todos pretos excepto quatro brancos, engalfinhados aos tiros e quase à bofetada. Daí o grito Comandos para se orientarem. E, como a confusão já era pouca, surgiu o grupo do Marcelino da Mata, que veio aos apitos e aos gritos e a pegar fogo ao capim, onde as NT tinham juntado os foguetões capturados na base de Cumbamori, que, aquecidos pelo incêndio, seguiram como torpedos pela bolanha.

[9] O Exército do Senegal trouxe guerrilheiros do PAIGC em viaturas e apoiou-os contra nós, com canhões sem recuo e auto-metralhadoras. O comandante daquele sector senegalês, um Major chamado Djawara, contactou com o Major Bruno no posto de comando, que o nosso comandante tinha montado numa pequena vila senegalesa, e pediu-lhe para irmos combater para trezentos metros a Sul, onde ele dizia que passava a fronteira, ninguém sabia se passava se não. Já depois de 1974 tive conhecimento que o Presidente do Senegal, Shenghor, disse ao General Spínola em Paris que o tal major tinha sido abatido no decorrer dos combates.

[10] Soldado da 1ª CCmds. Um mês depois de ter acabado a comissão, solicitou a prorrogação. Esta era a 1ª saída depois de reintegrado.

[11] Demba Chamo Seca.

[12] Nota do editor: os corpos do Alferes Melna e os de outros Comandos, foram recuperados pelas NT e trazidos para Guidage, onde se encontram enterrados.

[13] Tínhamos no ar o Capitão Baptista da Silva, numa Dornier a fazer PCV.

[14] Indicativo da patrulha aérea.

[15] Nota do editor: de 19 Maio 1973.

[16] Guidaje estava cercada, não era reabastecida há algum tempo. Os feridos acumulavam-se num abrigo, com as feridas a gangrenarem. Cheirava a carne podre, a sangue coalhado e o ar parecia de um jazigo. Foi nesse abrigo que o nosso Capitão Folques e os outros Comandos feridos ficaram a aguardar as evacuações. Nem ligaduras havia.

[17] Nós tínhamos que sair rapidamente de Guidaje. Com os efectivos do Batalhão de Comandos, o número de militares deveria andar perto de seiscentos homens dentro do aquartelamento. O que podia ser um desastre para nós se a povoação fosse atacada, que era o que esperávamos. Não havia tempo para recuperar. O comandante decidiu seguir a corta-mato na direcção de Binta. Soubemos mais tarde que ainda pensou seguirmos directamente ao Cufeu, para atacarmos uma base de lançamento de Strella, localizada pela aviação. Segundo ouvi dizer parece ter sido a primeira ideia que lhe veio à cabeça e terá mesmo dado ordem para nos dirigirmos para Cufeu, mas nós já não andávamos, arrastávamo-nos. Ainda chegámos às proximidades do local, mas nós não estávamos em condições para o assalto. Finalmente, o comandante mandou seguir para Binta, até à estrada Farim – Binta – Barro. E foi aí, que fomos recolhidos em viaturas e transportados para a LDG, comandada por um 1º Tenente chamado Bilreiro.

[18] Nota do editor: de 20Mai73.

[19] Viaturas.

[20] Nota do editor: não há registo do óbito deste militar, sequer “desaparecido em acção” ou “corpo não recuperado.

[21] De 21 Maio 1973. Esperámos algumas horas em Binta. O Major Bruno e os Capitães Matos Gomes e António Ramos viajaram para Bissau, de helicóptero, para se reunirem com o General Spínola. Em Binta não havia comida para nos darem, foi a própria população que nos matou a fome.

[22] Nota do editor: os números oficiais apontam para nove mortos em combate, onze feridos graves e vinte e três ligeiros.

[23] Nota do editor: 4 Junho 1973.

[24] Braima Baldé pertencia à família real do Corubal. Era uma pessoa muito reservada. Incorporado em 1960, pertenceu à B.A.C. e esteve destacado no esquadrão de Bafatá. Por feitos em combate recebeu o prémio Governador da Guiné. Em 1969 para além dos africanos ex-Comandos foram convidados outros que se tinham destacado em combate. Braima fez o curso de quadros, em Brá, sob a orientação do Capitão Barbosa Henriques. Terminado o curso, como furriel graduado, esteve em Fá Mandinga, na formação da 1ª CCmds Africanos, de que o Capitão graduado João Bacar Djaló foi o nosso comandante. Era 1º sargento quando participou na operação “Ametista Real”, em Cumbamori, Senegal. Ao Braima calhou-lhe ir no agrupamento onde ia o Major Almeida Bruno. Foi muito falada, na altura, a história de que Braima Baldé pode ter salvado a vida do nosso comandante quando o Major Bruno, ao avistar um grupo de militares, tê-los-á chamado, pensando que eram militares nossos. Eram páras senegaleses. O Braima apercebeu-se, gritou-lhe que se abaixasse, e, segundos depois, começaram a ser alvejados com rajadas. No regresso, já em Guidaje, o major tirou os galões de um alferes europeu e colocou-os nos ombros do Braima Baldé. Quando se deu o 25 de Abril, o PAIGC começou por lhe atribuir um cargo numa secretaria em Bambadinca. Depois executou-o, em 1975, em dia e local que ninguém disse.

[25] Hoje Tenente-Coronel.

[26] Nota do editor: em Ordem de Serviço nº 34, de 23 de Agosto 1973, do CTIG, o Brigadeiro Comandante Militar louvou o Alferes Graduado Comando Amadu Bailo Djaló, da 1ª CCmds Africanos: “porque em todas as operações e acções em que tomou parte, se revelou sempre um combatente exemplar, muito valente, corajoso, determinado e de elevado espírito de sacrifício e abnegação. Militar de elevado espírito de missão, responsável e muito generoso é de inteira justiça realçar o seu excepcional comportamento na operação “Ametista Real”, onde comandou o seu grupo de combate com competência, serenidade, muita coragem, agressividade e estoicismo. Por tudo quanto se nota, é digno de ser apontada a sua conduta como de verdadeiro Comando, sendo-lhe conferido o presente louvor como público testemunho das suas extraordinárias qualidades de chefe militar e de combatente.”

[27] O pai do Alferes Carolino Barbosa era comerciante no sul da Guiné e tinha sido morto pelo PAIGC.

[28] Nota do editor: de 11 Julho a 11 Agosto 1973 e de 21 Novembro a 16 Dezembro 1973.
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Militres  do Batalhão de Comandos da Guiné mortos em Cumbamori, Senegal, durante o assalto à base IN, Operação Ametista Real’, 19 Maio 1973.

  • Anso Baldé, Soldado, 1ª CCmds; 
  • José Vieira, Soldado, 1ª CCmds; 
  • Pedro Melna, Alferes Graduado, 2ª CCmds;
  • Mama Samba Baldé, Alferes Graduado, 3ª CCmds:
  • Saliu Sané, Soldado, 3ª CCmds;
  • Becute Tungué, Soldado, 3ª CCmds;
  • Carlos Intchama, Soldado, 3ª CCmds;
  • Armando Beta Santa, Soldado, 3ª CCmds:
  • Mama Samba Embaló, Soldado, 3ª CCmds;
 Fonte: Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp. ) 
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4359: Tabanca Grande (143): Amadu Bailo Djaló, Alferes Comando Graduado, incorporado no Exército Português em 1962 (Virgínio Briote)

(**) Último poste da série > 14 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23525: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (11): "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém", poema de Luís Jales de Oliveira (ex-fur mil trms, CCAÇ 20, 1972/74)

Vd. também poste 18 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23364: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (5): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte IV: Op Ametista Real, de 17 a 21 mai73, destruição da base de Cumbamori, no Senegal