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segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1115: O Destacamento do Mato Cão, no tempo em que comandei o Pel Caç Nat 52 (1972/73) (Joaquim Mexia Alves)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Cuor > Destacamento de Mato Cão > 1973 > Pel Caç Nat 52 > A travessia do Rio Geba fazia-se de Sintex, a remos. Na foto, o Alf Mil Joaquim Mexia Alves, de pé, empunhando uma G3.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Cuor > Destacamento de Mato Cão > 1973 > Pel Caç Nat 52 > O Alferes Mil Joaquim Mexia Alves, com o Tomango Baldé, um dos mais antigos soldados do Pelotão, segurando um macaco-cão.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Cuor > Destacamento de Mato Cão > 1973 > Pel Caç Nat 52 > Os precários abrigos existentes no tempo do Alf Mil Joaquim Mexia Alves, aqui na sua residência.

Fotos: © Joaquim Mexia Alves (2006)


Caros Luís e Mário:

Do que me lembro, não cheguei a conhecer o Alf Wanhon Reis, pois quando cheguei ao Pelotão ele estava sem Oficial.

Ao que sei, o 52 esteve em Fá [Mandinga] , tendo vindo depois para a Ponte de Udunduma, na estrada Bambadinca/Xime. Foi lá que tomei o comando do Pelotão, em meados de 72.

Penso, pois não me consigo lembrar com clareza, que uma das secções do Pelotão poderia estar no reordenamento dos Nhabijões, junto a Bambadinca, tendo sido depois reentegrada no Pelotão quando em Setembro/Outubro (?) de 72 fomos colocados no Mato Cão (1).

No Mato Cão estava, salvo o erro o [Pel Caç Nat] 63, por isso o Jorge Cabral deverá estar certo quanto à inauguração do Destacamento de Mato Cão, que depois foi colocado em Fá.

Penso que o Mato Cão foi instalado para dar mais segurança àquele troço do Rio Geba e sobretudo para defender o ordenamento dos Nhabijões, entretanto construído do outro lado do Rio Geba (2).

Se as condições no Mato Cão eram péssimas, sem luz nem água, tomávamos banho num poço junto ao rio com latas de conservas de fruta, na Ponte de Udunduma ainda eram piores, tendo apenas a vantagem de estarmos mais perto de Bambadinca, o que me permitia de vez em quando tomar um banho mais decente.

Ao Mato Cão chegava-se apenas de Sintex, a remos, e a ida a Bambadinca, para além do cruzeiro de barco, tinha depois uma caminhada a pé até ao quartel.

Estivemos ali, ao que me lembro até meados de 73, quando fui colocado na CCAÇ15, [em Mansoa,]um pouco a meu pedido em Bissau, pois queria sair das ordens daquele comando de Batalhão [o BART 3873, Bambadinca, 1972/74]. Um dia conto a história.

Ao que sei antes do Natal de 73 o [Pel Caç Nat ] 52 voltou para Fá. A partir daí já nada sei.

Junto várias fotografias do Mato Cão, numa delas está o mesmo macaco-cão, e o Tomango Baldé, que penso seria um dos mais antigos do Pelotão.

A 24 retrata a minha residência, a 32 é o Tomango Baldé que penso seria um dos mais antigos do Pelotão.

Abraço
Joaquim Mexia Alves
___________

Notas de L.G.

(1) Sobre este destacamento, ver ainda os posts de:
22 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - VI: Memórias do Xime, do Rio Geba e do Mato Cão (Sousa de Castro)

28 nde Abril de 2005 > Guiné 69/71 - VIII: O sector L1 (Xime-Bambadinca-Xitole): Caracterização (1) (Luís Graça)

(...) "Possibilidades do IN:
" (i) No plano militar:
" (i) Manter as acções de fogo sobre os aquartelanentos das NT; (ii) Intensificar as acções de guerrilha preferencialnente sobre as tabancas em autodefesa, pelotões de milícia e seus itinerários de socorro; (iii) Realizar acções de reconhecimento nos regulados de Badora e Cossé, a partir dos regulados de Xime, Bissari e Corubal; (iv) Utilizar as linhas de infiltração que do Boé conduzem aos regulados de Xime e Bissari através da faixa norte do regulado do Corubal, e que da área Xime-Mansambo conduzem à estrada Bambadinca-Mansambo; (v) Efectuar acções de barragem á navegação no RGeba, em especial nas áreas de Ponta Varela e Mato Cão; (vi) Reagir à acção de contrapenetração das NT" (...).

28 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCVIII: 'turras brancos' em Bissaque, uma ficcção cabraliana (Luís Graça)

30 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1039: O Pel Caç Nat 52 no Mato Cão (Joaquim Mexia Alves)

5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1045: Pedido ao Joaquim Mexia Alves (Pel Caç Nat 52) para ajudar a desvendar o passado (Beja Santos)

6 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1049: O destacamento de Mato Cão (Paulo Santiago)

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)


(2) Sobre o reordenameno de Nhabijões, vd. posts de:

28 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXCIV: Nhabijões: quando um balanta a menos era um turra a menos (Luís Graça);

2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXIX: E de súbito uma explosão (Luís Graça) ;

21 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCII: O reordenamento de Nhabijões (1969/70) (Luís Graça);

23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971) (Luís Graça).


sábado, 21 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18545: E as nossas palmas vão para... (15): Diamantino Varrasquinho, ex-fur mil, Pel Caç Nat 52 (Mato Cão, 1971/73), alentejano de Ervidel, Aljustrel, que, não sendo ainda nosso grã-tabanqueiro, volta a vir ao nosso Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, em 5 de maio de 2018, depois de se ter inscrito seis vezes em anos anteriores (2008, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2016)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > Da esquerda para a direita:

(i) Diamantino Varrasquinho (costuma vir, de Ervidel, Aljustrel, mais o irmão Manuel);

(ii) António [Sousa] Bonito (Carapinheira, Montemor-o-Velho):

(iii) António Estácio (nascido em Bissau, residente em Algueirão, Sintra). 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Diamantino Varrasquinho e a mulher Maria José, de Ervidel, Aljustrel... "Foi 'meu' Furriel no 52 no Mato Cão", acrescenta o Joaquim Mexia Alves. (*)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > 21 de Abril de 2012 > Da esquerda para a direita, o Diamantino Varrasquinho, o João Santos, o António Bonito e o J. Mexia Alves...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > 21 de Abril de 2012 > "Pude abraçar, (consegui conter as lágrimas, espantoso!), o João Santos e o Diamantino Varrasquinho, ambos Furriéis, e os Cabos António Pinheiro, António Ribeiro e João Sesifredo", escreveu, emocionado, o J. Mexia Alves (...). Não foi só o Diamantino Varrasquinho que foi "meu" furriel no Pel Caç Nat 52, no Mato Cão, o António Bonito também, todos ao mesmo tempo, e para mim é sempre uma enorme alegria estar com eles, pois foram tempos muitos difíceis aqueles pelo Mato Cão e éramos, com o Santos, (Furrriel), o Pinheiro, O João Sezinando, (vulgo Rajadas), e o Ribeiro, (Cabos), uma grande equipa, muito unida."  

(...) "[ Em 21 de abril de 2012, no nosso VII Encontro Nacional, em Monte Real] aconteceu algo que eu não esperava, e me tocou muito fundo o coração (...) Por causa deste nosso blogue, muitos se foram encontrando e desejando encontrar e, por isso mesmo, o António Bonito, que foi 'meu' Furriel no Pel Caç Nat 52, no Mato Cão, não descansou enquanto não juntou toda a 'equipa' que comigo passou largos meses no Mato Cão" (*)
________________

[O Diamantino Varrasquinho é o primeiro da esquerda; o João Santos, o terceiro; o J. Mexia Alves,o quinto e o António Bonito, o último.]

Fotos: © Miguel Pessoa  (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1971 > Da esquerda para a direita, o J. Mexia Alves, o  António Bonito, o João Santos e o Dimantino Varrasquinho".  Esvrebeu o J. Mexia Alves: "O convívio e a camaradagem [, no Mato Cão,]  são notáveis. Reparem que o camarada da direita (fur mil Varrasquinho), para não correr o risco de estragar a sequência de alturas, se encolhe ligeiramente"... "Duas fotografias separadas por 39 anos [, a de 1971 e e a 2012], com as mesmas pessoas, nos mesmos lugares, e mais uma com a 'equipa”'completa, agradecendo ao Miguel Pessoa estas fotografias que guardo no meu coração.

Foto (e legenda): © J. Mexia Alves (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. O Varrasquinho foi fur mil no Pel Caç Nat 52, no Mato Cão, ao tempo do Joaquim Mexia Alves e do António Bonito. Já veio, pelo menos,  a seis dos nossos anteriores encontros nacionais (2008, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2016),  está inscrito este ano (2018), mas ainda não integra formalmente a nossa Tabanca Grande. Está na altura de reparar essa lacuna, ou seja, temos que o sentar à sombra do poilão da Tabanca Grande, ao lado de camarasd como o António Bonito e o Joaquim Mexia Alves.

Ele, para já, merece as nossas palmas! (**)... A sua "Adega Monte de Cima" é (ou foi)  um das famosas adegas de Ervidel, "locais do culto do vinho e da amizade", segundo notícia ouvida em tempos na Rádio Voz da Planície. Só precisamos de actualizar, este ano,  os dados do nosso camarada Varrasquinho, contemporâneo, na Guiné dos nossos grã-tabanqueiros Joaquim Mexia Alves e António Bonito. O João Santos e outros camaradas do Pel Caç Nat 52, dessa altura, também poderão ser apresenrtados à Tabana Grande. Conto com o J. Mexia Albves e o Antóniio Bonito para o fazer em próxima oportunidade.

Recorde-se:

(i) o ex-fur mil António Sousa Bonito também passou pelo Pel Caç N 52, que esteve no Mato Cão, com o Joaquim Mexia Alves; originalmente pertenceu à CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo (1971/74);

(ii) o Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil da CART 3492, (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15, (Mansoa).
______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4146: Parabéns a você (3): No dia 6 de Abril de 2009, ao camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, Guiné 1971/73 (Editores)

Joaquim Mexia Alves pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e depois na CCAÇ 15 (Mansoa).
A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74).



O nosso camarigo (*) Joaquim Mexia Alves está hoje de parabéns.

Falar dele é fácil e difícil. Fácil, porque não é preciso estar a inventar para enumerar as suas qualidades de cidadão e amigo. Difícil, porque acabamos por pecar por defeito.

Há poucos dias dizia ele que entre nós os dois se criou uma empatia muito grande, aquando da organização do último Encontro da Tertúlia. Foi fácil e aconteceu normalmente. Ele no terreno, contactando o restaurante e organizando tudo para que o Encontro corresse da melhor maneira, como correu, e eu apenas secretariando, organizando a papelada, parte para que ele, confessou, tinha pouco ou nenhum jeito.
O entendimento entre nós foi imediato, não sendo preciso mais que meia dúzia de telefonemas e alguns mails. Do resultado, melhor que o vosso testemunho não há.

O contacto que tivemos naquele dia e uma pequena tertúlia espontânea com alguns camaradas, acontecida numa esplanada de café, à noite, em Monte Real, deixou claro a pessoa que é, e como é fácil criar com ele amizade. Os presentes discutiram a guerra da Guiné e, aqui e ali discordaram, mas respeitaram-se e apertaram as mãos como verdadeiros camarigos.



Ortigosa, Monte Real, 17 de Maio de 2008 > III Encontro da Tertúlia do Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, brilhantemente organizado por Joaquim Mexia Alves

Pessoa leal no confronto verbal, não fugindo à polémica quando se trata de defender os seus pontos de vista, respeitador da opinião dos seus antagonistas de ocasião, extremamente correcto no trato, o Joaquim é uma pessoa agradável e afável. Sendo uma figura muito conhecida em Monte Real, onde a sua família tem tradição, não vi nele qualquer ar de vaidade. Foi preciso eu perguntar-lhe se o homenageado num memorial existente no Jardim de Monte Real era seu familiar. Respondeu que sim, que era o seu pai, mas sem entrar em pormenores quanto ao passado daquela figura marcante de Monte Real e do Distrito de Leiria.

Monte Real >Termas de Monte Real > O Joaquim Mexia Alves junto ao busto do fundador das termas, Olímpio Duarte Alves, que foi também governador civil de Leiria (1959-68). Na base do monumento lê-se: "A Olympio Duarte Alves, uma vida ao serviço destas termas que fundou e do termalismo nacional".

A sua colaboração no Blogue é tão extensa que pesquisar as suas intervenções é coisa complicada. Localizei uns quantos postes mais marcantes que poderão consultar. Destes é fácil derivar para outros não referenciados.

Deixo estas fotos relativas à sua passagem pela Guiné, onde como Alferes Miliciano, esteve ao serviço CART 3492, Pelotão de Caçadores Nativos 52 e CCAÇ 15.

Mato Cão > Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > Destacamento da Ponte dos Fulas > O Joaquim Mexia Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, que de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973 passou por três unidades no TO da Guiné: pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e depois na CCAÇ 15 (Mansoa ). A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74).

Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, CART 3942 (Xitole), Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e CCAÇ 15 (Mansoa)

Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > CART 3492 > 1972 > "No jipe, frente para trás: Alf Canas, Alf Novais, Alf Lima (Secretaria?), Alf Rodrigues (meu camarada de curso, também que era da CCS e veio depois para o Xitole, por troca com o Alf Gonçalves Dias se não me engano), Alf Martins (CART 3493, Mansambo) e eu [, assinalado cum círculo]".

Lisboa > Sociedade de Geografia > 6 de Março de 2008 > Três históricos do Pel Caç Nat 52 > Joaquim Mexia Alves, à esquerda da foto, no lançamento do livro Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, de Mário Beja Santos, que está ao centro. À direita, está o Henrique Matos que foi o 1.º Comandante do Pel Caç Nat 52. Desta vez, no lançamento do 2.º livro (Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio), este quadro não se vai repetir, devido à ausência do J. Mexia Alves.

Monte Real > Base Aérea n.º 5 > 25 de Fevereiro de 1988 > O Cap Pil Av Jaime Brandão, mais o seu amigo e conterrâneo Joaquim Mexia Alves, preparando-se para um passeio de... A7.

Talvez por ser um homem sensível, tem uma veia poética e musical que não se coíbe de demonstrar, principalmente quando está entre amigos, situação em que se sente como peixe na água.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > CART 3942 / BART 3873 > 1972 > O nosso autor e cantor Joaquim Mexia Alves... Além da CART 3942 (Xitole), o J. Mexia Alves comandou, como Alf Mil Op Esp o Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e e esteve ainda, na parte finald a sua comissão, na CCAÇ 15 (Mansoa )


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Um momento poético-musical: da esquerda para a direita, o J. Luís Vacas de Carvalho, o J. Mexia Alves e o David Guimarães


Fado da Guiné

Letra (original): © Joaquim Mexia Alves (2007)
Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera)

Lembras-te bem daquele dia
Enquanto o barco partia
E tu morrias no cais.

Braço dado com a morte,
Enfrentavas tua sorte,
Abafando os teus ais.
(bis)

Dobrado o Equador,
Ficou para trás o amor
Que então em ti vivia.

Da vida tens outra margem
Onde o medo é coragem
E a noite se quer dia.
(bis)

Aqui estás mais uma vez,
Forte, leal, português,
Sempre de cabeça erguida.

Não te deixas esquecer,
Nem aos que viste morrer
Nessa guerra em tempos ida.
(bis)

Que o suor do teu valor
Que vai abafando a dor
Que te faz manter de pé,

Seja massa e fermento
Desse nobre sentimento
Que nutres pela Guiné.
(bis)

Joaquim Mexia Alves
Monte Real,
18 de Agosto de 2007


Para o camarigo Mário Beja Santos
na véspera da apresentação do seu livro

Hoje fico assim,
Sentado a pensar.
Queria tanto que a memória
Se fizesse viva
E eu pudesse recordar.

Não,
Mais que recordar,
Viver
Aquele caminho do Mato Cão
E o cheiro daquele tarrafo
A agarrar-se-me ao coração.

Lembro-me agora
De quando ali cheguei
Ao pé deles
Os do 52
Ali na Ponte do Udunduma.
O medo entranhado
No suor quente,
Os pensamentos a correrem
Por aqueles espaços fora.

Todos me pareciam estranhos!
Não eram os meus homens
Aqueles que comigo embarcaram
Indecentemente,
Mesmo antes do Natal.
Não aqueles não eram a minha gente!

Confesso agora,
Tinha medo,
Muito medo!
Sei lá se sou capaz,
Sei lá se um dia à noite
No escuro silencioso do breu...
Sei lá!

Mas vá lá que és homem,
Mostra-te sem medo,
Levanta-te na tua altura,
Deixa que te meçam
E percebam que estás aqui
E não vais recuar.

Olha-os nos olhos,
Entrega-te por eles
De modo que eles percebam,
Para que também eles
Se venham a entregar por ti.

Sorri
O sorriso dos sem medo,
Ou melhor dos loucos,
Que já nem sequer pensam
Porque também não vale a pena
Já pensar.

E passa o tempo,
E as conversas chegam.
A empatia começa a nascer
E a confiança neles
E deles em mim
A tomar forma,
A criar raízes.

Já são a minha gente
E eu já sou deles também.
À volta da cadeira de verga
(Já falei dela uma vez),
Sentados pelo chão, (***).
Trocam-se recordações.
Surge um nome,
Um tal Tigre de Missirá!
Que raio tem o homem
Que eu não tenha!
Também já não interessa,
O homem já não mora cá.

Pois se deixaste um nome,
Se deixaste recordações,
Não penses tu,
Ó desconhecido,
Que não hei-de fazer melhor.

É assim que há muito,
Muito tempo,
Já povoavas os meus pensamentos!
Sabia lá eu um dia
Que te havia de encontrar,
Na guerra das palavras escritas,
Em que a arma
É uma caneta.

Hoje fico assim,
Sentado a pensar.
Será que o livro do Mário
Traz cheiros de bolanha molhada,
Barulhos de macaréu,
Gritos de macaco cão,
Cantares de humor duvidoso
De homens tisnados do sol,
Que cantam para espantar
O medo de não voltar.

Hoje fico assim
Sentado a pensar,
Que um livro pode trazer
Um abraço do passado
Para agora no presente
Viver, sonhar, recordar.

Hoje fico assim
Sentado a recordar...

Joaquim Mexia Alves
Monte Real, 10 de Novembro de 2008


Sentado na minha cadeira (2),
Cerveja na mão,
Fito os olhos no longe,
Tão longe,
Que vai para além do horizonte.
O Sol começa a descer ,
Lá ao fundo,
Para os lados do Enxalé,
E os seus raios de luz
Tocam a terra de sangue
E pintam o ambiente de vermelho.
O momento é mágico,
Porque não há nada mais bonito
Que o Pôr do Sol na Guiné.
Na bolanha,
Junto ao Geba
(Que se ouve a murmurar),
Passa um pequeno tornado.
Quase que o podia agarrar!
Ao meu lado,
O Furriel Bonito.
Deve estar a meditar
No que é que eu estarei...
A pensar!
Estou para aqui, isolado,
Vivendo como uma toupeira
Debaixo de terra,
Cercado de arame farpado.
A letargia da rotina diária
Toma conta de mim
E tanto me faz
Que o dia nasça
Como chegue ao fim.
Fecho os olhos por um momento.
Estou em Monte Real!
É fim de tarde,
Hora de banho
E vestir a preceito,
Que o meu pai não deixa
Que se jante no Hotel
Sem uma roupa de jeito.
Já lá vem o chefe de mesa
Que tem muito que contar,
Fala-me da carne e do peixe,
Tenho a boca a salivar.
Tocam-me no ombro!
Esfumou-se o meu sonho!
É o Mamadu que me diz,
Com o seu sorriso:
«Alfero,
O comer está pronto.»
O que lhe falta
Em smoking de profissão,
Excede em alegria
E dedicação.
Levanto-me,
Olho em redor.
Nas pequenas tabancas,
A luz das fogueiras
Ilumina a escuridão
Da falta de luz.
Abano a cabeça,
Para afastar o torpor,
E grito bem alto
Com a minha voz forte,
A afastar o temor:
«Pessoal,
vamos morfar,
que nunca se sabe,
quando isto vai acabar!»

Monte Real, 29 de Março de 2008
Poema (original): © Joaquim Mexia Alves (2007)


Ao nosso querido amigo, camarada, camarigo Joaquim Mexia Alves, os Editores Luís Graça, Virgínio Briote, Carlos Vinhal e os restantes 312 tertulianos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, desejam-lhe as maiores venturas para os próximos 40 anos que queremos sempre com boa saúde.
__________

Notas de CV:

(*) Camarigo - Palavra inventada por Joaquim Mexia Alves que significa mais que um amigo, mais que um camarada. Significa as duas coisas juntas, alguém que sendo camarada junta a particularidade de ser ao mesmo tempo amigo.

Da vasta colaboração de Joaquim Mexia Alves podem ver estes postes de:

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)

12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)

25 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1997: Álbum das Glórias (22): O Alf Mil Pires, cmdt do Pel Caç Nat 63, em Mato Cão, na festa do meus 24 anos (Joaquim Mexia Alves)

15 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2179: Fado da Guiné (letra original de Joaquim Mexia Alves)

19 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2364: O meu Natal no mato (5): Mato Cão, 1972: Com calor, muito calor, e longe, muito longe do meu clã (Joaquim Mexia Alves)

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2631: Dando a mão à palmatória (5): Recado para uma ida à Guiné (Joaquim Mexia Alves)

30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2701: Blogpoesia (10): Olhando para uma foto minha, no Mato Cão, ao pôr do sol, com o Furriel Bonito... (Joaquim Mexia Alves)

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

19 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2961: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (11): Às vezes dá-me umas saudades da Guiné... (J. Mexia Alves)

1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3261: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (7): o meu amigo e conterrâneo Jaime Brandão (J. Mexia Alves)

26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3940: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (2): J. Mexia Alves, ex-Alf Mil (Xitole, Mato Cão, Mansoa)

(*) Camarigo - Palavra inventada por Joaquim Mexia Alves para significar mais que amigo, mais que camarada. Camarigo significa as duas coisas juntas, alguém que sendo camarada junta a particularidade de ser ao mesmo tempo amigo.

Vd. postes da série Parabéns a você de:

20 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2367: Parabéns a você (1): Humberto Reis, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71): born in Portugal, December 19th, 1946 (Luís Graça)
e
27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4084: Parabéns a você (2): Carlos Vinhal, nosso co-editor, um rapaz de Leça, que desmontava minas em Mansabá (Luís Graça)

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Guiné 63/74 - P1024: Pel Caç Nat 52, destacamento de Mato Cão (Joaquim Mexia Alves)

Leiria > Monte Real > Termas de Monte Real > O Joaquim Mexia Alves, hoje... Um conhecido empresário ligado ao sector do turismo...


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Destacamento do Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > O Alf Mil Joaquim Mexia Alves, pousando com um babuíno (macaco-cão) mais o Braima Candé (na primeira), tendo na segunda fila, de pé, o seu impedido, o Mamadu, ladeado pelo Manga Turé.


Fotos: © Joaquim Mexia Alves (2006)


1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves (ex-comandante do Pel Caç Nat 52 , 1971/73) (1)

Segundo percebi, o Beja Santos comandou antes de mim o Pel Caç Nat 52, por isso anexo uma fotografia tirada no Mato Cão em que poderão estar soldados ainda do seu tempo.

Agachados estão: o Macaco-Cão, eu, o Braima Candé e, de pé, o Mamadu (uma espécie de meu impedido) e o Manga Turé.

Abraço

Joaquim Mexia Alves

2. O Beja Santos, surpreendido, agradece a informação mas pergunta, intrigado: Pel Caç Nat 52: moranças em Mato Cão? Não haverá um exagero? Aposto que se trata de Finete!

Caro Luis, Obrigado por esta informação.

Não reconheci ninguém [da foto]. Foi o Mexia Alves quem substituiu o Nelson Wahnon Reis?

Gostava muito de saber. Abraços, Mário.

3. Comentário de L.G.:

Este destacamento é posterior à nossa estadia no Sector L1. Foi guarnecido por sub-unidades como o Pel Caç Nat 52 e a CCAÇ 12.
____________

Nota de L.G.

(1) O Joaquim Mexia Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, durante o período de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973, pertenceu a: (i) ; CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas); (ii) Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Undunduma, Mato Cão) ; e (iii) CCAÇ 15 (Mansoa ) (aqui já já como capitão miliciano).


Vd. ainda posts de:

11 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P952: Evocando o libanês Jamil Nasser, do Xitole (Joaquim Mexia Alves, 1971/73)

13 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P958: 'Gajos das tropas africanas eram doidos' (Joaquim Mexia Alves, CART 3492, Pel Caç Nat 52 e CCAÇ 15)

16 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P962: Pensamento do dia (5): Português, sem dúvida(s) (Joaquim Mexia Alves)

17 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P966: O Mexia Alves que eu conheci em Bambadinca (António Duarte, CCAÇ 12, 1973)

19 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P969: Mexias Alves e a malta do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (Sousa de Castro)

21 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P976: A morte do Alf Armandino e a estupidez do capitão-proveta (Joaquim Mexia Alves)

26 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P992: 'Estar apanhado' dava muito jeito e algum gozo (Joaquim Mexia Alves)

quinta-feira, 13 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2633: Memórias dos lugares (4): Mato Cão (Joaquim Mexia Alves, Pel Caç Nat 52, 1972/73)






Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Pel Caç Nat 52 (1972) > Destacamento de Mato Cão. Legendas para quê ? O Joaquim Mexia Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, andou em bolandas e em bolanhas, de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973, tendo passado nada menos do que por três unidades no TO da Guiné: (i) pertenceu originalmente à CART 3492 / BART 3873 (Xitole / Ponte dos Fulas);(ii) depois mudou-se com armas e bagagens para Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão); e (iii) finalmente, CCAÇ 15 (Mansoa ) (1).


Fotos:  Joaquim Mexia Alves (2008). Direitos reservados.


1. Não sei se ele foi voluntário à força, ou não se gostava dos lençóis da Intendência Militar, ou se embirrava com os mosquitos, ou se era muito requisitado por ter o curso de ranger... Além disso, tinha alma de fadista e de poeta (e ainda tem)... A verdade é que dos poucos, de nós todos, que se pode gabar de ter sido operacional de três subunidades distintas.

Há dias ele escreveu a uma coisa bonita ao Beja Santos, na sequência da festa do lançamento do seu (dele, Mário) livro. Já aqui foi publicada. Mas voltemos a reproduzir alguns excertos:

(...) Foi linda a festa, pá!... Foi lindo o convívio, (não falemos do bacalhau!), foi linda a conversa, foi lindo o riso, foi lindo a visita à Sociedade de Geografia, foram lindos os 'discursos', foi lindo o som da Guiné, foi linda a tua emoção, foram lindas as cervejas que ainda bebi a matar saudades, ah, e o livro é lindo!

Não vale a pena dizer mais nada, porque não há mais palavras para dizer o que vai no coração. Ah, e senti um grande orgulho em ter sido comandante do 52!

Espero que tenhas percebido que o sujeito de pé e arma na mão, na fotografia do sintex, que colocaste no teu livro, é este teu camarada e amigo.

Começo hoje a mandar-te as fotografias que tenho do 52 e que, se não me engano, são todas do Mato de Cão. Ao mesmo tempo mando-as também para o blogue, para arquivo. Com tempo farei seguir legendas para todas. (...).


São algumas dessas fotos que publico hoje. Com um agradecimento, muito emocionado, ao Joaquim pela ternura do roteiro que ele fez para mim e que só hoje, infelizmente, tomei conhecimento... 

Passei, no meu regresso à Guiné, de 29 de fevereiro a 7 de março de 2008 por alguns dos sítios que ele sugere, a alta velocidade, com enormes ganas de parar... Quis controlar as minhas emoções, quando a vontade era de chorar; segui em frente, mesmo querendo ficar; não tirei fotografias, com muita raiva minha, por que me estava a armar em forte... 

Tinha apenas em mente o sul, nunca o leste... Queria apenas mostrar a mim mesmo que estava a passar o teste da catarse...Que eu, de facto, já tinha esquecido a Guiné... Não esqueci, claro está... E a Guiné, para mim, era apenas o Corubal, a perigosa margem direita do Corubal, o Geba, o triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, as tristes tabancas em autodefesa de Badora e do Corubal, o Geba Estreito, Finete, Mato Cão, Missirá, o Cuor, Fá Mandinga... Era também Contuboel, era Bafatá... E pouco mais.

Joaquim, desta vez fui a Mansoa, onde nunca tinha ido... À procura de bianda para o almoço, imagina!... Mas não segui para Mansabá... Acabei por ir almoçar ao restaurante do Hotel Rural de Uaque... Tive depois um convite, do Zé Teixeira e do seu grupo de beduínos, para ir comer leitão a Jugudul, mas outros deveres, os trabalhos do Simpósio Internacional de Guileje, me retiveram em Bissau... 

Passei pelo Mato Cão, vi o cotovelo do Geba Estreito, onde nos emboscávamos, admirei a extensa bolanha de Finete, passei por Bambadinca, vi vacas a pastar na imens~~ao da bolanha de Bambadinca, parei em Bambadinca no regresso, tomei a estrada (que não havia no nosso tempo) de Mansambo - Xitole - Saltinho... Não parei em Mansambo, nem no Xitole. Apenas no Saltinho, porque estava no programa... Mas lembrei-te de ti, do David Guimarães, do Beja Santos, do Humberto Reis, do Tony, do Marques e de tantos outros camaradas e amigos da minha CCAÇ 12 e de outras unidades com quem convivi, em Bambadinca, entre Julho de 1969 e Março de 1971...

Desculpa-me, mas não bebi um uísque, por ti e por mim, à memória do Jamil. Só bebi um uisquinho no avião de regresso a Lisboa, que as bactérias e os vírus na Guiné-Bissau é quem mais ordenam... E eu que gostava tanto, como tu, do meu uísquinho com uma duas pedras de gelo e água de Perrier.

Não subi o Corubal, mas fui a Cussilinta, e fui com contida emoção que revi os palmeirais que bordejam o rio... Não passei pelo Xime, porque não é esse agora o caminho de quem vem de Bissau. Não tomei o velho barco da outrora soberana Casa Gouveia nem me sentei na esplanada do Pelicano. E das ostras, só provei a sopa, uma colher, na casa de uns amigos...

Como vês, foi frugal, espartano, sanitarista... Mas um dia prometo voltar ao Mato Cão, e à bolanha de Finete, e à Ponta do Inglês, e à margem direita do Corubal... Já foram demasiadas emoções para uma semana só... Sempre gostei mais daquela terra no tempo das chuvas e do capim alto e das miríades de insectos... 

De qualquer modo, adorei o teu roteiro poético-sentimental... Quem sabe se não o voltaremos a fazer pelo nosso própio pé... Tu, eu e a malta de Bambadinca, que é muita e que faz parte da nossa Tabanca Grande... Obrigado, Joaquim. Vêmo-nos para Abril ou Maio, no III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia ou Tabanca Grande... Vou divulgar as datas que sugeres.

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Janeiro de 2008 > Estrada Bissau-Bafatá > Passagem do Xico Allen pelas proximidades de Mato Cão, onde foi criado, no tempo do Polidoro Monteiro, comandante do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), um destacamento, guarnecido pelo Pel Caç Nat 52 (2).

Foto: Xico Allen / Albano Costa (2008). Direitos reservados.
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. alguns dos postes anteriores do Joaquim Mexia Alves (e de outros camaradas, com referências ao Mato Cão):

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2631: Dando a mão à palmatória (5): Recado para uma ida à Guiné (Joaquim Mexia Alves)

19 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2364: O meu Natal no mato (5): Mato Cão, 1972: Com calor, muito calor, e longe, muito longe do meu clã (Joaquim Mexia Alves)

15 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2179: Fado da Guiné (letra original de Joaquim Mexia Alves)

25 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1997: Álbum das Glórias (22): O Alf Mil Pires, cmdt do Pel Caç Nat 63, em Mato Cão, na festa do meus 24 anos (Joaquim Mexia Alves)

6 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1927: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (54): Ponta Varela e Mato Cão: Terror no Geba

2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)

12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)

(2) Vd.poste de 20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2561: Ser solidário (5): Um mimo para o Beja Santos (Xico Allen/Albano Costa)

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)

Guiné > Região Leste > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1973 > O novo destacamento do Mato Cão, no tempo em que o Pel Caç Nat 52 era comandado pelo Alf Mil Joaquim Mexia Alves (1972/73). No tempo do Beja Santos (1968/70), a segurança às embarcações que passagem pelo Geba Estreito, em Mato Cão, era assegurado por diversas forças, que estavam sob o comando do batalhão sedeado em Bambadinca, desde a CCAÇ 12 até aos Pel Caç Nat (52, 53, 54, 63). O Joaquim Mexia Alves sucedeu ao Wahnon Reis e ao Beja Santos no comando do Pel Caç Nat 52. Visto do ar, o destacamento era um buraco, como tantos outros, onde flutuava a bandeira verde-rubra (se é que tinha pau da bandeira!)

Foto: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados.


1. Mensagem de Nuno Almeida, ex-mecânico de helicópteros, a quem agradeço este depoimento e convido para aderir à nossa tertúlia (LG):

Camarada Mexia Alves:

Estava a ler o blogue do Luís Graça e vi a sua referência a Mato Cão (1), o que me fez recordar um episódio, não sei se passado, também, consigo e que passo a relatar:

Fui mecânico de helicópteros da FAP e cumpri o ano 1972 na Guiné. Um dia, creio que no Verão de 1972, fui com um heli fazer o que, creio, se chamava o Comando de Sector (levar o Coronel de Bambadinca a visitar os aquartelamentos)(2).

Fomos visitando vários locais e, quando sinto o piloto fazer manobra para proceder a uma aterragem, fico em estado de choque, pois não se vislumbrava nada no terreno que indicasse haver ali alguém ou algo minimamente capaz de albergar seres humanos. Inicialmente temi que o piloto tivesse detectado alguma falha no aparelho e fosse aterrar para que eu verificasse a condição do mesmo e poder continuar a voar. Mas quando aterramos (num espaço de mato desbravado e completamente inóspito), e a intensa poeira, levantada pelas pás do heli, começa a assentar, vejo surgirem, de buracos cavados no chão, homens em estado de higiene e aspecto físico degradantes (pelo menos aos olhos dum militar que dormia em Bissau e tinha água corrente para se lavar a seu bel prazer).

Chocou-me, e ao piloto também, a situação sub-humana em que esses homens estavam a viver.

A sua reacção, ao verem o Coronel, foi a de parecer que o queriam linchar, tal era a sua revolta pelo que estavam a ser obrigados a suportar.

Quando regressámos a Bambadinca, o piloto foi ao bar e comprou dois pacotes de tabaco Marlboro, escreveu neles algo que creio foi: "com a amizade da Força Aérea", e quando passámos à vertical de Mato Cão largámos esses pacotes, querendo demonstrar a nossa solidariedade para com quem tão maltratado estava a ser.

Mais tarde, em Novembro de 1972, fui ferido, ao proceder a uma evacuação, na mata de Choquemone, em Bula, e aí melhor me apercebi das privações e sobressaltos que, a todo o momento, uma geração de jovens, na casa dos 20 anos, foi obrigada a suportar, adquirindo mazelas físicas e, principalmente, psicológicas, que ainda hoje perduram, e que muitos teimam em não aceitar que existem e estão latentes no nosso dia-a-dia.

Abraços, do ex-1º cabo FAP Nuno Almeida (o Poeta)

2. Resposta do Joaquim Mexia Alves > Ex- Alf Mil Op Esp, esteve na Guiné, entre Dezembro de 1971 e e Dezembro de 1973, tendo pertencido à CART 3492 (Xitole), ao Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e à CCAÇ 15 (Mansoa); nunca esteve sedeado em Bambadinca, mas sim no Rio Udunduma e no Mato Cão, destacamentos do Sector L1 (Bambadinca); ia de vez em quando à sede do Batalhão (BART 3873, 1972/74), a que estava adida a CCAÇ 12, nessa altura comandada pelo Cap Op Esp Xavier Bordalo.

Caro Nuno Almeida:

Obrigado pela tua mensagem. No Verão de 1972 ainda não tinha chegado ao Mato Cão, pois apenas lá assentei arraiais no começo de Novembro desse ano.

Lembro-me nessa altura de uma visita do Comandante ao Mato Cão num helicóptero e que não o recebemos propriamente de braços abertos, mas poderá ter sido outra visita, o que já me parece muito, duas visitas em tão curto espaço de tempo.

Posso estar enganado e ter sido mais tarde, mas julgo que foi antes do Natal. Para o caso não tem importância.

Realmente, aos olhos de quem estava em Bissau, a situação era terrível, mas tomávamos banho (!!!), era de lata de pessego em calda, junto ao rio Geba, que era o que se podia arranjar.

Não tinhamos luz e realmente estávamos enfiados no chão, embora fizéssemos uma vida normal.

Ainda não pertences à tertúlia deste blogue? Se não pertences, e como dou conhecimento destes mails ao Luis Graça, nosso comandante, poderás contactá-lo via correio eletrónico e passar a fazer parte do blogue dando-nos a conhecer a tua experiência, que pelo que leio deve ser muito rica.

Ah, aqui tratamo-nos por tu.

Mais uma vez, obrigado pela mensagem e um abraço forte do
Joaquim Mexia Alves
____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. alguns posts com referências ao Mato Cão (para além da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos):

25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1875: Estórias avulsas (6): Há coisas na guerra que só se podem fazer com 'boa educação' (Joaquim Mexia Alves)

27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)

(2) Possivelmente tenente-coronel... Bambadinca, sede do sector L1 da Zona Leste, tinha o comando e a CCS do BART 3873 (1972/74).

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4288: Espelho meu, diz-me quem sou eu (1): Joaquim Mexia Alves




















Guiné > Três fotos do Alf Mil Op Esp J. Mexia Alves : uma na altura da partida (em finais de 1971); e duas, passados uns meses, em 1972, já no comando do Pel Caç Nat 52, uma tirada no Mato Cão, na margem direita do Rio Geba (Estreito) e outra numa visita a Bambadinca, sede do Sector L1, Zona Leste. O Mexia Alves esteve 24 meses no CTIG, de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973.

Recorde-se que o nosso camarada (ou camarigo, como ele prefere) pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e, por fim, na CCAÇ 15 (Mansoa). A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74). O Pel Ca Nat 52 estava igualmente às ordens do comando do Sector L1 (*).


1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves, com data de ontem:

Ao ler/ver o post 4280 do Magalhães Ribeiro, (Rangers...Ya!), veio-me à ideia uma nova série de postes muito simples, que até podiam nem ter texto.

Refiro-me a fotografias na partida para a Guiné em comparação com fotografias da chegada, ou de alguns meses passados no "teatro de operações", ("engalinho" com esta expressão).

Se acharem por bem, aqui vão três fotografias, uma da partida e duas passados uns meses no comando do Pel Caç Nat 52, uma no Mato Cão e outra numa visita a Bambadinca, sede do sectoir L1, Zona Leste. É escolher uma das duas do "depois".

Mais uma abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves


2. Comentário do L.G.:

Joaquim: Apoiado!... Até sugiro um título para a série: O que fizeram de nós... Ou: O que fizeram de ti, rapaz ? Ou então: Metamorfoses... Ou: (Trans)formações: Ou ainda: Tão meninos que nós eramos... Ou ainda: Espelho meu: Diz-me quem sou eu...

Que achas, Joaquim ? Eu prefiro o último... Na Guiné não me via ao espelho. Voltei a ver-me, no regresso, e não me reconheci... Aliás, a última barba que fiz, fi-la na Guiné, como eu costumo dizer, para explicar o estranho hábito, hoje obsoleto, fora de moda, de usar barba, desde Março de 1971...(Começou por pêra, ainda em Bambadinca, com o afrouxamento da disciplinar militar, fenómeno inexorável apesar dos esforços patéticos do senhor major Anjos de Carvalho, até se cansar de andar com o RDM em punho, ameaçando bichos e homens).

Na realidade, nos três anos de tropa e de guerra por que passámos, operou-se uma série de transformações: a nível físico, mental, psicológico, social, cultural... Muita coisa mudou nas nossas vidas... Umas mais visíveis (como o aspecto físico: emagrecemos, chegávamos a perder 1, 2 e 3 quilos em operações...), outras menos visíveis (como a sanidade mental)...

Os outros (amigos, pais, irmãos, namoradas, noivas, mulheres, colegas de trabalho...) foram os primeiros a dar conta, quando fomos de férias ou regressámos de vez, "sãos e salvos"... Só depois disso é passámos a olhar para o espelho...

Vamos pedir à malta para juntar as duas/três fotos do antes e do depois com uma uma "observação ao espelho".Façamos a nossa austoscopia (s. f., Exame ou auscultação de si próprio).

Quanto ao texto, gosto sempre de um legenda, mesmo que curta...

Um abraço. Luís


PS - Lembrei-me de um poema que há tempos publiquei no meu blogue de poesia, e que tomo a liberdade (ou a insensatez) de aqui reproduzir (com algumas alterações, a começar pelo título):

Abril 15, 2009 > Blogantologia(s) II - (78): A guerra como forma (heróica) de suicídio... altruista

De cordeiro a lobo, a metaformose

Quem terá sido o grafiteiro
(avant la lettre)
que escreveu:
"Em Mueda, os cordeiros que chegam,
são lobos que saem" ? (**)

É um pensamento que é válido
para todas as situações de guerra.
E a guerra é uma situação-limite.
Os jovens, quase imberbes,
os meninos de sua mãe
(como diria o grande Pessoa),
que chegam à frente de batalha,
ainda são cordeiros,
inocentes,
virgens,
imaculados...
O horror e a violência da guerra
irão transformá-los em lobos,
em duros,
em violentos,
em conspurcados...
Não necessariamente predadores,
assassinos,
criminosos...
(que é o estereótipo
que o ser humano ainda guarda
do pobre do lobo mau!)...

Mas há, seguramente, uma perda de inocência:
não foste para a Guiné
e vieste de lá impunemente,
igual...
Não eras mais o mesmo,
o expedicionário que partiu no Niassa,
e o veterano que regressou no Uíge.
Os teus amigos e familiares deram conta disso:
já não eras o mesmo,
nunca mais foste o mesmo...

Acho que é isto
que o inspirado autor do mural de Mueda quis dizer.
É claro que há também aqui
a dose habitual de bravata e de fanfarronice:
é uma frase de caserna para intimidar
os checas,
os piras,
os maçaricos,
os novatos...

Também os militares, profissão de risco,
têm a sua ideologia defensiva,
as suas crenças,
os seus talismãs,
os seus mesinhos
(usavam-nos os guerrilheiros
na Guiné,
em Angola,
em Moçambique,
não obstante a sua formação racionalista,
marxista-leninista,
dita revolucionária)...
A bravata e a fanfarronice,
além das praxes e do álcool,
ajudavam-nos, a todos nós,
a lidar com o medo,
as situações-limite,
o risco,
a morte,
o sofrimento, físico e moral,
a impotência,
o desespero…

Não há, nunca houve,
super-homens,
super-heróis:
há apenas deuses,
que inventámos,
à nossa imagem e semelhança,
e para quem transferimos
qualidades e defeitos humanos...
Deuses que inventamos todos os dias…
Precisamos dos mitos,
das lendas,
da efabulação,
do imaginário,
do pensamento mágico,
mesmo sob a roupagem (frágil e enganadora)
da ciência e da tecnologia.

Daniel Roxo deve ainda funcionar,
para os nostálgicos do paraíso perdido do apartheid
(Moçambique, Rodésia, África do Sul...),
como o Che Guevara
que também funciona, ainda,
como um ícone,
tanto para os jovens sem ideologia de hoje,
como para os cotas,
os seus pais e tios,
os velhos revolucionários românticos
que queriam, nos anos 60 e 70,
incendiar o mundo,
criando um, dois, três, muitos Vietnames!...

Há homens que são incapazes de deixar de combater...
Mesmo, no limiar da decadência física,
a adrenalina da guerra
é mais forte que a razão...
É um pulsão quase irresistível.
O que terá levado este
e outros compatriotas nossos
a alistar-se nas forças especiais
do regime racista da África do Sul
e a morrer em Angola
por uma pátria que não era a sua ?
Poderei perguntar o mesmo pelos cubanos
que morreram em Angola (mas também na Guiné).
Dir-me-ão que lutavam
por um mundo em que acreditavam,
por uma bandeira,
por uma causa que era a sua razão de vida,
e não apenas por um punhado de dólares,
como nos filmes do Oeste da nossa infância...
Mesmo os mercenários de guerra
não matam nem se deixam matar por dinheiro...
Pura e simplesmente recusam admitir
que estão velhos e acabados...
Sou céptico,
nem optimista nem pessimista:
o ser humano é motivacionalmente muito complexo
e manipulável
e moldável…
Creio que a guerra também pode ser viciante,
havendo homens que nela entram
e dela nunca mais saem...
A guerra pode ser uma forma (heróica) de suicídio...
altruista.

_________

Notas de L.G.:

(*) Da vasta e sempre apreciada colaboração de Joaquim Mexia Alves, aqui fica uma selecção:

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)

12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)

25 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1997: Álbum das Glórias (22): O Alf Mil Pires, cmdt do Pel Caç Nat 63, em Mato Cão, na festa do meus 24 anos (Joaquim Mexia Alves)

15 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2179: Fado da Guiné (letra original de Joaquim Mexia Alves)

19 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2364: O meu Natal no mato (5): Mato Cão, 1972: Com calor, muito calor, e longe, muito longe do meu clã (Joaquim Mexia Alves)

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2631: Dando a mão à palmatória (5): Recado para uma ida à Guiné (Joaquim Mexia Alves)

30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2701: Blogpoesia (10): Olhando para uma foto minha, no Mato Cão, ao pôr do sol, com o Furriel Bonito... (Joaquim Mexia Alves)

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

19 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2961: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (11): Às vezes dá-me umas saudades da Guiné... (J. Mexia Alves)

1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3261: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (7): o meu amigo e conterrâneo Jaime Brandão (J. Mexia Alves)

26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3940: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (2): J. Mexia Alves, ex-Alf Mil (Xitole, Mato Cão, Mansoa)

6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4146: Parabéns a você (3): No dia 6 de Abril de 2009, ao camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, Guiné 1971/73 (Editores)


(**) Vd. postes de:

6 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1928: Estórias de vida (3): Sérgio Neves, meu irmão: em Moçambique, o Mercenário, amigo do lendário Daniel Roxo (Tino Neves)

7 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1933: Questões politicamente (in)correctas (30): os cordeiros e os lobos de Mueda ou a adrenalina da guerra (Luís Graça)

6 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2032: Estórias de vida (4): Ainda sobre o meu irmão, o Srgt Mil Sérgio Neves, que foi amigo em Moçambique de Daniel Roxo (Tino Neves)

24 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2127: Estórias de vida (5): Sérgio Neves, meu irmão, um homem bom (Tino Neves)

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19716: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004: repescando velhos postes (1): Um dos bu..rakos em que vivemos: o destacamento do Mato Cão, na margem direita do rio Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca (Joaquim Mexia Alves)


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão >  Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >   Vista do Rio Geba e bolanha de Nhabijoes,  partir do "planalto" do Mato Cão. (*)


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão >  Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >  O "nosso quartel" (**)


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão >  Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >  As instalações do pessoal, ao fundo, e o comandante do destacamento visto de "mandinga", já "apanhado do clima"... (***)

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > O Ten Cor Polidoro Monteiro, último comandante do BART 2917, o Alf Médico Vilar e o Alf Mil Paulo Santiago, instrutor de milícias, com um jacaré do rio Geba... (****)

Foto tirada em Novembro ou Dezembro de 1971 no Mato Cão, após ocupação da zona com vista à construção de um destacamento, encarregue de proteger a navegação no Geba Estreito e impedir as infiltrações na guerrilha no reordenamento de Nhabijões, um enorme conjunto de tabancas de população balanta e mandinga tradicionalmente "sob duplo controlo".

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > Destacamento do Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1973 > O alf mil Joaquim Mexia Alves, posando com um babuíno (macaco-cão) mais o Braima Candé (em primeiro plano), tendo na segunda fila, de pé, o seu impedido, o Mamadu, ladeado pelo Manga Turé. (*****)


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > Destacamento do Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1973 > Vista parcial das modelares instalações do 'resort' turístico... (*****)


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > Destacamento do Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1973 > "A chegada à estância era sempre um momento vivido com prazer"... O sintex era a única ligação... à outra margem do Rio Geba (e nomeadamente, a Bambadina). (*****)

Fotos (e legendas): © Joaquim Mexia Alves (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Em homenagem ao Joaquim Mexia Alves, régulo da Tabanca do Centro, membro da comissão organizadora do Encontro Nacional da Tabanca Grande, desde 2010, ex-alf mil da CART 3492, (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15, (Mansoa) (1971/73), fomos "revisitar" um dos seus muitos postes, aqui publicados, e reproduzimos alguns excertos da "deliciosa" e "bem humorada" descrição de um dos "aposentos bunkerizados" (ou "bu...rakos") em que viveu, no TO da Guiné: o destacamento de Mato Cão, no setor L1 (Bambadinca), sito na margem direita do Gebo Estreito,  no troço entre o Xime e Bambadinca. A função do destacamento era,. primordialmente, garantir a segurança do tráfego fluvial, que vinha de (e ia para Bissau)... Na época, o rio era navegável até Bafatá, mas o grosso da navegação civil fazia-se até Bambadinca, e os navios da marinha (LDG) aportavam ao Xime.

Socorremo-nos de algumas fotos suas,  do Paulo Santiago e do Luís Mourato Oliveira (, o qual foi  o último comandante do Pel Caç Nat 52 a passar pelo "bu...rako" do Mato Cão).  

(...) Chegava-se ao Mato Cão, (tiro-lhe o de), vindo de Bambadinca, pelo rio Geba, de sintex a remos, aportando aos restos de um antigo cais (?), onde se desembarcava.

(...) Logo à esquerda, e com vista para a bolanha do lado do Enxalé, ficava o complexo dos balneários, sobretudo a zona de duches. Dado o clima ameno e soalheiro, estes duches ficavam ao ar livre, e eram constituídos por um buraco no chão, que dava acesso a um poço, cheio de uma água leitosa, e que respondia inteiramente aos melhores padrões da qualidade de águas domésticas.

Os utentes colocavam-se à volta do referido buraco e, alegremente, todos nus em franca camaradagem, (nada de más interpretações!), utilizavam uma espécie de terrina da sopa, em alumínio da tropa, presa por umas cordas, e que, trazida à superfície cheia de água, era a mesma retirada da referida terrina com umas estéticas latas de pêssego em calda, derramando depois os militares a água sobre as suas cabeças para procederem aos seus banhos de limpeza.

Para se chegar ao destacamento propriamente dito, subia-se então uma ladeira íngreme, (o burrinho da água só a conseguia subir em marcha atrás), acedendo-se então à parada à volta da qual, mais coisa menos coisa, se desenvolvia todo o complexo militar.

À esquerda, salvo o erro, ficavam os espaldões de dois morteiros 81 e respectivas instalações, dormitórios do pessoal do pelotão de morteiros. Um pouco mais à frente e do lado direito ficava o bar e a sala de banquetes, toda forrada a chapas de zinco e assim também coberta, sendo aberta do lado da frente para o exterior, como convém a instalações de férias em climas tropicais.

A arca a pitrol refrescava as cervejas que o pessoal ia com todo o prazer consumindo. Fazia também algum gelo para dar mais alegria aos uísques emborcados, sobretudo ao fim da tarde.

(...) Os quartos de dormir eram todos situados abaixo do chão, cavados na terra, para que assim não se perdesse o calor que tanta falta fazia nas longas noites de Inverno da Guiné!

Por cima, o telhado, de chapas de zinco, era sustentado normalmente em paus de cibo, que assentavam em graciosos bidões cheios de uma massa de cimento e terra. Lembro-me de como era agradável o jogo que então fazia, quando deitado na cama, os ratos, de quando em vez, passeavam por cima do mosquiteiro, e com pancadas secas os projectava contra o tecto, voltando depois a cair sobre o mosquiteiro. (...)

No espaço central deste planalto, (porque o Mato Cão era um pequeno planalto), erguiam-se as tabancas do pessoal africano do Bando do 52.

Tudo estava rodeado de umas incompreensíveis valas sobretudo para o lado Sinchã Corubal, Madina, Belel, junto à qual, se a memória não me atraiçoa, estava uma guarita térrea com uma metralhadora Breda.

Ao fim da tarde, e na esplanada do bar e sala de banquetes, bebendo umas cervejas e uns uísques, o pessoal esperava ansioso o ligar da iluminação pública, o que curiosamente nunca acontecia, talvez pelo facto de não haver gerador no Mato Cão.

Bem, o Mato Cão era um verdadeiro Bu…rako, tendo apenas a vantagem, valha-nos isso, do pessoal amigo do PAIGC não ter incomodado muito durante a minha estadia. (...)

Ah,… uma coisa boa… tinha um lindíssimo Pôr-do-Sol! (*****)


Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955) > Escala de 1/50 mil > Detalhes: posição relativa de Bambadinca, Nhabijões, Mato Cão, Missirá, Sancorlá e Salá. O PAIGC só mandava (alguma coisa), a partir de Salá... tendo "barracas", mas a noroeste, na zona de Madina / Belel). Já no OIo havia a "base central" de Sara Sarauol... O destacamento, mais a norte de Bambadinca, no setor L1. era Missirá,  guarnecido por um Pel Caç Nat (52 ou 63, em diferentes períodos) e um pelotão de milícias... Vários camaradas nossos, membros da Tabanca Grande, andaram por outros sítios, "pouco recomendáveis"...  A Madina/ Belel (que já não vem neste excerto do mapa) ia-se uma vez por ano, na época seca...para dar e levar porrada.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de novembro de  novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16706: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (2) - Experiências gastronómicas (Parte II): Restaurante do Mato Cão: sugestões de canibalismo ("iscas de fígado de 'bandido' com elas"), "pãezinhos crocantes com chouriço" e... "macaco cão [babuíno] no forno com batatas a murro"!...

(**) Vd. poste de  7 de dezembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16808: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (5): o destacamento de Mato Cão - Parte I

(***) Vd. poste de  9 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16936: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (8): o comandante do destacamento de Mato Cão "travestido" de... mandinga

(****) Vd. poste de 11 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4321: Os Bu...rakos em que vivemos (9): No Mato Cão, com o Ten-Cor Polidoro Monteiro, em finais de 1971 (Paulo Santiago)

(*****) Vs. poste de 11 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4317: Os Bu...rakos em que vivemos (8): Estância de férias Mato de Cão, junto ao Rio Geba (J. Mexia Alves)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2364: O meu Natal no mato (5): Mato Cão, 1972: Com calor, muito calor, e longe, muito longe do meu clã (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, ex- Alf Mil Op Esp, Guiné, Dez 1971 / Dez 1973, CART 3492 (Xitole), Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e CCAÇ 15 (Mansoa):

Caros Luís, Carlos, Virgínio e Pessoal da Pesada

Antes de tudo o mais, desejo a todos um Santo Natal e um Feliz Ano Novo.

Podia escrever mais umas coisas nestes votos de Boas Festas, mas parece-me sempre que não acrescentam nada!

Bem, quem me conhece sabe que eu sou um gajo maníaco da família! Sou o nono e mais novo filho de uma família que neste momento já deve rondar, (descendentes dos meus pais), assim umas 140 pessoas, incluindo os aderentes, claro!

Isto para dizer que o Natal sempre representou muito para mim e que foi preciso vir a tropa para me tirar o Natal em família.

Como já escrevi anteriormente e foi publicado aqui na Tabanca, o primeiro Natal fora de casa, foi passado a bordo do Niassa, já no Golfo da Guiné (1). Foi uma coisa irreal, da qual eu não me apercebi bem!

Mas o Natal de 1972 foi passado no Mato de Cão! (2) Vês, Beja Santos, eu passei lá o Natal! Não sabes o que perdeste! Estou a gozar, claro!

Longe da família, longe dos meus camaradas que tinham ido comigo, para a Guiné, da CART 3492 e a adaptar-me ainda às minhas novas funções de comandante do Pel Caç Nat 52, a coisa não foi fácil.

Não tínhamos luz eléctrica, mas tínhamos uma arca frigorifica a petróleo. Vivíamos debaixo do chão, mas tínhamos um tecto de estrelas. Não tínhamos a família connosco, mas tínhamos a amizade, a camaradagem que nos unia.

E tínhamos outra coisa, que foi a que me fez mais confusão: calor, muito calor.Por muito que eu quisesse pensar em Natal, o raio do calor desmentia que fosse Natal.

Habituados à Europa e ao Natal da neve, (embora em Portugal não a tivéssemos), aquela coisa do calor estragava qualquer Natal!

Foi assim difícil entrar no espírito de Natal, o que apesar de tudo acabou por ser bom, pois amenizou as saudades e a tristeza

Lembro-me que fiz um qualquer cartaz para colocar na, (nem sei como lhe chamar), sala de refeições (?), que devo ainda ter guardado em qualquer lado, e que o mesmo era muito infantil, talvez a chamar as reminiscências dos Natais em criança, o regresso às origens!

Bebeu-se o que havia e não havia, houve algumas lágrimas e o Natal passou!

Recordo-me, ou talvez não, que ao princípio da noite de 24 para 25, houve um qualquer ameaço de sarrafusca, mas que se veio a revelar falso.

Como hoje em dia se diz, e que não quer dizer nada: Foi o Natal possível!

Bom Natal para todos, sobretudo para aqueles em quem as marcas da guerra, sejam elas quais forem, permanecem marcadas.


Abraço camarigo do

Joaquim Mexia Alves
Termas de Monte Real
Monte Real, Leiria
Tel: +351 244 619 020
fax: +351 244 619 029
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Notas dos editores:

(1) Vd. post de:

12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

Vd. também o post de 15 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2179: Fado da Guiné (letra original de Joaquim Mexia Alves)

(2) Sobre o Mato Cão:

25 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1997: Álbum das Glórias (22): O Alf Mil Pires, cmdt do Pel Caç Nat 63, em Mato Cão, na festa do meus 24 anos (Joaquim Mexia Alves)

6 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1927: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (54): Ponta Varela e Mato Cão: Terror no Geba

2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)