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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8590: BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67): 16 Mortos e 6 desaparecidos em combate (Santos Oliveira)




Guiné > Região de Quínara > BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67) > Mortos e desaparecidos em combate...

Contribuíu o BCaç 1860, durante a sua permanência em terras da Guiné, com a vida e o sangue dos seguintes militares, para quem vai a mais respeitosa homenagem e o agradecimento da Nação:

12Ago65, Fur Mil Júlio Lemos P Martins;
12Ago65, 1º Cabo Inácio Freitas Ferreira;
30Set65, Sold Aníbal A Pires;
18Out65, Sold Diogo A Neves;
01Nov65, Sold Manuel A A Nobre;
18Mar66, Sold Alberto T Silva;
11Mai66, Sold Julde Mané;
25Ago66, Sold José Maria F Carvalho;
25Ago66, Sold Francisco António Lopes;
06Out66, Alf Mil Carlos Santos Dias;
29Dez66, Sold Malan Sambú;
15Jan67, Sold António C do Nascimento;
16Jan67, Sold Saliu Djassi;
16Fev67, Sold Alberto Samba;
01Mar67, 1º Cabo José Félix Lopes;
04Abr67, Furr Mil Rui Palmela Mealha.

Desaparecidos em Combate, em 07Out65, durante a Op Lenda (**):

Alf Mil Vasco Nuno L de Sousa Cardoso;
1º Cabo Fernando de Jesus Alves;
Sold Armando Leite Nascimento;
Sold José Ferreira Araújo;
Sold José Vieira Lauro [, e não Louro, como certamente por lapso consta no documento acima; natural do concelho de Leiria, foi feito prisioneiro pelo PAIGC, levado para Conacri, e entregue em Dacar à Cruz Vermelha Internacional, mais tarde, em Março de 1968]; (***)
Sold Armando dos Santos.

Imagem digitalizadas (e legendas): © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados.

Fonte: História da unidade, conforme documentos digitalizados pelo nosso camarada Santos Oliveira (2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66). Material em arquivo, enviado pelo Santos Oliveira  por mail em 2008 (*)... Desconhece-se o autor das ilustrações. (LG)

Sobre os seis desaparecidos em combate, vd. poste P2026 (**).

 [Edição de imagem, legendagem e título: L.G.]
_______________

Notas do editor:


(**) Vd. poste de 4 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2026: Antologia (61): Rumo a Fulacunda: uma estória que ficou por contar ou a tragédia das CCAÇ 1420 e 1423 (Rui Ferreira)

(***) José Vieira Lauro: o seu nome também consta da lista dos ex-prisioneiros de guerra a quem foi atribuída a pensão a que se refere o art. 4º do Decreto-Lei nº 170/2004, de 16 de Julho.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15375: Inquérito 'on line' (17): Um maioria relativa (n=13) admite que se fazia batota com as causas das nossas baixas (combate, acidente ou doença)... Num total de 25 respostas, há 10 que respondem não saber ou ter opinião... O prazo termina 5ª feira, 19, ao meio dia.

I. A questão, pertinente e oportuna, foi levantada pelo António Duarte, a propósito das baixas do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (*)...


[Manuela Castelo, viúva de um oficial pilav, morto em combate: julgamos tratar-se do cap pilav Fernando José dos Santos Castelo, piloto de heli AL III, morto em Moçambique, em 7 de Março de 1974. Foto da rodagem do filme "Quem vai à guerra", de Marta Pessoa, Portugal, 2011. Cortesia da realizadora. Vd. poste P8288].


Na CCAÇ 12, por exemplo, também se chegou a usar o truque de "mascarar" erros ou desastres nossos para "limpar" a honra da caserna ou escamotear a responsabilidade de graduados... O primeiro morto que teve a CCAÇ 12, "em combate", foi o sold Iero Jaló, no decurso da Op Pato Rufia, em 8/9/1969... No relatório da operação, lê-se em síntese o seguinte:

(...) quando o Dest A [, CCAÇ 12,] tinha iniciava a progressão en linha em direção ao acampamento IN, foi alvejado por duas rajadas de pistola-metralhadora que deram o sinal de alarme, começando as NT a ser batidas imeditamente por fogo de lança-rockets e armas automáticas a que reagiram prontamente. Foi nessa altura que um dilagrama, ao ser descavilhado, rebentou à boca da arma, por deficiência da alavanca de segurança, tendo atingido o prisioneiro Malan Mané (...) e o Soldado Iero Jaló (...) que o conduzia e que teve morte quase instantânea. Entretanto já tinham sido feridos o 1º Cabo Mateus (...) com um tiro no joelho e dois picadores da milícia [do Xime]. (...)

Técnica e legalmente, esta baixa foi "em combate". Mas a  causa (material) da morte do Iero Jaló (e dos ferimentos graves no prisioneiro Malan Mané) foi o nosso dilagrama e não o fogo IN... E o que o relatório não diz é que, quem empunhava o dilagrama, não era o seu habitual apontador, mas um graduado...

Prafraseando o ditado popular, "erros de médico e calceteiro, a terra os cobre"... Neste caso, com a ajuda do cronista que fez a história da CCAÇ 12...

Achamos que, em geral, não manipulávamos os números das baixas... Das "nossas" baixas... Era preciso ter lata de mais para esconder mortos e feridos... Já quanto ao número das baixas infligidas ao IN (guerrilheiros e elementos pop), aí podia haver alguma fanfarronice e arbitrariedade... Havia a distinção entre baixas (mortos e feridos) "confirmadas" e "estimadas"... Exageravam-se os "indícios"...

O PAIGC, por seu turno, também usava e abusava dos números... Em qualquer guerra, todos os comandantes querem ficar bem na fotografia... O capitão quer chegar a major, o major a tenente coronel, o tenente coronel a coronel... E havia milicianos também a fazer "batota", quando se substituíam ao capitão...

Já na contabilidade dos feridos (graves ou ligeiros), podia também haver alguma "batota"... A apreciação da gravidade podia ser sujetiva, não havendo a maior parte das vezes um médico ali ao lado. De um modo geral, um ferido grave tinha de ser evacuado para o HM 241, em Bissau. De heli, evacuação Ypsilon...

Por outro lado ainda, havia a tropa de primeira e a de segunda (classe)... Um milícia nosso ou do PAIGC não era a mesma coisa para efeitos de contabilidade final... Ou um assalariado civil, utilizado pelas NT (carregadores, guias, etc.).

Mas o problema, nalguns relatórios de operações e histórias de unidades, são as causas das baixas: casos de presumível suicídio e homicídio eram sempre tratados como "acidentes com arma de fogo"... Era preciso salvar a honra (e o moral) da tropa...

A doença, por seu turno, não tem nada a ver com a guerra... A doença é sempre "por causas naturais"... Tal como o acidente, que tende a ser  visto de maneira redutora: "falha técnica" ou "erro humano"...

Julgamos que os critérios eram ambíguos nos outros casos: o que era um morto ou ferido em combate ?... E os desaparecidos ? E os "retidos" pelo IN ?

Percebe-se que a questão levantada pelo António Duarte, e já aqui debatida por alguns camaradas, dá "pano para mangas"... Mas temos que ser cautelosos: nada de generalizações abusivas... Como em tudo, houve casos e casos...

II. Há um camarada que só assina por Mendes, e que pode ter pertencido à FAP, que escreveu o seguinte comentário ao poste do António Duarte (*):

(...) Estava legislado que: "Morte em Combate" é a que ocorre por acção directa ou indirecta do inimigo. Vamos a exemplos concretos:

- acidente de viatura deslocando-se ou não para zona de operações: morte por acidente;

- morte ao manipular a arma individual: morte por acidente;

- morte ao montar uma mina: morte por acidente;

- morte ao levantar mina IN: morte em combate;

- afogamento no decurso ou não de uma operação: morte por acidente:

- morte provocada por fogo directo ou indirecto IN, independentemente do lugar onde se registou: morte em combate;

- morte provocada por fogo amigo reagindo a contacto IN: morte em combate (...)


Era bom  tentares saber qual era essa legislação, meu caro Mendes...


III. A resposta ao inquérito de opinião pode ser dada, pelos nossos camaradas, até 5ª feira, dia 19, até ao meio dia.. Podem responder, diretamente, no canto superior esquerdo do blogue, antes de irem ao almocinho da Tabanca da Linha, que é nesse dia... 

Esperamos que se tenham inscrito a tempo... os de Lisboa e arredores, incluindo o Juvenal Amado que agora vem mais vezes à capital: neste caso, para tratar e começar a falar do seu livro, a ser apresentado oficialmente em 23/1/2016 (tem por sugestívo título "A tropa vai fazer de ti um homem", e vai ser publicado pela Chiado Editora).

Um abraço fraterno para todos/as.

Os editores, Luís Graça e Carlos Vinhal


IV. Seleção de mais dois comentários ao poste P15355 (*):


(i) António J. Pereira da Costa:

(...) A História do BArt 38753, ao qual pertenci, está escrita com certa fantasia. Há várias imprecisões entre as quais a data da minha apresentação no Xime que surge dois meses depois de ser ter efectivado. Não será importante, mas dá uma ideia da "ligeireza" com que foi escrita. 

Não sei quem "escreveu" a História da Unidade, mas sei que, às vezes, não havia intenção de branquear nada, mas antes o querer despachar "aquele dever" chato e sem interesse. No fundo quem viesse atrás que fechasse a porta que nós embarcamos para a semana. No fundo, que importava se o tipo morreu em combate ou por acidente. Morreu e pronto. 

Lembro que a CArt 3494 teve um morto em combate e três por acidente no Rio Geba. Tenho ideia que ninguém morreu, por doença, mas que houve vários feridos ligeiros na emboscada na Ponta Coli, em abril de 72.

Morreu, além disso,  um milícia no Enxalé, em combate, durante um ataque com armas pesadas. (...)

(iii) José Marcelino Martins:

Sobre a guerra, a morte e as suas causas, muito há, ainda, para contar.Infelizmente.

V. INQUÉRITO DE OPINIÃO: 

“FAZIA-SE BATOTA COM AS CAUSAS DAS NOSSAS BAIXAS (COMBATE, ACIDENTE, DOENÇA)"

1/2.Sempre ou quase sempre / Muitas vezes  > 9 (36,0%)

3. Algumas vezes  > 4 (16,0%)

4/5. Poucas vezes /5. Nunca ou raramente > 2 (8,0%)

6. Não sei / não tenho opinião  > 10 (40,0%)

Votos apurados: 25 

Encerramento: 5ª feira, dia 19, às 12h25

____________

Notas do editor:

(*) Vd, poste de 12  de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15355: Direito à indignação (13): "Estou a escrever este texto atabalhoado e a sentir raiva pela forma manipuladora da síntese das baixas do meu batalhão" (António Duarte, ex- fur mil, CART 3493 / BART 387 3, e CCAÇ 12, 
1971/74)

(...) Perguntas-me se o BART 3873 só teve, efetivamente, dois mortos em combate, sendo um deles milícia..... Esta "manipulação" dos números é curiosa. Efetivamente convinha apresentar um baixo número de mortos em combate. (...)

(...) da CART 3493, que inicialmente esteve em Mansambo e depois foi para Cobumba, situação que melhor conheço, por ser a minha primeira companhia, há quatro baixas. (...)  O alf António Jorge Abrantes, deslocado para as companhias africanas, foi nomeado comandante de um pelotão independente. Fruto de uma discussão com um soldado africano, foi "varrido" com uma rajada de G3. (...). Em outubro de 73, morrem em Cobumba dois elementos. Um soldado que não me recordo o nome e o furriel Francisco Galiano, de Évora, vítimas do rebentamento de uma mina anticarro, levantada de manhã e que por acidente rebentou na arrecadação. A versão oficial era que a mina teria dispositivos retardadores. Provavelmente treta. O rebentamento ocorreu porque alguém fez algo que não devia. 

Por último já em janeiro de 74, morre o furriel Manuel João Roque Trindade ,em Bissau, vítima de uma manobra pouca prudente com uma camioneta, por parte de um condutor. Estava a companhia nessa altura a fazer segurança nos arredores de Bissau. Curiosamente foi ele que levantou a mina que estoirou em outubro e matou dois camaradas. Era de operações especiais, do 1º turno de 71, corajoso, generoso e o campeão dos levantamentos de minas (pessoais e anticarro).

Enfim, sabemos que a estatística é uma ciência "elástica" que dá para tudo. O correto era fazer uma síntese, arrumando as baixas do batalhão com as causas associadas e assim tudo seria mais transparente. Destas quatro mortes, só uma é por acidente de viação, mas claramente em serviço. (...)

(**) Último poste da série> 7 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15338: Inquérito 'on line' (16): Para 42% dos respondentes (num total de 69), "100 pesos" era de facto dinheiro, era bastante patacão... Segundo a Companhia Seguros Douro, que oferecia na época um "seguro militar", cobrindo o risco de morte ou de incapacidade (total ou parcial) em teatro de guerra, cem contos (pouco mais de 28 mil euros, hoje) era quanto podia valer a vida de um herói!

domingo, 22 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

1. Continuação do relato do Paulo Santiago, sobre o encontro, realizado ontem, na Maia, com o António da Silva Batista (na foto, ao lado) (1):

(v) A vida em Madina do Boé


Havia uma relativa liberdade,para os prisioneiros, na zona de Madina do Boé, tanto assim era que um deles, em Março de 74, conseguiu fugir e, acompanhando a margem do Corubal, acabou por chegar ao quartel no Saltinho.

Souberam do 25 de Abril através de informação dada pelos guerrilheiros, continuando, apesar daquele acontecimento, a viverem nas mesmas condições. Havia o caso do Cap Peralta, preso em Portugal,e a libertação deles estava dependente da libertação daquele militar cubano.


(vi) A liberdade chega em Setembro de 1974


Um dia em Setembro de 74, não sabe precisar a data certa, meteram-nos num camião, sem os informar ao que iam, levando-os para Aldeia Formosa (Quebo). Chegados aí, aperceberam-se que o cativeiro tinha acabado, ao verem vários oficiais do Exército Português juntos com comandantes do PAIGC.

Ressalvo, dos sete prisioneiros, o oitavo fugira em Março, o Batista era o único oficialmente dado como morto,os outros tinham sido dados como desaparecidos em combate, ou em poder de (ou capturados por) o IN.

Quando chegou a Lisboa, pagaram-lhe dezoito mil escudos mas, atendendo aos vinte e sete meses de cativeiro (desde Abril de 1972 a Setembro de 1974), deveriam ter-lhe pago vinte e três mil escudos.


(vii) Uma mãe em estado de choque


Chegou ao Porto no dia 17 de Setembro de 1974, à noite. Nesse dia de manhã, alguns oficiais do QG tinham ido preparar a mãe, para a iminente chegada do filho, cuja campa, quase todos os dias, visitava no cemitério de Crestins.

Disse-me o António Batista:
- A minha mãe estava completamente apanhada, entrei em casa,estava sentada, continuou na mesma posição, não disse uma palavra, olhava para mim com uma cara de imenso espanto. Foi muito dificil para mim.

Começaram, de seguida, os problemas burocráticos. Documentos não tinha, ou melhor, tinha uma Certidão de Óbito com o seu nome.


(viii) O único que o ajudou foi o Corvacho [, o antigo capitão do nosso Zé Neto, em Guileje]


Teria que ir a Lisboa, andar de repartição em repartição para resolver todos os problemas. Conseguiu falar pessoalmente com o Comandante da Região Militar Norte, o Eurico Corvacho (2), de quem diz ter sido a única pessoa que mais o auxiliou naquela fase complicada da sua vida, conseguindo inclusive que ele recebesse os cinco mil escudos que o Exército lhe ficara a dever, quando da sua chegada.

Precisava de ir a Lisboa, ía ao QG ter com o Corvacho, ele mandava passar uma Guia de Marcha para Lisboa, ficando instalado no Depósito Geral de Adidos, os dias necessários para tentar resolver a sua situação.

Tinha inclusive, facilidades de transporte militar, em Lisboa. Do seu antigo comandante de batalhão[, o BCAÇ 3872, com sede em Galomaro, sector L5 da Zona Leste] nunca teve uma palavra e, pelo que me apercebi, das duas vezes que esteve com o Lourenço [, o antigo capitão da sua companhia, a CCAÇ 3490], este também não lhe deu qualquer apoio. Como eu disse no início, é um homem humilde, sem rancores e, sendo assim, cagaram-se - é o termo - para os problemas do homem.

Andou nestas idas e vindas para Lisboa durante alguns meses, até ter de novo documentos que o davam como vivo e válido.



O ex- Alf Mil Médico Alfredo Pinheiro de Azevedo, em 1972 e hoje







Fotos: © Álvaro Basto (2007). Direitos reservados.


O Álvaro Basto tem uma questão pertinente (3). No dia da emboscada, ele e o Alf Mil Médico Azevedo, que prestava assistência no Xitole e no Saltinho, foram a este último quartel, afim de passarem as respectivas Certidões de Óbito. O Dr Azevedo, apesar das insistências do Lourenço [, capitão da CART 3490], recusou-se a passar certidões daqueles corpos carbonizados e desmembrados.

Pergunta o Álvaro e agora também eu pergunto:
- Quem assinou as ditas certidões?



O Fur Mil Enf Álvaro Basto, em 1972 e hoje.





Fotos: © Álvaro Basto (2007). Direitos reservados.


Por sua vez, o António Batista é assaltado por uma outra perplexidade:
- Tenho desde 6ª feira outra dúvida - diz-me ele – Um conterrâneo meu, da Maia, António Oliveira Azevedo, ía também a monte na GMC, tendo sido dado como desaparecido em combate. Nunca apareceu. Acontece que, de Maio a Agosto [de 1974], tempo que ainda permaneci no Saltinho, jamais ouvi falar em terem sido dados como desaparecidos em combate qualquer dos militares que iam na GMC. Nunca os meus FurMil Mário Rui e Dinis, assim como os meus primeiros Cabos Cosme e Pina, que fizeram a recolha dos corpos, me falaram no Soldado Azevedo.

Aquilo que se dizia era que o Batista - este viram-no ser apanhado ! - devia ter sido dado como desaparecido em combate, situação a que o Lourenço se tinha oposto. O Cosme continua a não se lembrar deste facto, infelizmente, neste momento,não tenho o contacto do Mário Rui e o Dinis é da Terceira, Açores. Também não tenho qualquer contacto dele e o Pina, por sua vez, morreu há um ano. Terei que deslindar esta dúvida por outros meios.

Agora vem o meu sentimento da mais profunda revolta. Há uns dez anos, por motivos relacionados com a reforma, o António Batista pediu uma 2ª via da Caderneta Militar. Nesta consta o seguinte: incorporado em Julho de 1971 no RI 13 em Vila Real, passando à disponibilidade em Novembro de 1974.

Filhos de puta! ... Onde está a ida para a Guiné? Onde estão os 27 meses do Batista como prisioneiro de guerra? Apagaram quase 4 anos da sua vida. Verdadeiramente lamentável.


No consulado do Ministro Portas, o Batista fez uma exposição sobre a sua situação de ex-combatente e prisioneiro de guerra. Até hoje não teve qualquer resposta.

Paulo Santiago
(Ex-Alf Mil, Cmdt do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72)

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1983: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (1) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

(2) Vd. posts de:

24 de Fevereiro de 2006 >Guiné 63/74 - DLXXVIII: Corvacho, um homem com honra (João Tunes)

23 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXVII: Corvacho, um capitão de Abril
(A.Marques Lopes)


23 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXVI: O meu capitão, o capitão Corvacho da CART 1613 (1966/68) (Zé Neto)


(3) Vd. post de 26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1888: Tabanca Grande (19): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf, CART 3492/BART 3873 (Xitole, 71/74)

(...) "Eu também estive no Quirafo.. .Já só fui ajudar a identificar os mortos nos balneários do Saltinho. Fui de heli com o médico Dr. Azevedo (se não me engano, que isto da memória às vezes prega-nos partidas)... E imaginem como fiquei ao ler os relatos e testemunhos que aqui foram deixados sobre esse fatídico dia de Abril... Recordo sobretudo e infelizmente o Armandino e os pormenores mais macabros que me levaram a perder o sono durante muito tempo e a recorrer, de forma quase viciante, às diazepinas (valiuns) para dormir e sossegar a mente e o medo...

"Quando após o 25 de Abril leio, uma bela manhã, na primeira página do Notícias do Porto a reportagem do morto que, afinal, estava vivo, a visitar a sua campa no cemitério de S. Mamede Infesta com a namorada que afinal já tinha casado com outro porque se julgava livre, imaginem como fiquei!... Era mesmo o tal transmissões que foi alapando na emboscada do Quirafo. Durante anos guardei a reportagem do jornal mas acabei por deitá-la fora numa dessas minhas alucinadas crises de arrumação compulsiva... Como lamento hoje" (...).

sexta-feira, 11 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7929: Notas de leitura (216): Grande Reportagem, nº de Dezembro de 1993: Desaparecidos em combate, os portugueses que não voltaram da guerra: o caso do Victor Capítulo, da CART 1743, Tite, 3 de Fevereiro de 1968 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Março de 2011:


Queridos amigos,

Nas minhas arrumações, encontrei este número da revista Grande Reportagem, tanto quanto me ocorre daquilo que leio diariamente no blogue ainda não se falou desta reportagem e da história do nosso camarada Vitor Capítulo (*), um dos libertados da operação Mar Verde.

Um abraço do  Mário

2. Do lado de cá, julgaram-no morto

por Beja Santos 

A revista Grande Reportagem, no número de Dezembro de 1993 tinha uma capa bem expressiva:
“Desaparecidos em combate, os portugueses que não voltaram da guerra”.

O texto era assinado por Fernanda Pratas, assim apresentado:

“Ficar sem um filho na guerra é uma mágoa que não se pode dizer. Muito menos em números, o mais absurdo dos instrumentos para traduzir a tortura de uma ausência forçada. Mas não é de paixões da alma que tratam as instituições. Para as Forças Armadas portuguesas, há um balanço da guerra colonial: 13 anos de campanhas de África, 8807 mortos, 30 000 deficientes. Os restantes 800 000 voltaram vivos e bem de saúde. Tudo resolvido, portanto. De uns, resta encomendar a alma e oferecer medalhas póstumas às crianças, a lembrar que o pai foi herói ao serviço da Nação. Aos estropiados, ajudas financeiras, a assistência do costume. E os outros? Quais outros? Desaparecidos? Isso não há, garantem. Dos nossos, ninguém ficou sem destino. Muitas famílias nunca viram os seus mortos, não têm mesmo a certeza se morreram. Mas que importa?”.

E sucedem-se algumas histórias. António Dias Neto, primeiro grumete da Armada, da Companhia de Fuzileiros nº 7, desapareceu no Rio Zaire. Não deram com o corpo, nem o dele nem o de dois companheiros. Comunica-se à família enlutada, aliás já em decomposição, os pais vão morrer poucos anos depois. Resta Edite, a irmã. Ainda se lutou pela pensão de sangue, os pais dependiam daquele rapaz de 23 anos. A namorada do desaparecido casou.

Desaparecido é sempre uma situação incómoda: prisioneiros, perdidos, desertores e mais algumas situações exóticas. A lógica militar é bastante linear ou quase: da guerra só resultam sobreviventes e cadáveres. Lidar com a situação de um desaparecido é bastante incómodo, nada comparável com um morto em combate ou um morto por acidente.

O escritor João de Melo, que foi Furriel Enfermeiro entre 1971 e 1973, refere-se a uma missão bem espinhosa que coube à sua Unidade: recuperar o corpo de um homem morto uns sete anos antes, enterrado no mato pelos colegas:

“Havia cartas militares com o lugar assinalado, mas a operação era para durar três dias e durou oito. Andámos perdidos, já sem ração de combate. Depois, lá descobrimos umas marcas em árvores, umas pedras no chão, era como que uma caça ao tesouro. Ao longe, víamos o Zaire e os movimentos da FNLA. Desenterrámos então um monte de ossos, sem botas nem roupas, só os ossos. Trouxemo-los para o nosso aquartelamento em sacos de tenda, lavámo-los e foram metidos dentro de uma urna selada, para a família. Esses casos não eram frequentes, normalmente não se deixavam os cadáveres no mato”.

A reportagem prossegue com o desaparecimento do Capitão Piloto-aviador Hugo Assunção Ventura, desaparecido sobre o rio Rovuma. Houve um patrulhamento no rio Rovuma, o T6 desapareceu, conforme depoimento do Furriel Semedo. Um mês depois do desaparecimento, veio da capital da Tanzânia a notícia de um avião encontrado junto ao rio. Em Fevereiro de 1976, chegou ao aeroporto da Portela uma caixa com o que restaria do cadáver: uma bota, uns ossos indistintos, bocados de tecido da farda e do lenço habitual dos pilotos. Sem crânio, não era possível determinar a identidade.





Victor Capítulo, o desaparecido que voltou

E estamos chegados à história de Victor Manuel de Jesus Capítulo, na altura da reportagem com 48 anos. Cá, foi dado como morto, mas voltou e deslumbrou a família. Antes da tropa era pescador em Sesimbra. Em 1967 viajou no barco Timor até à Guiné. Foi colocado na região de Tite [, na CART 1743]. A sua vida mudou na noite de 3 de Fevereiro de 1968, o seu quartel foi atacado, o Victor não se apercebeu do que estava a acontecer, apareceu-lhe pela frente um guerrilheiro que apontou uma arma aos três militares que estavam junto do aparelho da rádio (ele, o Operador de Cripto e o Comandante do Pelotão) cumprimentou-os e levou-os.

Depois de uma longa viagem foi levado para uma prisão em Kíndia, depois para Conacri, será aqui que Victor Capítulo irá conhecer o então Sargento Piloto-aviador Lobato. Serão todos libertados na Operação Mar Verde. Um oficial foi entregá-lo à família a Sesimbra. A reportagem mostra o Victor Capítulo na Guiné e agora (1993) em Sesimbra. À data da reportagem, o Victor dormia mal e precisava de acompanhamento médico. Não é fácil lidar com uma captura, ser interrogado, não saber o dia de amanhã. O Victor foi aquele desaparecido em combate que voltou e quebrou com uma mágoa que não se podia dizer.

Este número da revista Grande Reportagem passa a pertencer ao blogue. (**)
____________

Notas de CV:

(*) A captura do Victor e demais camaradas (António Júlio Rosa e  Geraldino Marques Contino)  já aqui foi objecto de "tratamento bloguístico", sob o poste de 12 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2095: PAIGC - Propaganda (3): A guerra dos números (A. Marques Lopes / António Pimentel)

(...) Excerto da notícia da captura do António Júlio Rosa e de mais 2 dos seus camaradas (Jornal Libertação, Fevereiro de 1968, página 3):

(…) Na área de Quínara (Frente Sul), no dia 3 de Fevereiro [de 1968], no decurso de um ataque a uma unidade colonialista que se instalara na tabanca de Bissássema, as nossas forças, comandadas pelos camaradas Fokna Na Santchu e Mamadu Mané, fizeram prisioneiros os seguintes militares portugueses: alferes miliciano de infantaria António Júlio Rosa, 1º cabo nº 093526/66, Geraldino Marques Contino, o soldado nº 034660/66, Victor Manuel de Jesus Capítulo, todos da companhia 1743, estacionada em Tite.

Nesta acção foram ainda postos fora de combate 16 soldados colonialistas. O restante da tropa inimiga fugiu para o campo fortificado de Tite, abandonando no terreno uma importante quantidade de material, entre os quais se contam 6 rádios de campanha de fabricação britânica.

De acordo com as normas do Partido, estes novos prisioneiros portugueses receberão o tratamento humano que lhes é garantido pelas convenções internacionais (...).



(**) Vd. último poste da série de 10 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7920: Notas de leitura (215): Jardim Botânico, de Luís Naves (2) (Mário Beja Santos)

sábado, 30 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10092: No passado dia 28 de Maio os Estados Unidos comemoraram o Memorial Day, honrando assim os seus heróis

1. Embora um pouco desfasado no tempo, por sugestão da nossa amiga tertuliana Filomena Sampaio, deixamos aqui, para ler com calma no fim de semana, este artigo de autoria do jornalista Eurico Mendes.



Memorial Day

Esta segunda-feira, 28 de maio, os EUA comemoraram o Memorial Day (Dia da Memória), honrando os seus militares mortos na guerra. Assinalado a primeira vez em 1860 com o nome de Decoration Day e honrando os soldados da União mortos na Guerra Civil, o Memorial Day é dedicado hoje aos mortos de todas as guerras e feriado nacional desde 1971, numa espécie do Dia dos Fiéis Defuntos em Portugal, que pouco se preocupa com os seus veteranos vivos, quanto mais mortos e não tem nenhum feriado semelhante.

Da Guerra da Independência à atual Guerra do Afeganistão, muitos portugueses ou seus descendentes pegaram em armas pelos EUA e alguns figuram na lista dos 1.529.230 mortos que os EUA sofreram até hoje na guerra. Na Murtosa, distrito de Aveiro, estão por exemplo sepultados três filhos da terra mortos em guerras dos EUA: Manuel Evaristo, II Guerra Mundial; Manuel Branco, Guerra da Coreia e Jack Rebelo, Vietname.

Logo na primeira guerra, a Guerra da Independência também conhecida como Revolução Americana (1775-1783), morreram portugueses.

Da tripulação do primeiro navio da Continental Navy precursora da US Navy, o Bonhome Richard que o rei Louis XIV de França ofereceu aos nacionalistas, faziam parte 28 portugueses recrutados por John Paul Jones no porto francês de L’Orient e onze morreram no histórico combate com o navio inglês Serapis. A história guarda também o nome de Joseph Diaz (José Dias), baleeiro que se fixou em 1770 na localidade de Tisbury, ilha de Martha’s Vineyard, vindo provavelmente dos Açores. Casou em 1780 com uma rapariga da terra e aderiu à causa revolucionária. Capturado pelos ingleses em 1780, foi mandado para Inglaterra, mas foi libertado e regressou à ilha em dezembro desse ano; voltou a cair prisioneiro em 1781 e desta vez morreu a bordo do navio inglês Jersey. Uma das primeiras baixas da Guerra da Independência foi Francis Salvador ou Francisco Salvador, nascido em 1747 em Londres, numa rica família judaica portuguesa oriunda de Tomar e que escapara à Inquisição fugindo para a Holanda e depois para Inglaterra.

O bisavô de Francisco, José Salvador, foi diretor da Companhia das Indias e adquiriu por duas mil libras 405 km2 de terras na Carolina do Sul, que o bisneto veio ocupar em 1773. A mulher de Francis, Sarah Salvador era também uma das herdeiras dos 810 km2 de terras da família Mendes da Costa. O jovem luso-descendente foi eleito deputado pelo distrito 96 ao Congresso Provincial (independentista) e morreu em 31 de julho de 1776 em combate com os índios Cherokees, que os ingleses tinham armado para fazerem frente aos colonos.

Salvador cavalgou a Carolina do Sul a alertar os colonos dos ataques dos índios e ficaria por isso conhecido como o Paul Revere do sul. Em Charleston foi descerrada há anos uma placa a lembrar que Francis Salvador foi o primeiro judeu a exercer um cargo político no território que viria a tornar-se os EUA e o primeiro luso-descendente, acrescente-se.

Na Guerra Civil (1861-1865), quando 11 estados do sul tentaram separar-se dos Estados Unidos da América e formar a sua própria união com o nome de Estados Confederados da América e cujo ministro da Defesa, Judah Benjamin, descendia de portugueses. Ao tempo, viviam nos EUA mais de 4.000 portugueses e um número maior de descendentes e muitos combateram dos dois lados.

A União sofreu 140.414 mortes e os Confederados 72.524 e alguns foram portugueses. Nesse tempo viviam na Louisiana algumas centenas de açorianos contratados para trabalhar nas plantações de açúcar e muitos combateram pelos Confederados. Em New York e do lado da União, seguindo o exemplo dos irlandeses, que formaram a Brigada Irlandesa, dos polacos com a Legião Polaca e dos italianos com a Legião Garibaldi, espanhóis e portugueses formaram a companhia Caçadores Espanhóis.

A Medalha de Honra do Congresso, o maior reconhecimento que um militar pode receber por feitos em combate, foi atribuída a um luso-descendente combatente da Guerra Civil, o cabo Joseph H. de Castro, do 19º Regimento de Massachusetts e natural de Boston, onde viviam ao tempo 500 portugueses. Distinguiu-se na batalha de Gettysburg, Pensilvânia, a 3 de julho de 1863. O soldado Frances Silva, nascido a 8 de Maio de 1876 em Hayward, CA, é outro luso-descendente Medalha de Honra. Era tripulante do USS Newark e teve comportamento heróico entre 28 de junho e 18 de agosto de 1900, durante a célebre Revolução Boxer, em Pequim.

Na I Guerra Mundial (1914-1918), perderam a vida 20.000 americanos e a primeira morte foi o luso-americano Walter Goulart, de New Bedford, onde existe um pequeno monumento em sua memória.

Na II Guerra Mundial (1939-1946), que provocou a morte de 292.000 americanos, perderam a vida dezenas de luso-americanos, um dos quais Charles Braga, a 7 de Dezembro de 1941, no ataque japonês a Pearl Harbor. Foi o primeiro residente de Fall River morto na guerra e dá hoje o nome à Ponte Braga sobre o rio Taunton.

Dois luso-descendentes mereceram a Medalha de Honra durante a II Guerra Mundial: o soldado Harold Gonsalves, da Califórnia, morto em combate a 15 de abril de 1945, em Okinawa e o paraquedista George Peters, de Cranston, Rhode Island.

Caso curioso o do sargento Harry B. Queen, de Onset, MA, cuja mãe, Mae Ávila, era filha de imigrantes açorianos. A 25 de janeiro de 1944, um bombardeiro B-24 pilotado por Queen desapareceu quando voava da China para a Índia e os oito tripulantes foram considerados desaparecidos em combate. Contudo, em 2007, decorridos 63 anos, os destroços do avião e os restos mortais dos tripulantes foram encontrados.

Na Guerra da Coreia (1953-1957), morreram 50.000 americanos, um dos quais o sargento Leroy A. Mendonça, natural de Honolulu e de ascendência portuguesa e filipina. Morreu a 4 de julho de 1951. Ficou a proteger a retirada de um pelotão e, até chegar a sua hora, abateu 37 inimigos.

Na Guerra do Vietname (ou Guerra Americana, segundo os vietnamitas), morreram mais de 58.000 americanos e só de Massachusetts e Rhode Island há 53 nomes portugueses no Vietnam Veterans Memorial existente em Washington. Um é o soldado Ralph Ellis Dias, nascido em 1950, em Shelocta, PA e detentor da Medalha de Honra do Congresso e várias Purple Heart. Alistou-se nos Marines em 1967, seguiu para o Vietname em 1969 e morreu em combate a 12 de novembro desse ano, na província de Quang Nam.

Nas modernas guerrras dos EUA no Médio Oriente tivemos a Operation Freedom 2001, com uma baixa portuguesa, Miguel Rosa; e Operation Freedom 2003, com quatro: Arlindo Almeida, David Botelho, Andrew Cunha e Diane N. Lopes. Os EUA estão presentemente empenhados em conflitos no Iraque (onde sofreram 4.474 mortes) e no Afeganistão (2.853 mortes). No Afeganistão morreram os seguintes luso-descendentes: Christopher Luis Mendonça, Jorge Oliveira, Carlos A. Aparício, Rafael P. Arruda, Anthony J. Rosa, Ethan Gonçalo, Francisco Jackson, Joaquim Vaz Rebelo, Scott Andrews, Robert Barrett e Chad Gonsalves. No Iraque, morreram Michael Arruda, Michael Andrade, Joseph M. Câmara, Charles Caldwell, Peter Gerald Enos, Todd Nunes, Brian Oliveira, Scott C. Rose, Humberto Timóteo e David Marques Vicente.

O cabo marine David Marques Vicente, 25 anos, integrava o 2º Batalhão da 1º Divisão de Marines. Foi morto em 2003 e está sepultado em Methuen, MA, onde nasceu e residem os pais, naturais de Lisboa. Dias antes do funeral, um familiar do malogrado jovem deslocou-se a New Bedford e pediu ao então cônsul de Portugal, Fernando Teles Fazendeiro, uma bandeira portuguesa para Vicente a levar no caixão. Embora tenha dado a vida pelos EUA, David Vicente levou a bandeira portuguesa no caixão.

Com a devida vénia ao jornalista Eurico Mendes do jornal de língua portuguesa dos Estados Unidos Portuguese Times

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2422: Quem terá sido o Camarada que ficou na campa do António Baptista? (Prisioneiros de Guerra) (Virgínio Briote)

Maia > Moreira > Cemitério local > Foto do Jornal de Notícias, edição de 18 de Setembro de 1974, mostrando o soldado António da Silva Batista, a visitar a sua própria campa.

A notícia do jornal era: "Morto-vivo depôs flores na sua campa". Na lápide pode ler-se: "Em memória de António da Silva Batista. Falecido em combate na província da Guiné em 17-4-1972".

A foto, de má qualidade, foi feita pelo nosso camarada Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CArt 3492 (Xitole, 1971/1973), com o seu telemóvel, na Biblioteca Pública Municipal do Porto, e remetida ao Paulo Santiago.

Foto: © Álvaro Basto (2007). Direitos reservados.
Legenda de Luís Graça.

Será que o António da Silva Baptista foi confundido com o Soldado António Oliveira Azevedo?

Pelo que lemos abaixo no Anexo B, tudo indica que sim.

Juntamos mais dois documentos ao processo do nosso Camarada António da Silva Baptista, o morto-vivo do Quirafo.

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1. Relatório da CCaç 3490


cópia do relatório da CCaç 3490, Saltinho, 21 de Abril de 1972

Exemplar nº…
CCaç 3490
Saltinho
210800ABR72

Anexo B (Relação do pessoal morto e ferido em combate) ao relatório de emboscada nº 03/72.

1.Causas que deram origem às baixas sofridas pelas NT

-Contacto com o IN na emboscada sofrida pelas NT no dia 17 de Abril de 1972, na
região do Quirafo (Contabane 9. B7-60).

i)Relação numérica e nominal dos militares, milícias e elementos da População
colaborantes com as NT, mortos em combate:



- Sr. Alf. Mil. Nº 00788271 – Armandino da Silva Ribeiro
- Furriel Mil. Nº 01142371 – Francisco Oliveira dos Santos
- 1º Cabo Radioteleg. Nº 08845271 – António Ferreira
- 1º Cabo A.P.Met. nº 14964771 – Sérgio da costa Pinto Rebelo
- Soldado nº 09334069 – António Marques Pereira
- Soldado nº 10665171 – Bernardino Ramos de Oliveira
- Soldado nº 10896771 – Zózimo de Azevedo
- Soldado nº 10998071 – António da Silva Baptista
- Soldado nº 11117671 – António de Moura Moreira
- Sargento Mil. Nº 044665 – Demba Jau
- Civil – Serifo Baldé
- Civil - Tijane Baldé

ii)Relação numérica e nominal dos militares desaparecidos em combate

- Soldado nº 11331671 – António Oliveira Azevedo

iii) Relação numérica e nominal dos militares, feridos em combate

- 1º Cabo Atirador nº 11549071 – Augusto Carlos Leite
- Soldado Atirador nº 10819171 – José Manuel de Barros Fernandes
- Soldado Atirador nº 10977271 – Manuel Hernâni Martins Alves Gandra
- Soldado Atirador nº 11060971 – Manuel da Costa Almeida
- Civil – Saico Seidi
- Civil – Cabirú Baldé

Assina pelo Comandante da Companhia (Dário Manuel de Jesus Lourenço, Cap. Mil. Inf.) o Alf. Mil. Alexandrino Luís F. (restante ilegível).


2. Nota do QG da R. Miltar do Porto, solicitando que fossem pagos ao António Baptista os vencimentos em atraso e que fosse definida com urgência a sua situação militar.





REGIÃO MILITAR DO PORTO
Quartel General
1ª Rep./1ª Secção

Distribuição:

- Chefe da Repartição do Gabinete / CEM
- Chefe da RSP /DSP/ ME
- Chefe da 1ª Rep./ EME
- Presidente da Comissão Liquidatária do CTIG (B.C.5)
- Comandante do RI 2
- Comandante do DGA

Assunto: Situação de um soldado regressado da Guiné

1. O soldado Atirador de Inf. nº 10998071 – António da Silva Baptista, foi mobilizado pelo RI 2/BCaç 3872/CCaç 3490 tendo seguido para a Guiné em 18 de Dezembro de 1971.
2. Em 17Abr72, quando em operações, sofreu uma emboscada de que resultou ter ficado prisioneiro pelo que foi levado para Konacri-República da Guiné.
3. Em 14Set74 foi entregue pelo PAIGC às autoridades militares portuguesas, em Bissau, tendo recebido guia de marcha para se apresentar no DGA.
4. Deu entrada no HMP para efeito de ser observado na clínica médica e, a seu pedido, por ficar mais próximo da terra da sua naturalidade, passou aser examinado no HMR em regime ambulatório, situação em que ainda se encontra.
5. Quando chegou à Metrópole teve conhecimento que estava dado como falecido e que havia sido sepultado no cemitério da freguesia de Moreira, concelho da Maia, uma ossada, em caixão fechado, como sendo a sua.
6. O referido soldado desde que foi feito prisioneiro (17-4-72) até à presente data ainda não recebeu os vencimentos a que se julga com direito.
7. Em face do que fica exposto, encarrega-me o Exmº Brigadeiro Comandante da Região, de solicitar às entidades a quem se envia a presente nota para que sejam tomadas as necessárias e urgentes providências que o caso requer, dado que se arrasta há já meses, designadamente quanto ao abono dos vencimentos a que o soldado tiver direito, e definição da sua situação militar.

À 1ª Rep./EME solicita-se a prestação da informação em relação às prvidências pedidas pela N/Nota nº 8547/A- Pº 1/1-MF de 19Set74.

O Chefe do Estado-Maior

Eurico de Deus Corvacho

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Notas de vb: Vd. posts sobre o António Baptista

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10486: Os Soldados não morrem, apenas tombam no campo de honra (2) (José Martins)

Todos fomos INFANTES: 
Infantes na Idade; 
Infantes no Esforço; 
Infantes no Combate; 
Infantes na Nobreza, 

Somos soldados mal-amados, não só depois de mortos, mas ainda em vida!

Monumento de homenagem AO VALOR DO INFANTE, em Mafra


Os que caíram pela Pátria!

Os soldados não morrem, apenas tombam no campo da honra!

Por José Martins

Terminada a invasão francesa e afastada que estava a possibilidade de nova investida estrangeira, a Família Real, acompanhada da Corte, continuava a sua estadia no Brasil, enquanto em Portugal o povo se interrogava sobre o seu destino: era uma “colónia” do Brasil e um “protectorado inglês”, já que cá quem “reinava”, em nome do monarca o oficial inglês, William Carr Beresford, depois 1.º Marquês de Campo Maior, acumulando o comando das forças do exército.

Em 1815 formou-se o "Supremo Conselho Regenerador de Portugal e do Algarve", integrando oficiais do exército e maçons, com o objectivo de “libertar Portugal do domínio inglês” e restaurar a salvação do país. Chefiados pelo General Gomes Freire de Andrade e Castro, foram denunciados em Maio de 1817, julgados e executados em 18 de Outubro. O General Gomes de Andrade no forte de São Julião da Barra e, os restantes, no Campo de Santana, hoje Campo Mártires da Pátria, em Lisboa.

Durante uma deslocação de Lord Beresford ao Brasil, onde foi solicitar ao monarca mais poderes, no regresso foi impedido de entrar no país. Em 24 de Agosto de 1820, reuniram-se no Campo de Santo Ovídio, no Porto, hoje Praça da República, grupos de militares que, depois de ouvirem missa e dar uma salva de artilharia como inicio do levantamento, reuniram-se na Câmara Municipal dando origem à “Junta Provisional do Governo Supremo do Reino”, constituída por representantes de militares, do clero, da nobreza, da magistratura, da universidade, do comercio e das várias províncias do norte, cujo objectivo primeiro era:
● O imediato retorno da Corte para Portugal, visto como forma de restaurar a dignidade da antiga Metrópole, deslocada para o Brasil; e
● A restauração da exclusividade de comércio com o Brasil.

No mês seguinte, a 15 de Setembro de 1820, um grupo de oficiais subalternos, apoiado pela burguesia e pelo povo, depõem os regentes e constituem um Governo Interino. A 28, os governos de Lisboa e Porto, unem-se numa única “Junta Provisional do Governo Supremo do Reino”, para organizarem a eleição de Cortes Constituintes. As Cortes reúnem-se em 30 de Janeiro de 1821, aprovando uma Constituição provisória e um Conselho de Regência, para governar em nome de Dom João VI.

O monarca deixa o Brasil em 26 de Abril e chega a Lisboa em 3 de Julho de 1821. O Brasil proclama a independência a 7 de Setembro de 1822 e no dia 23 desse mesmo mês, é jurada a Primeira Constituição Portuguesa.

D. João VI, quando regressou a Portugal, deixou como regente o seu filho D. Pedro, herdeiro da coroa portuguesa, que se tornou imperador de Brasil em 12 de Outubro de 1822. Entretanto o monarca, D. João, tinha nomeado a sua filha D. Isabel Maria de Bragança como regente do reino, na ausência do herdeiro e seu irmão.

Assim, à morte do monarca, a 10 de Março de 1826, D. Pedro IV assume a coroa portuguesa, mas dias depois abdica a favor da sua filha D. Maria da Glória, em 28 de Março de 1826, uma vez que, a constituição brasileira, lhe vedava a possibilidade de ser soberano de mais que um país. Para obviar a possibilidade de D. Miguel, seu irmão, reivindicar a coroa de Portugal, ficou assente que a sua filha casaria com o tio, tentando, assim, selar um armistício entre os partidos que, cada uma das figuras tutelava: liberais e absolutistas.

Independência ou Morte! do pintor paraibano Pedro Américo (óleo sobre tela, 1888) © Foto: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/40/Independence_of_Brazil_1888.jpg

A 23 de Junho de 1828, D. Miguel é proclamado Rei pelas Cortes Gerais do Reino. O novo monarca anula a Carta Constitucional e restabelece as antigas leis. O novo monarca é reconhecido pelo Vaticano, Espanha e Estados Unidos, enquanto as outras potências se mantêm na expectativa.

É exactamente nesse ano, de 1828, em que se comemoravam os 700 anos da Batalha de São Mamede, a primeira guerra civil portuguesa, que se inicia uma fase da nossa história, ligada à sucessão da coroa, que irá terminar numa nova guerra civil, que se prolongaria por quatro anos, envolvendo não só as ilhas atlânticas, mas estendendo-se, rapidamente, a todo o território nacional.

É perante este e outros acontecimentos que D. Pedro I, do Brasil, em 7 de Abril de 1831, abdica a favor do seu filho D. Pedro II, dirigindo-se para os Açores, onde irá formar exército para defender o direito ao trono de sua filha D. Maria. Nas ilhas dos Açores trava o Combate do Pico do Seleiro, ilha Terceira (4 de Outubro de 1828); a Batalha da Praia da Vitória, ilha Terceira (11 de Agosto de 1829); o Recontro da Ladeira do Gato, ilha de São Jorge (Abril de 1831) e o Combate da Ladeira da Velha, ilha de São Miguel (3 de Agosto de 1831).

Dos Açores parte para o norte do país, desembarcando na Praia dos Ladrões, rebaptizada como Praia da Memória, dando-se o Cerco do Porto (entre Julho 1832 - Agosto 1833), seguindo-se as Batalhas da Ponte Ferreira, freguesia de Campo, concelho de Valongo (23 de Julho de 1832); Batalha do Cabo de São Vicente (5 de Julho de 1833); a Batalha de Alcácer do Sal (2 de Novembro de 1833); a Batalha de Pernes (30 de Janeiro de 1834); de Almoster (18 de Fevereiro de 1834); de Sant’ana (24 de Abril de 1834) e da Asseiceira (16 de Maio de 1834).

A paz regressou ao reino com a assinatura da Convenção de Evoramonte em 26 de Maio de 1834, determinando o regresso ao trono da rainha D. Maria II, o exílio na Alemanha de D. Miguel e o fim da Guerra Civil Portuguesa.
Porém, esta guerra civil, marcaria o final de umas centenas de anos de nacionalidade, em que, no final de cada batalha, recolhidos que eram os corpos dos oficiais caídos em combate, ficavam os corpos dos soldados tombados no campo de batalha, aguardando não só serem “encontrados” pelos familiares, ou o habitual saque, especialmente aos estrangeiros, das populações próximas ou que se movimentavam atrás dos exércitos, mas que alguém lhes desse sepultura, que mais não era que uma vala comum aberta no local.

Esta guerra, a travada entre 1831 e 1834, foi a última em que este triste espectáculo aconteceu.
A partir desta altura, o campo de batalha mudou-se para África e Ásia, já que na América do Sul, o território brasileiro não era mais possessão portuguesa.

O estranho na situação de abandono dos corpos, tratando-se de corpos de militares, que mais não são do que “povo em armas em defesa da Mãe Pátria”, contrasta com a forma como, à época, as populações reagiram à lei, datada de 21 de Setembro de 1835 e assinada por Rodrigo da Fonseca Magalhães, que impunha a construção de cemitérios em campo aberto assim como a cobrança de taxas, e de tal forma “mexeu” com as populações que, uma dezena de anos depois de publicada, ainda não tinha sido implementada.

Um novo decreto, datado de 28 de Setembro de 1844, assinada por António da Costa Cabral, que vem reforçar a lei anterior de Rodrigo da Fonseca, reforçando não só a proibição do enterramento de defuntos nas igrejas, mas impondo o registo do óbito e a obtenção de licença sanitária para o depósito dos corpos nos cemitérios construídos a céu aberto, tendo de pagar despesas pelo funeral.

Revolta da Maria da Fonte 
© in A Ilustração v. II, pagina 71 

É daqui que resulta a Revolta da Maria da Fonte, iniciada em Fontarcada, uma freguesia da zona de Póvoa do Lanhoso, no Minho, e com forte participação feminina. O rompimento com uma tradição multissecular, só podia ser “obra do diabo”.

Os políticos não conseguem conter as crescentes manifestações populares, que já envolvem cartistas e setembristas, ou mesmo liberais e miguelistas, fazendo recuar aos problemas contemporâneos das Lutas Liberais, até que os militares passam à acção e se envolvem nas “contendas”.

Estes acontecimentos iniciam-se a 10 de Outubro de 1846 e, de golpe ou golpes, de revoltas, de intentonas, de alianças feitas e desfeitas, de convenções, de juntas governativas, tumultos e ameaças de intervenção estrangeira, falando-se, também, da abdicação da Rainha D. Maria II a favor de seu filho Pedro, futuro D. Pedro V, com a nomeação de um regente face à pouca idade do príncipe.

A Quádrupla Aliança assinada em 21 de Maio de 1847, formada pela Grã-Bretanha, Espanha e França e, logicamente por Portugal, vem sossegar os ânimos e, no cumprimento do articulado da mesma, a rainha D. Maria II, anuncia uma amnistia geral e promete cumprir com as condições do protocolo assinado.

Muitos nomes, de vários quadrantes políticos e militares, correm nas bocas de governantes ou governados, vindo tudo a acabar na Convenção de Gramido, assinada na Casa Branca do lugar de Gramido, em Valbom, Gondomar, em 19 de Junho de 1847, voltando a reinar no país a calma, pelo menos, aparente.

O apetite das potências europeias, dos finais de XIX, por África, alertou para a necessidade de Portugal rever a sua posição neste universo, já que o seu vasto império espalhado pelo mundo o tornava “mais pequeno” aos olhos das nações.

Mapa cor-de-rosa, apresentado por Portugal 
© Foto Google (DR) 

Por proposta de Portugal, tendo como país anfitrião a Alemanha e como organizador o Chanceler Otto von Bismark, é convocada a Conferência de Berlim, que decorre entre 19 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885, tendo representantes da Grã-Bretanha, França, Espanha, Itália, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Estados Unidos da América, Suécia, Áustria-Hungria, Império Otomano, além de Portugal e da Alemanha, que não tinha territórios em África.

Foi nesta conferência que a África foi retalhada, “redesenhada a régua e esquadro, fazendo tábua rasa da história, etnias e laços familiares do povo africano”. Os portugueses, que de certa forma se estabeleciam perto da costa, sem avançarem muito para o interior dos territórios, tinham alterado o seu procedimento e iniciaram o desbravamento do interior do continente africano, de tal forma que, aos fazerem o percurso “de Angola à Contra Costa (Moçambique)” e criando o célebre Mapa Cor-de-Rosa, puseram em causa planos acarinhados pela Inglaterra, que era a ligação por via férrea, sempre assente em território britânico, da cidade do Cabo, na África do Sul, ao Cairo, no Egipto, projecto de Cecil Rhodes.

Desta “nova atitude de Portugal” levou a que a Inglaterra, aliada de Portugal de longos anos que, em forma de memorando entregue, pelo Lord Salisbury em 11 de Janeiro de 1890, um “Ultimato” exigindo a retirada da força militar que se encontrava na zona situada ente Angola e Moçambique, comandada pelo Major Alexandre Alberto da Rocha de Serpa Pinto.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

É a partir destes acontecimentos que se iniciam as Campanhas de Ocupação ou Pacificação, em África, que levou à mobilização de muitos militares para fazerem parte do Exército Colonial, já que existia um exercito colonial e um exército metropolitano, dependentes do Ministério das Colónias, o primeiro, e do Ministério da Guerra, o segundo. Muitas foram as expedições enviadas para as possessões, a fim de submeterem à soberania portuguesa as populações revoltadas, e que se prolongaram para além do final da Grande Guerra.

Os militares que tombavam em África, já tido como dado adquirido, ficariam sepultados lá, nos cemitérios das povoações próximas, cuja manutenção era atribuída às unidades que lá se encontravam.

Quando a Alemanha declarou guerra a Portugal, em 6 de Março de 1916, já há bastante tempo que as tropas portuguesas se batiam contra os alemães em África: a Sul de Angola, onde ficava a África Ocidental Alemã; e a Norte de Moçambique, separada da África Oriental Alemã pelo Rio Rovuma.

Porém, era no teatro de guerra na Europa, que os governantes deste país, eleitos nos escrutínios que se seguiram à Implantação da República de 5 de Outubro de 1910, pretendiam entrar. Várias razões eram invocadas, para tal: a já várias vezes citada Aliança com a Inglaterra; a vontade de aparecer, ao lado das potências europeias, na assinatura de rendição da Alemanha; o manter as suas possessões de além-mar, já de si ambicionadas, por acordos secretos entre a Inglaterra e a Alemanha; a vontade de se apresentar com uma postura diferente da Espanha, apresentando valores diferentes.

Os ingleses embora não inviabilizando a hipótese da nossa colaboração, adiavam sempre essa possibilidade, até que essa “oportunidade” surgiu, no mês de Fevereiro de 1916, quando os ingleses por falta de “meios navais de transporte”, solicitam o aprisionamento dos navios que se encontrassem ancorados nos portos lusitanos.

Painéis de azulejos. Pátio dos Canhões – Museu Militar - Lisboa 
© Foto José Martins 

A 9 de Março seguinte, a Alemanha, pela mão de Friedrich Von Rosen, faz a entrega ao Ministros Português dos Negócios Estrangeiros da declaração formal da declaração de guerra, apesar de já ter havido vários combates com os portugueses em África desde 1914.

A 15 de Junho seguinte, o governo britânico convida, formalmente, a entrada de Portugal na guerra, ao lado dos aliados.

As condições de combate em África, apesar de adversas para os nossos soldados, já eram bastante conhecidas. Os Oficiais e Praças do nosso exército, conheciam bem o terreno, o clima e, sobretudo, os nossos opositores, instigados ou não por intuitos e interesses estranhos à nossa politica de além-mar.

Foram necessários esforços sobre-humanos para reunir e treinar, em pouco tempo, cerca de cinquenta e sete mil homens para formar o Corpo Expedicionário Português, além de mais cerca de trinta e dois mil mobilizados para África [Imagens da I Guerra Mundial – EME 1998 – pagina 193].

Em França, os militares do CEP encontraram uma forma diferente de combate: a guerra de trincheiras. Era um sistema da valas comunicantes onde, as unidades destacadas para a linha da frente viviam em condições insalubres, até porque as condições atmosféricas eram muito mais rigorosas e onde, o frio e a chuva não davam tréguas, provocando alagamentos onde, para tornar mais fácil a vida, era necessário recorrer a bombas de escoamento de água.

Quando soava a artilharia, antecedendo um combate próximo, poucas vezes não deixava no terreno vários mortos mas, se coincidia cair dentro de alguma trincheira, os números subiam, dependendo da quantidade de militares que se encontrassem nesse espaço, apesar do “desenho” das trincheiras prever essas defesas contra explosões. Depois havia as patrulhas na “terra de ninguém” que, ao cruzarem-se patrulhas antagonistas, acabavam por deixar os seus mortos nessa zona, até que a sorte de avanços e recuos, permitisse dar sepultura condigna.

A Pátria coroando um soldado português tombado em combate – Grande Guerra 
Pintura de Veloso Salgado – 1923 
Sala da Grande Guerra – Museu Militar – Lisboa (DR) 

Quando havia “barragem de fogo de artilharia”, o cair desordenado das granadas provocava, a maior parte das vezes o “enterramento” dos corpos caídos, mas também a sua reaparição, quando o solo era revolvido com a queda das granadas. Em 9 de Abril de 1918, deu-se a Batalha do Lys, assim apelidada pelos aliados, enquanto os Alemães lhe chamaram “Operação Georgette”, onde as forças do CEP sofreram uma das maiores ofensivas registadas em toda a guerra, tendo provocando um elevado número de baixas, entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros, sendo certo que unidades inteiras quase desapareceram.

Em França, segundo as fontes consultadas, foram registados 2086 militares “Tombados pela Pátria”, tendo as seguintes causas: Combate – 1310; gaseados – 70; desastre – 121; doença – 529; outros motivos – 56. Deste número, só 1882 têm sepultura conhecida, repousando 1831 em Richebourg, 44 em Boulogne-sur-Mer e 7 em Antuérpia. Registaram-se, como prisioneiros, 439 Oficiais e 6840 Praças, e feridos e/ou incapacitados 12.508 militares [Imagens da I Guerra Mundial – EME 1998 – paginas 164, 180 e 193].

O primeiro militar português a tombar foi o Soldado António Gonçalves Curado, mobilizado pelo Regimento de Infantaria n.º 28, da Figueira da Foz, tendo embarcado para França em 22 de Fevereiro de 1917. Tombou em combate, na Flandres, no dia 4 de Abril de 1917. Foi transladado, para a sua terra natal, onde chegou a 31 de Julho de 1929, por iniciativa do Município de Vila Nova da Barquinha, onde os seus restos mortais foram depositados no Monumento Mausoléu, erigido para o efeito.

Em África, onde Angola e Moçambique faziam fronteira com possessões alemãs, tiveram combates desde 1914, nos quais tombaram 5621 militares, sendo 810 em Angola e 4811 em Moçambique. Foram registados, também em Angola 683 feridos e/ou incapacitados, enquanto em Moçambique eram registados 1592 militares.

A Campa Rasa, o Cristo das Trincheiras e o Lampadário – Sala do Capítulo – Mosteiro da Batalha 
© Foto Google (DR) 

Para saldar a “dívida de gratidão” de Portugal para com os seus “Militares tombados pela Pátria”, e na linha seguida pela Itália, Bélgica e Estados Unidos da América, seguido no ano de 1922 pela Grécia, Jugoslávia e Polónia, o governo tomou a decisão de fazer trasladar um soldado tombado na Flandres e outro tombado em Moçambique, que seriam inumados na Sala do Capítulo do Mosteiro da Batalha, em campa rasa, o que viria a acontecer no dia 10 de Abril de 1921.

Apesar de, desde a implantação do regime republicano em Portugal, estar a exercer o seu mandato o 7.º Presidente da República e estar no Governo o 30.º Presidente do Conselho, todos eles, Presidente e Governo, olhavam o esforço dos militares como uma dádiva à Pátria, quer tombassem em combate, na defesa directa nas possessões portuguesas, quer fosse noutro local, como em França, para onde foram defender, ainda que indirectamente, o direito à manutenção da nossa soberania. Embora a terra tenha continuado o seu percurso de rotação sobre si, e a rotação à volta do sol, o ser humano manteve-se fiel à sua decisão de dominar o seu semelhante e, por este, o próprio mundo.

Em África, na Ásia ou na Oceânia, onde quer que houvesse alguma possessão portuguesa, continuávamos a ter uma presença militar para, em colaboração com os recrutados localmente, se ir mantendo a “lei e a ordem”, missões essas atribuídas às forças armadas, além da administração desses territórios, mantendo para tal, os militares dos Quadros Coloniais ou, se necessário, o envio de forças de reforço. Foi assim que, após o eclodir da II Guerra Mundial, e em consequência da evolução das tropas do eixo no terreno, que Portugal, já em regime de Estado Novo, e a Espanha, após a guerra civil espanhola, acordam entre um Pacto de não agressão, a fim de manter a neutralidade face aos acontecimentos que, em crescendo, vai envolvendo uma parte substancial dos países do globo.

É neste conflito que os países beligerantes “descobrem” as ilhas atlânticas portuguesas, nomeadamente os Açores e Cabo Verde. Nos Açores e, por arrastamento, a Madeira, são reorganizadas e redistribuídas pelas ilhas as forças locais, que também são reforçadas com tropas mobilizadas no continente.

Cabo Verde - Ilha de São Vicente - Mindelo - Cemitério de Mindelo – 1943 
Foto do álbum de Luís Henriques (1920-2012), ex-1º Cabo nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5. Oferecido pelo seu amigo Boaventura no dia 17-8-1943, dia em que ficou livre da junta (hospitalar). 
© Foto: Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné (DR)

Diferente foi em Cabo Verde. A reorganização do exército, prevista para este arquipélago, ainda não se tinha iniciado, pelo que foi necessário guarnecer este território com tropas metropolitanas que, devido à distância e falta de equipamentos, foi necessário transportá-los, via marítima e, no local, encontrar forma de desembarcá-los.

Aí ficarão, para sempre, os militares que, devido à agressividade do clima, não resistiram às doenças. Impressionantes são as imagens que nos chegaram, dos arquivos dos próprios expedicionários que, quando se preparavam para regressar à metrópole, não deixaram de desfilar “em continência” perante as campas dos seus camaradas, num adeus sentido, que só os militares sabem sentir.

A vintena de anos que marcam a transição da primeira para a segunda metade do século XX, da África à Oceânia há um “vento de revolta” que vai mudar a face daquela parte do planeta.

A 15 de Agosto de 1947, a coroa inglesa concede a independência à Índia, passando este território a ser governado por Jawaharlal Nerhu. Assim que é declarada uma Republica e aprovado o texto governamental, em 26 de Janeiro de 1950, a União Indiana passa a reivindicar a posse dos territórios que Portugal detinha naquelas paragens. Em 24 de Junho de 1954, sem qualquer aviso prévio ou sinal que o fizesse prever, invade e ocupa os territórios de Dadrá e Nagar Haveli e impede a entrada naqueles territórios de qualquer força militar não indiana. Perante esta invasão, Portugal envia mais forças militares para a região, tendo-se registado o total de cerca de 12.000 efectivos e três navios de guerra. Dada a defesa ser muito difícil, devido à dispersão dos territórios e, face ao início da revolta armada em Angola, é decidido baixar os efectivos para cerca de 3500 militares, tendo sido os excedentes distribuídos pelos outros territórios.

Estado Português da Índia em 1961

Como em 1954, e após um incidente ocorrido em 17 de Novembro de 1961, começam a notar-se alguns movimentos militares que têm o seu epílogo no dia 18 de Dezembro seguinte, quando o Estado Português da Índia é invadido por uma força militar de cerca de 45.000 efectivos. A aviação ataca as embarcações que se encontram na área e, desta forma, dá-se o último combate da Marinha Portuguesa no Índico. Em terra, dada a fraca qualidade dos armamento e pouca quantidade de munições, e sendo a proporção do ataque de 10 para 1, contra as nossas forças, foi transmitida a ordem de “alto ao fogo”, dando-se a rendição.

No rescaldo desta acção houve 31 militares tombados e 57 feridos em combate, e o aprisionamento de 3306 militares, encontrando-se entre eles o próprio governador, além de um número indeterminado de civis.

O Governo de Portugal recusa-se a negociar com a União Indiana, ficando os prisioneiros “abandonados” nos campos de concentração, até que em Maio de 1962, se iniciou a repatriação dos prisioneiros, através de uma ponte aérea para Carachi, no Paquistão, e daqui para Lisboa em três navios enviados de Lisboa, tendo chegado a Lisboa em 22, 26 e 30 desse mês de Maio de 1962.

Quando chegam a Lisboa os navios que transportam os ex-prisioneiros de guerra da Índia, os militares repatriados só saíram sob forte dispositivo de segurança militar, sendo esta atitude justificada “pela necessidade de os proteger da população, que os queria linchar pela cobardia demonstrada”.

No cais apenas alguns familiares e amigos dos regressados.
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 4 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10479: Os Soldados não morrem, apenas tombam no campo de honra (1) (José Martins)

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P828: 'Retido pelo IN': o caso do meu amigo Tala Djaló, ex-fur grad 'comando' da 1º CCmds Africanos, desaparecido em Conacri, no decurso da Op Mar Verde, em 22/11/1970 (Hugo Moura Ferreira, ex-alf mil 1621, Cufar, e CCAÇ 6, Bedanda, 1966/77))




Cópia do aerograma (frente) enviado pelo comando africano Tala Djaló, com data de 21 de Outubro de 1970, enviada de Fá Mandinga (Zona Leste, Sector L1, Bambadinca) , onde estava colocada a sua Companhia de Comandos Africanos, à ordem do Com-Chefe, a um mês da sua trágica partida para Conacri.

Foto: © Hugo Moura Ferreira (2006).
Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Luis:

Tal como me pediste para te informar quando soubesse algo do meu amigo Tala, depois de ter pedido ajuda ao nosso amigo tertuliano, José Carlos Mussá Biai, de que não recebi feedback (1), junto estou a enviar-te, em anexo Um desabafo.

Abraço.

Hugo Moura Ferreira
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Luís:

Estou triste… Deixa-me desabafar…

Vou fazê-lo ao correr da pena sem rever para que o que aqui te vou contar se apresente como a forma mais pura do meu sentir.

Recordas-te de uma mensagem que enviei, de que te dei conhecimento, a solicitar ajudas no sentido de tentar encontrar o meu amigo Furriel Graduado Comando Tala Biu Djaló?

Pois o facto é que o encontrei.Mas parece-me que estou a viver um daqueles filmes que retratam os problemas entre as famílias dos desaparecidos na 2ª Guerra Mundial em que as viúvas (?) casavam, tinham filhos e mais tarde os maridos, dados como mortos, por desaparecidos em combate, apareciam.

Quem me dera que este fosse um filme e que, como tal, acabasse com um final feliz com o aparecimento do Tala. Mas eu sei que não vai ser assim! Isso dá-me uma tristeza tamanha e ainda mais quando sei, embora de forma oficiosa, e o compreenda, o seu nome, tal como o de outros nunca irá aparecer nas nossas listas de mortos nas Campanhas de África.

Pois ele faz parte de uma lista de mais de uma vintena (ele é o 3º) de militares da 1ª Companhia de Comandos Afriacanos que ficaram em Conacri, na Operação Mar Verde, que tem como titulo "Retidos pelo Inimigo".

Ao falar com quem está envolvido nesta operação de registo histórico, foi-me afirmado que, como os vários Governos, desde essa época até hoje, não podem (esta é a palavra exacta, dado que à face do Direito Internacional poder-nos-ia ainda hoje obrigar a pagar indemnizações elevadíssimas a um país estrangeiro – foi esta a explicação) assumir oficialmente o episódio. Como tal não poderemos envolver, nem sequer a diplomacia para saber de forma oficial o que aconteceu àqueles militares que todos nós sabemos foram fuzilados logo a seguir ao fiasco da Operação ou morreram durante a mesma, mas cujos corpos não atravessaram a fronteira.

Durante a conversa falaram-me de um Alferes Comando europeu, que teria sido morto em combate e que tinha ficado no terreno, mas que o pessoal voltou a trás para o ir buscar e que passou a fronteira às costas dos camaradas.

Perante esta situação de "Retidos pelo Inimigo", apenas me interrogo o porquê desta situação, que certamente será comum aos diversos teatros de operações, não fazer parte das listagens de baixas que tivemos com as nossas campanhas em África.

Poderia eventualmente ser uma listagem paralela às dos mortos em combate, em que constassem os "Desaparecidos e os Retidos”. Gostaria de ver essa lista publicada oficial ou oficiosamente, nem que fosse no nosso Blogue-fora-nada.

Realmente eu entendo que não podem ser dados como mortos porque o podem não estar. Conta-se nos vários departamentos por onde passei a ocorrência de um determinado militar de uma das Companhais de Comandos Africanos ter sido dado como morto e, quando da entrada em vigor da Lei 9, apareceu um requerimento de contagem de serviço para efeitos de aposentação, do referido militar que se veio a constatar que era vivo e residia em Portugal.

Bom, deixa-me viver a recordação do Tala… Para isso vou juntar, a título de curiosidade, a reprodução do último aerograma que o Tala me mandou e que periodicamente dou por mim a lê-lo.

Um abraço.

Hugo Moura Ferreira


PS – Estou a enviar-te isto desta forma para que faças uso dela da maneira que melhor entenderes. Era minha ideia, quando comecei, apenas desabafar, sabendo que tu compreenderias, mas se entenderes publicar alguma parte, já que não referencio ninguém, nem nenhum serviço, em especial, não haverá qualquer problema.

Gostaria, no entanto, de alvitrar que, como nós gostamos da Guiné, também de alguma forma seria interessante fazer referência aos que morreram do outro lado. Seria talvez o mínimo que nós, no Blogue-fora-nada, poderíamos fazer. Aliás seguindo a ideia que está expressa no ponto (vi) das Regras da Tertúlia dos Amigos e Camaradas da Guiné: "respeito pelo inimigo de ontem (que, sempre o disse pela boca do seu líder histórico, nunca lutou contra o povo português, mas contra um regime político)"...

Não haverá ninguém que tenha sido do PAIGC e que queira, sem ressentimentos, entrar neste grupo? Certamente depois viriam mais, pois com toda a certeza veriam que seriam bem recebidos. Estou certo ou não? Se calhar isto é uma ideia utópica... ou talvez não.

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Nota de L.G.:

(1) Cópia da mensagem enviada pelo Hugo Moura Ferreira, em 19 de Maio último, ao José Carmos Mussá Biai, com conhecimento ao editor do blogue:

Assunto - Operação Mar Verde

Caro Eng.

Começo por me apresentar e para tal faço-o da forma mais simples, indicando-lhe o link do nosso Blogue.

Depois desta cómoda apresentação queria, caso lhe seja possível dar-me algumas indicações ou se possivel me indicasse alguns contactos para o fim que tenho como objectivo. Mas passo a explicar-lhe, tentando ser sucinto.

Entretanto, embora leve esta mensagem ao conhecimento do Luís Graça, apenas por questões éticas, já que entendo que, tendo ele tanto trabalho com o Blogue, promovendo também estes contactos e ser justo que saiba o que cada um de nós anda a fazer, gostaria de lhe solicitar que não fosse levado ao conhecimento dos Tertulianos o seu conteúdo, visto que este é apenas mais um passo para eu ver se chego a alguma conclusão do que a seguir vou expor.

Assim, se o verificar no Blogue, eu já fiz algumas referências ao Tala Biú Djaló ou Manuel Talabiu Djaló. Então a questão coloca-se da seguinte forma:

Embora sabendo, de forma oficiosa, da morte do Tala, em combate, na Operação Mar Verde, em Conakry, nunca consegui encontrar o nome dele referênciado nas listagens até hoje publicadas, nem no Monumento do Bom Sucesso.

Perante tal, resolvi pesquisar e desloquei-me ao Arquivo Geral do Exército onde localizei a ficha dele como Alferes do Pelotão de Milícia 143, junto da minha CCAÇç 6, que terminava com a indicação de um ferimento em combate em 1967 e a transferência para a 1ª Companhia de Comandos Africanos.

Confirmo essa transferência porque já ele ali era Furriel, quando me enviou o último aerograma, em 23 de outubro de 1970 (ver anexo). A Operação Mar Verde foi em 22 de novembro de 1970. No entanto, continuando a pesquisa nada mais foi encontrado. Tive inclusivamente na minha presença uma listagem dos militares daquela Companhia , mas na mesma também não constava o seu nome.

Perante esta situação enviaram-me para o CECA (Comissão de Estudos das Campanhas de África), onde são tratadas as listagens relacionadas com estas matérias. Ali ainda não fui definitivamente esclarecido, tendo tal situação sido transferida para a próxima 4ª feira, quando ali voltar, mas foram-me avisando que se calhar haveria dificuldade em saber algo mais do que aquilo que eles já tinham. Vamos a ver.

Então o que me traz até si, muito objectivamente é o seguinte:

- Será que terá contactos com antigos elementos da 1ª CCmds Africanos ?
- Estaria disposto a colocar-me em contacto com esses elementos?
- Poderia dar-me alguma opinião acerca de outra forma de eu encontrar a memória deste meu amigo?

Desculpe trazer-lhe esta questão mas como verifiquei que o meu caro amigo está bem relacionado e é guineense, talvez possa proporcionar-me alguma ideia ou hipótese para eu, de forma oficiosa, me apresentar junto das entidades oficiais com elementos objectivos que possam, no caso do Tala que chegou a visitar Portugal, com o prémio Governador da Guiné, ser feita a justiça de o integrar nas listas dos que morreram, como neste caso, por algo em que acreditavam.

Ainda tenho presente, como se fosse hoje, a resposta que me deu quando eu lhe disse, referindo-me ao risco que ele corria com tantos anos de actividade operacional, que o "Cântaro tantas vezes vai à fonte que um dia quebra-se". Então disse ele, "Pois mas eu tenho que o fazer. Se eu vou ser o próximo Régulo do Cantanhez, os outros vêm-me perguntar: Então tu é que és o Régulo e nós é que andamos a defender aquilo que depois vai ser teu?".

Afinal, tinha dito que seria sucinto, mas parece que não o fui. Como tal, vou terminar aqui e agradecer-lhe antecipadamente qualquer ajuda que me possa prestar... E ao Tala, naturalmente.

E caso vá até ao Bom Sucesso no 10 de Junho... Quem sabe se não nos encontraremos. Eu não falho!

Cumprimentos.
Hugo Moura Ferreira

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25199: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Anexos: III. Lista dos "meus companheiros do Batalhão de Comandos, que morreram em combate, acidentes ou por doença" (n=59)


Lisboa > 1970 > O cap graduado 'comando'.  cmdt da 1ª CCmds Africanos João Bacar Jaló com o o nosso veteraníssimo João Sacôto (ex-alf mil, CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66), hoje comandante da TAP reformado, membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011. 

O João Bacar Jaló veio a Lisboa, nessa altura, no 10 de Junho, receber a Torre e Espada. Nasceu em Cacine, em 1929, e morreu em 1971, em combate, no sector de Tite. Era alferes de 2ª linha em 6 de junho de 1965. 

Foto (e legenda): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Fá Mandinga  (?) > c. 1970/72 > O tenente graduado 'comando'  João Bacar Jaló,  rodeado de pessoal da 1ª CCmds Africanos. Entre outros, é possível identificar o furriel “Dico” Andrade, o 1º da esquerda, o furriel Orlando da Silva, ajoelhado, no meio e o 1º da direita, em cima, o soldado Francisco Gomes Nanque, que esteve preso na Libéria após a Op Mar Verde (21/nov/1970). 

Foto de Amadu Bailo Djaló, publicado na pág. 190 do seu livro, " "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada. 





 Op Mar Verde > 22 de novembro de 1970 > Na lancha de regresso a Bissau. Os soldados Aliu Djaló, Abdulai Djaló Cula, Meta Baldé, furriel Félix Diuf, furriel Vagomestre (não lembro o nome) e soldados Papa e Idrissa Dabo, da esquerda para a direita. (Foto publicada no livro, pág. 182, sem indicação de fonte).



Ussumane Seca, Abdulai Djalo Cula, Aliu Djaquite, Aliu Sana Sanhé 
e Sissau Candé, em Tite, 1971 (pág. 215 do livro do Amadu Djaló)




Guiné > Presumivelmente em Brá ou Fá Mandinga > s/d >  Soldado Caetano Gomes, morto na ilha de Sogo,   em acidente no mar, já depois do regresso d Op Mar Verde. (Foto publicada no livro,  pág. 181, sem indicação de fonte)


 

Capa do livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) 




O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)



1. Ainda com base no manuscrito, digitalizado, do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) (*), vamos publicar alguns "Anexos" (pp. 287-299).

O nosso camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra , facultou-nos uma cópia digital. (O Virgínio, com a sua santa paciência e a sua grande generosidade, gastou mais de um ano a ajudar o Amadu a pòr as suas memórias direitinhas em formato word, a pedido da Associação dos Comandos, a quem, de resto, manifestamos também o nosso apreço e gratidão...).

O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem mais  de 120 referências no nosso blogue. Tinha um 2º volume em preparação, que a doença e a morte não lhe permitaram ultimar. As folhas manuscritaas foram entregues ao Virgínio Briote com a autorização para as transcrever (e eventualmente publicar no nosso blogue). Desconhecemos o seu conteúdo, mas já incentivámos o nosso coeditor jubilado a fazer um derradeiro esforço para transcrever, em word, o manuscrito do II volume (que ficou incompleto). E ele prometei-nos que ia começar a fazê-lo, "para a semana"...

Segue  lista dos "lista dos  "meus companheiros do Batalhão de Comandos, que morreram em combate, acidentes ou por doença"  (pp. 291/294) que, certamete por lapso,  não inclui, entre outros, os camaradas da 35ª  CCmds e 38ª CCmds  (faziam parte do BCmds da Guiné) nem muito menos os miliatred que dados como desaparecidos no decurso da Op Mar Verde (Coancri, 22 de novembro de 1970, comndados pelo ten graduado 'cmd' João Januário Lopes.

Anexos

III. Os meus companheiros do Batalhão de Comandos, que morreram em combate, acidentes ou por doença (por ordem cronológoca) (n=59)


- Bubacar Sidi Bá, Soldado, 1ª CCmds, morto em 28 Maio 1970.

- José Mendonça, Furriel Graduado, 1ª CCmds, morto em 18 Junho 1970, mina anti-pessoal.

- Nicolau Tomás Cabral, Soldado, 1ª CCmds, morto em 26 Junho 1970 na área Bajocunda-Pirada.

- Juliano Albano Cabral, 1º Cabo, 1ª CCmds, morto em 4 Julho 1970, numa emboscada IN, no pontão do rio Mael-Jaude, zona de Pirada.

- José Augusto Maru Djaná, Soldado, 1ª CCmds, morto em 4 Julho 1970, emboscada IN, no pontão do rio Mael-Jaude, zona de Pirada.

- Lourenço Pedro Dias, Soldado, 1ª CCmds, morto às 03H15 de 22 Novembro 1970, durante o ataque ao quartel de Samory, operação ‘Mar Verde’, Conackry. Corpo não recuperado.

- João Bacar Cassamá, Soldado, 1ª CCmds, morto às 03H15 de 22 Novembro 1970, durante o ataque ao quartel de Samory, operação ‘Mar Verde’, Conackry. Corpo não recuperado.

- Álvaro Raimundo Ledo Pontes, 1º Cabo, 1ª CCmds, morto em acidente em 24 Novembro de 1970.

- Caetano Gomes, Soldado, 1ª CCmds, morto por acidente em 25 Novembro 1970, na Ilha de Soga, depois do regresso da operação ‘Mar Verde’, a Conackry.

- João Bacar Jaló, Capitão Graduado, 1ª CCmds, morto no decorrer da operação ‘Nilo’, em Jufandanca, área de Fá Mandinga, em 16 Abril 1971.

- Carlos Aliu Mané, Soldado, 2ª CCmds, morto em 21 Dezembro 1971, entre Bissorã e Mansabá, área de Morés, operação ‘Safira Solitária’.

- Mamadu Camará, Soldado, 2ª CCmds, morto em 22 Dezembro 1971 no HM241, operação ‘Safira Solitária’, área de Morés.

- Aliu Djaquité, Soldado, 1ª CCmds, morto em 24 Dezembro 1971, operação ‘Safira Solitária’, área de Morés.

- Abdulai Djaló, Soldado, 1ª CCmds, morto em 24 Dezembro 1971, operação ‘Safira Solitária’, área de Morés.

- Vicente Malefo, Soldado, 1ª CCmds, morto em 24 Dezembro 1971, operação ‘Safira Solitária’, área de Morés.

- Quintino Gomes, Soldado, 2ª CCmds, morto em 24 Dezembro 1971, operação ‘Safira Solitária’, área de Morés.

- Demba Dembó, 2ª CCmds, morto em 24 Dezembro 1971, operação ‘Safira Solitária’, área de Morés.

- Issufi Turé, Soldado, 1ª CCmds, morto em 7 Fevereiro 1972, mina anti-carro, estrada Mansoa-Bissorã.

- Xerifo Canhá, Soldado, 2ª CCmds, morto em 11 Fevereiro 1972, operação ‘Juventude III’, zona de Morés.

- Mamadu Saliu Djaló, Furriel Graduado, 1ª CCmds, morto em 15 Fevereiro 1972, entre Mansoa e Bissorã.

- Marciano Lopes, Furriel Graduado, 2ª CCmds, morto em 1 Abril 1972, Cacheu, operação ‘Joeirada’.

- Sambel Djaló, Soldado, 3ª CCmds, morto em 2 Maio 1972, instrução, Fá Mandinga.

- Fernando Jorge Fortes Gomes, Soldado, 3ª CCmds, morto em 16 Maio 1972, instrução, Fá Mandinga.

- Mutaró Baldé, Soldado, 3ª CCmds, morto por afogamento no Geba, instrução, em 29 Maio 1972.

- Braima Djaló, Soldado, 2ª CCmds, morto em 28 Junho 1972, em Cimbele, Guiné-Conakry, operação ‘Bafo Quente’.

- Manuel Malan Sissé, Soldado, 3ª CCmds, morto por doença, em 19 Setembro 1972.

- Carlos Iero Embaló, Soldado, 3ª CCmds, morto em 4 Dezembro 1972, Campada-Ingoré.

- Domingos Quiassé Antunes, Soldado, 3ª CCmds, morto em Mambocó/Mansabá, operação ‘Esmeralda Negra’, 15 Fevereiro 1973.

- Cherno Baldé, Soldado, 3ª CCmds, Mambocó/Mansabá, operação ‘Esmeralda Negra’, 15 Fevereiro 1973.

- Bubacar Jaló, Alferes Graduado, 3ª CCmds, Mambocó/Mansabá, operação ‘Esmeralda Negra’, 15 Fevereiro 1973.

- António Djifam Barreto, Furriel Graduado, 2ª CCmds, morto em Ponta Matar, rio Cacheu, operação ‘Canguru Indisposto’, 23 Março 1973.

- Pedro Quebá Dabé, Soldado, 1ª CCmds, morto por doença no HM 241, em 17 Abril 1973.

- Saranjo Baldé, Soldado, BCmds, morto por acidente com arma de fogo, Mansabá, 21 Abril 1973.

- Anso Baldé, Soldado, 1ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- José Vieira, Soldado, 1ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Pedro Melna, Alferes Graduado, 2ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Mama Samba Baldé, Alferes Graduado, 3ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Saliu Sané, Soldado, 3ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Becute Tungué, Soldado, 3ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Carlos Intchama, Soldado, 3ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Armando Beta Santa, Soldado, 3ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Mama Samba Embaló, Soldado, 3ª CCmds, morto em Cumbamori, durante assalto à base In, operação ‘Ametista Real’, 19 Maio 1973.

- Quintino Rodrigues, Furriel Graduado, 1ª CCmds, morto na mata de Cobiana, Cacheu, em 25 Setembro de 1973.

- Lama Jaló, Soldado, 3ª CCmds, morto na mata de Cobiana, Cacheu, em 25 Setembro de 1973.

- Braima Djaló, Soldado, 3ª CCmds, morto na mata de Cobiana, Cacheu, em 25 Setembro de 1973.

- Mamadu Sani, Soldado, BCmds, morto em Mansabá, acidente com arma de fogo, em 13 Outubro 1973, durante Vº Curso de Comandos.

- Domingos Cumbá, Soldado. 2ª CCmds, morto em 18 Novembro 1973, Có/Pelundo.

- Bacar Sissé, Furriel Graduado, 1ª CCmds, morto em 10 Dezembro 1973, emboscada a 2 kms de Cutia.

- Sabana Fonhá Sambo, Soldado, 1ª CCmds, morto em 10 Dezembro 1973, emboscada a 2 kms de Cutia.

- Sori Baldé, Soldado, 1ª CCmds, morto em 10 Dezembro 1973, emboscada a 2 kms de Cutia.

- Dembo Camará, Soldado, 3ª CCmds, morto em 26 Dezembro 1973, Cachamba Balanta.

- Bolama Intchudé, Soldado, 3ª CCmds, morto em 26 Dezembro 1973, Cachamba Balanta.

- Albino Furna, Soldado, 2ª CCmds, morto em 5 Fevereiro 1974, Bajocunda-Copá, operação ‘Gato Zangado I’. Corpo não recuperado.

- Ansu Turé, Soldado, 1ª CCmds, morto em 2 Março 1974, acidente viação em Bissau.

- Sajo Fati, Soldado, 2ª CCmds, morto em 21 Março 1974, entre Canquelifá e Piche, operação ‘Neve Gelada’ (NT capturaram 3 morteiros 120).

- Gainde Candé, Soldado, 2ª CCmds, morto em 21 Março 1974, entre Canquelifá e Piche, operação ‘Neve Gelada’ (NT capturaram 3 morteiros 120).

- Alfredo da Silva, Soldado, 2ª CCmds, morto em 21 Março 1974, entre Canquelifá e Piche, operação ‘Neve Gelada’ (NT capturaram 3 morteiros 120).

- Bacar Bala, Soldado, 2ª CCmds, morto por granada que transportava, entre Brá e Bissau, em 17 Abril 1974.

- João Mango, Soldado, 2º CCmds, morto em 28 Abril 1974, em Bula, rebentamento de granada de rocket.

(Revisão/fixação de texto, negritos: LG)
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