quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2102: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (1): Mamadu Camará, a onça vigilante

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Missirá > 1968 > Mamadu Camará, um dos soldados do Pel Caç Nat 52, sob o comando do Alf Mil Beja Santos que lhe propôs um louvor devido à sua acção heróica na noite do ataque ao destacamento, em 19 de Março de 1969 (1). E no ataque de Agosto de 1969, salvou a vida ao seu comandante, episódio esse que aqui se relata.

Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.



Texto do Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), enviado a 19 de Julho último. Correspondente ao episódio nº 1 da Parte II da série Operação Macaréu à Vista, ou seja, ao futuro segundo volume das suas memórias do Cuor e, cronologicamente, ao seu 2º ano de comissão na Guiné (2).



Conforme foi oportunamente aqui noticiado, está já no prelo o livro do Beja Santos, Na Terra dos Soncó: Diário de Guerra (1968/69), em edição do Círculo de Leitores (3). Depois de mais de um mês de um interruptação, por motivo de férias, retomamos a publicação desta série.

Operação Macaréu à Vista - Parte II: Mamadu Camará, a onça vigilante
por Beja Santos

(i) Fogo de Santelmo, fogo de Madina

A partir do meio da tarde, o céu fez-se chumbo, o ar esfriou, ficámos à espera que chovesse, contrariados no meio das obras à volta do arame farpado. Quando parecia que o chumbo passaria a negro, o negro da nuvem espessa que se encaixara como uma abóbada sobre Missirá deixou imprevistamente que os raios e coriscos se acendessem e, como uma faca que rasga a seda, estoiraram estrepitosamente em Missirá, em todo o Cuor.

O anoitecer fez-se dia com aquela iluminação de teatro, espectral. A chuva abundante caiu dos céus, ficou a empapar-se às nossas botas, o sibilar da trovoada gigante levou-nos a fugir para casa. É nesse entretanto da fuga precipitada para as moranças que começa uma flagelação com morteiros e costureirinhas. Do pânico da chuva passou-se rapidamente para a resposta, corríamos nus, em roupa interior, encharcados, enlameados. Quem limpava as armas pô-las em funcionamento, quem fazia a contabilidade mudou de armas, quem cozinhava foi logo responder com metralhadoras, e todo este fogo de resposta amorteceu o som das obusadas que espalhavam o metal destruidor, salpicando a terra.

Os colhidos de surpresa, as mulheres e as crianças que cultivavam e brincavam, atiraram-se para as valas. No morteiro 81, encadeado por aquele maldito fim de tarde desorientador, pois falsa era a noite e o falso era o dia, com precioso auxílio do Queirós, eu punha e tirava cargas das granadas, procurando atinar com as distâncias. Era uma estranha flagelação, era um fogo espúrio, como se estivessem a testar-nos para o tiro a tiro. O Queirós gemia, segurando o tubo sem a braçadeira, o braço em chaga. As explosões chegavam espaçadas, como a lembrar que há muitas maneiras de fazer flagelação.

É então, entre esse dia e essa noite de Santelmo e do fogo de Madina que sou disparado a coice, saio do abrigo de morteiro com forte encontrão, alguém me projecta ao solo. Uma explosão ao pé soergue-me e ao intruso que me arrancara do morteiro 81. Eu desfiro palavrões mas o intruso grita de dor. Desprendo-me do fardo, o Queirós a tudo assiste aparvalhado, ponho-me de pé e vejo Mamadu Camará jazente e depois de tronco arqueado, com o rosto riscado pelo sofrimento. É o Queirós, que sai do atordoamento, que explica o transcendente daqueles instantes:
-Meu alferes, o Camará viu o rebentamento, quis salvar-lhe a vida.

Entretanto, acabou-se a flagelação, que deixou a mesquita com algumas chapas perfuradas, há os pés rasgados do costume, há semblantes enfarruscados e queimados e há ainda alguma luz para deitar contas à vida e ver o que correu mal. Felizmente, nada mais aconteceu, Madina lançou mais um aviso, muito provavelmente vieram patrulhar e antes de retirar deixaram este cartão de visita.

Agora, nada mais me interessa do que agradecer discretamente a Mamadu Camará, que cambaleia, cheio de contusões e rasgões. Nessa noite, depois do jantar, enquanto Missirá faz serão a comentar os acontecimentos, chamo o Mamadu, depois de ter reflectido sobre a sua bravura:
-Mamadu, não tenho palavras para te agradecer, tu estiveste pronto para dar a tua vida para me salvar. Tu merecias uma elevada condecoração. No entanto, vê a posição em que me encontro: se publicitar o teu feito, parece que estou a engrandecer o facto de estar no morteiro, no meu dever a enfrentar o inimigo. Peço-te que me compreendas, prefiro ficar com uma dívida contigo, deixa-me amanhã eu contar a todos o que fizeste por mim. E esta história fica sem ser conhecida por mais ninguém fora de Missirá.

O Mamadu, em todas as conversas sérias, ele que tinha um vozeirão de barítono wagneriano na vida corrente, pôs-se a entaramelar a voz, reduzindo-a a um fio, vacilando na resposta. Ouviu-me e disse:
-Está certo, ninguém tem o direito de saber fora de Missirá esta história. Eu já tenho uma medalha, não preciso de mais.

E ninguém soube até hoje. Chegou o momento da tua abnegação chegar aos quatro cantos do mundo, Mamadu (4).

A noite corre, a tensão é grande, só com os alvores da madrugada é que vamos perceber quem veio flagelar, como retiraram. Como não me saísse do sentimento a impressão desta dádiva total, um ímpeto leva-me a escrever no profundo silêncio da mata. Então simulo poetar:

Mãe, saúdo-te entre cravos olerosos, frutos deiscentes e os feridos que aguardam um helicóptero. Eu sou o fogueiro que subiu ao viaduto de gás e faço ressoar o hino da vitória desses meteoritos que se espalham por esta mata. Saúdo-te num abrigo - casamata, como se pegasse no arado das palavras e para te alegrar do fundo desta guerra. Sim, Mãe, devo-te a vida e a mais alguém. Saúdo o teu segredo num luar textual. É possível que Deus cavalgue a lua neste preciso instante em que ergo as mãos para te beijar e abraçar esse mais alguém que me ensinou o sopro da carne viva. A ti e a esse mais alguém, desejo-vos a hora viva nas palmeiras..

E deitei-me, derreado, agradecido, sem ilusões do sem préstimo desta pseudo-poesia a copiar escandalosamente o génio de Saint-John Perse (5).

Ao amanhecer, reconhecemos os itinerários da gente de Madina, eram um grupo de pouca monta, deixou marcas na estrada de Cancumba, apanhou a estrada principal até Morocunda, seguiu por Biassa.
- Tenho que pedir ao Reis sapador para vir cá, para armadilhar todo este trilho (6).

Mal sabia eu como iria increpar-me contra tal pensamento.


(ii) Em Gambana, o fim das canoas de Madina

Logo a seguir a esta flagelação quase sem memória, substituídas as chapas da mesquita, elaborada a informação que seguiu para Bambadica, com mais um dia a arranjar arame farpado e a patrulhar Mato de Cão, chegou o momento de ir buscar um grupo de sapadores para destruir as canoas identificadas a partir dos Nhabijões. O Reis sapador quis vir e mais entusiasmado ficou quando lhe disse que iríamos até o Enxalé festejar a sua entrada no nosso sector, e esse entusiasmo ficou ainda acrescido quando lhe pedi para vir armadilhar de novo os trilhos de Morocunda e nos arredores de Sansão, para onde eu suspeitava que um dia a gente de Madina nos faria a surpresa de aqui colocar os canhões sem recuo.

Saímos cedo de Finete, seriam sete da manhã, tudo estava cronometrado para afundar as canoas, armadilhar o local e às onze da manhã vermos passar dois batelões a caminho do cais de Bambadica. O Reis desempenhou-se com a sua equipa bem e depressa, três canoas desfizeram-se dentro da lama, depois ele montou um engenho e lá seguimos com duas viaturas a quebrar o silêncio numa estrada cheia de beleza, um dia calmo, ensolarado, aprazimento nos céus e sossego nos nossos corações.

Não vale a pena repetir como foi bom voltar ao Enxalé (7), reencontrar o Taveira, dar-lhe a notícia, foi um almoço apressado com mais conservas que comida feita na hora, o céu não estava de fiar, fora um grupo exíguo, o regresso urgente impunha-se para evitar mais suplícios na picagem da estrada. Recordo que deste vez não houve fogo de reconhecimento para os lados de Sinchã Corubal. Mas o que nunca mais esqueci foi que junto à estrada que ia para Madina o Alcino Barbosa encontrou uma sinalização de proibido, que vinha do antes da guerra. Fez-se fotografar e depois metemos o sinal num dos Unimogs. Sim, era inaceitável um caminho proibido até Madina. Mas a verdade é que só lá voltámos e com sucesso em Fevereiro de 70.

O Reis partilhava a nossa felicidade embora confessasse não perceber o meu entusiasmo em ficar em estreita cooperação com o Enxalé. A verdade é que saírei em Novembro de Missirá, tudo ficará na mesma, não aumentaram os efectivos, não se criou a cooperação desejada entre os dois destacamentos frente ao inimigo comum. Era assim a nossa estranha guerra, com as suas falsas mudanças e o inimigo cada vez mais forte.

Em Missirá, o Reis armadilhou com o fervor que lhe conhecíamos. Desta vez, tudo ficou esquematizado e ele prometeu voltar em breve para confirmar a eficácia do seu trabalho. Quase sempre esquecíamos estes engenhos, até que de madrugada acordávamos com o alvoroço dos estrondos: ou os humanos saíam estropiados com o rebentamento ou as gazelas ou macacos morriam e ficavam pasto dos jagudis. E não voltámos a ter acidentes com militares e civis, dentro e fora do aquartelamento de Missirá.

O Reis partiu e eu adoeci seriamente. Até ao fim de Agosto [de 1969], toda a minha correspondência sairá do punho do [Fur Mil] Pires, a quem vou ditando as cartas para a Cristina, para a família e os amigos. Evitarei nova vinda do David Payne a Missirá, aparecerei aos tombos na enfermaria de Bambadinca e, pela primeira vez em todo um ano de comissão, ficarei ali a descansar e a vitaminar-me, tratando dos líquenes, fungos e pés inchados, dois dias completos. Mas vou regressar sem emenda, vou recorrer dos préstimos do Casanova e do Pires nas idas a Mato de Cão. Até que um dia vai chegar uma mensagem e vou participar na primeira edição da Operação Pato Rufia e depois na segunda (8). Fiquei com sérias razões para detestar o Buruntoni e aquelas operações azaradas.

As obras prosseguem, já chegaram algumas das toneladas dos materiais oriundos do batalhão de engenharia de Brá. A jangada em que trouxe um atrelado para a bolanha de Finete apodreceu, o gerador não virá tão cedo. Terei a alegria de sair da cama, em Missirá, para cumprimentar o capitão Rui Gamito, que aproveitando uma ida à Ponte dos Fulas veio visitar-nos e trazer estímulo.


(iii) Uma viagem à Idade Média, uma ida ao tribunal com Perry Mason

Surpreendentemente, leio indiferente ao torpor da minha prostração. É uma consolação embrenhar-me na leitura de A sociedade medieval portuguesa pelo Doutor Oliveira Marques. É um quotidiano dos nossos ancestrais que eu desconhecia. É um encontro com o Portugal das florestas, refúgio de feras, esse Portugal de um milhão de habitantes que tanto sofreu com a Peste Negra, dividido entre a nobreza, o clero e o povo, que o medievalista nos vai contar com assombrosa mestria: o que era a comida, o vestuário, a habitação, a higiene e a saúde, o afecto, os lazeres e a morte, tudo escrito sempre com uma tocante simplicidade, demonstrando que a História não é um conhecimento hermético destinado a grupos elitistas. Os pobres comem peixe e fava ou castanha. Os condimentos são raros. É vasta a quantidade de fruta posta à disposição de todos. Os ovos são apreciados cozidos, escalfados e mexidos. A descrição dos banquetes são páginas emocionantes.



Capa do livro de A. H. Oliveira Marques, A Sociedade Medival Portuguesa: aspectos de vida quotidiana. 2ª ed. Lisboa: Sá da Costa. 1971 (1ª ed., 1964).

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados



Fico a saber como vestem os homens e as mulheres e as crianças há seis séculos atrás, como se eliminam nas suas casas rústicas onde o conforto parece centrado na cama. A higiene é escassa mas é uma remantada mentira dizer-se que a Idade Média foi o paraíso da imundície. Leio pela primeira vez o que era a comunicação afectiva . Os filhos estão em poder dos pais até ao matrimónio. A religião não pode tudo, a Idade Média não escapou ao incesto como não escapou aos grandes arroubos do amor. Grande livro, que vai marcar o meu gosto pela vida quotidiana, a análise histórica feita de dentro da civilização e da cultura, no claro entendimento das mentalidades.

Li também com satisfação O Caso da Noiva Curiosa, de Erle Stanley Gardner. O livro é tão bom como a capa do Cândido da Costa Pinto é belíssima. Uma cliente vão ao escritório de Perry Mason saber se uma amiga tem o direito de se casar depois de 7 anos em que o primeiro marido esteve desaparecido. Mason apercebe-se que há mais história e faz investigação. O primeiro marido da cliente aparece morto e esta está manifestamente indiciada como homicida. Raras vezes Mason vai brilhar com tanto fulgor no tribunal convertendo as testemunhas de acusação em defesa, levando o segundo marido da sua cliente a uma dolorosa confissão.



Capa do romance policial de E. S. Gardner, O caso da noiva curiosa. Lisboa: Livros do Brasil. s/d. (Colecção Vampiro, 29). Capa de Cândido Costa Pinto.

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.



Estou a viver o mês de Agosto [de 1969] sem nervo, com pouco sabor, subindo a corda à procura de entusiasmo. Estou literalmente farto de escalas de serviço, listagem de gente que vai para a emboscada, fazer engenharia entre os que ficam em Missirá e o grupo que parte para Finete para arregimentar milícias e daqui seguir-se para Mato de Cão. As minhas cartas, disse-o atrás, são ditadas, não espelham exactamente o que me vai na alma.

Na última semana, parto com 12 homens e entro em Bambadinca para participar na Operação Pato Rufia. Esta aparece descrita em Setembro, mas elide que 15 dias antes vários destacamentos andaram a apanhar bonés com dois guias perdidos, entre a estrada do Xime e do Ponta do Inglês, sem se saber bem como chegar a um acampamento inimigo. Vale a pena contar.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 10 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1578: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (37): O horror do Hospital Militar 241 e o grande incêndio de Missirá

(2) Vd. post de 6 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2031: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (57): Cartas de um militar de além-mar em África para aquém em Portugal (6)

(3) Vd. post de 25 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1996: Nas Terras dos Soncó, um livro saído do nosso blogue, em próxima edição do Círculo de Leitores (Beja Santos / Luís Graça)

(4) Cometendo embora uma inconfidência (o Mário e o Círculo de Leitores vão-me perdoar), posso desde já confirmar que o livro Na Terra dos Soncó, terá uma Dedicatória, com o seguinte teor:

A quem combateu comigo, muito especialmente a malta do Pel Caç Nat 52 e dos Pel Mil n.º 101 e 102, nos destacamentos de Missirá e Finete. Uma ternura muito especial ao Cherno Suane, ao Mamadu Djau e ao Mamadu Camará (eles sabem porquê).

(5) Diplomata e poeta francês (1887-1975), Prémio Nobel da Literatura (1960). Vd. sítio da Fundação Saint-John Perse.

(6) "O mais truculutento dos sapadores do Geba", é assim, carinhosamente, que o Beja Santos trata o Alf Mil Sapador Reis, da CCS do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70): vd. post de 18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1442: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (29): Finete contra Missirá mais as vacas e o bombolom dos balantas

(...) O Alferes Reis, o mais truculento sapador da Guiné, veio passar 4 dias connosco. Zaragateámos um pouco por causa da quantidade de trotil que ele pretendia enterrar em todos os atalhos que circundam Missirá. O Reis começa-se a afeiçoar à região e quando eu for operado em Março, será ele que apanhará o vendaval de fogo . Mas hoje ajudou-nos imenso a colocar correctamente as fieiras de arame farpado e deixei-o com carta branca para armadilhar junto da fonte de Cancumba, que é um local que tenta os rebeldes (...).

(7) Vd. post de 26 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2000: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (55): Uma visita a Enxalé, um tornado em Bambadinca, um enterro em Madina Xaquili....

(...) Uma memorável viagem ao Enxalé só para 'partir mantenha': Pelas 6 da manhã de 19 de Julho de 1969, perguntei ao contigente que ia a Mato de Cão se me queriam acompanhar ao Enxalé. Os nossos motoristas foram o Setúbal e o Manuel Guerreiro Jorge. Tal como eu esperava, houve urras e manifestações de alegria, logo uma adesão espontânea (...).

(8) Vd post de 8 Agosto 2005 > Guiné 63/74 - CXLVI: Setembro/69 (Parte I) - Op Pato Rufia ou o primeiro golpe de mão da CCAÇ 12 (Luís Graça).

Guiné 63/74 - P2101: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (5): Punições e Louvores

Texto de Ferreira Neto, ex-Cap Mil, CART 2340 (Canjambari, Jumbembem e Nhacra,1968/69) (1)

(i) Punições

Dia 18 de Novembro de 1968 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante do BCAÇ 1932 o Soldado n.º 00347967, J. M.B. L., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 21 de Fevereiro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o Furriel Miliciano n.º 01329267, P. J.V., com 5 dias de prisão disciplinar.

Dia 29 de Fevereiro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o 1.° Cabo n.º 03156167, F.L., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 31 de Março de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante do D.A. o 1.º Cabo n.º 02715767, A. F.M., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 7 de Junho de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante do D.A. o Soldado n.º 13504968, J.E. S. F., com 5 dias de prisão disciplinar.

Dia 4 de Setembro de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante da CART o Soldado n.º 10412567, E. B. C., com 8 dias de prisão disciplinar.

Dia 23 de Setembro de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante da CART o Soldado n.º 10412567, E. B. C., com 10 dias de prisão disciplinar.

Dia 29 de Setembro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o 1.º Cabo n.º 03844267, J. C. O., com 10 dias de detenção.

Dia 29 de Setembro de 1969 - Punido por Sua Excelência o Comandante Militar o Soldado Condutor n.º 00696967, B. R. S., com 10 dias de detenção.

Dia 15 de Outubro de 1969 - Punido pelo Excelentíssimo Comandante da CART o 1.º Cabo n.º 03485567, M. J. P. G., com 15 dias de detenção. (2)


Guiné > Região do Oio > Canjambari > Vista aérea de Canjambari> Sede da CART 2340


(ii) Louvores e Condecorações

Louvados em 31 de Julho de 1969, por Sua Excelência o Comandante Militar:

Louvo individualmente os seguintes militares:

Alferes Miliciano de Artilharia n.º 05857165, José Perfeito Lopes

1.º Cabo n.º 03485567, Manuel José Pereira Guimarães

Soldado n.º 00633457, Armando Lucena Pinheiro


Porque no dia 2 de Abril de 1969, se ofereceram voluntariamente para ajudar a retirar as viaturas, um morteiro e respectivas munições da proximidade de uma caserna da CART. 2340, em chamas, cujo paiol estava a arder; provocando, de quando em quando, explosões que podiam ser mortais.
A atitude assumida com magnífico desprezo pelo perigo e pelo desembaraço demonstrada constituem exemplo brilhante de coragem e abnegação digno de ser apontado como exemplo.

Louvados em 27 de Outubro de 1969, pelo Excelentíssimo Comandante de Companhia de Artilharia 2340

Louvo o Alferes Miliciano de Artilharia n.º 05857165, José Perfeito Lopes porque durante a sua permanência como comandante do destacamento do Dugal, demonstrou elevado espírito de iniciativa e entusiasmo pelo trabalho, contagiando do seus subordinados, levando-os a melhorar as condições do aquartelamento. O seu trabalho é tanto mais digno de ser apreciado, atendendo à intensa actividade operacional solicitada ao destacamento.

Louvo o 2.° Sargento de Artilharia n.º 51667511, José Virgílio da Rocha Borges, porque durante a sua comissão, desempenhou todas as funções que lhe foram atribuídas, com extraordinária dedicação e entusiasmo, e sentindo do dever, merecendo ser apontado como exemplo, sendo digno das provas de estima de que foi alvo, tanto da parte dos seus superiores como dos seus subordinados.

Louvo o Furriel Miliciano de Artilharia n.º 09539365, Luís Manuel Pessoa Begonha, porque durante a sua comissão, desempenhou com brio honestidade e voluntarioso entusiasmo, todas as funções a que foi solicitado além da sua de comandante de secção. De realçar a extraordinária versatilidade do seu espírito, que lhe permitiu moldar-se ás mais diversas situações, que o tornaram digno da maior estima dos seus superiores e admiração dos seus subordinados.

Louvo o 1.º Cabo Auxiliar de Enfermeiro, n.º 00019167, Manuel Correia de Oliveira, porque durante a sua comissão, demonstrou grande grau de conhecimentos, e elevado espírito de abnegação, demonstrada várias vezes nas acções em que tomou parte, desprezando o seu estado físico e acorrendo aos camaradas que dele necessitavam, tratando-os e encorajando-os com uma palavra amiga ou um dito espirituoso.

Louvo o 1.º Cabo n.º 02643867, Horácio Correia da Silva, porque durante a comissão, demonstrou em todas as acções, que tomou parte, grande sangue frio, valentia e abnegação. A par destas qualidades era ainda possuído de grande amor ao trabalho, sensatez e correcção que o tornaram digno de ser apontado como exemplo a seguir.

Louvo o 1.º Cabo n.º 00462467, Manuel Gonçalves, porque durante a sua comissão, demonstrou extraordinária iniciativa, decisão e valência, nunca descurando o mais pequeno pormenor de segurança, contribuindo assim com a sua sensatez para que os seus camaradas o admirassem e o tomassem como exemplo, conquistando também a simpatia e consideração dos seus superiores. De salientar a sua acção na tabanca de Jumbembem, na qual voluntariamente instruiu um grupo de caçadores nativos.

Louvo o 1.º Cabo Escriturário, n.º 04610267, José Manuel Ribeiro de Barros, porque durante a sua comissão desempenhou as suas funções com extraordinária competência e dedicação, desconhecendo o descanso quando o seu trabalho o exigia. De salientar também, o facto de durante as inúmeras flagelações IN, ao aquartelamento de Canjambari, ser o primeiro a chegar ao morteiro 81 revelando se um precioso e corajoso auxiliar do apontador e substituindo este quando se tornava necessário.

Louvo o 1.º Cabo Operador Cripto, n.º 02220367, José Maria Ribeiro Gaspar porque durante a sua comissão, desempenhou com elevado grau de competência e disciplina o seu cargo. De salientar ter sempre desconhecido horários, para o desempenho das suas funções atendendo a que qualquer mensagem desde a rotina à relâmpago, o encontrava sempre pronto a decifrá-la. Corajoso e digno representante da sua especialidade, a sua conduta é digna de ser apontada como exemplo.

Louvo 1.º Cabo Mecânico Auto, n.º 03276167, Luís Manuel Gomes da Silva, porque durante a comissão se revelou sempre cumpridor e competente, não regateando esforços para o bom andamento do serviço. Bom camarada, conquistou a estima e administração dos seus superiores e camaradas.

Louvo o Soldado Mecânico Auto n.º 02444467, José da Rocha Sousa, porque durante o seu tempo de comissão, revelou alto grau de conhecimento no desempenho das suas funções. De realçar a sua propensão para a resolução de problemas de mecânica o que permitiu o bom êxito de muitas colunas auto.

Louvo o Soldado n.º 10412567, Ezequiel Bento Caixinha, porque no dia 16 de Agosto de 1969, com risco da própria vida, tentou salvar da morte por afogamento do seu camarada africano, Soldado Milícia Mudo Sira, e só o não conseguiu, porque apesar de ter segurado uma corda entre os dentes e nadado para o local onde o milícia se debatia, a corrente forte da maré vazante o não permitiu, tendo-o afastado do soldado que acabou por submergir: Apesar disso, ainda mergulhou várias vezes nas imediações do local, onde ele desaparecera na tentativa de o encontrar.

Louvo o Soldado n.º 00347967, José Maria Barros Lopes, porque durante a sua comissão, se ter comportado como digno, valente e verdadeiro soldado. Voluntário para todas as acções cumpriu-as com elevado espírito de sacrifício. Perguntado acerca das razões do seu voluntariado permanente respondia com ar simples, que tinha vindo para a Guiné, para a conhecer: De salientar a sua acção, quando numa emboscada a NT, nitidamente inferiorizadas fisicamente, e debaixo do fogo IN e dos gritos "agarra à mão ", e apesar de um estilhaço ter perfurado o carregador de sua G3, com imperturbável serenidade o substituiu e ripostou ao fogo IN, contribuindo assim para a sua debandada.

O Comandante da CART 2340
Joaquim Lúcio Ferreira Neto
Cap Mil Art
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Notas do co-editor CV:

(1) Vd. posts anteriores:

30 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2072: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (1): Mobilização, Deslocamento para o CTIG e Alteração ao Dispositivo

1 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2075: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (2): Actividade inimiga

3 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2079: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (3): Actividade das NT

5 de Setembro de 2007> Guiné 63/74 - P2082: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (4): Baixas sofridas

(2) De acordo com os nossos princípios editoriais, optámos por não publicitar o nome dos nossos camaradas da CART 2340 que sofreram punições, embora essa informação possa constar em documentos públicos ou em arquivos públicos. Eles têm direito ao bom nome, pelo que são apenas identificados pelo posto, nº mecanográfico e iniciais do nome. Esta informação sobre louvores e punições tem interesse meramente factual, documental. Faz parte da petite histoire da guerra colonial, das misérias e grandezas das NT e dos seus comandantes... Não nos questionamos sobre a sua justiça ou injustiça, nem temos elementos para o fazer... Em todas as unidades, houve punições e louvores. E, em geral, mais louvores do que punições. (CV/LG).

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2100: Documentos (2): A Política da Guiné Melhor: os reordenamentos das populações (1) (A. Marques Lopes / António Pimentel)

Fotcocópia da capa da brochura Os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações. Província da Guiné, Bissau: Comando-Chefe das Forças Armadas da Guine. Quartel General. Repartição AC/AP. s/d.
Foto: © A. Marques Lopes / António Pimentel (2007). Direitos reservados.
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Todavia, na Guiné trava-se uma guerra revolucionária, escreve Spínola em O Problema da Guiné, em que as duas partes em presença têm um mesmo objectivo: a conquista das populações. Para isso, não basta a G-3, é necessário conjugar a manobra militar com a promoção sócio-económica e a acção psico-social. (1)
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Por uma Guiné Melhor:

  1. Organizar a população, junto aos aquartelamentos, para a furtar ao controle do IN.
  2. Incrementar o sistema de auto-defesa.
  3. Desenvolver a acção psicológica, apostando na africanização da guerra.

No Vietnam chamaram-se aldeias estratégicas (2), na Guiné fez-se o reordenamento (3)... As razões para isso estão abaixo explanadas num documento do Com-Chefe, a que tivemos acesso através de um exemplar do arquivo do nosso camarada António Pimentel.

A. Marques Lopes.

Editor: vb.

Reprodução do documento:

INTRODUÇÃO (p. 1)

1. O problema de fundo de toda a manobra de contra-subversão é a conquista das populações. Na Guiné os argumentos sob os quais o PAIGC construiu a sua máquina subversiva e os objectivos que se propõe atingir, estão sendo anulados ou apropriados pela política prosseguida pelo Governo da Província, que se baseia no desenvolvimento sócio-económico da população em tempo útil.

A estagnação sócio-económica que se verificou no passado facilitou a tarefa inicial do PAIGC em ordem à mobilização subversiva. Contudo não foi ainda e não é a curto prazo possível no partido de Amílcar Cabral concretizar os programas de fomento que propagandeia, por não ter ainda a adesão da esmagadora maioria da população e por não ter estruturas e quadros que os ponha em prática, em tempo.

Por outro lado, em relação ao Governo da Província este esforço de fomento, no campo da manobra contra-subversiva, apresenta alguns aspectos favoráveis ao êxito:

- Reduzidas dimensões do território da Guiné, permitindo a rápida deslocação e que, com meios pouco vultuosos e dentro das possibilidades da Nação se desenvolva a manobra contra-subversiva pelo fomento.

- O baixo nível de vida dos países limítrofes possibilitando que uma sensível melhoria, provoque um contraste notável.

Como atrás foi dito, a conquista das populações pelo desenvolvimento sócio-económico, terá de fazer-se em tempo útil, “rapidamente e em força”, provocando o desiquilíbrio das populações indecisas e mesmo das controladas pelo IN, a favor da Causa portuguesa. As populações da Guiné apresentam-se extremamente receptivas e sensíveis às realizações que se traduzam numa melhoria visível da situação da Província. Assim, a necessidade de aproveitar todos os meios disponíveis e a colaboração a que as Forças Armadas são chamadas a prestar.

2. Os reordenamentos são um meio de promoção, mesmo quando impostos pela evolução da manobra militar do IN. O desenvolvimento sócio-económico através deles, alcançar-se-á mais facilmente pela:

-Concentração populacional em menores espaços, permitindo auferir maiores benefícios colectivos.

-Maior economia de meios humanos e técnicos.

-O controle mais eficaz e adequado das populações, subtraindo-as à acção subversiva e impedindo qualquer ajuda que, eventualmente, pudessem dar ao IN.

-A defesa mais fácil, pela concentração, possibilitando a auto-defesa, a existência de destacamentos militares ou a integração do agregado em planos mais vastos de defesa.

PANORAMA DOS PRINCIPAIS GRUPOS ÉTNICOS (p. 2-3)


1. Podemos considerar que existem dois grandes grupos humanos na Guiné: islamizados e animistas. No primeiro grupo incluiremos os Fulas, Mandingas, Beafadas, Saracolés, Sossos e Panjadincas e no segundo, Balantas, Manjacos, Papeis, Felupes, Baiotes, Brames, Banhua e Bijagós.

Existem, no entanto, pequenos núcleos híbridos, formados por etnias que utilizam práticas animistas e islâmicas e são, geralmente, sub-grupos em vias de se islamizarem. O factor religioso condiciona todo um comportamento social feito de usos, costumes e tradições ligadas às práticas religiosas. Assim, existem dentro de cada um dos sub-grupos elementos de afinidade e repulsão, como existem também, e mais vincadamente, entre os islamizados e os animistas. Interessará conhecer os principais elementos de cada grupo e, ainda, de algumas etnias principais, tomadas como padrão.
ISLAMIZADOS
  • forte sentimento tribal
  • quase fanatismo religioso
  • apreço pelo gado bovino
  • fidelidade tradicional às autoridades
  • respeito pela hierarquia religiosa
  • dependência jurídica do Alcorão
  • culto da hospitalidade
  • espírito guerreiro
  • desejo de cultura, assistência social e melhoria de vida
ANIMISTAS
  • sentimento tribal menos intenso
  • sentimento religioso normal
  • preconceito racial (em relação aos islamizados)
  • apego à família e à terra
  • espírito guerreiro
  • espírito de vingança
  • desejo de cultura, assistência social e melhoria de vida
  • coesão familiar
  • respeito pela vida da mulher
  • desejo de justiça
Entre os islamizados existem também afinidades e repulsões, elementos que os caracterizam e que são suficientemente fortes para os opor e, simultaneamente, os unir. Usando como exemplo duas etnias islamizadas, as mais representativas quantitativa e qualitativamente, vamos verificar essas motivações.
FULAS
  • Ódio ao mandinga
  • Apreço e dependência do gado bovino [ilegível]
MANDINGAS
  • Ódio ao Fula
  • Apreço de gado bovino só para fins [ilegível]
As afinidades entre os animistas são talvez mais flagrantes, visto que as religiões são diversificadas e não existe uma unidade sob o ponto de vista religioso que, como já se disse, condiciona o seu comportamento social. No entanto, existe similitude de práticas religiosas, o respeito pelos espíritos dos mortos e pelos símbolos que os representam (os Irãs), o respeito e aceitação espontânea e indiscutível das interpretações dos guardas de Irã que constituem uma espécie de sacerdotes do animismo.
Das etnias tomadas como exemplo, os Balantas e os Manjacos constituem as principais dentro do grupo animista. Os Balantas têm uma população de 150.000 habitantes e a totalidade do grupo constitue dois terços da população guineense. Os Felupes, sendo uma minoria étnica é, sem dúvida, extraordináriamente característica por ser uma das mais primitivas e, ainda, a mais antiga que se conhece como originária do território guineense.
BALANTAS
  • culto do roubo como prática social
  • resistência à cultura europeia
  • desrespeito pelas hierarquias verticais
  • interesse material pela família
  • resistência ao cristianismo e islamismo
MANJACOS
  • aversão ao roubo
  • desejo de toda a cultura
  • respeito pelas hierarquias verticais
  • interesse relativo pela família
  • resistência ao cristianismo e islamismo
FELUPES
  • não aceitação do roubo
  • resistência à cultura europeia
  • respeito pelas hierarquias verticais
  • interesse pela família (influência da mulher)
  • permeabilidade ao cristianismo
Existindo dentro de cada um dos grupos humanos- Islamizados e Animistas- motivações tão flagrantes, é lógico que entre ambos essas motivações aumentem, já que são duas sociedades distintas em presença, cada uma das quais mantendo em relação à outra uma certa animosidade. A compreensão dessas motivações, facilitará esta visão geral do mosaico étnico- religioso e humano- da Guiné Portuguesa.
ISLAMIZADOS
  • monoteístas
  • forte sentimento religioso
  • dependência jurídica do Alcorão
ANIMISTAS
  • diferentes concepções da divindade
  • relativo sentimento religioso
  • independência jurídica de fórmulas religiosas
(Continua)
__________

Notas do co-editor vb:


(2) The Strategic Hamlet Program foi um plano dos governos do Vietame do Sul e dos Estados Unidos da América durante a guerra do Vietname para combater a insurreição comunista, que incluía a transferência de populações.

(3) Consultas:

(i) Segundo a directiva 49, de 16/10/1968, do Comando Chefe das F. A. da Guiné, a Divisão de Organização e Defesa das Populações ficou encarregada do estudo, impulsionamento, coordenação e fiscalização do reordenamento, pelo recenseamento e pelo enquadramento e defesa das populações.

(ii) Segundo o Relatório de Comando, 1971, do Comando-Chefe das F. A. da Guiné, em Dezembro de 1971, estavam registadas 46 tabancas organizadas em auto-defesa.

Guiné 63/74 - P2099: PAIGC - Propaganda (4): Os fuzileiros desertores, Livres da Criminosa Guerra Colonial! (Júlio César / António Pinho)



1. Mensagem do Júlio César :


Caros amigos.

Envio-lhes um panfleto de propaganda do PAIGC, àcerca dos 3 Fuzileiros que então desertaram, encontrado pelo ex-Fur Mil António Pinho, da CCAÇ 2658, do BCAÇ 2905, aquando uma picagem para Binar.

Este panfleto é apenas uma fotocópia que me foi cedida pelo meu amigo António Pinho, natural do Porto, onde podemos ver, escrito pela sua própria mão, a data em que foi encontrado: 29/5/70 e a respectiva descrição: "Encontrado durante a picagem para Binar".

Porque estava colocada em aberto a data em que ocorreram estes factos, talvez esta descrição possa esclarecer alguma coisa!!!

Júlio César

CCAÇ 2659 / BCAÇ 2905

Cacheu (1970/1972)

______

Nota de L.G.:

(1) Vd.posts de:

4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1496: PAIGC - Propaganda (2): Notícia da deserção de três fuzileiros navais (Fernando Barata)

Guiné 63/74 - P2098: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (14): Proposta retirada (João Tunes / João Bonifácio)

1. Mensagem do João Tunes (ex-alf mil de transmissões, Pelundo e Catió, 1969/71), com data de 10 de Março de 2007:

Caro Luís e demais camaradas,

Mandam as boas regras das assembleias que cada cidadão, com as quotas em dia e devidamente identificado e não fuja da ordem de trabalhos, possa apresentar propostas à Mesa e depois retirá-las se assim o entender.

Foi o caso com a minha proposta sobre um camarada fuzileiro desertor (1). Li atentamente as posições, requerimentos e moções que ela suscitou (2). E aprendi mais um pouco sobre as permanências emocionais que a vivência de uma guerra ocorrida há quarenta anos ainda desencadeia. E como, em nós, se sedimenta o nosso posicionamento para com os outros.

Também aumentei os meus conhecimentos sobre a relatividade do conceito de desertor ao constatar que é considerado respeitável aquele que desertou do PAIGC para passar a combater nas NT e como já não o é o que das NT se passou para o PAIGC.

Desconto, entretanto, as indignações. Não porque não as respeite, apenas as considero com um saldo de empate com outras que aqui já senti e engoli. Valeu, pois, a pena. Sob todos os aspectos. E só posso agradecer a frontalidade com que se manifestaram aqueles que se exprimiram em repúdio ou até em repugnância.

Face à prática unanimidade das posições expressas, resta-me, com toda a humildade democrática, pedir à Mesa que considere a minha proposta nula de efeitos por falta de liquidez em termos de aceitação. E fica um bem hajam a todos os camaradas.

Saudações amigas do

João Tunes


2. Comentário do editor L. G.:

Na altura (Março de 2007) mandei a seguinte nota para a tertúlia:

(i) O João merece um grande aplauso, não por retirar a proposta, mas pela sua coragem, frontalidade, coerência e honestidade intelectual... Num ponto estamos de acordo: não pode haver dois pesos e duas medidas para os nossos desertores e para os do PAIGC... Os do PAIGC seriam bons, os nossos traidores... Além disso, também tivemos desertores arrependidos como o fuzileiro Alfaiate... que foi a Conacri com o Alpoim Galvão...

(ii) Por outro lado, o João é um grande observador do nosso grupo, ao dizer: “Aprendi mais um pouco sobre as permanências emocionais que a vivência de uma guerra ocorrida há quarenta anos ainda desencadeia”... Bem hajas, João, por teres agitado e animado a caserna... É verdade: isto ainda é uma Caixa de Pandora, cheia de fantasmas e demónios, ainda há muitos esqueletos no sótão da memória... Mas foi um bom ensaio para outros debates.



3. Também o João Bonifácio (ex-furriel vagomestre da CCAÇ 2402, camarada do Raul Albino, vivendo actualmente no Canadá) fez, na altura, um comentário que não chegou a ser publicado:

Meu Caro João:

No assunto a que faz referência, pode dizer-se que todos tiveram a oportunidade de dar as suas opiniões. Este tema desertores teria tido uma reacção diferente se a questão fosse posta nessa altura, mas após todos estes anos, e já com mais experiência e tolerância, e por isso é apenas natural a diversificação de pontos de vista.

Não pense o João que pelo facto de nem todos terem as mesmas ideias, retiram o mérito do tema. A verdade é que pudemos expor as nossas versoes, sem necessariamente estar do lado das mesmas. Não há repúdio, mas pelo contrário o João teve a coragem de trazer a esta caserna um ponto em que houve debate. Quanto às conclusões, pouco há a dizer, pois de um modo geral, e eu tive a oprtunidade de ler todos os e-mails que me foram enviados, não achei que se tivesse chegado a um consenso, para que a chamada moção passasse à fase seguinte.

Por tudo isto, vamos todos pensar que um bom tema para ser discutido abertamente e democraticamente, e se alguns fizeram depoimentos que nos levam a crer que a Guerra onde andamos, ainda os perturba, pois é apenas isso e nada mais.

Através do Luís, desejo agradecer a coragem e a frontalidade e esperar que os desertores não seja o último tema para nos ocupar as horas vagas da caserna.

Um grande Abraço

João Gomes Bonifácio
Ex-Fur Mil do SAM
CCAÇ 2402/ BCAÇ 2851
, Mansabá, Olossato
1968/70

___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)

(2) Vd. posts de:

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1585: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (1): Carlos Vinhal / Joaquim Mexia Alves

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1586: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (2): Lema Santos

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1587: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (3): Vitor Junqueira / Sousa da Castro

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1588: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (4): Torcato Mendonça / Mário Bravo

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1589: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (5): David Guimarães / António Rosinha

13 de Março de 2007 >Guiné 63/74 - P1591: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (6): Pedro Lauret

14 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1592: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (7): João Bonifácio / Paulo Raposo / J.L. Vacas de Carvalho

14 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1593: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (8): A. Marques Lopes

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1596: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (9): Humberto Reis

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1597: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (10): Idálio Reis

16 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1599: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (11): Paulo Salgado

17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1604: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (12): J. L. Mendes Gomes

17 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1606: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (13): Jorge Cabral

Guiné 63/74 - P2097: Em busca de... (11): José Armindo Sentieiro, ex-fuzileiro, o único sobrevivente dos três desertores de Ganturé, em 1970 (Fernando Barata, ex-alf mil, CCAÇ 2700, Dulombi, 1970/72)


Senegal > PAIGC> Panfleto do PAIGC > s/d > Três fuzileiros portugueses que desertaram da base naval de Ganturé, COP 3, na região do Cacheu. Legenda: "A satisfação dos fuzileiros navais Pinto, Alfaiate e Sentieiro, fotografados em lugar seguro, após terem abandonado a base fluvial de Ganturé".

Documento digitalizado que nos chegou, em 2007, por mão do Fernando Barata, ex-alf mil da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (*). Na imagem, de péssima qualidade , o alentejano António José Vieira Pinto é o do meio, identificado por um amigo (no blogue Água Lisa, do João Tunes).  O Alberto Costa Alfaiate seria o da esquerda e o José Armindo Sentieiro, o da direita.


Foto: © Fernando Barata (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]

1. Mensagem, com data de 11 de maio de 2007, de Fernando Barata, ex-alf mil,  CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72):

Caro Luís Graça

Por altura da passagem do 30.º aniversário da operação Mar Verde pela pena de [o jornalista] Serafim Lobato, apresentou o jornal Público um artigo evocando a efeméride. Por attachment estou a enviar-te um subtítulo desse mesmo trabalho (Duas estranhas deserções que acabaram em morte).

Pedia-te que regressasses ao poste n.º 1496 do nosso Blogue  (*). Nele está o panfleto que te fiz chegar e no qual o PAIGC refere terem-se entregue, não dois mas sim três fuzileiros, concretamente, António Pinto, José Sentieiro e Alberto Alfaiate.

A notícia [do Serafim Lobato] procura especular quanto à morte estranha, já em Portugal, num acidente rodoviário, do Alberto Alfaiate e igualmente refere que “o segundo desertor [, António Pinto,] também faleceu em condições não muito claras”.

No poste n.º 1560 (**), o João Tunes relata ter conhecimento que o António Pinto faleceu há quatro anos. Por outro lado,  o artigo do Público tem data de novembro 2000. Assim sendo a sua morte teria ocorrido há mais de sete anos. 


Mas, não é essa discrepância que é importante. O importante seria ouvir o fuzileiro que resta: José Armindo Sentieiro, para que este esclarecesse em que condições se deu a deserção. Quem poderá ajudar a localizar o Sentieiro?

Um abraço do

Fernando Barata

_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1496: PAIGC - Propaganda (2): Notícia da deserção de três fuzileiros navais (Fernando Barata)

(**) Vd. poste de 3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)

Guiné 63/74 - P2096: Efemérides (5): Amílcal Cabral (1924-1973) faria hoje 83 anos, se fosse vivo (Virgínio Briote)

Poema de Amílcar Cabral
Praia, Cabo Verde, 1945

ILHA

Tu vives — mãe adormecida —
nua e esquecida,
seca,
fustigada pelos ventos,
ao som de músicas sem música
das águas que nos prendem…

Ilha:
teus montes e teus vales
não sentiram passar os tempos
e ficaram no mundo dos teus sonhos
— os sonhos dos teus filhos —
a clamar aos ventos que passam,
e às aves que voam, livres,
as tuas ânsias!

Ilha:
colina sem fim de terra vermelha
— terra dura —
rochas escarpadas tapando os horizontes,
mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias!


Faria hoje 83 anos

(i) Amílcar Cabral nasceu em Bafatá em 12 de Setembro de 1924.
(ii) Aos oito anos foi para Cabo Verde onde completou o curso dos liceus.
(iii) Em 1944 estava empregado na Imprensa Nacional, na Praia.
(iv) Com uma bolsa de estudos na mão, ingressou em 1945 no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa, curso que terminou em 1950.
(v) Começa nesse mesmo ano a trabalhar na Estação Agronómica de Santarém.
(vi) Em 1952 estava de novo em Bissau, contratado pelos Serviços Agrícolas Florestais da Guiné.
(vii) Em 1955, é-lhe imposta a saída da colónia.
(viii) Junta-se ao MPLA em 1956 e quatro anos depois é fundado em Bissau o PAIGC.
(ix) Em 23 de Janeiro de 1963, dá-se início à luta armada no território com o ataque a Tite.
(x) E quase 10 anos depois, em 20 de Janeiro de 1973, é assassinado em Conacri por dois elementos do seu partido, diz-se que com o conluio da polícia política portuguesa. Com a morte de Amílcar Cabral entrou-se na última fase do conflito. Encontra-se depositado num mausoléu na Amura.
_________
Editor: vb

Guiné 63/74 - P2095: PAIGC - Propaganda (3): A guerra dos números (A. Marques Lopes / António Pimentel)


Guiné > PAIGC > Cabeçalho do jornal do PAIGC Libertação - Unidade e Luta, edição nº 85, Dezembro de 1967. Exemplar na posse do nosso camarada António Pimentel, ex- Alf Mil Rec Info, CCS do BCAÇ 2851, Mansabá em Galomaro (1968/70), que vive actualmente no Porto. Recentemente ainda, o Pimentel facultou-nos, para consulta, um exemplar do Livro da Primeira Classe, usado nas escolas de ensino primário do PAIGC (1).

Fotos: © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.


1. Texto enviado em 29 de Agosto de 2007, pelo A. Marques Lopes, ex- Alf Mil At Inf (hoje Cor DFA, reformado, residente em Matosinhos), CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro)

A propaganda sempre teve importante papel em todos os conflitos, de um e de outro lado dos contendores (2):

No jornal Libertação (cujo cabeçalho acima se reproduz), na sua edição nº 85, de Dezembro de 1967, pode ler-se a seguinte notícia:

Mais um prisioneiro

No decurso de uma emboscada no Sector de Geba, que teve lugar no dia 18 deste mês, uma unidade do nosso Exército Popular infligiu ao Inimigo uma perda de 14 mortos e um grande número de feridos. Forçando o inimigo à debandada, os nossos camaradas conseguiram apoderar-se de um morteiro e grande quantidade de munições.

Nesta acção foi ferido e feito prisioneiro o soldado português nº 659, da Companhia 1690, aquartelada em Geba, Manuel Francisco Fragata.




Referiam-se à operação feita pela CART 1690 em Sinchã Jobel, a Op Invisível, em 18 de Dezembro de 1967. Disse-se no relatório dessa operação (3):

(...) mais submetido ao fogo IN, veio o 2º Gr Comb, comandado pelo Alferes Miliciano Fernandes em auxílio do primeiro, mas o mesmo foi atacado pela rectaguarda e, portanto, não pode proteger a retirada do primeiro. Começou também nessa altura o IN a fazer fogo com o Mort 82, com que abateu o alferes miliciano Fernandes; verifiquei que nessa altura já o Dest B tinha as seguintes baixas: Alferes Miliciano Fernandes, 1º. Cabo Sousa da CART 1742 e que estava a fazer fogo com a ML MG-42, soldado Metropolitano Fragata e um soldado milícia que não consegui identificar, além de vários feridos. Procurei trazer o alferes miliciano Fernandes para a rectaguarda e quando o puxava pelos pés, fui surpreendido por um grupo IN, que corriam em direcção aos furriéis milicianos (...).

Também ficou lá o soldado Vito da Silva Gonçalves e foi ferido e aprisionado o Manuel Fragata Francisco (nº 01547966... não sei onde foram buscar o nº 659). Também apanharam armamento e munições, é verdade, mas nada de 14 mortos...

No mesmo jornal, na sua edição de Fevereiro de 1968 (de acordo com um exemplar também emprestado pelo nosso camarada António Pimentel, para consulta) vem a notícia (coma respectiva foto) da captura de mais quatro militares portugueses, incluindo um oficial.




No capítulo Bissássema, a páginas 60 do seu livro Memórias de Um Prisioneiro de Guerra, diz o António Júlio Rosa (4):

Dentro do posto encontrava-me eu, o Maciel, o Cardoso, o Gomes e os três operadores das transmissões. De repente, apareceu, transtornado, o comandante da milícia de Tite. Só teve tempo de nos dizer que os turras estavam dentro do perímetro e se dirigiam para o local onde nos encontrávamos. Mal acabou de falar fomos atacados. Não deu sequer tempo
para se tentar encontrar uma solução!...

Rapidamente procurámos sair para o exterior. O Maciel, o Cardoso, o Djaló e o Gomes conseguiram sair. Quando cheguei à porta, seguido pelo Geraldino e pelo Capítulo, rebentou uma granada ofensiva mesmo na nossa frente. Eu levava a arma na mão, mas de nada me serviu. Com o sopro da explosão fui empurrado para trás e não via nada pois tinha os olhos cheios de terra. Com o estrondo, fiquei surdo!...

Foi uma sensação horrível!... Pensei que ia morrer!...Foi impressão instantânea que passou em segundos. Entretanto, tive outra sensação!... Tive o pressentimento que ia ser abatido!... Sinceramente, fiquei preparado para morrer!... Foi o que senti e afirmo que, naquele momento, se tivesse acontecido, não me teria custado nada. Reconheci que estava impotente e nada podia fazer para contrariar aquela acção. Afinal, não tinha chegado ainda a minha hora e, agora, espero bem que não esteja para chegar em breve. Naquele dia foi mesmo Deus que não permitiu o fim do meu viver; e a protecção divina ir-se-ia manter no futuro, pois forma muitas as vezes em que a minha vida esteve presa só por um fio muito ténue.

Senti-me agarrado, ao mesmo tempo que alguém me socava, violentamente, mas não sentia qualquer dor. Recordo-me que o meu quico saltou da cabeça e nunca mais o vi. Estava prisioneiro!... O Dino e o Capítulo tiveram a mesma sorte!...

O Ramalho, um dos telefonistas, recuou escondendo-se debaixo duma cama, assistindo a toda aquela cena. Foi mais bafejado pela sorte!... Nunca mais o vi nem falei com ele. Depois de nos terem levado para longe dali, fugiu para Tite.



Excerto da notícia da captura do António Júlio Rosa e de mais 3 dos seus camaradas (Jornal Libertação, Fevereiro de 1968, página 3):

(…) Na área de Quínara (Frente Sul), no dia 3 de Fevereiro [de 1968], no decurso de um ataque a uma unidade colonialista que se instalara na tabanca de Bissássema, as nossas forças, comandadas pelos camaradas Fokna Na Santchu e Mamadu Mané, fizeram prisioneiros os seguintes militares portugueses: alferes miliciano de infantaria António Júlio Rosa, 1º cabo nº 093526/66, Geraldino Marques Contino, o soldado nº 034660/66, Victor Manuel de Jesus Capítulo, todos da companhia 1743, estacionada em Tite.

Nesta acção foram ainda postos fora de combate 16 soldados colonialistas. O restante da tropa inimiga fugiu para o campo fortificado de Tite, abandonando no terreno uma importante quantidade de material, entre os quais se contam 6 rádios de campanha de fabricação britânica.

De acordo com as normas do Partido, estes novos prisioneiros portugueses receberão o tratamento humano que lhes é garantido pelas convenções internacionais (...).


O António Júlio Rosa não fala em baixas, mortos ou feridos... Poderia não ter tido conhecimento na altura, mas é natural que falasse deles quando escreveu o livro.

É só uma constatação, não uma admiração ou crítica, pois a propaganda era uma arma de um lado e do outro, também. A 24 de Junho de 1967 também disseram que em Sinchã Jobel tínhamos morto três guerrilheiros, mas eu sei que não foi verdade (5).

A. Marques Lopes
_________

Notas de L.G.:

(1) Vd posts de:

29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1899: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (1): O português...na luta de libertação

1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1907: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (2): A libertação da Ilha do Como (A. Marques Lopes / António Pimentel)

4 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1920: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (3): O mítico Morés

9 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1938: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (4): Catunco

(2) Vd. posts anteriores desta série:

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1346: PAIGC - Propaganda (1): morte aos colonialistas portugueses e seus cachorros de dois pés (Carlos Vinhal / Mário Dias / Luís Graça)

4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1496: PAIGC - Propaganda (2): Notícia da deserção de três fuzileiros navais (Fernando Barata)

(3) Vd. post de 5 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLV: Sinchã Jobel VII (A. Marques Lopes)

(4) Já anteriormente referido pelo A. Marques Lopes: vd post de 8 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCVII: Op Mar Verde (invasão de Conacri) (1)

(...) "Sobre a fotografia de prisioneiros a jogar à bola em Conacri, é natural que algum seja da CART 1690 [Geba, 1967/69], pois eram os que estavam lá em maior número. No entanto, é difícil distingui-los nessa fotografia. Para saberem o que foi a vida deles em cativeiro leiam o livro Memórias de Um Prisioneiro de Guerra, publicado pela editora Campo das Letras em Outubro de 2003 (...).

"O seu autor é o ex-alferes miliciano António Júlio Rosa (agora professor de Educação Física), que foi aprisionado pelo PAIGC na zona de Tite, no dia 1 de Fevereiro de 1968. Lá esteve até ao dia da libertação da Op Mar Verde. É um relato simples, sem literatura. Vale a pena ler, sobretudo nós que compreendemos tudo aquilo".

Vd. também recensão bibliográfdica do Jorge Santos: vd. post de 11 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CVI: Bibliografia de uma guerra (2)

(5) Vd. post de 30 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXXV: Uma estória de Sinchã Jobel ou a noite em que o Alferes Lopes dormiu na bolanha (1967) (A. Marques Lopes)

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2094: Álbum das Glórias (25): O meu Natal de 1969, em Bambadinca (Beja Santos)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca >Natal de 1969 > Cena de uma renhida disputa de bola (1) protagonizada pelo Beja Santos (da equipa dos velhinhos da CCS / BCAÇ 2852 mais adidos) e por um dos periquitos da CCAÇ 12)... Na foto, julgo reconhecer, pelo perfil, o nosso querido Tony Levezinho, furriel miliciano da CAÇ 12 (LG).


Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.

Foto com legenda enviada pelo Beja Santos, com data de 23 de Julho último, para o nosso Álbum das Glórias.

Comentário do B.S.:

Emboscadas,colunas,operações,missões psico,vigilâncias nas obras, nada me faltou no mês do Presépio. Perdi momentaneamente a pachorra para escrever, lia desalmadamente.

A pretexto de um futebolada em Bambadica (CCS/ BCAÇ 2852 e adventícios contra CCAÇ 12),pedi a alguém que disparasse um rolo para mandar aos mais queridos, em Lisboa.

No verso desta reza o seguinte: Ruy, Dear Father, Obrigado pela Peregrinatio ad loca infecta, do Jorge de Sena - uma grande estopada! Desejo-lhe um Natal cheio de Paz.Só me lembro do Natal de Missirá, irrepetível (2). Um abraço cheio de saudade, Mário.

O Ruy Cinatti (3) entregou-ma em Lisboa, convicto que eu viria a escrever as memórias...

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1096: O álbum das glórias (5): Futebol em Bambadinca, oficiais contra sargentos (Beja Santos)

(2) Vd. post de 22 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1392: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (26): Missirá, 1968, um Natal (ecuménico)

(3) Um dos grandes amigos e correspondentes do B.S.: vd. post de 10 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1032: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (5): Uma carta e um poema de Ruy Cinatti

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2093: Convívios (28): CCAV 2748, Canquelifá, 1970/72 (Francisco Palma)

1. Mensagem do Francisco Palma, que pertenceu à CCAV 2748, Canquelifá, 1970/72, a mesma unidade do infortunado Guido Brazão, ex-Alf Mil (1):

Junto tomo a liberdade de enviar a carta do programa do nosso convívio. Agradecendo antecipadamento toda a divulgação. Desejamos que um dia alguém escreva e HISTORIE as Campanhas do ex-Ultramar, COM MUITAS VERDADES E ALGUMA FICÇÃO (porque não ?).

Um muito obrigado e bem haja pelo seu excelente trabalho de compilação sobre as acções militares na Guiné.

Fico ao inteiro dispor para o que entenda por necessário.

Melhores Cumprimentos,
Francisco Palma

Obs. Era Condutor-Auto e sou DFA com 30,58 % de deficiência, devido ao rebentamento de uma mina anti-carro em Abril de 1970.

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ALMOÇO CONVÍVIO 2007

Meus caros camaradas e amigos: Conforme é habitual, vamos organizar mais um Convívio da CCAV 2748 no dia 30 de Setembro de 2007.

Programa:

12.00: Concentração no parque de estacionamento da Praça de Touros de Almeirim

13.00: Almoço no RESTAURANTE MARISQUEIRA PAULOS (Contacto: Sr Paulo) Largo da Praça de Touros,11–ALMEIRIM -Tlf: 243592200/22 -Tlm: 964450419 -mail Paulocalmeiro@gmail.com

PREÇO POR PESSOA: 16.00 Euros; Crianças (4 aos 11) 10.00 Euros; grátis até aos 4 anos.

Temos este ano, como pano de fundo, duas comemorações:



1ª: 35 anos do nosso regresso da Guiné.

2ª: 10 anos que nos reunimos pela 1ª vez em Estremoz.

São razões suficientes para nos juntarmos todos mais uma vez a fim de podermos lembrar, com saudade, todos aqueles que já partiram e ao mesmo tempo partilharmos com alegria o que sentimos cada vez que nos encontramos.

Decide-te e aparece. Estamos a ficar com bastantes anos de idade e devemos aproveitar o tempo que nos resta convivendo e lembrando os tempos da nossa mocidade.

Os interessados devem enviar a confirmação até 10 dias antes por carta ou para e-mail: fapalma@vodafone.pt


PAGAMENTO POR MULTIBANCO ou TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA, PARA A SEGUINTE CONTA MILLENNIUM BCP Nº: 45312555072 ou NIB 003300004531255507205

TITULAR: Francisco Augusto Palma (na transferência mencionar sempre o teu nome).

Para o que for necessário comunicar com a Comissão Organizadora:

Francisco Palma / TM 919457954

Firmino Moreira / TM 968576949

José Manuel Neves / TM 938026427

Rua Sta Rita, 239 Piso 0 Dtº, S. João do Estoril, 2765-281 ESTORIL (morada do F. Palma)


CONTINUAM AINDA POR LOCALIZAR OS NOSSOS CAMARADAS:

1º Cabo Enf 121025/69 JOÃO S. VIEIRA (era de Campanhã, Porto)

Sold 027565/70 JERÓNIMO C. C. HENRIQUES (era de Tomar, foi para a CCAV em Março de 1972), Casais da Madalena ,TOMAR

Sold S.A.E. 181801/68 JOÃO FILOMENO FERREIRA FRADINHO ?

Sold Cav 043988/69 JOAQUIM A.M.CARDOSO (era de V.Nova de Gaia)

Furriel Mil Inf 064950/68 JOSÉ J.CARVALHO ?

Sold Cond 166891/69 JOSÉ M. V. INÁCIO (era de Odivelas)

Sold JOSÉ M. CORREIA SANTOS (era de Silveiro, Oliveira do Bairro)

1º Cabo Coz 082400/68 JOSÉ SANTOS EUFRÁZIO (era de Aldeia dos Palheiros,Ourique). (Direç.: Praçeta S. Sebastião-lote 12,r/c, Amadora)

Sold 045114/69 LUIS F. FERNANDES (esteve até Março/72).

Dar informações para FIRMINO MOREIRA / TM 968576949

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Nota dos editores:

(1) Vd. posts de:

7 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2035: Alf Mil Guido Brazão, da CCAV 2748/BCAV 2922, morto em acidente com arma de fogo, Canquelifá, 22/10/70 (José M. Martins)

30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2012: Em busca de... (7): Meu irmão, Guido de Ponte Brazão da Silva, alferes, morto em Canquelifá, em 1970 (Conceição Brazão)

Guiné 63/74 - P2092: Antologia (61): Tempestade em Bissau (Mário G. Ferreira)

Capa do romance de Mário G. Ferreira, Tempestade em Bissau: Ano 1970. Lisboa: Pallium Editora. 2007. O autor foi Alf Mil Médico, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). 


 Um novo livro Tempestade em Bissau: Ano 1970 surgiu agora nas livrarias (1). Nos anos 70, um dos nossos Camaradas faz a viagem num navio prestes a ser abatido aos efectivos, nas mãos de um capitão experiente em muitas águas, a subir o Geba, até Bissau. Com a cidade à vista: 

(...) Naquele entardecer, quase no findar de um dia chuvoso, que o havia sido teimosamente, afinal o tempo que predominava por essa época do ano naquela região e àquela latitude, um local da África Ocidental situado entre o equador e o trópico de Câncer, o céu apresentava cores tristes e pardacentas, aqui e além matizado por manchas que iam do plúmbeo ao estanhado, num espectro amplo de tons que pronunciava iminentes tempestades. Em tudo uma atmosfera pesada que mais se adensava pelas emanações telúricas vindas de um solo vermelho e quente, e que lhe conferiam um odor característico, como que um sabor acre e húmido.A cidade, com as suas ruas, pracetas e ruelas a esse tempo acossadas pelo vento leste, por acção da corrente aérea equatorial (…), parecia adormecida. 

(…) Dominante e rectilínea, numa posição bem central, a avenida principal em evidência - uma via longa e larga, com uma faixa central de pisos alcatroado e mal conservado, ladeada à direita e à esquerda, e a todo o seu cumprimento, por espaços rectangulares revestidos de uma calçada à portuguesa bastante maltratada, interrompida a intervalos por áreas terrosas onde cresciam aloendros de flor branca ou vermelha. E depois, todo o património edificado, onde se podiam ver edifícios de estilo colonial e alguns outros de um estilo mais recente, para além de algumas repartições públicas tais como as finanças e os Correios, o Banco Nacional Ultramarino, a catedral, e armazéns comerciais, poucos.

(…) À esquerda, os edifícios de habitação, de um modo geral de dois pisos, e também alguns armazéns que guardavam castanha de caju, mandioca ou amendoim, estes em construções de um só piso; à direita, podia ver-se o largo passeio empedrado pelo qual se distribuíam alguns bancos de pedra e que tinha como limite um paredão que se prolongava até à Amura, sem chegar a atingir o Pelicano. 


Sob o olhar atento do nosso Camarada: 

(...) O navio (…) avançava mais lenta e preguiçosamente no largo estuário do outrora Rio Grande, curvando suavemente a bombordo até que a proa apontou para o norte, num sulcar das águas em direcção à ponte-cais do porto da cidade. Agora já em pleno rio, um largo e emblemático curso de água que, num longo trajecto e numa corrente serena, vindo do norte do território, tinha já banhado Bafatá, Bambadinca e Xime, para depois participar no encontro e junção, lá na Ponta do Inglês, com um outro seu braço vindo do sudeste, o Corubal. Assim se abraçando até se fundirem completamente e acabarem por formar o Grande Geba, que depois se continua no seu deslizar ainda mais lento para o mar, num terminar em que não é possível estabelecer com precisão onde acaba o rio e começa o oceano (…). 

 É um navio carregado de tropas, armas, frescos e diversos. O desembarque é feito segundo as normas militares. Em primeiro lugar, os oficiais, o comandante do batalhão acompanhado pelos oficiais da CCS, os impedidos com as bagagens de mão, e as companhias operacionais enquadradas pelos respectivos oficiais e sargentos, quase todos milicianos, por fim. 

 Segue-se o desembaraço dos porões, com grandes guinchos. Caixotes de madeira com material de guerra, filas de homens vergados ao peso de sacos de cereais ou de caixotes com rações de combate, caixões vazios e um cheio, com o corpo de Tolentino de Menezes, um guineense ilustre, oriundo das Índias Portuguesas e que encontrara a morte em Lisboa numa situação que o autor descreve como algo dramática. 

 E é à volta desta personagem que corre grande parte da obra de ficção que o nosso Camarada Mário Gonçalves Ferreira (2), médico de profissão há mais de trinta e cinco anos, dedica às vítimas da Guerra na Guiné-Bissau (1963-1974). 

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Notas dos editores: 

 (1) Lisboa: Pallium Editora. 2007. 216 pp. Preço 14 €. 

Guiné 63/74 - P2091: Cusa di nos terra (8): Bolama, caminho longe (Beja Santos)

1. Mensagem de Beja Santos, com data de 9 de Agosto último, enviada ao Henrique Matos, que foi o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52, com conhecimento aos editores do blogue:

Querido 1º Comandante,

Gostei muito das tuas informações sobre Bolama (1), uma cidade onde temos pesadas responsablidades culturais, por satisfazer e com urgência.Visitei-a num fim de semana, lá para Dezembro de 1991, no decurso da minha cooperação na área da política dos consumidores(ainda houve um despacho presidencial a criar a Comissão Interministerial de Defesa do Consumidor, fizeram-se 5 programas televisivos que me deram um trabalhão, tudo sem quaisquer consequências).

Apanhei um ferry que se viu em apuros na entrada da baía, tais as toneladas de areia por remover, depois é aquela beleza de uma cidade colonial decrépita, prédios de grande valor estético em ruínas (como o cinema, que só restava a fachada Art Deco), tudo fora do tempo e desprezado, como a estátua do Presidente Ulisses Grant, a quem a Guiné deve e não é pouco (3).
Foi uma odisseia encontrar onde comer, um dirigente do PAIGC deu-me dormida, tive a sorte de encontrar um guia conhecedor, pude visitar a magnífica Imprensa da Província, um verdadeiro museu. As praias, outrora um mimo, como te recordarás e se sente a lembrança, estavam num completo abandono.

Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > 1966 > Rua, com casas de arquitectura colonial, com o cais ao fundo... Na foto, o Alf Mil Domingos Matos, acabado de chegar, com o Alf Mil Baptista que estava colocado em São João, um destacamento de Tite, que ficava mesmo frente a Bolama do outro lado do canal.

Foto: ©: Henrique Matos (2007). Direitos reservados.

Pouco tempo antes de regressar à Guiné, o INEP-Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, que me pareceu trabalhar com seriedade, promovera um colóquio internacional sobre Bolama, as implicações históricas da capital da Província (Bolama, caminho longe). Não consegui as comunicações, só um conjunto de postais que certificavam o esplendor relativo de Bolama. Infelizmente, ofereci esses postais que mereciam ser mostrados no blogue. Talvez o Pepito, o Leopoldo Amado ou o Paulo Salgado possam ajudar.


Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > 1972 > Hotel Turismo (3)

Fotos: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados

Bolama tinha um cachet que Bissau nunca possuiu. Fizeste bem em recordar esse esplendor perdido! A propósito, e contado pelo tal dirigente do PAIGC: com a independência, procurou-se pulverizar com trotil o monumento oferecido por Mussolini. Puseram-se cargas poderosíssimas, o monumento nem tugiu. Desistiu-se... ainda bem para a História.

Então, para quando as tuas primeiras memórias do nosso Pel Caç Nat 52? Vou agora para umas férias com vários episódios a aboberar: um furriel que destrambelhou, um comandante que à terceira flagelação a Missirá em pouco tempo insinuou que não parulhávamos o suficiente, e depois um mina anti-carro em que tire culpas no cartório.. mas tudo será contado. Até breve, e não esqueças a nossa gente, Mário.~

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Notas dos editores:

(1) Vd. post de 3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)

(2) O património da Guiné-Bissau anda pela rua da amargura... Ainda recentemente desapareceu, da cidade de Bolama, em condições rocambolescas (!), a estátua em bronze do antigo presidente norte-americano Ulisses Grant (1822-1885), erguida em memória do papel decisivo que este estadista teve no desfecho do diferendo entre Lisboa e Londres sobre a ilha guineense.

Segundo noitícia da Lusa/SOL, de 4 de Setrembro último, uma empresa de sucata ligada a Alpoím Galvão teria comprado parte da estátua... O antigo militar português está em Bissau desde 2004 com um projecto de investimento no sector de recolha de sucata e transformação de caju, principal produto agrícola do país. Alpoim Calvão dá emprego a cerca de 1.500 guineenses na ilha de Bolama. O empresário ficou sujeito a termo de identidade e residência em Bissau, por alegado envolvimento no desaparecimento da estátua e até o assunto ficar esclarecido não poderá sair de Bissau...

(3) Vd. post de 5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1401: Com a CART 3492, em Bolama, no Reino dos Bijagós (Joaquim Mexia Alves)

domingo, 9 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2090: Pelotões de Reconhecimento Fox em Guileje (Nuno Rubim)





Guiné > Região de Tombali > Guileje > A Fox MG-36-24, que pertenceu aos Pipas, foi sendo sucessivamente rebaptizada: Bêbeda, Diabos do Texas... Segundo Nuno Rubim, "a matrícula da Fox é a mesma que consta numa fotografia tirada por elementos do PAIGC em Maio de 1973, quando ocuparam o quartel! Portanto a Bêbeda ( que vai ficar para a história, representada com essa mesma inscrição no diorama de Guileje ....) terá servido desde 1965 até 1973, integrada nos sucessivos Pel Rec Fox que por lá passaram"... A foto de cima foi gentilmente cedida pelo Teco (Alberto Pires), da CCAÇ 726.

Fotos: © Nuno Rubim (2007). Direitos reservados.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, no topo de uma Fox, viatura blindada do Esquadrão de Reconhecimento Fox. Juklgo tartar-se da MG-36-24. Estas unidades de cavalaria também possuíam, pelo menos, uma viatura White (MG-34-69). Este documento que faz parte do álbum fotográfico do Casimiro Carvalho, não tem data sem data nem legenda (mas só pode ser de final de 1972 ou princípios de 1973). Segundo o Casimiro Carvalho, o pelotão chamava-se Os Pipas, nome da Fox quando Guileje foi abandonada pelas NT e ocupada pelo PAIGC em 22 de Maio de 1973.

Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Nuno Rubim, com data de ontem:

Caro Luís:

Quando puderes agradecia-te que colocasses a seguinte questão no nosso blogue:

Do que me foi possível averiguar, estiveram sediados em Guileje (Mejo),
temporária ou permanentemente, os seguintes Pel Rec Fox: 42, 839, 888,
963, 1165 e 3115 (1).

Gostaria de saber se algum dos camaradas tem conhecimento de outras unidades deste tipo que tivessem operado na zona de responsabilidade das Companhias sediadas em Guileje, no período da sua existência, 1964-1973.

Obrigado.

Um abraço

Nuno Rubim
2. Esclarecimento postior do Nuno:
Luís: Exactamente. Mejo era um destacamento de Guileje ( 2 Pelotões) e foi abandonado em 1969, mesmo ano ( o 2º da vigência Spínola ) em que vários outros aquartelamentos da Guiné foram também extintos. Isto ainda constitui para mim um certo mistério...

Os Pipas era o Pel Rec Fox 3115, o último em Guileje. Do meu tempo era a tal Fox denominada Bêbeda ... Obrigado.

Um abraço

Nuno Rubim

3. Comentário de L.G.:
Pedimos a urgente, oportuna, calorosa e inestimável colaboração de todos os camaradas, em especial dos de cavalaria, que estiveram no sul da Guiné, respondendo ao pedido do Nuno Rubim, coronel de artilharia na reforma, especialista em história militar e responsável pela criação de um notável diorama de Guileje, que será oficialmente apresentado ao público por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje, Guiné-Bissau, 1 a 7 de Março de 2008. O diorama é uma peça central do futuro núcleo museológico de Guileje.
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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de

Guiné 63/74 - P2089: O stresse pós-traumático dos veteranos da guerra colonial

Recorte do 24 Horas, enviado pelo nosso Camarada António Rodrigues.

Hoje na revista do DN, o Coronel Manuel Bernardo aponta outros números para os afectados pelo stress pós-traumático
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Guerra de números

Num artigo publicado na NM (Notícias Magazine), de 15 de Julho último, com o título “Guerra sem Fim", destaca-se numa nota de abertura: “Ângela Maia (…) conclui que, no mínimo, trezentos mil homens poderão estar profundamente doentes e abandonados à sua sorte.”

Estes números não correspondem minimamente à realidade existente. Esta equipa de investigação não terá feito a análise dos estudos efectuados em Portugal, já que neste tipo de trabalhos será fundamental fazer comparações com os efectuados a nível nacional e internacional.

Num trabalho anterior, Afonso de Albuquerque(*) e Fani Lopes indicavam ser o quantitativo de vítimas do PTSD (Post Traumatic Stress Disorder), em Portugal, de 140 mil, apenas por extrapolação do sucedido com os americanos no Vietnam. Mas a guerra neste território não é comparável com o sucedido no ex-Ultramar português.

Num artigo da minha autoria publicado no Combatente, da Liga dos Combatentes, em Março de 1992, defendi que essa extrapolação era errada e que os números correctos seriam inferiores a 40 mil (18 por cento dos 240 mil combatentes indicados por Afonso de Albuquerque). Muito elucidativa seria a alteração da opinião do psiquiatra na Visão, de 02.12.1999, quando veio afirmar serem 40 mil os afectados pelo PSTD.

E em relação às percentagens dos combatentes, em vez do exagero anterior, na SIC, em 10.01.2002, indicará uma percentagem aceitável: 15 porcento.

Assim, como refiro no meu livro Combater em Moçambique (**): 1964-1975 (2003), em relação aos 276.276 ex-combatentes do Exército, o número seria de 41.546. Se juntarmos, a estes, os fuzileiros e os pára-quedistas, poderemos afirmar tratar-se de cerca de 50 mil homens, que devem merecer todos os cuidados médicos, numa rede prevista na lei e ainda vergonhosamente não implementada.

Depois de tudo o que aqui ficou descrito, a equipa de investigadores de Braga ainda poderá afirmar que “estão profundamente doentes e abandonados à sua sorte, no mínimo 300 mil homens”?

Não conhecendo o estudo em questão limito-me a fazer apenas este pequeno reparo. Da amostra de 350 ex-combatentes indicada não pode ser feita a extrapolação referida (38 por cento dos afectados) para a generalidade dos que estiveram em combate e que não foram um milhão, mas apenas cerca de 300 mil.Os restantes 700 mil foram para o Ultramar, mas não entraram em acções de combate.

Esperemos que, apesar das divergências em relação aos quantitativos dos doentes, os investigadores, os médicos e os jornalistas se empenhem e forcem o governo a cumprir a Lei nº 46 de 16.06.1999, que previa a “criação de uma rede nacional de apoio, que desse resposta clínica e económica aos afectados”.

É que, apesar de um despacho conjunto do Ministério de Defesa e do Ministério da Saúde, a aprovar o regulamento dos protocolos entre estes ministérios e as ONGs, com vista “à criação da rede nacional de apoio aos militares e ex-militares portadores de perturbação psicológica crónica, resultantes da exposição a factores traumáticos de stress durante a vida militar, instituída pela Lei nº 46/1999” segundo a jornalista Helena Mendonça, seis anos depois, “a tão propalada medida continua a não chegar aos que precisam”.

Manuel Amaro Bernardo, coronel reformado
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(*) Dr. Afonso de Albuquerque, psiquiatra que prestou serviço no Hospital Miguel Bombarda, um dos primeiros especialistas nacionais a dedicar-se ao tratamento do Stresse pós-traumático, tendo chegado a reunir em grupo de ajuda uma equipa de ex-combatentes das guerras coloniais.

(**) Manuel A. Bernardo publicou, entre outras obras, Combater em Moçambique, Memórias da Revolução e Timor Abandono e Tragédia

Guiné 63/74 - P2088: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008) (3): Um encontro de gente plural e fraterna (Torcato Mendonça)

Fundão > 27 de Janeiro de 2007 > Um conversa amena, amável e amigável com o Torcato Mendonça que tive o privilégio de conhecer na sua terra adoptiva onde vive e trabalha a minha irmã mais nova, enfermeira no centro de saúde local. Devo lá voltar em 30 de Setembro próximo.

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.



1. Mensagem do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Fá Mandinga e Mansambo, 1968/79):

Caro Luís Graça:

Há dias, já neste mês, mandei dois e-mails. O nosso Camarada Carlos Vinhal caçou-os. Sempre atento.

No último focava dois pontos: um relacionado com os Felupes – assunto que agora me interessa – e, outro sobre a decisão do Coronel Coutinho e Lima. Citava até uma frase do Eduardo Águalusa, De Quantas Verdades Se Faz uma Mentira!

A propósito do Simpósio (1) – o mais despretensioso possível – cito o Bertold Brecht: Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz quão violentas são as margens que o comprimem. Cito de cor e penso que, quer na primeira quer na segunda citação, me compreendes/compreendem.

Ora o Blogue, sem pretender ser sapateiro e ir além da chinela, pode eventualmente ter dado um contributo para alguns temas em debate.

O Simpósio será certamente o encontro de Gentes em debate plural, na procura da verdade. Forçoso fazê-lo em rio de bonança mas, principalmente, sem margens.

Ou seja, meu Caro Luis Graça, a verdade – a plena é utópica – terá que ser a mais próxima da realidade, a do passado, do presente para, e só assim, se poder projectar no futuro. Entendendo mas invertendo, literalmente, a frase citada.

Pode, quanto a mim, abrir um parênteses no nosso Blogue, pois este tema merece tratamento diverso do seguido até agora. Trata de África, Guiné, antigos Combatentes mas vai, penso eu, muito além disso. Claro que ainda disponho de pouca informação. Contudo procura certamente este Simpósio, com os temas em debate, ser determinante ou dar forte contributo para o Desenvolvimento da Guiné e o Relacionamento Fraterno entre os nossos Povos.

Tudo em rio de bonança e sem margens a espartilhar a libertação do pensamento… humildemente assim o espero.

Gosto – logo penso –, vou estar atento e escrevo para o meu arquivo. Merece-me uma atenção especial.

Um desejo, um voto de Força aos Homens de Boas Vontades a trabalharem para um Mundo mais Fraterno, Justo e Desenvolvido. Bom trabalho.

Paro. Editor e Co – Editores, um abraço para vocês do,

Torcato Mendonça
Apartado 43,
6230-909 Fundão


2. Comentário de L.G.:

Obrigado, amigo e camarada pelos teus comentários sobre o Simpósio. Sei que não poderás ou quererás (sobretudo por razões de saúde) voltar à Guiné. Mas o teu amor por aquelas terras e aquelas razões está bem patente das tuas palavras. Aqui fica o registo, esperando que outros camaradas da nossa Tabanca Grande também se pronunciem sobre este acontecimento que será, certamente, memorável, com o contributo de todos nós.
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Nota de L.G.:


(1) Vd. posts de: