terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2507: Estórias do Zé Teixeira (25): Raúl Fodé (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)


O nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), que vive em Matosinhos, mandou-nos mais um testemunho da sua vivência com aquela boa gente da Guiné.

Desta feita, apresenta-nos o Raúl Fodé, uma figura marcante de Empada, com quem o Zé Teixeira mantinha longas conversas, não fossem eles camaradas na área da saúde.


O Raul Fodé

por José Teixeira (1)

Escrever sobre o Raúl Fodé é deixar vir à ribalta da memória acontecimentos, vivências e emoções que o deslizar galopante dos anos impregnou de poeira impiedosamente. Marcas que afectaram positivamente as nossas vidas, contribuindo para uma forte e sincera amizade.

Partiu uns anos depois ao encontro eterno com Alá e as suas setenta mil virgens, mas o seu espírito continua vivo na minha memória.

Homem culto, profundamente religioso, homem afável e conversador, observador atento a tudo quanto o rodeava, muito respeitado localmente pelo seu carácter, facilmente cativava amizades.

Servia Portugal como soldado da milícia na área da saúde, em Empada, como enfermeiro auxiliar no Pelotão de Milícias. Por tal facto colaborava na enfermaria do quartel no acolhimento e tratamento das maleitas da população.

Alfaiate de profissão, era um gosto vê-lo, sempre que a vida militar o libertava, à porta da sua morança a costurar. Era também o Imã na Mesquita local, onde orientava as rezas, escrevia as tábuas do Corão para os putos decorarem, como é principio básico da religião muçulmana, ou mesmo a catequizá-las, levando-as a cantarolar aquela cantilena tão característica, que nos transportava à nossa infância, quando cantarolávamos o Pai Nosso ou a Salvé Rainha, orientados pela respeitável mestra (catequista) local, ou mesmo à escola onde tentávamos encornar a tabuada, o célebre dois vezes um.. dois, dois vezes dois... quatro...

À noite, sentado na soleira da porta da sua morança, dava conselhos aos mais novos ou ouvia respeitosamente os mais velhos ou quem tinha outro tipo de conhecimentos, que porventura lhe interessassem para enriquecer a sua já vasta biblioteca cerebral.

Considero-me um felizardo em ter podido viver e conviver com o Fodé. Sempre disponível na enfermaria, quando saíamos para as operações em conjunto, era o meu braço direito no transporte do equipamento de enfermagem – bolsa e maca.

Quantas noites ficámos os dois à conversa! Tudo se discutia: religiões, cristã e muçulmana, com os seus dogmas, verdades e princípios, literatura, geografia, política, etc. A política era um tema perigoso, que se falava quando estávamos sozinhos, pois até no mais interior da Guiné a PIDE tinha ouvidos.

Como língua, usava a da sua etnia, a da sua religião, o português falado e escrito correctamente, o crioulo e mais uma ou duas línguas locais, de povos ligados pela religião na Mesquita local.

Gostava muito que lhe falasse de Portugal , de Lisboa sobretudo, onde sonhava ir um dia.

Um exemplo de exploração colonial

Uma das nossas conversas desandou para o rumo da Guiné nos tempos futuros. Sentia-se português, mas tinha muito medo do futuro, porque a tropa não sentia o pulsar da Guiné e os brancos que por lá tinham passado, no seu espírito comerciante de ganhar dinheiro, tinham feito muito mal à população.

Fui cáustico para com ele, questionando-o se não ganharia mais a trabalhar a terra, apesar do esforço e trabalho exigente, do que a servir a tropa, pois um dia a guerra teria um fim. O que seria da sua gente ?

Sua resposta cruel veio de seguida para abalar a minha consciência de branco, educado num ambiente colonizador, em que os africanos eram os pretinhos coitadinhos e nós, os portugueses, os seus salvadores, porque lhe levámos a religião cristã e a civilização.

Disse-me ele:
- A região do Tombali, tal como a de Forreá, foram outrora muito ricas em arroz, milho, madeiras, peixe, etc. As etnias tinham os seus chefes, as suas normas e conseguiam entender-se de modo a que tudo estava bem. Chegaram os brancos vindos de Bissau, a produção aumentou muito, desenvolveu-se a produção da mancarra, que deu cabo da terra. A população começou a trabalhar para os brancos, dividiu-se e lentamente empobreceu, apesar de trabalhar e produzir muito mais. Os brancos, esses, ganharam muito dinheiro. Repara, eu, Fodé, vou na bolanha, com mulheres e filhos, rasgo a terra e semeio mancarra. Arranco as ervas más, cavo a terra para amolecer e provocar o enraizamento, passo lá todo o tempo a defender de animais e do bandido. Quando está seco, corto separo e ensaco, transporto para loja do branco, que me paga um peso [moeda antiga que correspondia a um escudo] por saco. Quando chega o barco, tenho de fazer o transporte desde a loja do branco. Isto é tudo trabalho meu. Agora sabes quanto recebe o branco por cada saco de mancarra ?
- Dois pesos - disse eu convictamente.
- Dois? Era bom! Por cada saco de mancarra, cultivada, secada, ensacada e embarcada por mim, o branco recebe quinze pesos.

Era este Portugal que tínhamos na Guiné, antes da guerra colonial começar.

Zé Teixeira

Guiné-Bissau > Mampatá > 2005 > José Teixeira reencontra bajuda de outros tempos
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 7 de setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2087: Estórias do Zé Teixeira (24): Vítimas inocentes (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

Guiné 63/74 - P2506: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (9): Parte VIII: Os demónios étnicos (Mário Fitas)








Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66) > Os Lassas e os cães...

Fotos: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.

PAMI NA DONDO, A GUERRILHEIRA (1)
por Mário Vicente
Prefácio: Carlos da Costa Campos, Cor
Capa: Filipa Barradas
Edição de autor
Impressão: Cercica, Estoril, 2005
Patrocínio da Junta de Freguesia do Estoril
Nº de páginas: 112


Edição no blogue, devidamente autorizada pelo autor, Mário Vicente Fitas Ralhete (ex Fur Mil Inf Op Esp, CCAÇ 726)

Revisão do texto, resumo e subtítulos: Luís Graça.

Parte VIII - (pp. 61-80) - Os demónios étnicos (2)


(i) O novo prisioneiro, Na Iala, enfermeiro, amigo de Pami, é abatido a tiro, ao tentar fugir de Cufar

Aos poucos Pami fazia já parte do próprio aquartelamento. E por vezes pensando no regresso -se isso acontecesse- tinha receio que não fosse compreendida e nela não acreditassem. Continuava conversando com as suas - agora - amigas Meta e Míriam. Os interrogatórios tinham terminado, e o alferes Telmo e o furriel Rafael, ignorando-a por completo, passavam por ela como uma desconhecida.

Princípio de Novembro [de 1965], aparecem mais prisioneiros no Aquartelamento. Com grande surpresa, Pami reconhece num deles, o seu grande amigo Go Na Iala. Durante a noite, começa a gizar um plano para chegar à fala com ele. Em vão, Na Iala ao romper da manhã tenta a fuga. O guarda dos prisioneiros faz o primeiro tiro e não acerta, o enfermeiro da guerrilha salta a primeira sebe de arame farpado, mas uma rajada, agora certeira, fá-lo ficar - como um Cristo- de braços abertos sobre a segunda barreira. Aqui paga-se caro a ousadia. Quem colaborar, não tem problemas, mas quem tentar qualquer coisa contra, paga com a própria vida. Pami chora enquanto Go Na Iala, é enterrado fora do arame farpado junto à lagoa.

(ii) A procissão das velas

Os dias, eternidade infinita, vão passando. A professora de Flaque Injã vê e começa a conhecer os Lassas no seu quotidiano. Extremamente disciplinados, mas reagem à injustiça. Assiste a uma manifestação de rejeição, que não calculava acontecer. Numa formatura, para receber o pré (remuneração dos militares), recebem conjuntamente duas velas de estearina, dois rolos de papel higiénico e uma caixa de graxa, que lhes é descontado na remuneração, material ao qual não davam utilização. Os soldados tudo receberam sem nenhum protesto.

À noite após o jantar, Pami sentiu movimentação na varanda do Comando e ouviu os comentários dos alferes sobre o que se estava a passar, e reparou então no espectáculo. Silenciosamente, mais de uma centena de militares, em duas filas subiam a estrada do antigo para o novo Aquartelamento. De velas acesas, faziam uma procissão. Passando em silêncio absoluto, em frente do comando, a manifestação de desagrado destroçou, junto à porta de armas de acesso à pista de aviação. No dia seguinte, ao romper da aurora, o Aquartelamento estava lindo. O papel higiénico que tinha sido distribuído, - desenrolado - ornamentava o arame farpado em volta de todo o quartel de Cufar. A brincadeira não foi encarada muito bem pelo comando, mas inteligentemente, o Leão de Cufar ajuizou, e por fim até riu, e mandou repor o dinheiro aos militares, com grande protesto do G3, alcunha com que os soldados tratavam o primeiro sargento da companhia. Pami não compreendia a razão de tal alcunha.


(iii) Os Lassas, a sua estratégia de sedução e os seus cães

Em Dezembro, a professora de Flaque Injã viu nascer a concorrência e sentiu ódio e ciúmes pela senhora branca de óculos que dava aulas, no Aquartelamento, às crianças das populações a Sul. A ex-guerrilheira agora apercebia-se bem de que de facto era difícil combater os Lassas, eles sabiam actuar em toda a linha da contraguerrilha. Não só davam aulas, como forneciam o pequeno-almoço, e o sargento Miguel dava aulas de ginástica, a uma centena de miúdos, oriundos das tabancas controladas pelo exército. Aos poucos Pami foi reconhecendo que o trabalho não seria mau, pois aqueles miúdos, mais cedo ou mais tarde, iriam engordar as fileiras da guerrilha, e assim seria melhor, irem com determinados conhecimentos, depois seria só uma questão de trabalho político.

Meta e Míriam continuavam a falar com a prisioneira, e esta tomava outro à vontade. Só não compreendia é que ninguém dos militares lhe ligasse qualquer atenção. Apenas um ou outro soldado se ia tentando aproximar, com o intuito de receber alguns favores de sexo, mas o medo da sua condição de prisioneira não os deixava chegar muito perto. Interessante, achava aquele furriel de barbas e muito peludo, que todos os dias passava para o seu abrigo com uma lata de comida para o seu cão que o seguia sempre pachorrentamente. Engraçado! Aquele furriel de nome Gonçalo, falando sempre com o seu cão cufar. Nas saídas para operações, era ele e mais dois - um alferes e um soldado - os únicos que usavam capacete. Já tinha ouvido uma vez comentar, um outro furriel, de nome Gama - que falava com um sotaque diferente dos outros -, rir e dizer:
- Porque é que andas com essa merda sempre nos cornos, carago? Fritas os miolos quando abre o sol!


(iv) Bombas sobre o Cantanhez

Aproxima-se o final do ano de 1965, por sobre o Cantanhez, de noite, aparecem aviões a lançarem toneladas de bombas. É um espectáculo pirotécnico extraordinário, com as balas tracejantes das antiaéreas do PAIGC a tentarem atingir os bombardeiros. A professora fica excitada, com a ilusão de que alguma antiaérea atingisse algum avião. Os militares ficam radiantes, observando o espectáculo, e deliram, dando gritos, quando ouvem os estrondos dos rebentamentos que, mesmo à distância, fazem tremer os abrigos do aquartelamento. Em qualquer lado, as bombas lançadas destruiriam tudo. Mas nas matas do Cantanhez não vai ser assim.

A seguir à passagem do ano, os Lassas saem mais uma vez, durante o dia, as viaturas transportam os militares para Catió. Outros vieram para fazer segurança ao aquartelamento. Dois dias passaram até ao regresso. Soube que tinham andado por Darsalame.

(v) O Furriel Rafael é ferido e evacuado para o Hospital de Bissau

Míriam apareceu-lhe chorando. O furriel Rafael tinha sido evacuado para o hospital em Bissau, mas ninguém lhe explicava o porquê.

Míriam aproxima-se mais de Pami, e esta vai fomentando mais esse convívio, de tal forma que a lavadeira chega a convidar a prisioneira a acompanhá-la até ao quarto de Rafael, de quem tratava a roupa. O quarto era limpo pelo atrevido do Amadu, que aproveitava a não estadia do Rafael, para ir com Meta para cima da cama do furriel. Míriam bem barafustava, mas não resultava nada.

Pami ficou maravilhada. Entre as camas, havia uns pequenos móveis onde se viam algumas fotografias de mulheres brancas, mas que deveriam ser muito jovens ainda. Por debaixo da cama, grandes malas, onde segundo a lavadeira, eram guardadas as cartas que recebiam da família para além da roupa não militar. A um canto estavam encostadas as armas, G3 e respectivas cartucheiras, e a célebre pistola que Rafael tinha utilizado no interrogatório de Pami. Verificando as fotografias que se encontravam sobre o móvel que devia ser pertença de Rafael, a prisioneira solicitou a Míriam se podia ver, ao que esta respondeu:
- Vê mas cá estraga, e cá suja! Furiel mata mim!

Pami pegou num monte de fotografias. A maioria eram fotos do furriel no quartel, havia de outras pessoas, mas duas fotos chamaram-lhe a atenção: Uma era o furriel, com uma farda e um lenço enrolado os pescoço e na cabeça um chapéu engraçado. Na foto rodeando o furriel, havia outros rapazes fardados da mesma maneira, e algumas crianças brancas também fardadas, mas de boina na cabeça. A outra foto era de uma jovem branca muito linda, com uns olhos negros muito grandes toda vestida de preto. Disfarçadamente, Pami virou a fotografia e leu: “Para o meu adorável maridinho, com milhões de beijinhos da sua Mimê”. Virou-se para Míriam e perguntou quem era aquela mulher.
- Chi!... Tu cá fala que viu isso! Esse aí é bajuda de furiel! Ele gosta desse. Mas tem outro que gosta mais, e dá cabo de cabeça de furiel. Mas esse bajuda não quer ele! Esse que está na torgafia chama MiMê. O outro ele tem nome de ele no boina da cabeça.
-Jube!

Tirou a boina preta que estava pendurada na parede e, virando-a, mostrou a parte de dentro, onde no forro amarelo já um pouco surrado, estava inscrito em maiúsculas: TÂNIA. Pami mostrou desconhecer, e perguntou a Miriam:
-Como é o nome dela?
- Mim não sabe bem, furiel diz Tanía ou?... Eu não sabe bem! Mas esse é mesmo bajuda qui tá no cabeça dele.

(v) A porfessora Pami fica triste ao constatar que nem os Lassas saber ler e escrever


Pami começava a ficar maravilhada ao saber estas coisas, ao ponto de esquecer que era prisioneira. Mas, agora, também não sabia bem que espécie de prisioneira era, que podia andar por todo o lado e ninguém lhe ligava. Dava a impressão de que já fazia parte daquela comunidade.

Não poderia escrever, a forma de estar e de viver dos militares, nem desenhar os abrigos, e sistemas de defesa do aquartelamento. Restava-lhe, para além da sua capacidade de observação, a excelente memória visual. Na sua cabeça ia sendo armazenada toda uma gama de informações, que seria um manancial para a guerrilha. Pami estava dona e senhora de toda a vida, e procedimentos, dentro do recinto militar. Inteligentemente, chegou até a estudar certos militares, e o seu comportamento. Chegando à conclusão que a maioria deles não sabia até porque estavam ali. Apercebendo-se que alguns consideravam a sua estadia ali como castigo.

Começou a observar a própria reacção dos homens no quotidiano, e verificou a grande diferença, em termos culturais e de instrução, que existia entre muitos deles. Ficou triste certo dia, quando ouviu um soldado a ler a outro, uma carta dos pais, que concerteza também por eles não teria sido escrita. Pami regrediu um pouco aos tempos do padre Francelino, e agora sim compreendia muitas mensagens dele - anacrónica situação dos homens que se matam sem saber o porquê - a crua realidade da estupidez humana.

Pami viu! Sentiu, a verdade humana. A única diferença em muitas situações seria apenas a cor da pele. A dor, os sentimentos, o amor, a forma de olhar para a Natureza, era concerteza idêntica entre os que se matavam para não morrer. Os ideais eram cota mínima nesta montanha de lama.

(vi) Dois pobres diabos, tarados sexuais, Guita e Trinta, que estragam a fotografia ao Leão de Cufar


A professora - prisioneira livre - extasiava ao começar a conhecer os homens, através do que via, e ouvia. Míriam tudo lhe contava. Conhecia e sabia coisas que a maravilhavam na sua descoberta dos Lassas. E conheceu as histórias do soldado Guito, analfabeto, sempre de calções rotos, sem cuecas com o sexo à mostra. As incursões que fazia em companhia do soldado Trinta, emboscando as mulheres das tabancas - novas ou velhas - para delas se servirem sexualmente. Umas vezes voluntariamente, por permuta de um pão ou dez pesos, outras por violação, servindo-se um enquanto o outro segurava e amordaçava a vítima. Taras! Sim porque teve conhecimento, e ouvia outros soldados, gozarem o pobre diabo do soldado Guito, quando este pedia para lhe escreverem uma carta, para sua madrinha de guerra. Era matemática a pergunta inicial, para abertura da escrita:
- Então o que queres mandar para o Paneleiro?

A madrinha de guerra do soldado era de facto um homossexual. Mas estes acontecimentos, de violações, e negócios de sexo, traziam por vezes problemas, de uma certa gravidade, dado estragarem o trabalho psicossocial. Por essa razão, teve o Leão de Cufar um dia de mandar formar a Companhia, para uma pobre velha, identificar os soldados Guito e Trinta, porque se tinham servido dela, e não tinham pago os dez pesos (escudos) prometidos, para satisfação da sua necessidade sexual.

Histórias interessantes, outras menos, iam preenchendo o tempo da prisioneira. Ouviu um dia o Ti Manel, -alcunha do cabo do furriel Rafael - contar a sua vida, até ir para a tropa. Com apenas nove anos, falecera-lhe o pai e ele teve de começar a trabalhar para poder ajudar sua mãe na sustentação da casa e criação dos irmãos mais novos. Coisa triste!

Muitas! Muitas coisas ficou a saber sobre todos estes soldados. Desde o internamento em colégio de meninos bem do furriel Taveira, do Rafael não ter sido padre por causa da bajuda, cujo nome estava inscrito na boina como dizia Míriam. Dos alferes e seus namoros, com tiros de bala simulada, por emboscada, efectuada pelos furriéis Tambinha e Mamadu. O Gonçalo, que deixou a alimentação dos soldados, e foi lutar para o mato por desentendimento com o G3. O enfermeiro, que mandara vir para aquele ambiente de guerra a mulher e suas filhas de tenra idade.

(vii) Homens com sérios problemas de saúde

Da porta da sua prisão, nas saídas até ao poço, para lavar a roupa, nas voltas entre a casa dos milícias e a messe de sargentos com as suas companheiras fulas, Pami ia ouvindo e gravando as histórias dos militares, algumas tão tristes que dariam para um romance, outras tão tontas que dariam para uma comédia. Também não tinham a vida muito fácil aqueles homens. E recordava o Velhinha -alcunha do furriel Silvestre - e os seus problemas de saúde intestinais, poderia ter-se ficado naquelas terras se não fora mandado para Bissau. E parece que fora agora, que ouvira o furriel Gasolinas, Alberto de nome, comentar com o furriel Tomé das transmissões:
- É, pá, se o Velhinha não é evacuado, o gajo lerpa! Oh Tomé, vê lá que os soldados dizem que o gajo arranjou uma lata, e passa as noites na cama dentro do mosquiteiro, não a dormir, mas a cagar para a lata, e a desfazer-se em diarreia.
- Mas isso deve ser terrível, deve ser um fedor naquele abrigo! - tinha ripostado o Tomé.

(ix) E se a Guiné se tornasse independente ? Quem é que mandaria ? Os caboverdianos, pois claro

A sensibilidade de Pami ia sendo tocada por estes e outros casos. Mas, mais uma conversa dos frequentadores do varandim deixaram-na uma tarde estupefacta. Um grupo em que sobressaía o Leão de Cufar, abertamente e sem rodeios, discutiam acaloradamente, sobre os povos da Guiné, e não só. A conversa tinha começado por um alferes, que atirou para o Leão:
- Ó meu capitão, como é que será, se nós perdermos a guerra, ou se por hipótese Portugal der a independência a estes gajos?
- É, pá, você está louco ou quê? Primeiro, isto ainda está numa fase em que nós podemos perfeitamente ganhar a guerra, aliás temos mesmo de a ganhar, e sobre isso não há dúvidas! Ou tem?
- Não... Não!
- Ainda bem! O problema maior que se põe hoje, é a questão da ajuda dos países comunistas ao PAIGC, e as fronteiras abertas que o partido tem. Em contrapartida, do nosso lado, temos a Organização de Unidade Africana a reconhecer o PAIGC como legítimo representante do Povo da Guiné-Bissau. Os EUA estão-se nas encolhas, aliás com graves problemas no Vietname, e a ONU está em cima de nós!

O alferes interrompeu e disse:
- Sim, isso é o problema político-militar, que possivelmente pode ter influências a nível da guerrilha, como da nossa parte. Eu até gostava de ver os americanos a combater aqui com as nossas condições!?

Resposta imediata do alferes Azeredo:
- O quê? Os américas aqui a dormir nos buracos!? Carago, não estavam cá um dia sequer.

O alferes que tinha iniciado a pergunta, voltou à carga.
- Mas a questão que eu ponho é a do entendimento entre tantas raças!? Já viu! Os Cabo-verdianos, nunca se sabe de que lado estão!
- Sim ... Sim!

Retorquiu o capitão continuando:
- O problema é grave, não há dúvidas!
- Vejamos: Os quadros do PAIGC, no exterior, são quase todos Cabo-verdianos que estudaram na Metrópole, controlam o aparelho do partido e a guerrilha, formada na maioria por Balantas, Nalus e Papéis, com quadros na generalidade também seus, com raras excepções, como é o caso aqui do nosso vizinho - e amigo - Nino que é Papel.
- Sim, porque a nível de europeus, na generalidade comerciantes ou funcionários, o seu número é muito reduzido.

Pronunciou-se o alferes Soeiro, introduzindo-se na conversa.
- E existe outro problema!...

Continuou:
- O qual, me parece até bastante grave. É que os cabo-verdianos, influenciados por um nível social mais elevado, e consequente melhor nível de vida que os autóctones, fizeram criar um certo ressentimento nestes, ao criarem um certo complexo de superioridade.
- Boa! Sim, senhor, diz bem! Complexo de superioridade! - atalhou o Leão, e dando um olhar sorridente a todo o grupo continuou:
- Meus amigos! É a diferença que nós fazemos dos outros!

Fez uma pausa, e voltando a olhar para o grupo, agora com um ar mais sério disse:
- A sorte! Também ela conta, e nos tem ajudado. Mas se não fora de facto o conhecimento real da situação em que estamos, o sabermos como a tratar, seria muito complicado. Meus amigos, esta companhia vale pela sabedoria e cultura que todos vocês têm. Se não fora isso onde estaríamos? No local onde estamos, se não tivéssemos actuado, com inteligência e saber, já nos tinham enrabado. Desculpem a expressão.

(x) Uma douta incursão do Alferes Palmeiro pela História e Etnografia da Guiné


- Já que entrámos neste assunto, podemos aprofundar um pouco mais sobre estas terras da Guiné. É claro, que não vale a pena ir até às Descobertas e relembrar, a dobragem do Cabo Bojador em 1434, o Cabo Branco, o Cabo Verde a chegada das nossas caravelas em 1446 até ao rio Casamança e no mesmo ano Cadamosto e Diogo Gomes, a entrarem nos grandes rios da actual Província da Guiné. Mas isto é assunto, que todos estudaram da nossa História e não vale a pena estar a chatear. No entanto eu pedia ao alferes Palmeiro, que falasse um pouco sobre esta terra, mas em termos mais actuais.

O alferes sorriu e disse:
- É, pá! Meu capitão, pá! Quem anda, pá, com os cadernos, pá, sempre a escrevinhar e a tirar apontamentos, pá, é o Mamadu, pá! Mas está bem, pá, eu vou dizer qualquer coisa, pá!

E o alferes Palmeiro sempre com o seu , começou a desenrolar os seus conhecimentos, sobre terras e gentes da Guiné.
- Esta terra é formada, por duas zonas distintas. O litoral, com costas baixas e enorme quantidade de rios de maré, cujos braços penetram profundamente pela terra dentro, inundando um terço do território na época das chuvas. O interior é plano na região de Bafatá, com leves colinas, na região do Boé. De clima tropical, muito húmido, tem duas estações distintamente bem marcadas: a estação seca de meados de Novembro até meados de Maio, e que é a menos quente. E a mais quente estação das chuvas, que vai de meados de Maio até meados de Novembro. Esta separação é conotada com o treze de Maio, em que se diz que nesse dia chove na Guiné. Crendice do povo, presumo. Mas o certo é que no primeiro treze de Maio que aqui passámos - não sei se recordam - chuviscou! É assim, o acontecimento e a tradição, são elementos fortes, que fazem a história.

(xi) Os Balantas

E continuou:
- Caracterizada pela grande profusão de etnias. A mais representativa é a Balanta, agricultores por natureza e cuja origem se presume seja Etíope. A sua organização social é quase nula, resumindo-se praticamente à Tabanca, havendo no entanto agora, alguma evolução no reconhecimento - mas com certas restrições - dos régulos indicados pela Administração Portuguesa. Sendo a etnia menos influenciável pela Administração Portuguesa, é a mais aderente à guerrilha e independentismo. Culturalmente tem um nível um pouco baixo. Nas zonas consideradas libertadas, existe um grande esforço de alfabetização. Crente na transmigração da alma, acredita no Irã, e todas as suas possíveis desgraças são atribuídas à feitiçaria. Quando da morte faz as cerimónias do Choro para as quais guarda o melhor gado do qual é criador. Com óptima constituição física, tem grande força de vontade. Grande trabalhador, dedica-se principalmente à orizicultura, dado ser o arroz a fonte principal da sua alimentação, cuja confecção é extremamente condimentada com malagueta (piripiri). Como excitante, bebe aguardente de cana e masca tabaco. Na sua organização matrimonial, pratica a poligamia, é fácil acontecer o adultério, e o casamento (negócio) é efectuado com o pai da mulher. Admite a prova testemunhal, mas é extremamente perito no furto, que pratica quase como um desporto, sem sentir ter praticado um acto criminoso. Inimigo figadal do Mandinga e Fula, aos quais guarda rancor, é no entanto grande amigo do Papel.

(xii) Os Fulas

E prosseguiu o Alferes Palmeiro:
- Os Fulas, nómadas vindos do Oriente, aqui se fixaram bem como nos países vizinhos. Tem uma organização social um pouco desenvolvida. Mantém o régulo a autoridade absoluta, não deixa porém de ser assistido pelo seu Conselho quando assim o entende. Embora convertido ao Islamismo, tem no entanto, regressões ao feiticismo. Nas crianças, o rapaz é circuncidado (ablação da membrana do perpucio) e a rapariga é excisada (ablação do clitóris). No entanto não são sujeitas a instrução religiosa, profissional ou escolar. De estatura média, sendo a mulher de feições perfeitas, a sua origem é nómada. O homem é responsável pelo sustento da família, com a ajuda da mulher nos trabalhos agrícolas, a qual se dedica ao cultivo da mancarra, arroz, tratando também dos laranjais e bananais. É pescador com linha, por envenenamento de águas ou utilizando uma espécie de balaio grande, feito de rede. A fidelidade às autoridades é canina. Identificando-se com indivíduos da mesma raça que vivem do outro lado da fronteira, tem o convencimento de superioridade em relação às outras raças guineenses. A alimentação é feita à base de arroz, carne e fruta, não consumindo carne de porco nem álcool, por motivos religiosos. A mulher, prostitui-se muito facilmente. Ainda sobre a etnia Fula, vale a pena salientar os Futa-Fulas, que, são o supersumo das diferentes castas de Fulas. Embora tenha as características genéricas da etnia, apresenta algumas específicas: a condição social, é determinada por regras seguidas em relação a cada indivíduo, derivando do nível social, moral e de dignidade em que vive, considerando-se superior às outras castas de Fulas. O poder espiritual e temporal, é concentrado na dignidade eclesiástica (Cherno). Arguto e inteligente, pratica o comércio ambulante, dedicando-se também à criação de gado e agricultura. Pratica a poligamia, segundo as regras do Corão, sendo bom pai e marido, não dando à mulher trabalhos violentos. O adultério, é considerada falta muito grave, no entanto aceita a prostituição. De estatura elevada, pratica a luta como desporto.

(xiii) Os Mandingas

Discorrendo depois sobre os Mandingas, disse o Palmeiro:
- Os Mandingas, ocupadores desta região, durante séculos -etnia grande fornecedora dos barcos negreiros que aqui procuravam escravos- dedicados à agricultura e criação de gado, praticam também o comércio. O poder judicial é representado pelo régulo. Sendo o homem grande (idoso) muito respeitado, usa barba, que conserva com muita estima. Cultiva preceitos morais, que o elevam acima de outras raças, mantém-se no entanto ao nível dos fulas com quem tem um antagonismo ancestral. Mantém escolas para crianças, e os mais cultos falam e escrevem com caracteres árabes. Aceita o regime de castas: nobres, tecelões, ferreiros, sapateiros e outras profissões. Pratica o islamismo, por isso não consome álcool nem carne de porco. No entanto apresenta por vezes casos de regressão ao feiticismo. Grande respeitador dos velhos, considera os loucos como tendo contactos com os seres sobrenaturais, ou devedores de promessas ao Iran apesar de islamizado. Apreciador de música, inteligente e observador. De constituição média, é aguerrido. Com tendências para o sedentarismo, dedica-se ao cultivo do arroz, mancarra, feijão, milho e tubérculos, criando vacas, ovinos. e caprinos. Contrata o casamento com o pai da noiva, desde tenra idade. Pratica a poligamia e admite a prostituição, vivendo a mulher em palhotas separada dos homens. A circuncisão nos homens e a excisão do clitóris na mulher, também é praticada.

(xiv) Os Nalus e os Beafadas

E continuando:
- Os Nalus são um povo muito individualista, acreditando, unicamente na autoridade do chefe de família, evitando ao máximo manter relações com outras raças, à excepção do Sosso, com quem mantém algum contacto. É trabalhador, alimenta-se de arroz, carne e peixe, estatura média e pouca robustez. Os Beafadas, estão muito próximo dos Mandingas, de quem sofrem forte influência. Está islamizado, usando no entanto amuletos. Pratica a poligamia, é indolente por natureza, embora seja robusto.

(xv) Os Bijagós

Sobre os habitantes do arquipélago dos Bijagós, o nosso alferes sentenciou o seguinte:
- Os Bijagós, provavelmente os primeiros habitantes da Guiné, que empurrados pelos outros povos invasores, se refugiaram no arquipélago do mesmo nome, praticam a agricultura e a pesca, na qual são exímios. Embora pratiquem o matriarcado, politicamente, são os homens que comandam. Considera animais sagrados: o crocodilo a serpente e o hipopótamo. O "meurasse" é a iniciação da vida que marca o termo da irresponsabilidade, que corresponde ao "fanado" das outras raças, que por eles não é praticado. Após esta cerimónia, entra na aprendizagem dos segredos dos antídotos, contra a mordedura das serpentes, e na forma de combater os malefícios dos feiticeiros. Sendo para ele a morte um incidente insignificante, é considerada acto de bruxaria. Venera a mulher, o cão e o boi. Considera que o cão é uma ligação entre as divindades e o homem. São exímios curandeiros. A mulher, é desflorada com um objecto de madeira, e é ela quem tem o direito de escolher e repudiar o homem em qualquer altura. Socialmente, a sua vida assenta numa base comunal. Belicoso, tímido e desconfiado, é um óptimo marinheiro. É grande fumador de tabaco, e ingere sem moderação o vinho de palma. Na alimentação utiliza a carne dos animais que abate nas cerimónias religiosas, marisco, peixe, arroz e frutos silvestres.

(xvi) Os Papéis e os Manjacos

Palmeiro não poderia deixar de falar dos Papéis e dos Manjacos:
- Nos Papéis a sucessão é orientada segundo o sistema matrilinear. É arreigado ao feiticismo e crê no Irã, consagrando-lhe os poilões e bolobas da sua terra. A circuncisão é considerada uma cerimónia muito importante na vida do homem, sendo desprezados os que não a efectuam. Bastante desconfiado, e pouco franco, torna-se por isso pouco expansivo. O casamento é contratado sem ouvir a rapariga, o rapaz trabalha por conta do pai da prometida, admite porém a dissolução do casamento. Polígamo por natureza, adora ter muitos filhos, tendo tantas mulheres, consoante as suas posses lho permitam. De elevada estatura e compleição física robusta, dedica-se à agricultura, e aos trabalhos pesados nos centros urbanos. Alimenta-se de arroz, come carne dos animais abatidos nas suas cerimónias, incluindo cães. Adora beber leite azedo. Quanto aos Manjaco vivem em regime familiar de patriarcado, com elevada concepção dos princípios da justiça e morais. Considera o roubo um acto abominável. É polígamo, porém respeita o casamento. Animista, acredita no Irã, o qual representa por qualquer madeiro. Dedica-se à agricultura e à pesca, com alguma tendência para o comércio. Como agricultor, dedica-se ao cultivo do arroz, batata-doce, mancarra e mandioca, é exímio no tratamento de pomares de banana, laranja, caju e papaia. Dedicado à criação de animais, cria de tudo um pouco: vacas, porcos, cabras, galinhas, gatos e cães. Na pesca dedica-se ao peixe miúdo, bem como a toda a espécie de marisco. De estatura média mas bem constituído.

(xvii) Outros povos da Guiné, dos Brames aos Futa-fulas

A conversa já ia longa, mas Palmeiro ainda quis falar de outras etnias minoritárias:
- Os Brames ou Mancanhas, descendentes do cruzamento entre mandingas e fulas, têm grandes afinidades com estes. Considera privilégio de família a função sacerdotal, e venera o Iran. Pratica a poligamia, casando as mulheres bastante novas. De estatura regular, a sua alimentação é feita à base de produtos das suas próprias culturas: sorgo e feijão. É cultivador da mancarra, com intuitos comerciais. Dá pouco valor e importância às ofensas corporais, violação e adultério, bem como ao estupro. Para além destas etnias, ainda podemos enumerar a existência de outras várias, em minoria, tais como, os Felupes, - consta-se que em tempos teriam praticado a antropofagia - Baiotes, Cassangas, Banhuntos, Pateas, Manás etc., etc. De registar ainda, as várias castas dos Fulas, tais como Fula-Forro, Fula-Preto e Futa-Fula.

E à laia de conclusão:
-No litoral, vivem essencialmente os orizicultores, na zona de bolanhas, terrenos extremamente alagados, onde habitam em tabancas dispersas, Balantas, Nalus, Manjacos, Papéis, Bijagós e outros em menor número. Para além das linhas de maré, dominam os Fulas e Mandingas que, vivem em povoamentos mais concentrados, praticam a agricultura de rotação, e dedicam-se à criação de gado. Em tempos idos, cada povo vivia na sua própria região, não permitindo a entrada a outros grupos. Com a nossa ocupação, deu-se início a um certo intercâmbio entre as diversas etnias, umas mais abertas outras mais fechadas naturalmente, e presentemente, embora em pequena escala, já se nota, uma certa miscegenação. Isto resulta, que actualmente podemos afirmar que culturalmente existe uma certa afinidade entre os diferentes grupos. Os arabizados ou islamizados como queiramos, Fulas e Mandingas, e as restantes etnias animistas. Aparecendo umas manchas de católicos, mas não significativa, influenciada pelas Missões e cultura Cabo-verdiana. As grandes diferenças nos dois grandes grupos majoritários, reflectem-se na língua, embora a oficial seja a portuguesa. Os animistas expressam-se em idiomas de flexão vocabular prefixial, e os islamizados de características linguísticas sudanesa em idiomas de flexão vocabular sufixial. Revelando-se nestes últimos, as indumentárias aparatosas, demonstrando que quanto maior é o esmero, maior a intensidade do culto do Corão e cânones muçulmanos. Estes últimos, ocupantes como disse, das zonas mais interiores, dedicam-se essencialmente à cultura do sorgo, milho e mancarra.
- Voltando um pouco ao anterior - acrescentou o Palmeiro - , de todos os grupos étnicos em diversos aspectos, o dos Bijagós é dos mais curiosos. Vivendo num sistema matriarcal, a mulher é detentora de privilégios especiais: é a ela que pertence a iniciativa do casamento, sendo desflorada por um objecto de madeira, -como há pouco disse-, quando atinge determinada idade. Tem dois tipos de matrimónio: o primeiro quando do período da puberdade, o qual podemos classificar como uma forma de mancebia, e o definitivo que é na idade adulta. Em qualquer destas situações, é sempre a mulher que escolhe o parceiro para viver, e que também larga quando quer.
- É, pá! Boa tirada, pá! Estás licenciado em antropologia e no pá pá! Digam lá que o Palmeiro não sabe disto? - exclamou risonho e mordaz o capitão. Mas ouve logo malta que se pronunciou, mandando as suas bocas.
- Oh Taveira, olha tu Bijagó, carago? As mulheres matavam-se todas por tua causa, carago!- pronunciou o tripeiro Gama. O alferes Azeredo, avançou:
- Oh Palmeiro, como é que é essa do desfloramento? Explica lá como é.
- É, pá, por hoje já dei a lição, outro que siga! Olha! Tu, pá, da desfloração, pergunta ao Rafael, que ele tem tudo escrito nos cadernos dele, pá!
- Sim... Sim! Podemos mudar de tema, e falar um pouco da guerrilha se não se importam! Analisar o porquê dos Balantas serem os mais influenciáveis pela subversão - pronunciou o capitão, mas agora num tom mais sério.

(xvii) Pami ouviu pela pimeira vez coisas novas sobre os povos da Guiné e a sua posição face à luta de libertação

Pami, calmamente sentada num banco - pedaço de mafumeira trabalhada- ia seguindo esta conversa - conferência - com imensa preocupação, mas intrigada com a forma e os conhecimentos, que estes indivíduos tinham sobre este pequeno alagado terreno, que era a Guiné.

Pasmou! Ouvindo o debate dos militares, analisando as características de cada etnia, mas de uma forma, que demonstrava um entendimento perfeito de tudo quanto os rodeava. A prisioneira ouviu tudo o que queria, e não. E enriqueceu o seu saber, aprendendo coisas para ela, até ali, completamente desconhecidas. A varanda, parecia agora já, uma grande conferência de antropologia, e não só. Todos os oficiais e sargentos dos Lassas praticamente ali estavam, lançando à vez para o debate, os seus conhecimentos, adquiridos e vividos, sobre as raças da Guiné. Continuando, enquanto Pami ia registando mentalmente o debate.

Seguindo o desafio do Leão de Cufar, o furriel Gonçalo, um pouco polémico, lançou para a fogueira:
- E os fulas? Que seria se não estivessem do nosso lado?
- Isso é verdade! - Pronunciaram-se várias vozes em uníssono. Foi então que o Leão atalhou:
- Esse é um assunto, que merece de facto atenção. Mas que também vale a pena dissecar. Vejamos: Aquando do começo da revolução, a maioria Balanta e Nalu aqui do nosso sector fugiu para as matas, onde foram criadas zonas, consideradas libertadas. A população Fula, ao contrário, foi obrigada a abandonar as suas moranças e tabancas, e a reagruparem-se em Catió, onde foi organizada em autodefesa, nas tabancas de Catió-Fula e Priame, as quais conhecemos perfeitamente, principalmente a última. Nessa altura, o nosso amigo e comandante da Companhia de Milícia n.º 13, João Bacar Jaló, era cipaio e oficial de diligências, homem de confiança do então Administrador. Foi ele, encarregue de reunir os homens válidos e fiéis, que foram armados, e ficaram a constituir a primeira Milícia Nativa na Província, que, às ordens do Administrador defenderam Catió dos bandos inimigos armados, que actuavam na região. Mais tarde, quando Catió foi guarnecida de tropas, passaram a prestar colaboração nas operações militares. Formando-se depois, como eu disse, a Companhia de Milícia, comandada pelo João Bacar, agora alferes de segunda linha, e que vocês tão bem conhecem pela grande ajuda, que ele e os seus homens nos têm prestado.

Apresentaram-se posteriormente muitos elementos Balantas. No entanto a situação, torna-se complicada, porque, esta população tem muitos familiares na clandestinidade, com os quais mantêm estreitas ligações, pelo que não se lhes pode conceder confiança absoluta. São raras excepções as do Alfa e Tui. Posso afirmar com toda a verdade, que hoje, grande parte de nós lhe está devendo a vida. Basta recordarem-se da emboscada que nos estava preparada, no cais de Caboxanque.

E continuou, agora com o pessoal todo em silêncio:
- Do mato e das regiões mais longínquas, vão comerciar a Catió inúmeros nativos, na generalidade mulheres, que trazem arroz e levam artigos que adquirem por troca nas casas de comércio. Pagam os impostos na Administração, e regressam às suas tabancas com roupas, mosquiteiros, papel, aguardente de cana, tabaco. Enfim com tudo o que lhe faz falta. Assim é o inimigo totalmente abastecido com os artigos de que necessita. É não tenhamos dúvidas, um problema grave! Podemos confirmar, com aquilo que aconteceu com o chefe de Cantone! Não comprou ele material que nós mandámos, como sendo para o PAIGC!?

Entretanto, o tenente médico interrompe o debate e atira para o ar um desafio à assembleia:
- E se bebessemos um Whisky! Ho, sr. capitão?

O Leão sorriu e disparou:
- Por causa do mosquito, não é doutor? Como queiram, por hoje também já chega, rapaziada vamos a uma partidinha de badmington! O.K.? - E virando-se para o médico diz-lhe com gozo:
- A partir de amanhã, doutor, já não tem problemas, já vai ter o seu companheiro!
- Desculpe, capitão, mas não compreendi!
- Digo eu que amanhã já vai ter companhia para matar o mosquito, se não houver alterações, o furriel Rafael deve chegar para acabar a convalescença aqui!
- Porreiro! Porreiro! - Retorquiu o médico, enquanto a assembleia se desfazia, e esfregando as mãos.

Pami ficou a saber que Rafael regressava do hospital. Porquê?... Míriam não lhe teria dito? Ou não saberia? O melhor seria experimentar sem ela se aperceber.

(Continua)

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Notas de L.G.:

1) Vd. posts anteriores desta série:
21 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2293: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (1): Os bastidores de um romance (Luís Graça / Mário Fitas)

23 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2298: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (2) - Parte I: O balanta Pan Na Ufna e a sua filha (Mário Fitas)
28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2307: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (3) - Parte II: A formação político-militar (Mário Fitas)
5 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2328: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (4) - Parte III: O amor em tempo de guerrilha (Mário Fitas)
10 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2340: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (5) - Parte IV: Pami e Malan são feitos prisioneiros (Mário Fitas)
18 de Dezembro de 2007 > Guine 63/74 - P2363: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (6): Parte V: O primeiro interrogatório da prisioneira (Mário Fitas)
30 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2391: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (7) - Parte VI: Malan é entregue à PIDE de Catió (Mário Fitas)
16 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2443: Pami Na Dono, a Guerrilheira, de Mário Vicente (8) - Parte VII: O prisioneiro Malan é usado como guia (Mário Fitas)

(2) Resumos dos posts anteriores:

(i) A acção decorrer no sul da Guiné, entre os anos de 1963 e 1966, coincidindo em grande parte com a colocação da CCAÇ 763, como unidade de quadrícula, em Cufar (Março de 1965/Novembro de 1966)…

No início da guerra, em 1963 Pan Na Ufna, de etnia, balanta, trabalha na Casa Brandoa, que pertence à empresa União Fabricante [leia-se: Casa Gouveia, pertencente à CUF]. A produção de arroz, na região de Tombali, é comprada pela Casa Brandoa. Luís Ramos, caboverdiano, é o encarregado. Paga melhor do que a concorrência. Vamos ficar a saber que é um militante do PAIGC e que é através da sua influência que Pan Na Ufna saiu de Catió para se juntar à guerrilha, levando com ele a sua filha Pami Na Dono, uma jovem de 14 anos, educada das missão católica do Padre Francelino, italiano.

O missionário quer mandar Pami para um colégio de freiras em Itália mas, entretanto, é expulso pelas autoridades portugueses, por suspeita de ligações ao PAIGC (deduz-se do contexto). Luís Ramos, por sua vez, regressa a Bissau, perturbado com a notícia de que seu filho, a estudar em Lisboa, fora chamado para fazer a tropa.

É neste contexto que Pan Na Una decide passar à clandestinidade, refugiando-se no Cantanhês, região considerada já então libertada.

(ii) De etnia balanta, educada na missão católica, Pami Na Dondo, aos catorze anos, torna-se guerrilheira do PAIGC. Fugiu de Catió, com a família, que se instala no Cantanhês, em Cafal Balanta. O pai, Pan Na Ufna entra na instrução da Milícia Popular. Pami parte, com um grupo de jovens, para a vizinha República da Guiné-Conacri para receber formação político-militar, na base de Sambise. O pai, agora guerrilheiro, na região sul (que é comandada por João Bernardo Vieira 'Nino') , encontra-se muito esporadicamente com a filha. Num desses encontros, o pai informa a filha de que a mãe está gravemente doente. Pami fica muito preocupada e quer levá-la clandestinamente a Catió, enquanto sonha com o dia em que se tornará companheira do pai na Guerrilha Popular.

Entretanto, o destino prega-lhe uma partida cruel: na instrução, na carreira de tiro, tem um grave acidente, a sua mão esquerda fica decepada. No hospital, conhece Malan Cassamá, companheiro de guerrilha de seu pai, que recupera de um estilhaço de morteiro, que o atingiu na perna, no decurso da Batalha do Como, em Janeiro de 1964 (Op Tridente, Janeiro-Março de 1964, levada a cabo pelas NT) . Malan fala a Pami da coragem e bravura com quem seu pai se bateu contra os tugas.

Pami é destacada para dar aulas ao pessoal do Exército Popular e da Milícia Popular, em Flaque Injã, Cantanhês. No dia da despedida, canta, emocionada, o hino do Partido, 'Esta é a Nossa Pátria Amada', escrito e composto por Amílcar Cabral. Segue para Flaque Injã, com o coração em alvoroço, apaixonda por Malan Cassamá. De regresso à guerrilha, a Cansalá, Malan fala com o pai da jovem, e de acordo com os costumes gentílicos, Pami torna-se sua mulher.

(iii) Na actual região de Tombali (Catió), no sul da Guiné, o PAIGC, logo no início da guerra, ganha terreno e populações (nomeadamente, de etnia balanat). A resposta das autoridades portuguesas não se fez esperar, com uma grande contra-ofensiva para reconquista a Ilha do Como (Op Tridente, Janeiro-Março de 1964).

Entretanto, começam a chegar a Catió chegam reforços significativos. O Cantanhês, zona libertada, assusta o governo Português. Em contrapartida, no PAIGC, Nino, o mítico comandante da Região Sul, manda reforçar os acampamentos instalados nas matas de Cufar Nalu e Cabolol.

Em finais de 1964, Sanhá, a mãe de Pami, morre de doença na sua morança na tabanca de Cadique Iála. O guerrilheiro Pan Na Ufna, acompanhado da sua filha, faz o respectivo choro, de acordo com a tradição dos balantas.

Em Março de 1965, os homens da CCAÇ 763 - conhecidos pela guerrilha como os Lassas (abelhas) - reconquistam ao PAIGC a antiga fábrica de descasque de arroz, na Quinta de Cufar, e respectiva pista de aterragem em terra batida. Nino está preocupado com a actuação dos Lassas, agora instalados em Cufar, juntamente com o pelotão de milícias de João Bacar Jaló, antigo cipaio, agora alferes de 2ª linha.

Entretanto, Pami e Malan continuam a viver a sua bela estória de anor, em tempo de guerra, de sacrifício e de heroísmo. Ela, instalada em Flaque Injá, onde é professora. Ele, guerrilheiro, visita-a sempre que pode.A 15 de Maio de 1965, os Lassas destroem o acampamento do PAIGC na mata de Cufar Nalu. A guerrilha sofre baixas mas, durante a noite, consegue escapar com o equipamento para Cabolol. Na semana seguinte, os militares de Cufar tentam romper a estrada para Cobumba. Embrenham-se na mata de Cabolol, destroiem várias tabancas na zona.

Em princípios de Junho de 1965, os Lassas (abelhas) vão mais longe, destruindo o acampamento de Cabolol. Em Cafal, o comando político-militar do PAIGC está cada vez mais preocupado. Em Julho, Pami chora de dor, raiva e revolta ao ver a sua escola destruída, em Flaque Injã. Grande quantidade de material desaparece ou fica queimado. As casas de Flaque Injã ficam reduzidas a cinzas.

Mas a luta continua... Psiquicamente recuperada, a população começa a reconstrução de Flaque Injã e Caboxanque. A guerrilha recebe mais reforços e armamento novo. Pami entra voluntariamente numa coluna de reabastecimento que a leva à República da Guiné. Segue o corredor de Guilege, e sobe de Mejo para Salancaur, daqui para o Xuguê [Chuguè, segundo a carta de Bedanda,] terra de seus avós paternos. Desce até Cansalá, onde se encontra com seu marido. Não encontra seu pai, pois este fora transferido para o Cafal, e ali integrado numa companhia do Exército Popular.

Em meados de Agosto de 1965, Pami Na Dondo desce com Malan Cassamá até Cobumba. Malan e o seu grupo levam a cabo várias acções contra a tropa e o quartel de Bedanda. O grupo regressa a Cansalá. Uma delegação da OUA visita as zonas libertadas, a convite do PAIGC.

(iv) Madrugada de 24 de Agosto de 1965, Pami e Malan dormiam nos braços um do outro quando a tabanca, Cobumba, sofre um golpe de mão do exército português, que tem a assinatura dos Lassas.

No grupo de prisioneiros que são levados para Cufar, estão Malan e Pami que terão destinos diferentes. Pami estão integrada num grupo de cinco mulheres e procura nunca denunciar a sua condição de professora. Em caso algum falará recusará falar em português ou em crioulo. Mas os seus olhos de águia vão observado tudo, no caminho até ao quartel dos Lassas. No rio Cadique o grupo embarca em lanchas da Marinha. O Alferes Telmo não deixa que ninguém toque nas mulheres. Fala em psico, uma palavra que Pami desconhece. O grupo é entregue à guarda ao Furriel Mamadu.

Pami mal reconhece a antiga fábrica de descasque de arroz, a Quinta de Cufar, onse se instalaram os Lassas. Os prisioneiros são recebidos por militar dos óculos que, mais tarde Pami vem a saber tratar-se de Carlos, O Leão de Cufar, comandante do aquartelamento. Homens e mulheres são instalados em sítuios diefrentes. Malna e Pami entrecuzram o olhar, sem se denunciaram. Sabem que dizem ali adeus para sempre. Lágrimas nos olhos, Pami sente a dor da separação. )Pami e as prisioneiros ficam à guarda da milícia de João Bacar Jaló. Recusa-se a comer, bebe só água. No dia seguinte, a vida no aquartelamento retoma o seu ritmo. Pami pode agora ouvir e até ver perfeitamente, por entre as frestas das paredes de capim ao alto entrançado com lianas, tudo o que acontece por fora da palhota onde tinha passado a noite.

(v) Começam os interrogatórios dos prisioneiros, em Cufar. Um soldado milícia, da torpa de João Bacar Jaló, vem buscar Pami. Pelo caminho, Pami vai-se preparando mentalmente para mentir aos seus captores e sobretudo para não comprometer Malan. Entretanto, com os seus olhos de águia, vai observando e registando todos os pormenores da vida no aquartelamento dos Lassas.

Um milícia serve de intérprete. O interrogatório é conduzido pelo Alferes Telmo, acompanhado pelo Furriel Rafael (de alcunha, Mamadu), um e outros reconhecidos de imediato pela Pami. Respondendo apenas em balanta, diz chamar-se Sanhá Na Cunhema (nome da mãe) e ter nascido na Ilha do Como. Os militares decidem mudar de táctica. Rafael encosta-lhe o cano da pistola ao seu ouvido, e pergunta-lhe, através do intérprete, o que aconteceu à sua mão esquerda... Um pouco trémula, diz que, quando era criança, fora mordida por uma cobre, tendo o pai sido obrigado a cortar-lhe a mão para a salvar...

Pami parece não convencer os seus interlocutores. Os dois Lassas entram em provocações de teor sexual, pensando tratar-se de uma eventual prostituta ao serviço da guerrilha... O interrogatório irá continuar nos dias seguintes. Pami regressa, exausta, para junto das suas companheiras de infortúnio. Mas, ao mesmo tempo, sente-se orgulhosa por. neste primeiro round, não ter traído os ideais de seu pai, Pan Na Ufna e de seu marido, Malan, valentes guerrilheiros do PAIGC.

(vi) Pami está exausta e confusa, depois do primeiro interrogatório com os rangers Telmo e Rafael (ou Mamadu). Próximo da hora de almoço do dia seguinte, Pami foi levada novamente para ser interrogada. Só que para surpresa sua, o interrogatório não era com os mesmos do dia anterior. Sente que tem de ter muito cuidado. Não pode cair em contradição, ou ceder qualquer pista, pois não sabe nada sobre o que está a acontecer ao seu marido Malan Cassamá, e agora tinha muitas mais razões para a sua inquietação, resultante das revelações feitas pelos seus inquiridores. Sim, ficou a saber que Telmo e Rafael pertenciam a tropas especiais. Porquê a sua inclusão numa companhia normal do exército colonialista, interroga-se ela?

Entretanto Malan é denunciado como guerrilheiro do Exército Popular e é entregue à PIDE de Catió. A professora apercebe-se que os seus companheiros, homens, estão a ser interrogados com a ajuda de cães para aterrorizar mais. Entre as mulheres prisioneiras, já teria havido confissões. Uma, pelo menos, foi alvo de abusos sexuais. As que colaboram com os Lassas são soltas.

Entretanto, a balanta Pami torna-se confidente de fula Miriam e sente um ódio profundo pelo Furriel Rafael (Mamadu, segundo o seu nome de guerra). Os Lassas, por sua vez, voltaram a ir ao outro lado do Rio Cumbijã. Meta, casada com um milícia e amiga da Miriam, contou que tinham andado por Cadique Iála, e que tinham morto muita gente, e queimado as casas todas. E não tinham tido nem mortos nem feridos.

Pami apercebeu-se que de facto as coisas deveriam ter corrido bem, porque houve grande festa no Comando. Mas também poderia ser festa de anos do furriel Rafael, como afirmara Miriam. Era certo que quando algum furriel ou alferes fazia anos, havia sempre grandes festas. Era uma forma de criar corpo de unidade, delineado pelo macaco velho do Leão de Cufar, o chefe dos Lassas.

(viii) Em novo interrogatório, o Furriel Rafael ameaça matar a professora de Flaque Injã, quando esta, já esquecida dos interrogatórios, é levada de novo, em princípios de Setembro de 1965, à presença do temível triunvirato: Queba, o intérprete, o alferes Telmo (com o seu caderno), e o furriel Rafael (com a sua pistola).
Embora aterrorizado com as ameaças do Furriel Rafael (que parece fazer bluff...). Pami teme sobretudo que os Lassas faça de novo uma operação do outro lado do Rio Cumbijã, utilizando o seu marido, Malan, como guia...
Voltando de novo à sua morança-prisão, Pami apercebe-se de que nem todos os Lassas estão ali, na guerra, de livre vontade... Os seus piores receios, entretanto, materializam-se, ao reconhecer o seu Malan na silhueta do negro, de corda atada ao pescoço de um negro, conduzido por um Lassa, a caminho da porta de armas, possivelmente para srevir como guia numa operação... Pelo burburinho que perpassa pelo aquartelamento, Pami toma conhecimento de que os Lassas estão em operações lá para os lados de Caboxanque... Um avião T-6 é atingido, mas o seu o piloto consegue fazer uma aterragem de emergência em Cufar...

No regresso dos Lassas ao quartel, Pami sabe, pelas conversas que ouve junto dos milícias, eles ter-se-iam esquivado a uma emboscada, junto ao cais de Caboxanque. Detectando a segurança à retaguarda, os Lassas mataram esses elementos e, saindo do caminho que vai dar ao cais, divergiram para a bolanha para não entrarem na emboscada, que deveria ter muita gente do PAIGC. Mas sobre Malan não consegue saber mais nada de concerto.

Uns dias mais tarde, Míriam contou a Pami tudo o que tinha acontecido, conforme lhe descrevera o furriel Mamadu. O pessoal do PAIGC mais uma vez tinha sido humilhado, pelos Lassas. Tinha sofrido grandes baixas, vários mortos e muitos feridos. A professora de Flaque Injã chorou e pela primeira vez o desânimo entrou no seu pensamento. Seria que o sonho de uma Pátria era irrealista?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2505: Bibliografia (14): Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó. O livro do Mário Beja Santos, o nosso livro (Virgínio Briote)


Lisboa > Círculo de Leitores > Capa do livro do Mário Beja Santos, Diário da Guiné 1968-1969: Na Terra dos Soncó.

Foto: Círculo de Leitores (2008). (Gentileza da Dra Isabel Mafra, da Editora Temas e Debates)



Mário Beja Santos é assessor principal da Direcção-Geral do Consumidor. Autor dos programas televisivos 10 Milhões de Consumidores e Come e Cala, colaborou ininterruptamente na rádio durante mais de vinte anos, escreve na imprensa diária e regional, é autor de livros sobre consumo, consumidores e qualidade de vida, professor do ensino superior, fundador da União Geral de Consumidores e da Plataforma Saúde em Diálogo, foi vice-presidente do Conselho Consultivo de Consumidores da Comissão Europeia e Director da Associação Europeia de Consumidores.
Era uma vez um menino alferes que chegou à Guiné e foi lançado no regulado do Cuor, no Leste, em 1968. A sua missão principal era proteger o rio Geba, garantindo a sua navegação, indispensável para a continuação da guerra.
O alferes comandava dois aquartelamentos e alguns dos soldados mais valentes do mundo: caçadores nativos e milícias, gente que vivia no Cuor, em Missirá e em Finete. Mas havia outras missões, para além de proteger o rio: emboscar, patrulhar, minar, atacar e defender, garantir um professor para as crianças, reconstruir os quartéis flagelados, levar os doentes ao médico, praticar a justiça com o régulo, um destemido Soncó, neto de Infali Soncó que derrotara Teixeira Pinto no dealbar do século XX.
Era uma vez um alferes que aprendeu a trabalhar com um morteiro 81, a emboscar na calada da noite, a enterrar os mortos e a levar os moribundos às costas.
Era uma vez um alferes que se deslumbrou com as terras dos Soncó e que resolveu escrever um diário para se manter vivo e lembrar aos entes queridos que se estava a fazer um homem.
A partir daquela guerra, Cuor e os Soncó viveram sempre no coração do alferes. Era uma vez...
(da contra-capa do livro).
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Lançamento em 6 de Março de 2008, na Sociedade de Geografia de Lisboa

Está confirmada a data para 6 de Março, pelas 18:30 horas, na Sala Algarve, da Sociedade de Geografia de Lisboa, Rua Portas de Santo Antão, 100 (edifício do Coliseu dos Recreios).

Este livro nasceu neste blogue e pertence a todos. As receitas de uma das suas edições reverterão para uma obra que os tertulianos designarão, a seu tempo (Mário Beja Santos).
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Notas de vb:

1. Programa provisório

13H00 : Almoço na Casa do Alentejo (se o nº de inscritos se justificar, negociaremos um preço económico);

14H30 : Sociedade de Geografia : visita cultural guiada, onde poderemos apreciar as Artes Balanta, Bijagó e Nalú.

15H30 : Reunião da Tertúlia presente em sala gentilmente posta à nossa disposição pela Sociedade de Geografia de Lisboa. Para esta reunião iremos preparar uma agenda, tendo por base as questões que se prendem com o nosso blogue.

18H30 : Apresentação do livro Diário da Guiné 1968-1969 : Na terra dos Soncó.

Apresentação a cargo do escritor Mário de Carvalho e General Lemos Pires.

2. Inscrições para almoço : até ao dia 15 Fevereiro (para qualquer editor do blogue)

3. Entrada livre para a apresentação do livro

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das notas de LG:

(...) iremos fazer tudo para que este dia seja uma festa e uma grande oportunidade de convívio tertuliano da malta do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Vd. post de 27 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2002: Blogoterapia (29): O Mário escreve com a mesma teimosia, perseverança, paixão e coragem com que ia a Mato Cão (Luís Graça)(...)
É claro que vamos fazer uma festa...


Mário Beja Santos nas terras dos Soncó.
Foto de Mário Beja Santos. Direitos reservados.
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vd tb artigo de :

Luís Graça> 11 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2429: Lançamento do meu/nosso livro: 6 de Março de 2008, na Sociedade de Geografia, com Lemos Pires e Mário Carvalho (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P2504: BCAÇ 1860 (1965/67), o 3º Batalhão em Tite (Santos Oliveira)

Cópia da capa da brochura da História do BCAÇ 1860.
Foto: © Santos Oliveira. Direitos reservados.

O BCaç 1860 terá sido o 3º Batalhão a ocupar, melhorar e renovar aquelas Instalações de Tite (tanto, que quando regressei do Como/Cufar, saí para o almoço, Porta de Armas fora para me dirigir à Messe de Sargentos…que era no exterior), escreveu assim o nosso Camarada Fernando Santos Oliveira (2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf.ª, Como, Cufar e Tite , 1964/66), a quem devemos o envio da História do BCAÇ 1860.



Tite. Na foto, a messe de Sargentos reporta a 1964, ainda com o BCAÇ 599.
Foto: © Santos Oliveira. Direitos reservados.
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BCaç 1860
1.Mobilização
O BCAÇ 1860 foi mobilizado pelo RI 15, aquartelado em Tomar.
Veio render o BCaç 599/RI 15 em duas fases. A primeira em Abril de 1965 e a segunda em Agosto do mesmo ano.

A maioria do pessoal é originário das Províncias do Norte (Minho, Trás-os-Montes e Douro), havendo ainda alguns elementos das Beiras, do Alentejo e do Algarve.

A concentração do pessoal (1ª e 2ª fases) fez-se no RI 15. A instrução decorreu nos moldes habituais tendo-se todos, de um modo geral, adaptado bem à ideia da breve vinda para o Ultramar.

A primeira fase, depois de ter passado por Santa Margarida, embarcou em Lisboa em 23 de Abril de 1965, no N/T Uíge, tendo comparecido à cerimónia da despedida um oficial General representando Sua Exª o Ministro do Exército.

A segunda fase teve uma cerimónia de despedida no RI 15. Embarcou em Lisboa em 18 de Agosto de 1965, a bordo do N/T Niassa.

A primeira fase era enquadrada pelos seguintes elementos (1):

Ten Cor Francisco Costa Almeida, Cmdt do B Caç 1860
Cap Inf Manuel Morujão Oliveira, Of. I. e Op.
Alf Mil Casimiro Costa Ferreira, Cmdt Pel. Reconhec.
" " António Carlos Agapito, Cmdt Pel. Sapadores
2º Sarg António Firmino Silva, Corneteiro
Furr Mil José Carlos Abrantes, Enfermeiro
" " José da Silva Soares, S.A.M.
" " Artur Sá Santos, S.A.M.
" " Manuel Castanho Morais, Sapador
" " Guilherme Medeiros Pacheco, Sapador
" " Joaquim Soares Simões, Transmiss.
" " Jorge Manuel M Lajas, S.A.M.

E a segunda pelos seguintes (1):

Maj Fernando M Jasmim de Freitas, 2º Cmdt BCaç 1860
Cap Manuel Pau Preto, Cmdt CCS
Alf Fernando Barreto, Ch Sec.
Alf Mil António A P da Fonseca, Transm.
" " Joaquim Pinto, Secret.
" " José M Brito Galvão, SAM
" " Joaquim Beirão H Ferreira, SMR
1º Sarg Maurício C A C Correia, Secret. Cmd
" " João António Madeira, Secret. CCS
Furr Mil Francisco Seixas Grelo, Op Inf
" " Sérgio do Rosário Maurício, Op Inf
" " Manuel da Costa Alonso, Op Inf
" " Mozart D Sousa Pires, Transm
" " José M C Boneca, Sapador
" " José Raul R Graciano, Amanuense
" " João M Borges de Campos, SM Mec Arm Lig
" Lúcio J Dias Segurado, SM Mec Viat
" " Victor M C Costa, AM Cont Pag

Em 28 de Abril de 1965, o N/T Uíge lançou ferro em Bissau. No dia seguinte, às 07H00, todo o pessoal da 1ª fase, em LDM, fez rumo ao Enxudé.

A chegada a Tite deu-se cerca das 11H00.

Em 23 de Agosto de 1965, chegou a Bissau a 2ª fase, tendo desembarcado no Enxudé no dia imediato.

2. Actividade do BCAÇ 1860

O esforço desenvolvido pelo BCAÇ 1860 nos diversos campos em que foi chamado a intervir pode considerar-se notável.

Nas páginas seguintes serão dados elementos significativos de todas as actividades, ao longo dos quase 24 meses de comissão, sempre em Sector Operacional.

Integrado no Agr 17 e, posteriormente no Agr 1975, sempre o BCAÇ 1860 deu o melhor de seu esforço num desejo sempre presente de bem cumprir as missões que lhe foram confiadas.

No resumo das actividades do BCAÇ 1860 inclui-se o período que decorreu entre 29 de Abril de 1965 e 24 de Agosto do mesmo ano, período esse que corresponde à permanência em Sector da 1ª fase do BCaç 1860, antes da chegada do pessoal da 2ª fase.

Imediatamente após a sua chegada à Guiné, o Bat. entrou em Sector. Foi-he atribuído o Sector S1, integrado no Agr. Sul.

O referido Sector apresenta a configuração de um rectângulo com 50x30 Kms, num total de cerca de 1500 Kms quadrados de superfície.

O terreno é plano, baixo, muito recortado por cursos de água e manchas de mato denso alternando com a nudez das lalas e das bolanhas.

A população está disseminada por todo o Sector, sendo mais densas populacionalmente as áreas de Tite, a leste da estrada Tite-Nova Sintra, regiões ribeirinhas do Geba e Península de Gampará. Distinguem-se as tabancas de Foia, Nã Balanta, Iusse, Bissassema de Cima, Brambanda, Nhala, Louvado, Bária e Jabadá.

As grandes riquezas do Sector são o arroz, gado vacum, frutas, mancarra e madeiras. O porto do Enxudé tem um movimento apreciável de passageiros e carga e serve toda a região de Tite. As principais localidades são Tite, Fulacunda, S. João e Jabadá.

Em Outubro de 1966 é atribuído ao Batalhão o Sub-Sector de Empada, enquadrando as penínsulas de Darsalame e Pobreza. Concomitantemente, passa a pertencer ao BCAÇ 1860 a CCAÇ 1423, aquartelada em Empada.

Sub-Sector rico, densamente povoado por populações somente controladas pelas NT em Empada, seria nele que se viria a efectuar a Operação Nora, que levou à captura de importantíssima quantidade de material de guerra.

O Destacamento de Ualada, local aprazível, foi pomposamente denominado pelas NT de Rancho da Ponderosa.

A actividade operacional desenvolvida desde Abril de 65 foi intensa.

Inicialmente, mercê de actuações tipo golpe de mão, executados pelas CART 565 e CCAÇ 797, o IN sofreu graves revezes, particularmente nas áreas de Guebambol, Jufã e Gâ Saúde em que perdeu grande quantidade de material, sofreu muitas baixas e viu os seus refúgios destruídos.

Depois, devido às alterações introduzidas pelo IN nos seus sistemas de detecção, ao uso de numerosas armadilhas e à dificuldade de se arranjarem guias de objectivos, houve necessidade de se abandonar as actuações daquele tipo, para se lançar mão de operações tipo batida, com efectivos que oscilavam entre uma e quatro Companhias.

Embora com resultados aparentemente menos espectaculares, este tipo de acções ajudou a manter a instabilidade do IN e a causar-lhe baixas importantes. É justo realçar o magnífico apoio que o BCAÇ 1860 recebeu da FA e das FN, quer pela cedência de meios de apoio quer em acções realizadas dentro do Sector.

As acções do BCAÇ 1860 tiveram o seu clímax na Operação Nora, realizada na Península de Pobreza, Sub-Sector de Empada, em que a par de importantíssima quantidade de material capturado - porventura a maior que se capturou na Província desde o início do terrorismo - se desarticulou completamente o dispositivo IN naquela área.

Tendo sido o BCAÇ 1860 o Batalhão em Sector com menor número de Companhias Operacionais, nem por isso a sua actividade foi menor, antes das maiores, conforme o atesta o elevado número de operações realizadas e a grande quantidade de material capturado.
Ficou-se devendo estes resultados ao excelente espírito de corpo e de missão que sempre existiu em todo o pessoal do Batalhão, agindo sempre como um bloco, sem quebras nem falhas.

As actividades operacionais de rotina do BCAÇ 1860 durante a sua permanência em Sector atingiram os seguintes quantitativos:

Emboscadas - 884
Viagens ao Enxudé - 853
Patrulhamentos - 1046
Patrulhamentos de itinerários - 157
Seguranças e Escoltas- 2160
Cerco/Limpeza povoações - 38
Kms percorridos - 35729
Operações ao nível de Batalhão
data, nome da op., região e efectivos envolvidos:
  • 09Mai65, Ivo, Gambinta e Bissassema, CCav 677 e CCaç 797
  • 25Mai65, Omo, Bissassema, Tite, S. João, CCav 677 e CCaç 797
  • 06Out65, Lenda, Gamol e Gangetrá, CCaçs 1420 e 1423
  • 06Out65, Lenda, Brandão e Serra Leoa, CCaçs 797 e 1424
  • 07Out65, Lenda, Gamol, CCaçs 1420 e 1423
  • 08Out65, Busca, Gamol e Gangetrá, CCaçs 797, 1420 e 1423
  • 18Out65, Ovo, Gamol, Bária e Sancorlá, CCaçs 797, 1420, 1423, 1424 e CCav 677
  • 14Nov65, Onça, Gampará, CCaçs 797, 1420, CCav 677 e Pel Páras
  • 10Jan66, Orfeu, Guebambol, CCaçs 797 e 1487
  • 22Jan66, Ozíris, Garsene, CCaçs 797 e 1487
  • 10Fev66, Osso, Pen, Jabadá, Jufá,CCaçs 797, 1487, CCav 677 e Pel Páras
  • 09Mar66, Nebri, Gã Chiquinho, Ganduá porto, CCaçs 797, 1487 e CCav 677
  • 30Mar66, Narceja, Gã Formoso, CCaçs 797, 1487, CCav 677, GrCmds, Pel Páras
  • 07Mai66, Novato, Flaque Cibe e Flaque Lala, CCaçs 797 e 1549
  • 09Mai66, Quiriri, Mato Grande, CCaçs 797 e 1549
  • 26Mai66, Quezília, Gã Saúde, Louvado e Erga, CCaçs 797, 1487, 1549 e 1499
  • 18Jun66, Naja, Pen, Jabadá, e Jufá, CCaçs 1487, 1549, 1566, Pel Mort 1039 e GrCmds
  • 08Ago66, Nervo, Gã Formoso, CCaçs 1487, 1499, 1549 e Cª Páras
  • 29Set66, Novilho, Umbá, Braia, CCaçs 1487 e 1591
  • 06Out66, Nalú, Gâ Formoso, CCaçs 1487, 1549, 1591 e 1566
  • 16Out66, Nêspera, Caur de Baixo Beafada, CCaçs 1567 e 1423
  • 08Nov66, Queima, Gã João, Garsene, CCaçs 1487 e 1549
  • 06Dez66, Nortada, Pen, Jabadá, Jufá, CCaçs 1487, 1549, 1566 e 3ª CCmds
  • 22Dez66, Nilo, Braia, CCaçs 1487 e 1624
  • 03Jan67, Navalhada, Guebambol, CCaçs 1487 e 1624
  • 07Jan67, Neon, Gã Valentim, CCaç 1566 e CArt 1613
  • 07Fev67, Quarentena, Gã Formoso, CCaçs 1549, 1567 e 1624
  • 25Fev67, Notário, Gamol, Bária, Gangetra, CCaçs 1567 e 1624
  • 06Mar67, Nora, Pen, Pobreza, CCaçs 1549, 1567, 1587 e CArt 1614
Operações isoladas executadas pelas sub-unidades do Batalhão
  • CArt 565 - 14
  • CCav 677 - 21
  • CCaç 797 - 45
  • CCaç 1420 - 14
  • CCaç 1423 - 6
  • CCaç 1487 - 28
  • CCaç 1549 - 30
  • CCaç 1566 - 22
  • CCaç 1567 - 4
  • CCaç 1587 - 8
  • CCaç 1624 - 8
  • Pel Mort 1039 - 14
  • Cª Mil 7 - 7
Desta actividade resultou a captura do seguinte material:
  • Canhão s/r B-10, 82 mm - 1
  • Morteiro 82 - 1
  • MP Zbroyovka, 7, 62 - 2
  • MP Goryunov, 7, 62 - 5
  • MP Degtyarev, 12, 7 - 3
  • ML Degtyarev- RPD, 7, 62 - 3
  • LGF Pancerova-P/27 - 1
  • LGF RPG2 - 3
  • PM M-23, 9 mm - 1
  • coldres, capacetes, cantis, cinturões, cargas propulsoras. cunhetes, medicamentos, canos....
Em consequência da mesma actividade o IN sofreu as seguintes baixas confirmadas, além de outras estimadas:
  • Mortos - 225
  • Feridos - 78
  • Prisioneiros - 563
  • Apresentados - 61
A par da intensa actividade operacional descrita, o BCAÇ 1860 dedicou-se a grande actividade nos campos psico-social, educacional, médico e de melhoramento de aquartelamentos.

Cabe aqui destacar o invulgar esforço que foi desenvolvido no melhoramento das instalações militares na sede do Batalhão. Como consequência desse esforço o actual aquartelamento de Tite pode ser considerado sem favor, como um dos melhores, senão o melhor aquartelamento de toda a Província.
Considerou-se muito importante este aspecto, porquanto para quem teve de permanecer 24 meses no mato, em constante actividade operacional, nada mais reconfortante do que umas boas instalações, onde foi possível recuperar as energias gastas nas sucessivas operações, de maneira a conseguir manter o mesmo ritmo de actividade ao longo de toda a comissão.

Deste modo se manteve o pessoal não operacional ocupado todos os dias, desde as 07H00 às 17H00, o que muito contribuíu para se manter um nível de disciplina altamente agradável, ao mesmo tempo que se conseguia que cada um praticasse , na medida do possível, no trabalho que já exercia na vida civil.
De igual modo, o esforço desenvolvido neste campo em Jabadá foi notável. Num local onde só existia uma tabanca, pode ver-se hoje um aquartelamento guarnecido por excelentes abrigo-casernas e outros edifícios construídos com o esforço dos militares ali estacionados.

A par destas actividades, desenvolveu o Destacamento de Jabadá uma intensa actividade operacional de que resultou um afrouxamento claro da pressão que o IN vinha exercendo sobre a tabanca e aquartelamento e que se cifrava em flagelações quase diárias.
Com o apoio da numerosa população, as NT ali aquarteladas construíram ainda uma pista, que permite a aterragem de aviões de pequeno curso e helicópteros.

Nos demais aquartelamentos do Sector também se mannteve actividade semelhante com o natural benefício para as populações e para as NT.
Dois anos se passaram no cumprimento de uma missão nem sempre fácil, bem pelo contrário, mas a nossa consciência diz-nos que a cumprimos o melhor que pudemos e soubemos.

O esforço pedido foi grande, é incontestável, mas a equipa que formámos tudo venceu, sem desfalecimentos, com a melhor boa-vontade e sem quebra de ritmo. Em qualquer aspecto, quer operacional, quer administrativo, quer ainda no contacto diário com as populações afectas a nós, ou até aquelas indiferentes, a nossa actividade foi grande e felizmente vimos sobejamente o proveito do nosso esforço.
No campo psico-social, procurámos em todas as oportunidades possíveis, desenvolver as actividades da população, quer criando um corpo de artífices, tão necessário à Guine, quer criando escolas no Enxudé, Ilha das Galinhas, Jabadá, Fulacunda, Empada e Tite, quer ainda fomentando-lhes a lavoura, não só com apoio técnico, mas também materialmente.
O aspecto religioso também não foi por nós descurado, dando possibilidade aos de religião moçulmana terem o seu templo para as suas orações. Para eles construímos a mesquita de Tite.

Por tudo o que nos foi permitido fazer, cremos que ao deixarmos a Guiné, deixámos uma região que sempre procurámos elevar e valorizar, constituída por homens de todas as cores, mas com um único desejo - manter Portugal Independente e Unido.


Aquartelamento de Tite. A foto da Porta de Armas é de 1964, aquando da partida do Fernado Santos Oliveira para a Ilha do Como/Cufar (BCAÇ 599).
Foto : © Santos Oliveira. Direitos reservados.

Ao regressarmos a nossas casas, embora possa parecer que a nossa missão findou, tal não sucede; ela terá que ser ainda maior e mais profunda, teremos que transmitir aos que nos rendem, aos nossos amigos e muito especialmente àqueles menos esclarecidos, os ensinamentos colhidos durante a nossa permanência, dizer-lhes que os nativos da Guiné necessitam do seu apoio e só assim poderemos afirmar que as vidas e o sangue dos nossos camaradas dados à Pátria tão abnegadamente, não o foram em vão.

Recompletamentos:
Devido a transferências foram aumentados ao efectivo do Comando e da CCS os seguintes oficiais e sargentos:
Cap Art Vítor M Torres Silva
Alf grad Capelão Francisco Borges Ávila
2º Sarg Eduardo da Silva Raposo
Furr Mil Helder M A Santos Costa
Furr Mil Rui Palmela Mealha
Sub-unidades do BCAÇ 1860
sub-unidade, sub-sector, período, cmdt
  • CArt 565, Fulacunda, antec. /10Ago65, Cap Reis Gonçalves
  • CCav 677, S. João, antec./ 20Abr66, Cap Pato Anselmo (2), Alf Ranito, Cap Fonseca
  • CCaç 797, Interv, 29Abr65/16Mai66, Cap Soares Fabião
  • CCaç 1420, Fulacunda, 11Ago65/08Jan66, Cap Caria, Alf Serigado, Cap Moura
  • CCaç 1424, S. João, 11Set65/25Nov65, Cap Pinto
  • CCaç 1423, Fulacunda e Empada, 30Out66/23Dez66, Cap Pita Alves
  • CCaç 1487, Fulacunda, 08Jan66/15Jan67, Cap Osório
  • CCaç 1549, Interv, 26Abr66, Cap Brito
  • CCaç 1566, S. João e Jabadá, 19Mai66, Cap Pala e Alf Brandão
  • CCaç 1587, Empada, 27Nov66, Cap Borges
  • CCaç 1567, Fulacunda, 01Fev67, Cap Colmonero
  • CCaç 1591, Fulacunda (treino op.), 18Ago66/01Out66, Ten Cadete
  • CArt 1613, S. João (treino op.), 03Dez66/15Jan67, Cap Ferraz e Cap Corvacho
  • CCaç 1624, Fulacunda, 05Dez66, Cap Pereira
  • Pel Mort 912, Jabadá, antec./26Out65, Alf Rodrigues
  • Pel Caç 955, Jabadá, antec./13Mai66, Alfs Lopes, Viana Carreira (3), Sales, Mira
  • Pel AM Daimler 807, Tite, antec./13Mai66, Alf Guimarães
  • Pel Art 8, Fulacunda, 10Fev66/03Mar66, Alf Machado
  • Pel Caç 56, Fulacunda e S. João, 31Out66, Alf Dias Batista
  • Pel Mort 1039, Jabadá e Tite, 26Out65, Alf Carvalho
  • Pel AM Daimler 1131, Tite, 12Ago66, Alf Antunes
  • Cª Mil 6, Empada, antec., Alf 2ª Mamadi Sambu e Dava Cassamá
  • Cª Mil 7, Tite, 05Ago65, Alf 2ª Djaló
Estas sub-unidades foram atribuídas ao BCaç 1860 durante a permanência em Sector (desde Abr65).
Contribuíu o BCaç 1860, durante a sua permanência em terras da Guiné, com a vida e o sangue dos seguintes militares, para quem vai a mais respeitosa homenagem e o agradecimento da Nação:
12Ago65, Fur Mil Júlio Lemos P Martins
12Ago65, 1º Cabo Inácio Freitas Ferreira
30Set65, Sold Aníbal A Pires
18Out65, Sold Diogo A Neves
01Nov65, Sold Manuel A A Nobre,
18Mar66, Sold Alberto T Silva
11Mai66, Sold Julde Mané
25Ago66, Sold José Maria F Carvalho
25Ago66, Sold Francisco António Lopes
06Out66, Alf Mil Carlos Santos Dias
29Dez66, Sold Malan Sambú
15Jan67, Sold António C do Nascimento
16Jan67, Sold Saliu Djassi
16Fev67, Sold Alberto Samba
01Mar67, 1ºCabo José Félix Lopes
04Abr67, Furr Mil Rui Palmela Mealha

Desaparecidos em Combate, em 07Out65, durante a op Lenda (4):

Alf Mil Vasco Nuno L de Sousa Cardoso
1º Cabo Fernando de Jesus Alves
Sold Armando Leite Nascimento
Sold José Ferreira Araújo
Sold José Vieira Louro
Sold Armando dos Santos
Quadro de Honra
Cruz de Guerra de 2ª Classe : 1
Cruz de Guerra de 3ª Classe : 3
Cruz de Guerra de 4ª Classe : 8
Mérito Militar de 4ª Classe : 5
Prémio Governador-Geral : 6
Louvores do Cmdt Chefe : 11
Louvores do Cmdt militar : 33
Louvores do Com Agr : 8
Louvores do Cmdt Batalhão : 186
Louvores do Cmdt Cª : 41
louvores do Cmdt Pel : 3
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Notas de vb:

(1) Os nomes dos restantes elementos constam na História do Batalhão, disponível no AH Mil.
(2) Transferido da CCav 489/BCav 490
(3) Esteve em formação no CICmds (Brá), tendo abandonado o curso
(4) Ver em "Rumo a Fulacunda", obra do nosso Camarada Rui Ferreira; Vd. também poste de 4 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2026: Antologia (61): Rumo a Fulacunda: uma estória que ficou por contar ou a tragédia das CCAÇ 1420 e 1423 (Rui Ferreira)
Vd também artigos de:
24 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2301: Tabanca Grande (41): Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil de Armas Pesadas Inf.ª (Como, Cufar e Tite, 1964/66)
25 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2214: Historiografia de uma guerra (1): A questão (polémica) do início da luta armada (Abreu dos Santos)
18 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2190: PAIGC: Quem foi quem (4): Arafan Mané, Ndajamba (1945-2004), o homem que deu o 1º tiro da guerra (Virgínio Briote)
18 de Setembroe 2007 > Guiné 63/74 - P2115: Em busca de...(12): Notícias do desaparecimento de Júlio Lemos, ex-Fur Mil da CCAÇ 797, Tite, 1965/67 (Júlio Pinto)

Guiné 63/74 - P2503: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (15): Chegada a Bissau, 29 de Fevereiro, formalidades, recepção, hotéis

Guiné-Bissau >Bissau > Hotel Azalai

Guiné-Bissau > Bissau > Aparthotel Solmar

Guiné-Bissau > Bissau > Aparthotel Jordani

Fotos: AD - Acção para o Desenvolvimento (2008)

Guiledje: Simpósio Internacional > Informações úteis > Chegada a Bissau, dia 29 de Fevereiro; partida para Guileje, dia 1 de Março, às 7h00 da manhã

1. Mensagem recebida da Comissão Organizadora, com data de ontem:


Para os participantes que vierem no voo da TAP Lisboa-Bissau, no dia 29 de Fevereiro, o Simpósio terá o seu início no Aeroporto da Portela em Lisboa, onde o Doutor Leopoldo Amado, membro da Comissão Organizadora, fará questão de apresentar todos os que vêm das procedências mais diversas: portugueses, cubanos, espanhóis, franceses e guineenses.

À chegada a Bissau pelas 15h00, serão acolhidos por uma equipa da Organização do Simpósio que os apoiará nas formalidades policiais e alfandegárias.

O visto de entrada será concedido no Aeroporto Osvaldo Vieira aos participantes.

Todos serão então transportados para as respectivas unidades hoteleiras:

(i) oradores: Hotel AZALAI (Antiga Messe dos Oficiais do Quartel-General, no Bairro de Santa Luzia, ex-Hotel 24 de Setembro)

(ii) convidados: Hotéis que reservaram (Aparthotéis Solmar e Jordani) (1)Para mais informações sobre vaigens à Guiné-Bissau, vd. o portal do nosso amigo e camarada Carlos Fortunato> Guiné-Bissau (actualizado em 31/08/2007).

Receberão, também, na altura, toda a documentação do Simpósio (programa definitivo, brochura, mapa da Guiné-Bissau, etc.) e o crachá de acesso aos eventos.

Os participantes que vierem de carro (e que ainda não nos comunicaram onde ficarão alojados) terão igualmente acesso a toda a documentação no Hotel Azalai, onde se encontrará uma equipa da Organização para o seu acolhimento.

Até às 20h30 o programa é livre, podendo cada um passear calmamente por Bissau que é uma cidade tranquila, procurando as suas referências passadas.

A essa hora um veículo fará a recolha nos Aparthotéis Solmar e Jordani para transportar os participantes para uma Recepção que terá lugar na piscina do Hotel Azalai, ocasião para a primeira grande confraternização proporcionada pelo Simpósio.

Aconselha-se a todos o sacrifício de se deitarem cedo, uma vez que, na manhã seguinte, vai ocorrer a jornada mais pesada do Simpósio: a ida a Guiledje.

Como a partida será RIGOROSAMENTE às 7h00 da manhã, para se poder cumprir o programa, recomenda-se que cada um tome o pequeno-almoço às 6h30.

Todos terão um carro todo-o-terreno que os irá buscar aos respectivos hotéis e seguir de imediato em caravana para o Sul do país.

Aconselha-se a que tragam a roupa mais ligeira que tiverem, uma vez que ainda não sendo o período de mais intenso calor, ele se vai fazer sentir sobretudo entre as 12h00 e as 16h00.

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Nota dos editores:

(1) Informaçõs sobre os hotés:

(i) Azalai:

Localização: antigo QG (Bairro de Stª Luzia, Bissau)
Email: fernandesmario@iol.pt
Telemóvel: + (245) 6778261
Pessoa de contacto: Mário Fernandes (6731136)
Serviço de Quartos: 24 quartos de solteiro: 20.000 Cfa (30.000 Cfa par 2 pessoas); 17 quartos de casal: 40.000 Cfa (50.000 Cfa c/ cama adicional); 24 suites: 50.000 Cfa (60.000 Cfa c/ cama adicional). Inclui: pequeno-almoço, ar condicionado e piscina.
Restaurante: Prato principal (5.000 Cfa); entradas (2.000); sobremesa (2.500). Comida europeia e africana.

(ii) Jordani:

Localização: Av Pansau Na Isna, junto à Sé Catedral, Bissau
Telefone: + (245) 201719 Fax: + (245) 201719Telemóvel: + (245) 6624425; 7200485Pessoa de contacto: Pedro Embaló
Serviço de Quartos > 7 quartos de solteiro: 25.000 Cfa (35.000 Cfa para 2 pessoas); 3 quartos de casal: 35.000 Cfa. Inclui: pequeno-almoço, ar condicionado ou ventoinha e tvRestaurante.
Prato principal (2.500 a 5.000 Cfa); entradas (500 a 2.000 Cfa); sobremesa (1.200 a 1.500 Cfa). Comida europeia.

(iii) Solmar:

Localização: Rua Vitorino Costa, junto ao Mercado Central, Bissau
Email: solmar@mail.gtelecom.gw
Telefone: + (245) 206004 Fax: + (245) 206005Telemóvel: + (245) 6628531; 7208322Pessoa de contacto: Ussumani
Serviço de Quartos> 8 quartos de solteiro: 35.000 Cfa (45.000 Cfa para 2 pessoas); 6 quartos de casal: 45.000 Cfa; 6 suites: 45.000 Cfa (55.000 Cfa para 2 pessoas). Inclui: pequeno-almoço, ar condicionado, tv e mini-bar.

Observações: 1 euro = 655,597 Cfa

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2502: Guiledje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (14): Enquadramento histórico (II): o significado da queda de Guileje

Guiné > Região de Tombali > Guileje > 22 de Maio de 1973 > Uma das fotografias-ícones da batalha de Guileje: a expressão de preocupação estampada no rosto do Major Coutinho e Lima, por detrás de uma viatura blindada ou de uma peça de artilharia... O comandante do COP5 terá, de motu proprio, decidido abandonar Guileje para salvar 600 vidas. Decisão que os seus superiores hierárquicos nunca lhe terão perdoado. Recorde-se que ele esteve preso preventivamente em Bissau, de 22 de Maio de 1973 até 12 de Maio de 1974. O auto de corpo de delito que lhe foi levantado, por despacho do General António de Spínola, de 22 de Maio de 1973, tinha a seguinte justificação: (i) Ordenou a retirada das forças sob o seu comando do quartel de Guileje para Gadamael, sem que para tal estivesse autorizado; (ii) Mandou destruir edifícios e inutilizar obras de defesa do referido quartel, bem como material de guerra e munições; (iii) não cumpriu a missão que lhe foi atribuída (*).

Guiné > Região de Tombali > Guileje > 22 de Maio de 1973 > A retirada, dramática mas ordeira, das tropas portuguesas ali estacionadas, mais a respectiva população civil, num total de 600 indivíduos, por decisão do major Coutinho e Lima, comandante do COP5, contrariando as ordens expressas do Com-Chefe, General Spínola.

Guiné > Região de Tombali > Guileje > 22 de Maio de 1973 > A população e os militares abandonaram Guileje, às 5.30h, a caminho de Gadamael.

Estas fotos, originalmente publicadas no Público, devem ser da autoria do Fur Mil Carlos Santos, da CCAV 8350 (1972/74), segundo informação do seu e nosso camarada e amigo José Casimiro Carvalho, também ele da mesma unidade (Os Piaratas de Guileje) mas que nesse dia estava em Cacine (**). Gostaríamos de confirmar esta informação junto do próprio Carlos Santos, cujo paradeiro desconhecemos. Talvez o Casimiro Carvalho nos possa ajudar nesta diligência.

Foram-nos gentilmente cedidas pelo Pepito, fazendo parte do acervo fotográfico do Projecto Guiledje.

Fotos: AD - Acção para o Desenvolvimento (2007).


II e última parte da brochura, publicada em pdf, pela organização do Simpósio Internacional sobre Guiledje, e que tem como título Guiledje: Na Rota da Independência da Guiné-Bissau (***).

Como já foi salientado, é um notável documento, objectivo, sintético, suportado na investigação historiográfica, e que nos ajuda a perceber melhor a importância estratégica que teve Guileje (e o corredor de Guileje) na estratégia do PAIGC e do seu líder histórico, Amílcar Cabral, nomeadamente a partir de 1965, e portanto o seu significado no contexto da luta pela independência.

É por outro lado um documento feito pelos guineenses que hoje podem, com orgulho, apropriar-se da sua própria história, construi-la e escrevê-la. O documento original, em pdf, de 20 páginas é ilustrada com fotografias cedidas por ex-militares portugueses que fizeram parte de unidades de quadrícula estacionadas em Guiledje, desde 1964 a 1973, incluindo vários camaradas da nossa tertúlia. É também um momento bonito, que só vem confirmar a sabedoria de Amílcar Cabral que nunca hostilizou o povo português e os portugueses, nunca os confundindo com o regime político de António Salazar / Marcelo Caetano... Amílcar Cabral gostaria certamente de ver, se fosse vivo, os inimigos de ontem transformados em amigos de hoje...

Como, de resto, temos aqui dito, no nosso blogue, o Simpósio Internacional de Guiledje não celebra a derrota de ninguém mas sim a vitória de dois povos que continuam ligados por laços históricos, afectivos, culturais e linguísticos... e querem estreitar esses laços... Guiledje (mantendo a grafia que é cara aos nossos amigos guineenses, mesmo contra os puristas da língua portuguesa para quem não existe o conjunto consonântico dj...) representa o triunfo da vida sobre a morte, a vitória da paz sobre a guerra, a primazia da memória (viva) sobre o esquecimento e o branqueamento da história, a afirmação da esperança no futuro, o reforço da amizade e da solidariedade entre os nossos dois povos... (LG).


Guiledje - Simpósio Internacional - Guiledje: Na Rota da Independência da Guiné-Bissau. Documento em pdf. 2007. 20 pp. (Com a devida vénia...)



(iv) Guiledje e a evolução da estratégia militar do PAIGC

A partir de 1968, começa a registar-se no seio do PAIGC uma acentuada tendência para a passagem de uma guerra de guerrilha para a convencional na medida em que passou a dispor de melhor e maior quantidade de armamento pesado. A partir de Março de 1970, o PAIGC intensifica os ataques sistemáticos com artilharia pesada aos quartéis fronteiriços, tais como os de Susana, São Domingos, Bigene, Guidadje, Candjambari e Barro, no Norte, e Guiledje, Gã-Turé, Bedanda, Catió e Buba, no Sul.

No que respeita concretamente à área de Guiledje-Gadamael, o PAIGC dá mostras claras, a partir de 1971, de pretender desalojar este campo fortificado. Faz manobrar as suas forças segundo dois eixos convergentes, a partir de Salancaur/Botche Sanza (por Medjo) e Kandjafra (10). Efectivos do Corpo do Exército deslocam-se da Frente de Catió para reforçar os de Buba. Esboça-se assim a primeira tentativa do PAIGC de proceder ao corte de ligações terrestres entre Gadamael e Guiledje, para reduzir a ameaça que este último quartel exercia sobre o importante centro logístico de Kandjafra, na Guiné-Conakry.

Três aspectos foram decisivos para o desalojamento do quartel de Guiledje pelas FARP: o assassínio de Amílcar Cabral que conduziu a uma Operação com o seu nome (11) e ao recrudescimento de acções militares com uma inaudita violência que denotava a existência no PAIGC de um misto de dor e de vontade de vingar o assassínio do seu líder; a utilização para além dos tradicionais morteiros 120 mm ou dos foguetões 122 mm, dos canhões 130 mm (12); o aparecimento em cena dos mísseis terra-ar Strella que retiraram por completo a supremacia aérea ao Exército português na Guiné-Bissau (13).

Estes factores viraram definitivamente o rumo dos acontecimentos em favor do PAIGC. Ao escolher os seus alvos, o PAIGC tinha como objectivo desgastar as unidades portuguesas que directamente estavam implicadas na defesa dos centros urbanos e assim libertar os corredores de infiltração e de abastecimento nas áreas fronteiriças do Norte e Sul. O Exército português seleccionou as bases do PAIGC situadas nas áreas fronteiriças com a República da Guiné-Conakry por representarem uma ameaça directa aos aquartelamentos estratégicos como Guiledje, fundamental para a defesa do Sul da Guiné (14). Mas Guiledje acaba por cair nas mãos do PAIGC, caso único em toda a guerra colonial.


(v) Do conflito militar à independência da Guiné-Bissau: o papel de Guiledje

A batalha de Guiledje foi determinante para a proclamação da independência da Guiné-Bissau a 24 de Setembro de 1973, continuando uma parte do seu território nacional sob ocupação colonial. Em 1974, já depois da tomada de Guiledje, o PAIGC continuou a pressionar os restantes aquartelamentos do Sul, sobretudo os situados em Cantanhez. É o caso de Iemberém (15) e dos destacamentos portugueses colocados na estrada asfaltada entre esta última localidade e Iemberém – eixo logístico vital que atravessa o Cantanhez e que era normalmente defendida por tropas portugueses de Cadique e Caboxanque. Todavia, os guerrilheiros do PAIGC tornaram esta estrada praticamente intransitável pelas constantes emboscadas que nela montavam ou ainda pela dinamitação constante de alguns dos seus principais troços.

Por ironia do destino, talvez a intensidade e a violência dos combates ali travadas possam explicar a inaudita rapidez e a eficácia com que, depois do 25 de Abril, aquando do impasse verificado nas negociações de Londres, Cantanhez tenha sido utilizada pelos ex-contendores como palco de intensas negociações directas entre o comando militar do PAIGC e o Comando militar português na Guiné. Esses encontros revelarem-se mais eficazes do que as formalmente realizadas em Londres, na medida em que contribuíram para o desfecho positivo das rondas negociais que se lhes seguiram, nomeadamente a de Argel, onde se rubricou o Acordo que pôs formalmente termo à guerra.

(vi) Os protagonistas de Guiledje

Guiledje permanece vivo na memória dos seus actores, independentemente do lado em que se encontravam. Na Guiné-Bissau, uns e outros vivem pacificamente, lado a lado, procurando construir um futuro de progresso comum. A consciência dos que não participaram directamente na “História” de Guiledje, a maioria da população actual, é permanentemente interpelada seja pela transmissão oral dos que nela tomaram parte activa, seja pelos vestígios da guerra, tal como ruínas de quartéis como os de Guiledje, Balanacinho ou Iemberém, carcaças de viaturas militares e até garrafas de cerveja vazias que mais não são senão testemunhos de uma história vivida e sofrida e que, por isso mesmo, resiste à erosão do tempo, que tende a moldar-lhe o imaginário colectivo.

Destaca-se, ao lado dos combatentes e dos líderes político-militares guineenses, a contribuição da população com um trabalho ciclópico no esforço de guerra. Além de contribuir com arroz e víveres em geral para a alimentação dos combatentes (16), a populaça era amiúde sujeita a privações de toda a sorte, nomeadamente ataques da aviação e de destacamentos do Exército português apeados ou ainda ataques de forças especiais heliotransportadas. Acrescente-se a contingência, sempre omnipresente, de accionarem as inúmeras minas anti-pessoal que o Exército português e o próprio PAIGC colocavam tanto a montante como a jusante do Corredor de Guiledje.

Ao lado dos seus irmãos guineenses, militares e responsáveis caboverdianos do PAIGC combateram em Guiledje pela independência, sonhada por Amílcar Cabral. Apesar de a Guiné-Bissau e Cabo Verde terem tomado rumos políticos diferentes após a independência, Guiledje é também uma página importante da História moderna de Cabo Verde e da sua luta pela independência.

Oficiais cubanos, outrossim, treinaram e aconselharam os guerrilheiros do PAIGC. Nessa qualidade, estiveram e participaram em Guiledje com o seu saber, mas também com o seu sacrifício e sangue, o que igualmente representa, sem dúvida, um marco importante na História das relações entre os povos africanos e outros povos do mundo, entre os quais os descendentes nas Américas, ou seja, daqueles que um dia para lá foram levados como escravos.

O povo da Guiné-Conakry participou no esforço de guerra do PAIGC em Guiledje e nas frentes Sul e Leste, pagando por isso um pesado tributo. O apoio político, logístico e militar fornecido por esse país ficou para sempre registado nas mentes e corações dos combatentes e da população de Guiledje. No contexto geral da luta de libertação nacional da Guiné-Bissau, embora em menor grau, o povo senegalês também deu o seu contributo sob diversas formas.

Grupos políticos, associações e organizações, responsáveis, dirigentes e governos de vários países africanos, europeus, asiáticos, norte-americanos e latino-americanos forneceram apoio político e material à luta do PAIGC. Nessa qualidade, também participaram de forma intensa e de diversas formas na luta de libertação nacional no seu todo. Muitos desses indivíduos e grupos eram portugueses.

Porém, em Guiledje, os militares portugueses e os soldados africanos do Exército português estiveram do ”outro lado”. Ambos combateram e sofreram, e muitos deles até morreram. Apesar dos profundos males que só a guerra pode causar, é hoje forçoso o entendimento de que uns e outros faziam parte de uma máquina de guerra criada pelos poderes políticos que na altura governavam Portugal, no quadro de uma determinada ideologia. Porém, não obstante isso, a resposta do PAIGC e, particularmente, Amílcar Cabral, era a de que a luta era movida contra o regime colonial e não contra o povo português




Guiné > Região de Tombali > Guileje > Brazão da CCAÇ 3325 (Jan/Dez 1971).


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 (Jan/Dez 1971) > Militares levantando uma mina A/C na estrada Guileje - Gadamael.

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 (Jan/Dez 1971) > Pessoal do Pel Art que guarnecia um das peças 11,4 cm ali existentes, no tempo em que a unidade de quadrícula era a CCAÇ 3325, a que pertencia o Jorge Parracho, hoje coronel na reforma (****).

Fotos: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > o Fur Mil At Inf Op Esp Casimiro Carvalho junto ao monumento aos mortos e feridos da CCAÇ 3325 (que esteve em Guileje de Janeiro a Dezembro de 1971).

Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.


(vii) Simpósio Internacional de Guiledje

Muito se sabe dos acontecimentos e do papel de Guiledje. Porém, na maior parte dos casos, trata-se de conhecimentos pessoais dos protagonistas de Guiledje. Sobretudo do lado guineense, esses conhecimentos não estão documentados, o que restringe fortemente a sua transmissão e partilha, sobretudo fora de pequenos círculos de combatentes e da população.

A transmissão, quase exclusivamente oral desses conhecimentos, coloca problemas à investigação e à escrita da História, à medida que o tempo passa e se afasta das suas fontes primárias.

Convenhamos que o desaparecimento físico dos actores directos e indirectos e as testemunhas da epopeia de Guiledje, tanto do lado guineense como do português, tornam vulneráveis a perpetuação dos conhecimentos que se encontram unicamente incrustados na memória individual, a qual tende a desaparecer.

Os recentes esforços de recolha e intercâmbio de informação sob forma escrita e outros meios têm já produzido bons resultados e revelado aspectos inéditos. Mas também indicam que o que ainda não se sabe ou não se partilhou é provavelmente muito maior.

Volvidos mais de trinta anos, os protagonistas de Guiledje reencontrar-se-ão no Simpósio Internacional de Guiledje que será organizado na Guiné-Bissau de 1 a 7 de Março de 2008. Fá-lo-ão como um acto voluntário e pela vontade assumida de aprendizagem mútua, eivados do espírito da partilha e reconciliação. Nesse
sentido, a reconciliação entre os ex-contendores é necessariamente o fruto de um processo já iniciado e, concomitantemente, de maior relevância para o Simpósio. Deste modo, Guiledje escreverá mais uma página na História da Guiné-Bissau e das relações entre os povos.

Durante o Simpósio, novas informações e conhecimentos serão produzidos através de comunicações, debates, projecção de filmes e exposições diversas, assim como encontros em Guiledje e nos outras antigos palcos de guerra de antigos combatentes, desta feita, porém, transformados estes em palcos de paz e de reconciliação. As comunicações serão feitas sobre temas históricos e sobre temas ligados à experiência de desenvolvimento económico e social na zona de Cantanhez.

Após o Simpósio, e na base dos seus resultados e recomendações, continuará o esforço de pesquisa e documentação históricas de Guiledje e da luta de libertação nacional, bem como a implementação de iniciativas de desenvolvimento socio-económico de Cantanhez.

_____________

Notas dos autores da brochura:

(10) Data muito provavelmente dessa altura a elaboração de uma ordem de batalha não datado e intitulado Operação Maimuna, de autoria de Amílcar Cabral, em que são meticulosamente esboçados os detalhes de um eventual assalto ao quartel de Guiledje, aliás, plano esse usado posteriormente, já depois da morte de Amílcar Cabral, na operação que isolou e desalojou as forças do Exercito português em Maio de 1973.

Essa conjectura fundamenta-se, outrossim, pelo facto de nessa Ordem de Batalha se prever a concentração de efectivos nos moldes realizados.

(11) Em Março de 1973, o PAIGC pôs em marcha as operações Nô Pinctha, no Norte, e Amílcar Cabral, no Sul., pois que para o sucesso do cerco a Guiledje, precisava de se intensificar as hostilidades no Norte, com o objectivo de dispersão de efectivos, portugueses.

(12) Estes canhões, com um poder de fogo de longo alcance (cerca de 30 quilómetros) foram cedidos ao PAIGC pelas autoridades militares da Republica da Guiné-Conakry no âmbito da Operação Amílcar Cabral, pese embora o facto de, ainda em vida,
Cabral ter apresentado esta solicitação ao Presidente Sékou Touré (cf. Cabral, Amílcar, Propositions – a l’intention du Camarade Responsable Suprême de la Révolution, (manuscrito/inédito). Arquivo do PAIGC, Conakry, Setembro de 1972).

(13) Em pouco espaço de tempo o PAIGC abateu várias aeronaves portugueses, desequilibrando definitivamente a situação militar a seu favor. Como reconhece um estudo português publicado em 1997 era “(…) evidente que a guerrilha evoluiu muito em matéria de conhecimento sobre a actuação contra helicópteros e aviões, e armamento antiaéreo disponível(…)”.[Corbal, Aurélio B. Aleixo (dir. Adriano Moreira), “O vector Aéreo nas Campanhas de África”, In As Campanhas de África e a Estratégia Nacional”, Instituto Nacional de Estudos Militares, 1997.

(14) Segundo Julinho de Carvalho, Comandante militar dar das FARP , a resoluta decisão do PAIGC em proceder ao assalto ao quartel de Guiledje, explica-se também, entre outras razões, pela necessidade de desobstruir as estradas que facilitariam a circulação dos tanques blindados que o PAIGC já possuía e com os quais pretendia pressionar os aquartelamentos do Exército português ao longo da fronteira Sul (Entrevista a Carlos Silva, Abril de 2007, Ilha do Sal, Cabo Verde).

(15) A tropa portuguesa ponderou variadíssimas vezes a possibilidades de abandonar Iemberém, só não o tendo feito pois estavam praticamente cercados e isolados pelas FARP, na medida em que Iemberém fica encravada na região de Cantanhez, voltada
para o Sul, para o rio Cacine e só se podia lá chegar pelo rio Cacine com barcos pequenos, os zebros e os sintex.

(16) É curioso reparar que a expressão usada entre a população sob o controlo do PAIGC para as actividades de contribuição com o indispensável arroz e outros géneros alimentícios para os combatentes era a de “midi caneca”, significando literalmente
“Medir Caneca”, ou seja, fornecer a quantidade acordada para efeitos de contribuição.

Aos elementos da população ainda eram reservadas funções como a de estafetas, para além de funções de vigilância e organização logística.


______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2137: Antologia (62): Guileje, 22 de Maio de 1973: Coutinho e Lima, herói ou traidor ? (Eduardo Dâmaso / Luís Graça)

5 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2083: Em busca de... (10): Coutinho e Lima, o comandante do COP5 que decidiu abandonar Guileje e foi acusado de deserção (Beja Santos)

(**) Vd. poste de 24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!! Guileje está à mercê deles!

(...) Cacine, 22/5/73:

Queridos pais: Vou-lhes contar uma coisa difícil de acreditar como vão ter oportunidade de ler: Guileje foi abandonada [a bold, no original], ainda não sei se foram os soldados que se juntaram todos e abandonaram o quartel, ou se foi ordem dada pelo Comandante-Chefe, mas uma coisa é certa: GUILEJE ESTÁ À MERCÊ ‘DELES’ [, em maíusculas, no original].

Não sei se as minhas coisas todas estão lá, ou se os meus colegas as trouxeram. Tinha lá tudo, mas paciência.

Se foi com ordem de Bissau que se abandonou a nossa posição, posso dar graças a Deus e dizer que foi um milagre, mas se foi uma insubordinação, nem quero pensar…

Mas… já não volto para lá!!! Não tinha dito ainda que Guileje era bombardeada pelos turras há vários dias e diversas vezes por dia. Os soldados e outros não tinham pão, nem água. Comida era ração de combate e não se lavavam. Sempre metidos nos abrigos e nas valas. A situação era impossível de sustentar. Vosso para sempre (…).



(***) Vd. poste de 2 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2499: Guiledje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (13): Enquadramento histórico (I): a importância estratégica de Guileje

(****) Vd. poste de 15 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1431: Guileje: Quem (e quando) construiu os abrigos de cimento armado (Pepito / Nuno Rubim)

(...) Mensagem do Pepito:

(...) Queria pedir-te dois apoios, embora saiba que tempo é o que tens menos:

(i) Quando aí estive no verão 2006, conheci o Coronel Jorge Parracho que me forneceu excelentes fotos, algumas das quais te enviei. Nessa altura, e por seu intermédio conheci o ex-enfermeiro de Guiledje, Vitor Manuel Rodrigues Fernandes (CCAÇ 3325) que estava na altura a digitalizar o Livro da Unidade, tendo-mo prometido logo que acabasse (em finais de Setembro). O favor que te pedia era o de, se possível, dares-lhe uma chamada (933323135) para saber se ele já concluiu o trabalho e se te poderia dar esse documento, para tu mo dares (...).

(...) Mensagem do Nuno Rubim:

(...) As unidades que terão estado sediadas [em Guileje] parecem ter sido as seguintes (indico também os contactos obtidos no teu blogue):

CCAÇ 495 (Fev 1964/Jan 1965)
CCAÇ 726 (Out 1964/Jul 1966) (contactos: Teco e Nuno Rubim)
CCAÇ 1424 (Jan 1966/Dez 1966) ( contacto: Nuno Rubim )
CAÇ 1477 (Dez 1966/Jul 1967) (contacto: Cap Rino)
CART 1613 (Jun 1967/Mai 1968) (contacto: Cap Neto) [infelizmente já desaparecio, José Neto, 1929-2007]
CCAÇ 2316 (Mai 1968/Jun 1969) (contacto: Cap Vasconcelos)
CART 2410 (Jun 1969/Mar 1970) (contacto: Armindo Batata)
CCAÇ 2617 ( Mar 1970/Fev 1971) > Os Magriços (contacto: Abílio)
CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971) (contacto: Jorge Parracho) (*)
CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972) > Os Gringos de Guileje (contacto: Amaro Munhoz Samúdio)
CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) > Os Piratas de Guileje (contacto: José Casimiro Carvalho )