terça-feira, 8 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3036: Convívios (71): VIII Encontro dos Antigos Combatentes de Barroselas, no dia 28 de Junho de 2008 (Sousa de Castro)



Sousa de Castro
1.º Cabo Radiotelegrafista
CART 3494/BART 3873
Xime e Mansambo
1972/74



1. Mensagem do nosso camarada Sousa de Castro, a propósito do VIII Encontro dos Combatentes de Barroselas.

Decorreu com grande brilho, no dia 28 de Junho 2008 o VIII encontro dos combatentes de Barroselas, concelho de Viana do Castelo a que se juntaram a companhia 634 que prestou serviço em Angola para mais um convívio.

Depois da missa campal celebrada por antigos Capelães militares, nomeadamente pelo antigo capelão do BART 3873, Alf. Graduado Capelão Manuel Martins da Costa Pereira.

Prestou-se homenagem aos combatentes mortos em combate e também aos falecidos por outras causas com deposição de uma coroa de flores junto ao monumento.

Participaram neste evento várias associações de ex-Combatentes, de Viana do Castelo, Monção, Castelo de Paiva, Caminha e Vila Praia de Ancora, CMDT da GNR de Barroselas, representante da Armada, Ten. Coronel pára-quedista na reserva Casal Martins e autoridades locais.

Seguindo-se o repasto num restaurante local que decorreu com grande animação.

Junto em anexo algumas fotos do evento.
Sousa de Castro


Foto 1> O início da cerimónia junto ao Monumento dos Combatentes do Ultramar

Foto 2> Cerimónia de deposição de uma coroa de flores junto ao Monumento dos Combatentes

Foto 3> Algumas autoridades. O Capelão do BART 3873, Pe. Costa Pereira em destaque

Foto 4> Sousa de Castro ladeado por amigos ex-combatentes

Guiné 63/74 - P3035: Efemérides (9): 33.º aniversário da independência de Cabo Verde (António Rosinha/Carlos Vinhal)


1. A propósito da passagem do 33.º aniversário da independência de Cabo Verde, recebemos no dia 5 de Julho de 2008, a seguinte mensagem do nosso tertuliano António Rosinha:

Amigos editores e co-tertulianos, penso que se deve fazer uma referência ao dia nacional de Cabo Verde.

Primeiro, porque a independência daquele país, mesmo sem armas, foi provocada pelas mesmas armas envolvidas nas outras colónias.
Segundo, porque Cabo Verde, provou para a maior parte dos paises africanos, que se pode ser independente, sem se matarem irmãos.
E por último, penso que devemos dar os parabéns aos caboverdianos, por serem um exemplo, para a maior parte dos países a sul do Sahara, que se pode governar sem fuzilamentos.

Como conheci, e tive dezenas de colegas, caboverdianos de várias ilhas, e sei que nem todos eram pela independência, e frizavam bem que queriam ser como a Madeira, Canárias, etc., também sei, que, logo que ficou consumada a independência, embora tenha havido alguns desentendimentos inevitáveis, depressa se uniram, e hoje são um caso sério de sucesso, quer internamente, como internacionalmente.

Pessoalmente, penso que o sucesso de Cabo Verde é também um sucesso de Portugal. Como penso que outros insucessos, também são nossos insucessos.

Um abraço
Antº Rosinha


Mapa da República de Cabo Verde

Bandeira Nacional da República de Cabo Verde

Pedro de Verona Rodrigues Pires, Presidente da República de Cabo Verde, no seu segundo mandato desde Fevereiro de 2006

José Maria Pereira Nunes, Primeiro Ministro do Governo da República de Cabo Verde

2. Sobre a República de Cabo Verde

História


As ilhas de Cabo Verde foram descobertas por navegadores portugueses em Maio de 1460, sem indícios de presença humana anterior. Santiago foi a ilha mais favorável para a ocupação e assim o povoamento começa ali em 1462.

Dada a sua posição estratégica, nas rotas que ligavam entre si a Europa, a África e o Brasil, as ilhas serviram de entreposto comercial e de aprovisionamento, com particular destaque no tráfego de escravos. Cedo, o arquipélago tornou-se num centro de concentração e dispersão de homens, plantas e animais.

Com a abolição do comércio de escravos e a constante deterioração das condições climáticas, Cabo Verde entrou em decadência e passou a viver com base numa economia pobre, de subsistência.

Europeus livres e escravos da costa africana fundiram-se num só povo, o caboverdiano, com uma forma de estar e viver muito própria e o crioulo emergiu como idioma da comunidade maioritariamente mestiça.

Em 1956, Amílcar Cabral criou o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), lutando contra o colonialismo e iniciando uma marcha para a independência. A 19 de Dezembro de 1974 foi assinado um acordo entre o PAIGC e Portugal, instaurando-se um governo de transição em Cabo Verde. Este mesmo Governo preparou as eleições para uma Assembleia Nacional Popular que em 5 de Julho de 1975 proclamou a independência.
A demarcação cultural em relação a Portugal e a divulgação de ideias nacionalistas conduziram à independência do arquipélago em Julho de 1975.

Em 1991, na sequência das primeiras eleições pluripartidárias realizadas no país, foi instituída uma democracia parlamentar com todas as instituições de uma democracia moderna. Hoje Cabo verde é um país com estabilidade e paz sociais, pelo que goza de crédito junto de governos, empresas e instituições financeiras internacionais.

Território

O território da República de Cabo Verde é composto:


Pelas ilhas de Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia, São Nicolau, Sal, Boa Vista, Maio, Santiago, Fogo e Brava, e pelos ilhéus e ilhotas que históricamente sempre fizeram parte do arquipélago de Cabo Verde;
Pelas águas interiores, as águas arquipelágicas e o mar territorial definidos na lei, assim como os respectivos leitos e subsolos; Pelo espaço aéreo suprajacente aos espaços geográficos referidos nas alíneas anteriores.
Na sua zona contígua, na zona económica exclusiva e plataforma continental, definidas na lei, o Estado de Cabo Verde possui direitos de soberania em matéria de conservação, exploração e aproveitamento dos recursos naturais, vivos ou não vivos, e exerce jurisdição nos termos do direito interno e das normas do Direito Internacional. Nenhuma parte do território nacional ou dos direitos de soberania que o Estado sobre ele exerce pode ser alienada pelo Estado.

Línguas oficiais

É língua oficial o Português. O Estado promove as condições para a oficialização da língua materna cabo-verdiana, em paridade com a língua portuguesa. Todos os cidadãos nacionais têm o dever de conhecer as línguas oficiais e o direito de usá-las.

Capital da República

A Capital da República de Cabo Verde é a cidade da Praia, na ilha de Santiago, e goza de estatuto administrativo especial, nos termos da lei.


Panorâmica da Cidade da Praia, Capital da República de Cabo Verde

Geografia

Situadas a 455 Km da Costa Africana, as ilhas de Cabo Verde estendem-se por cerca de 4033 Km2 e foram formadas pela acumulação de rochas, resultantes de erupções sobre as plataformas submarinas. O arquipélago tem, de uma forma geral, um aspecto imponente e magestoso. Algumas ilhas são áridas, mas noutras a vegetação é exuberante, tropical. O relevo da maior parte das ilhas é acidentado, com altitudes que ultrapassam os mil metros em algumas ilhas atingindo mesmo 2.882 metros na ilha do Fogo.

As três ilhas mais orientais têm um relevo mais plano e um clima mais árido por estarem expostas aos ventos secos e quentes do sahara. As costas são caracterizadas pelos contrastes entre as falésias altas e abruptas caindo a pique sobre o mar e as vastas praias de fina areia.

População

Em Cabo Verde, a taxa anual de crescimento demográfico e a de mortalidade são baixas, comparadas às taxas médias de outros países com rendimento médio. A esperança média de vida é de 62 e 65 anos, respectivamente para homens e mulheres.



Batucadeiras de Cabo Verde

A população residente no país é estimada em 434.263 habitantes, sendo uma população jovem com média de idade de 23 anos. A falta de recursos naturais e as escassas chuvas no arquipélago determinaram a partida de muitos caboverdianos para o estrangeiro. Actualmente a população caboverdiana emigrada é maior do que a que vive em Cabo Verde.
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Nota de CV

Fotos e textos retirados da
Página Oficial do Governo da República de Cabo Verde

Guiné 63/74 - P3034: Blogues da nossa blogosfera (1): Bissau Calling (Joaquim Mexia Alves)

A Guiné-Bissau é como um sorriso do outro mundo

Mensagem do Joaquim Mexia Alves, de 23 de Junho:

Caro Luis e camarigos,

Chamo a atenção para um blogue, dum portugês chamado Miguel Girão de Sousa, e que é o "Conselheiro Político, de Protocolo e de Informação Pública da Missão da União Europeia de Apoio à Reforma do Sector de Segurança da Guiné-Bissau" (1).

O blogue chama-se Bissau Calling ( http://bissaucalling.blogspot.com/) e tem como subtítulo "A Guiné-Bissau é como um sorriso do outro mundo".

Começou há pouco tempo [, Maio de 2008,] e tem fotografias óptimas.

Aqui fica a sugestão (2).

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
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Edição de vb:

(1) Para quem estiver interessado em conhecer um pouco melhor a Missão da União Europeia de Apoio à Reforma do Sector de Segurança da Guiné-Bissau, clique aqui.


(...) "The EU has decided to establish an advice and assistance mission in support of the Security Sector Reform (SSR) in Guinea-Bissau. The mission will be undertaken in partnership with the Guinea-Bissau authorities. It will be conducted under the ESDP (European Security and Defence policy).

Called 'EU SSR Guinea-Bissau', the mission will provide advice and assistance on reform of the security sector in Guinea Bissau in order to contribute to creating the conditions for implementation of the National Security Sector Reform Strategy.

The mission is part of a coherent EU approach and complementary to the European Development Fund and other European Community activity.
General Esteban Verástegui has been appointed as the Head of Mission for EU SSR Guinea-Bissau " (...).


(2) Aqui vai um excerto de um poste, para amostra:

"Estava eu a ler com a A. e mais algumas pessoas o Anunciador, jornal escolar de referência do Liceu Dr. Rui de Barcelos, quando me deparo com o seguinte texto que não resisto em partilhar: 'Em negócios, como turistas ou para visitar familiares e amigos, são cada vez mais os visitantes (estrangeiros e nacionais) que chegam à cidade de Bissau. Para uma estadia mais curta ou mais prolongada, há diversas opções para passar o tempo em Bissau: visitar monumentos de referência histórica, fazer desporto, assistir a espectáculos variados, tomar um café ou um refresco, repousar, dançar, entre outros…' Não imaginam as filas de espera para visitar o Palácio Presidencial, os museus e igrejas (entre outros...). Ao fim de semana é para esquecer. Pior do que em Paris ou Amesterdão. Só mesmo com bilhete reservado... A Turangra devia pensar mais neste destino. "
in Bissau Calling, de 7 de Julho de 2008

Guiné 63/74 - P3033: Convite (6): Tomada de posse dos Orgãos Sociais da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra

1. Da casa da Guiné-Bissau em Coimbra, recebeu o nosso Editor Luís Graça o seguinte convite pessoal:

Exmo. Sr. Luís Graça,
Coimbra, 03 de Julho de 2008

Assunto: Presença na tomada de posse dos órgãos sociais da “Casa da Guiné-Bissau em Coimbra”.

Recentemente criou-se uma comissão instaladora, que lançou as bases para a constituição da “Casa da Guiné-Bissau em Coimbra”, uma entidade cujos objectivos são os de zelar pelos interesses da comunidade guineense do distrito de Coimbra, nos âmbitos intelectuais, culturais e socio-económicos.

No passado dia 15 de Junho de 2008, realizaram-se as primeiras eleições para os seus órgãos sociais, saindo vencedora a lista liderada pelo Doutor Julião Soares Sousa.

Neste sentido, a comissão eleitoral tomou a liberdade de convidá-lo a si e aos seus camaradas da Guiné a marcarem presença na tomada de posse dos órgãos sociais, que terá lugar no dia 12 de Julho de 2008, pelas 11h, no Centro Cultural D. Dinis da Universidade de Coimbra.

Com os melhores cumprimentos,
A comissão eleitoral,
Dr. Quecuta Manafá

Guiné-Bissau > Bissalanca > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de Fevereiro de 2008 > O historiador Julião Soares Sousa, natural de Bula, o primeiro guineense a doutorar-se pela Universidade de Coimbra (1).

2. O nosso Editor Luís Graça, impossibilitado de comparecer na tomada de posse dos Orgãos Sociais da Casa da Guiné-Bissau, em Coimbra, por ser esta uma altura em que os seus deveres de Professor na Universidade Nova de Lisboa/Escola Nacional de Saúde Pública, lhe tomam imenso tempo, deseja as maiores felicidades a quem toma em seus ombros o encargo de dirigir aquela instituição, especialmente ao senhor Doutor Julião Soares Sousa.

Como o convite é extensivo a todos os Tertulianos do nosso Blogue, fica dado o conhecimento público desta cerimónia, para aqueles que tenham oportunidade, compareçam.
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Nota de CV:

(1) Vd. poste da notícia de doutoramento de Julião Soares Sousa de 17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2447: Julião Soares Sousa, o primeiro guineense a doutorar-se pela Universidade de Coimbra (Carlos Marques Santos / Carlos Vinhal)

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3032: PAIGC: Instrução, táctica e logística (13): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XIII Parte): Armamento (A. Marques Lopes)




Quadro I - Evolução do armamento do PAIGC no TO da Guiné (1961-69)... Fonte: Supintrep nº 32, Junho de 1971. Naturalmente faltam os Strela, os mísseis terra-ar que apareceram em Março de 1973, nos céus de Guileje...


Continuação da publicação do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado na época como reservado, de que nos foi enviada uma cópia, em 19 de Setembro de 2007, pelo nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, Cor DFA, na situação de reforma :


PAIGC - Instrução, táctica e logística (13): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (Parte XII) > Logística:


a. ABASTECIMENTO DE MATERIAL DE GUERRA E INTENDÊNCIA (*)

1. Armamento e munições


Os grupos armados do PAIGC dispõem de material ligeiro moderno, próprio para o tipo de guerra que pratica, ao qual associa armas pesadas, tais como canhões sem recuo e morteiros de vários tipos, metralhadoras e peças anti-aéreas, metralhadoras pesadas, foguetões 122, havendo notícias de que possui já, ou possuirá a curto prazo, mísseis terra-ar [Strela]. Esta gama de armamento de origem russa, chinesa e checa, é recebida quer directamente desses países quer a partir de Cuba, e encontra-se descrito no SUBINTREP 33.

Dada a grande variedade de armas utilizadas e, dentro do mesmo tipo de armas, de vários calibres, poder-se-ia admitir que se verificassem deficiências ou dificuldades no seu emprego, estas últimas especialmente devidas a deficiências de reabastecimento. Tal não acontece, porém, e, muito ao contrário, em todas as acções que tem levado a cabo o IN tem vindo a actuar com crescente potencial de fogo em que o quantitativoe a variedade das munições consumidas revelam níveis apreciáveis, não sendo raras as flagelações em que são consumidas várias centenas de granadas de canhão e morteiro. A ausência de restrições no consumo de material é suficientemente elucidativa da “generosidade” dos países fornecedores.

O mesmo acontece com os engenhos explosivos, minas anti-carro e anti-pessoal, normalmente de fabrico russo, das quais o IN faz largo uso.

Considerando os vários tipos de armas utilizadas, julga-se que será de interesse incluir neste documento elementos respeitantes ao seu aparecimento no TO, o que constiturá uma pequena história das sucessivas “fases” em que podemos dividir o tempo que meneia entre a eclosão do conflito e os dias de hoje, fases essas definidas presisamente pela utilização de novos armamentos.

Consideram-se as seguinte referenciações (Vd. Quadro I, em cima):

Tipo de armamento - Espingarda gentílica de caça

Mês e ano do seu aparecimento - Junho de 1961
Local onde foi referenciado pela 1ª vez - S. Domingos

Pistola / Jul-Dez 1962 / Frente Sul

Pistola metralhadora e granada de mão / Jan 1963 / Tite

Mina Anti-carro / Jul 1963 / Estrada Fulacunda - S. João

Metralhadora ligeira / Jul -Dez 1963 /

Morteiro 82 / Jan-Fev 1964 / Buba, Ilha do Como

Metralhadora pesada 12,7 / Março de 1964 / Cabedú

Lança granadas-foguete / Ago 1964 / Piche

Morteiro 60, espingardas automáticas, semi-automáticas e minas generalizadas / Dez 1964

Canhão s/recuo 82 mm / Jul 1966 / Beli

Canhão s/recuo 75 mm / Nov 1966 / Canquelifá

Confirmação da utilização de meios rádio / Dez 1966

Lança granadas-foguete RPG7 / Nov 1967

Canhão s/recuo T21 / Jun 1968

Morteiro 120 / Ago 1968 / Gandembel

Foguetões 122 / Nov 1969 / Bolama



Lisboa > Museu Militar (1) > O foguetão 122 mm ou a arma especial Grad (na terminologia do PAIGC) (**). Os primeiros foguetões 122 mm terão sido usados, pela primeira vez, numa flagelação contra Bolama, em Novembro de 1969.


Foto [à esquerda]: © Nuno Rubim (2007). Direitos reservados.


Entrando em linha de conta com estes elementos, consideram-se as seguintes fases no desenrolar da luta:


1.ª FASE [1961/63]



Definida pelo uso de armas de caça e armas gentílicas e caracterizada também pela utilização de pistolas, pistolas metralhadoras e granadas de mão, a qual se estende até Julho de 1963.


2.ª FASE [1963/1966]

Caracterizada pela utilização de minas A/C e armamento pesado, nomeadamente morteiros 82, metralhadoras pesadas e lança granadas-foguete, até meados de 1966.

3.ª FASE [1966/69]

Caracterizada pela utilização de espingardas automáticas e semi-automáticas, canhões sem recuo (s/r) 75 e 82 mm, morteiros 120, a par de todas as outras anteriormente referenciadas.


4.ª FASE [Nov 1969... ]

O início desta fase, Novembro de 1969, é caracterizada pelo aparecimento no TO de foguetões 122, em paralelo com todo o restante armamento citado.

3. As arrecadações

São instalações de vários tipos onde o IN guarda o seu material, sendo a sua capacidade e construção dependente do escalão que servem. Verifica-se, assim, a existência de arrecadações de grande capacidade (Depósitos) construídas em betão nas bases das regiões fronteiriças, arrecadações mais pequenas, embora seguras, junto dos órgãos de comando das Frentes e Sectores, e pequenas arrecadações, muitas vezes simples buracos camuflados, junto dos acampamentos das unidades mais elementares.

Estas “arrecadações”, que possuem sempre um encarregado, o “responsável”, situam-se, especialmente as que servem unidades de pequenos efectivos, fora das áreas dos acampamentos de modo a não serem facilmente detectáveis.

A fim de protegerem o material guardado nestas “arrecadações” rudimentares, o IN utiliza plásticos, caixotes de madeira, de cibes e de ferro, além de outros materiais de protecção; nas “arrecadações” que reunem já razoáveis condições de armazenamento não são descurados os cuidados a ter com o material, sendo o mesmo colocado em caixotes que assentam em estacarias, defendendo-o assim da humidade e da bicharia.


4. Maneira como se processa o reabastecimento de material


Kandiafara e Koundara são, como se referiu já, as bases logísticas de apoio à Inter-Região Sul e Inter-Região Norte, respectivamente, sendo Boké e Kolda pontos de passagem e controle de viaturas e material nelas transportado. Este, vindo dos órgãos logísticos e centrais de Conakry, chega às bases inter-regionais onde fica registado e armazenado até ser feita a sua distribuição pelas bases que, nas regiões fronteiriças e no interior, servem as diferentes Frentes e Sectores. Aqui, por sua vez, acaba também por ser distribuído pelos acampamentos das diferentes unidades.

O procedimento adoptado para o processamento da distribuição do material é o seguinte: cada escalão elabora relações de material especificando nelas o material consumido ou desaparecido, o operacional e o inoperacional, o fornecido e o evacuado. Estas relações são enviadas periodicamente aos escalões superiores, os quais procedem aos necessários ajustamentos em função delas.



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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2955: PAIGC: Instrução, táctica e logística (12): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XII Parte): Saúde (A. Marques Lopes)


(**) Vd. postes anteriores sobre o armamento do PAIGC:

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1764: Armamento do PAIGC (1): Metralhadoras pesadas Degtyarev, antiaéreas (Nuno Rubim)

27 de Junho de 2007 >Guiné 63/74 - P1890: PAIGC: Gíria revolucionária... ou como os guerrilheiros designavam o seu armamento (A. Marques Lopes)

(...) Tipo de Armamento > DESIGNAÇÃO

Foguetão 122 mm > GRAAD ou JACTO DO POVO

Morteiro 120 mm > BADORA

Canhão S/R B-10 > BEDIS
Canhão S/R 75 mm > TECHONGO

Lança Granadas-Foguete PANCEROVKA P-27 > BAZOOKA BICHAN, LANÇA GRANDE, PAU DE PILA, BAZOOKA CHINÊS

Lança Granadas-Foguete RPG-2 > BAZOOKA CHINA, BAZOOKA LIGEIRO, LANÇA PEQUENO

Lança Granadas-Foguete 8,9 cm (M20 B1) > BAZOOKA CUBANA

Metralhadora Pesada DEGTYAREV (DSHK) Cal. 12,7 mm M-38/56 > DEKA, DESSEQUE, DCK,

Metralhadora Pesada GORYOUNOV Cal. 7,62 mm M-943 SG > TRIPÉ, GORRO NOVO

Metralhadora Pesada ZB – 37 ZDROJOVSKA > TRIPÉ, TRIPÉ BESSA

Metralhadora Ligeira DEGTYAREV DP Cal. 7,62 mm > BIPÉ DISCO ou DISCO BIPÉ SOVIÉTICO

Metralhadora Ligeira DEGTYAREV RDP Cal. 7,62 mm > BIPÉ CHECO, BIPÉ PACHANGA

Metralhadora Ligeira M-52 Cal. 7,62 mm > BIPÉ CAUDO, BIPÉ MAQUESSEN

Metralhadora Ligeira BORSIG Cal. 7,92 mm > BIPÉ

Espingarda Automática KALASHNIKOV (AK) Cal. 7,62 mm > AKA ou ACAG3, PM SOVIÉTICO

Espingarda Automática SIMONOV (SKS) Cal. 7.62 mm > CARABINA AUTOMÁTICA ou CHIME AUTOMÁTICA, CANHE BALE (JOL), CARABINA SINECE, CARABINA CHINESA, E.S.A SIMA

Espingarda M-52 Cal. 7,62 mm > CARABINA CHECA

Espingarda MAUSER K98K > MAUSER

Espingarda Semi-automática M-52 Cal. 7,62 mm > CHIME AUTOMÁTICA, CARABINA BOMBARDEIRA

Carabina MOSIN-NAGANT M-944 > CARABINA RÔSSIA (SOVIÉTICA

Pistola-Metralhadora M-23 > MERENGUE

Pistola-Metralhadora M-25 > MERENGUE ou RICON RICO

Pistola-Metralhadora SHPAGIN Cal. 7,62 mm M-941 (PPSH)> PACHANGA, METRO ou METAR

Pistola-Metralhadora SUDAYEV Cal. 7,62 mm M-943 (PPS) > PM de FERRO, 
DECÉTRIS,MODELO PACHANGA, PM CHINESA

Pistola-Metralhadora THOMPSON Cal. 11,4 mm > RICO JAZ-THOMPSON

Pistola-Metralhadora BERETTA N-38/42 e M-38ª> BERETTA

Pistola-Metralhadora SHMEISSER MP-38 e MP-40 > COPTER

Pistola CESKA ZBROJOVKA Cal. 7,65 mm > PISTOLA SEMI-AUTOMÁTICA

Pistola CESKA ZBROJOVKA Cal. 6,35 mm > PISTOLA SEMI-AUTOMÁTICA PEQUENA

Guiné 63/74 - P3031: Convívios (70): Pessoal da CCAÇ 816, no dia 10 de Maio de 2008, em Viana do Castelo (Rui Silva)


Rui Silva
ex-Fur Mil
CCAÇ 816
Bissorã, Olossato, Mansoa
1965/67

1. Em 6 de Julho recebemos o reenvio (a nosso pedido) de uma mensagem de 15 de Maio do nosso camarada Rui Silva, onde ele nos dava notícia do Convívio Anual da CCAÇ 816.

Caro Vinhal:
Agradeço a tua atenção e recebe desde já um abraço com os votos de saúde e boa disposição par ti, Luís Graça e Briote.
O mail que te enviei há tempos não terá sido bem feito por mim, pois fi-lo de forma diferente. Também foi com alguns erros de digitação, porque foram palavras mal escritas que eu pensei que não iam. Um lapso meu.

Espero agora, que com este movo mail tudo se regularize.
Peço desculpa.
Portanto este será o mail tido como oficial.
Mais uma vez agradeço a tua atenção.
Rui Silva

Convívio Anual da CCAÇ 816

No passado Sábado, dia 10 de Maio de 2008, teve lugar mais um alegre e salutar Convívio Anual da família 816.

Do programa com ponto de encontro no Mosteiro da S.ta Luzia em Viana do Castelo, constou, como habitualmente, de uma missa por alma dos camaradas falecidos em combate e também dos outros que infelizmente nos vão deixando.

Houve de seguida uma romagem ao cemitério de Perre (arredores de Viana do Castelo) onde o numeroso grupo da 816 e seus próximos familiares prestou uma homenagem ao seu saudoso e querido amigo Tiago Manso, falecido numa emboscada numa Pperação a Iracunda, no OIO, no ano de 1966.

Como sempre, o então Capitão e Comandante da Companhia Luís Riquito, fez uma prelecção junto ao Mausoléu onde se encontram os restos mortais do Tiago Manso, evidenciando e enaltecendo as nobres qualidades do combatente Manso que viu a vida fugir-lhe em plena juventude e quando se integrava num grupo de companheiros indefectíveis e que como ele corajosamente lutavam.

Seguiu-se um almoço na Quinta do Sapo (arredores de Viana do Castelo) onde os elementos da 816 mais os seus queridos familiares, confraternizaram numa sã e sempre bem-disposta convivência.

Cabe aqui uma palavra de apreço ao grande amigo e colega de combate Armando Barrumas que em colaboração com as suas queridas filhas proporcionou uma festa bem cuidada e bem organizada.

Até ao ano boa gente da 816!!

Aproveito a oportunidade para pedir que considerem futuramente o meu novo endereço

Um abraço para todos os tertulianos
Rui Silva

Foto 1>O grupo da 816, muitos militares e seus familiares junto ao Mosteiro de S.ta Luzia em Viana do Castelo que foi o ponto de encontro.

Foto 2> O então Capitão na altura da Campanha, Luís Riquito, fez, como habitualmente, uma prelecção aludindo aos nobres valores do querido e saudoso amigo Tiago Manso junto à sua sepultura, e falecido em combate na Guiné (zona de Iracunda-região do OIO no ano de 1966.)

Foto 3> Lápides no Mausoléu aonde se encontram os restos mortais do Tiago Manso.

Foto 4> A mesa dos Oficiais no almoço de Confraternização: da esq.: O ex-Alferes Castro; o ex-Alferes Esteves; O então Capitão Luís Riquito (hoje Coronel na reforma) e o ex-Alferes Costa.

Foto 5> O partir do tradicional bolo (o emblema da Companhia). Uma neta do Organizador do evento, o nosso querido amigo de luta o Armando Barrumas, ajuda o capitão Riquito à divisão do bolo. Ao lado o ex-Alferes Costa sempre com o seu sentido de bom-humor presente

Foto 6> O organizador do evento deste ano: O Armando "Barrumas" que com brio e empenho e com a ajuda das suas querida filhas tornaram o evento muito completo e impecável.

Guiné 63/74 - P3030: In Memoriam (6): General Hélio Felgas (Torcato Mendonça)

Mensagem do Torcato Mendonça, de 25 de Junho



Luís Graça e Editores,

Ontem quando li a notícia fiquei triste. Aos poucos – costuma dizer-se: da lei da Morte ou da Vida se vão libertando... Prefiro dizer: faleceram.

Neste caso, faleceu o General Hélio Felgas e já tinham falecido o Marechal Spínola, o Coronel Pimental Bastos, o Payne (médico BCaç 2852). Pessoas com as quais convivi, mais ou menos, na minha passagem pela Guiné.

Todos eles me mereceram e continuam a merecer o meu respeito. Nunca diria deles Caco Baldé, Pimbas ou outro "nome" a qualquer. Aceito que outros o usem. É problema que me transcende.

Mas outros militares foram desaparecendo, alguns que comigo ou contigo, Luís - estivemos na mesma zona – não conviveram, caso do Capitão José Neto e a todos, mais certamente aos que de perto com ele privaram, deixou (deixaram) grande saudade. São, queiramos ou não "bocados" de nós, que se vão aos poucos perdendo. É natural, é a lei da vida. Mas é triste, como era lá, meus caros. Todos por isso passamos.

Conheci o General Hélio Felgas. Antes da Lança Afiada, durante esta operação, quando estive em Galomaro, no COP 7, a trabalhar para a CCAÇ 2405, na operação que levou à destruição do acampamento do Mamadu Indjai e à captura do Malan Mané. Tudo davam estórias e mostravam facetas do Homem e Militar que Ele foi. Estás a pensar: Que raio, o tipo está a ficar militarista. Nada disso. Estou é a sentir que aos poucos muitos vão desaparecendo e, muitos ou alguns deles, em vida deviam ter tido melhor tratamento.

Repara, que não falo na cambança do Cheche: porquê? Aponto só dois motivos: o Alf Diniz era do meu curso e conheci-o; ouvi o relato feito por um ou dois militares que lá estiveram (um o Capitão Neto, de Nova Lamego) e aceito o relato dos nossos camaradas da 2405. Nessa data estava em Portugal, em férias. Dava um bom dossiê e não difícil de formar. Até convinha…Como convinha o dossier Lança Afiada e o erro da falta de mais apoio aéreo (Leia-se bombardeamentos – da minha responsabilidade – e emprego de forças especiais que, devido á sua mobilidade teriam provocado outro desenlace, ou seja, baixas ao IN).

Permitam-me uma sugestão:

(i) Que se faça uma página no blogue com nome e curta biografia destes Homens;

(ii) Que certas operações, ou casos polémicos, tenham página própria para rápida consulta e estudo. (Certamente seriam melhor completados)!

À vossa consideração

Um abraço,

Torcato Mendonça
Apartado 43,
6230-909 Fundão
__________

Notas:

1. Fixação do texto: vb
2. Artigos relacionados em:

24 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2980: In Memoriam (5): Morreu ontem o Major General Hélio Felgas, antigo comandante do Agrupamento nº 2957, Bafatá (1968/69)

24 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2981: Hélio Felgas, com Spínola, em Bambadinca (Jaime Machado)

25 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † )

25 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2985: Homenagem ao meu professor da Academia Militar, Hélio Felgas (António Costa, Cadete aluno nº 11/650, Curso ART 1964/67)

Guiné 63/74 - P3029: O regresso, finalmente! (Maria da Conceição Vitoriano Maia)

1. No dia 6 de Julho de 2008, recebemos uma mensagem da nossa amiga Maria da Conceição Vitoriano Maia, irmã de António Vitoriano, um dos malogrados Pára-quedistas da CCP 121 que faleceram em combate, em Guidage, no mês de Maio de 1973 (1).



O regresso, finalmente!

Está prestes a chegar ao fim uma angústia que dura há 35 anos.
Ontem dia 4 de Julho aterrou na AT1 o corpo do Lourenço, do Peixoto e do meu irmão António Vitoriano, Soldados Pára-quedistas da CCP121, 35 anos após a sua morte.

Foi com grande honra que participei na missão de resgate em Março deste ano, e foi também com grande orgulho que participei nessa missão com Homens como o Coronel Calheiros, o Major General Borges e o Major General Bernades e mesmo não estando no mato mas sempre presente o General Avelar de Sousa que noutra frente actuava, assim como o Coronel Danif, e todos os membros da CTM de Bissau o meu agradecimento.

Foi com muita dor e pena que não tenham chegado também ontem os corpos dos soldados do Exército que resgatámos em Guidaje, mas a sua identificação está ainda atrasada e teve de se optar por virem alguns à frente, estando ainda em curso o processos de exames laboratoriais do ADN, com vista à sua identificação definitiva.

As urnas com os restos mortais dos três pára-quedistas ficarão depositadas na capela da igreja da Força Aérea até às cerimónias fúnebres aprazadas para o próximo dia 26 deste mês.

Depois da missa, que será celebrada pelo capelão-chefe da Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira, no Mosteiro dos Jerónimos, os três soldados serão transportados num avião militar para o quartel das tropas Pára-quedistas em Tancos onde serão então alvo de uma derradeira homenagem militar sendo depois entregues às famílias para serem finalmente e definitivamente sepultados nos cemitérios das localidades onde residiam, respectivamente em Castro Verde, Caxinas (Vila do Conde) e Cantanhede.

Desde Março deste ano que esperei o momento de ontem, e mesmo quando velhos do restelo surgiram, mantive-me confiante e esperançada que tudo se resolveria.

Não pretendo ter qualquer protagonismo, mas sim quero ajudar familias que como a minha tiveram de esperar 35 anos pelo momento que vivi ontem... compreendo agora melhor as vossas memórias....

Ao vosso blogue tenho de vos agradecer por através dele ter percebido aquilo porque que passaram e sofreram e mais fácilmente ter podido preparar-me para a missão de que me orgulho ter participado, a vocês o meu muito obrigado e sim a blogoterapia funciona.

A todos o meu muito obrigado
Maria da Conceição Vitoriano Maia


A Antropóloga Forense, Eugénia Cunha, Professora da Universidade de Coimbra, que chefiou o grupo que exumou os restos mortais dos militares

No dia 26 de Março de 2008 podia ler-se no Jornal Campeão das Províncias Online o seguinte artigo, assinado por CP:

Figura da Semana: Eugénia Cunha

A antropóloga forense Eugénia Cunha, investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, liderou com êxito a missão técnica que no passado dia 18 exumou os restos mortais de dez militares portugueses enterrados há 35 anos em Guidaje, Guiné-Bissau. Financiada pela Liga dos Combatentes de Portugal no âmbito do programa “Conservação de Memórias”, a operação de duas semanas de trabalho culminou com a exumação dos restos dos combatentes tombados na sequência de violentos confrontos.
Segundo dados oficiais, estão sepultados mais de 700 militares portugueses na Guiné-Bissau, sendo que a operação de Guidaje é a primeira de uma série de acções de recolha e identificação de restos mortais de antigos combatentes. O objectivo da operação, que conta com o apoio do Ministério da Defesa, da UC e do Instituto Nacional de Medicina Legal, é sepultar com dignidade os soldados falecidos durante a Guerra Colonial.
Dentro de um mês deverão ser conhecidos os primeiros resultados laboratoriais, referentes à análise antropológica. Já a identificação das ossadas, que obriga a análises genéticas, é um procedimento mais demorado. Os cadáveres exumados deverão, depois, ser sepultados no cemitério de Bissau.

_______________

Notas de CV:

(1) Vd. alguns dos postes relacionados com este apaixonante tema de:

30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes)

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1468: Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes)

2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1488: Vídeos (1): Reportagem da RTP sobre os talhões e cemitérios militares no Ultramar (Jorge Santos)

1 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2600: Os Mortos de Guidaje nas Notícias Lusófonas. Rui Fernandes.

21 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2670: Fez-se História em Guileje (Nelson Herbert)

22 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2672: De Guidaje para Bissau, trinta e cinco anos depois (Diário de Coimbra / Carlos Marques dos Santos)

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2687: Cemitério militar de Bissau: homenageando os nossos 350 soldados, uma parte dos quais desconhecidos (Nuno Rubim)

20 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2781: Televisão: Hoje, na SIC, às 21h: Grande Reportagem: Ninguém Fica para Trás: O regresso a Guidaje, Maio de 1973

Guiné 63/74 - P3028: Eu, o Jorge Cabral, o António Graça de Abreu e... o Levezinho, no velho/novo Maxime, com os Melech Mechaya (Luís Graça)

Lisboa > Maxime > 5 de Julho de 2008 > Concerto dos Melech Mechaya > Aspecto do palco e de parte da assistência, calculada em cerca de 300 centenas. Foi um noite de grande festa. Os Melech Mechaya tocaram e encantaram, era a opinião (unânime) dos espectadores de todas as idades e condições.

Lisboa > Maxime > 5 de Julho de 2008 > Um aspecto geral da mítica sala do Maxime, agora sob a direcção artística de Manuel João Vieira, ex-vocalista dos Ena Pá 2000 e Irmãos Catita...

Lisboa > Maxime > 5 de Julho de 2008 > Concerto dos Melech Mechaya > A geração pós-colonial: o Nuno Levezinho, com a esposa, Cidália, e a amiga comum Marisa Jamaica (ao centro).

O Nuno Levezinho, filho do meu grande amigo e camarada Tony Levezinho, ex-Fur Mil da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), fez questão de me dizer que estava ali em representação do pai, e que o fazia com muito gosto e prazer.

O Nuno (que é a cara chapada do pai e que eu já não via há uns largos anos, e que é um gentleman como o pai) disse-me que aproveitava também para conhecer o velho/novo Maxime. E, para mais, adorava este tipo de música [, klezmer]. Na foto, acima, com a esposa, à esquerda ("a minha querida Cid"). Entre o casal, uma amiga comum, a Marisa Jamaica.


Na foto, à esquerda, o nosso Tony Levezinho, que vive hoje no seu pacato retiro, em Sagres, no Algarve, sempre à espera dos Amigos & Camaradas. António Eugénio da Silva Levezinho, o nosso Tony, o melhor de todos nós... Era/é um homem afável, amigo do seu amigo e, além disso, optimista por natureza: imaginem que se decidiu casar, com a Isabel, em 1970, a meio da comissão, aproveitando as suas férias na metrópole... Não sei se fez seguro de vida...


O Nuno mandou-me, entretanto, o seguinte mail, com as impressões do espectáculo:

"Olá, Luís. Obrigado pelo serão maravilhoso que nos proporcionaste. Foi muito giro rever amigos e memórias da minha infância, pena não ter podido cumprimentar e congratular o João. Os Melech arrasaram, trouxemos um CD, que vou mandar para o meu papá. Da próxima vamos mesmo querer autógrafos. Partilho, convosco, os vídeos que captei com o telemóvel:
http://www.steekr.com/n/50-2/share/LNK76184870aa21ebf3e/

A nossa amiga Marisa publicou também, no blogue dela, um post sobre o concerto: Butterflies & Elfs > Sunday, July 06, 2008 > Amanhecer com os Melech Mechaya

Abraço
Nuno Levezinho



Lisboa >Maxime > 5 de Julho de 2008 > Dois tertulianos que partilharam comigo o espectáculo dos Melech Mechaya, o António Graça de Abreu e o Jorge Cabral. O António também tem um filho, de 15 anos, que já toca numa banda... O filho do Jorge que é jurista, assessor no Ministério da Justiça (se não me engano), e que esteve recentemente em missão oficial na Guiné-Bissau, nos seus tempos de adolescência, também teve a sua banda... É seguramente uma geração, a dos nossos filhos, mais festiva (ou com mais queda para a música) do que a nossa, que nem sequer teve direito a adolescência...

Lisboa > Maxime > 5 de Julho de 2008 > Concerto dos Melech Mechaya > O Jorge Cabral e o Luís Graça que vieram matar saudades do velho Maxime dos primeiros anos da década de 70) e o António Graça de Abreu, que é nortenho, natural do Porto, e que fez questão de vir de Cascais assistir ao concerto dos Melech Mechaya...

A reunião da tertúlia fez-se cá fora, já que lá dentro os décibéis não permitiam grandes conversas bloguísticas... Com o Nuno, em representação do pai, Tony, pode dizer-se que a nossa minitertúlia teve um número mínimo, se não em quantidade (n=4), pelo menos em qualidade, para se reunir... Como não havia deliberações a tomar, ninguém irá questionar a legitimidade da reunião... Mesmo em sítio impróprio (ou menos próprio), dirão alguns, mais puritanos...

À última hora, os reforços que eram esperados de Matosinhos (A. Marques Lopes, António Pimentel e João Rocha) falharam... Não é caso para dramatizar e criar agora uma nova expressão: por analogia com os Amigos de Peniche, chamar-lhes Amigos de Matosinhos... Eu próprio fiz questão de, sabia e amigavelmente, os dispensar: a camaradagem não é para se usar e abusar... Temos que poupar munições e... combustível para as muitas outras batalhas que se avizinham...

Uns dias antes, a 2 de Julho, o A. Marques Lopes mandaram-me um mail telegráfico: "Luís: Não podia ser se eu não estaria no Maxime!!... Morei na Calçada da Patriarcal (onde moraram o meu pai e minha mãe, que já morreram...), acima das Escadinhas da Mãe d'Água, antes do Píncipe Real. Recordações... antes de ir para a guerra, lá, houve um gajo que me disse 'coitado, pega lá esta cautela'. E a cautela deu-me 2500$00. Era dinheiro na altura... Eu e o Pimentel vamos lá estar. Talvez o Rocha também. Abraço. A. Marques Lopes"...

O Pimentel no próprio dia veio dizer-me: "É uma pena, mas desta vez não deu. Não faltarão oportunidades. Por aí vai correr tudo bem , estou certo. Um abraço a todos"...

Fiz questão de responder aos nossos amigos da minitertúlia de Matosinhos (mini, é favor, que eles já são a maior ou um das maiores tertúlias de ex-combatentes da Guiné, com mesa maracad topdas as quartas feiras, ao almoço, na Casa Teresa): "António: Aprecio o teu gesto, na mesma. É tarde (23h) e longe (Lisboa). Haveremos de um dia reservar o Maxime só para nós... Eles fazem festas... privadas... E não deve ser muito caro... Era um ícone da noite no nosso tempo... Ainda agora o Jorge Cabral acaba de evocar estes tempos em que chegávamos aqui, a Lisboa, com um sentimento de orfandade e ao mesmo tempo uma experiência fantástica de camaradagem e fraternidade (2)... Um abraço para ti e toda a malta da minitertúlia de Matosinhos, e em especial para o Pimentel e o Rocha. Luís

"PS - Não tenho o mail do João Rocha"...


Muitos outros camaradas mostraram o seu interesse em aparecer mas, por razões de agenda, não lhes seria possível estar, sábado à noite, dia 5, às 23h, no Maxime, com muita pena deles... A todos eles, o meu grande Alfa Bravo (abraço). Cito de cor alguns deles, aqui ainda não referidos: Fernando Chapouto, Valentim Oliveira, Hélder Sousa, Luís Moreira... É também para eles que aqui deixo uma pequena amostra, em fotografia e vídeo, da nossa festa (que foi sobretudo da malta nova, mas também de alguns cotas como nós)...





Lisboa > Maxime > 5 de Julho de 2008 > Um dos temas do concerto dos Melech Mechaya... Tocado ao vivo...

Vídeo (3' 34''): ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojado em: You Tube >Nhabijoes


Maxime: Não vem (mas devia vir) como entrada no Dicionário de História de Lisboa ( ed., lit. Francisco Santana e Eduardo Sucena, Lisboa, Carlos Quintas & Associados – Consultores Lda, 1994, 992 pp.). É uma instituição. Da cidade. De Lisboa. Uma instituição alfacinha. Não se poderá fazer a história da cidade e da vida nocturna da cidade sem uma referência (central) ao Maxime. Royal Maxime. O Sempre em Festa. Foi em tempos o Cabaré Português, por excelência. E de luxo. Só as carteiras grossas da elite económica, social e política do Estado Novo, mas também novos ricos do volfrâmio, os espiões alemães e ingleses, etc., lá podiam entrar...

E mais: não se poderá fazer a história da guerra colonial, ou pelo menos a sua petite histoire, sem uma referência ao velho Maxime, já da decadência, ao bar de alterne, ao uísque marado, aos espectáculos de strip-tease, ao proxenetismo, à prostituição, à noite triste dos anos terminais do Estado Novo…

Com quase 70 anos, foi em pleno Estado Novo, em plena segunda mundial e até ao final dos anos 50, o mais famoso cabaré português, Royal Maxime, intimamente ligado ao Parque Mayer. Era um cabaré de luxo, por onde passaram artistas de renome, nacional e internacional.

Sei pouco da sua história, fui cliente ocasional, como muitos outros camaradas que naufragavam em Lisboa, vindos da Guiné, despejados pelos Niassa e os Uíge e, mais tarde, pelos TAM… Ainda o frequentei por alguns tempos, enquanto durou a garrafa de uísque marado que lá cheguei a ter, a seguir ao meu regresso da Guiné, em Março de 1971. Sei que paguei os olhos da cara, o equivalente a uma entrada sazonal… Foi um primo do Tony que me guiou na noite de Lisboa... Um guia de 1ª classe... Mas o ambiente cedo me deprimiu, e nunca lá mais voltei (ao Maxime). Creio que foi nessa época que lhe veio a má fama, e a triste alcunha de “cabaré das putas” mas também de “sempre em festa”…

Recordo-me de ter passado, na Praça da Alegria, mais tarde, em 1973, com umas amigas francesas e fui deparar com um proxeneta da minha terra, que tinha sido alferes miliciano nos comandos em Angola:
- Tu, aqui ?! – disparámos, ao mesmo tempo um para o outro.

E olhando para as minhas amigas francesas, soixante-huitardes, reprovou-me a escolha do lugar, com ar de entendido na noite de Lisboa, a da má vida:
- Não, não é lugar para turistas…

Não sei que lhe aconteceu, ao velho Maxime, depois do 25 de Abril… Mais recentemente Manuel João Vieira, ex-vocalista dos Ena Pá 2000 e Irmãos Catita, tomou conta da casa e, como alguém já escreveu, devolveu a alegria à Praça da Alegria.

Lisboa > Maxime > 5 de Julho de 2008 > Concerto dos Melech Mechaya e lançamento oficial do seu primeiro EP. O João, violinista da banda e finalista do curso de violino da Escola de Música do Conservatório Nacional, com o seu professor de violino, José Sá Machado. O João ficou muito sensibilizado e emocionado com o gesto do seu professor, que o tem acompanha do desde o 1º ao 8º ano do Curso de Violino.

Na pessoa do Prof José Sá Machado faço também aqui uma homenagem à
Escola de Música do Conservatório Nacioanal e ao seu histórico (e insubstituível) papel na democratização do ensino especializado da música. Esta escola (pública, cuja origem remonta a 1834) esteve em sérios riscos de desaparecer, com a reforma proposta pelo actual Ministério da Educação, ao tentar extinguir o ensino especializado da música no 1º ciclo bem como o regime de frequência supletivo. As escolas públicas de música (vulgo Conservatórios) ficaram assim impedidas de dar aulas ao 1º ciclo (os chamados cursos de iniciação). Por seu turno, os jovens que querem seguir outros cursos que não a música, ficariam impedidos de ter também uma boa formação musical. Como é o caso do João, hoje finalista do Curso de Medicina, a par do Curso de Violino, e que quer ser médico, e não violionista profissional.

Já foram recolhidas cerca de 20 mil assinaturas contra este despacho ministerial aavés de uma petição em linha ("on line"), de alunos, professores, encarregados de educação e amigos dos Conservatórios, contra o anunciado fim do ensino especializado da música em Portugal.

Os membros do Melech Mechaya conheceram-se no ou através do Conservatório. Esta, como muitas outras bandas, não seria possível sem o ensino público especializado da música.


Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.



Voltei lá onte, dia 5, para assitir ao espectáculo dos Melech Mechaya, banda de que faz parte o meu filho João, finalista de medicina, e que toca violino… O concerto pretendia também assinalar o lançamento oficial do seu primeiro EP.

O último espectáculo do grupo a que eu assistira fora no Porto, na Contagiarte, em Dezembro passado, se não me engano. Gosto do grupo, independentemente das minhas afinidades afectivas: é um grupo de jovens músicos, amadores, com a formação musical do Conservatório, que está como peixe dentro de água, nos espectáculos ao vivo, já que consegue contagiar o público com a sua alegria, o seu ritmo, a sua criatividade e a sua capacidade de improvisação....

No blogue da produtora de espectáculos Smog, pode ler-se o seguinte sobre os Melech Mechaya:

"Que se saiba nenhum dos almadenses Melech Mechaya (*) é judeu, mas isso também não interessa nada (não é preciso ser jamaicano para fazer reggae ou de Liverpool para se fazer música influenciada pelos Beatles): a verdade é que o grupo toca klezmer e que o toca muitíssimo bem!! Eles ao vivo são uma maravilha e neste EP de estreia, com cinco temas, está apenas uma amostra daquilo que eles são: festivos, inventivos, dançantes, por vezes doidos varridos, a irem à música dos judeus do centro e norte europeu como se esta fosse a coisa mais natural para quem vive na margem sul do Tejo.

"Em três temas originais do grupo - Noite Tribal, Zemerl Biffs e Fresta Fresca - e duas versões - Bulgar de Odessa (Ucrânia) e Miserlou (o tema grego que Dick Dale popularizou) -, o quinteto passa pelo klezmer e por alusões a outras músicas suas irmãs, da música árabe à música cigana dos Balcãs, com uma facilidade e uma alegria contagiantes. Não é tão bom ouvir o EP quanto é vê-los ao vivo, mas já é uma aproximação" (...).

_________

(*) Há um pequena imprecisão: A Banda ensaia em Almada, mas nem todos os membros da Banda são originários de (ou residentes em) na Outra Banda (margem sul ou esquerda do Rio Tejo, que inclui os concelhos de Almada, Seixal, Barreiro, Moita, Montijo e Alcochete): O João Graça, por exemplo, mora em Alfragide, Amadora. Ainda com os pais... Para saber mais sobre os Melech Mechaya, clicar aqui. (LG)

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Notas de L.G.:

1) Vd. poste de 30 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P3005: Minitertúlia de Lisboa, sábado, 5 de Julho, às 23h, no Cabaret Maxime (1) (L. Graça / H. Reis / Pepito /T. Mendonça / J. Machado)

(2) Vd. poste de 5 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3025: Os nossos regressos (7): Perdido, com um sentimento de orfandade, pelos Ritz Club, Fontória, Maxime, Nina... (Jorge Cabral)

domingo, 6 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3027: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (37): Com baixa psiquiátrica, no Hospital Militar de Bissau

"Encontrei esta fotografia num Boletim Cultural da Guiné Portuguesa de 1972. Lembrei-me logo dos meninos de Missirá educados por Lânsana Soncó,lembrei-me das tábuas com os versículos do Corão que se podiam comprar ao pé de Fá Mandinga.Em Missirá e Finete tínhamos acordado que estas aulas eram complementares às do professor da primária,foi assim que os meninos tinham uma boa parte do dia preenchido"(BS).


"Os caramôs eram muito influentes no chão fula havia escolas onde se reuniam e preparavam,caso da região de Contuboel e Sonaco.Gosto muito de fotografias em estúdio, libertam a majestade do visado,a objectiva não esconde a artificialidade da atmosfera dos cenários,faz avultar o personagem, dá-lhe o corpo inteiro.Continuo a não encontrar relatos sobre as relações entre o PAIGC e as autoridades religiosas durante a guerra.Ora, eram os caramôs quem mais viajava entre a Guiné e as escolas do Senegal e Conakry...à atenção dos histotiadores" (BS).



"O que mais surpreende quando vejo bailado moderno é a herança das encenações africanas e asíáticas.No caso dos mandingas, tudo começa com uma relativa lentidão, como que para aclimatar o espectador, que participa directamente, aplaudindo e intervindo no coro.Depois,a roupagem enche o olho,toma conta dos sentidos,quando a batucada entra no frenesim, dá-se a fusão como no espectáculo total" (BS).

Fotos (e legendas): © Beja Santos (2008). Direitos reservados.



Texto do Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1), enviado em 26 de Março de 2008 (Texto revisto):


Luís, Espero que tenhas vindo retemperado das férias pascalianas. Vou descansar entre sábado e 10 de Abril, antes porém pretendo fazer o segundo e último episódio na neuropsiquitria em Bissau. Depois vou distanciar-me, os últimos meses em Bambadinca não foram fáceis, sou um militar dividido, irremediavelmente dividido pelos sonhos em retomar uma nova convivência familiar e os estudos, e o sentido do dever em prol dos meus soldados, que eu tanto apreciava. Um desconforto que virá comigo até Lisboa. Já aí tens algumas imagens do HM 241, vou enviar os livros do Baptista-Bastos e do Raymond Chandler. Recebe o abraço do Mário.



Operação Macaréu à vista > Episódio XXXVII > NA NEUROPSIQUIATRIA DO HM 241
por Beja Santos (1)



(i) Arrumações no caderninho viajante, alguma correspondência


Enquanto a Cristina estuda e lê nos lugares mais frescos nas horas acaloradas, procuro pôr alguma ordem nas notas amontoadas, quer pelas leituras dos livros emprestados por D. Violete quer pelas citações retiradas das leituras feitas no Centro de Estudos da Guiné Portuguesa.

O caderninho viajante vai engordando, já penso em comprar outro, este está como se fosse uma lista telefónica das mais repolhudas, escrevo a definição de caramô, mais adiante refiro a obra “Contos do caramô, lendas e fábulas mandingas da Guiné Portuguesa”, de Viriato Augusto Tadeu, Agência Geral das Colónias, de 1945.

Tomo igualmente nota do seguinte: “Os caramôs, os agentes religiosos, vinham da Gâmbia e do Casamansa. Os do Futa Jalon só intervieram com maior constância depois da conquista do Gabu, em 1874. Os caramôs instalaram-se em Jabicunda (regulado de Gussará) e em Bijine (regulado de Badora)”. Numa nota ao lado, escrevo: perguntar o que é Chapa Bissau, quais os bairros do Cupelom, o que é o Bandim Alto.

Depois continuo, registando alguns apontamentos extraídos de um texto assinado por Aleixo Justiniano Sócrates da Costa, facultativo do ultramar, publicado em 1885 no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, assim: “São majestosos os temporais na Guiné. São medonhas aquelas convulsões da natureza, que, ali, grande em tudo, até nos horrores da tempestade, patenteia o seu imenso vigor e se expande em toda a sua altiva e orgulhosa beleza… Nuvens de densa negrura, ou de cor acobreada, reverberando baços e fulvos clarões, vão-se acastelando entre N e SE, correndo em direcção contínua ao vento que sibila o horrísono. Súbito, medonho ribombo anuncia que o trovão rompe a batalha. É o clarim da tempestade. Para logo os relâmpagos sulcarem ininterruptos a tenebrosa densidade do caos, e o eco medonho dos trovões, percutindo o espaço um após outro, abala a natureza inteira em tremenda convulsão”.
Guardei estas notas pela sua pujança romântica e pelo cromatismo sonoro da descrição. E o Dr. Sócrates da Costa surpreendeu-me também nas suas conclusões do que viu e viveu na Guiné: “Bem aproveitada, a Guiné pode tornar-se para nós um segundo Brasil: porque em nenhuma parte temos tanta facilidade de nos estendermos em território e domínio como ali. A Guiné é a chave de oiro que nos abre as portas do continente africano”.

O Dr. Sócrates da Costa, convém reconhecer, não tinha ilusões sobre o clima brutal da região e apelava para que o estabelecimento de colónias penitenciárias fosse transferido para a África Oriental, já que Cabo Verde e Guiné eram reconhecidamente insalubres para acolherem degradados, uma grande parte da sua população.

Do Dr. Sócrates da Costa passei para o registo de korá, que ouvira em Bambadinca, lembrava-me uma harpa eólica pela melodia obtida, e então escrevi o que retirara de uma monografia de António Carreira: “Instrumento com caixa de ressonância constituída por metade de um cabaço grande, coberto de pele de cabra, bem seca e esticada. Uma haste encaixada no cabaço, serve de braço. Ao longo dele estendem-se cordas de nylon que são alteadas por um cavalete de madeira, colocado na caixa de ressonância. Com korás, os jograis mandingas executam números de música de alto valor compositivo - música melodiosa, bonita e habilmente tocada”. Acrescento uma outra nota ao lado da página : “Perguntar ao comandante Teixeira da Mota onde ficava a Sociedade Agrícola do Gambiel. Apurar se o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa possui os Anais do Club Militar Naval referentes a 1909”.

Leio e respondo depois ao Pires, enviara-me um aerograma com data de 23 de Abril. A notícia mais importante era de que a partir do passado dia 15 fora suspensa toda actividade operacional de natureza ofensiva na Guiné, o comando em Bambadinca, em alternativa, ordenara patrulhas de contacto junto das tabancas do sector, o Pel Caç Nat 52, bem como a CCaç 12, desdobrava-se pelas tabancas em autodefesa, sobretudo em Badora, Joladu e Xime.

O Pires não sabia o que é que se estava a passar com o termo dos patrulhamentos ofensivos, falava-me de dias passados em Demba Taco, Amedalai, Sansacuta ou Bricama. A seguir, e sem nenhuma explicação por parte dos nossos comandos, a guerra recomeçara e intensificara-se não com grandes flagelações ou emboscadas mortíferas, mas com minas e roubos junto das populações.

A outra notícia prendia-se com a previsível partida de alguns dos nossos soldados e a chegada de outros. Era assim a rotina: umas vezes havia emboscada na missão do sono do Bambadincazinho, outras vezes eram as patrulhas nos Nhabijões ou em Samba Silate. O Pires referia ser igualmente previsível a partida das companhias sediadas no sector L1, havia a informação da chegada de um novo batalhão lá para finais de Maio.

Na resposta, informei-o que dentro de dias iria para o hospital, coisa de pouca monta, esperava regressar a Bambadinca em meados de Maio, tinha assumido o compromisso de dar aulas aos soldados básicos da CCS, interrogava-me agora se teria sentido tal tarefa com a tropa em vias de partir. Falei-lhe das cerimónias do meu casamento e do batuque organizado por Cherno.

Noutra correspondência, informei o comandante Teixeira da Mota de que se falava de um revés político muito grande com o massacre de vários oficiais na região de Canchungo. Dava-lhe igualmente a informação do que se estava a passar no sector de Bambadinca, encontrara oficiais de Bafatá e Nova Lamego que referiam o recrudescimento da guerra em todo o Leste, o PAIGC estava dotado de moderno equipamento, controlava cada vez mais território, nós víamos em Bambadinca que o PAIGC não se atemorizava com os patrulhamentos que fazíamos no Geba. Aliás, estavam intensificados os ataques às embarcações em Ponta Varela, procurava-se minar o moral dos transportadores que se afoitavam no Geba estreito. Escrevi igualmente à minha Mãe e a Ruy Cinatti, mas a ambos omiti que iria ser internado na neuropsiquiatria, muito em breve.

(ii) A consulta e o internamento


Era um médico afável, tinha uma voz tranquila e um olhar meigo. Leu atentamente o diagnóstico do David Payne, para o fim tinha o sobrolho carregado, explicou-me que com base naquela informação eu dava sinais de um grande desgaste, que o quadro de insónias podia descambar numa desordem grave, à cautela seria internado durante uns tempos, com os tranquilizantes ou ansiolíticos em breve poderia voltar retemperado para a guerra. “Não se apoquente, é compreensível que com a enorme pressão com que tem vivido dê sinais de depressão e nervosismo. Vai repousar muito, procure não dar atenção às doenças dos outros. Entra amanhã de manhã na enfermaria, dentro de três, quatro dias voltaremos a conversar”.

Mesmo ciente da situação, a Cristina não escondeu que se sentia penalizada, achava um preço demasiado alto para este casamento. Prometeu ir visitar-me regularmente, confiava que o prazo de uma semana iria ser cumprido. E começou a falar no seu regresso, nos exames, na procura de casa, na nova vida que nos aguardava. Estava triste mas confiante.

Apresentei-me no HM 241, deram-me um pijama e alguém conduziu-me até ao primeiro cabo Morais, certamente o zelador daquele serviço. Dias mais tarde, dir-me-á à queima-roupa: “Sou maqueiro por acidente, do que gosto de fazer é proteger algumas meninas coristas do Parque Mayer”. Logo me apercebi que tinha mudado de universo, ali a hierarquia tinha outro significado, o primeiro cabo Morais cuidava de gente muito frágil, falava sem hesitações, com voz sacudida, para que percebêssemos onde estava o poder, ali quem obedecia eram os doentes, gente com horas para levantar e deitar, tomar a pica no rabo, engolir comprimidos, deambular nas proximidades, tomar banho, almoçar, voltar aos comprimidos, ter uma hora para visitar os outros doentes, receber visitas, deitar ou escrever, jantar, ingurgitar mais comprimidos, a noite e o sono anunciam-se por uma luz de azul fosco.

Entrámos numa enfermaria de três camas, foi colocado na do meio e apresentado aos meus dois colegas, o capitão Oliveira, oficial de informações, e o furriel Alves, com a especialidade de sapador. Vale talvez a pena introduzir a atmosfera em que os três perturbados iriam viver.

O capitão Oliveira era licenciado em Filologia Germânica, professor algures no Norte, entre o Porto e o Minho, homem de gestos calmos, voz igualmente branda, com grande sentido da resignação, manifestamente culto. Feitas as apresentações, equacionámos os nossos padecimentos. O que levara o capitão Oliveira até ali? Vou tentar reconstituir a sua argumentação: “Oiça, eu creio que há aqui uma tramóia muito grande. Nada justifica este internamento, tal como foi feito até é vexatório, parece que eu sou maluco, não sei lá muito bem como é que vou ser olhado quando regressar à minha unidade, onde toda a gente me respeita. Um dia pedi uma evacuação Y, veio um helicóptero, asseguro-lhe que usei dos bons modos, atravessei a pista, vinha a guiar um jeep, entreguei um aerograma para pôr no correio em Bissau, sou filho único, às vezes esqueço-me de escrever ao fim do dia, a minha mãe é diabética e tem tensão elevada, não lhe quero provocar mais sofrimento. Você não pode imaginar o charivari que esta minha atitude provocou. O tenente aviador parecia possesso, exigiu falar ao comandante, chamou-me doido, nunca tinha visto uma coisa assim, como se um filho único não tivesse direito a uma fraqueza e quisesse que a sua santa mãe recebesse notícias a tempo e horas. O comandante parecia uma besta, gritava comigo e exigiu que eu fosse ao médico.

Disseram-me dias depois que desta vez o escândalo seria abafado, o médico, um gajo simpático, pediu-me mais autocontrolo, respondi-lhe que me sentia bem, em consciência voltaria a fazer o que tinha feito, como acabei por fazer. Para você ver o que é que a puta da guerra faz às pessoas, talvez uns quinze dias depois esqueci-me de novo de escrever à minha santa mãe, repeti a evacuação Y e expliquei que para além do aerograma eu precisava de mudar de ares, trabalhava a um ritmo vertiginoso, toda a gente me pedia papéis, eram relatórios de situação, eram documentos sobre a evolução da guerrilha, a preparação de operações, tudo caía sobre mim. Ainda hoje estou para entender a desumanidade deste internamento, só porque pedi duas evacuações Y porque tenho dificuldades emocionais e sou filho de uma mulher completamente só”.

Eu não sabia o que é que havia de responder ao capitão Oliveira, sentia agora que tinha entrado numa esfera mental diferente, não me passava pela cabeça que fosse possível pedir uma evacuação Y para mandar um aerograma, ainda por cima a história era repetida, dava largas à imaginação sobre o tipo de distúrbio que sofria o capitão Oliveira. E depois daquelas duas evacuações Y entendi que não devia agravar o irracional que submergia naquela enfermaria falando no expediente a que recorreram um médico e um comandante de batalhão para eu poder ter vindo a Bissau casar-me.

Voltando-me para o furriel Alves à espera de uma narrativa menos acabrunhante, fiquei a saber que há explosões que não deformam o corpo mas corroem o espírito. Lá para os lados de Farim, o furriel Alves recebeu a incumbência de desactivar umas granadas de morteiro, falou-me também de um fornilho, desceu da viatura e na picada accionou um sistema de várias minas anti-pessoais. Sentiu que tinha subido às nuvens, aterrou chamuscado, apalpou-se e o milagre estava à vista: nem um dedo ficara fracturado, é verdade que a partir daí entrara numa agitação, nada o repousava, a ânsia de falar era enorme.

Estava ele a contar-me todas estas manifestações quando o capitão Oliveira interrompeu à bruta: “Porra, oh Alves! Cale-se uns momentos, você fala pelos cotovelos, essas minas que você pisou entraram-lhe em qualquer ponto da cabeça, você fala sem descanso, está insuportável, não percebo que medicamentos é que lhe dão, cada dia está mais agitado, você é chato, endoideceu e quer endoidecer os outros”. Pareceu-me que o capitão tinha alguma razão. Eu já tinha vestido o pijama, o Alves falava-me com a cara em cima da minha, deu-me um encontrão no ombro, penso que ele queria fazer-me entrar na sua realidade para que eu compreendesse o seu corpo em turbilhão: “Olhe, alferes, a todo o momento seguro os meus dedos, procuro um espelho para ver se está tudo no sítio, obedeço ao médico, tomo os medicamentos todos, não percebo para quê, não paro de falar, não consigo dormir, o dia é todo igual, estou sempre desperto, não me sai da cabeça aquela explosão, já não sei se desmaiei ou se vivi um sonho, estou muito contente de não ter perdido nada, mas o que estou a viver agora lembra-me o que ouvia dizer as velhas lá da minha aldeia, parece que tenho o diabo no corpo, quero constantemente falar, quero companhia, tenho raiva a quem fecha os olhos depois de tomar os comprimidos. E quando esse cabo convencido que é um doutor, que não passa de um sacanão, entra aqui aos berros para dar a injecção no rabo só me apetece estrangulá-lo”.

Pela primeira vez na vida arrependi-me de ter vindo casar a Bissau sem ter previsto que me ia meter num internamento tão estranho, sabia o que era a insónia, a ansiedade, o abatimento, sentira os efeitos do Vesperax quando viera em Janeiro tratar-me em Bissau, tivera a alegria de um dia, em casa dos Payne, ter acordado com a sensação de que houvera uma grande vitória. Agora sentia-me afundado, incapaz de cooperar com dois seres mergulhados num pesadelo, com a mente obscura, e, como iria ver mais adiante, os dois em conflito e prontos para se atacarem. Não está longe o dia em que o Alves agrida o Oliveira com uma cadeira de plástico e o Oliveira ameace o Alves com uma faca romba.

Entrou o 1º cabo Morais e restabeleceu a ordem, tonitruante. Tomei a primeira injecção, mais comprimidos de Tryptizol 25, afundei-me na almofada, ainda vi chegar uma lavadeira que trazia roupa do capitão Oliveira, este sorriu-lhe e pediu com voz ciciante que tirasse a blusa pois queria massajar-lhe os seios. Adormeci com o Alves a imprecar, chamando-lhe obsceno e falso doente.

Vou acordar trôpego e vagante, demorei tempo a perceber onde estou mas bastou nova gritaria entre o Oliveira e o Alves para tudo ficar esclarecido. O pior veio depois, quando fomos para um pequeno refeitório onde comi o primeiro frango cozido, intragável, com couves e batatas, também intragáveis. Para minha surpresa, os meus colegas de quarto acalmaram-se e consegui ler. O primeiro cabo Morais entrou a meio da tarde para informar: “Amanhã vêm primeiro as senhoras do Movimento Nacional Feminino, uma hora depois as senhoras da Cruz Vermelha. Os três vão estar deitados, com o lençol para cima, as mãos fora da cama, bem esticadas. Livrem-se de atacar as senhoras!”.

O primeiro dia na neuropsiquitria do HM 241 prosseguiu com a hora da visita aos doentes, noutras enfermarias, noutros andares. Aprendi que os doentes se comparam, se perderam uma perna deploram aqueles que perderam duas, o mesmo se dirá de uma mão ou um olho. Durante uma hora os doentes que podem cirandar vêem chegar os helicópteros com os feridos, lançam interjeições, chegam a lacrimejar quando chegam feridos chamuscados, estropiados. O que estou a aprender é que se comparam perdas e danos, ver os outros a sofrer traz lenitivo para o próprio sofrimento. Outra coisa que aprendo é andarmos à procura de patrícios, gente da proximidade: “Olha, chegou gente que caiu numa emboscada em Binar, Pirada, Buruntuma... Está lá em cima um sargento de Catió que se queimou todo quando fazia fogo com o canhão sem recuo... Vamos ver aqueles dois soldados que vieram do bloco operatório, ficaram estilhaçados, da cabeça aos pés, numa emboscada de rockets, junto do rio, perto de Gadamael...”. Procuro abstrair-me, os comprimidos fazem o seu efeito, durmo profundamente. Vai ser assim durante oito dias completos.


(iii) De Baptista-Bastos a Raymond Chandler


No meio destas andanças, li o primeiro romance de Baptista-Bastos, “O Secreto Adeus”, da colecção Novos Romancistas, da Portugália Editora. Fui aterrar na redacção do conceituado jornal “Notícias da Manhã”, Álvaro Moreira fazia crítica cinematográfica, de onde é afastado por emitir opiniões que desagradam ao proprietário do cinema. É a redacção na sua plenitude, com as pequenas notícias, a necrologia, o desporto, o noticiário internacional, as querelas entre jornalistas conservadores e vanguardistas, a alteração dos costumes que se anuncia no dealbar dos anos 60.

"Eu lia o romance de estreia de Baptista-Bastos e questionava se o livro não tinha sido apreendido à saída da tipografia: uma redacção de jornal onde disputam nacionalistas, liberais, socialistas e comunistas; gente que lê obras impossíveis de encontrar nas livrarias,obras muito «avançadas«;descrição de relações de engate óbvio e fácil; uma redacção onde se entrecruzam todas as dificuldades do regime e da sua censura; obra incómoda e de desencanto,onde desponta,do imobilismo, uma burguesia que se vai revelar determinante na década seguinte, para os destinos de Portugal..Capa de João da Câmara Leme,Colecção Novos Romancistas, Portugália Editora,1963" (BS).


É provável que este romance seja autobiográfico, sabia que Baptista-Bastos era cinéfilo, já tinha lido os seus ensaios sobre cinema, ele é igualmente jornalista, trata-se necessariamente de uma obra arrojada, todos os seus colegas vão sentir-se aqui revistos nos personagens criados para esta redacção de “O Secreto Adeus”. Álvaro Moreira é um jovem que está a perder as ilusões nos ideais, na genuinidade na vida de relação, no que pode dar às mulheres, na mentira política, no jogo do rato e do gato com a censura. É esta a sua força, denunciar e escapar à repressão da censura, é este o secreto adeus ao desencanto de um tempo em que tudo parece imóvel e vamos crescendo.

"Nº135 da Colecção Vampiro,tradução de Ruth Belger, uma capa assombrosa de Lima de Freitas.Finalmente, leio de fio a pavio uma aventura de Philip Marlowe,é mentira que este detective da Califórnia seja brutal,ignaro,pistoleiro da série negra, pelo contrário investiga com elevado sentido prático,sabe ouvir,nunca desvaloriza a real complexidade dos casos,é directo na análise dedutiva.Aqui, trata-se de um desaparecimento que Marlowe descobrirá encobrir um crime que leva a outro.Chandler é um grande mestre,nunca mais irei largar a sua preciosa companhia" (BS).


É a primeira que leio uma obra integral de Raymond Chandler, um escritor do romance policial por acidente, um intelectual que recorreu ao detective Philip Marlowe para descobrir uma receita imaginativa de decifrar o mistério e o crime sem precisão de criar regras complexas para a resolução dos problemas. Escreve bem com regras simples, é uma narrativa na primeira pessoa cheia de economia, com elevado sentido da justiça, sem subserviências.

Desta feita, no romance A Dama do Lago, Marlowe é contratado por Derace Kingsley para desencantar a sua desaparecida esposa, a infiel e imprevisível Crystal, há um mês sem paradeiro. Marlowe contacta um antigo namorado de Crystal, é envolvido fortuitamente noutra história com um vizinho desse namorado, segue para o lago Puma onde vivera o casal Kingsley. Aqui conhece Bill Chess, também ele abandonado pela sua mulher, Muriel. O corpo de Muriel vai aparecer no lago, na autópsia descobre-se que fora assassinada. Contrariando as evidências, Marlowe segue a pista do antigo namorado de Crystal, este também vai aparecer assassinado.

No desfecho final, este detective pragmático e polido revela um criminoso enraivecido que se aproveitara de outro crime, com outros objectivos. “A Dama do Lago” tem muito pouco a ver com o romance policial problema de solução mirabolante, mas, manipula com mestria as grandes linhas de análise detectivesca. Percebo o sucesso de Marlowe e o prestígio de Chandler que escapa aos enredos rebuscados de Ellery Queen ou S.S. Van Dine.

E assim vou passar uma semana na neuropsiquitria do HM 241, aqui recebo as visitas da Cristina, assisto à crescente tensão entre o capitão Oliveira e o furriel Alves. O psiquiatra, sabe-se lá se astuciosamente, dar-me-á alta dizendo que estou recuperado, dos meus desgastes, o perigos tinha passado. O tragicómico de tudo isto é que me sinto mesmo retemperado, sou forçado a interrogar-me sobre as doenças da mente, como o estado de guerra as pode precipitar, como podemos superar a dor mental, enterrar o sofrimento, regressar àquilo a que chamamos normalidade. Um dia, sem nenhuma resposta quanto ao que fui fazer na neuropsiquiatria do HM 241, levo a minha mulher ao aeroporto e parto para a última etapa da guerra.
Última, dolorosa, inesquecível.

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Nota de L.G.


(1) Vd. poste de 27 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2990: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (36): Um memorável batuque, em Bissau, na Mãe de Água, em honra da Cristina

Guiné 63/74 - P3026: Convívios (69): Pessoal do BCAÇ 3832, no dia 31 de Maio de 2008 na Covilhã (Germano Santos/Belarmino Sardinha)

1. Mensagem de Germano Santos de 1 de Julho de 2008

Este nosso almoço realizou-se no passado dia 31 de Maio na Covilhã, no Restaurante do Turismo Rural de Santa Iria, no lugar da Senhora do Carmo.


BCAÇ 3832 (Mansoa, 1971/73) cuja divisa era: Excelente e Valoroso


Foto 1> Chegada do pessoal ao Complexo do Turismo Rural


Foto 2> Entrada no Restaurante, com o ratas o Ex-Capitão Leal e outros


Foto 3> O Feliciano, o Conceição Mendes, etc.


Foto 4> O Abrantes, o Helder e outros


Foto 5> O Formiga, o Zé Manel, o Henrique, o Pratas, o Dionísio, etc.

Fotos e legendas: © Belarmino Sardinha e Germano Santos (2008). Direitos reservados.
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Nota de CV:

Pede-se aos camaradas que queiram ver os Encontros/Convívios das suas Unidades publicados no Blogue, o favor de enviar no máximo 4 a 5 fotos devidamente legendadas e acompanhadas de um texto onde descrevam o evento. Acontecem sempre coisas engraçadas como por exemplo encontrar um camarada que não se via há muitos anos e um sem número de peripécias que dão significado a estes convívios.