segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3470: Os nossos regressos (18): Desenraizados, nas esplanadas das Lisboas deste País...(Alberto Branquinho)

Os "difíceis regressos

uma normalidade a que já não estavam habituados ou como escreve o Alberto Branquinho

De como era difícil estar e falar com "outros" quando regressámos




Que memórias de “nomadizações” nocturnas fizeram saltar o POST 3380 de 30 de OUT do Jorge Félix!
O ambiente que descreve sobre o bar “Tosco” parece retirado de um filme do Fellini. Impressionante e comovente.

Estive no "Tosco" uma ou duas vezes quando estava a fazer o meu “estágio nocturno” em Lisboa depois do regresso em Abril de 1969 e depois de um curto período em Coimbra.

Mas não me lembro de ter visto o ambiente que ele descreve. Devia ter dias ou épocas assim. Acho que se chamava “O Tosco" e as letras que o anunciavam eram, também, toscamente desenhadas.

Mas do que venho falar é das recordações que esse Post me trouxe. Das dezenas de regressados da Guiné que abundavam (a partir da tarde…) pelas esplanadas e cafés da Avenida da Liberdade e do Rossio (“Gelo” incluído). Assim “estagiavam”, tentando voltar a uma vida “normal”, vivendo em quartos alugados ou em pensões rascas, com o pretexto de que estavam a tentar encontrar trabalho ou a estudar. Só em grupo e a falar a mesma linguagem se sentiam bem. Lembro-me de um, que rapidamente conseguiu emprego trabalhando no balcão de um banco, na própria Avenida. Sempre que podia saia e ia ter com a “malta”. Um dia o gerente interpelou-o:
- Onde é que você vai?
- Beber um café
- Se for, não volta mais.
Pois ele saiu e não voltou.

Respondíamos aos anúncios do Diário de Notícias. As mais das vezes era para vender enciclopédias de porta em porta ou para actividades sem sentido, mas os anúncios não as referiam. No endereço indicado eram feitas apresentações enfatuadas por “directores comerciais” engravatados e bem falantes. Abandonávamos a sala arrastando cadeiras e batendo com a porta.
Uns saíam do grupo no final da tarde. Outros ficavam até que a noite acabasse. Nem sempre eram os mesmos. Havia quem estivesse “em estágio” há mais que um ano, mas, ao cabo de mais ou menos meio ano, iam desaparecendo. Entravam novas camadas, que alimentavam os grupos. Não sei como sabiam dos locais ou se, pura e simplesmente, tropeçavam em caras conhecidas ao passar na Avenida.
As tardes passavam-se à volta das “imperiais” com tremoços, nas esplanadas e cafés, no “Pirata” dos Restauradores ou na “Ginjinha” do Rossio, deambulando sempre pelos mesmos espaços, até à chegada da noite. O jantar era numa das muitas tascas das transversais da Avenida ou entre o Rossio e o Terreiro do Paço.

Que noites

As noites seguiam-se arrastadas mais ou menos pelas mesmas zonas, Bairro Alto incluído. (O Bairro Alto actual nada tem a ver com o Bairro Alto desses tempos).
Aqui recordo-me do “Gingão”, mas havia mais e outros próximos da Avenida – p. ex. o “Príncipe Negro”, o “Ritz”e “O Cantinho dos Artistas”, à entrada do Parque Mayer. Já conhecia alguns dos tempos anteriores à Guiné.
Por vezes incluía a zona do Conde de Redondo, que era, então, o principal “trottoir” de Lisboa. Íamos por vezes aos fados, na “Márcia Condessa”.

Um regressado de Catió, protector de mulheres

Discutiam-se as coisas da guerra (não sabíamos falar de outra coisa, excepto, alguns, de futebol), aguentavam-se bebedeiras, havia a compreensão nocturna das mulheres, deambulava-se pelas vielas, por vezes à procura de zaragata. Faziam-se amizades com os guardas-nocturnos.
Pontificava um ex-alferes miliciano, homem de poucas falas, mais antigo na Guiné que todos nós. Tinha comandado um Pelotão de Nativos num quartel a norte de Catió, onde o conheci. Era chamado pelo nome próprio, ao qual juntávamos, como se fosse o apelido, o nome desse quartel. De tão gasto e envelhecido, parecia muito mais velho. Era muito conhecido e, por razões óbvias, não o identifico.

Nos primeiros meses de 1970 voltei a esses espaços. As caras eram já outras e ele lá andava ainda. Percebi, então, que tinha umas raparigas “por conta”, a quem dava protecção e conselho, gerindo o “negócio” à sua maneira.

Era grande a vontade de encontrar almas com a mesma necessidade de falar das coisas da guerra que “os outros” não entendiam ou não tinham paciência para ouvir ou, passado algum tempo, ficavam saturados de ouvir. Mas um homem também se cansa. Nunca mais voltei.

__________


Notas:

1. Alberto Branquinho foi Alf mil da CArt 1689, 1967/69

2. Títulos e sublinhados da inspiração do editor.

3. Artigos da série em


4. E do Autor em

Guiné 63/74 - P3469: In Memoriam (15): Foi hoje a sepultar Mário Ferreira (José Teixeira)

1. Mensagem de hoje, dia 17 de Novembro de 2008, do nosso camarada José Teixeira:

Carlos e camaradas gestores,
junto ligação para o tema Adeus Guiné. Creio que é a melhor forma de homenagearmos o seu autor Mário Ferreira, no dia do seu funeral.

http://www.youtube.com/watch?v=uZz8acVMoKU

Abraço
José Teixeira
_____________

Nota de CV:

Vd. poste de 16 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3460: In Memoriam (13): Mário Ferreira, autor da letra do Adeus, Guiné, morreu ontem, em Guifões, Matosinhos (Albano Costa)

Guiné 63/74 - P3468: Poemário do José Manuel (24): Sabes o que é morrer... ?


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Material de guerra capturado ao IN: uma mina anti carro e uma antipessoal ainda por armar, um morteiro com prato e as respectivas granadas, e duas armas ligeiras nas mãos do Pinheiro"... De óculos escuros, o Fur Mil José Manuel Lopes.

O Pinheiro era 1º cabo de transmissões, um homem por quem o José Manuel nutria muito respeito e admiração pela sua coragem física. Este material foi apanhado ao PAIGC quando um grupo tentava pôr minas na estrada em construção, já para lá de Nhacobá... "Nessa altura já tínhamos um destacamento em Nhacobá"... As minas nem sequer chegaram a ser enterradas. Mas o pessoal de minas e armadilhas contou outra história, a do bandido, no relatório enviado ao comando, já que mina anticarro levantada pelas NT valia mil pesos (uma antipessoal, 500$00)... Nesta estrada em construção (Mampatá, Cumbijã, Nhacobá, Salancaur...) ou nas suas imediações foram montadas centenas de minas, de parte a parte... O pessoal de minas e armadilhas da CART 6250 ganhou rios de dinheiro com minas levantadas... que depois era esbanjado em Bissau, no Pilão... (Inconfidèncias de um "unido de Mampatá").

Fotos, legendas e poema © José Manuel (2008). Direitos reservados.

1. Mais um dos poemas (sobreviventes...) do poemário do josema (*)


Sabes o que é morrer
com a vida por viver?
sabes o que é sentir
toda uma vida a fugir?
ter de cerrar os olhos
para voltar a sorrir?
eu fecho-os
para ver as vinhas e os montes
eu fecho-os
para ver o Douro correr
eu fecho-os
para ver uma mulher
eu fecho-os
para não pensar
nem me lembrar
que também posso morrer.

Mampatá 1973
josema
___________

Notas de L.G.:

(*) Sobre o Poemário do José Manuel, vd. os postes já publicados:

9 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3289: Poemário do José Manuel (23): Naquela mata o silêncio magoa...

23 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3145: Poemário do José Manuel (22): (...) Como os dias passam devagar / Contados a riscar um calendário...

22 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3084: Poemário do José Manuel (21): O recordar dos sentidos: como é bom ver, sentir, ouvir, cheirar, saborear, falar...

9 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3039: Poemário do José Manuel (20): Mãe, se eu não regressar, lembra-te do meu sorriso...

1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3010: Poemário do José Manuel (19): Aqueles assobios por cima das nossas cabeças...

22 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2973: Poemário do José Manuel (18): Não se morre só uma vez...

15 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2946: Poemário do José Manuel (17): A Companhia dos Unidos

2 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2911: Poemário do José Manuel (16): Saudades do Douro e do Marão...

25 de Maio de 2008 >Guiné 63/74 - P2884: Poemário do José Manuel (15): Dois anos e alguns meses

17 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2844: Poemário do José Manuel (13): A matança do porco, o Douro, os amigos de infância, os jogos da bola no largo da igreja...

9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...

2 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata

24 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973

19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2757: Poemário do José Manuel (8): Nhacobá, 1973: Naquela picada havia a morte

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...

5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?

28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...(...)

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!

9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?

3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...


Sobre o nosso camarada José Manuel Lopes, vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

O José Manuel Lopes foi Fur Mil Inf Armas Pesadas, na CART 6250 (Mampatá, 1972/74). Natural da Régua, é um conceituado vitivinicultor, explorando a Quinta da Senhora da Graça, com sede em Senhora da Graça, 5030-429 S. João de Lobrigos, concelho de Santa Marta de Penaguião, distrito de Vila Real, Telef. 254 811 609 (Email: quinta.graca@mail.pt ).

Tem vinhos premiados e partilha os seus néctares com os amigos e os clientes. Destaque para dois vinhos de classe, que orgulham a produção nacional:

(i) Pedro Milanos 2005, Douro DOC: Tinto, 13,7º: Castas: Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca: medalha de prata no Wine Masters Challenge 2008; seleccionado em 2006 e 2007 pela Néctar entre os melhores vinhos do ano; está no Top 100 da Blue Wine, em 2008; (preço por garrafa: 6 pesos...). Enólogo: Vasco Valente Lopes.

(ii) Penedo do Barco 2005, Douro Doc: Tinto, 14,2º; castas: Touriga Nacional (40%), Touriga Franca (20%), Tinta Roriz (20%), Tinta Barroca (0%) e Tinta Amarela (10%). (preço por garrafa: 10 pesos...). Enólogo: Vasco Valente Lopes.

O nosso camarada tem uma equipa de cinco estrelas: a esposa, Maria Luísa Valente Lopes, e uma filha, ainda estudante, e um filho, o Vasco Valente Lopes, promissor énologo, com prémios já ganhos e estágio na Austrália. O nosso camarada faz também turismo rural. É membro da nossa Tabanca Grande desde finais de Fevereiro de 2008 e frequenta, religiosamente, às 4ªs feiras, a Tabanca de Matosinhos.

Vai estar este fim de semana em Lisboa, na 3ª edição do Porto e Douro Wineshow, num ambiente místico e sofisticado, o Convento do Beato, em 22 e 23 de Novembro de 2008, das 15h às 22h.
Recebi hoje, pelo correio, seis convites, cada um válido para duas pessoas... Já fiz contactos com a malta da Tabanca Grande. Ainda tenho dois convites disponíveis (4 pessoas) para quem me telefonar (21 471 0736 / 931 415 277).

Neste próximo fim de semana, mais exactamente, no domingo à tarde, espero poder encontrá-lo, dar dois dedos de conversa, partilhar com ele a sua paixão pelo Douro, e provar os seus vinhos... Se aparecer mais alguém da Tabanca Grande (Virgínio Briote, Humberto Reis, e outros), muito melhor.


Vd. ainda o poste de 3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3165: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (6): Com o José Manuel, in su situ, um pé no Douro e uma mão no Marão (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P3467: Álbum fotográfico de Albano Gomes (1): Mansambo, CART 2339 (1968/69)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Foto nº 7 > "A árvore do lado da entrada do Aquartelamento; na sua base tinha o abrigo subterrâneo, onde passámos alguns meses meio enterrados vivos, eu, o Torcato, o Xavier, o Baptista e outro pessoal de transmissões. Neste local era também o Comando, o Centro Cripto, o Posto de Rádio etc.".
Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2399 > Foto nº 8> "Na foto nº 7 podemos ainda ver a saída de parte do pessoal para a Op Cabeça Rapada, assim como na foto nº 8 algumas das viaturas para os transportar".

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Foto nº 10 > "O Obus 10.5, virado à fonte, que, conjuntamente com outro instalado do lado contrário do Aquartelamento, e quando manuseados pelo Pelotão de Artilharia ali instalado, faziam Manga de Ronco".


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Foto nº 4 > "A dita [árvore] dos 17 Passarinhos junto da cozinha, que, estando nessa altura totalmente despida de folhagem, nela se podem ver a enorme quantidade de pontos negros, que são nada mais nada menos que os ninhos".

Fotos (e legendas): © Albano Gomes (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do Albano Gomes, que já está na nossa caixa de correio há mais de dez meses, isto é, desde 6 de Janeiro de 2008, a espreitar o glorioso dia da publicação... (Albano, como vês, a tua mensagem e as tuas fotos não estão nem perdidas nem esquecidas; ficaram este tempo todo no ...limbo, como tu que viveste metade da tua comissão, enterrado, vivo, no 'campo fortificado' de Mansambo, como lhe chamava o IN).

O Albano Gomes, que vive em Chaves, foi 1º Cabo Op Cripto, CART 2339 (Mansambo, 1968/69). Dele e de outros continuo à espera de mais estórias (secretas) dos nossos criptos... Eles sabiam coisas do arco da velha... Curiosamente, continuam mudos e caladas, como se ainda hoje estivessem sujeitos à lei do silêncio...

Já agora, aproveito a embalagem para dizer, a outro Viriato, o Carlos Marques dos Santos que o seu texto e o seu filme sobre a construção de Mansambo, estão quase prontos... Falta o quase. Carlos: gostei de te ver, no dia 11 de Novembro, no Museu da Farmácia; e, para mais, agora livre do fumo do cigarrinho... Muita saúde e longa vida, que Deus às vezes até dá tudo... (LG)


Amigo e Camarada L.G.

Rebuscando no baú das recordações, consegui encontrar entre outras algumas fotos de Mansambo onde se podem ver as três árvores que por lá existiam, tal como referiu o Torcato e muito bem. Assim a foto nº 4 é a dita dos 17 Passarinhos, junto da cozinha, e que estando nessa altura totalmente despida de folhagem se podem ver a enorme quantidade de pontos negros, que sâo nada mais nada menos que os ninhos.

A foto nº 7 é a árvore do lado da entrada do Aquartelamento, na sua base tem o abrigo subterrâneo, onde passámos alguns meses meio enterrados vivos eu o Torcato, o Xavier (Radiotelegrafista), o Batista (Fur Trms), alguns telefonistas e muitos outros que confesso não me recordar. Neste local era o Comando, Centro Cripto, Posto de Rádio etc.. e também o nosso abrigo.

Nesta foto podemos ver a saida de parte do pessoal para a Op Cabeça Rapada, assim como na foto nº 8 algumas das viaturas para os transportar.

Na foto nº 10 a árvore que se encontrava no Aquartelamento do lado da Fonte a seguir ao abrigo do Obus 10,5, e que também não me recordo se foi abatida ou se caiu, mas tenho uma vaga ideia que como apresentava algum perigo de queda, foi abatida de modo controlado para não vir um dia a cair desordenadamente em cima do abrigo ali próximo. Também podemos ver a peça de Artilharia, o Obus 10.5 virado à fonte que, conjuntamente com outro instalado do lado contrário do Aquartelamento, e quando manoseados pelo Pelotão de Artilharia ali instalado, faziam Manga de Ronco".

Peço aos meus Camaradas da Cart 2339 que, caso julguem necessária qualquer rectificação, o façam pois que, após 39 anos, muita coisa nos falha e se nos baralha na memória.

Um Grande Abraço para todos
Albano Gomes
____

Nota de L.G.:

(*) Do (ou sobre o) Albano Gomes, vd postes de:

8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2418: Estórias (secretas) dos nossos criptos (2): Mariema também era minha (Albano Gomes, CART 2339, Mansambo, 1968/69)

1 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2396: Estórias (secretas) dos nossos criptos (1): Braimadicô, o prisioneiro (Albano Gomes)

30 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2390: Albano e Ferragudo, gente de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339, 1968/69)

28 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2387: Tabanca Grande (46): Albano Gomes, residente em Chaves, ex-1º Cabo Cripto da CART 2339 (Fá e Mansambo, 1968/69)

26 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2384: Mansambo: a árvore dos 17 passarinhos, baptizada por mim (Albano Gomes, ex-1º Cabo Cripto, CART 2339, 1968/69)

(**) Sobre a Op Cabeça Rapada, vd. postes de:

24 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1459: Fotos Falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (9): Operação Cabeças Rapadas (Estrada Bambadinca-Xitole, Março / Maio de 1969)

22 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXIX: Estrada Mansambo-Bambadinca (Op Cabeças Rapadas, 1969) (Carlos Marques dos Santos)

Guiné 63/74 - P3466: Histórias engraçadas (António Matos) (3): Dia de Ronco, Miss Bula 1972.

Miss Bula 1972

Dia de Ronco

Na Guiné (desconheço se a terminologia é idêntica em toda a antiga África portuguesa) uma ocasião festiva especial era denominada "Ronco".
Daí a expressão "hoje vai haver ronco".
A minha permanência por aquelas bandas não me deu, no entanto, o ensejo de assistir a muitos roncos mas um deles ficou nos anais da história de Bula pois teve como leitmotiv a eleição da Miss Bula.

Estávamos em Abril de 1972.

lugares esgotados. Assistência entusiasta e impaciente, ansiosa pelo desfile.


Confesso que o amontoado de toda aquela gente me causava algum desconforto claustrofóbico e a aproximação do final duma comissão particularmente agitada com a questão das minas e dos acidentes já acontecidos, punha-me o instinto de defesa à flor da pele e daí, pouca liberdade psicológica para o deleite da ocasião.
Houve imprensa escrita e rádio e o desfile acompanhado por estridente música.

E agora as candidatas ao título:

se clicar nas imagens vê os números das candidatas em tamanho maior...








As raparigas, compenetradas e em pose, adornaram-se com os seus panos mais vistosos e a passagem, em traje de mini-saia, foi convincente.


O António Matos, à semelhança de outros assistentes, não parece muito entusiasmado com o desfile...

Houve palmas e gritinhos e no fim a debandada.
Não faço a mínima ideia quem foi a vencedora mas a nº 7 "pisava" muito bem...

António Matos

__________

Notas:


1. Sublinhados e legendas das fotos do editor.

2. Artigos do Autor em

8 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3424: 16.000 minas montadas entre Bula e S. Vicente. António Matos.

Guiné 63/74 - P3465: O meu enquadramento sócio-político-financeiro, religioso e académico na Guerra do Ultramar (II). António Matos.

No BII 18, a formar a CCaç 2790

BII 18, Ponta Delgada, S. Miguel, Açores. Os então asp of mil Marques Pinto e António Matos (1).
Ano de 1970. Verão. É-me dado um bilhete de avião na TAP para os Açores. Foi o meu baptismo de voo. Destino: Ponta Delgada – Arrifes – BII 18. Missão: formação da Companhia Independente 2790 Paralelamente, outros camaradas iam aparecendo e aquela permanência de 3 meses tornou-se extremamente agradável. Juntámo-nos alguns alferes (recordo o Urze Pires, o Marques Pinto e eu) e alugámos uma casa no centro da cidade.
Os dias eram passados em instrução mas sobejava-nos tempo para uma vida civil prazenteira. A vida social era intensa e o assédio das moças gaiteiras na expectativa de "pescarem" um continental era medonho! Valeu-me ser já um homem comprometido e cumpridor das promessas deixadas em Lisboa.... Com o primeiro vencimento comprei um ainda hoje belíssimo relógio Ómega Seamaster! Custou 3.500$00!!!! (menos de 20 €). O meu gosto pela actividade física recebia eco da parte dos soldados que se prontificavam a longos crosses desde os Arrifes até à cidade e volta. Com a Mauser às costas!
Mas nem tudo foram favas contadas! A minha grande dificuldade foi a que constatei de imediato ao tentar perceber aquela gente. As viagens de GMC no fim do dia de instrução para a cidade eram um verdadeiro suplício de tradução! Aos poucos fomos limando essa "questão de pormenor" e no final já era um verdadeiro açoriano...
Desenfianço antes do embarque
Chega o mês anterior à partida. Sem dizer água vai, meti-me na SATA até Stª Maria (na altura a TAP ainda não voava para Ponta Delgada) e daí apanhei o TAP vindo de Boston para Lisboa. Ia "desenfiado"! Sei que criei muita perplexidade ao tenente-coronel Mexia Leitão (comandante do BII 18) com esta "deserção" e a dúvida sobre uma não-comparência ao embarque esteve-lhe na ideia. Dois dias antes do levantar ferro do Carvalho Araújo, apareci em Ponta Delgada e nessa noite fui ao cinema ao Teatro Micaelense. Pontuava no 1º balcão a fina-flor açoriana e o Tenente-Coronel também lá estava. Foi notório o alívio que transpareceu na sua cara e lembro-me do abraço afectuoso que me dispensou. No fundo percebi o seu sentimento de camaradagem em não ter participado de mim na expectativa de que eu voltaria. Por acaso voltei. Por acaso, pois houve tentativas de aliciamento para fazer as malas e dar o salto. Foi numa altura em que estavam vários tenentes nas companhias vindos como antigos oficiais da GNR. Na C.Caç 2790 tínhamos o tenente Lucas e na 2789, o tenente Freitas. O primeiro cedo abalou para a Suécia. O segundo não conseguiu arregimentar pessoal para o acompanhar na acção. Recordo uma noite que passámos no cais de embarque de Ponta Delgada a congeminar a fuga para as Flores e daí "pedir boleia" à Força Aérea Francesa que, julgo, teria por lá uma sucursal... Não foi patriotismo nenhum! Foi mera incompatibilidade com a minha estrutura de vida que não me deu forças para tal. Tive, isso sim, o desejo de ter a experiência vivida de ter estado numa guerra e sobreviver. Hoje, e uma vez que consegui superar essa dificuldade, continuo a agradecer a oportunidade que tive e faço dela muitos paralelismos para a minha vida do dia-a-dia, regra geral com bons resultados.
Chegou, enfim, o embarque Como alferes miliciano e no ultramar, se a memória me não atraiçoa, auferia de um salário de 5.500$00 (27,5 € - hoje não compro uma camisa!).
Na medida em que não pagávamos as balas nem os estragos que provocávamos no capim e pouco havia onde gastar dinheiro, era-nos permitida uma poupança na Metrópole que se alimentava, mensalmente, de uma transferência de parte daquele valor. Tabaco, whisky, pequenos rádios que se adquiriam nas idas a Bissau, uma ou outra máquina fotográfica, um jantarzinho melhorado e outros pequenos nadas (...) seriam as desculpas para "derreter" os escudos remanescentes. Era, pois, uma vida sem problemas de créditos mal parados e não me apercebi nunca de situações delicadas motivadas por falta de dinheiro.
Sistematicamente eu dispensava (em carácter rotativo) uns quantos soldados de alinharem em operações numa tentativa de criar um ambiente menos tenso e de, as deslocações a Bissau que a maioria aproveitava para fazer, servirem para "aliviar a tensão" acumulada. As diferenciações académicas não eram demasiado críticas uma vez que o pelotão era constituído por homens de grau de conhecimentos semelhantes e os debates culturais não tinham, pura e simplesmente, lugar. Na caserna, a revista Corin Tellado era disputada a murro entre os soldados e havia mesmo um capitão que se perfilava na tentativa de conseguir o empréstimo do último número...
uma missão impossível
A iliteracia absoluta era propriedade de um soldado do meu pelotão que, numa determinada época, e após ter percebido que atribuir a missão de escrita e posterior leitura dos aerogramas para a namorada a outro magala era motivo de grande chacota na caserna, me promoveu a seu confidente. Esse soldado, a seu pedido e com a anuência do furriel Benigno Abreu, passou a ter aulas que lhe permitiriam desenhar as letras e ler. Veio mais tarde a perceber-se que sofria duma espécie de dislexia curiosa: conseguia conhecer as letras, conseguia juntá-las e constituir as sílabas, mas não conseguia juntar as sílabas para a formação final da palavra.
Ficou conhecida a seguinte peripécia: (Estava-se no estudo da letra "P". O livro de instrução primária mostrava a figura dum pato) O Abreu perguntava: oh Zebedeu (nome fictício), que letra é esta?
Zebedeu – É um "p", meu furriel! Abreu – Boa! E esta? Zebedeu – É um "a", meu furriel! Abreu – Então um "p" e um "a", como se lê? Zebedeu – Um "p" e um "a" lê-se pa, meu furriel! Abreu – Fantástico! E esta outra letra, como se chama? Zebedeu – É um "t", meu furriel! Abreu – E esta? Zebedeu – É um "o", meu furriel! Abreu – Muito bem, e como se lê um "t" e um "o"? Zebedeu – Um "t" e um "o" lê-se to, meu furriel! Abreu – Mas o "o" no fim da palavra lê-se.... Zebedeu – Lê-se "u". Abreu – Muito bem, Zebedeu, então já sabemos que um "p" e um "a" se lê pa; já sabemos que um "t" e um "o" se lê tu; então como se lê tudo? Zebedeu – "bufa", meu furriel! Escusado será dizer que a espontaneidade da gargalhada geral soou a uma só voz e ficámos na convicção de que o "Zebedeu" estava a gozar connosco. Não era, de facto, a situação, e só mais tarde vim a saber da existência dessa anomalia chamada de incapacidade de juntura silábica ou intervocabular. Já na vida civil, num jantar de confraternização, consegui localizar o "Zebedeu" e recordámos esta e outras situações e compreendi a grandeza humana que nos permite ser realmente AMIGOS. A minha companhia em geral e o meu pelotão em particular, era constituído maioritariamente por homens açorianos. Só os oficiais, os sargentos e os cabos especialistas é que eram metropolitanos (mais tarde os reforços de rendição individual também eram da Metrópole). O cariz religioso era, portanto, elevado. O capelão do batalhão, Padre Antero, irmão marista, homem calmo, sabedor, culto, simpático e amigo, cuidou das suas almas e confidenciou-os tendo angariado a generosidade daqueles corações. Esteve presente nos momentos difíceis e era um refúgio espiritual que particularmente tenho pena de não ter explorado. Muitos anos mais tarde, também o localizei e pedi-lhe que viesse celebrar a missa de bodas de ouro do casamento dos meus Pais, o que concordou e dirigiu palavras agradabilíssimas ao cruzar recordações do tempo da Guiné... Os meus Pais gostaram imenso e os restantes participantes na cerimónia/festa congratularam-se em conhecê-lo também. Fim deste capítulo
António
__________

Notas:

1. António Matos, ex-Alf Mil da CCaç 2790, Bula 1970/72

2. Artigo anterior em

Guiné 63/74 - P3464: Histórias de Vitor Junqueira (10): Santa Paz


1. Mensagem do nosso camarada Vitor Junqueira, ex-Alf Mil Inf, CCAÇ 2753 - Os Barões (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá ,1970/72), com data de 13 de Novembro de 2008:

Caros editores,
Fui ao "armazém" e recuperei este naco de prosa que vos envio para análise.
Se acharem que merece honras de Blog... façam favor.

Saudações cordiais,
VJ

Santa Paz!
Por Vitor Junqueira

Apresento-vos o meu amigo Simeão

Existem dentro como fora de fronteiras tantos topónimos de vilas, cidades e aldeias começados por Santa, como por exemplo Santa Maria, Santa Comba, Santa Bárbara; Santa Margarida etc. que, Cutia, bem podia ter-se chamado Santa Paz.

Conheci o Simeão a bordo do NM/TT Carvalho Araújo quando ambos rumávamos à Guiné. Ele, em rendição individual. Eu, com a família toda atrás. Corria o ano de 1970, por alturas de Agosto, o mês das férias e dos cruzeiros. Já naquele tempo, usava uma soberba e reluzente careca que cobria com uma mitra à Che. Com estrelinha na fronte e tudo. De trato afável, não tardou que chegássemos à fala. A princípio, tentámos avaliar-nos mutuamente. Para espantar o tédio e não querendo nenhum de nós perder o pé em temas politicamente quentes, o assunto das nossas conversas girava à volta da kingalhada post prandeal, das banalidades sobre o tempo ou a monotonia da viagem. Depressa me apercebi que do seu ar prazenteiro irradiava uma serenidade e bonomia enganadoras. Por trás do sorriso manso, estava um tipo nervoso, inquieto e, acima de tudo, revoltado. Certo é que, durante os cerca de dez dias que durou a viagem, tivemos tempo para nos tornarmos amigos. Com pontos de vista diametralmente opostos, é verdade, mas com a firmeza e frontalidade que consolida as amizades. Como a nossa, que dura desde esse tempo.

O Simeão estudava medicina em Coimbra quando se deu aquela bronca com o Presidente Américo Tomás. Foi apanhado na lingada da incorporação seguinte e condenado a malhar com os ossos na Guiné.

Como para a maioria dos jovens universitários daquele tempo, a tropa veio deitar por terra planos de vida longamente gizados, tanto pelos próprios como pelas famílias. Filhos de uma pequena burguesia em ascensão e, note-se que Portugal registava um surto de crescimento económico sem precedentes, os futuros milicianos iriam arrostar não apenas com uma longa interrupção dos estudos, porventura o fim das suas carreiras académicas, como expor-se a condições de vida (militar) que nenhuma sociedade acomodada estaria disposta a aceitar. Para já não falar da probabilidade nada desprezível de perder a vida em combate num qualquer sertão africano, em defesa e em nome de causas que se tinham tornado muito difíceis de explicar. E ainda mais difíceis de entender, por estarem nos antípodas das preocupações da maioria dos portugueses de então. Entendamo-nos de uma vez por todas; se este pessoal tinha excelentes perspectivas de futuro, o presente era no mínimo radioso: Namorada (s), tertúlias, noitadas de copos e engate, (em Coimbra, serenatas), boa música, teatro e cinema de qualidade só acessíveis a privilegiados, pândega a dar com um pau. Já não eram raros os que iam para as aulas de automóvel e frequentavam os locais de pouso de uma certa socialite lisboeta.

O Simeão tratava por tu, Marx, Engels e Lenine, que eu suspeitava serem personagens do cinema mudo americano, pois já tinha ouvido falar de um tal Groucho Marx. Para matar o tempo, enquanto eu lia o manual de acção psicológica na guerra subversiva, o gajo atirava-se aos cahiers de socilogie. E se eu me entretinha com as equações das cónicas por causa do tiro parabólico, ele tentava explicar-me detalhadamente o significado contido nas entrelinhas de um manifesto em que se exaltava a justa luta dos povos pela sua autodeterminação. Eu imaginava-me a ganhar a guerra (ah Napoleão!), ele discorria sobre a forma de sair dela vivo. E assim por diante.

O reencontro

Despejados no cais de Pidjiguiti em Agosto de 1970, cada um foi à sua vidinha. Não voltámos a encontrar-nos nem tivemos notícias um do outro até, salvo erro, Novembro desse mesmo ano. Indo eu a caminho não de Viseu, mas de Mansabá, encontro-o a comandar um pelotão de morteiros estacionado em Cutia. Embora a guerra do Simeão se situasse num ponto de passagem obrigatória para todas as colunas que do norte da Província (calma, pessoal!) demandavam Bissau, raras vezes nos encontrámos, até porque, naquele troço, era sempre a abrir. As coisas modificaram-se por volta do princípio do ano de 1971. Nessa altura, reaberta que estava a via Mansabá-Farim, passei a ter o privilégio das visitas do camarada Simeão, dia sim, dia não. Simplesmente porque precisava de água potável e a do K3 era a melhor! Para isso, atrelava um depósito ao burrito do mato, sentava-se ao lado do chauffer seguindo o ajudante atrás, no banco da carroceria, com a G3 bem escondida para não ferir susceptibilidades. Assim, tranquilamente, e nem sequer precisavam de ir na mecha. Para fazer o mesmo trajecto, eu próprio nunca levava menos de dois pelotões reforçados, cerca de oitenta homens, todos com os olhos bem abertos. E mesmo assim apanhava nas lonas. Comecei a desconfiar! Dados os seus antecedentes, seria o Simeão um agente infiltrado? Seria a minha água realmente boa ou seriam as suas intenções pouco líquidas? E se o camarada viesse ao K3 com o intuito de espiolhar o que se passava dentro do arame farpado? Sem melindrar a cordialidade que sempre presidiu ao nosso relacionamento, passei a ser mais cuidadoso quanto à abordagem de pormenores de natureza operacional. Até que um dia…

Fez-se luz

Entre Mansabá e Bafatá, existira em tempos uma boa estrada que, na minha altura, se encontrava totalmente desactivada havia anos, devido às frequentes flagelações da guerrilha. Passava por localidades tão quentes como Manhau, Mantida e outras, onde pude observar as ruínas de antigas instalações ocupadas por guarnições portuguesas. Por outro lado, este itinerário fortemente minado, tornava-se impraticável mesmo para uma força de respeito. A sul, quase paralelamente, corria o trajecto principal Mansoa-Bambadinca-Bafatá. Entre ambos, uma extensa faixa onde o PAIGC tinha uma parte dos seus incontestados domínios. Como sempre fui sortudo (!), calhou-me na rifa uma tarefa muito simples; dar uma saltada a Mantida (vejam no mapa) e correr com uns okupas que lá se encontravam indevidamente. Criteriosamente seleccionados os meus acompanhantes, pois apenas havia lugar para cinquenta, lá embarcámos em dez hélis que nos conduziram ao nosso destino. Viagem rápida e agradável, pior foi o regresso que teve de ser feito à lá patita, a desbravar mato pelas razões expostas. À nossa frente, abrindo caminho, uma parelha de Tigres e outra de T6. Saltar dos helicópteros, já foi difícil dada a oposição dos anfitriões. Fizemo-lo onde foi possível, numa pequena clareira a escassas dezenas de metros do aglomerado de tabancas. Mas entrar lá, ainda por cima sem qualquer espécie de apoio, foi muuuiito complicado. Tomado o objectivo, passou-se a uma inspecção rápida do tabancal antes de o reduzir a cinzas. Para espanto geral, o que é que encontrámos para além dos costumeiros utensílios do quotidiano? Embalagens de tabaco Porto e Português Suave, todo o tipo de mezinhas LM, garrafas (vazias) de cerveja e até pequenos bidões com combustível. Proveniência: Cantina militar, posto médico e depósitos de combustível das viaturas de Cutia! Estava encontrada a explicação para o à-vontade com que o Simeão se movimentava naquelas redondezas. Confrontado com estas evidências, admitiu sem nenhuma dificuldade que tinha perfeito conhecimento do que se passava. Sabia que os elementos do IN, muito activos na região, tinham as mulheres na tabanca de Cutia, onde eles próprios gozavam os seus períodos de férias. E não ignorava que parte dos consumos da cantina iam parar ao mato. Nos dois períodos de licença que gozou na metrópole, abasteceu-se de tudo quanto era ronco para distribuir pela população. Numa ocasião em que nos cruzámos no Biafra, apanhei-o com duas valentes malas carregando quilos e quilos de panos, chinelos, pechisbeque e bugigangas de toda a espécie com que garantiu o seu sossego. Tudo isto com a conivência dos seus próprios soldados africanos e, suponho eu, dos furriéis europeus. Com este procedimento, obteve uma garantia de segurança, tácita, que nem antes nem depois foi outorgada a mais ninguém. E teve razão, fez bem! Dado o isolamento em que se encontravam, qualquer atitude mais belicosa poderia ter provocado um desastre. Para a malta do Morés, apertar-lhes o papo seria como limpar o cu a meninos. Soube-se que algum tempo após a desmobilização, dois alferes que lhe sucederam, teriam sido mortos pelas próprias forças. Sem confirmação. Obteve outras vantagens. Dadas as longas ausências dos militares do PAIGC, sentia-se no direito (e se calhar no dever…) de lhes consolar as mulheres. Confessou-me que tinha uma certa predilecção por grávidas. Seguindo um determinado ritual, sentava-as ou deitava-as por cima, mas antes, aplicava-lhes duas carinhosas palmadinhas na barriga e dizia:

- Minino disculpa e tá quietinho, a mim n’bai fá fudi-fudi co mama di bó.

Mas nem tudo foram rosas na comissão deste nosso camarada. Preguei-lhe duas grandes partidas, uma das quais, involuntária, haveria de levá-lo à baixa.
Hei-de contar-vos.

Até lá, abraços do
VJ

PS: O Simeão Duarte Ferreira, é meu colega, amigo e vizinho. Exerce a sua actividade clínica no Centro de Saúde da Bidoeira-Leiria e reside na localidade de Guia-Pombal

Recorte da Carta da Guiné, onde se podem ver as estradas Mansabá-Bafatá e Mansoa-Bambadinca-Bafatá

Fotografia do Destacamento de Cutia, situado na Estrada Mansoa-Mansabá
Foto: © César Dias (2008). Direitos reservados.


Fotografia aérea de Mansabá, ponto de passagem obrigatório para quem se deslocava de Mansoa para Farim.
Foto: © Carlos Vinhal (2008). Direitos reservados.


Fotografia do aquartelamento do K3. Por aqui permaneceu a CCAÇ 2753 do Alf Mil Vitor Junqueira durante boa parte da sua comissão.
Foto: © Carlos Silva (2008). Direitos reservados.


2. Comentário de CV:

Caro Vitor, como te prometemos e para podermos dar a oportunidade aos nossos leitores de (re)lerem as tuas histórias, criamos uma série chamada Histórias de Vitor Junqueira, similar aliás a algumas já criadas para outros camaradas, destinada a agrupar os teus trabalhos não integrados noutras séries, como por exemplo O nosso baptismo de fogo.

Nesta tua 10.ª história fica em roda-pé a lista das anteriores, já publicadas.
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Nota de CV:

(1) Vd. postes da série de:

18 de Setembro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1083: Histórias de Vitor Junqueira (1): Os Barões da açoriana CCAÇ 2753 (Madina Fula, Bironque, K3, 1970/72)
e
Guiné 63/74 - P1084: Histórias de Vitor Junqueira (2): O guerrilheiro desconhecido que foi 'capturado' no K3 por um básico da CCAÇ 2753

23 de Setembro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1110: Histórias de Vitor Junqueira (3): Do Bironque ao K3 ou as andanças da açoriana CCAÇ 2753 pela região de Farim

27 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74: P1215: Histórias de Vitor Junqueira (4): Irmãos de sangue, suor e lágrimas

31 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1224: Histórias de Vitor Junqueira (5): Não ao politicamente correcto

5 de Janeiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1403: Histórias de Vitor Junqueira (6): A açoriana CCAÇ 2753: uma família, uma unidade feita à medida

31 de Janeiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1475: Histórias de Vitor Junqueira (7): A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação

6 de Março de 2007 >
Guiné 63/74 - P1567: Histórias de Vitor Junqueira (8): Operação Larga Agora, na região do Tancroal, com a CCAÇ 2753

11 de Novembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3438: Histórias de Vitor Junqueira: (9): O Líbio e o alferes gazeteiro

Guiné 63/74 - P3463: Os nossos regressos (17): Estavam lá todos, a família, os amigos, mas não o meu pai... (Paulo Raposo)


Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > Sessão de autógrafos >Na mesa, junto ao Beja Santos, o Almansor de Montemor-O-Novo, o Paulo Raposo, um dos quatros famosos baixinhos de Dulombi (mais o Victor David, o Rui Felício e o Jorge Rijo), ex-Alf Mil da CCAÇ 2405 (Galomaro e Dulombi, 1968/70), membro ilustre da nossa Tabanca Grande, organizador do 1º, memorável, encontro nacional do nosso blogue (na Herdade da Ameira, em 2006).

Sobre a festa do Beja Santos, sobre o lançamento do seu livro, sobre o nosso blogue e sobre os baixinhos de Dulombi, escreveu ele o seguinte comentário, com data de 13 do corrente:

"Meu muito querido amigo e ex-camarada de armas Beja Santos.

"O teu livro. É uma obra vasta, onde demonstra as tuas qualidades de trabalho, a tua generosidade e entrega ao próximo, a tua superior inteligência, a tua memória de elefante, a qualidade da tua escrita e a maneira como romancias o texto para lhe dar uma frescura e beleza.

"Bem Hajas, rapaz. É um testemunho para a História. Deve figurar na Biblioteca do Museu Militar. Gostei muito de te ter dado um abraço, estás sempre no meu coração.

"Quanto ao Luis, 'El Bloguista', muito lhe devemos a sua carolice, perseverança e qualidades para manter O NOSSO BLOGUE sempre vivo. Parabéns Luis. e Obrigado.

"Quanto ao Felício, David e Rijo são como que irmãos para mim. A máquina fotográfica Olimpus, comprada pelo Felício no Uíge, deve ir para um Museu, o da saudade dos anos que tínhamos então.

"É um privilégio para mim ter-vos a todos como amigos.

"Paulo Lage Raposo".

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.



Lisboa > Cais da Rocha Conde de Óbidos > Uíge > Embarque para a Guiné > Julho de 1968 > Oficiais milicianos dos BCAÇ 2851 e 2852 na hora da despedida...

Foto: © Paulo Raposo. Direitos reservados.

1. Os nossos regressos (17) (**) > O testemunho de Paulo Lage Raposo


Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997. pp. 51-53


A VIAGEM PARA LISBOA

Embarcámos no Carvalho Araújo. Navio pequeno e velho. Qualquer coisa servia para sair de lá. A emoção da alegria da largada não tem descrição. À medida que o navio começa a afastar-se daquela terra, a humidade começa a diminuir. O mar estava chão.

Como estávamos nós de saúde? Mal. A nossa cor era verde e o nosso cheiro tinha-se alterado. Na Guiné tinha tido dois ataques de paludismo, embora tivesse tomado o quinino todas as 5ªs feiras. Os ataques de paludismo deitavam-nos muito abaixo. Primeiro eram uns frios grandes e depois uns calores insuportáveis.

A minha úlcera duodenal estava numa lástima. A bordo seguia um médico que nos fez várias análises. Ao sangue, urina e fezes. A bicharada que estava nos intestinos era obra. Tomámos uns purgantes.

Como o navio não estava com muito combustível, o Comandante resolveu acostar na Madeira para reabastecimento. Aquela ilha é realmente bonita. O Capitão André (mais tarde, Presidente da Câmara de Proença-a-Nova, durante 20 anos, até 2005) e eu demos uma volta pelo Funchal num carro militar, gentilmente cedido pelo Regimento local. Flores há-as por todos os lados, é um paraíso. Numa dessas floristas comprámos flores para serem entregues em Lisboa.

O Capitão André manda à sua mulher, com um cartão. Ela estava no fim do tempo para ter uma criança. Eu mando à minha mãe, também com um cartão. Quando cheguei a Lisboa, a minha mãe perguntou-me que cartão era aquele. Tinham-nos trocado.

Do Funchal a Lisboa foi num instante. Começámos a ver terra muito cedo, já estávamos todos acordados, e para fazer tempo para o navio acostar à hora certa ainda fomos fazer um círculo perto do Guincho. Novamente a alegria e a emoção do fim daquele tormento.

A CHEGADA

Estavam lá todos, a família e os amigos, mas o meu pai não estava. Desembarcámos. Mais um desfile e vá de ir para casa. Tudo era diferente. Não só eu me tinha transformado, como cá também tudo tinha evoluído.

Se me custara passar de civil a militar, o inverso depois de 37 meses de tropa foi também muito complicado.

A ansiedade que adquiri no fim da comissão nunca mais me largou. Diminui ou aumenta conforme o cansaço. Está sempre dentro de mim.

Quanto a terrores nocturnos, tive-os durante muitos anos. Por causa de ter adormecido profundamente no mato e não ter ouvido os tiros do inimigo, tive pesadelos pela eventualidade de a companhia avançar e me deixar para trás, só e isolado no mato. Outra situação que me apavorava era a possibilidade de ser novamente chamado para nova comissão como capitão.

Odeio as guerras.

2. Comentário de L.G.:

O Paulo Enes Lage Raposo, que hoje vive em Montemor-o-Novo, onde criou, desenvolveu e dirigiu um belíssimo empreendimento hoteleiro (o Hotel da Ameira), foi Alferes Miliciano de Infantaria, com a especialidade de Minas e Armadilhas, na CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 (Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70).(Escrevo "dirigiu", no passado, por que acho que já passou a gestão para um dos filhos...).

Durante a sua comissão, o Paulo esteve em Mansoa e sobretudo na zona leste (Galomaro e Dulombi), a sul de Bafatá. Uma nota trágica da sua comissão é a perda de 17 dos seus camaradas na travessia do Rio Corubal, em Cheche, na sequência da retirada de Madina do Boé, em 6 de Fevereiro de 1969 (Op Mabecos Bravios).

Desde Abril até Setembro de 2006, o nosso blogue publicou o testemunho escrito que o Paulo elaborara em 1997 e que só era conhecido de alguns amigos e camaradas da sua companhia e do seu batalhão. É um documento policopiado, de 65 páginas, com o seu "testemunho e visão da Guerra de África", mais concretamente sobre a história da sua vida militar, desde a sua incorporação, como soldado cadete, em Abril de 1967, na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, até à sua mobilização para a Guiné, como Alferes Miliciano da CCAÇ 2405, onde teve como camaradas os membros da nossa tertúlia Rui Felício, Victor David e Jorge Rijo (este último reformou-se dos seguros, e não temos sabido nada dele uma vez que o endereço de email não é mesmo).

Esta unidade partiu para a Guiné em Julho de 1968. O Paulo regressou e passou à vida civil "ao fim de 37 meses de tropa". Nesse espaço de tempo teve a imensa alegria da visita do seu pai a Bissau (onde esteve alojado no Grande Hotel) e a imensa tristeza de já não o poder abraçar, no seu regresso a casa...

A curta frase com que o Paulo termina a sua história de vida na Guiné, é emblemática e pode seguramente ser subscrita por todos nós:
- Odeio as guerras...

Todos nós, que fizemos a guerra da Guiné, e tivemos a sorte de regressar, sãos e salvos, ficámos a odiar todas as guerras... Ainda estamos a fazer o luto dessa guerra e dos que nela morreram...

Recentemente, na festa do Beja Santos, tive privilégio de dar, ao Paulo, um quebra-costelas, um alfa bravo, um abraço... É bom rever, de tempos os tempos, camaradas da Guiné, puros e duros, como o Paulo. Uma saudação especial para ele e para os restantes baixinhos de Dulombi que são hoje inseparáveis amigos.

__________

Notas de L.G.:

(*) Reproduzido originalmente em 10 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1060: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (19): regresso a Lisboa e à vida civil (fim)

Vd. também o poste de 26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P912: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (12): A morte de um pai

(...) "Era Setembro, e eu estava na altura em Galomaro, juntamente com uma companhia de paraquedistas. O Major Pardal dirige- se a mim, passa-me a mão pelas costas e diz-me:
"- O teu pai acabou de falecer; o Brigadeiro Nascimento mandou um heli buscar-te, reservou o lugar do Governador na TAP e tens na repartição de pessoal uma licença para seguires viagem" (...).

(**) Vd, postes anteriores desta série:

12 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3197: Os nossos regressos (16): Bendita hepatite...(Henrique Matos)

6 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3179: Os nossos regressos (15): Facas de mato, paludismo e ataque no meu regresso...(Paulo Santiago)

19 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3140: Os nossos regressos (14): O meu regresso e o 25 de Abril (Juvenal Amado)

29 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3099: Os Nossos Regressos (13): Fundeámos ao largo, com as luzes de Cascais...(José Colaço, Cachil, Bissau, Bafatá, 1963/65)

22 de Julho de 2008 > GUiné 63/74 - P3083: Os Nossos Regressos (12): Vagabundo e os outros fantasmas dos Lassas que lá ficaram na Região de Tombali (Mário Fitas)

18 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3071: Os nossos regressos (11): Guiné, 1970/73. Porra, é muito tempo. (Germano Santos)

16 Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3064: Os nossos regressos (10): Uma ida atribulada, um regresso tranquilo...(Valentim Oliveira)

10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3047: Os nossos regressos (9): Uma viagem tranquila...(Belarmino Sardinha).

8 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3037: Os nossos regressos (8): E vieram todos (Luís Dias)

5 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3025: Os nossos regressos (7): Perdido, com um sentimento de orfandade, pelos Ritz Club, Fontória, Maxime, Nina... (Jorge Cabral)

4 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3021: Os nossos regressos (6): Regressei a olhar para trás...(Santos Oliveira)

3 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3018: Os nossos regressos (5): Refazer a vida (Carlos Vinhal)

2 de Julho de 2008> Guiné 63/74 - P3015: Os nossos regressos (4): Dois anos perdidos naquela terra, quente, húmida e vermelha...(Torcato Mendonça)

1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3012: Os nossos regressos (3): Ficámos a ver Lisboa do navio (José Teixeira)

1 de Julho de 2008> Guiné 63/74 - P3007: Os nossos regressos (2): Finalmente, cheguei, estou vivo, não se assustem, sou eu, o Joaquim (J. Mexia Alves)

26 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2987: Os nossos regressos (1): Lisboa, dois anos depois (Virgínio Briote)

domingo, 16 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3462: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (9): Palavras de agradecimento do autor (I)

Lisboa, Museu da Farmácia, 11 de Novembro de 2008. Cerimónia de lançamento do livro Diário da Guiné: 1969-1970: O Tigre Vadio, da autoria do nosso camarada Mário Beja Santos (Lisboa: Círculo de Leitores, e Temas & Debates, 2008, 440 pp.). O mestre guineense, mandinga do Gabu, a viver em Portugal desde 1998, Braima Galissá, tocador de kora, e cantor (dídjio), executa o nosso Hino Nacional. Uma surpresa do Braima, um momento muito bonito, que emocionou o Mário, com toda a assistência de pé (*).

Vídeo: © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo (1' 27') alojado em: You Tube >Nhabijoes.

1. Mensagem de 13 do corrente, do Beja Santos:


Assunto - O meu profundo agradecimento

Queridos amigos, queridos camaradas, queridos tertulianos,

Estou profundamente sensibilizado por tudo o que se disse e escreveu em torno do lançamento de O Tigre Vadio. Foi muito lindo o que se viu no Museu da Farmácia, com a constituição de núcleos museológicos que tem a ver com a guerra que vivemos:

(i) o fardamento de uma enfermeira pára-quedista,
(ii) os medicamentos que usávamos,
(iii) os estojos de primeiros socorros que existiam nas aeronaves que vinham buscar os nossos feridos,
(iv) um aerograma onde se fala de medicamentos.

Tocou-me a sugestão do Braima Galissá em interpretar o hino nacional com o seu prodigioso korá.

Tocou-me estar rodeado de amigos tão grandes, alguns que vieram de tão longe e que me dirigiram expressões tão calorosas.

O Luís Graça foi, é e será a locomotiva deste entreposto de afectos, recebi o apoio incomparável do Humberto Reis, ele foi o primeiro dos fotógrafos, ainda estou para saber como é que ele desencadeou pressão sobre as minhas memórias mais subterrâneas.

Em suma, e fugindo às lamechices, é um privilégio poder contar com a vossa estima e tão elevado apreço.

Como está dito, não só fico a intervir no blogue como já estou a escrever mergulhado na Guiné, estou agora precisamente em Teixeira Pinto em 1954 e a recolher impressões dolorosas da mulher do administrador Artur Meireles (ainda hoje o maior estudioso da cultura Manjaca) que viu o exercício do colonialismo nos seus aspectos mais brutais.

Darei ao blogue, entretanto, impressões sobre as minhas leituras em terras da Guiné.

Um outro projecto que tenho em mente é registar as minhas recordações de Mafra até à reintegração após o regresso da Guiné e a constante presença dos militares e civis com quem convivi. Estou a tentar clarificar a viagem desse branco que se africanizou para toda a vida...

Por muito que vos surpreenda, não registei tudo nos dois livros do que ficou nos meus apontamentos. Recentemente, entreguei alguns registos na Sociedade de Geografia de Lisboa e, imprevistamente, apareceu-me uma folha solta que tem a data de 30 de Julho de 1970 e onde escrevi:

“Logo que possa, tenho que conhecer mais sobre a obra de Sarmento Rodrigues, governador da Guiné entre 1945 e 1948, mais tarde ministro das Colónias, certamente que o comandante Teixeira da Mota me vai ajudar, foi seu ajudante de campo. Um homem que se despede dos guineenses dizendo “queria dizer adeus a todos, um por um, como a um e um tenho falado e conhecido”, que escreve “a Guiné nada me fica a dever. Eu é que agradeço o ter me dado a ocasião de a servir sem reservas,” é um homem que amou intensamente o que fez, é um homem incomum.”

É uma nota solta, a que não soube dar destino, agora já não pode caber no diário.

Acima de tudo, o que pretendo dizer-vos agora é que foi uma honra ter escrito o relato da minha comissão tendo como primeiros leitores toda a malta do blogue e assegurar-vos que aqui vou continuar.

Aceitem um grande abraço por tudo o que me disseram e como me consideram,

Mário Beja Santos
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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 13 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3449: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (8): Apresentação do Maj Gen Lemos Pires (I)

Guiné 63/74 - P3461: In Memoriam (14): Finalmente em Portugal o corpo do camarada José Maria Fernandes Carvalho (Albano Costa)

José Maria Fernandes Carvalho, Soldado da CCAÇ 1566, que morreu por motivo de doença, na Guiné, em Agosto de 1966. Esteve sepultado até agora na campa n.º 25 do Cemitério de Bolama. Chegou a Portugal com destino à derradeira morada, hoje dia 16 de Novembro de 2008




Três instantâneos captados pela câmara fotográfica do nosso camarada Albano Costa, hoje mesmo no Aeroporto Sá Carneiro aquando da chegada a Portugal, vindos da Guiné-Bissau, dos restos mortais do nosso camarada José Maria.

Caros Tertulianos

Chegaram finalmente a Portugal, depois de dois adiamentos por motivos puramente burocráticos, os restos mortais do nosso camarada José Maria Fernandes Carvalho.

O funeral do nosso malogrado camarada será na próxima terça-feira, dia 18 de Novembro, na Capela de S. Sebastião, Travanca - Amarante, pelas 15 horas.

Albano Costa
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Nota de CV

Vd. postes de:

31 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3387: In Memoriam (8): Trasladação de José Maria Fernandes Carvalho, Soldado da CCAÇ 1566 (Guiné 1966/68) (Albano Costa)

1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3389: In Memoriam (9): Trasladação de José M. Fernandes Carvalho: as diligências de José Martins

7 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3421: In Memoriam (12): Cerimónias fúnebres do nosso camarada José Maria Fernandes Carvalho

8 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3423: Notícias da trasladação de José Maria Fernandes Carvalho

Guiné 63/74 - P3460: In Memoriam (13): Mário Ferreira, autor da letra do Adeus, Guiné, morreu ontem, em Guifões, Matosinhos (Albano Costa)

Capa e contracapa do LP [long playing] Adeus, Guiné, um criação do Conjunto Típico Armindo Campos. Porto: Edição de Discos Rapsódia. [1970]. O autor da letra era o Mário Ferreira, falecido ontem, em Guifões, Matosinhos. Os restantes membros do grupo musical também eram de Matosinhos.

Fotos: © Albano Costa (2008). Direitos reservados.



1. Mensagem do nosso camarada e amigo Albano Costa, de Guifões, Matosinhos: Assunto - Anúncio da morte do autor da letra do Adeus, Guiné

Caros editores e tertulianos:

Ontem, 15 de Novembro de 2008, faleceu o autor que compôs a letra do LP Adeus Guiné, de nome Mário Ferreira, com a idade de 85 anos. O Conjunto Típico Armindo Campos, autor da música Adeus Guiné, era um grupo composto por seis elementos, todos residentes no concelho de Matosinhos.

Armindo Campos dava o nome ao conjunto típico. Faziam também parte o Mário Ferreira (autor da letra), Jorge Ferreira, Floriano Guimarães (era o único que prestou serviço na Guiné-Bissau), Alberto Guimarães e o António (vocalista do grupo também já falecido, na capa do LP é o que está vestido de militar e a subir para o navio-paquete que na altura se encontrava no porto de Leixões, e que o grupo aproveitou para fazer o boneco).

Na época este conjunto teve bastante sucesso principalmente no norte do país, com esta música. E para que conste, recebeu de cachet 800$00 (4 €) pela sua gravação. Como os tempos mudaram!...

O funeral vai realizar-se na próxima segunda-feira, pelas 10h30, sai da capela mortuária da freguesia de Guifões, e segue para o cemitério local.

Albano Costa

PS - O único que esteve na Guiné foi o Floriano Guimarães (Aldeia Formosa, 1971/73). O LP foi gravado em 1970, antes, portanto, de ele ter ido para a guerra.

Guiné 63/74 - P3459: Histórias da velhice (1): Eu e o 1º Pelotão da CCAÇ 84 em Farim, em Julho de 1961, em socorro de... Guidaje (Alberto Nascimento)



Guiné > Região do Cacheu > Guidaje > Parece que em 1961 já havia tiros, um ano e meio antes de Tite, onde oficialmente começou a guerra, segundo a historiografia do PAIGC... Em 1973, em Maio, Guidaje vai tornar-se num inferno (parafraseando o título do jornal Público, em reportagem de 5 de Novembro de 1995).

Na foto de cima, um monumento funerário, evocando o Alf Mil Op Esp, António Sérgio Preto, da CCAÇ 19, morto em combate, no dia 29 de Junho de 1972...

Fotos: © Albano Costa (2008). Direitos reservados



1. Mensagem do Alberto Nascimento, membro da nossa Tabanca Grande, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84 (1961/63) (*), com data de 24 de Setembro, e reenviado a 10 de Novembro:

Amigo Luís:

Aí vai mais uma história, esta de Farim, de uma época de relativo sossego, que tu e os camaradas dos anos seguintes não tiveram a sorte de passar.

É uma das vantagens de ser velho...Um bocadinho mais velho.

Um Abraço
Alberto


2. Histórias da velhice (1) > O 1º Pelotão da Ccaç 84 em Farim


Bissau, Julho de 1961, meio da tarde.

O pelotão é formado com urgência e recebe as novas espingardas G3, para substituição da velha Mauser, corre para a carreira de tiro, recebe instruções sobre o funcionamento da arma: para desmontar tiram-se estas cavilhas, o carregador mete-se assim...com esta patilha nesta posição dá tiro a tiro, naquela tiro de rajada...vamos disparar uns tiros... estamos aptos.

Agora era só meter no saco o estritamente necessário para uso pessoal e desandar para Farim porque tinha havido um ataque em Bigene.

Saímos de Bissau cerca das 18 horas e fizemos rapidamente o percurso até Mansoa pelo único troço de estrada alcatroada que conheci (julgo que o único existente na Guiné da altura).

Com a época das chuvas já em pleno, as viaturas sem cobertura alguma, só com o camuflado em cima da pele, as estradas de terra completamente alagadas a ponto de os tabuleiros das pontes ficarem abaixo do nível da água e a nossa ainda incipiente experiência no terreno, a coisa não começava nada bem, mas após alguns atascamentos e velocidades vertiginosas de cinco milhas à hora em grande parte do percurso, conseguimos chegar ao destacamento de cavalaria instalado nos arredores de Farim, cerca das vinte e três horas.

Foi-nos servido um jantar engolido à pressa, e toca a correr para Bigene, onde passámos a noite à espera “que o assassino voltasse ao local do crime”, mas como não voltou, de manhã cedo voltámos a Farim.

Passámos o primeiro dia uns a dormir no chão do alpendre da caserna dos camaradas de cavalaria, eu fazendo serviço da minha especialidade, e à noite, depois de mascarrarmos a pele visível com fuligem das panelas, fomos emboscar um grupo de inimigos que, segundo informações (não fidedignas, pelos vistos), ia infiltrar-se em Farim.

Deitados no capim a uns metros do caminho por onde era suposto passarem, suportámos chuvadas fortes e constantes com a água a correr por baixo dos corpos e quando a chuva acalmava vinham nuvens de mosquitos, que nos faziam rogar aos santinhos para que voltasse a chuva e muito vento.

Movimentos físicos, só respirar, para não denunciarmos a nossa presença.

Não apareceu ninguém, nem nessa noite nem em mais uma ou duas operações semelhantes, porque certamente eles tinham melhor serviço informativo que o nosso.

Continuávamos a dormir no chão do alpendre, mas a partir de certa altura os camaradas de cavalaria, bons alentejanos, já revoltados com a nossa situação, permitiram que esticássemos o corpo nas suas camas durante o dia. Para os que podiam dormir durante o dia...

Estivemos nesta situação durante uns dias até que fomos ocupar um armazém desactivado em Farim e nos concederam o privilégio de voltar a ter as nossas camas.

Estávamos a começar a entrar na rotina militar, quando se deu um ataque a Guidaje e lá fomos nós ver os prejuízos. Fomos acompanhados por um comerciante português vestido com farda militar que conhecia bem a zona (?).

Identificado com alguma dificuldade, o caminho para Guidaje, um caminho por onde só deviam passar viaturas no período de transporte da mancarra, a avaliar pelo mato que crescia nele, deparou-se-nos uma rudimentar ponte de madeira sobre um curso de água que, embora não muito largo, devido às chuvas corria com caudal bastante forte.

Foi com muita dificuldade que conseguimos atravessar passar para o outro lado, porque imediatamente antes do tabuleiro havia um lamaçal que fazia com que a frente do jipão se atolasse ficando o para-choques ainda mais baixo que o tabuleiro. Depois de muito trabalho muita lenha colocada na zona de lama e muitos impactos das viaturas contra a ponte, conseguimos passar e fazer o resto do percurso até Guidaje.

É obvio que nos limitámos a verificar as marcas deixadas pelos tiros que dispararam, a olhar para o armazém de mancarra parcialmente queimado e a conversar com alguns habitantes, após o que o comando da coluna decidiu, ao fim da tarde, regressar a Farim.

Na volta aguardava-nos uma surpresa, daquelas que, passados os instantes de espanto acabam em gargalhada. Da ponte que tanto nos custara a atravessar, restavam apenas umas estacas espetadas na margem do rio...O resto tinha-se desconjuntado com os impactos das viaturas e foi arrastado pela corrente.

Havia palmeiras muito próximo do rio e isso ajudou-nos a improvisar uma nova travessia à força de machadadas dadas com gana principalmente pelo cabo 957(?) também conhecido por Cabo Gordo pelos camaradas africanos, que a cada cinco machadadas derrubava uma palmeira. Depois desta demonstração das nossas capacidades na construção de pontes, ou mais precisamente na arte do desenrasca, e porque a fome já apertava, lá conseguimos chegar a Farim, tarde mas ainda a hora decente para o jantar, que continuava, tal como as outras refeições, a serem fornecidas pelo destacamento de cavalaria.

Entre reconhecimentos da zona, postos de guarda colocados em vários pontos da povoação e umas idas ao bar da piscina, explorado por um cabo-verdiano conhecido por Cuca, o tempo foi passando até que, com muitos protestos da população de Farim, que queria ter segurança e até se revezava para fazer chegar, durante a noite, aos postos de guarda as sandes e o café quente, recebemos ordem para regressar a Bissau...

É a tropa...Quem podia, mandava. A verdade é que até ao fim do ano a nossa vida, pelo menos a minha, foi uma pasmaceira e só à noite se animava, com a visita aos lugares onde se petiscava, bebia, confraternizava e, às vezes, também se arranjavam problemas com os camaradas da P.M. e não só...

O destacamento seguinte, já em 1962, foi Nova Lamego, tendo o meu pelotão sido dividido pelo triângulo Piche, Canquelifá e Buruntuma. À minha secção calhou Buruntuma.

Alberto Nascimento

3. Comentário de L.G.:

Em primeiro lugar, os meus parabéns. Tens uma memória invejável. De elefante! Feitas as contas, já se passaram... 47 anos!... (Só 47 anos, dirão alguns, afinal menos de meio século!)... E tu relatas a cena da ida, do teu pelotão, a Farim, Bigene e Guidaje, do teu pelotão, com a frescura dos teus 20 anos. Um espanto!

Em segundo lugar, as nossas desculpas (ou uma explicação). O teu mail, de 24 de Setembro, por qualquer razão não veio parar à nossa caixa de correio. Ainda bem que deste conta do lapso, se não tinha-se perdido uma história (com H...) mui preciosa, como diriam os nossos vizinhos da Jangada de Pedra...

Em terceiro lugar, os acontecimentos que tu nos relatas, obrigam-nos a rever a história da guerra da Guiné. Afinal, a guerra não começou em Tite, em 23 de Janeiro de 1963. Essa é a lenda que nos contam os camaradas do PAIGC, e que os historiógrafos (guineenses, portugueses e outros) tendem a reproduzir... tal como nós, aqui no blogue.

Pelo que tu nos contas, já usavas G3 em meados de 1961, em substituição da velhinha Mauser. E devias também usar capacete de aço! Imagino o suplício, com aquela torreira toda... Esta é, de facto, uma história da velhice mais velha! Portanto, em meados de 1961, os camaradas - possivelmente gente da FLING, e não do PAIGC - já andavama aos tiros aos nosssos comerciantes e aos seus armazéns de mancarra, lá na região do Cacheu , na fronteira com o Senegal, em Bigene e em Guidaje.

Este facto é historicamente importante. Estamos gratos pelo teu depoimento. Não hesistes em escrever, sempre que te der na real gana. O blogue é teu.

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Nota de L.G.:

(*) vd. postes de:

7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3181: História de vida (16): A falsa Mariama, mandinga de Bambadinca, a sua filha, e o seu amigo... (Alberto Nascimento)

14 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3059: Memórias dos lugares ( 9): Bambadinca , 1963 (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)

10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3044: Estórias avulsas (16): Os cães de Bambadinca (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)

11 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2930: Bambadinca, 1963: Terror em Samba Silate e Poindom (Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84, 1961/63

(...) " a CCAÇ 84, três meses depois de aterrar no aeroporto de Bissalanca, foi literalmente fragmentada e enviada para os mais diversos pontos do território, tendo o meu pelotão tido como último destacamento, entre Novembro de 1962 e 7 ou 8 de Abril de 1963, Bambadinca, sob o Comando de Bafatá.

"O primeiro destacamento, ainda em Julho de 1961, foi para Farim, após os primeiros e ainda pouco violentos ataques a Bigene e Guidaje. Seguiu-se o destacamento de Nova Lamego, conforme é dito no seu blogue (P 1292 - Contributos) onde o pelotão foi dividido por Buruntuma, Piche e Canquelifá.

"Só estou a mencionar o 1º pelotão da Companhia, porque à grande maioria dos camaradas dos outros pelotões só voltei a ver nos dias que antecederam o embarque para a Metrópole.

"Como a memória se perde no tempo por indocumentação, ou porque a essa memória se teve medo de atribuir qualquer importância (existiam e ainda existem muitos complexos sobre a guerra colonial), resolvi dar o meu contributo para esclarecer uma dúvida colocada no seu blogue, sobre quem teria participado nos massacres de Samba Silate e Poindom, no início de 63.

"Sem conseguir precisar o mês, um dia soubemos que a PIDE estava em Bambadinca para deter o padre António Grillo, italiano da Ordem Franciscana, acusado - não sabíamos se por denúncia, se por investigação - de colaborar, proteger, e fornecer alimentos a elementos do PAIGC, a partir de Samba Silate" (...).



(**) Sobre o ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963, e sobre a FLING, vd. postes de:

11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3294: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte I) (Carlos Silva / Gabriel Moura )

12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3298: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte II) (Carlos Silva / Gabriel Moura)

13 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3308: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte III) (Carlos Silva / Gabriel Moura)

13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3057: A Guerra estava militarmente perdida (26)? A situação político-militar na Guiné (A. Marques Lopes)

9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2826: FLING, mito ou realidade ? (2): Africanos contra africanos... (A. Marques Lopes)

7 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2818: FLING, mito ou realidade ? (1) (Magalhães Ribeiro, Fur Mil Op Esp, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa)

18 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2190: PAIGC - Quem foi quem (4): Arafan Mané, Ndajamba (1945-2004), o homem que deu o 1º tiro da guerra (Virgínio Briote)