sexta-feira, 3 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4633: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (10): Bafatá, Amor e Ódio

1. Mensagem de Torcato Mendonça (*), ex-Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), com data de 1 de Julho de 2009:
Camaradas,
Estava no Café e comecei a rascunhar.
Não é uma homenagem. Prefiro uma saudade, um voto que, quarenta anos passados, ainda por cá andem bem ou, se já partiram, estejam num Olimpo qualquer, em "terra de leite e mel" as "Virgens" de outrora, quais esculturas em ébano talhadas pelos Deuses. A Helena, Solemato, Ana Maria e não sei quem mais...
Reli e acabei por rir. De facto há aqui um problema... agora... já voltei a rir e a sanidade mental???
BAFATÁ; Amor e ódio
Era uma vez um homem jovem, tão jovem que, quando lhe perguntavam a profissão dizia: estudante.
Calmo, sorridente, bon vivant, o homem jovem percorria a vida de bem com ele e com os outros.
Um dia os velhos, gentes que não gostavam de jovens, disseram-lhe: - precisamos de ti. A partir de agora vamos tomar conta de ti e serás um tu, um ser com um número. Juntamos-te a outros seres a outros tu’s.
Fizeram-no. A princípio estranhou, protestou em surdina cada vez mais fraca, mais fraca e, de repente ou lentamente, começou a ser o tu, o número metamorfoseado e já diferente. Corria, saltava, fazia correr e saltar, brincava ás guerras com armas verdadeiras, dizia disparates como sendo verdades mais fortes do que leis, vestia como os outros, igual aos outros, vestuário esverdeado. Bonito o tom. Esverdeado.
Um dia pagaram-lhe uma viagem, só de ida e lá foi mar fora. Seguia o rumo outrora traçado pelas caravelas do seu País.
Parou e desembarcou numa terra diferente, terra quente, húmida, avermelhada, com densas matas e rios que eram tejos.
O tempo passou lentamente.
Ah esqueci-me. Era militar. Todos os que o acompanhavam o eram. Eram muitos mais de cento e cinquenta. O grupo dele tinha cerca de trinta, por vezes mais e outras menos.
E que faziam?
Defendiam a pátria. Defendiam um país do Minho a Timor. Só que eles ficaram logo na Guiné. Poupança no cruzeiro. Os velhos, mais um que os outros, eram poupadinhos.
Habituaram-se àquela vida. Eram unidos e defendiam-se em bloco como se fossem um. Porquê? Porque só assim podiam sobreviver.
Viviam, preferencialmente, nas matas em tabancas aqui e acolá. Tinham um aquartelamento meio enterrado, meio tudo e quase nada. O inimigo visitava-os a tiro de armas ligeiras e pesadas. Eles iam á procura deles e zás, catrapás, partiam-lhes as casotas de mato.
De quando em vez iam á cidade.
Primeiro passavam por uma aldeola onde estava o Batalhão. Assim habituavam-se ás casas e aos objectos que outrora usavam.
Quais? Tantos. Dos mais simples até aos mais complicados. Até ás portas. Sim na sede do Batalhão haviam portas. Quando, ao serem fechadas, batiam mais forte, pareciam saídas de armas pesadas… e lá vem ataque… salta macaquinho. Os residentes riam-se e diziam: é a porta… a partir de um mês de Maio começaram a saltar ou a estremecer… é a porta!
Nesse dia ou no outro, já mais adaptados iam até á cidade. A cidade era Bafatá. Tinha luz dia e noite, casas, ruas e gentes ou vestidas como eles ou com melhor roupagem sempre esverdeada. Outros vestiam roupagens garridas e bonitas de vida civil. Mas todos, toda essa gente, ria. Tinham piscina, sim piscina, casa bonitas, restaurantes, lojas de libaneses onde de tudo se vendia, cinema. Sim sala de cinema. Encostada á cidade haviam casas de putas, esculturas de ébano á disposição. Havia tanto.
Eles queriam num dia e numa noite viver tudo, ter tudo. Bebiam, comiam, iam ás putas (gente boa), á piscina para terror de quem lá estava, ao mercado e ás lojas, ao cinema. Tudo num dia e numa noite.
Olhavam os outros iguais a eles, vestidos como eles ou á civil e gostavam de os ver rir. É bom rir. Tentavam rir mas ficavam com a cara dorida.
Tinham pena dos bafatenses se um dia fossem para o mato. Como seria?
Que interessa isso? Será que eles sentiriam por aquela gente um misto de amor e ódio? Ou inveja? Nada disso. Cada um na sua e eles já não sabiam viver de outra maneira. Nem uns nem outros.
No dia seguinte, por vezes logo no final do primeiro, voltavam.
Vestiam e apertavam roupas, cinturões e cartucheiras, granadas e armas, afivelavam a máscara do ódio, do sempre pronto para tudo e partiam. Nunca olhavam para trás. A estrada asfaltada já era igual á picada de mil perigos.
Voltavam a ser números. Será que os homens da cidade, vestidos como eles eram também números? Certamente que sim, números felizes e que sabiam rir. Vidas. Tantas vidas, numa só vida.
Adeus Bafatá até á próxima…
Torcato Mendonça
Alf Mil da CART 2339
_____________
Notas de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
1 de Julho de 2009 > 1 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4618: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (9): Cansamba, subsector de Galomaro, 1 de Agosto de 1969

Guiné 63/74 - P4632: Os bu... rakos em que vivemos (13): Sare Banda um dos bu…rakos em que morremos! (A. Marques Lopes)


1. O nosso Camarada Luís Graça tem andado a arrumar os seus “papéis” e descobriu entre o seu “correio” atrasado, uma mensagem do A. Marques Lopes, coronel (DFA) na situação na reforma, que foi Alferes Miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/1968), sobre o seu bu.. rako em Sare Banda, e que sendo uma matéria sempre actual, hoje publicamos:

Sare Banda estava perto de Sinchã Jobel, e é natural que fosse atacada. O alferes morto foi o Carlos Alberto Trindade Peixoto, o meu segundo substituto. O outro morto foi o Furriel Raul Canadas Ferreira. Mas as circunstâncias da morte deles não estão devidamente relatadas.Foi assim: este, como todos os destacamentos da CART 1690, não tinham luz eléctrica, nem mesmo um miserável gerador. Eles estavam os dois numa tenda a jogar às cartas, com um petromax aceso. Para os guerrilheiros foi muito simples, foi só apontar o RPG2. As fotografias que mando tirei-as em Abril 2006, quando a caminho de Sinchã Jobel. Vai também uma fotografia (Google) de Sinchã Sutu, que ficava mais abaixo, mais perto de Sare Ganá.

UM ATAQUE A SARE BANDA

08SET68

DESENROLAR DA ACÇÃO

01. Acção inicial do IN

Em (0821H00SET68), um numeroso grupo IN, estimado em cerca de 100 elementos instalados em semi-circulo nas direcções NE-SW e SE-NW, atacou o destacamento de SARE BANDA com o seguinte armamento:

- Canhão s/recuo- Morteiro 82
- Lança granadas RPG-2
- Lança granadas P-27 "PANCEROVKA"
- Metralhadoras pesadas
- Metralhadoras ligeiras
- Armas automáticas
- Armas semi-automáticas

O ataque foi iniciado com um tiro ao canhão S/Recuo e dois Lança Granadas Foguete, dirigidos contra a cantina e depósitos de géneros que atingiram mortalmente o Alferes Comandante do Destacamento e um furriel e provocaram ferimentos numa praça. Estes tiros iniciais do IN atingiram e destruíram ainda o mastro da antena horizontal do rádio, ficando assim o destacamento de comunicações cortadas com toda a rede de GEBA. No seguimento da acção do IN atingiu com uma granada incendiária uma barraca coberta por 2 panos de lona de viaturas pesadas, onde costumavam dormir vários elementos das NT por não caberem todos nos abrigos, o que provocou a destruição de todo o material lá existente e iluminação das posições das NT.

02. REACÇÃO DAS NT

a) Das forças do destacamento

Após a surpresa inicial dos elementos que se encontravam fora dos abrigos correram para os mesmos e reagiram imediatamente ao ataque IN. Não obstante terem ficado sem o seu Comandante sem comunicações logo aos tiros iniciais, nunca perderam a calma e o moral, opondotenaz resistência aos intentos do IN. Refira-se que logo no inicio da reacção as NT atingiram com tiros de morteiro a guarnição IN do canhão s/recuo calando-o definitivamente, e cm determinada altura do ataque repeliram energicamente uma tentativa de penetração de elementos IN ao destacamento, que para o efeito haviam conseguido chegar junto da rede do arame farpado. Essa reacção feita só à base de tiros de espingarda G-3 e granadas de mão em virtude de se ter avariado o Lança Granadas Foguete, foi verdadeiramente eficaz e decisiva para o desenrolar dos acontecimentos, pois o IN foi obrigado a recuar deixando no terreno 3 mortos além de armamento e arrastado consigo outros elementos feridos e mortos.

O IN sempre perseguido pelo fogo das NT recuou cerca de 200 metros instalando-se entre SARE BANDA e SINCHÃ SÜTU donde continuou a flagelar o destacamento ate cerca das 22H30 (1 hora e 30 minutos depois do inicio do ataque) desistiu dos seus intentos retirando definitivamente.
b)-Das forças de GEBA/CART 1690Em virtude das péssimas condições atmosféricas não foram ouvidos em GEBA os rebentamentos de forma a poderem ter sido localizados. Refira-se ainda que o facto do destacamento de SARE BANDA ter ficado sem comunicações logo de inicio do ataque, só permitiu que em GEBA se tivesse conhecimento do sucedido cerca das 09H0209SET68 e através de 2 praças do destacamento que haviam vindo a pé voluntariamente comunicar a ocorrência.

Prontamente saiu de GEBA uma coluna de socorro que ao atingir SARE BANDA às 05H45 fez um reconhecimento nos arredores seguido de batida de madrugada, mas já não conseguindo contactar com o IN, que havia retirado na direcção de DARSALAME e se dirigindo para SINCHA JOBEL. RESULTADOS OBTIDOS Baixas sofridas pelo IN; 8 mortos confirmados. Muitos feridos sendo possível que hajam mais mortos devido aos rastos de sangue encontrados no carreiro de retirada do IN.

Material capturado ao IN:

- 1 Espingarda semi-automática "SIMONOV" cal. 7,62 mm
- 1 "Espingarda automática G-3 / 7,62 mm
- 1 Granadas de canhão s/recuo
- 2 "Granadas de lança-granadas foguete
- 1 Granadas de morteiro 82 mm
- 2 Granadas de mão OF. RG-4
- 8 Carregadores de Met. Lig.
- 2 Fitas de Met. Lig.
- 2 Facas de mato
- 2 Bolsas p/transporte de munições
- 2 Cantis
- Diversas Munições de armas aut.
- 1 Bolsa de medicamentos com o seguinte;
- 3 Streptomycin. Sulphite-ampolas de 5.000.000 (Frascos)
- 1 Éter (frasco)
- 1 Mercúrio cromo (frasco)
- 1 Bálsamo (frascos)
- 10 Injecções (desconhecidas em ampolas)
- 178 Aspirinas comprimidos (carteiras)
- 96 Madexposte em comprimidos
- 6 Chinim Sulfur (comp. emb. de 5)
- 5 Codemel (carteiras de 10 Comprimidos)
- 1 Adesivo (rolo)
- 1 Algodão cardado (maço)
- 1 Garrote
- 20 Ligaduras de gaze de 10 cm x 5cm
- 1 Seringa de plástico c/agulha

A. Marques Lopes
Alf Mil da CART 1690
____________
Notas de M.R.:

(*) Vd. também poste sobre esta matéria em:

28 Maio 2005 > Guiné 63/74 - XXVIII: Um ataque a Sare Banda (1968)

(**) Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4631: Controvérsias (31): Os Milicianos, combatentes de primeira, cidadãos de segunda (Vasco da Gama)

1. Mensagem de Vasco da Gama (*), ex-Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, 1972/74, com data de 30 de Junho de 2009:

Camarada Editor Carlos Vinhal,

Junto envio texto bem como algumas fotos que serão por ti colocadas no desenrolar do escrito, ou no final. Sempre o pedido do periquito informático: Chegou o Texto e as Fotos?
Caro carlos, vou enviar, depois vejo as fotos e indico a legendagem.
Desculpa.
Abração
Vasco da Gama

P.S. Para além dos dois destinatários acima é costume, ou bom hábito, dar conhecimento aos outros dois Editores?


OS MILICIANOS (não só os Cabos), COMBATENTES DE PRIMEIRA, CIDADÃOS DE SEGUNDA.

Ao contrário do que já li, creio que o Post 4584 do nosso Camarada Libério Lopes, é deveras importante, bem como alguns dos comentários que se lhe seguiram, levantando uma questão pertinente e fazendo comparações que não têm nada de injustas.

As banalidades que hoje vou escrevinhar, quero-as mais abrangentes, pois como disse, o escrito do nosso camarada Libério, foi depois enriquecido com alguns comentários, abrindo desta forma a porta para que possa falar dos Milicianos em geral.

No que diz respeito aos Cabos Milicianos/Furriéis e face ao papel que desempenharam, primeiro na formação e instrução das Companhias, onde no caso concreto da minha CCav8351 foram de uma utilidade enorme, trabalhando em conjunto com os aspirantes, desempenhando alguns deles, na ausência dos aspirantes, exactamente as mesmas funções, eram discriminados nas regalias, vou chamar-lhes sociais e fundamentalmente no pagamento dos serviços que prestavam. Ignoro qual o fosso salarial entre um aspirante e um cabo miliciano, mas fosse qual fosse, era tremendamente injusto para a similitude dos papéis que desempenhavam na formação activa das Companhias e no enriquecimento do cimentar das relações de TODOS os elementos de uma Companhia. Mais tarde, na guerra, foram peças fulcrais na minha Companhia e presto-lhes a minha humilde homenagem. Também não sei a diferença salarial entre um alferes e um furriel, mas o funcionamento do sistema, na sua génese, tinha por bom criar uma separação entre as pessoas, para mais fácil utilização do argumento do galão em detrimento do diálogo inteligente. Felizmente, tive a sorte de ter um conjunto de furriéis que, pela sua excelência, em muito contribuíram para que e em face dos perigos que corremos, a nossa CCav 8351 não fosse mais fustigada por um número maior de baixas e que irmanados com os alferes com os soldados e comigo, constituíram uma equipa que se fosse de futebol lhe chamaria de “dream team”.

Não é por mero acaso que dois furriéis da minha Companhia foram graduados em alferes, sendo a dificuldade a da escolha. Ficaram de fora outros que dariam também excelentes alferes em qualquer Companhia.

Obrigado a todos, Camaradas e Amigos.

Caros Camaradas, também eu que fui Capitão Miliciano senti discriminação enquanto militar Miliciano tendo de engolir, contra todos os meus princípios, metade das respostas que alguns oficiais do quadro, nem todos, mereciam da minha parte face a medidas que tomavam num mapa muito grande, preenchido por alfinetes coloridos, debitando algumas baboseiras, do embosque aqui, assalte acolá, cambe o rio acoli, sem terem o mínimo conhecimento do terreno que nos obrigavam a pisar. Quão diferente é um quilómetro no mapa de um quilómetro no terreno, mas eles não sabiam disso; só conheciam o mapa, o terreno era para nós os MILICIANOS.

Quero ressalvar que esta minha exposição tem a ver com a realidade que eu vivi no comando da Companhia de Cavalaria 8351 e reporto-me a vivências pessoais nos matos do Cumbijã e de Nhacobá, sendo que este somatório de factos que relato não tem a ver com pessoas enquanto tal, mas com os cargos que desempenhavam.

Quantos oficiais profissionais me acompanharam, quando fui ocupar aquele imenso campo de minas que era então o desértico Cumbijã?

Foto 1 - O Cumbijã desértico, povoado de minas.

Quantos oficiais profissionais me acompanharam no assalto a Nhacobá?

Quantos oficiais profissionais estiveram presentes na operação “Lance Pertinente” em 1973 que tinha como objectivo, pasme-se, fazer um reconhecimento à Região do Unal? Eu estava de férias em Portugal, por isso e relativamente a esta operação fico-me por aqui, adiantando apenas que foram envolvidas cinco Companhias e centenas de carregadores que acarretavam bidons e paus à cabeça, para cambar determinado rio, sob chuva que caiu ininterruptamente durante vários dias. Cinco companhias camaradas no Teatro de operações! Quem as coordenou no terreno? Terá sido o Alferes da minha Companhia que marchou com o seu pelotão à frente desta operação de seu nome FLORIVALDO dos SANTOS ABUNDÂNCIO, apesar da presença de capitães milicianos na operação? Se não foi qual a razão de ter sido ele a elaborar o relatório? Ou ter um oficial profissional ido de Aldeia para o nosso Cumbijã e permanecido durante cinco dias já dava direito a louvor?

Foto 2 - Saída para o mato. O Alferes Abundâncio no meio do grupo de combate com a sua farfalhuda bigodeira.

É verdade que os alfinetes coloridos se enganaram no nome dos rios? E os rios que eram, para os alfinetes, simples fios de água, que tinham de ser atravessados com água pelo peito? O meu Camarada e Amigo Abundâncio, um destes dias, quando os afazeres profissionais lhe permitirem, escreverá sobre o assunto. Cabe aqui uma palavra de respeito, carinho e agradecimento ao Abundâncio, grande Homem grande Camarada e grande Amigo.

Quantos oficiais profissionais estiveram com OS TIGRES quando nos mataram o António Bento Boa? E o Victor Coelho? E o Fausto Costa? Todos estes meus companheiros foram mortos em combate em situações e dias diferentes.

Foto 3 - O Alferes Beires juntamente com outros camaradas, aparecendo à esquerda da foto com um balde na mão o nosso camarada Fausto Costa, morto em combate a 21 de Agosto de 1973.

Quanto recebem as famílias destes meus queridos camaradas de pensão? Sim, só falo em termos monetários, pois sobre o reconhecimento da sociedade para com eles estamos conversados!

Quanto recebem de reforma os meus camaradas feridos gravemente em combate evacuados para a então Metrópole?

Quanto recebe de reforma o nosso camarada Batista, membro do nosso Blogue, mais conhecido pelo morto-vivo?

Já agora, quanto recebe de reforma um qualquer coronel, que no meu tempo tinha a mesma patente que eu?

Houve oficiais profissionais que se distinguiram? Não posso dizer que não, mas esses não viveram nenhuma das situações que eu descrevi e que são as que conheço. Reafirmo o que já disse uma vez, agora com maior precisão: quem aguentou a guerra dos tiros, no mato que eu conheço, foi a tropa macaca a que eu me honro de ter pertencido.

Quero apenas ressalvar que a sacrificada Companhia do Guileje e de Gadamael Porto, a nossa irmã, CCav 8350, Os Piratas, quando foi para o Cumbijã a 29 de Novembro de 1973, era comandada na altura por um Capitão do Quadro Permanente o então Cap Rui Reis (nunca mais o vi), com quem sempre tive relações cordiais. O Cap Reis foi depois substituído pelo Cap Vieira, com quem me encontrei há dias, sendo hoje Coronel reformado. Para eles um abraço extensivo a todos Os Piratas de Guileje, que tiveram quatro ou cinco Comandantes de Companhia e que sofreram horrores no porrete da guerra, tendo ainda de aguentar com bocas que roçavam o enxovalho! Nas pessoas dos meus Amigos Manuel Reis, João Seabra e Casimiro Carvalho, as minhas homenagens a todos OS PIRATAS de GUILEJE.

Nem de propósito, num post da autoria do meu Amigo Santos Oliveira, com o número 4608 é relatado episódio que o envolve a ele e a um combatente natural da Guiné de seu nome João Bacar Djaló. O primeiro era furriel e o segundo alferes. Não o vou repetir, está lá tudo, preto no branco. Retiro apenas afirmações avulsas como “os graduados são sempre inferiores” ou “os nativos quando comandam tropas são sempre inferiores”!!! Também eu, que comandei como Miliciano uma Companhia, era graduado, logo capitão de segunda, logo chefe de um qualquer bando acoitado no arame farpado, só faltando dizer que tudo o que OS TIGRES fizeram se deveu aos estrategas de operações ou aos inteligentes do bem bom do ar condicionado. Claro que depois de ter servido como capitão, fui desgraduado e ao passar à disponibilidade, tive as exactas regalias de qualquer outro alferes. É o usar e deitar fora, apanágio das capelinhas que por aí pululam.

Foto 4 - Azambuja Martins, Vasco da Gama e o nosso homem da bianda, Xico Ferreira.

Foto 5 - Furriel Azambuja e Furriel Joaquim da Silva Costa em Nhacobá.

O que é premiado nesta sociedade que me vai consumindo?

O Mérito ou o Carreirismo?

O Valor ou o Oportunismo?

Os Sabedores ou os Seguidores?

Os Inteligentes ou os Bajuladores?

Responda quem souber, mas de uma coisa tenho a certeza:

Os meus queridos camaradas da 8351, independentemente do posto, tiveram na sua esmagadora maioria, Mérito, Valor, Sabedoria e Inteligência.

Numa sociedade em que quase todos se atropelam no afã da busca dos seus objectivos, numa sociedade onda ninguém agradece nada a ninguém, eu curvo-me perante todos eles, os mortos, os feridos e os que me acompanharam até ao dia do nosso regresso tanto mais, como alguém disse, NINGUÉM MORRE POR DOBRAR A COLUNA SEMPRE QUE ACHE NECESSÁRIO!

Honraram-me com o seu companheirismo, como hoje me honram ao convidarem-me para o casamento dos filhos, para o baptizado dos netos ou para as comezainas em casa deste ou daquele.

Emblema da CCAV 8351 "Os Tigres de Cumbijã", que tinha como divisa ET PLURIBUS UNUM

Texto e fotos: © Vasco da Gama (2009). Direitos reservados


Um Abraço do Tigre
Vasco Augusto Rodrigues da Gama
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4532: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (III): Desertores

Vd. último episódio da série de 30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4614: Controvérsias (23): Milicianos… eram os peões das nicas! (Jorge Teixeira)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4630: Destas não reza a História (Manuel Maia) (4): História da esgraçadinha

1. Mensagem de Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74, com data de 30 de Junho de 2009:

Caro Vinhal,
Espero possa estar dentro dos parâmetros requeridos.


HISTÓRIA DA ESGRAÇADINHA

Chamava-se Sousa, Zé Sousa, casado, pouco mais de vinte anos, estaria a entrar nos vinte e dois...

As saudades roíam, traço comum a todos quantos por essas terras de África suportavam a canícula e o afastamento dos seus...
Para o Sousa, as saudades da família, pais e muito recentemente mulher, essa Maria Rosa que lhe aquecera a cama e afogueara o corpo uns vinte dias antes do embarque eram algo que não conseguia superar...

Dera o nó lá na igreja da terra pouco antes de o meterem naquele pássaro de metal que o levaria à Guiné.

O Zé e a Rosa, a Maria Rosa, haviam sido imprudentes, tentações do diabo...

Coitada da Maria Rosa, orfã de pais desde tenra idade, vivia com a avó, a Ti Clarinda, uma mulher de armas que criara os filhos (quatro que não vingaram além da idade escolar, e a Felismina, mãe da Rosa, que morrera ao dar à luz o seu rebento...

O genro, pai da Maria Rosa acabaria cadáver à mercê do pó das minas, profissão que abraçara faz tempo para dar melhor vida à família...

A Ti Clarinda lá foi levando a água ao seu moinho, que é como quem diz, criando a neta.
Foi avó e mãe de Rosa...

Agora, coitada, estava quase cega, cansada de uma vida de trabalho, de atribulações...

O Zé que lhe namorava a neta, era um bom rapaz, trabalhador.
Andava à jorna de lavrador em lavrador para ganhar o seu pão honestamente, ele também, filho de gente muito humilde e de trabalho.

Até que um dia, o Zé e a Rosa, a Rosa e o Zé, passaram além da Taprobana, descontrolaram-se e... a solução foi casar...

Nunca passara na cabeça do Zé fugir à responsabilidade...

Até porque a Rosa, coitada, era orfã de pai e mãe...

Mas agora que o sr. padre Olegário os casara, impusera à Rosa que fossem viver para casa dos seus pais.

- E a minha avó, Zé?

-Vais visitá-la quando quiseres, mas o lugar de uma mulher casada é na casa do marido... Quando entenderes passas pela sua casa. Não te preocupes que os vizinhos são gente boa e todos lhe põem uma mão, está descansada. Depois de eu regressar da tropa, da guerra, logo que a gente possa, fazemos uma casinha naquele cibo de terra que o meu pai comprou ao sr. António Regedor, e depois a tua avó vai viver com a gente... podes dizer-lhe.

-Coitada da minha avó!

Partira uns escassos vinte dias, três semanas, do enlace (tinham-lhe dado 15 dias de licença e o capitão deu o resto...)

As saudades roíam-no, e a falta daquele corpo quente colado ao seu com um cheirinho tão apetitoso, empurravam-no para o copo, que no seu caso específico de homem do campo passava obrigatóriamente pela água pé dos lavradores ou pela mistela de uvas que se fazia na casa do seu pai com predominância para o vinhão ou jacqué, para dar cor, e muito americano que não precisa de tratamento...

À falta disso e como não conhecia as bebidas de sociedade, nunca tinha provado scotch, gin ou algo similar, refugiava-se na popularíssima cerveja - que à altura ainda não sustentava jogadores da bola nem as sads do mesmo - emborcando garrafa atrás de garrafa, numa procissão de 33cl que acabaria por derivar para a chamada bazzoka de litro...

Foi este o começo de vida atribulada do Zé Sousa, um militar como tantos, que até à submissão face à cerveja, se pautara sempre por um comportamento perfeitamente normal, senão mesmo exemplar...

As saudades moíam-no, era assaltado pela dúvida.
O que estará ela agora a fazer, a sua Rosa?
E se algum bandalho lhe dirigia palavra quando ia visitar a avó?

Os ciúmes roíam-no deixando-o à beira de um ataque de nervos.
Tornava-se irrascível.
O álcool fazia o resto.
A sua vida encontrava-se agora num patamar de perigo dada aquela dependência evidente.
O capitão proibe que lhe vendam álcool.
O Zé inicia uma fase complicada de ressaca...
Não tem dinheiro para poder sequer pensar em férias na Metrópole.
Logo, a ideia era beber até cair na esperança de ver o tempo voar...

Mas era custoso.
Os dias arrastavam-se caracoleando ao invés de voarem como era a sua vontade e a de todos, afinal...

Um dia, o Zé fazia anos e estava em regime de abstinência total (claro que não era total pois a solidariedade não era palavra vã entre militares e havia sempre forma de controlar o obstáculo...
Especialmente depois de uma operação sabia bem uma geladinha e depois um cigarro.

o capitão comutou-lhe a pena por um dia e permitiu-lhe contornar o castigo ao deixar que comprasse uma grade de cerveja para si e os amigos mais próximos...

Estranhamente o número de amigos do Zé, diminuiu drásticamente e vai daí, ele para não desperdiçar o líquido, fez-se às outras 33, de g3 em punho, não para iniciar qualquer guerra mas porque com o gatilho abria rapidamente uma garrafa...
Foi o bom e o bonito...
Uma vez mais cirandou entre as duas fiadas de arame farpado (o tal onde os bandos se acoitavam...)

Trazia vestida a sua farda mais usual naquelas paragens... calção (fora do regulamento...) e faca de mato à cinta, numa reedição tarzaniana, a pedir meças a qualquer Weissmuller de pacotilha...

Deixáramo-lo à espera que os etílicos vapores fizessem efeito e vencido pelo cansaço entregando-se então nos braços de Morfeu, num amplexo do tamanho do mundo...

Depois de domado por Baco ou por Dionísio (consoante a apetência grega ou romana no desafio sistemático que este lhe fazia, e no qual era sempre apanhado, havia que deixá-lo dormir...

Não era nenhuma novidade este comportamento pelo que ninguém suspeitou do que pudesse via a seguir...

Subitamente o Zé Sousa saiu a correr em direcção ao mato.

Saíram uma meia dúzia em seu encalço, mas este mal os avistou, embrenhou-se naquela perigosa mata fugindo. Era um local perigoso para os escassos seis homens que haviam saído em seu encalce.
Haveriam de regressar uns quarenta ou cinquenta mas debalde...

Soube-se depois através da prisão de um inimigo que ele fora capturado por população hostil às nossas tropas e entregue ao PAIGC.

Nem a Maria Turra falaria nele...

Maria Rosa receberia o fatídico telegrama e caiu para o lado, fulminada...

A Ti Clarinda haveria de assistir ao funeral da neta...

Esta história correu mundo em romance de cordel, e foi cantada ao vivo nas feiras apoiada pela voz plangente de um violino.

Preparem as esponjas que a hora é de chorar!

Com um abraço a toda a tabanca me despeço hoje
Manuel Maia
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4610: Blogpoesia (51): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VII Parte): De Pombal (1755) até ao regente D. Miguel (1828)

Vd. último poste da série de 14 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4519: Destas não reza a História (Manuel Maia) (3): Desertei depois de ter vindo da Guiné

Guiné 63/74 - P4629: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (9): Dois pequenos amigos de quatro patas

1. Mensagem de António Paiva, Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 27 de Junho de 2009:

Camarada Carlos Vinhal,

Lembras-te do que me disseste quando me despedi de ti em Ortigosa?

Foi + ou – isto:

- Vê lá se escreves alguma coisa, ultimamente não tens mandado nada.

Pois bem, se achas que tens pouco trabalho, aqui te mando mais uma história, minha e de 2 pequenos amigos meus.

Àqueles Camaradas de quem não me despedi no Encontro, apresento as minhas desculpas.

A história:

Traquinas, travessos, saltitões e corredores de fundo, sempre lado a lado em grande velocidade (até faziam lembrar os nossos “Fiats”), para alcançarem o objectivo com estratégias bem delineadas.

Eram corredores de terra e asfalto, nos dois pisos batiam-se bem um com o outro, as “botas” não escorregavam.

Em vitórias penso que estavam iguais, pelo menos demonstravam isso na amizade que tinham um pelo outro.

Como se sentiam superiores ao número de patas (4), não se davam muito ao convívio, amigável, com os de duas.

Não é que fossem maus “putos”… mas simplesmente sabiam marcar posições.

Tinham dois locais determinados onde passeavam a sua pequenez. Um deles era no terreno em frente á morgue, largo e comprido, que tinha um heliporto asfaltado, que ele não pisava, contornava-o, talvez por não gostar muito de “altos voos”. O outro parava ao pé do refeitório, junto a uma árvore que ali se encontrava.

Foi difícil convence-los que eu era seu amigo mas, com o tempo, foram-se apercebendo que eu era só queria isso mesmo deles… ser amigo.

Quando me baixava com qualquer coisa na mão para lhes dar, lá se aproximavam, com calma… desconfiados, posso dizer que, algumas vezes, lhes dava uma rodelinha de chouriço para lhes ir ganhando a confiança e os ir “trabalhando” a meu gosto.

Os anos foram passando e eles crescendo, tornaram-se irrequietos, imparáveis e já percorriam todo o terreno em redor do hospital.

À noite já não os encontrava com facilidade e pensava: “Se calhar foram até ao Bar das cabritas - e sorria satisfeito - , mas está bem, também têm direito a divertirem-se.”

Até que o dia do meu regresso a casa chegou!

Nunca mais os vi, mas facilmente deduzo que acabaram por “perder” o pêlo e acabaram como costumam acabar todos os da sua raça… serem abatidos por (não)amigos de duas patas… passarem no “REGIMENTO dos TACHOS”... e terminarem barbaramente triturados pelos seus dentes.

Que saudades tenho destes meus amiguinhos de 4 patas.

Um abraço,
António Paiva
_____________
Notas de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4628: Estórias avulsas (12): Histórias passadas na Guiné (TCor José Francisco Robalo Borrego)

1. Mensagem de José Francisco Borrego (*), Ten Cor na Reserva, que pertenceu ao Grupo de Artilharia n.º 7 de Bissau e ao 9.º Pel Art, Bajocunda (Guiné, 1970/72), com data de 29 de Junho de 2009:

Caríssimo Carlos,

Desculpa lá mais esta trabalheira! Começamos a puxar pela memória e depois vêm à superfície factos passados há quase 40 anos!

Faço votos para que te encontres bem na companhia da Excelentíssima Família. Ainda não foi este ano que nos conhecemos pessoalmente. Uns problemas domésticos impediram a minha ida ao convívio de 20 de Junho de 2009, que pelos vistos correu às mil maravilhas! Se Deus quiser para o ano, vou fazer os possíveis para estar presente.

Um abração de muita amizade do
José Borrego


HISTÓRIAS PASSADAS NA GUINÉ

Caríssimo Carlos Vinhal,

já faz algum tempo que não te aborrecia com trabalho deste género. Andei à procura nos recantos da memória e encontrei meio amarelas, mais umas histórias passadas na Guiné no período, 1970-1972, dando mais um contributo para o enriquecimento do património histórico e social da nossa Tabanca Grande. Se achares conveniente faz o favor de as publicar.

Em fins de 1970 (Outubro?), apresentou-se no Grupo de Artilharia n.º 7 (GA7) o Senhor major Gaspar, acabado de ser promovido, para assumir as funções de 2.º comandante do Grupo. O major Gaspar também conhecido por Gasparinho, comandava a Companhia de Artilharia 3330, estacionada em Nhamate e mais tarde em Bula. Era uma Companhia independente, cuja unidade mobilizadora foi o extinto Regimento de Artilharia n.º3 (RAL n.º3) em Évora.

O comandante do GA7 era o Senhor tenente-coronel Ferreira da Silva que tinha por alcunha o Assassino da Voz Meiga, porque ao dirigir-se aos seus subordinados fossem eles oficiais, sargentos ou praças tinha por hábito tratá-los por “filho”; "Ó filho isto, ó filho aquilo"... mas na hora de administrar a justiça e disciplina (RDM) era um “pai” pouco meigo.

Um dia tratou o major Gaspar por “filho” e, como este gostava pouco de paternalismos, terá advertido o comandante que pai só tinha um e que não admitia que o voltasse a tratar com tal “afecto”.

Devido ao feitio do comandante, ou talvez não, o certo é que não morriam de amores um pelo outro e segundo se dizia tinham muitas divergências e acesas discussões.

No dia de todos os Santos era tradição fazer-se uma formatura geral com representantes dos três Ramos das Forças Armadas em frente ao Palácio do Governador da Província, salvo erro.

A representação do Exército coube ao GA7 com a incumbência de enviar uma força para a cerimónia do dia de finados, força essa, que sob a responsabilidade do major Gaspar terá chegado ligeiramente atrasada ao local da formatura,  o que desagradou profundamente ao comandante perante o olhar das altas entidades.

Como cmdt e responsável máximo, o ten cor  Ferreira da Silva terá feito uma chamada de atenção ao major Gaspar, que não tendo gostado da “repreensão” em público, desatou aos berros e com insultos ao cmdt, sendo retirado do local por um oficial conhecido, pondo termo ao espectáculo deplorável!

Para quem conhecia a personalidade do major Gaspar, aquilo foi uma atitude perfeitamente natural em linha com o seu temperamento. Para a época era, ou parecia ser, um oficial desinibido, frontal e, por vezes, desafiador da disciplina. Dizia-se que na sua folha se serviços tinha tantos louvores como castigos e que gozava de alguma simpatia, junto do Senhor General António de Spínola, devido às suas características peculiares.

No regresso à Unidade os dois comandantes discutiram o incidente anteriormente ocorrido, tendo ambos chegado, ou quase chegado, a vias de facto e a situação só não foi mais grave, porque um oficial se intrometeu entre os dois.

Perante a insubordinação do major Gaspar o cmdt mandou chamar o Sargento da Guarda para prender o major, mas este dizia ao 1.º sargento que não podia prendê-lo, porque não estava em flagrante delito. 

Este episódio durou algum tempo em que um mandava avançar o Sargento da Guarda e o outro mandava-o recuar... Houve até quem dissesse que o sargento da guarda,  impaciente e nervoso,  terá suplicado: "Meus comandantes, decidam-se lá, porque, segundo o Regulamento, o comandante da guarda não pode abandonar, o distrito da guarda, por muito tempo". Tal era o desconforto…!

Face ao sucedido o escalão superior procedeu ao respectivo processo disciplinar e criminal, acabando os dois por serem punidos com penas de prisão.

Contam-se muitas histórias a respeito do major Gaspar, o Gasparinho,  e que ainda hoje são motivo de boa disposição entre camaradas que tiveram o privilégio de servir sob o seu comando na Guiné. A propósito, socorrendo-me da memória aí vão três deliciosas:

1. Na época das chuvas os abrigos/locais de trabalho do major Gaspar e do seu 1.º sargento ficaram completamente inundados. O diligente major Gaspar (ainda capitão) não perdeu tempo e enviou um rádio (mensagem) para o escalão superior, solicitando com máxima urgência dois escafandros para entrarem nos abrigos, visto nem ele, nem o 1.º sargento saberem nadar…

2. A certa altura o pessoal do BEng 447 foi colocar chapas de zinco nos telhados das casernas (barracões?) da companhia. Passados uns dias um tornado muito forte arrancou as ditas chapas e nunca mais ninguém as viu. O inevitável capitão Gaspar perguntou ao BEng por mensagem mais ou menos nestes termos: Solicito informe se chapas colocadas nesta em tal data… regressaram à sua Unidade de origem…

3. Também se dizia que o seu substituto na companhia um dia telefonou-lhe a perguntar se tinha assuntos pendentes para resolver, ao que o major Gaspar respondeu que pendente só tinha os tomates…

Um homem com estas atitudes só podia ser diferente e muito considerado pelo seu refinado sentido de humor. Humor que em tempos de guerra é necessário e fundamental para o moral das tropas. Nem só de pão vive o homem…

Esta também é gira: O comandante um certo dia, depois do almoço, foi ver o andamento das obras a decorrer no quartel e ao aproximar-se do sargento encarregado das mesmas, disse:

- Ó filho as obras não andam?

Ao que o sargento respondeu:

- Saiba V.Exª. meu comandante, que as obras não têm nem nunca tiveram pernas para andar.

Perante tal resposta o cmdt da CCS teve de interceder pelo sargento (que nesse dia devia estar com os azeites) mas ainda assim foi de castigo, para o mato, uns meses.

Nota 1: O original das histórias é capaz de estar um bocado adulterado, devido ao muito uso, mas penso que o essencial está intacto.

Nota 2: O GA7 era uma Unidade de Guarnição Normal sediada em Bissau - Santa Luzia. Recebia militares de rendição individual (nomeadamente oficiais, sargentos e cabos especialistas); os soldados na sua larga maioria pertenciam ao recrutamento da Província e tinha à sua responsabilidade os pelotões de Artilharia de Obus 14, 11,4, 10,5 e 8,8 cm, respectivamente, disseminados pelo TO da Guiné, assim como as Baterias de Artilharia Antiaérea.

Infelizmente, o major Gaspar já faleceu. Curvo-me perante a sua memória e paz à sua alma.

Linda-a-Velha, 29 de Junho de 2009

Um abração para todos os camaradas de armas, da Tabanca Grande, espalhados pelo mundo com votos de muita saúde.

Guiné 63/74 - P4627: Bibliografia de uma guerra (52): Andanças e... Cambança(s), de Alberto Branquinho (Luís Graça)


Lisboa > Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella > 2º Ciclo de Conferências 'Memórias Literárias da Guerra Colonial' > 4 de Junho de 2009 > Apresentação de livro de contos Cambança - Guiné, Morte e vida em maré baixa (*) > Na mesa, o autor, Alberto Branquinho, natural de Vila Nova de Foz Côa, residente em Lisboa, jurista de formação, reformado da TAP, membro da nossa Tabanca Grande, ex-Alf Mil p Esp da CART 1689 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69)...


Lisboa > Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella > 2º Ciclo de Conferências 'Memórias Literárias da Guerra Colonial' > 4 de Junho de 2009 > Apresentação de livro de contos Cambança - Guiné, Morte e vida em maré baixa > Na mesa, o Alberto Branquinho, autor, à esuerda, e o José Paulo Sousa, moderador e anfitrião, à direita.


Lisboa > Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella > 2º Ciclo de Conferências 'Memórias Literárias da Guerra Colonial' > 4 de Junho de 2009 > Apresentação de livro de contos Cambança - Guiné, Morte e vida em maré baixa > Uma presença já habitual nestes encontros, a Profª Doutora Ana Faria, do Departamento de História, do ISCTE, que se interessa pela problemática da colonização e descolonização, e é visita regular do nosso blogue, que considera um fonte de informação privilegiada.




Lisboa > Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella > 2º Ciclo de Conferências 'Memórias Literárias da Guerra Colonial' > 4 de Junho de 2009 > Apresentação de livro de contos Cambança - Guiné, Morte e vida em maré baixa > A escritora Joana Ruas (n. 1945), autora de A Pele dos Séculos (Lisboa, Ed. Caminho, 2001) (**) dando testemunho da sua vivência, na Guiné-Bissau, no pós-25 de Abril, como simpatizante do PAIGC (acompanhou a guerrilha nas 'regiões libertadas' e integrou, como jornalista cultural, os quadro do Nô Pintcha, desde o seu nº 1).




Lisboa > Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella > 2º Ciclo de Conferências 'Memórias Literárias da Guerra Colonial' > 4 de Junho de 2009 > Apresentação de livro de contos Cambança - Guiné, Morte e vida em maré baixa > Entre a assistência, as antigas enfermeiras pára-quedistas Piedade e Giselda (esta última, honrando-nos com a sua presença na Tabanca Grande). No lado direito, o nosso camaradade Manuel Amaro (ex-Fur Mil Enf, CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71), abordando um tema delicado, as relações inter-étnicas no tempo da guerra colonial, e em particular entre guineenses e caboverdianos...


Lisboa > Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella > 2º Ciclo de Conferências 'Memórias Literárias da Guerra Colonial' > 4 de Junho de 2009 > Apresentação de livro de contos Cambança - Guiné, Morte e vida em maré baixa > Na primeira fila, o meu querido amigo e camarada José Martins (*).


Lisboa > Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella > 4 de Junho de 2009 > 2º Ciclo de Conferências 'Memórias Literárias da Guerra Colonial' > Apresentação, pelo autor, Alberto Branquinho, do seu livro de contos Cambança - Guiné, Morte e vida em maré baixa, 2ª ed. revista (Lisboa: SeteCaminhos, 2009). Na mesa, o autor, à esquerda, e o moderador, à direita.

Neste vídeo, o autor lê uma nota, manuscrita, em português, enviada por um guerrilheiro do PAIGC, Júlio M. Silva, para outro companheiro, Adelino Martins, combinando um encontro no ponto de cambança... A folha, em papel quadriculado e escrita a lápis, tinha sido dobrada várias vezes para permitir a sua dissimulação no vestuário (enfim, uma velha técnica da clandestinidade revolucinária) (Nota reproduzida em imagem, no livro, nas pp. 9-10).

O nosso Alberto foi um dos construtores do quartel de Gandembel (esteve, pelo menos, no seu início) e do de Gubia /Empada. Foi, além disso, um homem de andanças & cambanças, com "várias movimentações terrestres, fluviais e costeiras para outros quartéis-base de operações conjuntas (por ex., Bambadinca, Buba, Bedanda, Bafatá, Banjara)". A sua companhia andou por mais de 2/3 da então Guiné Portuguesa...

Vídeo (2' 57'') e fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados


Cambança deriva de cambar, v. intr., passar para o outro lado (do rio); termo náutico: mudar (as escotas das velas) para o lado oposto quando se muda a direcção da embarcação (Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). Curiosamente, o substantivo cambança, vocábulo crioulo da Guiné, não consta do Houaiss... Imperdoável...

O livro, de menos 100 pp., é apresentado como "um conjunto de pequenas histórias em tempo de guerra colonial, na Guiné"... Cerca de 30, ao todo. Meia dúzia são de antologia. O livro lê-se de um trago.

Algumas dessas histórias, embora não necessariamente com o mesmo título, já foram aqui reproduzidas no nosso blogue, na série Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (série que esteve activa durante quase um ano, de 30 de Maio de 2008 a 21 de Abril de 2009), e de que se publicaram 21 postes (***).

Recordo, a título de exemplo ou a talhe de foice, reportando-me ao livro:

- Paternidade instantânea (p. 25) (vd. poste de 21/11/08);
- O aniversário do Cabo Tomé (pp. 26.-29) (vd. poste de 5/2/09)
- Nosso cabo Abel bai na Bissau (pp. 33-35) (vd. poste de 26/11/08)
- Vultos na noite (pp. 30-32) (vd. poste de 3/4/09).
- Fuga para lá (menor ?) (pp. 36-38) (vd. poste de 2/12/08)
O Alberto não escreveu estas histórias na Guiné, mas sim muito mais tarde, em Lisboa onde fez a sua vida profissional. Faz questão de sublinhar que são ficção, pura e simples. Os lugares, os rios e as personagens não existem (O que não é inteiramente verdade: não é difícil reconhecer Catió, no conto Bene trovato / male trovato (pp. 74-77. Ou Bafatá... A única cidade que é referida explicitamente é Bissau).

A malta da sua antiga companhia, CART 1689, não se reconhece nem tem que se reconhecer nessas histórias. São situações em ambiente de guerra, por onde perpassa tudo ou quase tudo o que é gerado pela guerra: as tensões entre os militares, a conflitualidade e a cumplicidade com a população local, a omnipresença da Pide, a administração colonial, entregue aos caboverdianos, que não tinha já qualquer capacidade de intervenção directa, o padre capelão, voluntário, franciscano, o médico 'desalinhado', as misérias e as grandezas dos homens, a morte, a deserção, o jogo, o medo, a paixão, o sexo, o doença, a coragem, o pensamento mágico, etc.

O Alberto também sabe utilizar, muito bem, as expressões correntes, coloquiais, do crioulo da Guiné e a vivacidade das falas da gente local, para dar autencidade, cor e até sabor às suas histórias. Veja-se , por exemplo, Feitiço (pp. 39-40) ou esta que é curtíssima e é uma pequena obra-prima (Paternidade instantânea, p. 25):
__________________________

Em sentido contrário aproximava-se uma mulher em adiantado estado de gravidez, caminhando com dificuldade, amparada ao muro.

O sargento, que estava a observá-la:
– Ó meu alferes, escute lá esta.

Então, dirigindo-se à mulher grávida:
– Eh mulher! Bô tem sanju na bariga

Ela disparou imediatamente:
É, noss’ sargenti. Fidju di bô.

[Sanju é macaco... LG]


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Agradeço a oferta que o autor me fez, do seu livro, com a respectiva dedicatória: " Para o 'Grande Chefe' Luís Graça com um abraço do Alberto Branquinho. 4 Jun 2009".

Outras publicaçõies do Alberto Branquinho:

PreTexto (edição de autor); SobreVivências (Lisboa, SeteCaminhos); e Contos com encontros (Lisboa, SeteCaminhos).

Terminamos com a reprodução de alguns comentários sobre as shorts stories do Alberto, já publicadas no nosso blogue, nestes últimos meses:

(...) A forma como escreves, (suave riacho escorrendo as palavras), é duma realidade extraordinária; simples e concisas, as tuas descrições são uma força e beleza desta Tabanca Grande. Continua e a Nossa Tabanca maior se tornará (...) (Mário Fitas, 28/10/2008)

(...) Alberto! Não te conhecia essa faceta de poeta. Estás a ser uma revelação. Aliás, é para isso que serve o nosso blogue, para nos conhecermo-nos melhor e para nos darmos a conhecer uns aos outros... Passei, em tempo de paz, por Gandembel, há uns vezes atrás, mas - esquisito! - senti o mesmo que tu, que lá estiveste em tempo de guerra: Gandembel (...) terra / ávida de sangue de sangue e água / prenhe de chumbo e cinza.

Obrigado, camarada! (...) (Luís Graça, 4/11/2008)


(...) Branquinho! Cinco linhas! Cinco estrelas! Genial! Vamos ter livro [... não imaginava que o livro já estava publicado, e que ia ser feita uma 2ª edição, revista]...

Amigos e camaradas: Eu sei que o talento (literário), a capacidade de, através das palavras, exprimir ideias e emoções, contar histórias, etc., não está distribuído de maneira equitativa por todos nós... Todos diferentes, todos iguais, mas todos importantes e imprescindíveis... Eu, por exemplo, não sei pregar um prego...

Por outro lado, o talento (literário) não tem posto nem galões... Saramago, o nosso Prémio Nobel da Literatura, foi operário metalúrgico...Mas o que importa é tentar ousar escrever, coisas simples, pequenas histórias, do nosso quotidiano da Guiné... Aprendamos com os melhores de nós... (Luís Graça, 21/11/2008)

(...) Perdeu-se o 1º comentário. Repito parte, dizendo ao homem que não fala dele nem do seu umbigo: Parece que um dia fiz um comentário um pouco agreste. Mas gosto muito deste e de outros escritos. Gosto e sinto-os, Camarada.

Dupla desculpa pelo hipotético e epidérmico comentário e pelo tratamento. Quando li o texto vieram-me à mente recordações de homens que nunca tiveram férias. Era duro. Recordei um do meu Grupo que, depois de muitas horas debaixo de fogo, com vinte e um meses de comissão veio até Bissau. Estava 'rebentado'. Era um dos bazuqueiros. Faleceu, pouco depois em acidente de viação. Nâo conheceu a filha... 'Visitei-o', talvez em Maio, numa aldeia próximo de Beja. Faço-o se por lá passo. Não tenho coragem de ver a filha. Que diabo de homens somos nós ou alguns de nós??? (...) (Torcato Mendonça, 26/11/2008)

(...) Alberto, estás um mestre: em duas pinceladas desenhas uma personagem e um contexto, e contas uma história com tensão dramática ... E, lacónico, sabes, com magia, falar de emoções que nos eram proibidas... Os nossos medos, a nossa angústia, a nossa culpa, os nossos ódios...

Quantos capitães, sobretudo milicianos (mas também do QP), não pensaram, no seu íntimo, seguir os passos do Silvério ? A maior parte não desertou... Mas quem, deles, se atreve a atirar a primeira pedra contra o Silvério, os Silvérios que, nas férias, foram para a França ou para a Suécia, não tendo regressado â Guiné ?

Não sei se haverá muitas histórias dessas, de companhias órfãs, que ficaram sem o seu capitão, a meio da comissão ou até mais cedo... Sei que muitas companhias, na Guiné, tiveram mais do que um comandante, algumas até três e quatro capitães... Havia outros recursos menos dolorosos, mais cómodos, do que a vergonhosa (para a família...) deserção: a psiquiatria, a cunha, o compadrio, a corrupção, etc.

Já aqui falámos de algumas dessas companhias: a CART 2339 (Mansambo, 1968/69), do Torcato Mendonça; a CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74) do Sousa de Castro... Haverá muitas mais...

O que não deixa de ser motivo de interrogação e inquietação: porquê tão elevada taxa de turnover (rotação) de capitães, milicianos [e do QP], na Guiné ?

Eis um bom assunto para a nossa série Controvérsias... Talvez o Jorge Picado, que foi até agora o único capitão miliciano, se não me engano, a dar a cara e a contar a sua história de vida [, sem esquecer o Vasco da Gama!...], queira e possa abordar este tema-tabu, escaldante, incómodo...

Alberto, vamos ter livro! Parabéns! Esta é uma das histórias que vou pôr na nossa antologia, quando um dia tivermos que fechar o blogue... (Luís Graça, 2/12/2008)

(...) Continua... continua os teus maravilhosos escritos, sem o teu umbigo. São estas de facto a verdade da História de um povo que, passados quarenta anos, continua ignorante do que foi a passagem de seus jovens de antanho por uma guerra.

Parabéns! Um abraço do tamanho de um AirBus (...) (Mário Fitas, 3/1/2009)


(...) Porra! Se eu não tivesse o azar de ter passado pela Guiné, diria este tipo está a mangar comigo.

Depois de começar a ler, revi-me no cabo Tomé, até ao ponto da reviravolta, quando eles, os nossos amigos entraram na festa e fiquei arrepiado.

Veio-me à memória o Conceição Caixeiro. Era de Lisboa, não bebia em demasia, era pacato e pachorrento, mas passava o tempo a cantar e a cantar morreu, sabes aonde? Na cagadeira, simplesmente porque estava a cagar, cantando como sempre e não ouviu a saída da granada que o vinha matar, nem o grito de vários colegas - Aí estão eles! Ficou-se, com a nuca desfeita de encontro à parede da rectaguarda e só meia hora depois, quando à porta da enfermaria eu gritava de contente - Filhos da puta ! cabrões ! não há feridos..., aparece o Pedro, que faleceu há dias e me disse: - Teixeira, vem comigo - e eu fui, para ficarmos os dois agarrados um ao outro a chorar, de desespero.

Ainda bem que escreveste. Quanto me ajudaste ! (Zé Teixeira, 5/2/09)


(...) São estes momentos, Alberto, Zé, Mário, que nenhuma televisão do mundo (muito menos a nossa RTP) conseguiu filmar... É um quadro portentoso sobre as nossas misérias e grandezas. Obrigado, Alberto, pelo teu talento, delicadeza, ternura e compaixão com que falas, não de ti, mas de todos nós, camaradas da Guiné. E viva a nossa Tabanca Grande, que nunca será nem poderá ser política, social e literariamente correcta... Nem nunca precisará de pôr um bolinha vermelha ao canto superior direito... Que o nosso quotidiano também era feito de merda, umbigos, cus, caralhos, tomates, nervos, fel, coração, massa encefálica, medos e coragens, alegria e tristeza, vida e morte... E, acima de tudo, camaradagem, o cimento que nos unia, para lá de todas as nossas diferenças, reais e imaginárias... (Luís Graça, 5/2/09)
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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

1 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4448: Agenda Cultural (15): 2º Ciclo de Conferências “Memórias Literárias da Guerra Colonial”, em 4 de Junho (Alberto Branquinho)

27 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4592: Bibliografia de uma guerra (51): "Cambança" de autoria de Alberto Branquinho (José Martins)

(**) Joana Ruas, autora do romance A Pele dos Séculos:

"A Pele dos Séculos narra a lenta e dolorosa caminhada dos Africanos pela conquista de uma Pátria. O romance constrói-se sobre a densa trama de ideais com que se vão desenhando, em sangue e lágrimas, os novos rumos do futuro de África: encruzilhada de Povos e de Séculos. Através dos seus personagens, Joana Ruas analisa, numa Guiné Portuguesa dilacerada pela guerra movida contra o movimento nacionalista, as forças que se agitavam no seio da sociedade guineense e que se iam aglutinando no PAIGC liderado por Amílcar Cabral. Do riquíssimo mosaico de culturas e de religiões da região nos vão chegando os personagens com os seus sonhos de liberdade, a sua história e os seus dramas. A romancista capta a vigorosa e fecunda esperança dos guineenses no devir da Guiné como nação africana nascida da Luta de Libertação Nacional". (Sinopse da responsabilidade da editora)

Editora: Caminho. Local: Lisboa. Ano: Julho de 2001 (1ª ed.). Colecção: O Campo da Palavra, 120. Nº pp: 375. Preço: c. 21 €


(***) Vd. postes da série:

30 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2903: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (1): Palavras e expressões do crioulo

12 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2931: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (2): Da solidão de pides, padres, administradores, mascotes...

1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3011: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (3): Fornilhos e despojos humanos

22 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3081: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (4): Os meninos à volta da fogueira...

1 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3160: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (5): (Des)temor...

3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3166: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (6): Tempos Modernos.

22 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3224: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (7): Honório, o aviador...

28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3368: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (8): Navegações...

3 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3395: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (9): Tempo de Gandembel...(Alberto Branquinho)

21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3493: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (10): Eh mulher! Bó tem sanju na barriga... (Alberto Branquinho)

26 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3521: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (11): Um cabo que conheceu Bissau vinte e três meses depois... (Alberto Branquinho)

2 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3554: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (12): Há momentos em que um homem sente culpa e angústia...

11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3603: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (13): Quatro actos para um ponto de vista...

22 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3663: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (14): Jubi, bô tem dos ôbo na mão?

29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3680: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (15): Uma história real.

7 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3708: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (16): Uma retirada ordeira e silenciosa.

17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3753: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (17): com a arma na mão e o credo na boca. (Alberto Branquinho)

27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3805: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (18): O doutor não tem um remédio para a guerra?

5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3845: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (19): O aniversário do Cabo Tomé

3 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4138: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (20): Vultos na noite

24 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4243: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (21): Poema à volta do umbigo