quarta-feira, 21 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6769: Estórias cabralianas (61): Os Poderes do Professor Wanatú... (Jorge Cabral)


Guiné-Bissau > Região de Bolama / Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009 > Máscara bijagó

Foto: © João Graça (2009). Direitos reservados



Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > 26 de Junho de 2010 > O heterodoxo Jorge Cabral, de punho erguido (e dedo descaído) como nos heróico-operáticos dos tempos da guerra do Cuor,  entre o Jorge Picado (o bravo capitão miliciano ilhavense que, além dos 4 filhos legítimos, arranjou mais uma centena e meia de adoptivos,  aos 32 anos) e o Hélder de Sousa (o homem da TSF no CTIG, que tinha um poster do Che Guevara no quarto em Bissau, longe do Vietname)... Não foi possível identificar a misteriosa bajuda, que está do lado direito, escondendo o rosto... (LG)

Foto: © Luís Graça (2010). Direitos reservados


1. Texto, com data de ontem, enviado pelo  Jorge Cabral, com "votos de boas férias" (descodificando: dias e dias de (in)actividade  retemperadora,  para todo o mundo, os que trabalham, os que já trabalharam, os que ainda não trabalham, e até os que nunca trabalharam... (LG)

Histórias cabralianas > Os poderes do Professor Wanadú um quasi macaréu na Reboleira
por Jorge Cabral


 Bruxarias, espiritismos, magias sempre me atraíram.

Ainda na Guiné, aconselhado a um jejum de um mês, para poder comunicar com os mortos…, quase morri de fome.

Claro que não acredito em tudo, mas admiro o poder de sugestão dos profissionais, embora às vezes me desiludam, como a vidente Zinha, que quando estava a entrar na minha vida passada de monge austríaco, se lembrou do almoço do Pai e interrompendo a sessão, começou a gritar para a filha:
- Maria, vai ver o lume! Não deixes queimar a tomatada do avô!

Lá se foi a regressão…

Por isso quando, um primo de um primo do Idrissa, antigo aluno, me pediu para defender o Professor Wanatú, nem hesitei. Segundo a publicidade inserida no matutino, tratava-se de "um Mago Senegalês, transpsicólogo, perito em magia branca e negra, que resolve todos os problemas, amor, amarração, negócios, mau-olhado, inveja e maus vícios… com honestidade".

Acusado de trinta e dois crimes de burla, encontrava-se em casa com pulseira electrónica. Obtida a morada do Professor na Reboleira, logo no dia seguinte, fardei-me de Advogado e,  depois de muitas voltas, consegui dar com a casa, um pequeníssimo apartamento, no qual fui recebido pelo Mago, a Mulher e duas «cunhadas».

Consultada a acusação, descobri sem espanto que o Wanatú se chamava Mamadú, e nascera na Guiné-Bissau.  Após a Independência vivera no Senegal, vindo depois para Portugal.

Logo que entrei,  ele começou a protestar a sua inocência e eu nem o ouvia…

Não sei o que me deu mas regressara quarenta anos atrás e de novo Alfero, só tinha olhos para uma das «cunhadas» - Binta - alta, bela, elegante, futa-fula sem dúvida. Cheirava ao Geba… e eu já me imaginava um Macaréu avançando naquele rio. Mas que fazer?

O Professor Wanatú não podia sair de casa. Era preciso aguardar o Julgamento, esperar que se safasse para retomar o trabalho no seu consultório, na Travessa das Gaivotas.

Então talvez a cunhada ficasse só… e Macaréu!...

Chegou o dia da Audiência. Fui tão brilhante na Defesa que as vítimas é que iam sendo condenadas…

O Professor Wanatú foi absolvido. Voltou a dar consultas. Está próspero. Já tem quatro «cunhadas». Por mim tentei oito vezes, visitar a bela Binta e nunca consegui. Quando estou prestes a chegar à Reboleira, o carro avaria. Tenho receio de ir de comboio, não vá haver um descarrilamento…

É que o Professor Wanatú possui mesmo grandes poderes…
Jorge Cabral
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Nota de L.G.:



terça-feira, 20 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6768: Ser solidário (81): A água já corre em Amindara (José Teixeira)

A ÁGUA JÁ CORRE EM AMINDARA


OBRIGADO a todos que colaboraram neste projecto.

 

Foram bastantes, os camaradas que corresponderam ao apelo – SEMENTES E ÁGUA POTÁVEL PARA A GUINÉ-BISSAU.

Num tempo em que o mundo e, particularmente o nosso País atravessam uma terrível crise económico-financeira, o apelo foi ouvido. Ecoou bem fundo nos corações dos combatentes da Guiné nos anos sessenta e setenta, não esquecendo outros amigos da Guiné-Bissau que quiseram contribuir.

Em apenas alguns meses conseguimos o capital necessário para abrir o poço e montar todo o equipamento necessário para que a água subisse à superfície da profundeza de 18 metros para o bem-estar dos habitantes da tabanca de Amindara.

Creio que devemos sentirmo-nos em festa tal como a população de Amindara.
Aqueles que contribuíram, sentem com certeza que com a sua pequena ou grande oferta (dependendo da capacidade financeira de cada um) contribuíram para a construção de um mundo melhor, naquela pequenina parcela de terra na Guiné-Bissau.

O melhor agradecimento que a Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau, ONG, pode sentir à distância de mais de cinco mil quilómetros, foi a expressão de alegria e felicidade dos habitantes de Amindara.

Certos de que estamos a expressar os sentimentos da população Amindarense, queremos expressar a todos quantos contribuíram o nosso MUITO OBRIGADO.

Queremos expressar também os nossos agradecimentos à AD- Acção para o Desenvolvimento na pessoa do querido amigo Carlos Schwarz (Pepito) e a todos quantos colaboraram na obra sobre a sua orientação técnica.

José Teixeira
20JUL2010

A alegria das mulheres
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Nota de CV:

Vd. poste de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6729: Ser solidário (80): Região de Tombali, sector de Bedanda, Cantanhez: Amindara em Festa, com a inauguração do 1º poço comunitário (Pepito / José Teixeira)

Guiné 63/74 - P6767: Controvérsias (98): O QP não desapareceu (e eu não fui lorpa), apenas reduziu o seu contributo, porque... não há omeletas sem ovos (Morais da Silva, ex-Cap Art, CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)


Paisagem, pintura de Augusto Trigo (n. 1938). Em exposição no hall de um banco, em Bissau, o BCAO. Com a devida vénia ao pintor (que vive actualmente em Portugal), ao Rui Fernandes (autor da foto) e à AD - Acção para o Desenvolvimento (que detém os direitos da imagem no seu site Guiné-Bissau). Parafraseando o título do poste do nosso blogue, de 6 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2244: Cusa di nos terra (12): Ainda vi burros em Bafatá (Beja Santos), o nosso leitor (e camarada de armas) Morais da Silva diz que não é nem quer passar por... lorpa. (LG)


1. Mensagem do Cor Art Ref Morais da Silva:

Caro Luís Graça

Confesso-me farto de ser considerado lorpa pois continua a haver quem julgue que a malta do QP não andava de olho em cima das escalas de mobilização para evitar ou, no mínimo, dissuadir os chicos espertos que sempre existem.

Jorge Canhão concluiu agora que, afinal, só a partir de 1971/72 o QP se baldou embora acrescente que esta "reviravolta" coincide com o agravamento da guerra (opinião dele que não minha). É pena que em tempo útil não o tenha dito mas, paciência.

Resolvi ver os números outra vez e rebater o que diz Jorge Canhão.

Se soubesse o e-mail deste, endereçava-lhe o artigo e solicitava-lhe uma resposta (**). Mas como não o encontro,  anexo o que escrevinhei para publicar, se o entender conveniente.

Abraço do artilheiro

MS

2.  A propósito do poste P6374, de Jorge Canhão (**)
por Morais da Silva

Esta é a segunda vez que entro no blogue, acolhimento que agradeço, para esclarecer o que julguei já estar esclarecido.

Levar a cabo o estudo sobre o "Comando de Companhias de Combate em África" (***)  foi uma obrigação que me impus quando deparei com a afirmação de que "os oficiais do QP tinham fugido da guerra". Como já confessei, fiquei atónito, porque tal teria acontecido nas minhas barbas e eu, distraído, tinha andado a dar o corpo ao manifesto enquanto na minha "confraria" vigorava a regra da balda. Em resumo, teria sido um lorpa. Reagi, decidi ir à procura de números fiáveis e recuperei a paz de espírito. Afinal, como sempre pensei, eu não fui excepção antes fui a regra.

Regressado ao estudo e ao remanso do meu site eis que Jorge Canhão me informa:

"Globalmente o QP não fugiu das Companhias Operacionais mas quando a guerra se agravou em 1971/72 o QP DESAPARECEU QUASE POR COMPLETO".

Valha-me Santa Bárbara apesar de, agora, só trovejar na ponta final da guerra mas com a agravante do anátema do "cagaço". Imaginem o meu desassossego. Será que fiz o trabalho direitinho até 71/72 e depois o raio do software que fiz me induziu em erro e afinal fui mesmo um lorpa? Jorge Canhão só diz "Quase por completo". Qual será o valor que atribui a "Quase"? Porquê 71/72? A guerra agravou-se? Mas antes tinha sido uma pêra doce?!

Vamos aos números.

Jorge Canhão resolve tratar a base de dados de que dispõe (e que suponho ser a que foi publicada pelo Correio da Manhã nos Cadernos da Guerra Colonial) no momento da mobilização das companhias operacionais ou seja, em cada ano identifica as companhias que foram mobilizadas e agrega-lhes todos os capitães que as comandaram ao longo da comissão (Cap QP ou Mil).

No meu trabalho digo que, companhias com comando único (mesmo capitão durante toda a comissão), foram 83% em Angola e Moçambique e apenas 66% na Guiné. Face a estes números melhor seria tratar apenas companhias com comando único dada a dimensão da amostra. Mas, adiante.

No conjunto dos 3 TO Jorge Canhão conclui que, em 1971, 53% dos capitães "mobilizados com as companhias" são capitães QP e que tal percentagem desce para 19% em 1972 e para 12% em 1973, subindo para 20% em 1974. Aqui chegado Jorge Canhão conclui: "No entanto, quando a guerra se agravou (precisamente a partir dos anos 1971/72), os Capitães do Quadro Permanente "DESAPARECERAM QUASE POR COMPLETO" dos cenários das Companhias de Combate".

Ora só se pode dar como desaparecido aquilo que existe mas nestas "coisas" se algo desaparece é preciso encontrá-lo para que sirva de contraprova. Lá parti eu em busca detalhada e olhando para os meus números constatei o seguinte:

"Desaparecimento" do QP em 1972" - O que eu sei sobre este ano

- estão em combate 277 capitães do QP (46% do total de capitães em combate)

- este efectivo em combate representa 31% do stock existente de capitães QP (885 Cap. QP); era de 34% em 1971 havendo pois a registar uma quebra de 3% no empenhamento do stock

- não só não houve promoções a capitão em 1971, para alimentar o stock, como este baixou 149 capitães (1034 em 1971; 885 em 1972). A quebra de 149 capitães nos 1034 representa 14%. Compare-se esta quebra de stock do QP com a quebra de 3% do parágrafo anterior e digam-me lá onde está o desaparecimento

"Desaparecimento" do QP em 1973- O que eu sei sobre este ano

- estão em combate 178 capitães do QP (30% do total de capitães em combate)

- este efectivo em combate representa 23% do stock existente de capitães QP (779 Cap. QP) ou seja há uma quebra de 8% no empenhamento do stock

- não só não houve promoções a capitão em 1972, para alimentar o stock, como este baixou 106 capitães (885 em 1972; 779 em 1973). A quebra de 106 capitães nos 885 representa 12%. Compare-se esta quebra de stock com a quebra de 8% do parágrafo anterior e digam-me lá onde está o desaparecimento

"Desaparecimento" do QP em 1974 - O que eu sei sobre este ano

- estão em combate 119 capitães do QP (21% do total de capitães em combate)

- este efectivo em combate representa 21% do stock existente de capitães QP (580 Cap. QP) ou seja há uma quebra de 2% no empenhamento do stock

- houve promoções a capitão em 1973 para alimentar o stock mas, apesar disso, este ainda baixou 99 capitães (779 em 1973; 580 em 1974). A quebra de 99 capitães nos 779 representa 13%. Compare-se esta quebra de stock com a quebra de 2% do parágrafo anterior e digam-me lá onde está o desaparecimento

Fica demonstrado, mais uma vez, que o QP não desapareceu (e eu não fui lorpa) mas que apenas reduziu o seu contributo porque não há "omeletas sem ovos".

Repito o que já disse mas pelos vistos sem sucesso.

De 1970 a 1974 o stock de capitães do QP passou para quase metade (52%). Se os encargos fixos se mantiveram (unidades, estabelecimentos e órgãos da metrópole; unidades de guarnição e centros de instrução em África) e os de combate também, como não esperar as quebras verificadas?

Por que carga de água se recorreu à formação laboratorial de capitães milicianos e se deu à luz o célebre decreto de 1973 sobre o acesso à AM [, Academia Militar] ? Diversão da tutela ou tutela entalada perante uma Guiné e Moçambique a pedirem mais meios e uma AM a dar conta da sua impotência?

Uma nota derradeira.

Estou pronto a colaborar com Jorge Canhão, se este o desejar, para afinar a listagem das companhias presentes a partir de 1971 e clarificar a razão da pesada discrepância (145 companhias) que aponta: eu contabilizo um efectivo anual presente nos 3 TO na ordem das 475 e Jorge Canhão indica 330.

Discordo completamente dos resultados da pg. 1. Por exemplo, no grupo A, parte dos capitães avançou ainda em finais de 1968, princípio de 1969; a outra parte avançou em finais de 1969. A 1ª fatia regressou no final de 1970 e a segunda nos fins de 1971 tendo sido mobilizados novamente na segunda metade de 1972 (1ª fatia) e início de 1973 (2ª fatia).

Assim sendo o grupo A está mal definido não podendo ser rodado em conjunto e muito menos com o grupo C que é mobilizado em meados de 1971.

A organização dos conjuntos e a sua inserção na fita do tempo está errada pois parte do pressuposto da rotação contínua (mas o pessoal tinha que descansar e preparar nova etapa o que consumia, em regra, 1.5 a 2.5 anos ao longo da campanha).

Definitivamente, tenho dito.

António Carlos Morais da Silva

 antoniocmsilva@netcabo.pt
http://www.moraissilva.com/

[ Fixação / revisão de texto / bold a cor / título: L.G.] (****)

_______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6734: Controvérisas (96): No período de 1972/75, a proporção de capitães milicianos, comandantes de companhias combatenntes em África, era de 83 em cada 100 (Jorge Canhão, ex-Fur Mil At Inf Op Esp, 3ª C/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74)

(**) Foi dado, ao Jorge, conhecimento prévio do teor do mail do Morais da Silva. Não foi possível obter um comentário seu em tempo útil. Presume-se que esteja de férias ou ainda não tenha visto a caixa de correio. Recorde-se que o nosso camarada e mui querido amigo Jorge Canhão também conheceu Gadamael, a ferro e fogo, em Junho de 1973.

(***) Vd. poste de 15 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6596: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (VI e última parte)

(****) Último poste desta série > 18 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6759: Controvérsias (97): Ainda... muito a tempo (José Belo)

Guiné 63/74 - P6766: (Ex)citações (86): Casei com uma rapariga de Quelimane, por acaso branca (eu acho que nós, portugueses, somos todos mestiços) (Alpoim Calvão)

1. Comentário ao poste P6640 (*), assinado pelo comandante Guilherme de Alpoim Calvão (aqui na na foto à esquerda, entre dois membros da nossa Tabanca Grande, o João Parreira, de costas, e o Mário Dias, de perfil; local e data: Museu Militar, 15 de Abril de 2010, sessão de lançamento do livro do Amadu Djaló):

Caros camaradas de armas, só pó falar do meu caso pessoal mas casei com uma rapariga de Quelimane [, capital da Zambézia, Moçambique], por acaso branca (eu acho que nós, portugueses,  somos todos mestiços) em Março de 1958, tendo eu o posto de segundo tenente. Continuo casado com ela.

As legislações representam por vezes modas de épocas. O que interessa é que se aperfeiçoem.Ou então continuaríamos com os preceitos de tempos idos em que o sargento da companhia devia saber ler e escrever porque o oficial, por ser nobre, podia não saber.

De Bissau vos mando "muito saudar" e mantenhas, Alpoim Calvão (O teclado he para ingles. As minhas desculpas

[Fixação / revisão de texto / título: L.G.] (**)

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Notas de L.G.:

(*) 20 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6440: Da Suécia com saudade (23): O estatuto dos Oficiais do Exército há 60 anos, que não podiam casar com mulheres brancas, nascidas nas colónias, mesmo que filhas de casais brancos (José Belo)

(**) Último poste desta série:  15 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6744: (Ex)citações (68): Fomos muito mais bandos de pardais à solta do que colónias de abutres e aves de rapina (António Graça de Abreu)

Guiné 63/74 - P6765: (In)citações (3): A lavadeira de Guileje: 'Já passei a roupa a ferro, já lavei o meu vestido, amanhã vou-me casar e o Manuel é meu marido' (Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento)


Guiné-Bissau >  Região de Tombali >  Guileje > Uma  antiga lavadeira, bajuda, fula, ao tempo do abandono do aquartelamento pelo Exército Português, em 22 de Maio de 1973.  


 


Guiné-Bissau >  Região de Tombali >  Guileje > Uma  antiga lavadeira, bajuda, fula, ao tempo do abandono do aquartelamento pelo Exército Português, em 22 de Maio de 1973. Local: Museu de Guileje (em construção), finais da época das chuvas, 2009.  Fragmentos da memória musical deixada pela tropa portuguesa (*)... 

Nesta versão há pelo menos duas conhecidíssimas canções populares portuguesas (de que se reproduz a seguir a letra completa)... Esta mulher, que não terá 50 anos, era uma bajuda, quando as NT retiraram, com toda a população, de Guileje para Gadamael... (LG)...

Vídeo (''24): Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2009).
 Alojado em You Tube > Nhabijoes (Em alternativa, clicar aqui para ver e ouvir o vídeo)

Letra e música:  Popular

Ó malhão, malhão,
que vida é a tua?
Comer e beber, ó tirim-tim-tim,
passear na rua.

Ó malhão, malhão,
Malhão de Lisboa,
Sempre a passear, ó tirim-tim-tim,
A vida é boa.

Ó malhão, malhão,
Ó malhão do Porto,
Andaste a beber, ó tirim-tim-tim,
E ficaste torto.

Ó malhão, malhão,
Quem te não dançou?
Por causa de ti, ó tirim-tim-tim,
O meu pai casou.

Ó malhão, malhão,
Quem te deu as meias?
Foi o caixeirinho, foi o caixeirinho
Das pernas feias.

Ó malhão, malhão,
Quem te deu as botas?
Foi o caixeirinho, foi o caixeirinho
Das pernas tortas.

Ó malhão, malhão,
Ó Margaridinha,
Quem te pôs a mão, quem te pôs a mão,
Sabendo que és minha?

Eras do teu pai, eras do teu pai,
Mas agora és minha.

Letra e música:  Popular

Já passei a roupa a ferro,
já passei o meu vestido,
Amanhã vou-me casar
e o Manel é meu marido.

(Refrão)

Todos me querem,
eu quero algum,
quero o meu amor,
não quero mais nenhum.

(Bis)

O Manel é meu marido,
O Manel é quem me adora,
O Manel é que me leva,
da minha casa p'ra fora.

Da minha casa p'ra fora,
da minha casa p'ra dentro,
O Manel é quem me leva,
no dia do casamento.

(Refrão)


 

Guiné-Bissau >  Região de  Tombali > Guileje >  Dança de duas jovens em homenagem (?) à tropa portuguesa que passou pelo aquartelamento de Guileje, abandonado pelo Exército Português, em 22 de Maio de 1973. Local: Museu de Guileje (em construção), finais da época das chuvas, 2009.

Vídeo (''24): Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). 

Alojado em You Tube > Nhabijoes (Em alternativa, clicar aqui para ver e ouvir o vídeo)

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Nota do editor LG:
 
(*) Vd. postes anteriores desta série:
 
16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6751: (In)citações (1): O tocador de harmónica de Guileje (Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento)
 
19 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6761: (in)citações (2): Mais duas músicas do tocador de harmónica de Guileje (Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento)
 
Comentários de alguns camaradas nossos a estes dois postes:
 
(i) Alberto Branquinho:
 
Impressionante! Fiquei comovido. 40 anos depois...

(ii) Hélder Valério:
 
Sem dúvida que aqui está uma demonstração plena de como as pessoas se podem entender e de como a música é um poderoso veículo para tal. Como comentou o A. Branquinho, é impressionante e comovente. Podemos pensar que isto se revela no interior profundo, longe da capital e dos seus problemas mas não deixa de ser verdade que é onde as coisas e as pessoas são mais genuínas (...)

(iii) José Corceiro: 

Para o meu sentir é emocionante ouvir, esta melodia popular portuguesa ao som do 'realejo', por duas razões: Ser tocada com sensibilidade por um nativo da Guiné, que a sentiu e captou outrora no seio das nossas tropas e que passados estes anos todos a toca com carga nostálgica.

Transporta-me à minha meninice, à primeira vez que a ouvi tocar, com 10 ou 11 anos de idade, tal como agora ao som da gaita-de-beiços, por um dos grupos de trabalhadores da minha aldeia, que a ensaiou, como novidade, ao regressar da apanha da azeitona nas propriedades em Espanha, onde alguns naturais da minha terra tinham oliveiras, como tinha o meu avô. Era comum, nestes grupos de trabalhadores, isolados um grupo do outro, cada um na sua propriedade, formados por homens e mulheres, na sua maioria jovens, que viviam cerca dum mês fora da aldeia, enquanto durava a apanha da azeitona. Durante os serões, das longas noites de Inverno, ensaiavam melodias, acompanhadas ao som do 'realejo' ou concertina, para apresentar ao povo quando regressassem da faina e competir, um grupo com o outro, para aferir qual o que cativava e entusiasmava mais o povo.

Lembro desses tempos, em que não havia televisão e escasseavam os aparelhos de rádio, melodias tais como: 'Oliveirinha da serra', 'A saia da Carolina', 'Era ainda eu pequenino, 'Já passei a roupa a ferro', 'Ó Rosa arredonda a saia' … e tantas outras. Outras vezes faziam-se adaptações por curiosos anónimos do Povo.

Parabéns e muita saúde para o Guinéu que proporcionou este momento grato. 

(iv) José Corceiro:


Fantástico, tem que se ter sensibilidade e dote artístico, para poder tocar com realejo, passados 40 anos, as melodias que outrora se ouviu trautear aos militares Portugueses, que estavam na Guiné, que eram interpretadas, sabe-se lá com que sentimento de dor e nostalgia, misturados com saudades das nossas terras.

São melodias genuinamente populares da música Portuguesa, que são tocadas no realejo por um Guinéu, com alma lusa. Ouvi na minha meninice, na minha aldeia, cada uma destas notas também saídas do som do realejo.

A primeira, não me recordo bem do nome e do intérprete, mas creio que começa assim: 'Ainda agora aqui cheguei/ já me estou a ir embora'... Que creio que foi o grupo folclórico de Manhouce que a popularizou.

A segunda, o título creio que é 'Santa Luzia',  popularizada pelo 'Conjunto Típico de Maria Albertina'.

Parabéns ao Pepito, por ter feito o registo e tê-lo dado a conhecer e parabéns e felicidades ao intérprete, que nos possa brindar com mais.
 
(v) Amílcar Ventura:
 
É fabuloso, não tenho palavras paera descrever a alegria que me vai na alma ao ouvir este amigo africano tocar harmónica,  músicas do nosso Cancioneiro Nacional. É mesmo bom. Pepito, obrigado por este momento musical. (...)
 
(vi)  Luís Graça:

Num sítio, muito interessante, sobre instrumentos tradicionais portugueses (criado pelo Agrupamento de Escolas Padre Vitor Milícias, do concelho de Torres Vedras, Disciplina de Música, 7º e 8º anos), pode ler-se:


"A gaita de beiços, harmónica, ou harmónica de boca (também conhecida como realejo) é um instrumento musical de sopro cujos sons são produzidos por um conjunto de palhetas livres em vibração.

"A gaita possui na sua embocadura um conjunto de furos por onde o instrumentista sopra ou suga o ar. Devido ao seu pequeno tamanho, a gaita não possui caixa de ressonância. O tocador usa as mãos em concha para amplificar o som do instrumento e também para produzir efeitos, como variações de afinação e intensidade ou vibrato. Quando executada em conjunto com outros instrumentos, é comum que ela seja amplificada eletronicamente. A gaita é bastante usada no blues, rock and roll, jazz e música clássica. Também são muito comuns os conjuntos compostos apenas de gaitas, as chamadas Orquestras de Harmónicas, que normalmente tocam músicas tradicionais ou folclóricas.

"A harmónica, também conhecida por flaita, gaita de beiços, gaita das vozes, realejo e piano da cavalariça. era o instrumento mais frequentemente usado para acompanhar os bailadores de fandango ribatejano.

"O realejo é um instrumento de sopro portátil, cabendo tipicamente num bolso.

"A harmónica/gaita de beiços foi inventada na Alemanha". (...)


Guiné 63/74 - P6764: Memória dos lugares (93): Mais postais ilustrados (Parte II): Bafatá (Agostinho Gaspar)









Guiné > Zona Leste > Bafatá > s/d (c. 1966) > Postais ilustrados, Colecção Guiné Portuguesa, Edição Foto Serra, nº 136... De cima para baixo, edifício da administração de Bafatá (circunscrição) (as duas primeiras imagens); o mercado (3ª); a mesquita (4ª); a catedral (católica) (5ª); vista aérea (6ª); postal ilustrado nº 136, da edição Foto Serra.


Digitalização: © Luís Graça (2010). Direitos reservados.




Mapa da Guiné-Bissau > As oito regiões do país + o sector autónomo de Bissau: Biombo (3 sectores: Prabis, Quinhamel e Safim); Cacheu (7 sectores: Bigene, Bula, Cacheu, Caio, Calequisse, Canchungo e São Domingos); Oio (5 sectores: Bissorã, Farim, Mansabá, Mansoa e Nhacra); Gabu (5 sectores: Boé, Gabú, Pirada, Piche e Sonaco); Quínara (4 sectores: Buba, Empada, Fulacunda e Tite); Tombali (4 sectores: Bedanda, Catió, Komo e Quebo); Bolama / Bijagós (4 sectores: Bolama, Bubaque, Caravela e Uno).
A Região de Bafatá é composta pelos seguintes sectores: Bambadinca, Contuboel, Galomaro/Cossé,  Ganadu e Xitole. Sede: Bafatá.
 
A Região de Bafatá fica situada no Leste da Guiné-Bissau, fazendo fronteira com as Regiões de Gabú, Oio, Quínara e Tombali. Tem uma superfície de 5.981 Km2, e uma população de cerca de 225 mil habitantes (2008).
 
Bafatá, a segunda cidade do país na época colonial (com cerca de 4 mil habitantes no início da década de 1960),  tem vindo a perder importância face ao Gabu, verdadeira capital do chão fula. Terra natal de Amílcar Cabral, estima-se que Bafatá tenha cerca de 22 500 habitantes (2008). (LG)


1. Continuação da publicação de uma selecção de postais ilustrados da Guiné (*), da colecção do nosso camarada Agostinho Gaspar (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), natural do concelho de Leiria.

Estas imagens foram obtidas a partir de um único postal ilustrado, igualmente aqui reproduzido, da famosa colecção "Guiné Portuguesa", edição Foto Serra, nº 136... 

Sobre Bafatá, temos 114  referências no nosso blogue,  mesmo assim muito abaixo de Bambadinca (c. 300)
 Não se pode falar de Bafatá, sem evocar o nome do nosso camarada Fernando Gouveia que fez lá a sua comissão, entre 1968 e 1970 e cuja série A Guerra Vista de Bafatá teve muito sucesso no nosso blogue. (LG)

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Nota de L.G.:

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6763: Blogpoesia (76): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (3) (Manuel Maia)

QUISERA EU... (3)

por Manuel Maia*

Quisera um tempo breve em permanência,
viver de novo agora a experiência
que a guerra me impediu de "enriquecer"...
Ouvir as gentes, conhecer saberes,
fruir dos gastronómicos prazeres
das étnias várias conhecer...


Com horizontes muito limitados,
apenas com balantas vivenciados,
mau grado "mil locais de permanência"...
A sede, de saber de outras gentes,
de povos, de culturas tão diferentes,
impele-me à viagem com urgência...


Quisera ver o sonho realidade,
vivido com a força, intensidade,
dos tempos d`outro tempo, aqui vos digo...
Quisera um nome dar a esta ideia
de achar para a Guiné a panaceia,
p`rós males de que enferma, qual castigo.


Quisera eu ver sentir naquele povo,
a fé no seu porvir, surgir de novo,
a vida é uma constância de esperança...
Se o acreditar fenece um breve instante,
p`ra dar lugar à prece, doravante,
o mundo está carente de mudança...


Nos centros de abastança e vida estável,
sorriso de criança é inigualável,
qual dom do céu, dos deuses um presente.
No mundo da africana condição,
da fome, da doença, sem ter pão,
dos rostos, essa imagem está ausente...


Quisera ter poderes p`ra libertar,
da malhas da miséria e do penar,
do jugo da ignorância, escuridão...
Quisera ser um deus, mesmo menor,
p`ra erradicar doença, fome, dor,
levar felicidade ao povo irmão...

__________

Notas de CV:

(*) Manuel Maia  foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.  

Vd. postes da série de:

14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6737: Blogopoesia (74): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (1) (Manuel Maia)
e
16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6748: Blogpoesia (75): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (2) (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P6762: Antropologia (19): Os muçulmanos face ao poder colonial português e ao PAIGC (Eduardo Costa Dias)










Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Festa do  Ramadã... Imagens (belíssimas) do nosso saudoso camarada Zé Neto (1929-2007), convertidas de slides, muito usados na época.

Fotos: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.


Simpósio Internacional de Guiledje (Guiné-Bissau, Bissau, 1-7 de Março de 2008)> Comunicação de Eduardo Costa Dias (ECD), novo membro da nossa Tabanca Grande (*)


Bissau > 4 de Março, 17h30/18h00 > Painel 1 > Guiledje e a Guerra Colonial/Guerra de Libertação. Moderador: João José Monteiro (Universidade Colinas de Boé)

Título da comunicação de ECD > Papel e influência das dinâmicas sócio-religiosas e políticas nos movimentos de libertação nacional na África Ocidental: o caso da Guiné-Bissau

Sinopse da comunicação

O assunto desta comunicação tem directamente a ver com as diferenças de peso, de dinâmica e de tempo de intervenção que muçulmanos (**) e seguidores das religiões ditas tradicionais tiveram no movimento de libertação nacional liderado pelo PAIGC na Guiné-Bissau.

Trata-se, do meu ponto de vista, de um tema de grande importância para a compreensão, por exemplo, das razões sócio-politicas e político-religiosas da, globalmente, menor presença dos muçulmanos durante todo o período da luta de libertação, nas fileiras da guerrilha.

Com efeito, embora muitos muçulmanos tivessem, a título individual, integrado a guerrilha e alguns nela desempenhado papéis político-militares de relevo, durante a luta de libertação, a larga maioria dos membros do establishment muçulmano guineense (dirigentes das vários ramos guineenses da confraria qadriyya e da tijâniyya, imãs, letrados, régulos, etc.) teve um papel pouco colaborante com o PAIGC e muitos mesmo de assumido colaboracionismo com o poder colonial.

Nesta comunicação procurarei, descrevendo o quadro sócio-religioso da Guiné-Bissau e enumerando alguns dos acontecimentos mais marcantes das relações tecidas, antes e durante a luta de libertação, pelos dignitários muçulmanos guineenses com o poder colonial, questionar globalmente o papel dos vários grupos religiosos não cristãos durante a luta de libertação nacional e, numa dimensão mais precisa, aduzir elementos para a compreensão das razões da manifesta hostilidade por parte da maioria do establishment muçulmano guineense para com a luta de libertação.

Na minha opinião, as razões desta hostilidade não se radicam, no fundamental, na eventual incompatibilidade entre o Islão e o ideário filosófico-político proclamado pelo PAIGC ou na simples discordância sobre os métodos seguidos por este movimento na luta pela independência da Guiné-Bissau, mas sim em questões fundadas na política de alianças com o Estado seguida pelos dignitários político-religiosos muçulmanos guineenses e de um modo geral pelos dos países vizinhos desde os anos 1880-1890. Entroncam, na política dita do muwalat (“acomodação sob reserva”/”coabitação” com o Estado) encetada pelos dignitários muçulmanos no 3º quartel do século XIX em toda a África Ocidental e que, como o atestam, no caso guineense, a antiga “tradição” de aliança com o Estado colonial, a oposição do establishment muçulmano à luta de libertação e a “reentrada” na área do poder de muitos dignitários passado pouco tempo sobre a independência da Guiné-Bissau, transitou, nos seus contornos fundamentais, da situação colonial para a pós-colonial.

Cabral, fino conhecedor do xadrez social e político-religioso da Guiné-Bissau (***), tinha, bem antes do início da luta de libertação, consciência da tendência “estrutural” do establishment muçulmano para acomodar-se ao “poder do momento”,  qualquer que ele seja! Disse-o nos seus escritos, teve-a em atenção no delinear da estratégia de mobilização das populações para a Luta. (****)

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 18 de Julho de 2010 >  Guiné 63/74 - P6758: Tabanca Grande (231): Eduardo Costa Dias, antropólogo, CEA / ISCTE / IUL

(**) Alguns dos nossos marcadores/descritores, relacionados com esta problemática:

Animismo (2)
Antropologia (21)
Balantas (25)
Cherno Rachide (9)
Colaboracionismo (6)
Corão (2)
Fulas (45)
Historiografia da presença portuguesa (30)
Islamismo (17)
Islão (10)
Mandingas (38)
Mutilação Genital Feminina (13)
Ramadã (2)
Religião (14)
Tabaski (1)


(***) Vd., entre muitos outros, o poste de 30 de Junho de 2008  > Guiné 63/74 - P3000: Amílcar Cabral: nada mais prático do que uma boa teoria (Luís Graça)

 (...) Quanto aos fulas, o fundador, dirigente e teórico do PAIGC fala deles em termos de uma forte “estratificação social”. Em primeiro lugar, temos (i) os chefes, os nobres e os dignatários religiosos (por ex., o Cherno Rachid de Aldeia Formosa); vêm depois, (ii) os artesãos e os jilas ou comerciantes ambulantes (que circulam pela Guiné, Senegal e Guiné-Conacri); finalmente, e na base da pirâmide social , (iii) os camponeses.

Sobre o grupo dirigente, Amílcar Cabral diz o seguinte:

“Os chefes e a sua comitiva têm ainda, a despeito da conservação de certas tradições relativas à colectividade das terras, privilégios muitos importantes no quadro da propriedade da terra e da exploração do trabalho de outrem. Os camponeses que dependem dos chefes são obrigados a trabalhar para eles um certo período do ano”.

Daí chamar aos fulas, aliados históricos dos portugueses, um grupo semi-feudal.

Os artesãos desempenham um papel importante na sociedade fula, constituindo um núcleo embrionário de uma indústria de transformação da matéria-prima: do ferreiro, na base da escala, até ao artesão do couro. Os comerciantes ambulantes (jilas) são os que têm, na prática, a possibilidade de acumular dinheiro. Por fim, os camponeses: em geral desprovidos de direitos, seriam os “verdadeiros explorados da sociedade fula”.

A estratificação da sociedade fula também pode ser vista a partir da família, extensa, que é a sua célula: a família de um homem grande é constituída pela morança; um conjunto de moranças formam uma tabanca; um conjunto de tabancas um regulado; e por fim, os regulados fulas estão associados ao chão fula (Leste da Guiné, compreendendo hoje as regiões de Bafatá e de Gabu), uma entidade territorial e simbólica, ligada à conquista.

Aqui a mulher não goza de quaisquer direitos sociais: participa na produção sem quaisquer contrapartidas; por outro lado, a prática da poligamia significa que ela é, em grande parte, propriedade do marido.

Estranha-se, não haver aqui uma referência ao fanado feminino e sobretudo ao profundo significado sócio-antropológico que tinha (e tem) a Mutilação Genital Feminina entre os Fulas (mas também entre os Mandingas e os Biafadas). Será que Cabral tinha consciência das terríveis implicações, para a mulher, desta prática ancestral, e também aceitava tacitamente em nome do relativismo cultural, tal como os antropólogos colonialistas ? Não conheço nenhum texto em que o ideólogo do PAIGC tenha tomada posição sobre este delicado problema. (...)

Guiné 63/74 - P6761: (in)citações (2): Mais duas músicas do tocador de harmónica de Guileje (Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento)


Guiné-Bissau. Região de Tombali. Guileje. Tocador de Harmónica. Antigo milícia, ao tempo do abandono do aquartelamento pelo Exército Português, em 22 de Maio de 1973. Museu de Guileje (em construção), finais da época das chuvas, 2009. Vídeo: AD - Acção para o Desenvolvimento. Cortesia de Pepito, nosso amigo, membro da nossa Tabanca Grande.


Vídeo (''44): Alojado em You Tube > Nhabijoes (Também se pode clicar aqui, em alternativa, para ver e ouvir o vídeo)



Guiné-Bissau. Região de Tombali. Guileje. Tocador de Harmónica. Antigo milícia, ao tempo do abandono do aquartelamento pelo Exército Português, em 22 de Maio de 1973. Museu de Guileje (em construção), finais da época das chuvas, 2009. Vídeo: AD - Acção para o Desenvolvimento. Cortesia de Pepito.


Vídeo (''48): Alojado em You Tube > Nhabijoes (Também se pode clicar aqui, em alternativa, para ver e ouvir o vídeo)




1. Aqui vão os restantes pequenos vídeos com a actuação do nosso tocador de harmónica (ou gaita-de-beiços), um antigo milícia de Guileje, ao tempo da CCAV 8350 (Piratas de Guileje, 1972/73) (*).  A gravação foi feita frente ao Museu de Guileje (ainda em construção),  em Guileje, em finais da estação das chuvas de 2009, se não me engano. Ao fundo, vê-se uma velha anti-aérea do PAIGC, agora peça de museu (Recorde-se que o museu foi já inaugurado este ano, em 20 de Janeiro último).  


A primeira musiquinha está-me no ouvido, mas não consigo relacioná-la com a letra (talvez umas janeiras...). A segunda  parece-me ser  a popularíssima,  no nosso tempo de meninos e moços, Ó Rosa, arredonda a saia... Ou não ? Espero que os nossos especialistas musicais (vg, Abílio Machado, Acácio Correia, Álvaro Basto, David Guimarães, Gabriel Gonçalves, João Graça, Joaquim Mexia Alves, Zé Luís Vacas de Carvalho) nos ajudem a recordar as letras... 


Quanto ao nosso artista, faltam-nos dados biográficos: nome, idade, naturalidade, etc. O Pepito, que deve estar a chegar para férias em Portugal (mais exactamente, na sua belíssima casa no belísismo São Martinho do Porto, com umas fugidas rápidas a Lisboa), vai-nos dar mais pormenores sobre ele: onde e com quem aprendeu a tocar harmónica, quem lhe deu a gaita de beiços, etc. Para já deliciem-se com estas duas musiquinhas... Mas há mais surpresas... (LG)


2. Segundo o o nosso camarada José Corceiro, a segunda musiquinha seria de Santa Luzia dos Meus Amores... E a primeira seria uma Cantiga dos Reis (ou janeiras).


Santa Luzia dos meus amores,
Santa Luzia bonita és,
Santa Luzia dos meus altares,

Tinta de Ana cai a teus pés.


Quem bai a Santa Luzia,
A Biana do Castelo,
O mais lindo panorama,
Que é de todos o mais belo.

Fonte: Aqui. (Com a devida vénia...)



Ó Rosa, arredonda a saia
Música e letra: Popular


Refrão


Ó Rosa, arredonda a saia,
Ó Rosa, arredonda-a bem!
Ó Rosa, arredonda a saia,
Olha a roda que ela tem!


Olha a roda que ela tem,
Olha a roda que ela tinha!
Ó Rosa, arredonda a saia,
Que fique bem redondinha!


[Refrão]


A saia que traz vestida,
É bonita e bem feita,
Não é curta, nem comprida,
Não é larga, nem estreita.


[Refrão]

Cântico dos Reis


Fonte:  Portal das Juntas de Freguesia de Vinhais >
Freguesia de Vilar de Ossos


Ainda agora aqui cheguei,
Pus o pé na sua escada,
Já o meu coração disse
Aqui mora gente honrada.

Vimos-lhe cantar os reis,
Mas não é pelo dinheiro,
É só para lhe provar
O seu rico fumeiro.

Despedida, despedida,
Assim fez a cerejeira ao ramo
Boas noites meus senhores
Adeus, até pró ano.



______________

Nota de L.G.:

Guiné 63/74 - P6760: Factos e Feitos mais importantes da CART 2732 (2): De Janeiro a Julho de 1971 (Carlos Vinhal)

FACTOS E FEITOS MAIS IMPORTANTES DA CART 2732 (2)

CAPÍTULO II

ACTIVIDADES MAIS SIGNIFICATIVAS NO TO DA GUINÉ

(Continuação)



Em 04JAN71, 3 GCOMB empenhados na protecção aos trabalhos foram flagelados de NE com morteiros 62.

Em 05JAN71, um GCOMB detectou 1 mina AP em FARIM-2 D7 sendo levantada pelos Sapadores. Pelas 20h30, grupo IN não estimado flagelou o aquartelamento e povoação de Mansabá com 6 a 8 tiros de CSR sem consequências. As NT reagiram com 26 tiros de obus 8,8.

Em 09JAN71, pelas 08h00 grupo IN não estimado flagelou as forças de protecção aos trabalhos com 8 tiros de morteiro 82.

Em 11JAN71, o IN flagelou forças e trabalhadores em FARIM-2 D7 2 E6 sem consequências.

Em 15JAN71, pelas 08h00 grupo IN flagelou com RPG7, grupo de segurança aos trabalhadores em FARIM-2 D6 3 2 D9 sem consequências.

Em 16JAN71, pelas 17h30 foi flagelado o aquartelamento de Mansabá com 2 foguetões vindos da direcção Oeste, tendo ambos sido curtos, 1 a cerca de 300 metros e outro a 500 do limite do aquartelamento. As NT reagiram com 14 tiros do Pel Art 8,8.

Em 25JAN71, grupo IN flagelou forças e trabalhos em FARIM-2 D9-93 sem consequências.

Em 27JAN71, mais uma vez foram flageladas as NT e o pessoal dos trabalhos com 5 tiros de morteiro 82.

Em 28JAN71, pelas 08h20, grupo IN não estimado flagelou os trabalhos com 2 tiros de RPG7, morteiro e rajadas de armas automáticas. Feridos com estilhaços 3 capinadores.

Em 01FEV71, 1 GCOMB da CART 2732 em protecção aos trabalhos da construção da estrada foi flagelado com 7 a 8 tiros de LGF, 8 tiros de morteiro 60 e 81, e rajadas de armas automáticas, causando 3 feridos às NT.

Em 15FEV71, foi destacado 1 GCOMB da CART 2732 para Saliquinhedim.

Saliquinhedim (K3), destacamento localizado a 3 quilómetros a sul de Farim
Foto: ©  de Carlos Silva

Em 19FEV71, 1 elemento do Pel Mil.ª 253, quando caçava nas imediações do quartel, detectou 1 corpo meio enterrado de 1 elemento IN, junto do qual estavam 4 detonadores de minas AP, 2 cartucheiras e espingarda Simonov com cartuchos e 1 almotolia para óleo.

Em 28FEV71, o GCOMB destacado para Saliquinhedim regressou a Mansabá.

No mês de Fevereiro de 1971 deu baixa ao HM 241 de Bissau o Comandante da CART 2732, Cap Art Domingos Alberto Pinto Catalão

Em 02MAR71, 1 viatura autotanque do BENG 447 accionou 1 mina AC do que resultou a destruição da viatura e 4 feridos, 2 dos quais em estado grave.

Em 08MAR71, assume interinamente o Comando da CART 2732 o Cap Mil Jorge Picado

Em 29MAR71, 2 GCOMB reforçados com 2 Secções do PEL MIL.ª 253, comandados pelo Cap Jorge Picado, contactaram com grupo IN com cerca de 10 elementos em BINTA-8 H-8 7-4. As NT reagiram com fogo com armas automáticas, dilagramas e morteiro 60, pondo o IN em fuga, que sofreram 2 mortos confirmados. Foram capturadas 1 Mauser, 3 granadas de CSR B10 e destruído um celeiro com 300Kg de milho. As NT foram flageladas com morteiro 82 sem consequências. (Acção Urtiga Negra).

Em Março de 1971 o CMDT desta CART, Cap Art Domingos Alberto Pinto Catalão, baixou de novo ao HM 241 de Bissau.

Nesta foto, o 3.º Pel/CART 2732, nesta data comandada pelo Fur Mil Nunes, por impedimento do Alf Mil Bento, internado no HM 241 de Bissau.

Em 12ABR71, patrulha e emboscada com 2 GCOMB reforçados com 2 SEC MIL/PEL MIL 253 em Buro, Fátima, “BINTA-8 G8” e Tambato Mandinga. Em BINTA-9 G3 15 as NT foram flageladas com morteiro 82. Em FARIM-3 A6 17 foi detectada e levantada 1 mina AP reforçada com 1 granada de RPG2. (Acção Urtiga XXII)

Em 21ABR71, 2 GCOMB reforçados com 1 SEC MIL.ª efectuaram patrulhamentos e emboscadas em Tungina, Buro e Colimansacunda. Na região da Bolanha de Irabato, forte contacto entre 20 a 30 elementos armados de armas automáticas, RPG2 e morteiro 60, com grande potencial de fogo. As NT reagiram prontamente, causando ao IN 1 morto provável e vários feridos confirmados. As NT tiveram 1 ferido grave, o Soldado Milícia Sul Bissau que foi evacuado do local por um helicóptero, tendo morrido mais tarde no HM 241 de Bissau.

Nesta acção destacaram-se:

- O Fir Mil que comandava a 3.ª Sec/3.º Pel/CART 2732 porque demonstrou muita descontracção, eficiência e desprezo pelo perigo, avançando debaixo de fogo com a sua Secção que comandava ao encontro do IN.

- O Soldado António Ribeiro Teixeira, porque após ter abatido um inimigo, avançou debaixo de fogo disparando a sua metralhadora, tentando que não fosse recuperado pelos camaradas, revelando iniciativa e desprezo pelo perigo.

- Os Soldados José Alberto Gonçalves Quintal e António Góis Perestrelo, porque sem hesitação e sob fogo IN, avançaram ao encontro do mesmo, disparando as suas armas com desembaraço e eficiência.

(Anexo D ao Relatório da "Acção Urtiga Negra XXVII")

Em 24ABR71, 2 GCOMB reforçados com 1 SEC MIL.ª patrulhando a região de Demba Só Simbor avistou 10 elementos IN em fuga na tabanca de Simbor. Perseguição imediata das NT mas sem resultados. (Acção Urtiga XXIX)

Em 29ABR70, o Cap Mil Jorge Picado deixa o Comando da CART 2732, seguindo para o CAOP 1 de Teixeira Pinto

Em 07JUN71, 1 GCOMB patrulhou a região de Manjampoto, emboscando em FARIM-2 E7. 1 GCOMB reforçado com 1 SECMIL.ª efectuou patrulhamento ofensivo na região de FARIM-1 H2, Mamboncó-6 A6 5-0, capturando 2 elementos da população que pelas informações obtidas foi organizada a Acção Umbela. Foram destruídas 20 moranças, capturados 13 elementos da população, 1 espingarda Mauser e 1 canhangulo. As NT não tiveram consequências.

Em 15JUN71, pelas 18h00 o IN flagelou o aquartelamento de Mansabá com fogo de CSR durante 5 minutos, a partir do Alto de Bissorã. As NT reagoram com fogo de armas pesadas.

Em 16 JUN71, pelas 18h50 foi accionada uma mina AC referenciada a 100 metros a sul do Bironque, por uma coluna da CART 2732 no trajecto K3-Mansabá. As NT tiveram 6 feridos, 1 deles grave.

Viatura GMC da CART 2732 que accionou uma mina AC no Bironque, em 16JUN71, conduzida pelo Soldado Condutor Arlindo Freire Bicho que ficou gravemente ferido.

Em Junho de 1971 o CMDT desta CART, Cap Art Domingos Alberto Pinto Catalão, baixou de novo ao HM 241 de Bissau.

O General Spínola numa das visitas que fez a Mansabá

Em 22JUL71, pelas 18h00 foi encontrado por uma coluna auto, um buraco acabado de fazer com o fim de colocar uma mina AC na faixa de rodagem da estrada alcatroada, a 2000 metros a sul de Cutia.

Em 28JUL71, 2 GCOMB empenhados na operação XAIREL em protecção da base de fogos situada em Madina Fula.

Carlos Vinhal
Fur Mil Art
CART 2732
Mansabá, 1970/72
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 17 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6754: Factos e Feitos mais importantes da CART 2732 (1): De Abril a Dezembro de 1970 (Carlos Vinhal)

domingo, 18 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6759: Controvérsias (97): Ainda... muito a tempo (José Belo)

1. Mensagem de José Belo (*), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia, com data de 17 de Julho de 2010:

Caro Amigo e Camarada
Antes "d'abalada" aqui envio algumas considerações aos comentários pessoalizados que recebi, e que em nada vieram contribuir, infelizmente para o interessante, e oportuno, assunto em debate.

"Por respeito aos Editores, e aos camaradas que constituem, ou seguem o blog de Luís Graça e Camaradas da Guiné, sinto necessidade de apresentar algumas considerações quanto a comentários "pessoalizados" que me foram, mais uma vez, dirigidos.

Ao escrever... apresentar algumas considerações... não vou, de modo algum, estabelecer um diálogo, que seria inapropriado para com valores e parâmetros que tão bem servem este fórum.

Tendo um camarada apresentado muito válidas e oportunas sugestões sobre uma futura Organização de Ex-Combatentes, procurei, dentro dos limites óbvios da minha posição geográfica, documentação avaliável que permitisse debater o assunto, com base em experiências passadas, como seria exemplo o Congresso dos Combatentes de 1973.

Ao apresentar este exemplo tive o cuidado de salientar ter o Congresso sido realizado noutros "tempos" e realidades, tanto políticas como o importante facto de, então, a guerra ainda continuar.

Um senhor, aparentemente também interessado pelo assunto, apresentou vastas transcrições de documentos ao seu dispor que vieram contribuir para esclarecimentos quanto ao assunto em debate.

O que se torna, MAIS UMA VEZ, estranho, é a necessidade "patológica" deste senhor de acompanhar a documentação, e ideias, que apresenta, com ataques pessoais em termos caserneiros, acompanhados sempre de insinuações baratas e análises valorativas de "apadrinhamentos", "controleiros" e "vencedores".

Compreendo, (não fora casado com médica psiquiatra), que as arrogâncias gratuitas têm sempre bases em frustrações e recalcamentos vastos. Talvez de... "não haver sido?"

Tais personagens, habituadas durante muitas décadas aos exclusivos do Patriotismo, da História, e das verdades, continuam, aparentemente, a sentir sérias dificuldades em aceitar, na ausência do conveniente apoio de polícia política violenta, terem sido convidados pelos Democratas de Abril a sentarem-se à mesma mesa (não de monólogos, mas de diálogos) com o tal "Povoléu" que tanto desprezam, esquecendo que, eles, os senhores, e o tal "Povoléu", mais não são que... Portugueses!

E, ao escrever "sentarem-se à mesma mesa", sinto que não podem, nem devem, acusar os Democratas pelo facto de, em vez de se SENTAREM, terem-se colocado imediatamente... DE CÓCORAS!

São documentos como o vídeo do tocador de harmónica do Guileje apresentado em P675, que acabam por ficar "Arquivados", muito especialmente nos nossos corações, e são bem representativos do que é a Tabanca Grande e os seus fins.

Um abraço amigo.
Estocolmo 17 de Julho de 2010
__________

Notas de CV:

Vd. poste de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6738: Da Suécia com saudade (24): A difícil procura da unidade dos antigos combatentes (José Belo)

Vd. último poste da série de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6730: Controvérsias (95): Não me move, nem alimento, qualquer querela QP-Milicianos (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 - P6758: Tabanca Grande (231): Eduardo Costa Dias, antropólogo, CEA / ISCTE / IUL


Guiné-Bissau > Bissau > Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008) > 6 de Março > O Prof Eduardo Costa Dias (CEA / ISCTE), atento observador da realidade sócio-política da Guiné-Bissau.

Foto: Luís Graça (2008). Direitos reservados


1. Ando há dois anos a ameaçar o Edu, o meu amigo e colega Eduardo Costa Dias, com a sua entrada, pela porta pequena, na Tabanca Grande (*). 

A verdade é que ele aceitou, há já largos meses, o meu convite expresso para integrar este grupo de amigos e camaradas da Guiné que se reune, há mais de seis anos,  sob o generoso e frondoso poilão da Tabanca Grande. (Só não a fez, a formalização do pedido, por falta da foto da praxe, problema que eu acabo de resolver, rapidamente, em véspera de férias, com o recurso à consulta  da minha base de dados...).

Ele vai entrar finalmente, e deveria sê-lo pela porta grande... (se a Tabanca Grande a tivesse: ora como é sabido, nós não temos portas nem janelas, isto é, barreiras, físicas, culturais ou simbólicas; ou melhor gostaríamos de não ter...). 

O Edu, ou ECD, entra como paisano, não sabendo eu nada da sua vida militar... Só sei que que já foi dezenas e dezenas de vezes à Guiné-Bissau, nestes últimos quinze a vinte anos. E é um dos portugueses mais bem informados e melhor conhecedores da realidade sócio-política deste país lusófono, e em particular da zona leste... 

Fez lá o trabalho de campo como investigador no âmbito da sua tese de doutoramento em Antropologia (que defendeu, em provas públicas, em 1996): O sistema agrário dos Mandinga de Contuboel (Guiné-Bissau) : memória, saber, poder e reprodução social.

Aqui fica uma pequena apresentação do novo membro  da nossa Tabanca Grande, que passa doravante a ser tratado sem mais salamaleques, como qualquer vulgaríssimo membro do nosso blogue.

Eduardo Costa Dias > Breve CV (Fonte: Simpósio Internacional de Guiledje, Bissau, 1-7 de Março de 2008 > Oradores > Eduardo Costa Dias)

(i) Professor de Sociologia e de Estudos Africanos,  coordenador científico dos Programas de Mestrado e de Doutoramento em Estudos Africanos do ISCTE e professor visitante no Institut d’Études Politiques (Sciences Po-Paris) e na Université de Laval (Canada).

(ii) Tem desenvolvido investigações sobre as relações entre o Estado e as Autoridades Tradicionais, o “Islão Politico” e o ensino muçulmano na África Ocidental, em especial na região senegambiana (Gâmbia, Guiné-Bissau, Senegal).

(iii) É autor de vários trabalhos sobre problemáticas sociais e políticas contemporâneas da Guiné-Bissau, estava a preparar, em 2008, a publicação de um livro sobre a islamização do antigo Kaabú e tinha no prelo uma recolha de artigos publicados e inéditos sobre a política colonial nas regiões islamizadas da antiga Guiné Portuguesa (1880-1930).

Vd. alguns dos títulos de que é autor (Fonte: Memória de África)

[2250]
Dias, Eduardo Costa
Espaço político africano, espaço político colonial : confrontos de entendimentos no antigo Kaabu (Guine-Bissau), 1900-1930 / Eduardo Costa Dias
In: África e a instalação do sistema colonial (c. 1885 - c. 1930) : III reunião internacional de história de África - actas / dir. Maria Emilia Madeira Santos. - Lisboa : IICT, Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, 2000. - p. 301-310
Descritores: Guine-Bissau | Colonialismo | Política
Cota: COR/LA-2-4|UCILLP

[2413]
Dias, Eduardo Costa
Da'wa, politica, identidade religiosa e invenção de uma nação / Eduardo Costa Dias
In: Multiculturalismo, poderes e etnicidades na África subsariana / coord. António Custódio Gonçalves. - Porto : Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2001. - p. 45-68
Descritores: Africa Lusofona | Identidade cultural
Cota: COR/LA-2-6|UCILLP

[14002]
Dias, Eduardo Costa
Guiné-Bissau : dinâmicas sociais senegâmbianas, fronteiras e soberania nacional / Eduardo Costa Dias
In: Forum Sociológico / Instituto de Estudos e Divulgação Sociológica. - Nº 4 (1994), p. 113-123
Descritores: Guiné-Bissau | Sociedade | Etnologia | Sociologia | Soberania nacional
Cota: s/cota|UCDA|Diamang

[28531]
Dias, Eduardo Costa
Espaço político africano, espaço político colonial : confrontos de entendimentos no antigo Kaabú -Guiné Bissau, 1900-1930 / Eduardo Costa Dias
In: A África e a instalação do sistema colonial - c.1885- c.1930 : III reunião international de história de África : actas. - dir. Maria Emilia Madeira Santos. - Lisboa : Centro de estudos de História e cartografia antiga, 2001. - p. 301-310
Descritores: Guiné-Bissau | Usos e costumes | Grupo étnico
Cota: 135-D-81|Soc. Geog. Lx.

[108886]
Dias, Eduardo Costa
A Guiné-Bissau e as dinâmicas sociais da sub-região / Eduardo Costa Dias
In: / / coord. Carlos Cardoso, Johanes Augel. - Bissau : Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 1993. - p. 215-228
Descritores: Guiné-Bissau | Independência Nacional | Desenvolvimento social
Cota: GBS - 40|Espólio Prof. Dr. Laranjeira

[119413]
Dias, Eduardo Costa
O sistema agrário dos Mandinga de Contuboel (Guiné-Bissau) : memória, saber, poder e reprodução social / Eduardo Costa Dias. - Lisboa : ISCTE, 1996. - 2 v.
Descritores: Sector agrícola | Etnicidade | Guine-Bissau
Cota: T. 38 A-B|CIDAC

[122495]
Dias, Eduardo Costa
Da escola corânica tradicional à escola arabi : um simples aumento de qualificação do ensino muçulmano na Senegâmbia? / Eduardo Costa Dias. - Lisboa : ISCTE, Centro de Estudos Africanos, [2005 ?]. - p. 125-155. - Contém: bibliografia
Descritores: História | Religião | Etnicidade | Educação | Guiné-Bissau | Senegâmbia
Cota: PP228/7-8/04-05|CIDAC

[147153]
Dias, Eduardo Costa
Espaço político africano, espaço político colonial : confrontos de entendimentos no antigo Kaabú : 1900-1930 / Eduardo Costa Dias
In: Estudos sobre as campanhas de África / Adriano Moreira ... [et al.]. - Ranholas : [s.n.], 2000 . - pp. 301-310
Descritores: Colonialismo | Política interna | Guiné-Bissau
Cota: K-29-26|BCM

[148373]
Dias, Eduardo Costa
Espaço político africano, espaço político colonial : confrontos de entendimentos no antigo Kaabú -Guiné Bissau, 1900-1930 / Eduardo Costa Dias
In: A África e a instalação do sistema colonial - c.1885- c.1930 : III reunião international de história de África : actas. - dir. Maria Emilia Madeira Santos. - Lisboa : Centro de estudos de História e cartografia antiga, 2000. - p. 301-310
Descritores: Guiné-Bissau | Usos e costumes | Grupo étnico
Cota: K-32-02|BCM

[246018]
Dias, Eduardo Costa
Guiné-Bissau : dinâmicas sociais senegâmbianas, fronteiras e soberania nacional / Eduardo Costa Dias. - Lisboa : IEDS, 1994. - 11 p.. - Contém: bibliografia
Descritores: Estado | Guiné-Bissau | Senegâmbia
Cota: PP158/4/94|CIDAC

[246684]
Dias, Eduardo Costa
Estado, política e dignitários político-religiosos : o caso senegâmbiano / Eduardo Costa Dias. - Lisboa : ISCTE, 2001. - p. 27-51. - Contém: bibliografia
Descritores: Estado | Etnicidade | Religião | Senegâmbia | Guiné-Bissau
Cota: PP228/1/01|CIDAC

[247159]
Dias, Eduardo Costa
Da escola corânica tradicional à escola arabi : um simples aumento de qualificação do ensino muçulmano na Senegâmbia? / Eduardo Costa Dias. - Lisboa : ISCTE, Centro de Estudos Africanos, [2005]. - p. 125-155. - Contém: bibliografia
Descritores: História | Religião | Etnicidade | Educação | Guiné-Bissau | Senegâmbia
Cota: PP228/7-8/04-05|CIDAC


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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 16 de Julho de 2010  > Guiné 63/74 - P6746: Tabanca Grande (230): Felismina Costa, madrinha de guerra de Hélder Martins de Matos, ex-1.º Cabo Escriturário, Bafatá, 1963/64

Guiné 63/74 – P6757: O Nosso Livro de Visitas (94): Cassiano Reginatto, um nosso leitor no Brasil que gosta de África

1. Mensagem de Cassiano Reginatto, um brasileiro que do outro lado do Atlântico acompanha o nosso Blogue, com data de 16 de Julho de 2010.

Boa noite senhor Luís Graça
No Brasil, neste momento são 20h20.
Escrevo-lhes para parabenizá-lo pela iniciativa do blog.
Estava eu consultando algo na internet sobre o Continente africano em 2009 e deparei-me com o seu blog.
Sempre tive fascínio sobre a África, pois na minha infância, muito assisti a filmes passados lá.

Nasci em 1971, portanto, vocês estavam, como se diz no português de Portugal, "a fazer a guerra".

Nas escolas brasileiras nos ensinaram sobre as guerras mundiais, Coreia e Vietnã, mas nunca soubemos desta guerra travada por Portugal contra a descolonização.

Fui militar de infantaria. Aqui no Brasil, o alistamento é obrigatório para quem tem 18 anos, mas presta-se o serviço militar obrigatório somente por 1 ano, e não 2 como aí.

Pelo que leio em relatos de ex-combatentes, a vida foi muito dura para vocês. Foram privados de suas juventudes, de suas famílias, muitos voltaram estropiados e outros tiveram suas vidas abreviadas.

Gostaria de saber se houve brasileiros que combateram com o exército Português nas guerras coloniais, especialmente se houve gaúchos (Sou de Porto Alegre, Rio Grande do Sul), para poder contactá-los e ouvir mais histórias da África.

Bem, vou me despedindo de vocês e saiba, todos os dias entro neste blog (uma vez pela manhã e outra pela tarde) para entender um pouco mais sobre a África e entender um pouco mais desta guerra que destroçou famílias.

Cassiano Reginatto


2. Comentário de Carlos Vinhal

Caro Cassiano
Sou um dos co-editores que ajudam Luís Graça, o fundador deste Blogue.
A nossa missão é manter esta página viva, com postes publicados diariamente, graças à colaboração de ex-combatentes da Guiné (actual Guiné-Bissau).

Julgo que saberá que no século XX Portugal ainda mantinha vários territórios espalhados pelo mundo sob a sua administração (Cabo Verde; Guiné; S. Tomé e Príncipe; Angola; Moçambique; Macau; Timor; e Goa, Damão e Diu), mas que após a independência forçada de Goa, Damão e Diu, em 1961, se precipitaram as lutas de libertação em Angola, Guiné e Moçambique.

Portugal, mercê de uma política errada, não adaptada ao que era normal naquela época, quis pela força impedir a independência daqueles países, cuja ocupação mantinha há séculos.

O resultado foi uma guerra de 13 anos, em África, que custou milhares de vidas e estropiados, além de muitos ex-combatentes, que não têm deficiências físicas, mas apresentam actualmente graves sintomas de stress pós-traumático de guerra, bem difíceis de tratar. Este problema está-se a resolver com calma e paulatinamente, ao ritmo a que vai morrendo cada ex-combatente doente. É esta a verdade nua e crua, como por aqui se diz.

Nem quero falar muito do ex-combatentes guineenses que lutaram ao nosso lado, abandonados à sua sorte, descartados, diria eu, e que por cá vagueiam à espera que lhes façam justiça. Verdade se diga que esperam sentados, coitados.

Voltando ao nosso Blogue, ele mais não é que um testemunho, na primeira pessoa, de ex-combatentes que serviram o Exército Português na Guiné, milicianos ou profissionais, metropolitanos ou naturais, mas que querem deixar as suas memórias e fotografias publicadas para consulta futura, quiçá ajudar a escrever a história de uma época envergonhada do nosso Portugal contemporâneo. Quando digo envergonhada, não me refiro aos ex-combatentes, porque não lhes era dada alternativa, só a fuga do país.

Como saberá, a guerra acabou quando os militares profissionais, fartos de guerra e interpretando os sinais do povo, derrubaram o governo e acabaram com um regime autoritário e desajustado à época e às condições.

Voltando às nossas memórias, há imensa literatura de autoria de ex-combatentes, de que poderá consultar recensões no nosso Blogue, clicando nestas palavras: bibliografia, bibliografia de uma guerra e notas de leitura.

Tanto quanto sei, não terá havido combatentes brasileiros nas nossas fileiras, porque sendo o Brasil um país independente, nenhum cidadão brasileiro seria obrigado a lutar por Portugal. Voluntários estrangeiros não os terá havido, também.

O Serviço Militar Obrigatório terminou em Portugal, havendo actualmente nas fileiras apenas voluntários que de algum modo procuram fazer carreira como militares ou adquirirem conhecimentos técnicos que lhes permitam outro futuro como civis, um pouco mais tarde. Confesso que não sei exactamente quanto tempo têm de cumprir. No nosso tempo variava entre um mínimo de 3 anos e... os que Deus quisesse.

Agradecemos o seu contacto, esperando que nos continue a ler.

Receba um abraço dos editores e da restante tertúlia deste Blogue
CV
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 – P6745: O Nosso Livro de Visitas (94): É ele o Mexia Alves que eu conheci! (António Brandão, Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 2336, Angola, 1968/70)