terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7669: (In)citações (25): Os falhanços da cooperação e os erros das ONGD estrangeiras na Guiné-Bissau (Pepito)


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desevolvimento > Foto da semana > Data de publicação: 17 de Outubro de 2010 > Data da foto: 18 de Setembro de 2010 > Título da foto:   Cerimónia do UAMPANHE > Palavras-chave: História, cultura.

Legenda: "Na vila de Quebo [, antiga Aldeia Formosa, na Região de Tombali] realizou-se no mês de Setembro de 2010 a Cerimónia tradicional de Uampanhe, cerca de 40 anos depois da última (1973) promovida então por Tcherno Rachid, juntando os agricultores e população dos regulados de Foréa e Corubal, convocados pelo seu filho Aladje Tcherno Aliu Djaló.  Trata-se de uma actividade tradicional dos Fulas, em que todos (homens, mulheres, idosos e jovens) fazem colectivamente a lavoura utilizando um instrumento de trabalho, o Féfé, que é uma espécie de arado de forma mais curta, feito de madeira com uma lâmina metálica e amarrado com rotim.  Os lavradores organizam-se em fila e combinam os movimentos (djaracici) sendo na ocasião sacrificado um boi para a alimentação de todos os participantes".

Foto (e legenda): ©  AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) (Reprodução com a devida vénia...)


1. Comentário do Pepito [, à esquerda com a nossa amiga Domingas, enfermeira, em dia de festa, em Cabedú, foto de Zé Teixeira], a pedido dos editores, ao poste P7640 (*)

Olá,  Luís.

Trata-se de um livro antigo [, Intervenção Rural Integrada, a experiência do norte da Guiné-Bissau, do antropólogo Mamadu Jao,  Bissau, INEP (**),   1999, 202 pp.] que retrata um projecto dirigido na realidade pela agência de cooperação sueca. Meteram cerca de 1 milhão e meio de USD por ano no projecto cujo plano era estabelecido em Estocolmo!!!!

Não se deve generalizar aos outros projectos integrados. A cooperação clássica, incluindo a portuguesa,  está ainda hoje cheia de exemplos desses. Somos nós,  cá em baixo,  a apanhar com a paulada da incompetência, mas se leres os relatórios da AD compreendes melhor porque me "amando" a eles.

Seria interessante que essas agências de cooperação fossem avaliadas em vez de passarem a vida a avaliar os outros e a desviar as culpas dos erros cometidos.

abraço

pepito  (**)

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Notas de L.G.:

(*) 19 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7640: Notas de leitura (191): Intervenção Rural Integrada, a experiência do norte da Guiné-Bissau, de Mamadu Jao (Mário Beja Santos)

(...) Moral da história: é melhor ouvir as pessoas, conhecê-las e saber gerir as suas aspirações e não substitui-las. A ajuda ao desenvolvimento tem que mudar sob pena de agravar o descontentamento dos chamados países em vias de desenvolvimento. E a Guiné-Bissau não é excepção, bem pelo contrário. (...)
 
(**) Do sítio do INEP:
 

(...) Fundado em 1984, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) tem como objectivos principais promover os estudos e pesquisas no domínio das ciências sociais e naturais relacionados com os problemas de desenvolvimento do país e contribuir para a valorização dos recursos humanos locais.

A actividade principal do INEP consiste na realização de investigação fundamental e na elaboração de estudos, sendo constituído por um corpo de investigadores nacionais permanentes e uma rede de investigadores associados nacionais e estrangeiros. Leva igualmente a cabo actividades académicas que incluem conferências, colóquios, seminários, jornadas de reflexão, que visam a difusão dos resultados das investigações científicas e o desenvolvimento do próprio Instituto.

Em poucos anos o INEP tornou-se um ponto de referência nacional e internacional de reflexão científica sobre a África Ocidental em geral e a Guiné-Bissau em particular. Dezenas de trabalhos sobre a realidade social guineense, uma centena de artigos e publicações periódicas permanentes confirmam a validade desde Instituto. (...)

(***) Último poste desta série > 22 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7652: (In)citações (28): Bemba di vida [O celeiro da vida], documentário sobre a biodiversidade e as áreas protegidas da Guiné-Bissau, produzido pelo IBAP (2009) (com a colaboração da AD - Acção para o Desenvolvimento)

Guiné 63/74 - P7668: O Alenquer retoma o contacto (2): Os primeiros grandes sustos (Armando Fonseca)

1. Mensagem de Armando Fonseca (ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64), com data de 22 de Janeiro de 2011:

Caros camarigos,
Aqui vão mais umas narrativas para que, se bem entenderem, publiquem algumas fases da guerra passadas em 1964.

Armando Fonseca


O Alenquer retoma o contacto (2)

Os primeiros grandes sustos

Regressados a Mansoa, recomeçaram as escoltas diárias a caminho de Mansabá, Bissorã e Porto Gole, até que no dia 17 de Outubro de 1963 ao dirigir-me para Mansabá, próximo de uma tabanca denominada Mamboncó foram encontrados na estrada dois buracos provocados pelo rebentamento de fornilhos dois dias antes.

Foi o primeiro grande sinal de perigo, porque até aí ainda não tinham aparecido minas por aqueles lados.

No dia dezanove ao fazer outra escolta a Mansabá e depois de ter percorrido mais ao menos metade do percurso, rebentou uma mina mesmo na minha cara, mas por sorte minha e dos camaradas que seguiam no carro, foi comandada uns décimos de segundo antes do carro estar em cima dela, não provocando estragos.

Foram feitas umas rajadas para reconhecimento em todas as direcções pelas borzings, e entretanto um dos soldados da CCAÇ 413, que seguia na coluna e que se tinha apeado, viu um fio que vinha do mato para dentro da estrada e alertou o Furriel de minas e armadilhas que seguia na coluna, tendo este verificado que havia outra mina montada e sobre a qual eu já tinha passado.

Essa mina, que pesava quatro quilos cento e cinquenta, foi levantada com as devidas precauções e a viagem foi recomeçada e seguiu até ao destino.

Como a reacção do apontador das metralhadoras foi imediata não houve tempo para o IN despoletar a outra mina, caso contrário tinha sido uma chacina, haveria decerto mortes e muitos feridos. Esta foi a primeira de muitas das intervenções do meu bom anjo da guarda.

Em vinte, pelas cinco da manhã, lá ia a caminho de Enxalé e uns quilómetros depois de Porto Gole, perto da tabanca de Flora, estava a estrada cortada não permitindo a passagem dos carros. Depois da intervenção dos sapadores lá fomos passando mas passadas umas dezenas de metros começaram a rebentar sobre nós várias granadas e de seguida várias rajadas a baterem no carro. Agimos de imediato e a situação pareceu acalmar-se. Entretanto foram avistados vários elementos IN a fugir. Alguns camaradas foram em sua perseguição, mas como havia outra auto-metralhadora do outro lado do morro, era uma ação arriscada porque podiam ser confundidos com o IN e haver acidentes, como veio a acontecer.

Convencido de que o perigo tinha passado, avancei, e quando cheguei ao cimo do morro para me juntar ao restante grupo que se encontrava do outro lado, senti o rebentamento de outra granada mesmo em cima do carro e novas rajadas se notavam a bater no mesmo. Voltamos a reagir e entretanto quando tudo ficou calmo. Fomos até aos camaradas que estavam do outro lado e verificamos que eles tinham feito fogo sobre o grupo que tinha ido em perseguição do IN. Sem acidentes ao que se julgava, visto se terem apercebido que eram camaradas e não elementos do IN.

Esta nossa missão consistia em fazer passar uma auto-metralhadora e um granadeiro para Enxalé e, como a zona de perigo já estava passada, eles seguiram tendo a restante coluna regressado a Mansoa convencidos de que tudo não tinha passado de susto.

Ao chegar verifiquei que tinha uma roda furada e no outro dia ao desmanchá-la encontrei uma bala de nove milímetros introduzida entre a jante e o pneu, mas não ficou por aqui, porque pela noite comecei a ouvir uns rumores de que faltava um camarada da CCAÇ 413, que decerto teria ficado na operação do dia anterior. Assim, no dia vinte e dois de manhã lá me vejo de novo a caminho da tabanca de Flora, só que, cerca de um quilómetro antes do local de destino, rebentou uma mina na frente do meu carro, mas de novo sem consequências para nós. Entretanto o rebentamento foi precedido de novo ataque com a mesma intensidade do anterior. Respondemos ao ataque, tendo então um pelotão ido mato fora em busca do camarada perdido, sem resultado algum. Quando a escaramuça acabou, tanto eu como a restante guarnição do meu carro, estávamos intoxicados pelo fumo e pelos gases da pólvora que se acumularam dentro dele. Eu tive que ser assistido pelo médico, porque ao sair do carro se não me tivessem amparado tinha caído para dentro da bolanha.

O tempo continuou a passar com escoltas quase todos os dias, por vezes mais do que uma.

Entrou o mês de Outubro e nem no dia dos meus anos (10) tive descanso escoltas atrás de escoltas umas de dia outras de noite para colocar Pelotões ou a Companhia a fazer tentativas de emboscada ao IN. Numa destas operações, no dia 15, eu sofri uma entorse no dedo polegar da mão direita que me deixou um pouco debilitado. Ainda continuei a fazer os serviços que me eram destinados, mas com algum esforço. Um certo dia, devido a algumas dores e a um pouco de ronha, fui queixar-me ao capitão dizendo que não podia continuar a trabalhar e teria que ir a Bissau fazer uma radiografia à mão. Ele ficou um pouco atrapalhado, mas compreendeu o meu esforço e pediu-me para ir ter com o Furriel Mecânico para ver se ele arranjava quem fosse capaz de me substituir. Assim fiz e, em conjunto com o Furriel, preparamos um condutor que depois de umas breves noções já se desenrascava, era um camarada de Freixo de Espada à Cinta que pertencia à CCAÇ 413.

A sua primeira e única saída, no dia dezassete, foi para Bissorã, e passado algum tempo da coluna ter partido de Mansoa chegou uma comunicação via rádio de que tinha rebentado uma mina debaixo da auto-metralhadora e que o condutor tinha ficado ferido. Resultado, o carro ficou com a frente parcialmente destruída, tendo uma das rodas ido pelo ar e ficado em cima de uma árvore. Apenas o condutor tinha sofrido algumas escoriações no rosto e numa das pernas.

Mais uma vez o meu bom anjo intercedeu por mim e creiam que não ficou por aqui este meu fado.

Como o carro ficou inutilizado, no dia 18 de Outubro regressei a Bissau, substituído por outro carro e outra guarnição.
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 21 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7649: O Alenquer retoma o contacto (1): De Bissau para Mansoa com intervenções em Mansabá, Cutia, Bissorã e Porto Gole (Armando Fonseca)

Guiné 63/74 - P7667: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (48): Na Kontra Ka Kontra: 12.º episódio




1. Décimo segundo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 24 de Janeiro de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


12º EPISÓDIO

Quando já eram horas de retomar os trabalhos, o Alferes Magalhães vai ao encontro do seu pessoal. Logo o Dionildo se lhe dirige:

- F… meu Alferes, sabe que dia é hoje?

- Sei lá, não ando a contar os dias.

- O dia da semana?

- Ah, isso sei, é sexta-feira.

- Sabe que a mulher que estava para parir já teve uma menina?

- Já me constou.

- F… sabe que nome lhe puseram?

- Não, não sei que nome lhe puseram, diz lá.

- Sextafeira. Podia ao menos ter nascido num domingo ou até num sábado e sempre lhe punham um nome mais decente.

- Queres então saber mais? Não deve ter sido só por ter nascido numa sexta-feira que lhe puseram esse nome. Não sabes, mas eu digo-te. As sextas-feiras são dias sagrados para os muçulmanos como para nós, católicos, os domingos. Os pais da bebé são com certeza muçulmanos.

Ao jantar, de imediato, o Dionildo informou o Alferes:

- F… o meu Alferes tinha toda a razão, a tal família é realmente muçulmana.

A comida, desta vez, foi mais uma variante de atum porque quando se abre uma lata tem que se comer em duas ou três refeições. Caso contrário pode estragar-se. O “legionário”, na sua grande frigideira, tinha sempre a arte de confeccionar pratos diferentes, mesmo sem variar os ingredientes.

Embora o Alferes não tocasse no pão às refeições principais, o resto do pessoal estava habituado a comê-lo em quantidade. O que tinham trazido de Galomaro há muito que tinha acabado. Andavam agora a comer umas bolachas grossas que nas rações de combate pretendem substituir o pão. Nos primeiros dias foi-se aguentando, mas estava a chegar-se a uma situação insustentável. Como não podia deixar de ser, o Dionildo abre as hostilidades.

- C… F… a merda destas bolachas já me está a entupir o goto. Ainda fico engasgado e tenho que ser evacuado. Para comer metade é preciso, pelo menos, uma cerveja.

Os outros camaradas foram-se manifestando de forma idêntica e o nosso Alferes não deixou de pensar que ao pequeno-almoço muita falta lhe fazia um pouco de pão. Depois de continuarem a comer num silêncio algo significativo, este é quebrado pelo Alferes Magalhães:

- Camaradas, o mais tardar daqui a dois dias vão ter pão.

Todos deixaram cair ruidosamente os garfos no prato e levantaram a cabeça na direcção do Alferes.

- O meu Alferes deve estar a brincar.

- Já sei, vamos ser reabastecidos.

- Isso não, pois não recebemos nenhuma mensagem nesse sentido. Diz o radiotelegrafista.

- Neste fim de mundo onde o meu Alferes vai arranjar pão?

- Farinha temos… Diz outro.

E quando todos se apressavam a molhar os bocados de bolacha no delicioso molho feito pelo “legionário”, o Alferes abre o seu jogo:

- Rapazes, embora eu não coma pão às refeições, também tenho sentido a sua falta, mas mais por vós, resolvi que vai haver pão. Hoje mesmo vou falar com o João Sanhá sobre isso.

- F… meu Alferes, como é que o João vai arranjar pão?

- Calma, muita calma, Dionildo. Vou pedir-lhe que me arranje barro. Nas palhotas é sempre aplicado muito barro e portanto deve haver muito por aí.

- F… pão, barro, o João, o meu Alferes deve estar a ficar apanhado pelo clima, e muito…


Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7664: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (47): Na Kontra Ka Kontra: 11.º episódio

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7666: Ser solidário (99): Viagens Contra a Indiferença (Guiné-Bissau) (2) (Belarmino Sardinha / Fernando Nobre)





1. Continuação da apresentação de parte do livro "Viagens Contra a Indiferença", de autoria de Fernando Nobre, médico, fundador e Presidente da AMI, lançado em Dezembro de 2004 pela Editora Temas e Debates, enviado pelo nosso camarada Belarmino Sardinha (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau), em 20 de Outubro de 2010.




Viagens Contra a Indiferença (2) Págs. 216 a 222

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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 23 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7663: Ser solidário (98): Viagens Contra a Indiferença (Guiné-Bissau) (1) (Belarmino Sardinha / Fernando Nobre)

Guiné 63/74 - P7665: Memória dos lugares (124): As visitas 'sanitárias' do Alf Mil Médico Mário Bravo (Bedanda, Dez 1971/Mar 72): Guileje, Gadamael, Cacine





Guiné > Região de Tombali > Guileje > s/d > O Mário Bravoi junto a um abrigo






Guiné > Região de Tombali > Cacine > s/d > O Mário Bravo junto ao rio Cacine, com um outro alferes





Guiné > Região de Tombali > Guileje > s/d > O brasão da CCAÇ 3325 (a companhia do Cap Jorge Parracho, que esteve em Guileje enrtre Janeiro e Dezembro de 1971)

Fotos: © Mário Bravo (2011). Todos os direitos reservados








Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 (Jan / Dez. 1971) > Crachá... Esta imagem foi-nos enviada em tempos por um camarada desta subunidade, o Alexandre  Agra: "(...) Ao fazer uma pesquisa de trabalho fui cair em Guileje! Agradavelmente surpreendido, começo por dar o meu primeiro contributo para a história de Guileje enviando o crachá da CCAÇ 3325, que lá esteve entre Janeiro e Dezembro de 1971, sucedendo à famosa Companhia dos Magriços de Guileje [, CCAÇ 2617,] e antecedendo a [CCAÇ] 3477. De lá partimos para Nhacra" (...) (**).


Falei posteriormente  com o ex-enfermeiro da CCAÇ 3325, Vitor Manuel Rodrigues Fernandes, mais conhecido na época como o Fininho, que conhece o Alexandre Agra. O Vitor mora na área da Grande Lisboa e é gráfico. Não conhecia o nosso blogue. Não tinha Internet em casa. Mas ficou entusiasmado com as notícias que lhe dei a nosso respeito. Costuma reunir-se com a malta da sua unidade todos os anos, e está regularmente com o Cor Ref Jorge Parracho.  A história da unidade ainda não estava pronta. Nenhum destes camaradas da CCAÇ 3325 voltou a dar notícias...


Foto: © Alexandre Agra (2007). Direitos reservados.




1. Mensagem recente do Mário Bravo (que esteve em Bedanda, como Alf Mil Médico, entre Dezembro de 1971 e Março de 1972, tendo nessa altura sido colocado em Catió) (*):


Luís Graça:


Aquando das minhas visitas "sanitárias" a Guileje, Gadamael e Cacine, tive ocasião para fazer uns bonecos (fotos). Não são muitas, mas são as que tenho. Deste modo quero colaborar para encontrar amigos de tempos difíceis, mas ao mesmo tempo cheios de amizade e respeito.


Cumprimenta, Mário Bravo.


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 Notas de L.G.:


(*) Poste anterior desta série: 

23 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7656: Memória dos lugares (123): O Alf Mil Médico Mário Bravo em Bedanda, na CCAÇ 6 (Dezembro de 1971 / Março de 1972)



(**) As unidades sediadas em Guilele, por ordem cronológica (e respectivo contacto):




CCAÇ 495 (Fev 1964/Jan 1965)


CCAÇ 726 (Out 1964/Jul 1966) (contactos: Teco e Cor Art Ref Nuno Rubim)


CCAÇ 1424 (Jan 1966/Dez 1966) ( contacto: Cor Art Ref Nuno Rubim )


CCAÇ 1477 (Dez 1966/Jul 1967) (contacto: Cap Rino)


CART 1613 (Jun 1967/Mai 1968) (contacto: Cap Neto, já falecido)


CCAÇ 2316 (Mai 1968/Jun 1969) (contacto: Cap Vasconcelos)


CART 2410 (Jun 1969/Mar 1970) (contacto: Armindo Batata)


CCAÇ 2617 ( Mar 1970/Fev 1971) > Os Magriços (contacto: Cap Abílio Delgado)


CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971) (contacto: Cor Ref Jorge Parracho)


CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972) > Os Gringos de Guileje (contacto: Amaro Munhoz Samúdio)


CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) > Os Piratas de Guileje (contacto: José Casimiro Carvalho)

Guiné 63/74 - P7664: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (47): Na Kontra Ka Kontra: 11.º episódio




1. Décimo primeiro episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 23 de Janeiro de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


11º EPISÓDIO

- E quanto ao fanado? Aqui as bajudas vão ao fanado?

- Que eu me lembre nesta tabanca nunca houve festa do fanado das bajudas. Como sempre houve pouca gente e poucas bajudas, as “mulheres grandes” nunca se interessaram com isso.

- João, se algum dia precisar da sua ajuda para conseguir uma bajuda, posso contar consigo?

O João sorriu como querendo dizer que sabia de que bajuda se tratava e respondeu que sim, que podia contar com ele.
O nosso Alferes sente-se satisfeito. Tinha conseguido o seu primeiro objectivo. Teria o caminho livre para definitivamente abordar a Asmau. Agora sim, apercebe-se que relampeja ao longe e sente-se como que mais leve. Tinha saído um peso de cima dele. Logo que o João se despede e se vai deitar, o Alferes Magalhães faz o mesmo. Na morança deita-se vestido como está, em cima da cama, coloca o auscultador no ouvido, liga o pequeno gravador e não demora a adormecer.

O Alferes Magalhães acorda cedo, como é costume, mas com uma noite de sono completa. A conversa com o João tinha sido o sedativo de que andava a precisar. Agora sabia que podia contar com ele para apadrinhar a próxima conversa com o pai da Asmau. A pressa sentida em se juntar à Asmau como que se tinha desvanecido. Era como se já a considerasse sua. Agora era uma questão de tempo. Pouco tempo, pensa. Sentia-se calmo como não acontecia desde a chegada a Madina Xaquili.

Apesar de ter dormido bem, teve que fazer alguma ginástica matinal. Ter dormido vestido e calçado deixara-o um pouco trôpego. Chamou o Dionildo para, conforme as normas que estabelecera, lhe fazer a segurança até à orla de mata, onde vai fazer as suas “necessidades”. Logo que retorna à tabanca, e já dentro do “arame”, dispensa o seu companheiro e vai sozinho à fonte onde toma um banho de água fresca que, naquele clima, é divinal.

Quando vai à fonte, normalmente leva a máquina fotográfica, pois está sempre esperançado de ver por lá novamente a “sua” bajuda. Desta vez ela não está. Apenas algumas mulheres dos milícias a lavar roupa. Tenta conversar com algumas, sem êxito, pois só falam os seus dialectos e pouco crioulo. Nota que uma delas tem o peito e a barriga “decorados” com cicatrizes, que teriam sido feitas com qualquer objecto cortante. Por gestos pede permissão para a fotografar. Ela ri imenso porque o Alferes acha graça às “tatuagens”.

Rindo por o Alferes achar graça às suas tatuagens

Não deixa de pensar mais uma vez naquela questão de os guineenses tomarem banho várias vezes ao dia pois sempre tinha ouvido dizer que os africanos, em geral, cheiravam muito a suor. Na Guiné foi-se apercebendo de que era raro sentir esse cheiro. Também as mulheres gastavam grande parte do seu tempo a lavar a roupa dos familiares, aliás de uma forma bem peculiar: A roupa ensaboada era batida com muita força sobre uma pedra ou então pisada dentro de uma selha.

Mais uma vez encontrando-se várias mulheres junto da fonte surge, encosta a baixo, uma bajudinha a avisar que determinada mulher estava para parir e precisava de ajuda. Embora nem todas tivessem as funções de parteiras, as “mulheres grandes” meteram as roupas nas suas meias cabaças e dirigiram-se para a tabanca para ajudarem no que pudessem.

O Alferes ainda permanece junto à nascente congeminando a forma de melhorar a captação da água. No início tinha que se apanhar a água de uma poça, agora já corria à altura de se poder encher um garrafão de pé. Com mais uma escavação de uns dois metros na direcção do veio de água, passar-se-ia a ter um autêntico fontanário. Sim, porque não se sabia o tempo que se ia permanecer em Madina Xaquili e era imperioso melhorar todas as condições que propiciassem uma melhor vivência.

Ficar ali sozinho não era conveniente. Estava fora do “arame”. Embora achasse que, a haver uma aproximação dos guerrilheiros, ela aconteceria pelo lado da picada de Padada e não por esta zona baixa de onde nem sequer se viam as moranças, o nosso Alferes dirige-se para a tabanca. Pelo caminho cruza-se com os dois camaradas encarregados do abastecimento de água, quer para cozinhar quer para o filtro de água para beber.

O abrigo destinado à população civil, bem no centro da tabanca, estava quase pronto. Já podia albergar todos mas era necessário escavar mais um pouco para o acabar de cobrir com troncos de palmeira. O Alferes, bem disposto e cheio de forças, dá fisicamente uma ajuda. Antes do almoço tem que ir tomar outro banho, tão suado estava. O pretexto de encontrar por lá a Asmau também contava. Desta vez não tem sorte.

Depois de um almoço de esparguete com atum e chouriço, que o “legionário” sempre na sua grande frigideira, prepara divinamente, o nosso Alferes, como todos os camaradas, vai dormir a sesta.

Quando já eram horas de retomar os trabalhos, o Alferes Magalhães vai ao encontro do seu pessoal. Logo o Dionildo se lhe dirige:

- F… meu Alferes, sabe que dia é hoje?

- Sei lá, não ando a contar os dias.

- O dia da semana?

- Ah, isso sei, é sexta-feira.

- Sabe que a mulher que estava para parir já teve uma menina?

- Já me constou.

- F… sabe que nome lhe puseram?


Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7648: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (46): Na Kontra Ka Kontra: 10.º episódio

domingo, 23 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7663: Ser solidário (98): Viagens Contra a Indiferença (Guiné-Bissau) (1) (Belarmino Sardinha / Fernando Nobre)

1. Mensagem do nosso camarada Belarmino Sardinha (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau), com data de 20 de Outubro de 2010:

Luís e Carlos,
Trago até vós este texto sobre ajuda humanitária ao povo da Guiné por, embora extenso, parecer-me bastante interessante e ajudar a perceber as dificuldades que, por vezes, impedem melhor e mais rápida ajuda. Trata-se dum período de seis dias, no início da revolta militar em Junho de 1998, vividos pelo médico Fernando Nobre, membro fundador e actual presidente da AMI.

Junto as respectivas autorizações para salvaguarda do blogue.

Deixo, como sempre, a decisão de publicação ao vosso critério, contudo, embora saiba ser uma prática vossa, pedia o favor de colocarem no início ou no fim: Os agradecimentos ao autor e ao editor. In- "Viagens Contra a Indiferença" de Fernando Nobre (Excerto), Edição de Temas e Debates/Círculo de Leitores

Um abraço,
BSardinha





"Viagens Contra a Indiferença", livro de autoria de Fernando Nobre, médico, fundador e Presidente da AMI, lançado em Dezembro de 2004 pela Editora Temas e Debates.

O livro reune 6 histórias e 16 diários de viagem: ao Irão em 1981, Zaire em 1994, Iraque em 1995 e 2003, Argélia, Palestina, Ruanda, em 1996, Nepal em 1995, Senegal, México e Colômbia em 1997, Guiné-Bissau e Honduras em 1998, Timor em 1999 e Chade em 2004.





Viagens Contra a Indiferença (1) Págs. 209 a 215

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7601: Ser solidário (97): III Concurso de Fotografia a levar a efeito pelos Lions Clube da Senhora da Hora (Jaime Machado / Álvaro Basto)

Guiné 63/74 - P7662: (Ex)citações (127): Um lição de artilharia... A propósito do obus 14, de Bedanda, bem como dos artilheiros e infantes... (C. Martins)

1. Reunião de três comentários do nosso leitor e camarada C. Martins ao Poste P7632, com data de 19 do corrente.


(i) Não sei qual era o nº do Pel Art de Bedanda em 1972.

Quero rectificar os dados referidos do obus 14: o alcance máximo era de 16.600 metros com carga 4 e num ângulo de 45º, o peso da granada era de 45kg.

Quero ainda dizer que os cálculos de tiro eram feitos em jardas porque o obus era de origem inglesa e o peso da granada era em libras. Os dados referidos em cima são a conversão para o sistema métrico e decimal.

Os cálculos tinham ainda em linha de conta a densidade do ar, que variava com a temperatura e humidade e ainda o chamado ângulo de sítio para a crista se houvesse um obstáculo à frente do obus, por isso, meus caros infantes, era muito difícil aos artilheiros calcularem com exactidão o local exacto do impacto da granada, mesmo hoje com GPS é difícil.

Aquela velha anedota de "Deus no livre da nossa artilharia, que da do IN nos livramos nós", só por ignorância, mas nós, artilheiros, aceitamos com bonomia.

Para terminar quero dizer que a velocidade de saída da granada do tubo dependia da carga mas era sempre superior à velocidade do som, por isso fazia aquele som tão característico e se estivesse cacimbo então era cá um "ronco". O custo de cada tiro era apenas a módica quantia de 2.500$00.

Sempre disposto a dar lições de artilharia aos infantes...ah.ahh
Um artilheiro com "MANGA SABURIA NOS CABEÇA", segundo os meus soldados, tá claro.

C. Martins

(ii) Mais uma lição, tá bem, é à borla...

O maior perigo ao fazer fogo era o chamado rebentamento à boca… Estão a imaginar a granada explodir à saída do tubo… mas estão mesmo, mesmo, mas mesmo mesmo. Não tenho conhecimento que tal tenha acontecido na Guiné mas sei que aconteceu na EPA, em Vendas Novas.

O raio de acção da granada ao explodir era teoricamente de 400 metros. Em Vendas Novas vi pinheiros com o tronco com 40 cm de diâmetro completamente cortados. Na artilharia considera-se que um erro de 100 metros é um tiro no alvo.

Se quiserem posso continuar a dar algumas explicações...são gratuitas.

ATENÇÃO: é extremamente ofensivo para um artilheiro chamarem canhões aos obuses e peças assim como cano ao tubo. Na artilharia não há canhões nem canos, ouviram ?!

O pseudo-catedrático em artilharia
C. Martins

(iii) Bom, havia em toda a Guiné Pel Art independentes, de obus 14 ou 10,5 e peças de 11,4 destacados pelo GAC 7, que era constituídos por três bocas de fogo, tendo cada uma delas uma dotação de 10 serventes e eram comandadas por um furriel, tendo obviamente como comandante do Pel Art um alferes.

Os soldados, como todos sabem, eram do recrutamento local.

Admirados com o custo de cada tiro ? ...Oh meus desgraçados infantes, julgam que não gastavam dinheiro ?! Cada tiro que davam com a G3 eram 7$50.. ou pensavam que era à borla ? Gastou-se muito dinheiro em Bedanda e nos outros sítios, em contrapartida comiam farinha de arroz com "estilhaços" que era para aprenderem a não gastar tanto dinheiro com o material bélico

O Catedrático... ou mais

C. Martins

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Nota de L.G.:

Vd. poste de 16 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7621: (Ex)citações (126): Irã cego, de Carla (ou Clara) Amante (José Brás)

Foto acima: O obus 14... Região de Tombali, Bedanda, 1972... Foto de Vasco Santos (ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 6, 1972/73)

Guiné 63/74 - P7661: Tabanca Grande (261): António Teixeira, ex-Alf Mil, CCAÇ 6 (Bedanda, 1972/73), contemporâneo de Mário Bravo, José Vermelho, Pinto de Carvalho, Vasco Santos

Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 (1971/72) > Foto, sem legenda,  do álbum do ex-Alf Mil Pinto Carvalho, hoje jurista (o segundo a contar da direita), de bigode e patilhas...  O António Teixeira está em segundo plano, por detrás do Mário Bravo, ex-Alf Mil Médico.


 Recorde-se que o nosso camarigo Mário Bravo esteve em Bedanda, desde finais de 1971 até aos primeiros meses de 1972.  


Foto: © Pinto Carvalho / Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados


1. Comentário de António Teixeira ao poste  P7611 (*).

Caríssimo [José] Vermelho: Gostaria muito de entrar em contacto contigo. Se possível envia mail para ahoct@netcabo.pt. Sou o Ex-Alferes Teixeira, que na primeira foto estou a transformar o Dr. Bravo em corneteiro.

Um grande abraço, António Teixeira

2. Hoje, 23, às 18:39, o AntónioTeixeira escreveu para o nosso editor Carlos Vinhal:

Caríssimo Carlos Vinhal:


Tomei conhecimento apenas ontem, através do Ex-Alferes Pinto de Carvalho, do vosso Blog que me encheu de felicidade. Encontrei lá fotos e posts de vários amigos, que nunca mais soube que era feito deles.

O Blog está extraordináriamente bem organizado e com muito interesse.

Como ex-combatente (estive primeiro em Teixeira Pinto, depois no Pelundo, mas foi em Bedanda, na CCaç 6, que passei a maior parte do tempo, em 1972/73), gostaria imenso de fazer parte do vosso grupo.

Agradecia que me informasse quais os passos a tomar.
Um grande abraço

António Teixeira



3. Resposta do Carlos Vinhal:


Caro António Teixeira: O nosso blogue tem mais de 6 anos de existência, e tem como objectivo registar as memórias dos ex-combatentes da Guiné, tanto em texto como em fotos. É logicamente um ponto de encontro entre camaradas que lutaram na Guiné, que pisaram o mesmo chão, beberam água das mesmas bolanhas, comeram o mesmo pó e viveram a mesma angústia do dia seguinte.


Caro Teixeira,  temos muito gosto em que te juntes a nós. Manda uma foto antiga e outra actual em JPEG, formato tipo passe,  de preferência (#), indica o teu posto, especialidade, unidade, data de ida para a Guiné e volta, locais por onde andaste e tudo o mais que achares necessário para te conhecermos. Poderás, na tua apresentação, contar uma pequena história ou falar da tua unidade e mandares uma ou outra foto para ilustrar.


Ficamos a aguardar as tuas notícias. Recebe um abraço em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e novo amigo,

Carlos Vinhal
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(#) Observação: Estas fotos serão para encimar os textos publicados. Se não tiveres fotos tipo passe, a partir de fotos com boa resolução eu próprio as editarei para o efeito. Para o envio das tuas mensagens podes dispor dos endereços do Luís Graça, do Eduardo e do meu.


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Guiné 63/74 - P7660: Agenda cultural (102): DocLisboa2011, de 20 a 30 de Outubro, com uma nova directora, Anna Glogowski, e um ciclo dedicado à guerra colonial (Agência Lusa / Carlos Pinheiro)


1. O nosso camarigo Carlos Pinheiro [, foto à esquerda,] mandou-nos oportunamente notícia recente da Agência Lusa, de que retiramos o seguinte excerto, com a devida vénia:

O festival DocLisboa terá em outubro um ciclo de cinema dedicado à guerra nas ex-colónias portuguesas, a partir de um levantamento inédito que está ainda a ser feito, disse hoje a nova diretora, Anna Glogowski.


A próxima edição do DocLisboa, de 20 a 30 de outubro, será de transição, com Sérgio Tréfaut a passar o testemunho na direção a Anna Glogowski, mas a nova responsável tem já algumas ideias do que deve ser o mais importante festival português dedicado ao documentário.

"Uma das partes interessantes de um festival de documentário é a criação de património, de um instrumento de trabalho que vai servir talvez para o futuro", disse Anna Glogowski à agência Lusa, no final de um encontro de apresentação da nova direção do DocLisboa e da Apordoc, a associação que o organiza.

Esta vertente será este ano posta em prática com a exibição de um ciclo sobre a guerra colonial e com a criação de um catálogo para memória futura.


Guiné > Zona Leste > Sector L2 > Geba > CART 1690 > Destacamento de Banjara > 1968 > A CART 1690, com sede em Geba, tinha vários destacamentos: Banjara, Cantacunda, Sare Banda, Sare Ganá... Os destacamentos não tinham luz eléctrica e as condições de segurança eram precárias. O PAIGC tinha uma importante bases em Sinchã Jobel. O destacamento de Banjara  não tinha população civil e era defendido por um pelotão da CART 1690. Distava 45 km de Geba. A fome era negra, comia-se macaco e cobra...

Foto: © A. Marques Lopes (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



"Foram feitos muitos filmes de gente do mundo inteiro e está a tentar fazer-se um levantamento de coisas que são ainda visíveis para fazer uma programação que tenha sentido", referiu a diretora.
Outra das novidades em outubro será a realização de uma retrospetiva da obra do realizador francês Jean Rouch [, 1917-2004,]em parceria com a Cinemateca, com a exibição de filmes que foram recentemente restaurados e digitalizados.


Na equipa do DocLisboa mantém-se Augusto M. Seabra como programador associado, que hoje defendeu uma ideia de festival mais pequeno, com menos filmes e menos salas. (...)


Em termos de programação, manter-se-ão as secções competitivas, as retrospetivas, um país-tema e a presença de um realizador relevante na área do documentário. "O documentário é a tentativa de falar do real, de mostrar a parte invisível do real", descreveu Anna Glogowski. 


A nova diretora foi escolhida por concurso pela Apordoc, que organiza o DocLisboa. (...)


Agência Lusa, 21 de Janeiro de 2011 (com a devida vénia...)
[ Revisão / fixação de texto / seleção de excertos / bold a cor: L.G.]
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Nota de L.G.:

Último poste desta série > 20 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7644: Agenda Cultural (101): A Associação de Estudantes da Guiné-Bissau em Lisboa e o Núcleo de Estudantes Africanos da Faculdade de Direito: Homenagem a Amílcar Cabral, hoje, dia 20, das 16h30 às 19h30, na FD/UL, em Lisboa

Guiné 63/74 - P7659: Notas de leitura (193): Entre o Paraíso e o Inferno, de Abel Jesus Carreira Rei (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Janeiro de 2011:

Queridos amigos,
O livro do Abel Rei merece reflexão. É, sem ambiguidades, uma colectânea de notas que começam por ser diárias e depois, com a exaustão e os muitos silêncios, se vai arrastando à procura do alívio do termo da comissão.
O Abel Rei viveu quase sempre entre o Enxalé, Porto Gole e Bissá, procede a um registo dos acontecimentos e, muitos anos mais tarde, dá-lhes um toque de rigor em consonância com a história da CART 1661.
Para mim, abriu-me o olhar sobre aquele Enxalé com quem Missirá devia ter estado em permanente ligação, quando ali vivi as relações estavam simplesmente cortadas, Missirá ficara na dependência de Bambadinca, por uma decisão do Estado Maior dois quartéis com o mesmíssimo inimigo ficaram de costas voltadas.
Paradoxos da secretaria e do saber dos oficiais do ar condicionado.

Um abraço do
Mário


De Fá até Bissá, passando por Porto Gole e Enxalé

Beja Santos

“Entre o Paraíso e o Inferno” de Abel Jesus Carreira Rei, é um testemunho que se tem de tomar a sério no quadro da literatura memorial da guerra da Guiné. É um diário, e pelo que o autor nos oferece, dificilmente retocado das notas que foi tomando, da linguagem que se falava podemos dizer que é um documento sincero e singelo, é um testemunho da vida da CART 1661, que esteve no Leste nos anos de 1967 e 1968. Está lá praticamente o essencial de quem desvela as descobertas, a aprendizagem/adaptação aos infortúnios, a importância da correspondência, as amizades, as injustiças, as flagelações, a solidão, as saudades.

Diz tudo o que era a nossa viagem para a Guiné, a chegada a Fá, onde tudo parecia tão harmonioso, excepto o calor. A tensão pelo correio da família que não chega, depois a alegria das primeiras cartas e dos jornais locais. A primeira operação no Xime, onde estava a CCaç 1550. Tudo correu bem. Depois são colocados no Enxalé, substituindo a CCaç 1439. Começa a descobrir que todas aquelas dificuldades não tinham sido comunicadas, sente-se tratado como carne para canhão. Roubam-lhe coisas, marcam-lhe consultas médicas para as quais nunca será chamado, monta a emboscada em Mato de Cão e depois é colocado em Porto Gole. Refere que um dos pelotões da sua CART foi colocado em Missirá, mas nunca se falará desse destacamento, pelo que reza o seu diário nunca ali permanecerá, se bem que adiante fale em Finete, em Madina e até operações com o Pel Caç Nat 52. Adoece ou esmorece.

Sem perceber lá muito bem o que andavam a fazer, voltam a fazer uma operação no Xime e regressam a Fá. Depois voltam ao Xime para a Operação Guindaste, na zona do Buruntoni onde será destruída uma casa de mato. Temo-lo depois de regresso ao Enxalé e a Porto Gole. É promovido a 1º cabo e dão-lhe a intendência de comprar e distribuir os víveres. A comida é péssima, mas será muito pior quando for para o recém-criado aquartelamento de Bissá, um ermo entre Mansoa e Porto Gole, irá ser um autêntico bombo de festa até vir a ser desactivado como tantas outras experiências de fixação de quartéis em locais sem praticamente população que justificasse a quadrícula. Em Abril desse ano de 1967 começam as tragédias: um ataque a Bissá de que resultaram 7 mortos e 5 feridos, morreu o capitão de 2ª linha Abna Na Onça.

Anda estonteado com tanto serviço, são colunas, reforços e a compra da comida. Já aprendeu muita coisa, inclusive sabe que existe o macaréu, descobre que há inúmeras desavenças e intrigas entre militares acantonados, vai estando atento à vida das populações autóctones, desde as mulheres a apanharem caranguejos à beira rio até à compra das vacas. E chegou a vez de ir até Bissá que ele escreve assim:

“Destacamento composto por oito casernas-abrigos, vedado com arame farpado e iluminado com petromaxes. Está cercado por tabancas cujos habitantes são de raça balanta, das quais foram queimadas as mais próximas, para melhor defesa do mesmo. Fica rodeado de bolanhas a nascente, sul e poente, e matas pelo norte – o ponto mais perigoso, e pelo qual os turras têm possibilidades de nos atacar. É composto por um grupo de combate e duas secções de polícia administrativa”.

Começou o tempo de grão-de-bico e chouriço, as colunas são um tormento, perigo é o que mais há. Depois volta a Porto Gole, o aquartelamento é sistematicamente flagelado. Circula entre o Enxalé e Porto Gole, em Setembro regressa a Bissá, o quartel degradara-se profundamente. Habitua-se a ver os mortos, a trazer as urnas, a assistir a rebentamentos das minas. Bissá é verdadeiramente um infermo. Os meses arrastam-se, as flagelações não param, todas as colunas passam a tomar a dimensão de operações. Aliás, a CART 1661 participa em operações na região, com outras companhias bem como com tropas nativas. Em Fevereiro de 1968 vai de férias até Bissau, o pré que recebe não dá para férias na metrópole. Quando regressa a Porto Gole, apercebe-se que a situação em Bissau endureceu. A regularidade com que escrevera ao longo de 1967 o seu diário, perdeu-se, é um homem entristecido e, como escreve assiduamente, cansado e sem forças. Quem o lê, apercebe-se que é um homem com estrutura religiosa, está atento ao meio, lê e ouve música, deixa notícias no seu registo de que tudo aquilo é uma estranha guerra em que as populações estão concentradas e em que o inimigo, a despeito de revezes, regressa, tem sempre a iniciativa, cada vez que se vai até ele descobre-se que tem mecanismos de vigilância e detecção junto das suas bases que impede a sua fácil tomada.

A despeito de incorrecções e imprecisões, é um documento humano que um dia os historiadores irão tomar em conta no estudo desta região do Leste, perto do Geba, outrora muito povoada e onde o PAIGC se apropriou dos pontos ermos no Oio e arredores, flagelando e intimidando de 1963 em diante.

É uma prosa cativante quem foi juntando notas, escreve sem jactância nem alardes, fala dos mosquitos como dos maus tratos como do derramamento de sangue, parece conformado, suspira por voltar para a família. É por isso, por não se trata de prosa reconstituída, que tem um inegável mérito.

Contactei há tempos o primeiro comandante da CART 1661 o capitão miliciano Luís Vassalo Namorado Rosa, hoje um dos mais prestigiados arquitectos portugueses, pedi-lhe o seu testemunho para o blogue, já respondeu que qualquer dia nos dará notícias. Vamos aguardar por essas surpresas.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7654: Notas de leitura (192): A História da CART 1802 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7658: Parabéns a você (207): Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833 e José Albino, ex-Fur Mil do Pel Mort 2117 e BAC 1 (Tertúlia / Editores)


PARABÉNS A VOCÊ
23 DE JANEIRO DE 2011

AUGUSTO SILVA SANTOS
E
JOSÉ ALBINO

Caros camaradas aniversariantes Augusto Slva Santos* e José Albino**, a Tabanca Grande solidariza-se convosco nesta data festiva. 

Assim, vêm os Editores em nome de toda a Tertúlia desejar-vos um feliz dia de aniversário junto dos vossos familiares e amigos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que vós amais e prezais.

Na hora do brinde não esqueçais estes vossos camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela vossa saúde e longevidade.

__________

Notas de CV:

(*) Augusto Silva Santos foi Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833 que esteve em Pelundo, Có e Jolmete nos anos de 1971/73.

(*) Vd. poste de 29 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7051: Tabanca Grande (245): Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833 (Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73)

(**) José Albino foi Fur Mil Inf do Pel Mort 2117 que esteve em  Bula e Tite nos anos de 1969/71

(**) Vd. poste de 4 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4640: Tabanca Grande (158): José Albino P. Sousa, ex-Fur Mil Inf do Pel Mort 2117 e BAC 1 (Bula e Tite, 1969/71)

Vd. último poste da série de 23 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7657: Parabéns a você (206): Francisco Godinho, ex-Fur Mil da CCAÇ 2753, Guiné 1970/72 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P7657: Parabéns a você (206): Francisco Godinho, ex-Fur Mil da CCAÇ 2753, Guiné 1970/72 (Tertúlia / Editores)


PARABÉNS A VOCÊ
23 DE JANEIRO DE 2011

FRANCISCO GODINHO
BARÃO DO K3

Caro camarada Francisco Godinho*, a Tabanca Grande solidariza-se contigo nesta data festiva.

Assim, vêm, o Miguel Pessoa e os Editores, em nome de toda a Tertúlia desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.
____________

Notas de CV:

(*) Francisco Godinho foi Fur Mil da CCAÇ 2753 (Os Barões do K3) e esteve em Madina Fula, Bironque, K3 e Mansabá,

(*) Vd. poste de 20 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2865: Tabanca Grande (68): Francisco Godinho, ex-Fur Mil da CCAÇ 2753 (Mansabá, Bironque, Madina Fula e K3/Farim, 1970/72)

Vd. último poste da série de 22 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7653: Parabéns a você (205): Rogério Freire, ex-Alf Mil da CART 1525, Bissorã, 1966/67 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P7656: Memória dos lugares (123): O Alf Mil Médico Mário Bravo em Bedanda, na CCAÇ 6 (Dezembro de 1971 / Março de 1972)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  S/d > Visita do General Spínola... À sua esquerda o Cap Cav Carlos Ayala Botto.



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  Visita do General Spínola (de costas)... À sua frente, à direita,  o Cap Cav Ayala Botto.




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72> Os Alferes Mil Borges, Mário Bravo e Figueiral [ ou Figueiras ?]...



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72> Mário Bravo e o seu pelotão de djubis, fazendo a continência...

Fotos: © Mário Bravo (2011). Direitos reservados


1. Mensagem do Mário Bravo, respondendo às minhas perguntas (*) sobre as suas andanças na Guiné, como Alf Mil Médico:

Luís Graça:

Cá vai a resposta às várias questões que me colocas e deste modo dar imagem do meu percurso na Guiné.

(i) Quando cheguei a Bissau, em 20 de Novembro de 1971, fiquei instalado no QG (Quartel General), durante cerca de quinze dias;

(ii) Durante esse tempo fiz estágio em veterinária (no mataoduro), em inspecção alimentar e outras actividades relacionadas com a profissão;

(iii) Embarquei,  num belo dia, num Cesna civil , para Catió e daí para Bedanda, onde fui substituir o Amaral Bernardo (colega do Porto) [que passou 11 meses em Bedanda];

(iv) Pela consulta que fiz a documentos e fotos dessa época, posso dizer que cheguei a Bedanda em Dezembro de 71;

(v) Fui recebido pelo Amaral Bernardo e, como ele diz em determinado momento, também tive o meu baptismo de fogo - um disparo do obus 14 (que estoiro !!);

(vi) Aí, Bedanda, iniciei a minha campanha de médico militar, num local onde as condições não eram as melhoras, mas que eram compensadas com uma entreajuda fora do que se pode imaginar;

(vii) Durante este período, deslocava-me de modo regular aos quarteis de Guileje, Gadamael Porto e também Cacine;

(viii) Lembro-me que em Fevereiro de 1972, fui deslocado para Catió, para substituir o colega que lá estava;

(ix) Fiz uma pesquisa na minha documentação pessoal e acho que, com as devidas reservas, terei estado em Bedanda até Março de 1972;

(x) Foi uma eternidade, atendendo às condições e ruído que de modo constante (ataques repetidos ), nos atormentavam;

(xi) Em resumo, foi um período de tempo curto, mas que me marcou de modo intenso, porque senti a proximidade das pessoas, num ambiente hostil e com todas as dificuldades inerentes.

Gostei de conhecer tanta gente boa. Para completar e tentar ao mesmo tempo chamar ex-militares de Bedanda, vou enviar umas fotos da minha colecção pessoal, pedindo desculpa pela qualidade menos conseguida, mas eram outros tempos do mundo fotográfico.

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Nota de L.G.:

Últino poste desta série > 21 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7651: Memória dos lugares (122): Os Adidos (Belmiro Tavares)