segunda-feira, 4 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8049: Agenda Cultural (114): Eu sou África, um documentário dedicado ao Cantanhez, à AD - Acção para o Desenvolvimento e a um homem especial, o nosso amigo Pepito, na RTP2, 9 de Abril, sábado, 19h00

1. Mensagem do nosso amigo Pepito, com data de hoje

Assunto - Eu sou África, na RTP2

Caro Pessoal
No próximo dia 9 de Abril (sábado) pelas 19h00, a RTP 2 vai passar uma reportagem sobre a AD no sul do país (Parque Nacional de Cantanhez). Dura 30 minutos.

É ocasião para os que já o conhecem, revisitarem este local fabuloso. Para os que ainda não foram lá, comecem a fazer as malas para vir cá.
abraços a todos 
pepito


2. Informação recolhida no sítio da RTP sobre este programa (Eu Sou África, RTP2, 2011)

Género: Documentário
Ficha Técnica: Produção: Vitrimedia: Realização: Maria João Guardão

A história de 10 pessoas contada em episódios

Eu Sou África é uma série documental de 10 episódios, dois por cada um dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. 

Cada um dos filmes desta série retrata a vida e a obra de um(a) africano(a) implicado(a) na história e no desenvolvimento social,  político e cultural do país onde nasceu. Eu Sou África revela dez heróis desconhecidos do grande público e desfaz os lugares comuns depreciativos da realidade dos PALOP. 

Na diversidade das suas experiências e reflexões, o que estes dez africanos dão a ver é a emergência de uma nova África de língua portuguesa – um lugar em que a esperança tem toda a razão de ser. O último episódio é dedicado à Guiné-Bissau e a um dos seus filhos, co-fundador e director executivo da ONG AD- Acção para o Desenvolvimento.

Carlos Schwarz da Silva [Pepito]

Carlos Schwarz da Silva, guineense nascido em [Bissau], em 1949, só exerceu o nome enquanto se fazia engenheiro agrónomo em Lisboa, ao mesmo tempo que se diplomava na luta estudantil contra a ditadura. Na Guiné Bissau, todos o conhecem como Pepito, lutador incansável contra as más práticas de Estado, mas sobretudo contra a fome, pela cidadania e pelo desenvolvimento.

Fundador do pioneiro DEPA (Departamento de Experimentação e Pesquisa Agrícola) e da ONG Ação para o Desenvolvimento (AD), deputado, neto de polacos que sobreviveram ao Gueto de Varsóvia, filho de um jurista nacionalista preso pela PIDE, pai de 3 filhos, avô de 2 netos, Pepito é, nas palavras dos anciãos balantas, um homem grande.

Testemunha o 25 de Abril frente ao quartel do Carmo, com a mulher, Isabel Lévy Ribeiro, e juntos regressam a Bissau, determinados a viver intensamente o tempo histórico que lhes coube. Com 25 anos e um diploma na mão, Pepito sabe principalmente que quer mobilizar as pessoas para a acção, mesmo que isso signifique recomeçar inúmeras vezes do zero. Ele e os seus recomeçaram sempre. 


A viagem que fazemos, de Bissau à Floresta de Cantanhez – dois dos pólos de acção da AD – , é uma travessia pela sabedoria de um país repleto de singularidades. “A Guiné Bissau tem trinta e duas etnias: são trinta e duas maneiras de pensar diferente, de dançar diferente, de fazer cultura diferente, de filosofias de vida diferentes. É uma riqueza extraordinária se todas forem consideradas elementos que potenciam a união”. 

São estes saberes que Pepito privilegia – contrariando leis ou métodos impostos pelo exterior –nas reuniões com os mais velhos, na festa com os mais novos, nas conversas com mulheres e homens de experiências variadas, muitos dos quais ousaram seguir as práticas informais e eficazes que a equipa do engenheiro agrónomo foi pesquisando e testando, um projecto que se declina na agricultura e no eco-turismo, mas também nas Escolas de Verificação Ambiental, nas televisões e rádios comunitárias. Nas tabancas do sul, no antigo quartel de Guiledge – marco crucial da luta pela independência, memória viva -, em Quelélé, o que está em marcha é a luta contínua pela cidadania e por condições de vida dignas para os guineenses. 




(Fonte: Adapt. do sítio Eu Sou África) (Com a devida vénia)

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8048: Contraponto (Alberto Branquinho) (27): Teatro do Regresso - 2.º Acto - Espécie de Aviador

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 3 de Abril de 2011:

Vai junto o 2º. Acto do "Teatro do Regresso".
Mas, amigo Carlos, teatro não é só comédia. Pode, também, ser tragédia e de tragédias esteve cheio esse "Teatro" durante todo o tempo que esteve em cena.

Um grande abraço
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (27)

TEATRO DO REGRESSO
(Peça em vários actos)

2º. Acto - Espécie de Aviador

Cenário:

Guiné - 1969.
Messe de sargentos.
Sargentos e furriéis sentados em várias mesas, bebendo e conversando.
Alguns jogam cartas.

Personagens:

Dois furriéis milicianos, em primeiro plano, sentados a uma mesa, com várias “bazucas” vazias em cima.
Um deles está deitado sobre a mesa.

Acção

O outro, encostado na cadeira, com uma “bazuca” na mão, leva-a à boca, bebe e diz calmamente:

- Quando chegarmos, vou descansar uns meses e, depois, vou ver se tenho paciência para acabar o Curso de Contabilidade. E tu, o que é que vais fazer na vida civil?

O outro levantou a cabeça da mesa, olhou-o, hesitou um pouco e, com a voz já entaramelada, respondeu:

- Volto… pá… aviador.

- Aviador?!

- Sim.

- Tu tens “brevet”?

- Não. Vou… aviar… na… na loja do meu pai.

- Ah! Já tens trabalho!

- Talvez…

(Cai o pano)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8028: Contraponto (Alberto Branquinho) (26): Teatro do Regresso - 1.º Acto

Guiné 63/74 - P8047: Notas de leitura (225): João Teixeira Pinto, A Ocupação Militar da Guiné (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Março de 2011:

Queridos amigos,
Os relatórios de Teixeira Pinto são documentos soberbos para se perceber como a Guiné, reduzida a praças fortes, é uma colónia insubmissa e praticamente ingovernável, no início do século XX.
As resistências são sublinhadas e profeticamente o pacificador apela a um trabalho político de grande profundidade e persistência. Irá voltar para a sua última campanha em 1915, inacreditavelmente a península de Bissau hostilizava a potência colonial.

Um abraço do
Mário


João Teixeira Pinto, a ocupação militar da Guiné (2)

Beja Santos

Concluída a operação do Morés, o capitão Teixeira Pinto tinha à sua frente os revoltosos da região do Cacheu, havia que pacificar e ocupar a região dos Balantas, Papéis e Manjacos. No final do ano de 1913, Teixeira Pinto chega a Cacheu com algumas forças regulares e centenas de auxiliares comandados por Abdul Injai e mais de 50 Grumetes de Cacheu. Temia-se que os rebeldes oferecem-se grande resistência. Já em 1904, o governador Soveral Martins, à frente de 1800 homens, mostrara-se impotente para conter os revoltosos. Desta feita, Teixeira Pinto faz-se acompanhar de uma pequena força naval e utiliza como armamento várias centenas de espingardas e uma peça de artilharia. Faz a seguinte descrição: “A coluna marchava em fila indiana indo na vanguarda 40 auxiliares sob o comando de um chefe indígena, seguindo, a 100 metros, 200 auxiliares, a 100 metros a peça de 7 centímetros apoiada pelos indígenas (soldados) e Grumetes de Cacheu e na retaguarda os restantes auxiliares com o régulo do Oio, Abdul Injai.

A marcha foi bastante penosa, pelo calor asfixiantes que caia, pela falta de água e ainda pelo caminho que era apenas um carreiro irregularíssimo onde várias vezes tivemos que desarmar a peça e transportá-la às costas”. Em Cacheu, apercebeu-se de um ambiente de profunda hostilidade, põe-se em marcha, percorre matas densíssimas dando resposta aos diferentes ataques. Critica o comportamento dos Futa-Fulas e exalta o comportamento de Abdul, a puxar pelos temerosos. A marcha prossegue, destroem-se povoações, arvora-se a bandeira da República, fazem-se prisioneiros, apreendem-se espingardas. Os régulos começam-se a apresentar e aceitam pagar impostos. Do Pelundo prossegue-se para Có cujo régulo foi preso e começou a perseguição ao régulo de Bula, que também foi preso. A operação está terminada em Fevereiro de 1914. Teixeira Pinto segue para a região dos Balantas que ainda não se tinham submetido, a 3 de Março está de novo a caminho do Pelundo sempre acompanhado de Abdul Injai; as lanchas canhoneiras dissuadem os rebeldes e provocam-lhes elevados estragos.


Há neste relatório para o governador passagens de grande interesse, como se exemplifica: “De repente soa uma descarga na frente. Era a vanguarda composta de 20 auxiliares que tinha entrado numa paliçada em forma de arco de círculo reforçada com uma trincheira, tendo a terra da escavação sido lançada junto à paliçada formando parapeito e de dentro os Manjacos atiravam sobre os nossos. Mataram-nos logo 6 auxiliares incluindo o guia e feriram 7, alguns gravemente. Passada a primeira surpresa dividi a coluna em 4 grupos cercando exteriormente a paliçada sendo mortos na trincheira todos os manjacos que guarneciam. Os Manjacos, em número que sem exagero calculei em 10 000, defendiam-se com valentia, não arredando pé, morrendo grupos completos, sem que ninguém fugisse”. Teixeira Pinto coloca novos régulos, apela ao governador para a montagem de linhas telegráficas, sobretudo entre Cacheu e Bissorã. E termina assim: “Resta-me ainda tratar de um ponto. Bater e ocupar é muito mas falta ainda educar. Criar escolas, obrigando os régulos e os grandes a enviarem ali os seus filhos é de uma necessidade imediata. Em todos os postos de oficial há um sargento que poderia ser o professor, arbitrando-se-lhe uma pequena gratificação mensal. Estou convencido que, educado gentio, ele deixaria de se revoltar, o que traria uma era de prosperidade e engrandecimento para esta província. A revoltas dos indígenas é proveniente não só do seu espírito guerreiro mais ainda e principalmente da sua falta de educação”.

De seguida, Teixeira Pinto, sempre acompanhado de Abdul Injai, dirige uma coluna de operações aos balantas entre os rios de Farim e Geba, propõe-se construir um posto militar em Nhacra. Adianta o seguinte comentário: “A raça Balanta está-se reproduzindo de uma maneira extraordinária e não lhe chega já o território ocupado. Assim, a leste, foi-se infiltrando pelo território mandinga e a oeste pelos Papéis e Brames. Os rios de Farim e Geba não obstam à sua expansão. Nota curiosa – não se deixa absorver pelas outras raças, antes pelo contrário elas é que são absorvidas pela raça balanta. O Balanta tem a qualidade de ser valente e trabalhador mas tem os defeitos de ser traiçoeiro, de ser ladrão, de não cumprir os seus compromissos e de cada um se governar a si mesmo não aceitando a autoridade de ninguém. O Balanta é tido na Guiné como o povo mais guerreiro e valente. O povo Balanta não tem régulos; nas tabancas ou povoações não há chefes e cada um manda na sua casa e só respeitam o que tem mais força e o que tem dado provas de ser mais ladrão”.


A operação teve duas fases. Saíram de Bula, desta vez o comando dos irregulares foi dado a Mamadu Sissé, indo na cauda Abdul Injai e dezenas de cavaleiros. Seguiram para Binar a partir daí tiveram lugar as refregas com mortos e feridos. Seguiram para Encheia onde destruíram povoações e depois para Bissorã. Aqui vão dar-se grandes combates. Seguem-se negociações, mas a situação fica no empasse. Na segunda fase, a coluna deslocou-se de Mansoa para Jugudul, a marcha é penosa, em Nhacra terão lugar tiroteios e em Xangué apresentam-se os Balantas com bandeiras brancas, caíram traiçoeiramente sobre os irregulares em resposta foram mortos os assassinos. Teixeira Pinto lembra ao governador que é necessário proibir de vez a venda de pólvora de espingardas e espadas. Apela à renovação do transporte de tropas, os barcos do governo estavam permanentemente avariados o que obrigava a fretar embarcações o que iria lesar as actividades comerciais.

É neste relatório que Teixeira Pinto pede recompensas para o tenente de segunda linha Abdul Indjai, sobretudo a sua nomeação para régulo do Oio, Abdul era ao tempo régulo do Cuor, há muita intriga à sua volta, deveria ser recompensado pelo seu mérito e valentia. Estamos em Agosto de 1914, Teixeira Pinto faz um resumo dos actos de ocupação e das resistências vencidas. Queixa-se de não ter sido devidamente aproveitado pelo ex-governador Carlos Pereira, quando chegou à Guiné. Refere-se aos ódios movidos à volta de Abdul Indjai, sobretudo a ambição do administrador de Farim que pretendia a anexação do Oio à sua circunscrição. Com o governador José Andrade Sequeira, foi nomeada uma comissão de quatro oficiais que não encontrou nada contra o comportamento de Abdul Injai. Só com a retirada de Teixeira Pinto da Guiné é que começou a perseguição a Abdul, que o militar deplora e depõe a seu favor: “Tenho-me sacrificado pela Guiné, recusei convites, não quis a minha percentagem de imposto de palhota que ofereci à província, tudo isto faço com prazer para conseguir a ocupação definitiva da Guiné”. E termina assim o seu relatório datado de 11 de Dezembro de 1914: “A Guiné será a pérola das colónias portuguesas pela sua riqueza e pela sua situação depois de bem ocupada e bem administrada”.

Teixeira Pinto voltará à Guiné para a sua última campanha, em 1915: contra os Papéis e Grumetes revoltados da ilha de Bissau.

(Continua)
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Nota de CV:

2 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8038: Notas de leitura (224): João Teixeira Pinto, A Ocupação Militar da Guiné (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8046: Blogpoesia (140): Tabancas e Tabanqueiros (Manuel Maia)

1. Homenagem às nossas Tabancas, de Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), enviada em mensagem de  30 de Março de 2011:


TABANCAS E TABANQUEIROS

Monte Real é império do cozido,
nos Melros há um cardápio bem sortido,
e a "Linha" faz do peixe uma bandeira...
Sardinha assada reina em Matosinhos,
p`ra além, claro está, d`outros peixinhos
e das famosas tripas, "à maneira"...


Monte Real por soba tem Mexia,
acolitado pela "confraria"
no ataque à vitualha ultra famosa...
Do grupo Gil e Silva (bela sede...)
Solar dos Melros, justas meças pede,
deguste da lampreia ali se goza...

Na "Linha", é Zé Dinis cipaio-mor,
que os pratos já conhece até de cor,
tal frequência tem daquele espaço...
P`ra Matosinhos régulo votado,
Álvaro Basto, um "garfo bem tratado",
comanda "camarigos" do abraço...
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8037: Blogpoesia (139): Eusébio, o babuíno de Bissum (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P8045: Memória dos lugares (151): Bedanda 1972/73 - O Seis do Cantanhez (António Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada António Teixeira* (ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 - Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 - Bedanda; 1971/73), com data de 11 de Março de 2011:

Camarigos em geral e Bedandenses em particular:
Hoje encontrei um dos meus antigos baús de recordações e fui lá encontrar uma verdadeira preciosidade. O primeiro número do "Seis do Cantanhês" (também só saíram dois números, que eu me lembre), o jornal mensal da CCaç 6.

Infelizmente, naquele tempo, o formato do papel (ainda não globalizado), era ligeiramente superior ao actual A4, razão pela qual se torna dífícil a sua digitalização, sem cortar partes laterais do texto.
Depois também se torna complicado resistir ao tempo, o que fez com que os textos em partes tenha quase desaparecido.
De qualquer maneira tentei e resolvi compartilhar com vocês algumas das páginas desse nosso jornal.

E já agora, quero também aproveitar para informar todos os camarigos bedandenses que em breve irei postar mais algumas fotos, na tentativa de alguém reconhecer ou reconhecer-se, para que haja possibilidade de os contactar tendo em vista o nosso encontro. Agradecia também que todos os já contactados me informem, a mim ou ao Vasco, das pessoas com quem mantêm contacto e que claro, estejam interessados neste encontro.

Um grande abraço para todos.
António Teixeira



(Clicar nas imagens para as ampliar)
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Nota de CV:

(*)Vd. último poste de 13 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7938: Memória dos lugares (146): Bedanda 1972/73 - Natal de de 1972 (António Teixeira)

Vd. último poste da série de 28 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8011: Memória dos lugares (150): O Porto do Portojo ou "a vida em fotos, olhar à minha volta e tentar perceber... ” (Jorge Teixeira / Vasco da Gama)

Guiné 63/74 - P8044: Episódios da Guerra na Guiné (Manuel Sousa) (2): Afinal, os Anjos acompanham-nos

1. Mais um dos Episódios da Guerra na Guiné, trabalho do nosso camarada e Manuel Sousa (ex-Soldado At da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74), enviado em mensagem do dia 15 de Março de 2011:


EPISÓDIOS DA GUERRA NA GUINÉ 1973/1974 (2)


AFINAL, OS ANJOS ACOMPANHAM-NOS

Enquanto o meu Pelotão esteve deslocado da sua Companhia, de Jumbembém, envolvido nos acontecimentos de Guidage que acabei de relatar, permanecemos no quartel de Binta.

Como já descrevi, ali ficámos mais de uma semana a ração de combate, sem tomar banho e mudar de roupa, a dormir no chão, o que, juntamente com todas aquelas emoções em teatro de guerra, no fim daquele período, nos deu o aspecto que a minha fotografia bem ilustra.

No meio daquele clima de guerra, algo de útil aprendi sobre generosidade e solidariedade humanas.
Travei conhecimento em Binta com um militar, o Soldado Pires, que tínhamos em comum sermos ambos transmontanos.
Pertencíamos ao mesmo batalhão, mas como ele estava em Binta e eu em Jumbembém não nos conhecíamos, muito embora a fisionomia dele não me fosse estranha, porque frequentou a recruta em Vila Real como eu e do facto de termos viajado juntos no paquete “Uíge” na ida para a Guiné.

Ele como “estava em casa” tinha a alimentação normal, confeccionada, e eu como estava deslocado tinha a minha ração de combate.
Um dia à hora do almoço, estava eu a comer uma lata de conserva e umas bolachas de água e sal, apareceu-me ele com um prato na mão com a refeição confeccionada que lhe tocava:

- Toma, é para ti, estás aqui há tanto tempo a ração de combate, dou-te a minha refeição que te vai fazer bem.

É indescritível a comoção que me assaltou. Aliás, o mesmo aperto de garganta que estou a sentir agora ao escrever estas palavras.
Aquele gesto de generosidade não se limitou só àquela vez, a ponto de eu algumas vezes recusar, não querendo abusar da nobreza do seu carácter.

Escusado será dizer a amizade que se criou entre nós, naquele tão curto espaço de tempo.
A partir dali nunca mais tive contacto com ele. Terminada a comissão, regressámos à Metrópole, em Agosto de 1974.

Volvido um ano, em Setembro de 1975, ingressei na Guarda Nacional Republicana e fui colocado em Lisboa no Quartel dos Lóios, junto ao castelo de S.Jorge.

Entretanto constituí família e aluguei uma casa em Casal de Cambra, na freguesia de Belas, Sintra.
Uma casa geminada com outra igual, cujo senhorio era o mesmo, que me disse que a outra casa tinha sido alugada também por um Guarda a prestar serviço no Quartel do Beato, também em Lisboa.

Decorreu um lapso considerável de tempo, talvez um mês, sem eu conhecer o outro inquilino: estávamos em quartéis diferentes, turnos diferentes, não se proporcionando por isso qualquer contacto de vizinhos.

Um dia ao sair de casa, olhei para a direita e imaginem quem estava encostado à ombreira da outra porta, da tal casa geminada! O soldado Pires em pessoa.

O que se passou depois, já todos vós estais a imaginar. Afinal os anjos acompanham-nos.

Não resisti a partilhar convosco esta lição de vida.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8035: Episódios da Guerra na Guiné (Manuel Sousa) (1): A crise de Guidage

Guiné 63/74 - P8043: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (7): Os encantos e as armadilhas das ilhas de Bubaque e Rubane (Bijagós), 11/13 de Dezembro de 2009 (Parte III, o regresso a Bissau)


Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009 > Mensagens publicitárias... Esta intriga-me, o anúncio do carpinteiro Khadim Rassoul (?)corta um bocado do início e do fim da mensagem que está escrita na parede: [...] Dona Lídia mindjer ku sibi trata [...] fidju matchu  Deus na dal bom sorte [...] na é mundo.



Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama- Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009  > Também é domingo para os muçulmanos...


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama- Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009 > Uma manhã calma de domingo... e que Deus ou Alá e os  bons irãs protejam a Guiné-Bissau...





















Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009 > O barco, o Expresso dos Bijagós, um antigo cacilheiro do Tejo, parte todas as semanas às sextas-feiras e regressa no domingo... É uma festa! É o acontecimento da semana, em Bubaque... Toda a vida social da ilha ali concentrada, naquelas horas de domingo... A azáfama aumenta com a hora da partida do barco, depois do almoço... Quem parte leva saudade, quem fica, faz a festa...  Para saber mais sobre Bubaque e outras ilhas do arquipélago Bolama-Bijagós, ver aqui, em Rotas & Destinos... [Uma das coisas que eu não sabia  é que Bubaque esteve ocupada pelos alemães durante a I Guerra Mundial... Não se pode saber tudo]. (LG)





Guiné-Bissau > Bissau > 13 de Dezembro de 2009 > 18h45 > Chegada, a a Bissau, do Expresso dos Bijagós, vindo de Bubaque... Partiu às 14h45... São portanto quatro horas de viagem...

Fotos: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação das notas do diário de viagem à Guiné, do João Gracça, acompanhadas de um selecção de algumas das centenas fotos que ele  fez, nas duas semanas que lá passou (*)... 

Nos cinco primeiros dias (de 6 a 10 de Dezembro de 2009) fomos encontrá-lo, como médico, voluntário, no Centro de Saúde Materno-Infantil de Iemberém (*). 

O fim de semana,  de 11 a 13 (6ª, sábado e domingo) de Dezembro de 2009, foi passado em Bubaque e Rubane, no arquipélago de Bolama-Bijagós (**).  Dia, 13, à tarde, estava na hora de regressar a Bissau, que na segunda feira era dia de trabalho: visita médica (obrigatória) aos colaboradores da AD -Acção para o Desenvolvimento, a ONG do Pepito... que  o trabalho de um jovem médico pode ser pouco, na Guiné-Bissau, mas quem não o aproveita... é louco. Mas dia 13, domingo, o diário do nosso Dr. João Graça só tem duas linhas... Em contrapartida, temos muitas fotas... (LG)



13/12/2009, domingo > Bubaque-Bissau

9.1. O porto encheu-se para despedida. É um verdadeiro acontecimento.

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Notas do editor:


(**) Sitografia sobre o Arquipélago Bolama-Bijagós... Algumas sugestões:

(i) Blogue de Nené Montenegro (Lisboa), em português e crioulo > Mulher Bijagó

(ii) Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > 23 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7164: Meu pai, meu velho, meu camarada (22): Bijagós, memórias de menino e moço (Manuel Amante)

(iii) IBAP - Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas,  Guiné-Bissau, Bissau

Guiné 63/74 - P8042: Parabéns a você (236): José Eduardo Oliveira (JERO), ex- Fur Mil Enf da CCAÇ 675 (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

04 DE ABRIL DE 2011

JOSÉ EDUARDO REIS OLIVEIRA (JERO)

A quem desejamos um dia de aniversário cheio de alegria junto daqueles que são a razão da sua vida, esposa, filhos e netos, demais familiares e amigos.

Postal de parabéns do nosso camarada Miguel Pessoa


2. No dia do seu aniversário, tem a palavra o nosso camarada e amigo José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), ex-Fur Mil da CCAÇ 675 que andou nos idos anos de 1964 a 1966 bem pelo Norte da Guiné, mais propriamente por terras de Binta.

Para quem não sabe, o JERO é Jornalista encartado e colabora há muito no jornal "O ALCOA" publicado na sua terra natal, Alcobaça. Não se estranha por isso a publicação de um livro de sua autoria, "Golpes de Mão´s, Memórias de Guerra", onde é descrita a actividade operacional da sua Unidade enquanto tropa de quadrícula. Do seu blogue pessoal (JERO - Histórias e Memórias Pessoais), tomamos a liberdade de retirar um poste recente, com data de 28 de Março último. Entretanto, deixemo-lo apresentar-se a si próprio:


Fui militar e orgulho-me disso. Fiz parte da CCaç 675 – que esteve no Norte da Guiné até fins de Abril de 1966. Fui Enfermeiro e fui louvado e condecorado. Estive em todas ou quase! Fui ainda o “cronista” da CCaç 675 escrevendo um “Diário” de 280 pgs - 250 exemplares. Escrevi e editei em Maio de 2009 o meu 2º. livro.Golpes de Mãos. 500 exemplares.

Apesar de reformado tento manter-me vivo... Vou a todas (ou quase…)! Na Universidade da Vida cursei “cidadania” e participo activamente nas “coisas” da minha terra. Já estive na direcção de variadas instituições. Profissionalmente estive ligado ao M.J. (1958 a 1962 nos Tribunais da Covilhã e Alcobaça),ao Banco Pinto Sotto Maior de 1966 a 1968) e à SPAL-Porcelanas de Alcobaça,SA. Na SPAL estive 34 anos, tendo tido a responsabilidade de Director Comercial-M.Local.


O artigo I do “regulamento” dizia que o Congresso realizar-se-á na cidade do Porto nos dias 1, 2 e 3 de Junho 1973.

O artigo II tinha várias alíneas e diversos considerandos. Os que mais me sensibilizaram e me levaram a viajar até ao Porto tinham a ver com «…reatar e manter os laços de camaradagem…celebrar os serviços prestados e…procurar resolver os problemas relativos à integração social do combatente.»

Dia 3 de Junho de 1973.Eu estive lá. No Palácio de Cristal.

38 anos depois… o que retive.

Saí de Alcobaça acompanhado de minha mulher num Citroen de 2 cavalos, que ainda cheirava a novo.

Sempre que a Pátria decreta, vem-nos de Deus o recado. *

Fomos de véspera para estarmos no domingo no Palácio de Cristal. Pernoitámos num Hotel na Baixa do Porto.

Na manhã do dia 3 seguimos para o Palácio de Cristal.
Encontrei-me com o Rainho (Angola), com o Freitas ( Guiné) e com o Alves.

E veste-se cada poeta, de soldado.*

Quanto entrei no enorme espaço já encontrei uma multidão de ex-combatentes e vi na mesa de honra uma cara conhecida. Fiz questão de ir cumprimentar o Capitão José Caçorino Dias, que “conhecia” por interposta pessoa. Um seu irmão, que era a sua cara chapada e com quem tinha trabalhado na Sede do BP & SM, em Lisboa . Caçorino Dias era uma figura mítica. Tinha ficado cego devido a uma mina em Angola mas mantinha um porte impressionante.

Sob o signo do sangue todo o céu se descerra *

Ao meio dia foi hasteada a bandeira nacional. Seguiu-se a missa. Por volta da uma da tarde cantou-se o hino nacional. Guardo desse momento a lembrança mais forte. Uma recordação inesquecível.

O Hino Nacional. Um coro de mais de 10.000 ex-combatentes. Estávamos de pé junto às mesas .
Cantámos a plenos pulmões. «Contra os canhões marchar, marchar…». Quando acabei de cantar senti uma emoção tremenda. Fiquei silencioso. Julgo que por alguns minutos.

O almoço começou a ser servido. Os criados de mesa saiam em fila indiana de uma cozinha distante e iam servindo a sopa. Caldo verde. Lembra-me do meu parceiro da frente, que devia estar cheio de fome, ter comido a primeira colher de sopa com uma mão e ter limpo as lágrimas que lhe corriam cara abaixo com a outra mão.

Nunca mais esqueci aquele gesto simultâneo de emoção e controle. Eu tive que esperar mais algum tempo até conseguir engolir a primeira colher de sopa. Tinha um nó na garganta que tive que engolir …antes da sopa.

Ó povo incessante, fardado, mal ferido!... É preciso adiar o enterro da terra, Ir ao centro do Sol de certezas vestido.*

Seguiu-se um convívio de que guardo uma memória confusa. A meio da tarde iniciei o regresso a Alcobaça. Que estava bem longe.

No passagem por Coimbra cometi um engano grave. Entrei em sentido contrário numa rua que pensei que desse acesso à ponte. Fui mandado parar por um agente da P.S.P.
- Como é que você faz uma coisas destas?

Reconheci de imediato o meu erro e disse-lhe que conhecia mal Coimbra. Vinha do Porto do Congresso dos Combatentes do Ultramar. Trazia na cabeça o meu “quico”do camuflado e conservava ainda na camisa o crachá identificativo do Congresso. Ainda me lembro do sorriso cúmplice do polícia quando me mandou seguir em paz. Ele também tinha andado por lá…

Mas a cena das lágrimas é que nunca mais esqueci. Porquê? Não sei bem explicar. Uma mão para limpar as lágrimas silenciosas, que escorriam pela cara abaixo, e a outra para levar de imediato a boca, a colher de sopa.

Foi o Alves. Filho de um Sargento da GNR, que tinha cumprido serviço militar em São Tomé e Príncipe. Durante 36 meses.
- A nossa geração, senhores, anda na guerra. Por isso a paz que traz terá sentido.*

Eu estive lá. No Palácio de Cristal-Porto. Em 3 de Junho de 1973. Passaram quase 38 anos.
- A nossa geração, senhores, andou na guerra.

Cumprimos um rito. Por isso a paz que incessantemente procuramos continua a ter sentido.
JERO



*”Vestiram-se os poetas de soldados”, antologia seleccionada e prefaciada por Rodrigo Emílio, expressamente compilada para o 1º. Congresso Nacional dos Combatentes.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8041: Parabéns a você (235): Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72; António Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 2406/BCAÇ 2852 e Hernâni Acácio Figueiredo, ex-Alf Mil da CCS/BCAÇ 2851 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P8041: Parabéns a você (235): Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72; António Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 2406/BCAÇ 2852 e Hernâni Acácio Figueiredo, ex-Alf Mil da CCS/BCAÇ 2851 (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ(S)!!!

04 DE ABRIL DE 2011


AGOSTINHO GASPAR

ANTÓNIO DIAS

HERNÂNI ACÁCIO FIGUEIREDO


Postal natalício de Miguel Pessoa que tem convivido com o Agostinho Gaspar nos já célebres almoços da Tabanca do Centro, em Monte Real.



A estes nossos camaradas e amigos a Tertúlia e os Editores desejam um excelente dia de aniversário junto dos seus familiares e amigos e que esta data se festeje por muitos e bons anos.

Ao Agostinho Gaspar temo-lo visto mais vezes, nomeadamente nos almoços-convívios da Tabanca do Centro. Fomos alertados pela sua filha para o dia de hoje. Esteve também no último Econtro Nacional da Tabanca Grande.

O António Dias,  que passou pelo Olossato e o Saltinho, entrou para a nosssa Tabanca Grande em Agosto de 2009. Apresentou-se na altura nestes termos:

"Sou pira nestas andanças da Net e desde já agradeço o esforço do camarada Henrique Matos, além da sua paciência,  para me iniciar nesta guerra.


"Pois tive de ficar para a liquidatária,  e o Chefe da 7.ª Rep não me queria deixar vir de avião, pagando eu e o sargento a viagem. Aguentei 8 dias e só depois de ameaças me deu o almejado OK. A minha Companhia [ a CCAÇ 2406/BCAÇ 2852, Olossato e Saltinho, 1968/70], já tinha embarcado há um mês!


O Hernani Figueiredo, por sua vez, já vem do nosso primeiro encontro, na Ameira, em 2006. Mora em Ovar. Foi Alf Mil TRMS da CCS/BCAÇ 2851, Mansabá e Galomaro , 1968/70. E a propósito recorde-se o nome dos tertulianos que se deslocaram à Herdade da Ameira, em Montemor o Movo, para o nosso 1º (tímido) encontro:





"Para memória futura, aqui fica a lista (sujeita a ratificação por parte do nosso major de operações, o Carlos Marques dos Santos) dos presentes na Ameira (nem todos couberam na fotografia e começo por pedir desculpa se falho o nome de alguém):(nem todos couberam na fotografia e começo por pedir desculpa se falho o nome de alguém):António Baia (Amadora) (novo tertuliano, pertencia à Intendência);

António Pimentel (Porto):
António Santos e esposa (Caneças / Loures);
Aires Ferreira (região centro);
Carlos Fortunato e esposa (Lisboa);
Carlos Marques dos Santos e esposa (Coimbra);
Carlos Oliveira Santos (Coimbra) (novo tertuliano, CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72);
Carlos Vinhal e esposa (Matosinhos);
David Guimarães e esposa (Espinho);
Fernando Calado (Lisboa);
Fernando Chapouto e esposa (Bobadela / Loures);
Fernando Franco e esposa (Venda Nova / Amadora);
Hernâni Figueiredo (Ovar);
Humberto Reis e esposa (Alfragide / Amadora);
Jorge Cabral (Lisboa);
José Bastos (região norte);
José Casimiro Carvalho (Maia);
José Luís Vacas de Carvalho (Montemor-o-Novo);
José Martins e esposa (Lisboa);
Luís Graça e esposa (Alfragide/Amadora);
Manuel Lema Santos e esposa (Massamá / Sintra);
Manuel Oliveira Pereira e esposa (Lisboa);
Martins Julião e esposa (Oliveira de Azeméis ?);
Paulo Raposo (Ameira / Montemor-o-Novo);
Paulo Santiago (Águeda) ;
Pedro Lauret (Lisboa);
Raul Albino (LIsboa);
Rui Felício (Lisboa);
Sampedro (novo tertuliano, ex-capitão, que julgo ter pertencido ao BCAÇ 3884 , Bafatá, Contuboel, Geba e Fajonquito, 1972/74)
Sérgio Pereira e esposa (Lisboa);
Tino Neves e esposa (Laranjeiro / Almada);
Vitor Junqueira e filha (Pombal);
Victor David e esposa (Coimbra);
Virgínio Briote e esposa (Lisboa)" (...).
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Nota de CV:


Vd. último poste da série de 31 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8019: Parabéns a você (234): Mas que raio de coisa esta! (Magalhães Ribeiro)

domingo, 3 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8040: Carta Aberta a... (6) Sr. Presidente da República: o 10 de Junho, Dia dos Combatentes (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves:


Data: 31 de Março de 2011 15:42
Assunto: Carta Aberta ao Presidente da República



Meus caros camarigos editores:

Hoje mesmo enviei via site da Presidência da República, a carta que anexo, ao Senhor Presidente da República. Esta carta surgiu das ideias ontem apresentadas pelo António Martins Matos no Encontro da Tabanca do CentroA ele enviei o primeiro esboço desta carta, tendo-me dado conselhos preciosos para chegar ao texto final, que como acima afirmo, já foi enviado pelo site da Presidência.

Já recebi aliás a informação de que tinha sido recebida. O texto da carta envolve-me obviamente a mim, mas julgo que expresso, mais coisa menos coisa, o sentir da grande maioria dos Combatentes.

Fica à vossa disposição para publicação na Tabanca Grande e quem sabe, poder posteriormente receber a assinatura de todos aqueles que nela se revejam. Poder-se-á perguntar porque não a submeti à anterior apreciação de todos? Eu respondo, pela experiência que tenho e todos vós também, que tão cedo não teríamos um texto final que pudéssemos enviar. Assim, como acima refiro, a carta envolve-me a mim, mas pode ser expressão de todos aqueles que a ela queiram a aderir.

O modo de fazer essa adesão deixo-o ao cuidado de quem sabe mais do que eu dessas coisas.

Um abraço camarigo para todos do
Joaquim Mexia Alves

2. Carta aberta ao Presidente da República

Exmo. Senhor Presidente da República
Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva

Escrevo esta carta aberta a V. Exa., pois na sua qualidade de Presidente da República é também o Comandante Supremo das Forças Armadas de Portugal.

Aproxima-se o dia 10 de Junho, e como sempre acontecerão as respectivas celebrações e actividades, que se vão tornando no tempo e na história, cada vez mais afastadas daquilo que deveriam efectivamente ser.

Com efeito, hoje já não faz sentido o chamado “Dia de Camões e das Comunidades”, por razões tão óbvias que nem precisam ser enumeradas

O dia 10 de Junho, que deveríamos entender como o Dia de Portugal, esteve sempre ligado, na sua mais original génese, aos Combatentes de Portugal, que ao longo da História da Nação foram dando o melhor de si para a servir.

E é perfeitamente legitimo que assim seja, porque uma Nação que se honra da sua História, sempre deve homenagear os seus filhos que por essa História se entregaram com risco, e muitas vezes entrega da própria vida.

A maior parte das nações que de um modo geral Portugal considera aliadas ou amigas, têm em cada ano, um dia especialmente dedicado aos seus Combatentes, independentemente das razões ou legitimidade das guerras travadas.

Assim, em nações como a Grã-Bretanha ou os Estados Unidos da América, (para citar apenas estas duas), esse dia é comemorado com “pompa e circunstância” e os Combatentes são a figura principal das celebrações desse dia, sem distinção, conotações políticas, ou quaisquer outras, mas apenas respeitando e homenageando aqueles que serviram a Pátria com as suas próprias vidas.

Se o 10 de Junho não é entendido nesta dimensão, (e é óbvio pelo passado recente que o não é), duas coisas há a fazer:

- Ou fazer do 10 de Junho esse dia de homenagem e respeito aos Combatentes.

- Ou criar um novo dia específico para essa homenagem, na certeza porém, de que o 10 de Junho nos moldes em que é celebrado agora, perderá rapidamente a anuência e empenho dos Portugueses que agora, apesar de tudo, ainda minimamente tem.

Não se perguntarão as autoridades de Portugal, o porquê de, ainda havendo tantos Combatentes das guerras recentemente travadas por Portugal, ser tão diminuta a afluência às celebrações do 10 de Junho?

A resposta é sem dúvida muito fácil. É que os Combatentes não se revêem na forma como esse dia é celebrado e muito menos ainda na forma como são tratados nesse dia e em todos os dias.

Escrevo a V. Exa. por mim, mas também por muitos que ouço e pensam como eu.

Não se trata agora de subsídios, ou outras “compensações” financeiras, seja por que motivos forem, mas sim, única e exclusivamente, de respeito e consideração por aqueles que, tendo deixado tudo, (voluntária ou involuntariamente), não deixaram de servir Portugal, a maior parte das vezes em condições de terrível sobrevivência.

Foram gerações sacrificadas, mas generosas, como V. Exa. muito bem disse no seu recente discurso na “Cerimónia de Homenagem aos Combatentes no 50º Aniversário do início da Guerra em África”, e que, mesmo não tendo na sua maior parte “ido à guerra” de modo voluntário, não deixaram de cumprir até á exaustão com tudo o que lhes foi exigido, e em condições de inigualáveis dificuldades, prestigiaram Portugal e todos aqueles que pela Nação combateram desde a sua própria Fundação.

Pode parecer uma escrita épica, ou desajustada das “realidades” de hoje, mas é verdadeira para todos aqueles que se orgulham de ser Portugueses e se orgulham da sua História.

E isto, repito, nada tem a ver com política, ou formas de interpretar as guerras, mas sim como o respeito que sempre deve existir por aqueles que se deram pelos outros.

Nós, Combatentes, não queremos ser anónimos, nem envergonhados, (que o não somos), mas queremos sim, (tal como nos países acima referidos), desfilar, de pé, de cadeira de rodas, ou conduzidos por outros, seja qual for a nossa condição, acompanhados pelos estandartes e símbolos, sob os quais servimos Portugal.

Não nos movem quaisquer razões político/partidárias, nem conotações com qualquer regime, mas sim, a razão de querermos desfilar em Belém, pois queremos desfilar em homenagem e honrando aqueles que estão inscritos naquele Monumento aos Combatentes, e que deram tudo o que tinham a Portugal, ou seja, a sua própria vida.

Não queremos discursos de circunstância que ninguém ouve, nem queremos discursos de instituições mais ou menos estatizadas, queremos sim ouvir algum ou alguns de nós, que nos encham a alma, o coração, bem como o Comandante Supremo das Forças Armadas, para nos sentirmos vivos, para nos sentirmos respeitados, para sentirmos que a «Pátria nos contempla», não para nosso orgulho, mas para nosso respeito, e para que as gerações vindouras saibam que Portugal honra os seus filhos.

Senhor Presidente da República, está nas suas mãos ouvir os Combatentes!

Não, como acima refiro, as instituições mais ou menos “estatizadas” de Combatentes, mas ouvindo os Combatentes, que até pela força do seu passado, com muita facilidade se organizarão para responder a um seu convite.

Estamos, como V. Exa bem sabe, pois também fez uma comissão em Moçambique, a ficar cada vez mais velhos, já para além dos 60 anos, pelo que é tempo de se corrigir o desprezo a que foram e são votados os Combatentes de África.

E não só os de África, mas os de todos os tempos que serviram Portugal.

Desfilaremos, transportando com tanto orgulho o estandarte das nossas unidades militares da guerra em África, como com o estandarte dos nossos irmãos mais velhos da guerra na Europa, ou em qualquer parte do mundo.

Portugal precisa, mais do que nunca, de se olhar, de olhar as suas gentes, de redescobrir a generosidade com que os Portugueses sempre se deram pela sua Nação, para não corremos o risco de cada vez mais nos fecharmos em nós próprios apenas para “lambermos as nossas feridas”.

Homenageando, respeitando e enaltecendo os Combatentes, homenageamos, respeitamos e enaltecemos a vontade inabalável dos Portugueses.

Homenageando, respeitando e enaltecendo aquelas gerações, fazemos também com que as gerações de agora e as vindouras, sintam orgulho e vontade de pertencerem à Nação que «deu novos mundos ao mundo».

Está nas suas mãos, Senhor Presidente da República, marcar uma viragem importante e imprescindível nas celebrações do 10 de Junho, e assim, dar aos Portugueses e ao mundo, uma nova imagem de Portugal que honra os seus filhos, porque só por eles existe e é Nação.

Com os meus respeitosos cumprimentos

Joaquim Manuel de Magalhães Mexia Alves
Alferes Miliciano de Operações Especiais na disponibilidade.
Guiné 1971/1973

3. Nota dos editores:

Amigos/as, camaradas, camarigos/as:

Se quiserem manifestar o vosso apoio  a esta "carta aberta", podem fazê-lo directamente no sítio da Presidência da República Portuguesa... Cliquem em Escreva ao Presidente.  Têm à vossa frente um formulário que oferece uma interface gráfica para o envio da vossa mensagem, que não pode excer dos 10 mil caracteres (tomem como termo de comparaação a carta do JMA que tem cerca de 6600 caracteres com espaços).

Não se trata de nenhum abaixo assinado nem de nenhum petição pública. Trata-se apenas de informar os serviços da PRP que, a título pessoal, apoiam o conteúdo da carta do nosso camarada (sugerindo que seja repensado o tradicional formato das comemorações do 10 de Junho, em que os ex-combatentes não se revêem). Pode ser uma mensagem do seguinte teor: "Subscrevo a Carta Aberta ao Presidente da República Portuguesa, enviada em 31 de Março de 2011, por esta via, pelo cidadão e ex-combatente Joaquim Manuel de Magalhães Mexia Alves"...

Preencham os campos de resposta obrigatória, assinalados com asterisco (nome, e-mail, morada, etc.). Em relação ao motivo do envio da mensagem, podem responder o seguinte: Motivo=Informação. Temática= 10 de Junho, dia dos Combatentes.

Guiné 63/74 - P8039: In Memoriam (73): Cerimónia de homenagem aos Combatentes de Matosinhos caídos em Campanha em Angola, Guiné e Moçambique, dia 9 de Abril de 2011 pelas 11H15 no Cemitério de Sendim (Carlos Vinhal)

Memorial aos mortos no naufrágio do dia 2 de Dezembro de 1947 e aos caídos em campanha na Guerra do Ultramar, erigido no Cemitério de Sendim, autoria conjunta do Professor Alfredo Barros e do Arquiteto Francisco Pessegueiro. 
Na ponta esquerda do Memorial, ao fundo da foto, que simboliza o local onde o sol nasce, estão os nomes dos mais de 150 mortos no naufrágio. Na ponta direita, em primeiro plano, com o sol já a querer mergulhar nas águas do mar, estão os 70 nomes dos nossos camaradas caídos nos três TO.
A parte inferior do Memorial, em verde-água, simboliza o mar que matou uns quase à porta de casa e levou outros a caminho de África, onde haveriam de morrer.


NO DIA 9 DE ABRIL DE 2011 VAI TER LUGAR A CERIMÓNIA DE INAUGURAÇÃO DO MEMORIAL EM HOMENAGEM AOS 151 PESCADORES MORTOS NO NAUFRÁGIO DE 1 PARA 2 DE DEZEMBRO DE 1947, E DOS 70 MILITARES CAÍDOS EM CAMPANHA NA GUERRA COLONIAL EM ANGOLA, GUINÉ E MOÇAMBIQUE

1. O Concelho de Matosinhos vai finalmente ter um Memorial que perpetuará os seus filhos caídos em Campanha na Guerra Colonial. Este Memorial será partilhado com os pescadores falecidos no grande naufrágio de 2 de Dezembro de 1947.

Segundo os artistas plásticos que criaram o monumento, o Professor Alfredo Barros e o Arquiteto Francisco Pessegueiro, ambas as situações de morte tiveram um factor comum, o mar, que matou uns e levou outros ao local onde haveriam de morrer.


2. As cerimónias de homenagem, organizadas pela Câmara Municipal e pelo Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, começam pelas 10 horas da manhã, com uma Missa de Sufrágio na Igreja Matriz de Matosinhos, finda a qual haverá uma deslocação para o Cemitério de Sendim onde se situa o Memorial e onde a partir das 11H15 decorrerá a cerimónia oficial com o seguinte alinhamento:

Alocuções alusivas ao acto:

- Representante da Associação dos Pescadores
- Representante da Comissão dos Combatentes
- Representante da Liga dos Combatentes
- Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos


Inauguração do Memorial, com a bênção pelo Capelão Militar e deposição de duas coroas de flores

Homenagem aos Mortos

- Toque de Sentido
- Toque de Silêncio
- Toque de Homenagem aos Mortos
- 1 minuto de silêncio
- Toque de Alvorada
- Toque de Descansar

- Declamação de um poema por um Combatente e interpretação de um cântico pelo Coro da Associação dos Pescadores

Fim da Cerimónia


3. Graças à prestimosa colaboração do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, está praticamente assegurada:

Para a Missa:
- Uma Guarda de Honra ao Altar, composta por 4 militares e um Terno de Clarins.

Para o Cemitério:
- Uma Guarda de Honra composta por um Pelotão.
- Fanfarra mais caixa de guerra.


Neste Sol, no Ocaso, estão inscritos os nomes dos matosinhenses tombados em Campanha na Guerra Colonial.


Esta figura pictórica simboliza o esforço da juventude matosinhense em África no cumprimento do seu dever patriótico.


Parte intermédia do Memorial decorada com figuras pictóricas de autoria de Alfredo Barros, em que o mar está sempre presente. Ainda podemos ler, de Eugénio de Andrade, o poema "Despedida" que diz: "Colhe o oiro do dia na haste mais alta da melancolia".


4. Ficam desde já convidados a assistirem a esta homenagem todos os ex-combatentes, suas famílias e público em geral.