sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8901: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (29): O sold cond auto Dias ou Manuel Alberto Dias dos Santos, da CCAÇ 3549 (Fajonquito, 1972/74) (Cherno Baldé / José Cortes)

1. Comentário de Cherno Baldé [, foto à esquerda, com os seus quatros filhos,] ao poste P8863

Boa tarde Luís,

Como já tive oportunidade de dizer, gostaria de estar online em permanência para comunicar e acompanhar a vida do Blogue mas, infelizmente,  ainda não é possível pelo que lamento o facto de ter que responder sempre com alguns dias de atraso.

Claro que quero ter notícias dos meus amigos portugueses que passaram por Fajonquito entre 1970/74. A CCAÇ 3549 se destaca em especial por ter sido das últimas e das quais nos lembramos melhor.


Não creio que o soldado condutor Dias esteja [já]  entre nós por se tratar de uma pessoa que tinha um perfil psicológico muito agitado, temperamental. Não obstante, sei que muitos dos seus colegas ainda estão vivos e têm-se reunido com alguma regularidade. Antes, o José Cortes dava notícias sobre os encontros.

Assusta-me um pouco a ideia de um possível reencontro com os meus velhos amigos de infância, preferia guardá-los, na minha memória, com a imagem de há 40 anos atrás, razão por que não estou muito entusiasmado. Quando vejo as imagens dos vossos encontros, custa-me muito acreditar que são as mesmas pessoas que conheci nos anos 60/70. Da mesma forma que fiquei dececionado quando voltei da URSS em 1990 e encontrei o meu pai, outrora forte e imponente, agora vergado sob o peso da idade e da miséria humana.  

Como já tinha deixado transparecer, eu não estou à procura de ninguém em especial. Nós vivemos no mesmo planeta terra, mas temos realidades históricas e contextos sociais diferentes. Não quero expor ninguém a situações que não sejam da sua própria vontade, e salvo algumas exceções, não me parece que haja muito entusiasmo da parte dos ex-soldados metropolitanos em revisitar o seu passado da Guiné e doutras partes. Pode ser uma percepção errada da minha parte e, se for, peço desculpas.

A minha viagem para a ex-URSS aconteceu em agosto de 1985 e o regresso à Guiné em setembro de 1990.

Um grande abraço para ti,  extensivo à familia  (a Alice, ao João e à Joana) e a todos que te são queridos.

Os meus votos de boa saúde e muita coragem a todos os nossos coeditores.

Do teu amigo e irmão,

2. Comentário de L.G. [, foto  à direita, CCAÇ 12, Finete, 1969, acompanhado do José Carlos Suleimane Baldé e do Umaru Baldé, do 4º Gr Comb]: 

Tinha perguntado, no mesmo poste,  o seguinte:


Cherno Baldé: (...) Andamos à procura do Dias... Será que queres ter noticias dele ?... Outra coisa: quando partiste para a Moldávia ? Finais de 1985, princípios de 1986 ?... Regressaste, de Kiev, em 1989, é isso ?... Um abraço fraterno. Prometo visitar-te quando aí for... Luís


PS - A família, a saúde, o emprego ? Como vão as coisas por aí ?


3. Resposta do nosso camarada José Cortes  (ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74), ao um pedido meu de notícias sobre o Sold Conduto Auto Dias:

De: José Cortes [ cortjose@gmail.com]
Data: 12 de Outubro de 2011 21:26
Assunto: Soldado Condutor Dias


Caro Luís Graça, é verdade tenho andado um pouco afastado das lides da Tabanca, já me encontro reformado desde Abril e estou ainda a ajustar o meu novo estilo de vida, com tempo para tudo e sem tempo para nada, se é que me entendes.

Pois o Cherno Baldé pergunta pelo Soldado condutor Manuel Alberto Dias dos Santos, que era conhecido só por Dias, e que na verdade como ele diz era um pouco rude na maneira de falar, mas correto na maneira de agir.

O companheiro Dias, infelizmente, já faleceu,  salvo erro em  2005. Foi funcionário do Boavista, e vivia naquela zona da Boavista,  na cidade do Porto.

Nós também não o voltámos a ver porque ele não comparecia aos nossos convívios. Fizemos um,  onde o Capitão São Pedro quis prestar homenagem a todos os que já tinham falecido, e convidou as viúvas dos camaradas já desaparecidos, e foi quando soubemos da sua morte, através da viúva do soldado Dias, que esteve presente nesse convívio assim como quase todas.

Ainda hoje há viúvas dos camaradas que iam aos nossos encontros,  fazem questão de estar presentes, mesmo já não tendo os maridos, porque era aquilo que eles gostavam e elas
continuam a estar presentes e a responder pelos maridos à chamada.

Quero ainda dizer que mantenho contacto com a Filomena, que andou à procura do Furriel Andrade, trocamos emails, e falamos no Facebook, ela trabalha numa ONG (Organização não Governamental), em Bissau, que protege as mulheres que trabalham na agricultura, enquanto os homens passam o dia debaixo do mangueiro à sombra.

Bem fico por aqui, um abraço, a toda a Tabanca.

José Cortes

[ Título / revisão / fixação de texto, em conformidade com o NAO - Novo Acordo Ortográfico]
____________

Nota do editor:

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8900: Notas de leitura (286): Lugar de Massacre, de José Martins Garcia (José Manuel M. Dinis)

1. Mensagem José Manuel Matos Dinis* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 8 de Outubro de 2011:

Aqui há alguns dias atrás, um camarada interpelava o Mário B. Santos, através de comentário, se ele já tinha lido o livro com o titulo em epígrafe: "Lugar de Massacre", da autoria de José Martins Garcia, edições Salamandra, 1996 - 3.ª edição**.

Parece-me de realçar que a 1.ª edição ocorreu em 1975 e por via da Afrodite, essa interessante editora de Fernando Ribeiro de Mello, não só pelo cuidado das suas edições, mas, também, pelo arrojo dos temas apresentados (de que o mais conhecido será, talvez, a "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica"), e pela divulgação de autores polémicos como Luís Pacheco, ou o mal-amado Fernão Mendes Pinto. A 2.ª edição foi no Circulo de Leitores.

Aquela interpelação levou-me novamente à estória, pois recordava apenas tratar-se de um texto de uma ficção erudita, e que me deu grande gozo na leitura.

De facto, trata-se de um romance cuja acção decorre no território da Guiné durante o período da guerra pela independência. É um género literário algo difícil, embora escrito com grande qualidade, apesar de o Autor, por momentos, parecer ter bebido um fortíssimo licor de absinto, com consequente perda do fio da meada. Mas não, não perdeu nada!

Ele recorre a um estilo provocador, eivado de uma inspiração humorística, que deve ter dado muito gozo enquanto escreveu a obra, através da qual são estilizadas diversas questões de absurdo, indiferença e irresponsabilidade, que aconteciam, quer nas repartições de Bissau, quer nos batalhões e companhias dispersas pela quadrícula (o mato). A partir dessa malha tece o Autor quadros de exageradas pinceladas, com riqueza de detalhes espantosos, e que contrariam o que mais se espera do retrato da guerra: a disciplina, a ordem, a determinação, o controle da situação. O Autor caracteriza as tradicionais dificuldades "obrigatórias" para o pessoal do mato, tanto ao nível das instalações, como do material, segurança e alimentação.

Mas o grande gaudio atinge-se com a caracterização da ineficiência verificada em repartições e departamentos militares em Bissau, onde vícios associados a tiques, a castas (filhos-de-famílias), à incompetência, ao desleixo, e à generalizada falta de auditorias (um fartar vilanagem, com ramificações cancerígenas por todo o território), espelhavam o ridículo e a ineficiência de algumas dessas repartições e departamentos, subjugados a interesses subterrâneos de conivências, apadrinhamentos e tricas, e à subtil vigilância exercida por uns sobre os outros, de que resultavam expressivas futilidades, inanidades e injustiças.

Neste particular desenvolve-se a narrativa, pela descrição pormenorizada das principais figuras dos "Serviços de Conjugação", onde um "lobby" de "panascas" desenvolve espectacularmente o caos e a actividade displicente, em termos geralmente repugnantes para o meio militar, mas tolerados por via de influências, receios revanchistas, e pela incapacidade para denunciar o comandante daqueles serviços.

A par disso, medrava a bebedeira da rejeição, protagonizada, sobretudo, por um alferes miliciano ceifado pela tropa no inicio da carreira profissional, decadente pelo álcool, que aqui e além acrescenta incisivas críticas ao regime militar em guerra, e que vem a sofrer com sucessivas andanças pelo mato, em inócuas tarefas de experimentação de equipamentos, sem obrigações nem responsabilidades, no que poderia tornar-se a divisa dos serviços, como consequência de uma sórdida congeminação do comandante e do amante.

Como referi, por vezes parece perder-se o tino da acção, por súbitas intercepções ou desvios ao discurso, num propositado caminho de desequilíbrios, dando abrangência a muitas e variadas estórias que aconteceram durante a guerra, mas, também, a muitos aspectos que feriam a capacidade da máquina militar, onde se ocultavam "ilhas paradisíacas", autónomas ou não, onde estranhamente se movimentavam oficiais, sargentos e praças que, objectivamente, não contribuíam para o bom desempenho e resultado da guerra, descrições que chegam a ser hilariantes.

Abraços fraternos
JD
____________

Notas de CV;

(*) Vd. poste de 2 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8728: História da CCAÇ 2679 (43): Aquele hôme (José Manuel Matos Dinis)

(**) Vd. poste de 3 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5924: Notas de leitura (72): Lugar de Massacre, de José Martins Garcia (Beja Santos)

Vd. último poste da série de 10 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8885: Notas de leitura (285): Até Lá Abaixo, de Tiago Carrasco (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8899: Tabanca Grande (303): Carlos Alberto de Jesus Pinto, ex-1.º Cabo Condutor Apontador Daimler do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa, 1969/71)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Carlos Alberto de Jesus Pinto, ex-1.º Cabo Condutor Apontador Daimler do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa, 1969/71, com data de 8 de Outubro de 2011:

Caro Camarada,
Tenho seguido com atenção o vosso blogue e quero aqui deixar também o testemunho da minha passagem por essas terras da Guiné.

Sou o Carlos Alberto de Jesus Pinto, 1º Cabo Condutor Apontador Daimler,  do Pelotão 2208.

Estive sediado em Mansabá e Mansoa entre Fevereiro de 1970 e meados de 1971, enquanto tivemos viaturas operacionais.

Estivemos depois em Bissau até final de comissão, a 18/12/1971.

Como solicitam, aqui deixo as minhas fotos de apresentação, bem como algumas das recordações que guardo. Tenho muitas mais se o desejarem poderei enviá-las.

Sem outro assunto, até breve.
Abraço do camarada
Carlos Pinto


Quartel de Mansabá. Nesta foto, de pé à direita, reconhece-se o CMDT do Pel Rec Daimler 2208 Alf Mil Ernestino Caniço.

Fotos: Carlos Pinto

Legenda: Carlos Vinhal


2. Comentário de CV:

Caro Carlos Pinto, é com particular prazer que te estou a receber nesta Tabanca Grande. Pisei exactamente o mesmo chão que tu, e por coincidência ainda somos contemporâneos.

Se bem te lembras a CCAÇ 2403 foi rendida em Mansabá, em Abril de 1970, por uma Companhia madeirense, exactamente a minha, a CART 2732, onde fui Furriel, no teu tempo em funções na Secretaria da Companhia.

Não tenho a certeza se vocês estiveram connosco depois de Novembro de 1970, altura em que se começou a alcatroar a estrada entre o Bironque e o K3, quando foi para Mansabá um Pelotão do Esquadrão de Reconhecimento  2641 (Panhard).

De qualquer modo, quase de certeza me safaste as costas muitas vezes nas colunas que fazíamos para Mansoa e outros passeios turísticos pelas redondezas.

Falas em fotos. Podes mandar as que quiseres para publicar, quer de Mansabá quer de Mansoa. Só te peço o favor de mandares as respectivas legendas para identificar pessoas, locais e situações ou acontecimentos.

Por exemplo, nas fotos hoje publicadas, se puderes identifica os camaradas que estão contigo. Reconheci só o Alf Mil Ernestino Caniço, vosso Comandante de Pelotão.

A tua colaboração neste blogue pode ser também em texto, pois há sempre uma história não esquecida, um momento marcante, um ataque ao aquartelamento, uma emboscada na estrada, etc. Assunto não falta, queiras tu contribuir.

Por falar em colunas, se clicares nas palavras Mansabá e Mansoa, sublinhadas, na cor laranja, abrirás os mapas das respectivas zonas, onde poderás recordar as estradas por onde andaste.

Não quero terminar sem antes te deixar um abraço em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8809: Tabanca Grande (302): Abram alas, camaradas, temos aqui mais um velhinho, o Alcídio Marinho, do Porto, Miragaia, ex-Fur Mil, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65)

Guiné 63/74 - P8898: História de uma vida (José Saúde Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 - Nova Lamego e Gabú -, 1973/74)


1.  1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego e Gabú) - 1973/74, enviou-nos uma mensagem onde nos descreve a sua energia e força de lutador, e o seu poder de crer e esperança, que serviu para ultrapassar momentos dolorosos na sua vida passada recente e que poderá servir-nos de exemplo e incentivo, para revitalizarmos o nosso ânimo físico e psíquico quando, e se, nos tocar, a um de nós, idêntico problema.

HISTÓRIA DE UMA VIDA

De miúdo irreverente, ao futebol, passando pela tropa (Tavira, Lamego e Guiné), ao jornalismo e a um AVC (aos 55 anos) que me tentou derrubar sendo eu mais forte, é uma história de vida que cruzou momentos ímpares de prazer e de sofrimento. Hoje, passados cinco anos sobre esse maldito infortúnio, considero-me um homem livre que continua absorvido na escrita não obstante tudo fazer apenas com a mão esquerda, aquela que sempre recusou o trabalho, faço uma vida normal, regressei à condução, desloco-me para qualquer lugar e considero-me um VENCEDOR.

O AVC não limitou as minhas faculdades mentais, deixou-me manco e com lado direito limitado, é verdade, mas… VENCI!

UM EXEMPLO DE VIDA!

Todos temos uma história de vida para contar. A minha escreve-se com ensejos de prazer e de dor. De sofrimento. Desde muito jovem que evidenciei capacidades físicas de todo invejáveis. Aos 13 anos iniciei-me no futebol federado no Despertar Sporting Clube, em Beja, aos 16 ingressei no Sporting Clube de Portugal, aos 18 regressei à velha Pax Júlia integrando então uma equipa de craques do Desportivo de Beja onde fui logo titular apesar a minha tenra idade e aos 22 entrei para o serviço militar.

Tavira recebeu-me, transitei depois para Lamego – Operações Especiais/Ranger – e seguiu-se a Guiné – Gabú. A minha vida profissional dividiu-se, a certa altura, entre funcionário da Segurança Social e o jornalismo. Finalmente o jornalismo preencheu-me por completo, sendo que em 1999, como escritor, lancei o meu primeiro livro “GLÓRIAS DO PASSADO”, uma temática inédita que relata a evolução do futebol ao longo do Séc. XX na Associação de Futebol de Beja. Em 2006 trouxe à estampa o segundo volume de “GLÓRIAS DO PASSADO” e a 27 de Julho desse ano confrontei-me com a infeliz visita do meu AVC.

Não desisti. A vida, sendo difícil, abriu-me sempre novas portas. O primeiro ano foi devastador. Palavras! Poucas. O meu frequente diálogo parecia perdido no tempo. A cadeira de rodas a minha pontual companhia. Depois foi a canadiana que me ajudou a delinear os primeiros passos. Pelo meio do trajecto registei inúmeras quedas, algumas me conduziram ao hospital.

Paulatinamente fui ganhando confiança. Vieram novas metas. Novos objectivos. Ultrapassei barreiras impensáveis. Não desisti. A certa altura consegui alterar os conteúdos da minha carta de condução. Não foi fácil. A fala, entretanto, regressou. No Centro de Mobilidade de Alcoitão fui submetido a um exame de precisão para avaliar as minhas potencialidades. Fiquei apto.

Comprei um carro. As dificuldades iniciais impuseram-me, naturalmente, restrições. Tudo é feito utilizando os membros esquerdos. Consegui. Mais uma vitória.

Em 2009 lancei mais um livro, agora a relatar a minha realidade: JOSÉ SAÚDE - AVC ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL – NA PRIMEIRA PESSOA – editora MEL – Editores (Estarreja). Uma obra que relata o meu caso particular e incentiva aqueles que, eventualmente, se deparam com a infeliz realidade.

Na continuidade deste tema já preparo uma segunda versão: JOSÉ SAÚDE - AVC ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL – VOLTAR A SER FELIZ.

Confesso que esta é apenas uma pequeníssima resenha da minha história de vida. Faço-o por que numa conversa (telefónica) recente com o Luís Graça ele lançou-me o desafio e eu despretensiosamente aceitei.

JORNALISTA: Responsável pelo Departamento Desportivo da Rádio Voz da Planície, Beja (11 anos); correspondente dos jornais “A BOLA” e JN; director e proprietário de jornal desportivo “O ÁS”, em Beja; pioneiro em televisão por internet – TV BEJA – na área desportiva e redactor do jornal Diário do Alentejo.

Sporting CP – 1968

Guiné – 1973
Fevereiro de 2009
PREFÁCIOS
GLÓRIAS DO PASSADO II

INTRODUÇÃO

GLÓRIAS DO PASSADO” é uma obra que visa recuperar um espólio que corria o risco de se perder no tempo, não ficando para a posteridade registos públicos daqueles que foram sem dúvida os grandes impulsionadores do futebol no Séc. XX no distrito de Beja. Neste contexto, os factos e os protagonistas narrados na obra, onde os depoimentos são justamente sustentados em imagens fotográficas recolhidas no baú das recordações, visam deixar escrito às gerações vindouras a história do futebol na região contada na primeira pessoa.

É verdade que não foi fácil reunir toda a documentação. Porém, a amabilidade com que me fui deparando ao longo de todo o percurso por parte daqueles que comigo colaboraram, permitiram que o sonho, aos poucos, se fosse tornando realidade.

Reconheço que pelo meio ficaram imensos sacrifícios; muitos contactos; muitas consultas; muitos quilómetros percorridos; e, sobretudo, muitas horas de trabalho que chegou a roçar a exaustão. Mas porque estou convicto de que se trata de um passado que importa preservar, julgo que a aposta está ganha e que valeu a pena toda a persistência e empenho na recolha dos dados.

A todos que tornaram possível mais um volume de Glórias do Passado, o meu muito obrigado!
O Autor

PREFÁCIO

O acidente vascular cerebral (AVC) é uma doença que, quando não é fatal, deixa normalmente marcas físicas nos membros afectados do doente portador, umas vezes com sinais evidentes de uma recuperação, mas outros casos há, porém, em que a marca fica, sendo então transportada até ao resto da vida.

Nesta última situação, importa que o doente enfrente com naturalidade os efeitos a que ficou submetido, elevando ao máximo a sua autoestima, fazendo, assim, uma vida normal, pensando sempre que o romper de nova aurora será mais um dia que estamos no seio dos seres viventes.

Nada de submissões, mas seguir em frente com o destino que a vida nos reservou. Somos gente capaz de nos elevarmos ao ponto máximo de tudo fazermos sem recorrermos ao próximo na procura de uma eventual ajuda.

O “coitadinho”, visto de fora, é, afinal, uma pessoa útil e competente para o cumprimentos dos seus deveres e das obrigações. Não procurámos o mal que um dia nos visitou. Chegou quando nada o fazia prever.

Aconteceu. Tenhamos, pois, a coragem para saber lidar com uma doença que não conhece sexos nem idades. É universal.

"Subtil, surge inesperadamente sem avisar."

“Esta é uma obra sobre um paciente acometido de um Acidente Vascular Cerebral, que lhe deixou como sequela uma Hemiplegia Direita, e que do lado de lá nos relata a sua visão, ainda que por vezes bastante ténue, o seu acompanhamento e os cuidados prestados. O AVC na Primeira Pessoa aborda o quotidiano, os desafios, os mistérios e os segredos desse mundo vivido pelo próprio! De maneira singela, fala-nos de como uma doença que ameaçou dilacerar as suas esperanças de liberdade, se deve tornar emblema de uma sociedade.

in Prefácio

José Manuel Mestre
Gestor de Serviços de Saúde
(Ex Fisioterapeuta)

Guiné 63/74 - P8897: Filhos do vento (11): A filha da minha lavadeira (António Bastos)

1. Mensagem do nosso camarada António Bastos, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66, com data de 8 de Outubro de 2011:

Companheiros da Tabanca, boa noite
Eu António Paulo S. Bastos do Pelotão Caçadores 953 que esteve no Cacheu, vou contar a história dessa menina que eu tenho ao colo, também filha do vento.

No dia 21 de Julho de1964, já o sol tinha desaparecido no horizonte quando cheguei ao Cacheu, à nossa chegada, já a porta de armas estava cheia de população para ver os periquitos.

No outro dia lá continuaram a oferecerem-se para nossas lavadeiras, a certa altura vi uma menina com um bebé ao colo e junto a ela estava um cipaio (policia lá de Cacheu) então o nosso guia de nome Alêu disse-me para dar a roupa a ela e assim ficou.

O nome da lavadeira já não me recordo, sei que era filha do cipaio (também já não recordo o nome do cipaio nem da menina) mas a história que me contaram é que a menina era filha de um Soldado que esteve em Binar em 1962 e que quando o cipaio estava no posto Administrativo de Binar nessa altura foi quando a filha engravidou, ele pediu a transferência para o Cacheu.

Também me disseram que o pai da menina tinha morrido numa emboscada já a menina era nascida.

Companheiros não posso confirmar isto pois foi tudo contado pelos nossos guias, Alêu e Claudino também já falecidos, um em 1974 e outro em 1993.
Mas que a menina era branquinha e muito linda era .

A mãe foi minha lavadeira até Março de 1965, foi sempre impecável nunca me faltou nada e até me cosia alguma coisa mesmo sem eu pedir.

Esta foto foi tirada no dia 9-8-1964

É tudo, um grande abraço a toda a Tabanca Grande

António Paulo
Ex-1º Cabo
Pel Caç 953
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8890: Filhos do vento (10): Guiné, Índia, China: da prática das núpcias interraciais (António Graça de Abreu)

Guiné 63/74 - P8896: Recortes de imprensa (51): Hoje como ontem, de África ao Afeganistão, a realidade (oculta) do stresse pós-traumático de guerra...

Reproduzido,  com a devida vénia,  do JN - Jornal de Notícias, de 8 do corrente:

Sociedade > Militares que serviram no Afeganistão têm sintomas de stress pós-traumático



Um estudo da Universidade do Minho aponta que mais de 10% dos militares portugueses em missão no Afeganistão entre 2005 e 2009 apresentam sintomas de perturbação de stress pós-traumático [PSPT], além de queixas físicas e outras doenças.

Em entrevista à Agência Lusa, o investigador da Universidade do Minho (UM) Carlos Osório, que é também militar, explicou que um dos objectivos desta investigação foi "perceber as consequências a nível de saúde" que a presença no Afeganistão teve para os militares portugueses "no imediato e a longo prazo". 

Assim, referiu, "foram feitos inquéritos a 113 militares do Exército português mobilizados no Afeganistão, integrados na International Security Assistance Force [ISAF], uma força que tem por objectivo restabelecer a paz entre forças beligerantes".   

Segundo Carlos Osório, estes inquéritos serviram para "avaliar a exposição a stressores específicos" a que os militares das forças especiais portuguesas estiveram expostos no Afeganistão e a "associação desta exposição com o desenvolvimento de problemas mentais e queixas físicas".  

Os resultados, revelou o investigador, mostram que destes 113 militares, "três por cento preencheram os critérios de PTSD [, acrónimo inglês de Post-Traumatic Stress Disorder] e 10 por cento os critérios de PTSD parcial", isto a nível de "sintomas de perturbação mental".

Quanto a problemas de saúde física, "os resultados mostraram a presença de queixas físicas como dores nas costas, fadiga, dores musculares, dificuldades em dormir, ou inclusivamente dores de cabeça", enumerou o investigador.

Já as doenças "mais comuns" identificadas foram "doença gastro-intestinal, nervosa, respiratória, alérgica e cardiovascular".

Sobre o "teatro" em que se movimentaram estes militares, o estudo mostra que:

(i)  "71% destes militares participaram em operações de combate onde poderiam ter perdido a vida",

enquanto  (ii) "81% observaram inimigos feridos, 

(iii) 23% observaram inimigos mortos,

(iv) 15% feriram inimigos em combate

e (v) 10% chegaram mesmo a matar inimigos".

Segundo Carlos Osório, "apesar de a presença de PTSD e PTSD parcial ser relativamente baixa", os sintomas destas perturbações mentais estão "associados a diversas queixas físicas e à presença de doenças". 

Com base neste estudo, o investigador concluiu ser "essencial a criação de programas que avaliem e monitorizem todos os militares portugueses regressados do Afeganistão" para lhes "providenciar sempre que necessário o acompanhamento psicológico e psiquiátrico".

Carlos Osório alertou ainda para a necessidade de "todos os militares que apresentem várias queixas físicas serem avaliados para PTSD" e que "aqueles diagnosticados com PTSD devem também ser avaliados para a presença de sintomas físicos".

[ Revisão / fixação de texto / links / título: L.G.]

______________


Nota do editor:

Último poste da série > 3 de Outubro de 2011 >Guiné 63/74 - P8852 Recortes de imprensa (50): Medalha de mérito militar chega 43 anos depois... A história do 2º Srgt Mil Libério Candeias Lopes, de Penamacor (CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)

Guiné 63/74 - P8895: Agenda cultural (165): 1ª Feira do Livro da APTCA/SNPVAC, Lisboa, de 6 a 22 de Outubro (José Brás / Luís Graça)






1ª Feira do Livro da APTCA / SNPAC > Lisboa, 6-22 de Outubro de 2011. Programa das atividades culturais. ENTRADA LIVRE.




A APTCA é uma instituição socioprofissional representante desta classe no âmbito cultural, social, desportivo e de lazer. Juridicamente, é uma organização sem fins lucrativos.



Carlos do Carmo e Aldina Duarte na 1ª Feira do Livro APTCA/SNPVA [, Sindicato Nacional do Pessoal de Voo]... Em primeiro plano, o nosso camarada José Brás... Auditório do SNPVAC, Av Almirante Gago Coutinho nº 90, Lisboa > 11 de Outubro de 2011 > Sessão do fim de tarde > Conversas à volta da literatura e do fado.

O evento foi oportunamente anunciado nestes termos:

"A APTCA, com o apoio do SNPVAC, está a organizar a realização da 1ª FEIRA DO LIVRO, nas suas instalações, com autores Tripulantes de Cabine, sem restrições a nenhuma das modalidades da literatura, já publicados ou não.

"Da organização fazem parte JOSÉ BRÁS, JOSÉ BORGES e JOSÉ CEITIL, que têm já listados, com vista a contacto e convite, grande parte dos colegas com textos produzidos, editados ou não. Se tens interesse em participar,  contacta-nos. O evento terá abertura no dia 6 de Outubro e a única condição obrigatória para os participantes é serem Associados da APTCA ou do SNPVAC". 


1. O José Brás, nosso camarigo, escritor, autor de duas obras sobre a experiência de guerra no TO da Guiné, antigo tripulante de cabine da TAP - Air Portugal, histórico dirigente sindical, apaixonado pelos ultraleves, poeta, letrista de fado, homem dos sete ofícios e sobretudo homem da(s) palavra(s), enviou-nos uma primeira notícia sobre  este evento, apenas para nosso conhecimento.
 
Enviou-nos uma segunda notícia " já pensando na publicação", mesmo sabendo que o "core business" do nosso blogue não é propriamente a divulgação das atividades, sociais, profissionais, académicas ou culturais dos membros da nossa Tabanca Grande.

Escreve o Zé Brás, a reforçar o seu pedido: "Como sabes, levar gente à cultura é muito difícil e temo que todo este trabalho [, no âmbito da APTCA, e da sua 1ª  Feira do Livro ] se perca por aí. Como tem coisas muito interessantes e há muita gente nossa em Lisboa, se pudesses dar um jeito urgente a isto,  ficaria muito grato. Grande abraço. José Brás".

Já divulgámos o programa da 1ª Feira do Livro da APTCA / SNPAC internamente, pelos mais de meio milhar de endereços da nossa Tabanca Grande. E damos agora notícia, no blogue, tendo em conta que: 

(i) há cumplicidades e afinidades entre a malta que fez parte da FAP - Força Aérea Portuguesa, ou do Exército, durante a guerra do ultramar, e que agora trabalha ou trabalhou na aviação civil (nem sabemos quantos pertencem exatamente ao nosso blogue ou são leitores do nosso blogue);

(ii)  estas atividades de natureza cultural estão organizadas sobre a forma, interessante,  de tertúlia, por sessões temáticas ("dia do autor", "conversas sobre..."); 

(iii) há temas que podem interessar a alguns de nós, membros ou não membros da nossa Tabanca Grande, como as conversas à volta de blogues, de capas de livros, da literatura, do fado, do jornalismo, dos 70 anos da TAP (história que também é nossa...), etc.; 

(iv) também um dia destes gostaríamos de poder realizar umas jornadas deste tipo, dando destaque aos autores da Tabanca Grande, com obra publicada ou inédita, nos mais diversos géneros literários, do romance à poesia, do ensaio  à memorialística (e não temos dúvidas que reuniríamos também um notável conjunto de nomes);

e, por fim, (v) há, neste evento,  gente gira e de qualidade, a começar pelo nosso camarada Zé Brás, cujos "seres, saberes e lazeres"  também nos interessa partilhar e divulgar...  (Ele e outros autores, com livros publicados ou inéditos, de preferência sobre a temática da guerra colonial).

2. Parabéns ao Zé pela iniciativa de que ele é co-autor e grande entusiasta. E bom sucesso, traduzido em boa participação (de autores e de público). 

Numa das fotos do Facebook reconheci, além do José Brás, o Hélder Sousa e o seu amigo José Ceitil, também da comissão organizadora do evento. Espero que os camaradas e amigos da Guiné possam passar por lá:  Sede da APTCA:  Av Almirante Gago Coutinho nº 90, Lisboa... Eu, infelizmente, vou estar fisicamente limitado, por estes tempos mais próximos,  na sequência da operação cirúrgica ao meu famigerado joanete (marcada, para esta manhã, às 9h). (LG)

_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 11 de Outubro de 2011 >Guiné 63/74 - P8893: Agenda cultural (164): Notícia do lançamento do livro Alcobaça é comigo,... de autoria do nosso camarada José Eduardo Oliveira, levado a efeito no passado dia 9 de Outubro (Miguel Pessoa)

Guiné 63/74 - P8894: Parabéns a você (327): A nossa amiga tertuliana Cátia Félix (Tertúlia e editores)

____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8886: Parabéns a você (326): Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8893: Agenda cultural (164): Notícia do lançamento do livro Alcobaça é comigo,... de autoria do nosso camarada José Eduardo Oliveira, levado a efeito no passado dia 9 de Outubro (Miguel Pessoa)

1. O nosso Camarada Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Pilav Reformado, enviou-nos este trabalho referente à cerimónia de apresentação* do livro de autoria do nosso camarada José Eduardo Oliveira, "Alcobaça é Comigo", no passado dia 9 de Outubro.


LANÇAMENTO DO LIVRO “ALCOBAÇA É COMIGO”, DE JOSÉ EDUARDO REIS DE OLIVEIRA



No passado domingo 9 de Outubro foi apresentado no Parlatório do Parque dos Monges o livro “Alcobaça é comigo” do nosso camarada José Eduardo Reis de Oliveira, mais conhecido por JERO.

O Parque dos Monges - onde decorreu o lançamento – fica nos arredores de Alcobaça, num lugar chamado Chiqueda. É lindíssimo e digno de uma visita. Ou não tivesse sido este o local escolhido pelo JERO para receber os seus amigos... 

Foi uma tarde de amizade pura, testemunhada por familiares e amigos, e também por camaradas da C.Caç. 675 (Guiné 1964-66) – Ten.General Tomé Pinto, ex-Tenente Mil. Belmiro Tavares (tertuliano do blogue Luis Graça e Camaradas da Guiné)e pela irmã e sobrinho do ex-Furriel Mil.Álvaro Mesquita, morto em combate em 28 de Dezembro de 1964, que se deslocaram expressamente de Vila Nova de Famalicão. 

Os camaradas da Guiné estiveram ainda representados pela Giselda e Miguel Pessoa, Belarmino Sardinha e sua mulher Antonieta e ainda António Paiva (HM 241-Bissau). Outros não puderam estar presentes, por afazeres pessoais ou problemas de saúde.

O autor é bem conhecido entre os combatentes da Guiné que seguem os blogues da Tabanca Grande e Tabanca do Centro e tem oferecido naqueles espaços textos de grande qualidade. A sua experiência como director-adjunto e redactor do periódico “Alcoa” (quinzenário de Alcobaça) e o seu conhecimento das “gentes da terra” terão certamente contribuído para o interesse que estes contos irão agora despertar no leitor. 

Ainda nos preliminares da apresentação, o JERO conversa com o Belarmino e o Padre Carlos Jorge

E se se pode pensar que as trinta histórias agora apresentadas se dirigem a um público específico, poderemos nós acrescentar que há temas que são universais e que no caso presente permitem compreender a maneira de pensar, proceder e estar na vida, das gerações que antecederam a nossa e que influenciaram fortemente a forma como veio a ser moldada a geração que nos anos ’60 e ’70 sofreu e ultrapassou as agruras de uma guerra que não tinha procurado mas que alterou profundamente o percurso pessoal e profissional de muitos de nós.


O painel de apresentação era constituído por três conhecidas personalidades da terra - Padre Carlos Jorge (da paróquia de Alcobaça), Drª. Madalena Tavares (técnica superior da C.M.Alcobaça) e Dr. Carlos Gomes (da Associação de Amigos do Mosteiro de Alcobaça) - .o que se entende, dado que o livro agora lançado (a terceira obra por ele produzida)  se debruça sobre histórias passadas na região e transmitidas de boca em boca ao longo dos anos – como refere o autor “um século e tal de histórias e historietas de gentes da minha terra” – o que explica o interesse que pode despoletar entre os alcobacenses.

Isso mesmo reflecte-se nas palavras introdutórias da Drª Madalena Tavares, que se congratulou com esta tarde de convívio entre amigos que assinala  o aparecimento de um livro que é um tributo à história local e à tradição oral, ao transcrever e fixar no papel as pequenas histórias que ao longo dos tempos têm passado de boca em boca.


O autor com o Padre Carlos Jorge, que prefaciou o livro

Por sua vez o Padre Carlos Jorge – que assinou o prefácio da obra – referiu a importância de revisitar o passado “transportando-o até ao presente para que abrace o hoje”, através de alguém que ama a terra que o viu nascer e que soube construir estes contos com base na vivência do dia-a-dia com aqueles que contam e vivem os episódios à volta da gente da terra, preservando assim memórias que se perderiam no tempo se não fossem registadas em livro.

 Aspecto da assistência. Dos camaradas da Guiné, a Giselda Pessoa ladeada pelo Belarmino Sardinha e a esposa Antonieta. 


  Aspecto geral da assistência. Uma sala bem preenchida, atestando o apreço dos presentes por um dos seus.

O título que o autor escolheu revela a sua paixão por Alcobaça e o seu empenhamento na preservação do património cultural, da memória e identidade da cidade. Pelos presentes foi também realçado o seu sentido de humor, o seu apreço pela vida, pela família e pelos amigos, o que se reflecte nas histórias que conta.


Entre a assistência destaque-se a presença do Ten.General Tomé Pinto, antigo Comandante de Companhia do JERO no teatro de operações da Guiné, que teceu louvores à generosidade e permanente disponibilidade do então Fur Mil Enf Oliveira no desempenho das suas funções.

Dois camaradas da Guiné (António Paiva e Belarmino Sardinha) na fila para o autógrafo do JERO

A obra poderá não ficar por aqui. É ideia geral que o autor tem um manancial de novos contos para passar ao papel, o que justificaria a edição de novos volumes. Realce-se ainda que, segundo a Drª Madalena Tavares, esta obra vai ser proposta como candidata ao Prémio da BAD-Centro. Trata-se de um Concurso que vai ser lançado em Janeiro de 2012 pela Associação dos Bibliotecários e Arquivistas do Centro como forma de reconhecimento dos trabalhos/projectos desenvolvidos no âmbito da História Local dos Municípios do Centro.

 O JERO em plena sessão de autógrafos...

As memórias não são fotografias de acontecimentos, são interpretações muito pessoais de quem as vive e que têm por isso muito de cada um que as conta. O tom sério e o humor alternam-se ou misturam-se nas histórias aqui contadas, as quais são uma homenagem singela a figuras de Alcobaça, muitas delas já desaparecidas.
Esperamos que essas narrativas possam agora proporcionar aos seus leitores bons momentos de prazer. Esse foi certamente o propósito do nosso camarada JERO ao publicar esta sua nova obra.

Miguel Pessoa
____________

Notas de CV:


Guiné 63/74 - P8892: Estórias cabralianas (67): Lagarto ka ta tchora! (Jorge Cabral)

1. Mensagem do Jorge Cabral, pai do "nosso alfero" (*), com data de hoje [, foto à direita, num dos últimos 10 de Junho, em Belém, no Séc. XXI]

Amigos!

As crónicas do Cherno [ Baldé] fizeram-me lembrar do Sitafá. Aí vai 'estória', com o desejo que o joanete do Luis não o incomode mais…
 Abraços
Jorge Cabral 


2. Estórias cabralianas >  Galinhas, Carapaus, Crocodilos e o Puto Sitafá
por Jorge Cabral [, ex-Alf Mil Art, Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71]

Em Missirá não existiam rafeiros, até porque era muito mais uma Tabanca do que um Quartel. Lá viviam duzentas almas, pelotão Nativo e pelotão de Milícias, mais população e, no meio de toda esta gente, apenas dez europeus, o que levou muitas vezes o Alfero a interrogar-se: Afinal quem 'colonizava' quem?
De Fá tínhamos trazido o Sitafá. Puto simpático, protegido do Branquinho, ajudava na cozinha e já falava um português razoável, variando de sotaque, consoante a origem geográfica do cozinheiro.
Dos gerúndios alentejanos aos bês nortenhos, assimilara tudo, mas a sua grande dificuldade era entender o Alfero, porque este utilizava muitas expressões idiomáticas, provérbios e o calão alfacinha.
Assim, tendo-lhe pedido o rádio, ficou radiante, pois o Alfero lho prometeu "para quando as galinhas tivessem dentes". Durante dois meses, o bom do Sitafá, perseguiu as galinhas, agarrou-as, abriu-lhes os bicos e espreitou esperançado…
Outra vez, foi muito sério perguntar,  ao Cabo Freitas, como eram em Lisboa as corridas de carapaus. É que ouvira o Alfero comentar… "O gajo anda para aí armado em carapau de corrida"…
O pior porém aconteceu em Março de 1971.
Logo de manhã, o cozinheiro acordou o Alfero aos gritos:
– O Sitafá desapareceu!
–  Desapareceu? Mas como?
Terá sido raptado? –  perguntou o Amaral.
–  Ou então passou-se para os Turras alvitrou o Cabo Barroso.
Vocês estão é malucos! –  berrou o Alfero. –  O mais certo é ter regressado à sua Tabanca. Vamos procurá-lo. Uns pela estrada de Finete. Eu, o Mamadu e o Demba, em direcção à Aldeia do Cuor, pois aí é possível cambar o Geba para Fá.
Ainda nem um quilómetro havíamos percorrido, avistámos o Sitafá, ao pé do rio. O primeiro a chegar junto dele foi o Demba. E o Sitafá logo gritou:
Lagarto ka ta tchora!
Lagarto ka ta tchora? O Alfero percebeu. É que na véspera o Puto assistira à valente piçada que pregara ao cozinheiro e, como este era de choro fácil, avisara:
– E agora não quero cá lágrimas de crocodilo…
Certamente intrigado, o Sitafá viera espreitar os crocodilos. Pelos vistos, nenhum havia chorado…
Jorge Cabral 

[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]

________________



Nota do editor:

(*) Vdf. os dois últimos postes da série, publicados no ano corrente:


(...) Foi na prisão de Alcoentre que conheci o Mãozinhas, por intermédio do meu amigo e cliente, o 24, nome que ganhou há muito tempo, num bordel, sito à Rua do Mundo. E porquê, 24? Ora, é fácil adivinhar. O tamanho, melhor, o comprimento (...)


(...) Estava calor e todo o quartel dormia a sesta. Em cuecas, o Alfero urinava contra a parede (bem não urinava, mijava, pois na Tropa, ninguém urina, mija). Eis que um jipe se acerca. Nele, três alferes de Bambadinca, acompanhados de duas raparigas. Ainda a sacudir “o corpo do delito”, disfarça, cora, mas que vergonha (!). Claro, ninguém lhe aperta a mão. Elas são a filha do Senhor Brandão e uma amiga de Bissau, cabo-verdiana. Vêm visitar Fá. Chama o fiel Branquinho. Que os leve a todos para o Bar, enquanto ele se veste e se penteia. Regressa impecável. À paisana, de camisinha branca, calças azul-bebé. (...)