sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P8993: Tabanca Grande (305): Manuel Gonçalves Martins Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798 (Gadamael Porto, 1965/67)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Manuel Gonçalves Martins Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67, com data de 1 de Novembro de 2011:

Camarada Luís Graça:
Com a “entrega da arma”, no fim do serviço militar, concentrei-me no que era importante para recuperar o tempo perdido. As memórias da Guiné ficaram “congeladas” até à reforma em que alguma disponibilidade, a par de um reavivar do assunto por parte dos “media”, voltaram a agitar as lembranças passadas: - de leitura em leitura, acabo por ir parar ao vosso blogue que rapidamente devorei e onde verifiquei que da minha Companhia não havia praticamente nenhum contributo para o conhecimento do que foi a guerra na Guiné, particularmente, na Fronteira Sul. Daí a decidir que iria colaborar no blogue foi um passo e devo confessar, muito pequeno.

Cumprindo os meus deveres, cá vai a minha apresentação:

Manuel Gonçalves Martins Vaz, nascido a 09/01/942 em Miuzela (Almeida), professor reformado do Ensino Secundário, casado e residente na Póvoa de Varzim.

Prestei Serviço Militar na Guiné, como Alferes Miliciano, na CCAÇ 798, sediada em Gadamael Porto de Maio/65 a Fev/67.


MEMÓRIAS DA CCAÇ 798

De 63 a 73, uma década de Guerra na Fronteira Sul da Guiné

Uma Perspectiva a Partir de Gadamael Porto - 65/67 (I Parte)

Depois de horas infindáveis de LDM, em que as precauções redobraram na passagem junto à ilha do Como, desembarcamos em Gadamael Porto. A entrada no Quartel fazia-se em duas filas que caminhavam em sentidos opostos. – a CART 494 embarcava com destino a Bissau nas mesmas LDM`s que nos tinham levado. A operação tinha que ocorrer antes que a baixa-mar obrigasse as lanchas a afastarem-se de terra firme.

O Capitão Vieira dos Santos que nos precedera, ido de avião e que recebera do seu homólogo Coutinho e Lima o Comando do Sector, distribuiu os efectivos, guarnecendo o destacamento de Ganturé com um Grupo de Combate reforçado com um Pelotão de Milícias e Gadamael com os restantes elementos.

A Situação Militar, na altura, era de tensão, admitindo-se mesmo a possibilidade de um ataque com apoio de viaturas blindadas que facilmente entrariam por Gadamael Fronteira a partir da República da Guiné.

Embora se considere como início da luta armada na Guiné o ataque ao aquartelamento de Tite em Jan/63, na verdade desde 1962 que o PAIGC colocava minas e fazia emboscadas na estrada que acompanha a fronteira com a República da Guiné, país que dava total apoio à guerrilha, contrastando com o Senegal, na Fronteira Norte. A situação permitia que o PAIGC circulasse livremente do lado de lá da fronteira e daí lançasse os seus ataques às NT, dependendo da oportunidade e da capacidade operacional do momento.
Assim aconteceu nos ataques a Gadamael e a Sangonhá, após a instalação dos respectivos aquartelamentos.

O interesse do PAIGC por esta zona, não se manifestou apenas em 1973, nas batalhas de Guiledje e Gadamael. Corria entre os habitantes mais bem informados, que o próprio Amilcar Cabral teria estado em Gadamael Porto, bem junto ao rio, antes da chegada das NT. Não fora a ocupação militar de toda a fronteira de Guiledje a Cacine/Cameconde, em fins de 1963 princípios de 1964, talvez a História da Guerra, na Fronteira Sul fosse outra.

Durante a permanência da Companhia em Gadamael ( Maio/65-Jan/67 ) a guarnição militar na Fronteira - Sul era constituída por uma Companhia e respectivo Destacamento, nas localidades seguintes, de Norte para Sul:

Guiledje - Medjo
Gadamael - Ganturé
Sagonha - Cacoca
Cacine - Cameconde

Todas estas Companhias dependiam do BCaç 1861, aquartelado em Buba.

Embora sem interferir na “nossa guerra” a República da Guiné também tinha (ou teve) um destacamento do seu Exército em Boké, comandado por um Alferes que um dia me sugeriu um encontro na fronteira. O portador da sugestão explicava que a tropa que ia para Boké era da oposição a Sékou Touré.

O Comandante Interino da CCAÇ 798 impondo os Galões de Alferes ao Régulo Habib em Ganturé (Destacamento de Gadamael Porto)

Continência à Bandeira na promoção do Régulo Habib, com a participação dos Comandantes da Companhia e Destamento

A População, maioritariamente de raça Biafada, confrontada com a incerteza da evolução da situação, optou por procurar lugar mais seguro, noutras paragens ou refugiar-se do lado de lá da fronteira. Quando as NT chegaram, as tabancas estavam abandonadas,(1) bem como as casas de construção europeia que eram três e não apenas as (duas) que foram integradas no aquartelamento. A terceira, mais pequena, situava-se na margem direita do rio, em Talaia, a uns trezentos metro do “Porto” e era de um libanês, diziam os nativos.

Com o advento das NT, as populações “fieis” começaram a regressar e foram acolhidas nos aquartelamentos.
No caso de Gadamael a apresentação do Régulo Habib foi determinante para que outros lhe seguissem o exemplo, ainda no tempo da Cart 494.

A sua apresentação foi rodeada de precauções especiais: - veio de canoa, subindo um pequeno rio que corre para a República da Guiné e era navegável (de canoa) até ao sector da Companhia , sítio ermo, por onde, penso, entraram outros “apresentados”.

Uma perspectiva diferente do cerimonial da promoção do Régulo Habib, junto às instalações do Comando do Destacamento.

O Régulo Habib colaborou sempre com as NT, tendo sido graduado em Alferes (de segunda linha ) (2). Recordo que, na despedida, me ofereceu um cachimbo indígena e me pediu o boné da farda n.º 1. Será que para ele estas peças tinham um significado especial? Penso que sim!... Pela minha parte aliviou-me a bagagem, mas sobrecarregou-me as memórias...

(1) - Seria interessante saber em que condições concretas e em que momento é que se processou o êxodo das populações, o mesmo se diga dos moradores das casas de construção europeia. Foram coagidos? Foram ameaçados? Foram aliciados a aderir aos movimentos independentistas e tiveram medo? A resposta não é fácil, passados estes anos, mas talvez algum “expert” colaborador do blogue tenha esses elementos! ...

(2) - Nunca encontrei qualquer referência ao Régulo Habib, neste blogue. Espero que alguém tenha notícias dele e que sejam boas...

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 31 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8970: Tabanca Grande (304): Mário Serra de Oliveira, ex-1.º Cabo Amanuense (Bissau, 1967/68)

Guiné 63/74 - P8992: Estórias cabralianas (68): Zina, a bordadeira do Pilão (Jorge Cabral)

Estórias cabralianas > A Bordadeira do Pilão


por Jorge Cabral [, foto à direita, Xime, 1971, junto a uma LDG]


Chegado na véspera e instalado no Biafra, entrei pela primeira e última vez na Messe de Oficiais em Santa Luzia. Era noite do Bingo. Procurei algum conhecido e encontrei o Gato Félix, estudante de Letras, ora Alferes, o qual também me pareceu entediado.


Perguntei-lhe que faziam à noite. 
- Ou copos ou Pilão, respondeu. 
- Pilão? Leva-me lá . - Melhor do que este Bingo, deve ser. 


E assim, na minha segunda noite de Guiné, percorri os escuros labirintos da Tabanca, escutei vernáculos convites, cheirei estranhos odores. África sim, estava em África. Decidi voltar. Quando viesse a Bissau, ali seria o meu Bingo.


Passados oito meses, eis-me regressado de férias, à espera de transporte. Claro,  Pilão e disposto a bingar


Ela chamava-se Zina, disse-me ser caboverdiana e ter quinze anos. Duas mentiras óbvias que eu retribuí, despromovendo-me a cabo, por via da propina. O gabinete de trabalho era asseado, mas estava atulhado de naperons, colchas, lençóis, todos bordados a primor.


Aliás recebeu-me de bastidor na mão e ainda esperei o remate de dois pontinhos na rosa púrpura que bordava…. Depois foi outra a arte… Zina era exímia…


Um ano depois voltei a Bissau e ao Pilão.  Procurei-a e nada. Eclipse total. De Zina, dos bordados… Teria eu inventado esta bordadora compulsiva?


Há cerca de dez anos, apareceu-me no escritório uma esbelta mulata, emigrante na Holanda. Nome: Zina
- Zina? É a segunda que eu conheço, disse eu, para começar conversa. - Havia, em Bissau, uma Zina.
- Ah! É minha tia, exclamou eufórica. - Como é que a conheceu? Ela trabalhava lá, numa Casa de Bordados!
- Pois era, comprei-lhe quatro.
- Agora vive cá. Vou-lhe contar. Se calhar ainda se lembra de si.
- Impossível. Muitos militares gostavam de bordados…


Jorge Cabral
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Nota do editor:


 Último poste da série > 11 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8892: Estórias cabralianas (68): Lagarto ka ta tchora! (Jorge Cabral)


(...) Em Missirá não existiam rafeiros, até porque era muito mais uma Tabanca do que um Quartel. Lá viviam duzentas almas, pelotão Nativo e pelotão de Milícias, mais população e, no meio de toda esta gente, apenas dez europeus, o que levou muitas vezes o Alfero a interrogar-se: Afinal quem 'colonizava' quem? (...)

Guiné 63/74 - P8991: Parabéns a você (333): Irene Fleming, mãe da Maria Irene e sogra do Virgínio Briote, e nossa habituée dos encontros anuais da Tabanca Grande faz hoje 100 anos!


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande >  20 de Junho de 2009.


É com ternura e  humor  que dizemos que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande... Esta foto é já histórica: marca a diferença de quatro  gerações que o nosso blogue consegue juntar... 


De um lado, os 16 aninhos, que então tinha a Cyndia, a neta querida do nosso camarada Valentim Oliveira, na altura a frequentar o 10º Ano do Ensino Secundário, em Viseu... Um amor de miúda que em boa hora acompanhou, até à Ortigosa,  o seu avô, um dos bravos da Ilha do Como (Jan/Mar de 1964).


Do outro lado, a serenidade, a sabedoria, a gentileza e a graciosidade dos quase 98 anos, da Sra. Dona Irene Fleming, um presença constante nos nossos encontros anuais, até então...


Pois, hoje, dia 4 de Novembro de 2011, ou a partir de hoje, a Dona Irene Fleming  passa a ser  uma das mulheres portuguesas centenárias!... Nasceu precisamente há 100 anos, em  1911...


O Virgínio Briote trata-a, por Mãe, com aquela delicadeza e nobreza com que, de resto, ele trata toda a gente, os seus amigos e camaradas ... Não é a sogra, mas a Mãe, a mãe da Maria Irene, que é outra joia e doçura de pessoa... Ontem falei com ambos ao telefone e soube que hoje há festa rija no Porto...


A Dona Irene Fleming é de origem escocesa: os seus antepassados vieram para o Porto trabalhar, na 1ª metade do séc. XIX no setor dos seguros, um ramo de actividade que então nascia e florescia, sob o liberalismo, com o desenvolvimento do capitalismo industrial.


A esta querida senhora  bem como ao nosso amigo, camarada e co-editor Virgínio Briote e à nossa amiga Maria Irene, a Tabanca Grande canta-lhes, em coro, os parabéns: que bela idade, Dona Irene Fleming!, que bela família, meus caros Virgínio e Maria!... Deixem-nos partilhar com vocês este momento inesquecível de alegria! 


Um xicoração de todos os amigos e camarada da Guiné que se juntam sob este sagrado, fraterno, centenário, frondoso, protetor, mágico poilão da Tabanca Grande! (LG)

Foto: © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8985: Parabéns a você (332): Ten Gen Pilav António Martins de Matos, ex-Ten Pilav (BA 12, Bissalanca, 1972/74)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P8990: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (27): Missão à Índia (II parte) (Maria Arminda)

Segunda parte do relato da nossa camarada Maria Arminda Santos (ex-Ten Enf.ª Pára-quedista, 1961-1970) da missão das nossas Enfermeiras Pára-quedistas*, nos idos anos de 1961, à Índia Portuguesa, no exacto momento em que aquele território sob administração de Portugal estava a ser invadido pela União Indiana.


MISSÃO À ÍNDIA (2)

Por Maria Arminda

Ninguém no grupo sabia da nossa missão, que ia chegar um avião da Índia Portuguesa e o que transportava. Carachi era uma cidade de espionagem intensa e estava em guerra há anos com a União Indiana, por integração do território de Caxemira, cuja posse ambos reivindicavam. Se o governo indiano soubesse desta missão, da ajuda e das facilidades de manobra que o governo paquistanês nos tinha concedido, por certo nos teriam abatido, daí todo o grande secretismo à volta deste voo.

A Maria do Céu quando viu chegar o avião e este se imobilizou, disse ao Dr. Tender: “parece a Maria Arminda que vem ali à janela, mas não pode ser, porque ela está, em Angola”. Foi um espanto para todos a nossa chegada - os homens pareciam pertencer a grupos desportivos, até transportavam alguns sacos de rede com bolas, o que eu e a Nazaré não tínhamos visto, na paragem em Beirute e ficámos espantadas e convictas de que se tratava de uma missão secreta.

Aquela noite foi um pesadelo, não nos deitámos, apesar do alojamento disponibilizado ser nas instalações do aeroporto, num piso térreo, que as várias companhias estrangeiras que nele operavam tinham para descanso das tripulações. O nosso era da Companhia da KLM. Apesar de muito cansadas permanecemos por ali a fim de sabermos mais algumas informações através dos paquistaneses, porque de Lisboa ainda menos se sabia e de Goa, nem pensar. Mais nada se soube e foi com forte angústia que por ali fomos ficando, em alerta a novos acontecimentos.

Entretanto encontrava-se ali estacionado outro avião da TAP que iria transportar algumas crianças e as últimas mulheres e que aguardava partida para Lisboa; entre elas estava uma grávida, em fim de gestação. Foi decidido que seguiriam nesse voo a Céu e a Ivone e que ficaríamos nós, Nazaré e eu com os restantes elementos da missão, até chegarem ordens de Lisboa. A ansiedade que nos tomou, também tomou a parturiente, que começou a dar sinais evidentes de que o parto podia ocorrer a qualquer momento - o que teria acontecido, se o avião tivesse ido para o ar. Foi de imediato acompanhada pela Maria do Céu e internada numa clínica obstétrica local, tendo nascido uma menina. O pai, um Sargento Enfermeiro do Exército, foi, como todos os outros militares, feito prisioneiro e só veio a conhecê-la, meses depois, quando da sua libertação.

No dia seguinte continuávamos sem notícias, nem de Goa nem de Lisboa. Nessa tarde o Dr. Tender foi confrontado com telefonemas anónimos, em que o interlocutor perguntava se ele era militar, bem como o restante grupo. Essa ocorrência deixou-nos a todos um pouco apreensivos, pois tínhamos sabido que algum tempo antes uma hospedeira da TWA tinha sido assassinada. Quando o avião estava prestes a sair, o Comandante foi avisado de que deveria aguardar, porque estavam a caminho dois aviões, que conseguiram descolar de Goa, em condições muito desfavoráveis e escapar ao controle dos radares indianos.

Maria Arminda Santos e Maria Ivone  Reis (do  lado direito) > "1ª Missão a Angola. Partida da Portela a 22/8/1961"... Ambas conheceram bem a Guiné... A Maria Arminda faz parte desta grande família virtual que se senta debaixo do poilão da Tabanca Grande... A Ivone Reis, infelizmente, está doente...

 Fonte: Arquivo Enfermeiras Pára-quedistas / Álbum de Quem Vai à Guerra (Facebook)... (Com a devida vénia...)

Foi com grande alegria que vimos chegar a tripulação, com o avião que nos transportara, bem como o dos TAIP, que não tinha podido anteriormente descolar de Goa, trazendo o pessoal civil que trabalhava no aeroporto e o director da Emissora de Goa. Com os novos acontecimentos ficámos todos em Carachi, até a senhora ter alta; no dia vinte à tardinha, o avião dos TAIP (ainda com marcas dos estilhaços de bombas) iniciou a viagem de regresso, transportando-nos a nós e a todas as pessoas que tinham conseguido fugir, as restantes mulheres e crianças e a nossa nova passageira recém-nascida.

O avião da TAP ficou no aeroporto, para reparação, tinha sofrido mais estilhaços que o nosso. O que nos trouxe, pilotado pelo Comandante Solano de Almeida, era um DC4, muito mais lento, um quadrimotor a hélice, enquanto a primeira aeronave era turbo-hélice e mais rápido. Soubemos de imediato, que seria uma viagem muito mais demorada e com escalas pelo meio. Preocupava-nos além dos condicionalismos existentes, o bem-estar de todos os que estavam a bordo, até porque alguns dos passageiros estavam psicologicamente abalados. Tinham embarcado à pressa, apenas com a roupa que traziam na altura vestida. Acima de tudo preocupava-nos a recém-nascida e a sua mãe. Passámos desde então a assumir o papel de enfermeiras hospedeiras, o que teve a virtude de nos trazer distraídas e ocupadas.

Cockpit de um DC-4

Saímos na noite do dia vinte e a primeira paragem foi na Síria, em Damasco, apenas para reabastecimento; daí seguimos para o Líbano rumo à cidade de Beirute, onde pernoitámos, sobretudo para descanso da tripulação, que era única para toda a viagem. Este percurso, segundo o que os pilotos nos disseram, foi mais demorado porque o avião tinha que subir lentamente acima dos montes da cordilheira do Líbano, que separa este país da Síria, não sendo as condições as mais favoráveis, pelo que teve que subir em espiral até atingir a altitude de segurança.

No dia seguinte, vinte e um à noite, descolámos para mais um percurso; mas a paragem na cidade de Beirute tinha-me permitido visitá-la, pois era linda e com duas zonas distintas: uma parte mais antiga, no centro, e outra, nova, de enormes edifícios, que lhe valeu pela sua imponência a designação da “Riviera do Oriente”.

Aterrámos em Beirute já era escuro, com mau tempo e chuva intensa; e foi debaixo desta, que a Nazaré e eu deixámos o hotel onde estávamos alojados e procurámos uma farmácia próxima para comprar, material de penso a fim de tratarmos o cordão umbilical da bebé, que ainda não tinha caído. Escusado será dizer que sem qualquer protecção e a água a entrar no pescoço e a sair nos calcanhares, nos deixou molhadas até aos ossos, mas foi por uma boa causa.

Aproximava-se o Natal e a cidade com enfeites alusivos ao mesmo, com cedros e pinheiros de montanha, fascinou-me. Actualmente e com o grau de destruição que caiu sobre a mesma, a paisagem deve ser muito diferente e alguns daqueles imponentes edifícios da zona moderna, penso que foram em parte destruídos nos conflitos mais recentes, a avaliar pelas imagens televisivas que nos têm sido mostradas nos últimos anos.

Na permanência em Carachi, também fui, mas sozinha, ao centro da cidade, tendo utilizado um riquechó, tipo lambreta com capota de lona, onde o dono levava uma esteira. Era cerca do meio-dia e para meu desespero, chegou a um local onde se encontravam vários veículos iguais, mandou-me descer e apontou-me a zona para onde eu me deveria deslocar a pé. Dito isto, puxa pela esteira e virou-se ao que julguei ser para Meca e com os outros, ficou a fazer as suas orações.

Eu ficara num local onde se situavam os Bancos e assim vestida à ocidental a cruzar-me com os naturais, as mulheres de saris e lenços na cabeça, os homens de calças largas e de turbantes, fizeram-me ter algum receio, até porque me veio ao pensamento a história da hospedeira raptada e assassinada, anteriormente à nossa chegada.

Achei a cidade suja; uns vendedores ambulantes nuns carros do tipo dos da venda de castanhas em Portugal, comercializavam um caldo espécie de sopa, ao mesmo tempo que mascavam uma pasta encarnada, que muitas vezes cuspiam para o chão, o que me enojou fortemente e me fez retardar a saciação da fome, que começava a sentir. O trânsito era caótico, com carros sempre a apitar no meio de veículos motorizados, onde também passavam como meio de transporte, vacas e camelos. Uma verdadeira babilónia, que gostei de apreciar, pela sua excentricidade.

A Nazaré aproveitou o dia para visitar uma religiosa sua amiga, que se encontrava num convento no deserto, a uns quilómetros de distância, tendo feito também só, o percurso num táxi que alugou no aeroporto. Finda a visita, a religiosa com outras Irmãs, veio trazê-la na sua viatura por receio e porque era preciso chamar da cidade, um novo transporte.

Na véspera à tarde ela e eu já tínhamos andado num táxi da marca Gogomobil, que era pequeníssimo, conduzido por um homem, muito alto e com um mau aspecto, que dizia saber onde ficava o convento, mas na realidade não sabia. Quando o vimos sair da estrada e meter para um bairro da periferia quase sem luz, onde os homens nas soleiras das portas e fumando os seus cachimbos, descansavam acompanhados de alguns camelos, começamos a ter receio de prosseguir a viagem. Estava prestes a anoitecer e o condutor por informação que outro lhe dera, dizia-nos que esse convento ficava no meio do deserto. Pedimos-lhe então a conta e apanhamos outro carro, que ali estava e regressámos ao aeroporto, felizmente sem mais incidentes. Esta missão foi um misto de aventuras e emoções, mas ainda não tinha terminado.

Microcarro Goggomobil
Imagem Vikipédia, com a devida vénia

Descolámos então de Beirute, no dia vinte e um de manhã, desejosos de chegar a Lisboa; nesse percurso apanhámos tanta turbulência que julgávamos que o avião ia cair. Alguns passageiros começaram a ficar assustados e o nosso médico, o Dr. Tender, quase que desmaiou. O susto por que passámos foi tão grande, que resolvemos fazer o baptismo da menina, “sob condição”, fórmula existente na Igreja Católica para situações de urgência, como morte iminente, não invalidando um baptismo, a posteriori, por um sacerdote. A menina a partir daquele momento foi por nós, considerada nossa afilhada.

Após muitas horas de voo, aterrámos debaixo de chuva intensa em Palma de Maiorca, conscientes do perigo que tínhamos corrido, sabendo dos buracos feitos pelos estilhaços na fuselagem do avião na sequência do bombardeamento do aeroporto de Goa. Na viagem um dos tripulantes de nome Vinhas, com quem mais tarde viemos a contactar de perto e com quem voámos muitas vezes, porque era um navegador da Força Aérea, mostrou-nos um estilhaço de uma das bombas lançadas, que tinha apanhado antes de fugir.

Nessa noite pernoitámos na ilha, de onde saímos no dia seguinte, vinte e dois, com um sol radioso, que nos permitiu desfrutar a linda vista aérea e nos animou o espírito. Lisboa estava mais próxima e até já sentíamos o cheiro do Natal.

No final desse dia, avistámos a nossa capital e todos nos animámos; porém, ao sairmos do avião fiquei impressionada com o mar de gente que aguardava a nossa chegada, na ânsia de saberem mais notícias dos acontecimentos e de familiares que tinham sido feitos prisioneiros. A televisão mostrou no noticiário essa chegada e a minha família viu-me aparecer na saída e desfez as dúvidas com que tinha ficado na semana anterior.

Quando em Portugal se soube da invasão dos nossos territórios na Índia, a minha cunhada, tinha dito para o meu irmão: “A tua irmã não voltou para Angola, foi de certeza para a Índia”. E tinha razão, foi por um acaso que não fui lá parar, porque talvez não tivesse tido a sorte de regressar.

Também em Angola, quando se soube do sucedido e o que acontecera ao nosso avião, a Zulmira e Lurdinhas, foram nessa tarde à igreja do Carmo mandar rezar uma missa pelas nossas almas, convencidas que tínhamos morrido nessa ocasião. Contaram-nos depois que a Zulmira dizia para a Lurdinhas, ”Como é que vai ser agora, que grande responsabilidade só ficámos as duas e ainda por cima perdemos as nossas grandes amigas”, respondendo a outra que haveriam de se arranjar; e choravam ambas copiosamente, até que o Dr. Varela - que as acompanhara - lhes disse que ia procurar saber mais notícias, para as tranquilizar; não era fácil, pois as notícias não chegavam a Luanda tão rapidamente, só pela comunicação oficial, por meio dos chamados “Rádios”.

Graças a Deus que cheguei a esta data para recordar todas as emoções vividas nessa missão, tendo todas nós sido condecoradas, pelo então Ministro do Ultramar, Professor Adriano Moreira, com o Grau de Cavaleiro de Benemerência. No dia seguinte depois de cumpridas as formalidades militares, fui à Baixa comprar um casaco por causa do frio, mas tinha dificuldade em caminhar a direito, parecia embriagada por efeito de tantas horas de voo.

No dia vinte e quatro passei no barco para o outro lado do Tejo e com a chuva a cair, vi partir a última camioneta que me levaria para Setúbal. Não podia ali ficar parada mais tempo naquele lamaçal, isto porque o cais de embarque de Cacilhas, era de terra batida. Felizmente apareceu um conterrâneo que estava nas mesmas condições, alugámos um táxi e dividimos a meias a despesa e cheguei a casa. Foi o melhor presente que tive: bater à porta dizer que era eu e não, o Pai Natal, abraçar os meus irmãos e festejar essa quadra com a minha família. Depois do Ano Novo, apanhei com a Nazaré outro avião, de regresso a Luanda.

Esta missão estava cumprida e foram muitas as que realizei ao longo de quase dez anos de vida militar, a maioria nos ex-territórios ultramarinos, de Angola, Guiné e Moçambique, entre outros.

Passados meses sobre a nossa missão, em Maio dá-se início ao repatriamento dos prisioneiros, tendo sido para eles uma eternidade o período em que ficaram privados da liberdade. Foram então nomeadas para essa nova missão, a Maria Zulmira, e a Maria Ivone que rumaram para Carachi. Porém, foi à Ivone que coube o papel de ir ao campo de prisioneiros, como hospedeira da companhia francesa da UAT e acompanhar, entre outros, o General Vassalo e Silva no seu regresso.

Começava outro capítulo da Nossa História Colonial. Tínhamos perdido os territórios do Estado da Índia, a nossa “Jóia do Império”, que tantas tormentas tinham dado aos nossos valorosos navegadores. Confesso que tive pena, nós ficámos mais pobres, sentimentalmente e culturalmente, foi uma perda que a muitos de nós deixou marcas, mas todos sabemos, não ter sido possível, pelas armas, virar os acontecimentos, a nosso favor.

“FOI O COMEÇO DO FIM, DA NOSSA EXPANSÃO ULTRAMARINA, NO ORIENTE E EM ÁFRICA E DO FIM DO NOSSO IMPÉRIO COLONIAL”.

Todos os anos, quando chega o dezoito de Dezembro, recordo e revivo esta missão sem nunca ter esquecido aquela criança, que hoje tem quarenta e nove anos. Algumas vezes perguntei à Ivone por ela e manifestei vontade, de a procurar. Por parte da Ivone tinha havido um contacto entre ambas, mas posteriormente, perdera-se. Nesta data, através de felizes acasos, a minha amiga e colega enfermeira pára-quedista Rosa Serra conseguiu o seu contacto e deu-mo. Finalmente sabia do seu paradeiro. Pude por isso falar-lhe, dar-lhe os parabéns, por mais este aniversário, saber que se chama Ivone Cruz, que é casada, tem uma filha e um filho e vive no Caramulo. A sua mãe já faleceu, mas o seu pai embora idoso, ainda vive.

Assim como eu sempre digo,” A VIDA É OS DIAS QUE NOS LEMBRAMOS”.

Espero que Deus me permita por mais alguns, lembrar-me desta data, que para muitos, foi dolorosa e lhe possa continuar a dar os parabéns.

Maria Arminda Santos
Ex: Tenente Enf. Pára-Quedista
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8976: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (26): Missão à Índia (I parte) (Maria Arminda)

Guiné 63/74 - P8989: Álbum fotográfico de Arlindo T. Roda (2): As "gloriosas máquinas voadoras" da FAP










Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > O Fur Mil Arlindo T.Roda [, aqui junto aos T6, na pista de aviação de Bafatá], natural de Pousos, Leiria, e hoje professor reformado em Setúbal, teve a gentileza de me mandar em tempos uma selecção dos seus slides, digitalizados,  através do ex-Fur Mil Pel Rec Inf, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), Benjamim Durães, seu vizinho (vive em Palmela)... 


Já aqui publicámos dezenas deles, magníficas imagens de Bambadinca, do Xime, de Mansambo, do Xitole, do Saltinho, enfim, da zona leste, da CCAÇ 12 (a que ele e eu pertencíamos), etc. 


Hoje, em dia de anos de uma camarada da FAP, o António Martins de Matos, selecionámos mais umas tantas tendo por tema as "gloriosas máquinas voadores" da Força Aérea... com que os infantes sonhavam quanto mais não fosse para: (i) ver a Guiné do ar (ou de pernas para o ar);  (ii) dar um saltinho a Bissau; (iii) apanhar uma boleia até Bissalanca, para apanhar o avião da TAP no gozo das tão desejadas férias na Metrópole (para quem se podia dar a esse luxo...).  


Claro que estas máquinas (Dakota, T6, DO 27, heli Al III, etc.) tinham outras funções mais importantes, a nível de defesa e de ataque, de transporte de tropas, de material de guerra,  de víveres, de apoio operacional,  de evacuações, etc.

Algumas imagens são de Bambadinca (heli, DO 27), outras de Bafatá (Dakota, T6)... Não sei se há alguma de Bissalanca, sítio onde nunca  pus o meu joanete. Fica aqui a nossa homenagem aos camaradas da Tabanca Grande que pertenceram à FAP (dos pilotos aos mecânicos), e em especial ao nosso aniversariante, o António Martins de Matos. Pena é que não tenha nenhuma imagem do Fiat G-91 em que ele era um ás (ele e o nosso Miguel Pessoa)... e deu á volta aos Strelas (de que no meu tempo e do Arlindo Roda, 1969/71, ainda não se ouviam sequer falar). (LG)


Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Direitos reservados

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Nota do editor:


Guiné 63/74 – P8988: Convívios (383): Jantar de Natal e Assembleia Geral da Tabanca de Matosinhos, dia 3 de Dezembro de 2011, no Porto




Com a devida vénia à Tabanca de Matosinhos, reproduz-se o seu Poste 956, onde é dado a conhecer o seu tradicional Jantar de Natal e a Assembleia Geral Ordinária da sua ONGD.




Realiza-se no próximo dia 3 de Dezembro o nosso tradicional Jantar de Natal, no Salão Nobre da Junta de Freguesia do Bonfim ao Campo 24 de Agosto. Este ano teremos a colaboração do Rancho Folclórico do Porto que nos irá deliciar com uma representação sobre o Romântico.

Aproveitando o facto de estarem presentes inúmeros associados da nossa ONGD iremos anteceder o Jantar com a Assembleia Geral Ordinária para se proceder à eleição da Lista dos Orgãos Sociais para o biénio 2012/2013.

NÃO FALTES E TRAZ A FAMÍLIA


Envia a tua inscrição até ao dia 26 de Novembro para o Zé Teixeira

tabancapequena@gmail.com

telm 966 238 626
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 – P8923: Convívios (375): XVI Encontro/Convívio Anual dos ex-Combatentes da Guiné, da Vila de Guifões – Matosinhos (Albano Costa)

Guiné 63/74 – P8987: Efemérides (78): Excursão a Lisboa, a propósito do 88.º aniversário da Liga dos Combatentes e do 93.º aniversário do Armistício (Carlos Vinhal)



EXCURSÃO LISBOA (BELÉM) – 88º ANIVERSÁRIO DA LIGA DOS COMBATENTES

Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes




1 - Vai o Núcleo de Matosinhos organizar uma excursão a Lisboa (Belém), em 11NOV2011, com vista a estarmos presentes na Cerimónia das comemorações do 88º Aniversário da Liga dos Combatentes e do 93º Aniversário do Armistício e onde estarão representados todos os núcleos da Liga dos Combatentes, a nível nacional.


2 - Preço para sócios €13,00; não sócios €15,00. 

- O preço inclui transporte e almoço no Centro de Apoio Social de Oeiras.

- Inscrições até 09NOV2011, sendo que a inscrição só será efectivada mediante pagamento total do valor da viagem.
Para o fazer, pode passar na nossa sede de 2ª a 6ª das 14h30 às 17h30; enviar cheque à ordem de Núcleo de Matosinhos Liga Combatentes; contactar o Núcleo por um dos meios ao dispor e solicitar a cobrança ou então efectuar o pagamento por transferência bancária para o NIB 000700000076959489723 ou conta do BES 000769594897.

- Devolução total do dinheiro em caso de não se concretizar a excursão.

Considerando que só em 03NOV2011 tivemos a confirmação da cedência pela Câmara Municipal de Matosinhos do Autocarro Municipal, solicita-se aos interessados que efectuem uma pré-inscrição via telefone fixo/telemóvel/e-mail para que a Direcção planeie em tempo o transporte e a alimentação.


3 - Programa:

08H00 – Concentração na Câmara de Matosinhos.

08H15 – Partida para Lisboa.

12H30 – Almoço Centro de Apoio Social de Oeiras.

14H30 – Cerimónia no Forte do Bom Sucesso (Belém).

- Chegada da Alta Entidade/alocuções/Imposição de Condecorações/Invocação religiosa/Deposição de flores/Honras militares/Hino da Liga dos Combatentes/Desfile em parada.

16H00 – Visita ao Forte do Bom Sucesso.

17H30 – Regresso a Matosinhos.

Com os melhores cumprimentos
O Presidente
Armando Costa
Tenente Coronel

LIGA DOS COMBATENTES
NÚCLEO DE MATOSINHOS

Rua de Oslo, 11 a 91 (C. Com. Londres)
Loja AC 153 1º Piso 4460 – 388 Sr.ª da Hora

Telefone: 224 901 476 / Telemóvel: 929 274 072

matosinhos@ligacombatentes.org.pt
nucleomatosinhoscombatentes@gmail.com


4 - Outra notícia de interesse para o Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes

No próximo dia 5 de Novembro (sábado) pelas 16 horas decorrerá na Câmara Municipal de Matosinhos uma cerimónia para formalizar a cedência de instalações para a sede do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes.

Assim, convidam-se todos os ex-combatentes do Concelho de Matosinhos, sócios e não sócios da Liga, a comparecerem na Câmara para assistirem ao acto.

Mais se informa que a futura sede do Núcleo ficará situada junto à Estação do Metro do Araújo.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 – P8986: Efemérides (56): Memorial aos combatentes em Penamacor (Libério Lopes)

Guiné 63/74 – P8986: Efemérides (77): Memorial aos combatentes em Penamacor (Libério Lopes)


1. Mensagem enviada pelo Libério Lopes, que foi 2º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65.



Caro Luís Graça,

Obrigado pelas palavras que escreveste a meu respeito no P8852, após o nosso casual mas feliz encontro, no qual tive o maior prazer em conhecer-te pessoalmente.

Como prometi e após ajuda externa, junto uma notícia referente à inauguração de um MEMORIAL na vila raiana de Penamacor, dedicado aos combatentes do concelho.


Memorial aos combatentes em Penamacor

Embora tardiamente, não quero deixar passar em claro a cerimónia realizada no passado dia 1 de Junho, na vila de Penamacor. Cerimónia simples, mas com um significado profundo.

Uma comissão. composta pelos senhores Dr. Domingos Torrão, Presidente da Câmara Municipal de Penamacor, Professor Libério Candeias Lopes e Major-General João Afonso Bento Soares, preparou e levou a cabo uma justa e merecida homenagem aos ex-combatentes da Guerra do Ultramar, oriundos do concelho de Penamacor, com destaque para os que lá morreram.

É verdade que já passaram muitos anos desde o nosso regresso e o esquecimento estava instalado. Contudo, após exposto este assunto à Câmara Municipal, a mesma aderiu prontamente à construção de um memorial alusivo, dando todo o apoio, financeiro e logístico, para a sua concretização.

O belo monumento, que hoje se encontra às portas da Vila, e honra todos os penamacorenses, é da autoria de Mestre Eugénio Macedo, que o construiu em puro granito da região. É formado, no essencial, por três lajes verticais, cada uma delas rasgada com um mapas vazios, a representar Angola, Moçambique e Guiné. No chão, defronte de cada laje, uma lápide metálica com os nomes dos militares que morreram naqueles territórios ultramarinos.

Eis os nomes:

Falecidos em Angola
Amílcar Augusto Jacinto Martins
António Cardoso Saraiva
António Fernando Ramos
António Manuel Borrego Carreto
João Caria Ramos
João Lourenço Matos
João Manteigas Martins
José Costa Martins
José Marques
Manuel Moiteiro Leitão

Falecidos em Moçambique
António Lopes Salvado
Daniel Pereira Dias
João José da Fonseca Nabais
Joaquim Moiteiro Ribeiro
José António Landeiro Ribeiro
José dos Anjos Silva
Manuel Campos Cardoso
Manuel Joaquim Coelho Proença

Falecidos na Guiné
António Mota Carlos
Augusto Figueira Caria
Domingos Ramos Rodrigues
Fernando Pereira Lopes Raposo
Joaquim António Cardoso Firme
José Maria da Silva
Júlio Antunes Sapo.


Fotos (e legendas): © Libério Candeias Lopes (2011). Todos os direitos reservados.

Inauguração do Monumento aos Combatentes – O prof Libério Candeias Lopes usando da palavra na qualidade de ex-combatente. À sua esquerda o Presidente da Câmara Municipal de Penamacor, dr. Domingos Torrão; à direita o Presidente da Liga dos Combatentes, general Chito Rodrigues

Inauguração do Monumento aos Combatentes – Pormenor da assistência
Inauguração do Monumento aos Combatentes – Descerramento das lápides com os nomes dos militares falecidos 
Inauguração do Monumento aos Combatentes – Grupo de ex-Combatentes da Guiné
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P8985: Parabéns a você (332): Ten Gen Pilav António Martins de Matos, ex-Ten Pilav (BA 12, Bissalanca, 1972/74)

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Nota do Editor:

Vd. último poste da série de 1 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8974: Parabéns a você (331): José Carlos Gabriel, ex-1.º Cabo Cripto da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P8984: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (34): Palavras de um senhor defunto, um livro de Mário Serra de Oliveira (1): Preâmbulo e Introdução

1. Mensagem do nosso camarada Mário Serra de Oliveira*, ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68, com data de 1 de Novembro de 2011:

Olá. Amigos da Tabanca Grande!...
Esperando que os anexos acima possam ser visualizados convenientemente, gostaria de dizer que tentei colocar na página do Blogue mas não consegui.

Solicitei dica de como fazer isso directamente na página mas ainda não recebi.

Assim, para que saibam do que se trata, pois começa com a capa e contra capa do meu livro, seguido de um PREÂMBULO e... uma AUTOBIOGRAFIA CÓMICA... incluída no meu livro e, finalmente, a descrição da receita do batismo do vinho, com um rabinho de diálogo com o meu querido Tenente.

Há toda uma certa circunstância, anterior que deu origem ao batismo bem como o epílogo a seguir ao diálogo,que  passa pelo batismo do arroz - com motivações antecipadas bem como o abotoamento de $$$ por parte do Meu querido T... o qual eu enfrentei para não me ter por lorpa ou parvo... Foi um espectáculo que redundou em eu passar a abotoar-me com o dinheiro que algumas enfermeiras páras pagavam pelas refeições que comiam fora das horas normais de almoço ou jantar, o que eu tinha que estar a controlar.

Muitos outros episódios existem, tal como aquele de um Major Pára me ameaçar... dizendo:
- Ouve lá, oh Cabo... aquela bajuda trabalha para mim e, se eu sei que tu te metes com ela... levas uma porrada - disciplinar, claro - que nunca mais te endireitas!...

Porra... se eu não tinha feito nem tentado fazer nada!!! O que aconteceu foi que... bem melhor é contar desde o principio, noutro momento porque para hoje já chega!...

Um abraço a todos!...


PALAVRAS DE UM SENHOR DEFUNTO

PREÂMBULO DE AGRADECIMENTO

Prezados leitores!...
Antes de mais, permitam-me apresentar os meus muitos e sinceros agradecimentos por decidirem ler estas linhas o que, para mim, já é motivo de imensa satisfação porque este sonho que, creio, talvez fosse melhor expresso em dizer este objectivo foi algo que, realmente sempre tive na minha mente, incluindo o facto de que, pela vida fora, mesmo nos momentos mais difíceis da minha vida – e foram vários - sempre tive a ideia de, pelo menos tentar, escrever um livro ou mais!...

Aqui o estou a tentar fazer!...

Dito isso e, fosse o que fosse que despertou o vosso interesse ou a vossa curiosidade, quem sabe até se motivada pelo título do mesmo livro, faço sinceros votos para que não os defraude, ao mesmo tempo que junto um convite a estarem atentos para o meu próximo que faço planos de iniciar logo que este entre no mercado e cujo título poderá vir a ser O medo dos velhos.

O tema será exatamente isso, em referência à situação das pessoas idosas e desamparadas, quantas e quantas vezes aos empurrões de casa para casa dos filhos – se os tiverem - e, claro, se estes forem casados, também a casa dos genros e noras, o que nem sempre é a situação mais agradável e humana e, várias vezes, motivo de desavenças entre os familiares!...

Ao mesmo tempo estendo o convite para um outro que... em conjunto com o acima referido, está já meio alinhavado - e até quem sabe se não será este o seguinte – baseado em factos da minha experiência em África, - onde vivi cerca de catorze anos e meio e, se o conseguir escrever, tentarei realçar o triste episódio dos fuzilamentos politicos de alguns cidadãos Guineenses com quem, directamente trabalhei, entre os quais um militante do PAIGC, (sigla em referência ao grupo guerrilheiro africano pela luta de libertação da Guiné, até então denominada Guiné Portuguesa) - que tinha sido preso e enviado para o Tarrafal – prisão em Cabo Verd) - de nome Mário Mamadu Turé, mais conhecido como Momo Turé – meu braço direito quando eu era encarregado geral do Restaurante O Pelicano, na cidade de Bissau e que, segundo se constou, foi fuzilado por implicação (?) na morte de Amílcar Cabral – fundador (?) do PAIGC!...

Um outro - também fuzilado - de nome Domingos Demba Djassi, nativo da Guiné e ex-Sargento Fuzileiro, naquele tempo integrado nas Forças Armadas Portuguesas, ao qual, após desmobilização, lhe dei trabalho, passando ele a ser encarregado - ou meu braço direito também - num dos meus restaurantes conhecido como A Tabanca, na mesma cidade de Bissau!...

Este último, na foto seguinte, constou que foi morto por implicação no chamado 18 de Março de 1975 - ou seria noutra conspiração qualquer? - e, segundo zuns-zuns d’então, devido à sua participação da não totalmente exitosa... acção de assalto a Conacri - em [22 de Novembro de] n1970 - levada a cabo sob comando do extraordinário estratega militar, Comandante Alpoim Calvão - cuja resumida descrição é dada mais adiante.

Agora, em referência a este livro e, mais especificamente ao título do mesmo, recomendo que não se assustem com o aspecto tenebroso que o mesmo parece insinuar porque, na verdade, fiz de propósito para que, desta forma, criar um suspense - assim como que quase um compasso de espera - para lhe poder oferecer aquilo que muitas pessoas dizem muitas vezes... e que é... o melhor está para vir!...

Mais adiante, irão ter a oportunidade de confirmar isso mesmo, ao ponto de já começar a imaginá-los e a vê-los com um sorriso nos lábios, progredindo para uma gargalhadazinha baixinha e, talvez, até, uma gargalhada bem forte... o que, segundo dizem, até faz bem à saúde!...

Assim o espero porque, essa é a minha intenção!...

Além disso, há ainda o aspecto de, com o enredo que aplico a cada descrição de cada episódio e pela forma como descrevo os mesmos, creio até ser saudável obrigar a acordar aquela parte do cérebro que não é usada no dia a dia porque, dormir muito não é bom para a saúde de absolutamente ninguém e, muito menos, para a c.c.c. - célula cerebral central - ou, a miolinha!...

Portanto, como poderão verificar, o facto do título do livro aparentar ser, à primeira vista, um tanto ou quanto fúnebre e, como já disse, tenebroso.  tudo tem a ver, no meu ponto de vista intencional, com a minha intencionada intenção de que é possível rir nas mais variadas circunstâncias porque, rir... dá saúde!...

Ah, ah, ah, ah!...

Assim, tente rir porque, quanto mais uma pessoa rir, mais saúde irá tendo e, com isso, poderá ajudar a adiar por uns tempos - que até podem ser anos - o vir a ficar defuntado, ou quase!...
Pense nisso!...

Finalmente, como verificarão na leitura das próximas páginas, eu até me irrito com o nosso amigo do título do livro... mais, até, por uma questão de que, quando me irrito com ele - ou com quem quer que seja, incluindo a minha mulher - quase sempre vou desabafar com o meu amigo Merlot que, por uma questão de equilíbrio físico, procuro que sejam sempre dois, só e somente, afim de evitar ficar coxo!...

Ah, ah,ah,ah!...


Da esquerda para a direita: eu, o autor destas linhas; Demba Djassi... meu empregado – fuzilado pelo PAIGC no regime de Luis Cabral - e um cliente do meu restaurante, na Guiné.


Assim, ao lembrar-me destes tristes factos e destas pessoas com quem diretamente trabalhei, não podendo fazer nada para os reviver, resta-me expressar aqui, um gesto de homenagem para com eles, extensivo a muitos outros que, como eles, foram fuzilados - creio até que, alguns deles, enterrados ainda vivos - por A ou B razões ou por razão nenhuma (?) e, como tal, muitos deles, inocentes. Assim, na falta de outros meios e possibilidades, creio não haver melhor forma – passado tanto tempo – do que tentar afogar o pensamento – já que esquecer não posso – do que fazer um brinde de homenagem à memória dos forçados defuntos!...

Assim, em sua memória e...à saúde dos vivos!...
Para a perna esquerda. Para perna direita.

Muito obrigados pela confiança depositada em mim!...
Divirtam-se!!!


INTRODUÇÃO

Iniciando pelo início, que é por onde tudo deve ser iniciado, começo por fazer uma introdução, sem introduzir absolutamente nada de vulto, a não ser tentar introduzir um esclarecimento bem esclarecido dirigido a ninguém, para que esse ninguém leve à risca - ou a sério – e afine comigo que sou um desafinado, antes de eu me finar por completo!...

Talvez, melhor dizendo... para que ninguém pense que estas linhas são para atingir esse alguém ou quem quer que seja, intencionalmente!... na verdade, o que quero dizer com isto é que, se acaso estas linhas parecem ser dirigidas a algum dos leitores, será por absoluta puríssima pura coincidência, ou muito acidental!...

Garantido!...

De facto, em certa medida, em certos episódios, proponho-me só e somente a refrasear certas palavras lidas outrora, cujo autor desconheço completamente, por desconhecimento absoluto, para que as mesmas não entrem no esquecimento, além de que, tão-pouco tenho alguém à minha volta a exercer influência sobre mim porque, pensando, sei pensar por mim mesmo!...

Assim, quem quer que seja que aparentemente possa parecer ser alvo ou atingido por estas linhas, que o tome pelo lado amável, com sentido de humor porque, nos dias de ontem, de hoje e de amanhã, bem necessário é, levar com um pouco de humor, o que a vida nos oferece diariamente!...

Na verdade, verdadeiramente verdadinha, só é minha intenção tentar contribuir para ajudar a amainar o ambiente, e animar o espírito desanimado do ânimo de cada um de nós, usando um pouco de humor, porque acontece que, no momento, até tenho cá muito pouco!...

Antes de continuar, permitam-me sublinhar que, certas palavras nestas linhas são da minha autoria e certas outras são da autoria de um senhor defunto antes de o ser porque, se já o fosse, nem xiava nem mugia, derivado ao estado em que permanecia e que seria, permanentemente mudo e frio!... E, seguidamente, permitam-me fazer uma advertência com a ideia bem intencionada ou, pelo menos, essa é a minha intenção, sobre o seguinte!...

Se, a certo ponto da leitura destas linhas se sentir perdido ou perdida com o que está a ler... páre, concentre-se, suspire fundo e... continue porque, irá verificar que...

- Nada do que aqui se diga, escrevendo o que se quer dizer... foi, ou é, pensado assim sem mais nem menos ou ao calhar!...

- Tudo o que aqui for escrito tem o seu próprio propósito, propositadamente, mesmo que possa parecer que não faz sentido algum!...

- Às vezes, a ideia até é isso mesmo, não fazer sentido ali... lá naquelas linhas onde estiver essa frase que parece não fazer sentido!...

- Poderá não fazer sentido no local onde estiver inserida essa frase mas, sim, noutro local, mais adiante ou mais atrás!...

– No entanto, poderá haver certas circunstâncias em que, por lapso, ou erro orto-dactilo-gráfico, a coisa não faça mesmo sentido!...

Assim, se isso acontecer, procurem dar o sentido que o dito possível lapso ou erro orto-dactilo-gráfico não deu e, se assim for, desde já apresento as minhas maiores desculpas!... E, ao dizer isto, creio estar a demonstrar a minha incondicional confiança na capacidade raciocinal (?) de todos os leitores e leitoras que... espero, venham a ser muitos!...

Portanto, perante a possibilidade de que se venha a encontrar confuso ou confusa derivado a que, o que está a ler, parece não fazer sentido, irá descobrir mais tarde ou mais cedo, que nada acontece assim... sem mais nem menos ou, por acaso. Irá encontrar a pontinha do rabo - não do seu – mas do
 fio da meada - que o mesmo será dizer, da descrição da estória ou conversa que intenciono aqui descrever, escrevendo-a!...

Ao mesmo tempo, agradeço ainda não pararem de ler, quando se encontrarem perante a redação de algo que possa parecer um devaneio ou, um relato de algo que, aparentemente, poderá não fazer sentido algum porque, na verdade, tudo está estruturado para encaixar peça por peça ou, para melhor dizer, frase por frase!...

Agora, sem argumentar a contradição sobre a intenção de, quando digo, intencionar descrever o que estou mesmo a afirmar que vou tentar escrever, permitam-me um deambulo do que, talvez, se pudesse apelidar de um aperitivo, composto de várias variantes interessantes – no meu ponto de vista - antes de avançar para o Capítulo I, que é em referência e homenagem à figura principal do mesmo e, origem do título deste livro que, como já disse, é o nosso amigo defunto, antes de o ser!... Assim, quem quer que seja o defuntado, que tenha muita saúde e, que a mim não me falte!... Que não me falte (?)... a saúde... porque, o defunto pode faltar sempre e quantas vezes ele quiser!... Por mim, até pode ter o dia e a noite livre e, portanto, até pode ir dar uma volta a ver se acorda!...


Na gravura, alguns visitantes, na 'Nursing Home'  visitando ‘o senhor defunto antes de o ser’ !...
Eu, tinha acabado de sair, um tanto ou quanto irritado com ele, por não me ligar patavina.

Ora o catano do homem!...
Aaaamen!...

(Continua)
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Notas de CV:

- Clicar na imagem da contracapa do livro para a ampliar e permitir a leitura do texto

(*) Vd. poste de 31 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8970: Tabanca Grande (304): Mário Serra de Oliveira, ex-1.º Cabo Amanuense (Bissau, 1967/68)

Vd. último poste da série de 24 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8817: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (33): Um dia de Verão na Serra de Sintra (Felismina Costa)

Guiné 63/74 - P8983: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (7): Fotos enviadas a Cherno Abdulai Baldé - Chico de Fajonquito (2)



Publicamos hoje o segundo grupo de fotos enviadas pelo nosso camarada José Cortes (ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74) ao nosso tertuliano Cherno Baldé - O Chico de Fajonquito - actualmente Director do Gabinete de Estudos e Planeamento no Ministério das Infraestruturas, Transportes e Comunicações da Guiné-Bissau, desta feita referentes aos diversos Encontros da CCAÇ 3549.





1.º Encontro, em Viseu, 25 anos depois de Fajonquito. O quinto e o sexto em cima, são o Mandinga e o Celestino

As nossas mulheres acompanham-nos em todos os Encontros

A minha esposa

O portador da Bandeira Portuguesa é o Mandinga

Eu e a minha esposa

Em baixo: Pinto (Mec), Alf Mil Nelson (falecido), Martins (TRMS), Porto, e três elementos de outra Companhia

Os nossos Encontros são sempre uma festa

O Celestino e o Cunha

Um dos nossos últimos Encontros

Encontro de Canelas. O Torres é o que está em primeiro plano junto da bandeira
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 31 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8973: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (6): Fotos enviadas a Cherno Abdulai Baldé - Chico de Fajonquito (1)

Guiné 63/74 - P8982: Blogues da nossa blogosfera (47): Ilha do Como, do Valentim Oliveira (CCAV 489 / BCAV 490, 1963/65)


Página principal do blogue do nosso camarada Valentim Oliveira

Este bravo da Ilha do Como fez este ano, em 5 de janeiro, a bonita idade de 69 anos... Recorde-se que ele foi Soldado Condutor da CCav 489/BCav 490, e portanto  camaradada nosso coeditor Virgínio Briote (mesma companhia) e do Armor Pires Mota (mesmo batalhão).


Também sou veterano da mesma Odisseia: era da CCAV 489 do BCAV 490. Participei na grande Operação Tridente, na Ilha do Como. Segui para Farim, onde por toda aquela zona muitas coisas boas e más se passaram. Também passei no inferno de Guidaje. Como tal também tenho muitas Histórias boas e más para escrever.

Peço permissão para entrar como membro da equipa dos Camaradas da Guiné. (...)


O seu blogue -Ilha do Como -foi criado em 26 de dezembro de 2008.  Tem pouco mais de 3 dezenas de postes. E está parado desde Agosto de 2010. Não deixamos, no entanto, de felicitá-lo por esta ousadia, não sendo ele um profissional das escritas nem das informáticas  Ele explica o porquê: quer também passar o testemunho à geração seguinte... E vê-se que tem em grande orgulho em ter participado na Op Tridente:

(...) “Ilha Do Como: Terra longínqua situada algures numa margem do Oceano Atlântico,que tem como país de origem o nome Guiné; terra de África (...)  onde muitos jovens Portugueses suportaram os horrores da Guerra durante os anos 1963/74  (...). Hoje país independente e amigo de Portugal. Não existe ódios entre as partes envolventes, e ainda bem que se segue o caminho da Paz. Eu própio passei por esta situação ,e foi na Ilha do Como que eu viví os maiores tormentos de uma Guerra para onde fui atirado sem vontade própria. Que tudo fique na História para que a nova geração conheça estes flagelos" (...)

Não tem ainda, no entanto, para além de alguma documentação fotográfica, muita informação escrita,  detalhada,  da Ilha do Como e da Op Tridente. Num dos postes (13 de janeiro de 2009) ( Factos sem cortinas! Grande Operação Tridente)  escreveu o seguinte:



(...) Dando voz a um comentário do nosso camarada Mário Dias, certifico que tudo o que ele disse e escreveu é pura verdade, assim como a saída das nossas tropas (NT) para o Como foi de Bissau e não de Catió, e a Operação durou 72 dias. 


No caso em que a Cavalaria jazia em veículos inoperantes,  [isso] é falso, porque na realidade apenas existia um jipe que nunca saiu da Base Logística, e por sinal eu era o condutor do referido veículo, que apenas servia para fazer o transbordo dos haveres que chegavam no barco e ficava ao largo do mar encalhado, e assim que a maré vazava lá ia eu com o referido jipe e outros colegas fazer o transbordo dos bens necessários para a manutenção das NT. 


Estive nesta Base fazendo este serviço durante algumas semanas, depois segui para o Acampamento de Caiar e o jipe ficou na Base entregue ao Comando. Portanto que ninguém ponha dúvidas sobre o que o Mário Dias disse e escreveu. Porque só quem viveu e passou por esta operação é que pode dar o testemunho dos factos. (...).


Já em tempos tinha publicado no nosso blogue o relato de um dia passado na Ilha do Como


 (...) Estávamos no mês de Fevereiro de 1964, o dia não o tenho memorizado, mas tenho a convicção certa que o mês era Fevereiro. Estive antes acampado junto ao mar, onde se encontrava o comando principal e a artilharia, ou seja, os obuses (canhões). De seguida eu e muitos mais seguimos para um acampamento distanciado mais acima; isto em Caiar.

Aí nos entrincheirámos nos abrigos subterrâneos em grupos de três, num descampado, lugar esse que eram terrenos de cultivação de arroz, junto à orla da mata. É claro que havia festa quase todos os dias, mas como as costureirinhas cantavam um pouco longe, nós até nem ligávamos muito aos zumbidos que passavam muito por cima de nós, e também se calavam logo assim que as granadas dos obuses começavam a cair em cima.

Mas houve um belo dia em que a sopa se entornou...As costureiras começaram a cantar e nós apenas nos limitámos a ouvir, quando de repente começamos a ser atingidos por granadas de morteiro. Felizmente nenhuma fez estragos em cima de nós, mas nos primeiros momentos deu para assustar. O tiroteio não foi longo, porque nós ripostámos de imediato, assim como a artilharia que se encontrava uns quilómetros atrás, junto ao mar.
Também estive nesse local quase a passar para o outro lado, com o paludismo. Valeu um heli, que três dias depois apareceu com medicamentos. Pronto, assim dito mais uma versão de um acontecimento passado na Guiné. (...)

Para o Valentim e o seu amigo e vizinho, em Viseu, o Rui Ferreira, vai um abraço longo, longo,   com toda a amizade, apreço e camaradagem dos editores do blogue. Um beijinho para a sua querida neta, que eu conheci em Monte Real, num dos encontros da Tabanca Grande. Por fim, força e saúde para retomar a escrita no blogue. LG

O Valentim, à direita,  com um camarada,  na praia de Caiar, no intervalo da Guerra do Como (s/d, talvez Fevereiro ou Março de 1964).

Foto: © Valentim Olivera (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8948: Blogues da nossa blogosfera (46): Sítio da AD com novo rosto e novo webmaster
Está na nossa Tabanca Grande desde 10 de Abril de 2008, data em que se apresentou, aos restantes camaradas da Guiné, nestes termos:

(...) Camarada Luís Graça: É com muita admiração que leio todas as Histórias escritas por ti e por todos os outros camaradas que participaram na GUERRA DA GUINÉ.