quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10763: As mulheres que, afinal, foram à guerra (19): O que fazer com a nossa correspondência, estimada em mais de 300 milhões de aerogramas e cartas, enviados e recebidos ao longo da guerra do ultramar ? (Manuel Joaquim / Luís Graça / Alice Carneiro)

1.  Tive ontem a felicidade de receber a seguinte mensagem do nosso amigo e camarada Manuel Joaquim, um dos mais generosos dos nossos grã-tabanqueiros, além de mestre-escola:

Meus queridos amigos, esforçados editores:

Hoje venho com uma ideia que se calhar "é de jerico", como dizem na minha terra. Como estou a fixar, em letra de forma, a minha correspondência de guerra,  lembrei-me de vos questionar sobre o interesse da sua publicação no blogue. 

Sinceramente, para além de mim e dos meus familiares mais queridos, não sei se terá qualquer outro valor para alguém. Creio que alguma da chamada correspondência de guerra, não a minha, poderá ter (tem) algum valor atualmente, mesmo já valor histórico. Tenho a certeza que toda a correspondência de guerra que "sobreviva" terá cada vez mais interesse e valor com o decorrer do tempo, sejam quais forem os temas que incorpore, dos mais simples da vivência diária dos combatentes aos mais "arrebitados" discursos de cariz sociológico e/ou político, tenham muita ou pouca, alguma ou nenhuma qualidade literária,  pois o seu valor não virá da qualidade da escrita mas do seu conteúdo que terá sempre valor histórico mesmo quando se limite a contar o que se comeu (ou não) no dia a dia ou num certo dia.

Anexo as minhas primeiras seis cartas, três minhas e três da namorada que foi depois (e é) minha esposa. Esta deu-me a devida autorização, só me pedindo que o seu nome não ficasse "escarrapachado" no texto. Assim o fiz, também com o meu nome, ficando só as iniciais dos nomes próprios usados.

A publicação destas cartas no blogue é, para mim, coisa secundária. Se acharem interessante, aqui estão.

Um grande abraço para todos, e cada um, cá do Manel





O primeiro poste da I Série do nosso blogue... 23 de abril de 2004... Dedicado à nossa correspondência de guerra. Na época devo ter inflacionado o volume da correspondência: (...) "Em treze anos de guerra, cerca de um milhão de soldados terá escrito mais de 500 milhões de cartas e aerogramas. E recebido outros tantos" (...).

O mais realista é apontar para um total  entre 250 e 300 milhões de cartas e aerogramas, enviados e recebidos. O número de soldados metropolitanos mobilizados paras as 3 frentes (Angola, Guiné, Moçambique) será da ordem dos 800 mil, a que se deverão somar mais 200 mil soldados do recrutamento local. É de admitir que estes escreveriam muito menos, até por que a grande maioria (nomeadamente na Guiné) não sabia ler nem escrever português.

O número de aerogramas disponibilizado anualmente pelo Movimento Nacional Feminino ultrapassava os 30 milhões (32 milhões em 1974, de acordo com o orçamento ordinário previsional do MNF). Admite-se que muitos (talvez um terço) fosse inutilizado, servindo de papel de rascunho... Em 13 anos de guerra, possivelmente a TAP ( e os TAM) deverá ter transportado de (e para) o ultramar, qualquer coisa como 200  milhões de aerogramas, a que  se poderão acrescentar mais 50 a 100 milhões de cartas. No total, 300 milhões, o que me parece uma estimativa, conservadora mais realista, do que os 500 milhões iniciais... (Recorde-se que os aerogramas, uma invenção portuguesa, eram isentos de franquia: porte e sobretaxa aérea; vd aqui um completíssimo texto sobre a sua história).  

Estimava-se em 300 mil o número de madrinhas de guerra. Um em cada três militares deveria ter uma madrinha de guerra, segundo uma sondagem que aqui fizemos em tempos. E todos nós, com raras exceções, nos correspondíamos regularmente com os pais, irmãs e irmãos, esposas, noivas, namoradas, amigas, vizinhas... Em dois anos de comissão, 24 meses, é possível que um soldado metropolitano escrevesse ou recebesse em média um dúzia de cartas e aerogramas por  semana. Arredondando, 300 cartas e aerogramas, enviados e recebidos, "per capita...(LG)

2. Resposta, imediata, do editor L.G. [, foto á esquerda, em 1970, em Nhabijões, Bambadinca]

(i) Eureka!, Manel Joaquim, meu querido camarada!... Ando há 9 anos (!) a pedir para "salvarem" as nossas cartas e os nossos aerogramas, esqueciso no fundo dos nossos baús!...  Aliás, o primeiro poste do nosso blogue, I Série, de 23 de abril de 2004, começou justamente com o título Saudosa(s) madrinha(s) de guerra...

Da I Guerra Mundial há menos de 100 cartas no arquivo histórico militar!... Do meu pai, de Cabo Verde, do tempo da II Guerra Mundial, não tenho nenhuma!... E dos mais de 300 milhões de cartas e aerogramas que eu estimo que se tenham escrito durante toda a guerra colonial (incluindo as da Índia!), quantas se irão salvar ?

Vamos já abrir uma nova série só para ti!... Parabéns pela tua coragem e generosidade!... LG

(ii) Não escrevi cartas nem aerogramas a ninguém.  Limitei-me a mandar algumas fotografias, com breves legendas, aos meus familiares mais próximos, para os tranquilizar: que estava bem, que estava vivo, que estava de saúde!... Hoje, sinto uma culpa imensa!... Na época não tinha namorada, e muito menos madrinha de guerra!... Em contrapartida, mantive, com irregularidade, um "sofrido" diário... Das cartas e aerogramas que recebi da família e dos amigos, perdi o rasto... E sinto-me mal por isso, por não ter acautelado a salvaguarda dessa correspondência... Teria, hoje, seguramente algum valor documental. Eu diria: todas as nossas cartas têm um excecional interesse como para os investigadores da área das ciências sociais e humanas, nomeadamente, da história, da linguística, da antropologia, da sociologia...

Em contrapartida, tenho a sorte de poder ter acesso à correspondência mantida por aquela que haveria de ser (e é) a minha companheira de um vida, a Alice Carneiro, igualmente nossa grã-tabanqueira... Trata-se de algumas centenas de cartas e aerogramas, enviadas (e recebidas) pela Alice... Mais as recebidas do que as enviadas: em boa verdade, das enviadas, só restam as que o mano José, combatente em Angola, guardou e arquivou religiosamente... em Camabatela, norte de Angola. E não são tão poucas quanto isso...

O Zé [, foto à esquerda,] já não se lembra do nº da companhia. Nem parece ter grandes saudades do seu tempo de tropa e de guerra. Sabe apenas que era 1º cabo, operador de transmissões, de  rendição indvidual, e que esteve aquartelado em Camabatela e que andou a guardar os cafezais do norte de Angola, nos já idos anos de 1969/71.

Recebia e escrevia muitas cartas e aerogramas, isso sim. Das que recebeu (dos manos, pais, cunhados, amigos, amigas ...) guardou-as todas, e arquivou-as, uma a uma, por autor e data... Só da mana, Chita,  tem mais de 100, no seu arquivo. Essa coleção é já um hoje um fonte de informação interessante não só para a história da família mas também sobre o quotidiano da guerra em África, e das necessidades e preocupações que os nossos militares deixavam transparecer. 

As saudades da terra eram sempre mais do que muitas, as referências às festas anuais, à matança do porco, às vindimas, ao Natal, etc., eram frequentes. Era isso que fazia lembrar a pátria distante... Nos dois anos que lá esteve, nunca veio a casa, que as viagens eram caríssimas. Fez férias em Luanda, tanto quanto sei.

Ao voltar mais uma vez a Angola, em julho e em outubro passados, e mais concretamente a Luanda, em trabalho, lembrei-me do meu querido cunhado, com quem às vezes falo dos nossos tempos de "meninos e moços"... Quis  fazer-lhe uma pequena surpresa por ocasião do seu 63º aniversário, selecionando algumas das cartas (mais do que aerogramas) que ele mandou à mana Chita, e que felizmente chegaram até nós (apenas umas 20 e tal). Muitas outras ter-se-ão perdido, com o tempo, e as andanças da mana. A Alice já trabalhava na Junta de Colonização Interna (Ministério da Agricultura) e andou por vários sítios,  de norte a sul do país.

Aqui vai então uma pequena antologia de excertos dessas cartas. É também uma homenagem a uma família, de três filhos e três filhas, que mandou dois dos seus rapazes (curiosamente o mais velho e o mais novo) para a guerra: o António, para Moçambique, onde foi gravemente ferido, em acidente com arma de fogo; e o José,  o "caçula", que fez a sua comissão de serviço em Angola, sem "problemas de maior"... Esta seleção da sua correspondência foi já publicada no blogue da família, A Nossa Quinta de Candoz... Que sirva, ao menos, de estímulo para que outros camaradas, da Guiné, seguiam o  exemplo do nosso Manuel Joaquim. (LG)



Angola > > Cuanza Norte > Ambaca > Camabatela > Janeiro de 1974 > Avenida central de Camabatela; ao fundo, a igreja católica. A cidade de Camabatela (ou Kamabatela, como também se escreve hoje ) foi fundada pelos portugueses em 1611, e é sede do município de Ambaca, na província do Cuanza Norte (ou Kwanza-Norte), a leste de Luanda. Foto de Henrique J. C. de Oliveira, Cambatela, 1/1/1974.

Foto: Cortesia de Prof2000 > Aveiro e Cultura > Arquivo Digital


3. Cartas de Camabatela: do Zé Carneiro para a mana Chita (1970/71) > Excertos


Remetente: José Ferreira Carneiro, Caixa postal 150, Camabatela, Angola

(i) Camabatela 19/05/70

Querida mana: Aqui me tens de novo, conversando como estivesses a meu lado. Começo por te desejar óptima saúde na companhia das tuas colegas e de toda a nossa família. 

Já deves ter conhecimento de que estou de novo no destacamento. Cá estou a passar mais 45 dias de férias no mato…

Quanto ao meu castigo, tenho-te a dizer que ficou tudo em águas de bacalhau. O Capitão chamou-me e só me disse que não devia ter feito a troca sem o avisar. Escusas de te preocupar, está tudo bem.

Por hoje é tudo. Recebe do teu mano um xi coração muito forte, adeus até 1971. (...)


(ii) Camabatela 16/06/70 

Querida mana Chita:  Estou a escrever uma carta porque os aeros [aerogramas] chegam a demorar cerca de um mês até chegarem ao seu destino, isto quando não são devolvidos. Estou mesmo muito aborrecido com isto. Pensei agora só escrever cartas, mas de 15 em 15 dias. Assim as cartas só demoram 3 dias a chegar a vossa mão. Tens que escrever é para a caixa postal. Que achas? Assim não repetimos as notícias. Quando receberes carta minha, peço-te que telefones aos pais para ficarem descansados. Está bem assim? 

Já te mandei o nº dos sapatos por 4 vezes e ainda continuas a pedir!.. Isto quer dizer que não tens recebido o correio.

Então como anda a tua saúde? Iniciei a carta sem fazer aquela lenga, lenga de sempre… Quanto a mim, desde já te digo que estou forte e que gozo de boa saúde.

Termino com um xi coração muito apertado do teu mano que te adora. Bjs


(iii) Camabatela 04/07/70

(...) Agora mesmo acabo de receber mais uma carta tua, juntamente com uma encomenda que trazia os sapatos e a camisa. Cada vez as encomendas estão a demorar menos tempo. Comparar com as primeiras que foram enviadas!...

Os sapatos e a camisa ficam-me a matar, só não queria que mos oferecesses. Tens mais em que gastar o dinheiro, mas aceito. Esta não está esquecida!

Já estou de novo em Camabatela, já estava cansado de tanto capim. Não posso dizer mal, porque desta vez engordei 3kg e aqui perco sempre peso.

Faz hoje 11 meses que embarquei em Lisboa, já pouco mais falta do que um ano, e um já se passou!... (...)


(iv) Camabatela 18/11/70

(...) Depois de ter chegado de uma operação que durou 5 dias, aqui estou a dar-te notícias.

Hoje mesmo parto novamente para o mato, onde vou passar o Natal e talvez o Ano Novo. Desta vez calhou-me a mim, o ano passado foram os meus colegas.

Com isto, estou quase a entrar no ano da peluda [, fim da comissão e passagem à disponibilidade]. Cada vez falta menos. Oxalá que este termine sem problemas.

Apesar de ainda não saber o que vou fazer quanto ao meu futuro de vida, não me sinto com ideias de meter o xico….

Por aqui vou ficar, mandando cumprimentos para todos os nossos vizinhos, as tuas colegas, e tu do mano muito amigo, um forte xi coração. (...) 


(v) Camabatela 14/01/71

(...) Aproveito estar uma grande trovoada e chuva para te escrever, porque assim as comunicações não funcionam, tenho que desligar os aparelhos.

A encomenda que mandaste, chegou dois dias depois do Natal. Chegou tudo bem. As castanhas começamos a comê-las e só terminamos quando acabaram. Sabes uma coisa? O bolo Rei não tinha fava!

Já só faltam 7 meses! Isto vai com calma.

Enquanto vós estais aí com grandes nevões, (segundo dizem os jornais), por aqui a temperatura é agradável, só as chuvas é que são esquisitas.

Já estou de novo em Camabatela. Já estava saturado de estar no mato e de ver tanto capim.

Acompanhado duma boa musiquinha, consegui estar contigo no pensamento.

Agora que o temporal já lá vai, tenho que regressar ao trabalho e ligar os aparelhos que já me provocam raiva só de olhar para eles. Tenho que estar em forma.

E assim me despeço com um forte xi coração do teu mano amigo. Adeus e até Agosto ou Setembro. (...)


(vi) Camabatela 15/02/71 

(...) Querida mana, não calculas como eu fiquei ao ler a tua carta e me falavas da matança do porco [, foto à esquerda, Candoz, c. 1980, foto de L.G.] . Aquelas fêveras e os rojões de que falavas. Não continha a minha cabeça e os meus pensamentos. Pareciam o Rio Douro quando traz uma enchente das chuvas. O mano António também me falou do mesmo.

Sabes uma coisa? Estou muito, muito cansado. Andei 3 dias e 3 noites no mato a andar sem poder dormir e ainda carregado com o respectivo rádio. A roupa molhou-se e secou-me no corpo por 3 vezes. Foi por esta razão que te demorei mais a escrever.

Querida mana, quanto ao que vou fazer quando acabar a tropa, o mais certo é eu ir estudar. Sem isso eu não tenho possibilidades de ter um emprego digno. Já falei com o Capelão para me colocar como Perfeito no Seminário, assim já podia estudar e trabalhar. (...) 


(vii) Camabatela 17/05/71

(...) Espero que esta minha carta te vá encontrar de óptima saúde, bem como toda a nossa família.

De facto tens razão em dizer que estou a esquecer-me um pouco de vós, mas não. Nada tem acontecido de grave por cá. Tudo corre pelo melhor.

Não te devia dizer, mas já estou de novo no mato. Esta estadia aqui, será a última para completar a minha comissão.

Não estejas preocupada que eu aqui no mato só tenho como rival o isolamento. De resto tudo é melhor do que na vila de Camabatela.

Quando me falas do que vou fazer quando regressar. Nada te sei dizer, estou a ver tudo muito escuro, mas na lavoura eu não quero ficar. (...).




(viii) Camabatela 14/06/71

Querida mana: Só hoje recebi a tua carta e logo te respondo. Parece impossível que as cartas demorem tanto tempo. Entre tu escreveres e eu receber, chegam a demorar 15 a 20 dias. Chegamos a estar 20 dias sem correspondência o que é muito duro para quem está aqui. As coisas ainda pioram mais quando estamos no destacamento (mato) que chegamos a estar 45 dias. 

Também penso o mesmo que tu, que sou preguiçoso, que já não tenho saudades vossas, etc. etc. mas o que interessa é que só faltam 50 dias para isto acabar.

Vou te contar um segredo: Andei a fazer umas economias para comprar uns presentes para vos levar, mas acontece que um colega que sabia do meu mealheiro, foi lá e roubou-mo. Eram 2.500$00. Este colega foi-me falso e ando muito triste, mas tenho que esquecer. Depois quando eu chegar, te contarei melhor como tudo aconteceu.

Gostava de chegar aí e tu estares ainda de férias, seria bom, mas a tropa é que manda!.. (...) 


(ix) Camabatela 04/08/71

(...) É precisamente o dia que devia terminar a minha comissão e que te escrevo para desta forma estar em contacto contigo.

Aquilo que desejas saber, ainda não é desta. Porque apesar de ter terminado a minha comissão, ainda não chegou o substituto para me render, mas como há falta de pessoal tenho que aguentar. Com a graça de Deus tudo vai acabar bem.

Desta vez a minha carta levou pouco tempo a chegar aí. Nesse mesmo dia escrevi também a mana Nitas.

Desculpa não escrever mais, mas estou cheio de sono.

Um forte abraço de saudades do teu mano Zé (...)


4. Reproduz-se,por fim, uma das 100 cartas (e aerogramas) que a mana Chita mandou ao mano Zé quando ele fez 22 aninhos... Ele, lá longe, no Norte de Angola, em Camabatela, para onde a Pátria o chamou, entre 1969 e 1971, uma eternidade...Ela já a trabalhar, mas ainda a viver em Candoz, na casa dos pais... O meu obrigada ao Zé por ter arquivado todas as cartas e os aerogramas que a família e os amigos lhe mandaram!... Tudo direitinho!...





Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 21 de outubro de 2012 > O Zé Carneiro, na véspera de completar 63 anos, apanhando sentieiros (cogumelos).

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.


Candoz 9.9.70

Querido Mano:

Após algumas horas terem passado do teu aniversário [, ontem, dia 8,], aqui estou a contar-te como o passámos.


Como já há 6 anos que lá não [ ia, à festa do Castelinho, ], este ano sempre me decidi e fomos, eu, o pai, a Rosa, o Quim, António e Graça. Fomos de manhã e chegámos à noite. Para te dizer que gostei muito, isso não. Sabes que só era alegria quando fazíamos as viagens a pé. Agora ninguém o faz e portanto deixa de ter aquela alegria sã como dantes. Isto é a minha opinião!... Mas julgo que a dos outros será a mesma.

Assisti à Santa Missa no adro e depois do almoço fui para o penedo onde permaneci até vir embora. Não estava calor, pois de manhã tinha chovido, portanto não fazia pó. Fomos todos à capela rezar por ti e assim se passou o dia. Não andava muito contente mas isto são problemas de 'amor'. E também por que estou muito magra, depois que vim de Lisboa já emagreci ainda mais 4 kg. 

Também te quero dizer que hoje mesmo recebi mais uma carta tua. Até que enfim te decidiste a escrever-me. Acredita que andei uns tempos chateada, mas já passou.

Quanto às fotos realmente tens razão. Eu tinha uma série delas tiradas em Pegões, e ficaram de mas mandar, mas até hoje ainda nada apareceu. Até eu estou a ficar aborrecida, mas o remédio é ter paciência. Quando me for possível, eu tas mandarei.

Neste momento estou a escrever-te do consultório médico. Vim com a mãe, vamos ver o que diz o médico. Não te aflijas porque [ela] anda bem, o médico é que quer ver se está melhor.

Quanto às uvas, para já o preço de 2$80 o kg, não é mau de todo mas a s vindimas só podem ser feitas a partir do dia 28. Isso é que será pior e mais ainda se agora não parar a chuva, então teremos tudo podre.

Por hoje é tudo, resta-me finalizar com um abraço da família Barbosa e meninas, cumprimentos dos vizinhos, beijinhos dos pais e da tua mana uma xi-coração de amizade. Maria Alice.

PS – Escreve para casa porque, embora trabalhe todos os dias, venho cá dormir.



5. O projeto  FLY – Cartas Esquecidas  (1900-1974) (Centro de Linguística da Universidade de Lisboa)

Recorde-se que a  Alice disponibilizou a sua coleção de cartas e areogramas da guerra colonial (cerca de três centenas e meia) para um projeto de investigação, chamado FLY. Todos os documentos foram devidamente digitalizados, sendo depois devolvidos à proprietária (e, no caso das cartas do mano, fiel depositária). Cito aqui a investigadora e doutoranda Leonor Tavares, da Equipa FLY, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa:

(...) "O projecto FLY - Cartas Esquecidas (1900-1974) é um projecto que procura recolher, digitalizar e editar cartas do século XX dos contextos de prisão, exílio, guerra (colonial e mundial) e emigração. Este projecto continua o projecto CARDS - Cartas Desconhecidas (1500-1900) que já conta com 2000 cartas transcritas. Os dois projectos estão neste momento parcialmente disponíveis no site http://alfclul.clul.ul.pt/cards-fly/.

"O objectivo do projecto FLY é recolher e editar 2000 cartas dos contextos referidos, sendo que se estipulou um total de 700 cartas para o contexto da guerra colonial. Este arquivo digital (composto pelas 2000 cartas do projecto CARDS e as 2000 do projecto FLY) estará disponível para investigadores de várias áreas (principalmente as áreas da Linguística, da História e da Sociologia), para que os documentos (as cartas) sejam imortalizados como objectos históricos de grande relevância linguística. Os estudos que podem ser feitos a respeito deste tipo de documentos compreendem, entre muitas outras hipóteses, aspectos relacionados com a sintaxe, a fonologia, a pragmática, a história cultural e/ou social e aspectos da sociologia das migrações, das desigualdades e classes sociais.

"O projecto FLY compromete-se a omitir todos os dados pessoais dos intervenientes nas cartas, nas transcrições e nas imagens disponibilizadas on-line. (...)".


Recolha de cartas portugueses do Século XX (1900 a 1974) > Apelo

“Se guarda em sua casa cartas particulares e deseja que ela sejam dignificadas enquanto objeto de conhecimento, por favor contacte os investigadores do projeto FLY 1900-1974 (Cartas Esquecidas).”

Rita Marquilhas
Centro de Linguística da Universidade de Lisboa
Avenida Professor Gama Pinto, 2, 1649-003 Lisboa
Telefone : 21 790 49 57
Fax : 21 796 56 22

Email : fly@clul.ul.pt
Endereço do site : http://alfclul.clul.ul.pt/cards-fly/

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8494: As mulheres que, afinal, foram à guerra(18): As madrinhas de guerra e a Cecília Supico Pinto,precursora do Facebook (António Matos)

Guiné 63/74 - P10762: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (17): 18.º episódio: Emboscando a morte

O triunfo da morte, de Pieter Brueghel o Velho, (1562)


1. Em mensagem do dia 1 de Dezembro de 2012, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), enviou-nos o décimo oitavo episódio da sua campanha no K3, dias que fazem parte dos melhores 40 meses da sua vida.


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

18º episódio: Emboscando a morte

Certo dia preparei-me para aprisionar uma presença indesejável que todos sabíamos por ali andar. Pretensamente fantasmagórica mas que não nos assustava, a sua missão era a de arrebanhar gananciosamente, algum menos cauteloso e desprotegido.

Muitos de nós já com ela tinham convivido, bem como eu próprio, até que um dia e por via da tão ansiosa e sôfrega procura, "mostrou-se".
Ao fazê-lo, caiu na emboscada que lhe preparei, após um pensado e melhor elaborado plano de captura, abaixo descrito.

Algemada aí estava pi-ursa, ameaçando, gesticulando, implorando.

De estatura mediana, pr'aí um metro e setenta de altura, viseira verde, fato anti-bala, esgrimia com a mão direita um tridente, que é uma espécie de forquilha, mas só com três dentes.

Vinha do lado de lá atacante, decidida a despachar-se rápido, e pensando decerto que seria canja o cumprir do objectivo a que se propunha, mas eu, esperto e atento e de fato branco de anjinho e Judas, (cá está o plano) finquei os pés no chão vermelho, deixei-a aprochegar, empunhei a canhota ao mesmo tempo que inocentemente, mas com ares teatrais, lhe gritei:
- Rende-te morte... ou desfaço-te". ( E fá-lo-ia... se a não partisse em quatro, pelo menos abri-la-ia d'alto a baixo)

Solicitada que estava a ser a minha presença, ateia-a a um cajueiro, vesti de novo o camuflado e ainda cheguei a tempo de ajudar o 44, felupe de nascimento e que na altura se esforçava para introduzir duas granadas na bazooca, pois que ao que me disse acabaríamos mais depressa com a peleja, dada ser hora para o jantar.

Repelida que foi mais esta flagelação, fui interrogá-la. Havia mudado de visual e agora estava bem mais atraente, fazendo-me crer ter-se transformado na BB. Confessou-me que não fugira porque não quisera, e que estava apaixonada por mim. Aguardara-me pois pretendia que fosse com ela. Disse-me que se poderia mudar para a forma que eu quisesse e aí tremeliquei e estive quase a pedir-lhe para ser aquela professora que quase tudo me ensinou na faculdade da vida e cujas aulas frequentei desde os 14 anos, uma vez por semana, ao sábado.

E não foram mais os leccionamentos, pois que dez escudos... eram uma pipa de massa. Ainda hoje considero uma lástima terem acabado com essas Universidades (em 1964? 1965?) dado que aprendíamos mesmo e as "meninas" não eram tão despidas de pêlo como as d'hoje, que se depilam... depilam e ficam tão sem jeito.

Voltando à prisioneira: sendo inimiga e estando sob o meu jugo, não lhe dei quaisquer abébias embora estivesse mesmo sedento de vingança e com um rancor inimaginável.

A novidade foi-se divulgando, provavelmente devido a fugas de informação, ou não, porque a operação fora considerada secreta e logo se foram vindo alguns outros camarigos que mesmo explicando-lhes antes, quem era a terrífica personagem não deixaram de a vir espiolhar.

E saíam insinuando que cá o JE, estaria de "cabeça grande" mas que, e como de costume, mantinha o proveito de sempre bem acompanhado.

Lá por altas horas da noite, deixei que fugisse, não sem que antes me garantisse que só me voltaria a contactar lá para 2049 e eu, em contrapartida e por exigência dela, terei , se o conseguir à época, e em conjunto, "partir qualquer coisa".

(continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10750: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (16): 17.º episódio: O mistério das luzinhas do K3

Guiné 63/74 - P10761: Parabéns a você (504): Manuel Carvalho, ex-Fur Mil da CCAÇ 2366 (Guiné, 1968/70)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10748: Parabéns a você (503): Herlânder Simões, ex-Fur Mil da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10760: Memória dos lugares (201): Pelundo, Junho de 1968 (Manuel Carvalho)

 

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Carvalho (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70), com data de 2 de Dezembro de 2012:

Caro amigo Carlos Vinhal
Vou enviar algumas fotos e dizer alguma coisa sobre as mesmas, para tratares como muito bem entenderes.




Navio Niassa, Maio de 1968 > Em primeiro plano e da esquerda estou eu, o Gandra, o Mirandela e o Martins. A jogar cartas estão dois camaradas julgo que do BCaç 2845, dos quais não me lembro dos nomes e a quem peço desculpas por isso.

Basta olhar as fotos e não é difícil de imaginar os pensamentos que vão dentro das nossas cabeças. Para oficiais e sargentos o tratamento dentro do barco até era bom, agora as praças viajavam em condições péssimas como todos nós sabemos.


PELUNDO



Pelundo, Junho de 1968

O quartel ficava do lado esquerdo da estrada já na saída para Jolmete.
Naquele tempo estava lá um pelotão e duas Panhards.
No meio da Tabanca onde saía a estrada para Có havia um fortim cuja foto já foi mostrada no blogue e onde todas as noites ficava uma secção.
Nunca tivemos problemas mas o pessoal não gostava nada de ir para lá, como o fortim ficava rodeado por tabancas, era complicado responder a um ataque naquelas condições, mas como sempre quem manda manda.

No quartel, por duas três vezes o PAIGC fez pequenas flagelações só para dizer que andavam por ali.

Todos os dias seis ou sete iam a Teixeira Pinto buscar água e géneros. Levávamos sempre muita população de boleia e isso era a nossa segurança.
Ao sair mandávamos uma mensagem e se não chegássemos em meia hora saiam ao nosso encontro.

O Pelotão que nos substituiu não davam boleia a ninguém e nos primeiros dias tiveram logo uma mina.

Como dizia o outro vidas passadas.

Um grande abraço para todos e muita saúde.
Manuel Carvalho
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10744: Memória dos lugares (200): Ponte do Saltinho no Rio Corubal: fotos do álbum do Arlindo Roda (ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) (Parte II)

Guiné 63/74 - P10759: Do Ninho D'Águia até África (32): Falsa notícia (Tony Borié)

1. Trigésimo segundo episódio, enviado em mensagem do dia 1 de Dezembro de 2012, da narrativa "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177.


Do Ninho D'Águia até África (32)



O Cifra, já tinha uns meses que estava localizado em cenário de guerra. Estava ainda no período de ambientação e quase todos os meses tinha a missão da entrega do novo código da cifra, pelas diversas unidades de acção, que essas sim, se encontravam na verdadeira zona de conflito.

Não sei se já foi dito, que para esse fim usava os mais variados meios de transporte, eram os que nesse momento se deslocavam de unidade para unidade, tanto podia viajar numa coluna militar como na avioneta do correio ou no helicóptero, mas quase sempre era a célebre coluna militar, e era onde se sentia mais seguro, lá ia, sentado, sempre com a G-3 entre as pernas, que o Setúbal tinha limpado e oleado, dizendo depois que estava operacional.

Ia sempre a tremer de medo, tentando falar sempre com alguém que se sentasse a seu lado, para desanuviar a mente, pois sempre que ouvia um ruído ou um movimento fora do normal, ficava em pânico.

Uns dias depois de ter passado na estrada, que mais parecia um carreiro, entre Bissorã e Olossato, uma coluna foi atacada, havendo alguns feridos entre os militares.

O Cifra nunca soube porquê, mas porque no Olossato estava um companheiro que era da sua zona em Portugal, com quem tinha falado, talvez esse colega tivesse escrito, dando a notícia aos familiares de que tinha havido um ataque à coluna onde houve militares feridos. Daí terá corrido a falsa notícia na sua aldeia, no vale do Ninho D’Águia, que o Cifra tinha sido ferido, e “como quem conta um conto, acrescenta um ponto”, a menina Teresa, a tal costureira solteirona, que por saber ler e escrever, entre outras coisas era a conselheira da família, estava na cabeleireira da vila, a fazer a permanente e a eliminar o bigode, com um produto novo, que cheirava muito mal, que tinha vindo de França, ouviu dizer que tinha morrido um rapaz na Guiné que era do norte da vila, mas não sabiam o nome.

Pronto, foi o suficiente, para chegar ao conhecimento da mãe Joana, que o Cifra, já não tinha sido ferido, mas sim, morto em combate, onde tinha lutado contra muitos guerrilheiros, dado muitos tiros, e tinha morrido abraçado aos restos da bandeira nacional, que estava toda em farrapos dos tiros e da explosão das granadas. Era um herói porque naquela altura a província da Guiné andava nas bocas do povo, como se fosse o inferno, pois alguns contingentes de tropas tinham sido desviados da província de Angola e Moçambique, para irem de emergência, e alguns mal preparados, diga-se de passagem, para a província da Guiné.

Calculam a aflição da mãe Joana, ela não queria saber nada se o filho era um herói, se tinha morrido agarrado à bandeira nacional, nessa altura em farrapos, o que ela queria era o seu filho vivo. A pobre, lavada em lágrimas, foi ao quartel, onde recebia o dinheiro todos os meses, perguntar aflita, onde lhe disseram que não sabiam de nada, mas que iam imediatamente telefonar e que esperasse, que já lhe respondiam.

Era mentira! Estava vivo e sem problemas, pelo menos era a informação oficial. Na próxima carta, que a mãe Joana notou, e que a menina Teresa escreveu, conta-lhe toda a história, e o Cifra manda-lhe um aerograma com as seguintes palavras:

Mãe, estou vivo e com saúde! Morto, só se for afogado em cerveja ou de saudades vossas!

E da unidade militar onde o Cifra tinha sido treinado antes de ir para a província da Guiné, onde talvez tivessem conhecimento das investigações sobre a dita falsa morte do Cifra, a sua mãe recebe uma carta de encorajamento, foto em baixo, onde entre outras coisas, dizia:

“Minha senhora, o vosso filho António..., [...] aqueles sentimentos que dignificam e enobrecem o homem..., [...] a família militar, é uma extensão da família de cada um de nós..., [...] podeis, legitimamente, orgulhar-vos do vosso filho..., [...] aprumado e respeitador, qualidades estas que a par de óptimos sentimentos e carácter, o tornam o digno de ser considerado como um exemplo a seguir pelos seus camaradas e igualmente digno do apreço dos seus superiores. E se uma mãe, se pode orgulhar de um filho assim, permita-me minha senhora que, sem querer ferir a vossa modéstia, afirme que esse filho, se pode orgulhar também de sua mãe, por esta ter sabido educá-lo de tal forma”.

E assinava por baixo, Mário Belo de Carvalho, Major de Artilharia.


Não há dúvida, que estas palavras serenaram a mãe Joana, que já não se lembrava se a bandeira nacional estava em farrapos, o que talvez até já estivesse, pois o povo andava triste, com a guerra colonial a levar os jovens das aldeias, vilas e cidades para a África, ficando assim despovoadas, deixando as raparigas solteiras e sem namorados, alguns não mais regressavam, mas a mãe Joana, agora “babando-se” de orgulho por o seu filho ainda estar vivo. Todos os dias se levantava ao passar do comboio das seis e meia, que ao apitar aflito, ao descer o vale do Ninho d’Águia, em direcção ao mar, a acordava, e mesmo antes de acender o lume na lareira, onde fervia a água para fazer o café de chicória numa grande panela de três pernas, que era o utensílio mais importante da casa, pois era nessa panela que cozinhava todas as refeições, e também “entalava”, alguns vegetais para os animais, acendia uma vela ao Santíssimo e rezava um Pai Nosso e uma Avé-Maria à Nossa Senhora de Fátima, para que o filho regressasse vivo da maldita Guiné!

 (Texto, ilustrações e fotos: © Tony Borié (2012). Direitos reservados)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10743: Do Ninho D'Águia até África (31): O Movimento Nacional Feminino em Mansoa (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P10758: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte VI): Subsetor de Empada: atividade operacional em junho e julho de 1968


Guiné > Região de  > Empada > 1968 > Em primeiro plano, o  furriel Serôdio, o soldado Ferreira [, apontador de dilagrana,] e o 1º cabo Tavares

Fotos: © Manuel Serôdio (2012). Todos os direitos reservados.

1. Continuação da série do Manuel Serôdio, sobre a história da sua companhia, a CCAÇ 1787 (*)


Junho de 1968

-Picagem e patrulhamentos diários às estradas para o cais, Ualada e pista de aterragem

-Segurança aos aviões e barcos que demandaram Empada

-Durante o período iniciaram-se os trabalhos agrícolas na bolanha de Ualada; a  Unidade passou a empenhar diariamente 2 grupos de combate na segurança aos trabalhos, (excepto nos dias de operações).

Operação "Ninguém"

Situação:

-Pretende-se alargar a zona de ação de Empada, criando um novo destacamento em Gubia [, vd. mapa de Catió]. Torna-se necessário proceder-se à ligação por terra, entre o destacamento referido e a sede, prevendo-se que o itinerário possa ser utilizado por viaturas.

Missão:

-Abrir o itinerário Empada-Gubia, tornando-o capaz de permitir a passagem de viaturas.

Forças executantes:

4 grupos de combate da Companhia 1787
1 grupo de combate da Companhia 1797
4 grupos de combate da Companhia de Milícias n° 6

Resumo:

-Os trabalhos prosseguiam em ritmo acelarado durante os meses de Abril, Maio e Junho, iniciando-se umas vezes em Ponta Brandão, (local escolhido como ponto intermédio e determinante das partes do itinerário), no sentido de Empada, outras em pontos escolhidos do itinerário, por forma a agir, tanto quanto possível de surpresa; simultaneamente iniciavam-se os trabalhos do lado de Gubia, correndo estes em bom ritmo.

-A segurança aos trabalhos articulou-se segundo os seguinte dispositivo:

2 grupos de combate emboscados nas linhas de infiltração prováveis
1 grupo de combate em patrulhamento afastado
1 grupo de combate montando a segurança próxima aos trabalhadores

-O inimigo apenas tentou interferir uma vez, em 20 de Maio, tendo 1 grupo de 15 a 20 elementos, estabelecido contato com o grupo de combate em patrulhamento, do que resultou 1 ferido ligeiro às nossas tropas; o inimigo sofreu 2 feridos confirmados e mais baixas prováveis.


Operação "Nabiça"

Situação:

-O cruzamento de Batambali, é um ponto importante, dele irradiando estradas para Buba, Catió, e Empada. A área não é há muito patrulhada pelas nossas tropas, e é natural que seja utilizado por grupos inimigos que se possam dirigir das zonas de Gambine-Antuane para Aidará [vd. mapa de Bedanda], ou vice-versa.

Missão:

-Patrulhar a área e montar uma rede de emboscadas no cruzamento e trilhos próximos.

Forças executantes:

1 grupo de combate da Companhia 1787
1 grupo de combate da Companhia 1791
2 grupos de combate da Companhia de Milícias n° 6

-Sem contato. Detetados vestígios inimigos.


Operação "Núncio"


Situação:

- A Companhia possui um destacamento em Gubia, que se torna necessário evacuar, recolhendo o pessoal e material a Empada, com excepção dos materiais de construção, que deverão seguir para Nova Sintra.

Missão:

-Evacuar o destacamento no menor espaço de tempo possível, e proceder à destruição das instalações.

Forças executantes:

1 grupo de combate da Companhia 1787
1 grupo de combate da Companhia de Milícias n° 6

Resumo:

-Em consequência da boa vontade e grande energia com que todo o pessoal se entregou ao trabalho, foi possível evacuar o destacamento no mais curto espaço possível, conseguindo-se deste modo contar com o fator surpresa, e passarem despercebidos ao inimigo, os movimentos efetuados.

-Em virtude das evacuações dos destacamentos de Gubia e Ualada, as forças empenhadas na sua defesa recolheram à sede, ficando deste modo a Unidade, a contar com todo o seu efetivo em Empada.


Julho

-Picagem e patrulhamentos diários às estradas para o cais, Ualada e pista de aterragem.

-Segurança aos aviões e barcos que demandaram Empada.

-Empenhados diariamente 2 grupos de combate na segurança aos trabalhos agrícolas.





Guiné  > Região de Quínara > Mapa de Catió (1961)  > Escala de 1/50 mil > Península de Pobreza > Posição relativa de Gubia, Darsalame e o Rio Pobreza.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



Operação "Ninharia"

Situação:

-A mata de Cantora, na península da Pobreza, é frequentada por grupos inimigos que ali passam em patrulhamentos, que chegam a atingir o cruzamento das estradas para Darsalame, e para a península referida.

Missão:

-Montar uma rede de emboscadas na mata de Cantora, aniquilando os grupos inimigos que se revelassem.

Forças executantes:

1 grupo de combate da Companhia 1787
1 grupo de combate da Companhia 1791
2 grupos de combate da Companhia de Milícias n° 6

Resumo:

-As nossas tropas sairam de Empada pela 3 horas a corta mato, tendo atingido o local escolhido para as emboscadas pelas 5 horas. Às 5,30 horas, estavam montadas as duas emboscadas.

-Cerca das 7,40 horas, 1 grupo inimigo entre cerca de 15 a 20 elementos surgiu na zona de morte, caminhando despreocupados e confiantes. Foi aberto fogo pela metraahadora, e imediatamente se desencadeou por parte das nossas tropas, fogo vivo, rápido e brutal, durante cerca de 10 minutos. Apanhado de surpresa, o inimigo internou-se na mata, reagindo debilmente.

-Efetuado o assalto e batido o local, verificou-se o segunte resultado:

-O inimigo sofreu 2 mortos, e dois feridos graves confirmados, e a avaliar pelos longos rastos de sangue, outros feridos ligeiros.

-As nossas tropas não sofreram baixas.

Material apreendido:

1 pistola metralhadora com 68 munições
6 granadas de lança-roquetes RPG2

Operação "Napoleão"

Situação:

-Tem-se notado que o inimigo vindo do lado de Aidará, realiza com muita frequência patrulhamentos para as zonas de Farancunda, Missirá e Empada.

Missão:

-Patrulhar ofensivamente a área de Empada e Farancunda Balanta, e montar neste último local uma rede de emboscadas.

Forças executantes:

1 grupo de combate da Companhia 1787
1 grupo de combate da Companhia 1791
2 grupos de combate da Companhia de Milícia n° 6

-Sem contato. As nossas tropas chegaram às vistas das casas da tabanca de Aidará, ouvindo-se claramente as mulheres a pilar, gritos de homens e crianças, e avistaram um grupo de pescadores para os lados de Cã.

Continua...
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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10643: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte V): O subsetor de Empada

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10757: (Ex)citações (203): O "fado das comparações"... ou o humor sarcástico do Cancioneiro do Niassa (Luís Graça)

1. Comentário de L.G. ao poste P10754:

Camarada Rosinha, já que se evocou aqui (mal, segundo as regras deste blogue...) os "chicos", que são igualmente filhos de Deus e nossos camaradas (e todas generalizações serão sempre abusivas, nesta como noutras matérias...), e já que tu próprio, sempre oportuno, foste buscar (ou reforçar) a questão das similitudes e das diferenças entre "tugas" de Angola e de Moçambique (ainda há dias estive com o Mia Couto, no aeroporto de Lisboa...), toma lá mais esta... Neste caso, esta "canção do Niassa":

Fado das Comparações

Que estranha forma de vida!
Que estranha comparação!
Vive-se em Lourenço Marques, (Bis)
Cá arrisca-se o coirão!

Vida boa, vida airada!
Boites, é só festança!
Lá não se fala em matança, (Bis)
Nem turras; há só borgadas.

Niassa, pura olvidança!
Guerra, como és ignorada!
Conversa que é evitada, (Bis)
P'los que vivem n'abastança!

Falar na nossa desdita
Fica mal e aborrece!
E como lembrar irrita, (Bis)
Toda a gente a desconhece!

Ao passar pela cidade,
Com tanta tranquilidade,
Deu-me para] comparar, (Bis)


Meninas com mini-saias!
Mandai-as p'ras nossas praias
P'ra manobra de atacar! (Bis)

Pipis com carros GT's, [Ou: Hippies com carros GT's]
Mandai-os para as Berliets,
Tirai-lhes as modas finas; (Bis)


Melenudos efeminados
Eram bem utilizados
P'ra fazer rebentar minas! (Bis)

Bem como essas tais meninas
Que, apesar de enfezadinhas,
Mas com ar da sua graça, (Bis)


Serviriam muito a jeito
Para acalmar a dor do peito [Ou: Para aliviar a dor do peito]
Cá da malta do Niassa. (Bis)

Mas não, só por pirraça,
Hão-de lá continuar!
E nós temos de lerpar, (Bis)


Invertem-se as posições,
E trocam-se as situações,
Continuamos a aguentar! (Bis)

Nós, sem sermos desejados,
Ficamos cá apanhados,
Aos urros, num desvario! (Bis)


Eles, os daqui naturais,
Gastando dinheiro aos pais,
Vão para o Matola Rio! 

[Ou: Vão p'ra a puta que os pariu!]

Acabe-se com a tradição,
Entre-se em mobilização,
Utilize-se a manada!  (Bis)


Dentro de poucas semanas,
Como quem come bananas,
Estará a Guerra acabada. (Bis)



Gentileza da página na Net do Joraga [José Rabaça Gaspar], que inseriu a gravação áudio, com a  voz do João Paneque, na Rádio Metangula, em 1970 [Clicar aqui para ouvir]... Essa  versão tinha a seguinte introdução:

"Este é um fado que compara algumas coisas que se passavam. Não é um fado para ofender, e era cantado em ambientes muito particulares e com público esclarecido! De resto, como todo o cancioneiro, sobressai sempre o aspecto humorístico com que todos os  temas são abordados". 
  
Fonte: Reproduzido de Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, I Série > 11 de maio de 2004 > 11 Maio 2004 > Blogantologia(s) - XI: Guerra Colonial: Cancioneiro do Niassa (1) 

2. Comentário de L.G.: 

A música deste fado, do Cancioneiro do Niassa,   é a do clássico  fado Estranha forma de vida (Letra e música: Alfredo Duarte e Amália Rodrigues). No entantato, a segunda parte parece-me ser a do Embuçado , precisarei de tempo para confirmar.

Mas o que importa agora é a  letra: sarcástica, parodia a privilegiada condição dos colonos moçambicanos e dos seus filhos e filhas, condição que, vista de Metangula, no lago Niassa,   deveria   uma das  contradições daquela guerra, difíceis de (di)gerir:  de facto,  dificilmente se poderia convencer um soldado metropolitano que estava a defender o chão sagrado da Pátria, quando do inferno do Niassa se olhava para  o bem-bom de Lourenço Marques...Em todo o caso, é bom não esquecer que houve moçambicanos, filhos de colonos brancos, que morreram em combate no TO da Guiné: caso do nosso camarada Mário Sasso, por exemplo.

Noutro registo, era o mesmo tipo de crítica que nós fazíamos na Guiné - nós, os operacionais, a carne para canhão - aos mais privilegiados, não os colons que praticamente não os havia, mas sim a rapaziada da guerra do ar condicionado, instalada no relativo conforto e na precária segurança de Bissau... 

Recorde-se que na Guiné não havia colonos brancos, a única empresa que se podia chamar colonialista era a Casa Gouveia, ligada à CUF - Companhia União Fabril, mas que ficou praticamente inactiva com o início da guerra, reduzida a muitos poucos entrepostos no mato (em Bambadinca, ainda havia um, no meu tempo, 1969/71).

Acrescente-se que o léxico do combatente de Moçambique e da Guiné tinha muitas coisas em comum: por ex., a palavra lerpar que era utilizada pelas nossas tropas, nos dois TO, com o mesmo sentido de perda: morrer, ser ferido, perder qualquer coisa (por ex., ao jogo da lerpa), apanhar uma 'porrada' (castigo), ser escalado, etc. 


[Imagens acima: Cortesia da Wikipédia. A distância da capital, hoje Maputo, ao Niassa, é de 2800 km... Matola é hoje cidade e município,  capital da província de Maputo. É também nome de rio que desagua na baía do Maputo.]
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P10756: Agenda cultural (239): O grã-tabanqueiro, nova-iorquino, João Crisóstomo, é um dos "Portugueses Pelo Mundo", retratado no livro que será apresentado hoje, 2ª feira, dia 3, às 18h30, na FNAC - Chiado


1. Excerto da página Cultura FNAC, reproduzido aqui com a devida vénia...

O livro "Portugueses pelo Mundo" será apresentado na FNAC Chiado, hoje, às 18h30,  em Lisboa, por Erick Andrade, Luís Flipe Borges e Raquel Ochoa,

 João Crisóstomo, nosso camarada de armas, e membro da nossa Tabanca Grande, a viver em Nova Iorque desde 1975, é um dos retratados no livro.

Recorde-se o que sobre ele já aqui se escreveu:

 (...) "O João Crisóstomo é um português das Arábias....Um dos muitos camaradas nossos que, depois do regresso da guerra, fez-se à vida, e quis conhecer o mundo largo e farto...Que na casa materna, a nossa Pátria, não cabiam todos...ou só cabiam alguns. A história, invulgar, deste nosso camarada, vim a descobri-la na Net... Confirma-se que é um militante de causas nobres (Gravuras Rupestres de Foz Coa, Memória de Aristides Sousa Mendes, autodeterminação de Timor Leste e do Sahara Ocidental)" (...)

Foi o primeiro a inaugurar a nossa série dos Camaradas da diáspora... 

Em julho de 2010, ele foi descoberto pela equipa da RTP, responsável pelo programa "Portugueses pelo Mundo":

(...) "Com 10 milhões de habitantes, Nova Iorque é a 'capital do Mundo', onde convergem todas as culturas que fazem desta cidade a mais internacional dos Estados Unidos da América. Viajamos até à 'cidade que nunca dorme', para absorver a sua influência no que diz respeito ao comércio mundial, às finanças, à cultura, à moda e ao entretenimento. É impossível ir a Nova Iorque e ficar-se indiferente, por isso vamos conhecer os sítios mais emblemáticos que tão bem contrastam com o ritmo alucinante duma cidade que nunca dorme. (...) Subimos para uma carruagem e recuamos para o tempo em que João Crisóstomo foi mordomo de Miss Jacqueline Kennedy Onassis. Hoje, com 65 anos, leva-nos a conhecer a Grand Central Station e outros pontos de interesse, onde encontra referências de Portugal." (...) 

O respetivo vídeo está aqui disponível no You Tube

2. O João Crisóstomo,  este português  que nos orgulha enquanto tal,  e também como nosso camarada da Guiné, é uma caixinha de surpresas... Ainda hoje, de manhã, a falar ao telefone, soube que a produtora, Teka 2000,  do filme "Aristides Sousa Mendes, o cônsul de Bordéus", em exibição nos cinemas, lhe agradeceu, a ele, pessoalmente, o apoio (financeiro) que, através dele, foi conseguido nos EUA para ultimar o filme... Eu já vi o filme, mas escapou-me este pormenor: a lista de agradecimentos é enorme...


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Ver aqui o trailer oficial do filme, disponível no You Tube...

Sobre o filme, escrevi no Cinecartaz do Público (24/11/2012)

"Luís Graça > Uma mensagem libertária, sempre atual

"Vi ontem o filme, e aconselho... Primeiro, é português, e devemos ter orgulho no que fazemos, no que é português, mesmo não sendo uma obra-prima... Segundo, é sobre um grande português que nos reconcilia com Portugal, sobretudo nestes tempos em que andamos tão zangados, connosco próprios, com as nossas elites, com o rumo da nossa história...

"Há uma mensagem libertária na história de vida do Aristides Sousa Mendes, e que continua sempre atual: Às vezes é preciso saber desobedecer, em nome de valores que não têm preço: "Prefiro estar com Deus contra os homens do que com os homens contra Deus"... O cônsul de Bordéus referia-se ao cumprimento, cego e burocrático, da infame Circular 14, emitida por Salazar, e que proibia a concessão de vistos, pelo pessoal dos consulados e embaixadas, a certas categorias de refugiados onde se incluíam os judeus... (alguns dos quais de origem portuguesa)"... 




3. O João acaba de me mandar este mail, às 13h05:

(i) Como mencionei pel telefone,   a Marcador Editora lança hoje um livro interessante baseado no programa da RTP1 - Portugueses pelo Mundo  (que no momento actual de alguma maneira lhes chamou a atenção).  Nada de especial a meu respeito, salvo eu estar também aí mencionado. O convite que me mandaram é suficientemente infomativo.

(ii) Já que mencionaste o filme sobre ASMendes ( que acaba de ganhar um prémio em Coimbra,  no festival de filmes portugueses, como me informaram),  estou muito contente pois de alguma maneira também ajudei embora muito modestamente no estágio final do seu seu acabamento. Os produtores de alguma maneira reconheceram isso, mencionando o meu nome na lista final de agradecimentos.

(iii) Uma vez que vocês gostam de estar a par destas curiosidades, vou-lhes enviar algo mais brevemente. Mas para hoje chega, que tenho de ir tabalhar...
Abraço grande, João.


4. Convite  enviado pela editora ao João Crisóstomo, em 26/11/2012: 


PORTUGUESES PELO MUNDO - Livro

Estimado(a) Senhor(a),

É com um prazer enorme e grande entusiasmo que a MARCADOR EDITORA lhe vem dar conhecimento do nosso mais recente projecto: o livro baseado no programa da RTP1 que contou com a sua participação - PORTUGUESES PELO MUNDO.

Em parceria com a RTP1 e a Eyeworks (produtora do programa) registámos em livro as maravilhosas experiências de compatriotas que decidiram mudar a sua vida e abraçar uma outra geografia em busca de uma aventura ou de uma nova oportunidade. O objectivo é, não só, divulgar a experiências destes homens e mulheres, os seus testemunhos, as suas sugestões e as suas melhores dicas, mas também, mostrar a quem tiver a oportunidade de ler este livro que também poderá fazer o mesmo.

Como tal, a sua participação no programa foi citada neste livro, que será lançado no dia 3 de Dezembro pelas 18h30 na FNAC Chiado, evento para o qual muito nos honraria a sua presença (ou de um seu representante, amigo e/ou familiar).

Para além das livrarias nacionais, o livro poderá ser encontrado on line, através do site:
http://www.presenca.pt/livro/portugueses-pelo-mundo/

Assim reiteramos o nosso mais sincero obrigado pela sua participação neste projecto, que em muito nos honra poder participar.

Atenciosamente,

João Gonçalves | Publisher
joao.goncalves@marcador.pt

M +351 96 965 48 99 | T +351 21 434 70 80
Estrada das Palmeiras, 59 | Queluz de Baixo
2730-132 Barcarena

Facebook: https://www.facebook.com/marcadoreditora
Site: www.marcador.pt

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Nota do editor:

Último livro da série > 28 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10733: Agenda cultural (238): Histórias da guerra colonial, com Jaime Froufe Andrade e Onofre Varela, no Centro Republicano e Democrático de Fânzeres, Gondomar, 30 de novembro, 6ª feira, 21h30 (Juvenal Amado / Sousa de Castro)

Guiné 63/74 - P10755: (In)citações (46): O cadete Lima, do último curso de oficiais milicianos que reuniu em Mafra, em 1964, a juventude do império... (Rui A. Ferreira)

1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada Rui Alexandrino Ferreira,  autor de Rumo a Fulacunda, e que foi alf mil inf na CCAÇ 1420 (Fulacunda, 1965/67) e cap mil inf na CCAÇ 18 (Aldeia Formosa, 1970/72)...

De acordo com a nota biográfica da sua editora, a Palimage, nasceu em Angola, em 1943, e em 1964 "integra o último curso de oficiais milicianos que reuniu em Mafra a juventude do Império. 1965 - Rende, na Guiné-Bissau, um desaparecido em combate. 1970 - Frequenta o curso para capitão em Mafra, seguindo em nova comissão para a Guiné-Bissau. 1973 - Regressa a Angola em outra comissão. 1975 - Retorna a Portugal. 1976 - Estabiliza em Viseu, onde continua a residir. Rumo a Fulacunda é a sua primeira obra literária".


Data: 3 de Dezembro de 2012 01:40

Assunto: O cadete Lima

Aqui vai um abraço muito especial ao meu ilustre camarada de recruta e especialidade, meu companheiro e meu amigo, Adriano Miranda Lima [, foto à direita, em baixo], um dos nossos últimos Tertulianos, de quem tenho a grata recordação dum passado que, tendo decorrido num período muito especial da nossa vidas, num rumo comum que tendo tido por palco a Escola Prática de Infantaria, em Mafra, onde ambos, incluídos no Pelotão dos Ultramarina versão literária e a terminologia filosófica do homem aranha, perdão do  Capitão Aranha, nos vimos, isso sim, em palpos de aranha para aguentar toda aquela imensidão de grandes cabeças que tinham jurado a pés juntos cumprir a execrável missão de fazer daquela seita de mal jeitosos cadetes a fina flor  da oficialidade miliciana.os e naquela que passou à história como a companhia segunda do Curso de Oficiais Milicianos, segundo 

Pois, meu caro cadete Lima (, a ti e ao coronel com o mesmo nome e já que um coronel não é mais que um cadete que não morreu), os meus mais sinceros votos para que sejas muito bem vindo e que te dês entre nós muito bem, fazendo parte desta grande família que é a rapaziada do blogue do Luís Graça.

Com a muita amizade e a consideração do

Cadete Rui A. Ferreira
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10715: (In)citações (45): Carlos Guedes e Teco com livro sobre a CCAÇ 726, em preparação (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P10754: Notas de leitura (436): "Elites Militares e a Guerra de África", por Manuel Godinho Rebocho (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Setembro de 2012:

Queridos amigos,
O Sargento-Mor Paraquedista Manuel Godinho Rebocho tem uma versão muito peculiar das razões subjacentes ao 25 de Abril. Houve para ali como que uma luta surda de classes entre oficiais do conforto, gente do quadro permanente, e oficiais milicianos com provas dadas no terreno, na génese de uma guerra corporativa que foi ultrapassada pelo turbilhão das frentes da Guiné e Moçambique, as duas fações coligaram-se para apoiar a solução política anunciada por Spínola.
Tudo quando se passou ao 25 de Abril tem o rastilho dessa luta surda de classes onde se moveu e saiu triunfante a malta emocionalmente impreparada para as guerras de África e genericamente responsável por tudo quanto ali se passou.
Por favor, leiam “Elites Militares e a Guerra de África” para fundamentarem a vossa opinião sobre o 25 de Abril até agora desconhecido.

Um abraço do
Mário


A “milicianização” da guerra (3)

Beja Santos

Chegámos a um ponto crucial das teses enunciadas pelo doutor Rebocho na sua prova de doutoramento que vieram a ser publicadas com o título “Elites Militares e a Guerra de África”. Os postulados são os seguintes. Estamos a caminhar a passos largos para os acontecimentos do 25 de Abril. Ele dá-nos o contexto: a partir de 1973, a guerra tornou-se mais violenta do que nunca; os oficiais do quadro permanente afastaram-se do teatro de operações, confinaram-se à gestão militar, a ministrar instrução, entregues à burocracia nas repartições. Os capitães milicianos tornaram-se na matéria-prima essencial, eles e os alferes milicianos, sobretudo, mas há que contar também com os furriéis milicianos. Por esta altura, o quadro especial de oficiais já não pode ser ignorado. Estala uma tensão profunda entre os operacionais que se mostram mais abertos à descolonização e os oficiais do quadro permanente a favor da presença portuguesa em África. E cita Dinis de Almeida: “A iminência de uma derrota na Guiné, criara condições para uma melhor implantação e influência do MFA que encontrava no estrato miliciano alguns dos seus mais sólidos aderentes (aí já se chegara mesmo ao ponto de entregar quase em exclusivo aos oficiais milicianos o comando das companhias operacionais).”. E documenta com a ira dos colonos da faixa central de Moçambique, profundamente desorientados com a morte da mulher de um fazendeiro europeu, em Vila Manica, distrito de Vila Pery. A comunidade branca apedrejou a messe de oficiais, esta comunidade branca, segundo o doutor Rebocho, era o alvo das seguintes quadras: "Vai para o mato,/ Chico malandro./ Por tua causa,/ É que eu aqui ando./ É que eu aqui ando./ É que eu aqui ando./ Estou farto deles,/ Da chicalhada./ Só mandam vir,/ E não fazem nada./ E não fazem nada./ E não fazem nada”.

E seguem-se os números: “Ao apreciar a lista de antiguidades dos oficiais do Exército do quadro permanente, reportada a 1 de Janeiro de 1974, verifica-se que existiam 1566 capitães de carreira, dos quais 938 da Escola do Exército e destes 471 eram de Infantaria, 183 de Artilharia e 105 de Cavalaria, os restantes eram de Armas e serviços não combatentes. Além destes, existiam 74 capitães do QEO, o que perfazia 833 capitães cujas funções deveriam ser as de comandante de companhia. No início de 1974, existiam no conjunto dos três teatros de operações, 410 companhias operacionais (…). Os capitães das armas combatentes eram mais do dobro das companhias existentes na guerra de África. Se todos os capitães comandassem companhias, função para efetivamente existem, e se permanecessem na Metrópole durante o mesmo período de tempo que no comando de companhias em África, todas elas poderiam ser comandadas por capitães de carreira. Mas não seria de exigir tão grande esforço, consideremos apenas metade, o mesmo é dizer que metade das companhias operacionais em África deveriam ser comandadas por capitães de carreira, o que não aconteceu. Ao contrário, formavam-se anualmente 260 capitães milicianos, ou 520 durante os 2 anos de uma comissão normal”.

E assim chegamos ao 25 de Abril, o último ato, segundo o autor do Decreto-Lei nº 353/73, de 13 de Julho, que criara condições para o ingresso dos capitães milicianos no quadro permanente. Revogada a legislação, as movimentações de caráter corporativo entraram numa espécie de luta entre os puros (os do quadro permanente) e os espúrios (milicianos). Spínola irá aparecer como o protetor dos milicianos e Costa Gomes o dos do quadro permanente. O manto diáfano das manifestações era a procura de uma solução política para a guerra de África. E depois o autor disserta sobre as particularidades dessas movimentações, matéria largamente conhecida mas que leva o doutor Rebocho a uma nova espiral de descobertas: o golpe de Estado militar teve à frente Andrade Moura, proveniente dos milicianos, e não Salgueiro da Maia, do quadro permanente. E está ali bem escrito, para que o leitor não entre em equívocos: “O capitão oriundo de miliciano, Andrade Moura, e o sargento Silva Brás, foram os homens decisivos do golpe militar, sem o contributo dos quais tudo se teria desmoronado”. Andrade Moura deu esclarecimentos sibilinos ao doutor Rebocho: “A arma de cavalaria não estava com a Comissão Coordenadora do MFA, mas com Spínola”. Costa Gomes, vem escrito, teve um procedimento caviloso, nem o Cardeal Richelieu se lembraria disto: “Costa Gomes sabia que, pelo menos por algum tempo, o poder ficaria nas mãos dos militares. Com a nomeação de uma Comissão totalmente fiel, preferiu liderar as forças armadas através do cargo de CEMGFA, lugar que reservou para si. Foram estes dois momentos, a nomeação da Comissão e a do CEMGFA, passados na noite de 25 para 26 de Abril, que derrotaram Spínola, provocando todos os acontecimentos seguintes, e definindo não só o futuro de Portugal, como dos territórios africanos”. Como não podia deixar de ser o golpe Palma Carlos, o 28 de Setembro, o 11 de Março e o 25 de Novembro foram altamente condicionados pelas tensões existentes entre os que acreditavam nas teses de Spínola e os que se escudavam atrás de Costa Gomes.

Chegou a hora das conclusões, depois de tanta investigação científica. Fica-se a saber o seguinte: a formação dos quadros combatentes à base de milicianos (oficiais e sargentos) constitui o maior erro praticado na condução da guerra de África, as autoridades tinham sido prevenidas e até andou por Portugal o Marechal Montgomery que alertou para a obrigação dos generais portugueses comandarem tropas; aquela guerra para ser ganha, ou ter um destino diferente da que teve, requeria oficiais com capacidades pessoais, com inteligências específicas (caso da inteligência emocional) e não só os conhecimentos adquiridos no curso para oficial; os oficiais do quadro permanente afastaram-se da guerra, muitos deles por falta de vocação e motivação profissional.

Tudo somado e conjugado, chegámos ao ponto alto da tese: “Acontecimentos motivados não por razão de ordem social, mas pelas qualidades do desempenho da guerra de África, o que determinou que os oficiais operacionais, do quadro e milicianos, seguissem o general António de Spínola, enquanto os oficiais ‘básicos’ seguiram o general Costa Gomes. As designações de esquerdistas, comunistas, moderados, direitistas e fascistas, não correspondiam assim, em minha opinião, aos comportamentos substantivos dos militares. Conforme demonstrei, os conflitos intramilitares tiveram basicamente as suas origens nas vocações e motivações que determinaram a qualidade do respetivo desempenho e o comportamento demonstrado, por sua vez derivado dos erros do processo de formação militar”.

O doutor Rebocho despede-se do leitor com o desejo que a sua investigação suscite novos trabalhos e possa contribuir para conhecer melhor a instituição militar e ajudar à elevação da sua eficácia e da sua dignidade, através de processos de seleção, recrutamento e formação consequentes com os valores que devem presidir à existência e continuidade das Forças Armadas.
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Notas de CV:

Vd. postes anteriores desta recensão de:

26 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10727: Notas de leitura (432): "Elites Militares e a Guerra de África", por Manuel Godinho Rebocho (1) (Mário Beja Santos)
e
30 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10740: Notas de leitura (433): "Elites Militares e a Guerra de África", por Manuel Godinho Rebocho (2) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 2 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10752: Notas de leitura (435): "Amílcar Cabral Revolutionary leadership and people's war", por Patrick Chabal (2) (Francisco Henriques da Silva)

Guiné 63/74 - P10753: Convívios (484): Jantar de Natal da Tabanca de Matosinhos, dia 8 de Dezembro de 2012, na Junta de Freguesia de Bonfim - Porto

Vai realizar-se no próximo dia 8 de Dezembro de 2012, pelas 20h30, o tradicional jantar de Natal da Tabanca de Matosinhos, que será antecedido, pelas 19h30, da Assembleia Geral Ordinária da "Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau - ONGD".

Conforme o programa que se publica, os dois eventos terão lugar no Salão Nobre da Junta de Freguesia de Bonfim (ao Campo 24 de Agosto), Porto.


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10703: Convívios (483): A Magnífica Tabanca da Linha: la vie en rose... Ainda dizem que há crise, pá!... (Fotos: Manuel Resende; legendas: JD/LG)

domingo, 2 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10752: Notas de leitura (435): "Amílcar Cabral Revolutionary leadership and people's war", por Patrick Chabal (2) (Francisco Henriques da Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Henriques da Silva (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato, 1968/70), ex-embaixador na Guiné-Bissau nos anos de 1997 a 1999, com data de 29 de Novembro de 2012:

Meus amigos,
No seguimento do meu anterior "post" sobre o livro de Patrick Chabal " Amílcar Cabral: revolutionary leadership and people's war", remeto-vos a 2ª parte da recensão, acompanhada por uma fotografia do autor.

Cordiais cumprimentos
Francisco Henriques da Siva
(ex-Alf. Mil. de Infantaria da C.Caç. 2402)


Amílcar Cabral – o líder revolucionário (2/2)

(continuação)

O autor detém-se na análise do Congresso de Cassacá (1964) que visou reorganizar a estrutura militar, reformar e disciplinar o partido, reduzir a autonomia de certos grupos, coarctar os abusos de poder, exercer um firme controlo político sobre a condução da luta armada (a principal questão de fundo) e, finalmente, a organização civil das áreas libertadas. Todavia, o líder do PAIGC e o Congresso reconheceram, igualmente, a existência de outras questões relevantes: a etnicidade (ou seja, a fraca adesão dos fulas aos ideais da guerrilha, antes alinhando com as teses portuguesas) e problemas de índole cultural que suscitavam óbices à prossecução da luta.

Os êxitos diplomáticos devem ser evidenciados, ao longo de todo o período de luta e em especial na recta final, referimo-nos ao início da década de 70. Leia-se: o reconhecimento do PAIGC, como único representante do movimento nacionalista da Guiné-Bissau, a nível da OUA; as declarações em diferentes instâncias da ONU; o apoio dos países socialistas e outros (Suécia, por exemplo) à causa independentista; a audiência concedida pelo Papa Paulo VI em Agosto de 1970 e o respaldo político internacional generalizado a uma eventual declaração de independência.

Todo o período que medeia entre Congresso de Cassacá (1964) e a declaração unilateral de independência (Setembro de 1973) consiste numa escalada da guerra, em que o PAIGC obtém importantes êxitos e o dispositivo militar português é expressivamente reforçado. Não obstante, o advento de um novo governador em 1968, António de Spínola e a implementação da sua politica “Por uma Guiné melhor” era potencialmente mais perigoso que qualquer resposta militar musculada, num conflito que foi sempre considerado como sendo de baixa intensidade, na medida em que se tratava de uma política de aliciamento e conquista das populações que punha em risco, essa sim, os objectivos do PAIGC (cfr. p. 94).

A guerra envereda nos últimos anos (1971-1973) por uma senda de maior agressividade. Sem embargo, o “PAIGC não procurava uma vitória militar uma vez que Cabral estava convencido de que seria demasiado pesada em termos de vidas humanas” (v. p. 95). Também, numa fase posterior, a propósito de uma hipotética vitória militar total Manuel dos Santos (Manecas) concorria, ponto por ponto, com a mesma opinião: “Não acreditávamos realmente numa vitória militar total” (v. p. 104). Todavia, nesta fase e tendo em conta o território que alegadamente dominava, bem como a população sob o seu controlo, o PAIGC já se considerava um partido-Estado.

O autor refere-se invariavelmente ao ideário político, à intensa actividade intelectual e à visão estratégica do líder do PAIGC, mas não se refere às suas qualidades militares. É, pois, legítimo concluir que Cabral deixava tudo isso aos operacionais no terreno, limitando-se apenas a orientá-los politicamente. Não era um militar, nem o que podemos considerar um “duro”, mas alegadamente um homem tolerante. Sabe-se, por exemplo, que Cabral, condescendente por natureza, opunha-se à pena de morte e à prisão perpétua e que, muitas sentenças dos tribunais populares neste sentido, não foram executadas.

É interessante notar que as eleições de 1972, na clandestinidade, obviamente, que visavam legitimar e consolidar o passo seguinte – a independência – “devem ser encaradas como a primeira tentativa para o estabelecimento de uma significativa separação e equilíbrio político entre o partido e o Estado” (p. 127). Quanto ao assassinato de Amílcar Cabral, Chabal explana as diferentes teses que correm sobre o assunto, designadamente as dissensões entre a elite política cabo-verdiana e os guerrilheiros guineenses que estariam na origem do crime, mas, após uma extensa explicação, acaba por concluir “não existirem provas que sugiram que a alegada divisão entre guineenses e cabo-verdianos era um tema politicamente saliente no partido” (p. 140), argumentando, ainda, que o golpe de Estado de 1980 não teria nada que ver com o citado antagonismo inter-étnico. Opinião com a qual discordamos inteiramente, não só pela análise de factos históricos subsequentes, mas pela circunstância, aliás reconhecida pelo autor de que a “política da integração da Guiné e Cabo Verde num país unificado, consagrada no programa partidário de 1956, era uma ideia exclusiva de Cabral” (p. 162) . Mais. O autor conclui, inequivocamente: “além disso, emerge agora que nem os cabo-verdianos nem os guineenses estavam plenamente preparados para a unidade” (p. 163).

Para além da narrativa biográfica, Patrick Chabal que estudou outros processos revolucionários de luta armada anticolonial em África, sobretudo em Angola e Moçambique suscita a questão essencial de se se saber por que razão é que a luta do PAIGC obteve maior êxito que a dos seus congéneres marxistas MPLA e FRELIMO. O autor pensa que aquele partido dispunha de importantes vantagens à partida: em primeiro, lugar, os demais movimentos nacionalistas guineenses desapareceram ou eram irrelevantes; em segundo lugar, existia uma organização melhor estruturada e uma mobilização mais generalizada do campesinato na Guiné em prol da guerrilha, susceptível de diluir as diferenças étnicas existentes e de estabelecer laços mais consistentes de unidade nacional; em terceiro lugar, subsistia um controlo político real de toda a actividade militar e, finalmente, o PAIGC estabeleceu uma administração minimamente eficaz nas áreas libertadas. Poderíamos ainda acrescentar que em contraste com os outros movimentos emancipalistas das ex-colónias portuguesas, o PAIGC dispunha de inegáveis trunfos diplomáticos que os demais não desfrutavam. Estes factores de diferenciação em relação aos outros movimentos de emancipação têm de ser sublinhados, estão na base do respectivo êxito e devem-se, em larga medida, à liderança de Amílcar Cabral. Por razões que o livro não adianta, nem poderia adiantar uma vez que não envereda pela futurologia, a evolução seria outra, já patente, porém, na gestão de Luiz Cabral e no golpe de Estado de “Nino” Vieira (golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980) a que Chabal alude de passagem.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10745: Notas de leitura (434): "Amílcar Cabral Revolutionary leadership and people's war", por Patrick Chabal (1) (Francisco Henriques da Silva)

Guiné 63/74 - P10751: Tabanca Grande (370): Adriano Lima, cor inf ref, residente em Tomar, natural do Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde, grã-tabanqueiro nº 590

1. Mensagem do novo membro da Tabanca Grande, nº 590 (*), Adriano Lima, com data de 23 do mês passado:

Amigo: (...) 
Em mail anterior, respondi-lhe que é com imenso gosto que serei um tabanqueiro, ainda que nunca tenha estado na Guiné. Pois já vi que a Tabanca não tem apenas a ver com o chão guineense e com a memória de que são portadores os que lá andaram. É também um amplo espaço de encontro e partilha do que temos de mais belo e puro na nossa humanidade. Por isso, conte comigo. Desejo saber se tenho de fazer alguma coisa de concreto.


Tencionava enviar-lhe este texto sobre o espírito de solidariedade dos militares, uma vez que o seu saudoso pai é uma das suas figuras centrais (**).

Um abraço
Adriano



2. Recordo aqui o texto do Adriano Lima que publicámos no poste P9421, de 30 de janeiro p.p.:


(...) Sou Adriano Miranda Lima, coronel reformado, residente em Tomar, e nascido em Cabo Verde, S. Vicente. Não estive na Guiné, apenas em Angola e Moçambique.

Tive acesso ao seu blogue e só tenho razões para o felicitar efusivamente por esta belíssima e interessante iniciativa. Revisitar estas saudosas memórias é recolocar a história no seu devido lugar e com ela reencontrar-se num abraço fraterno em que o coração se dá inteiro.

Como servi longos anos no RI 15 [, Tomar], aliás, a minha unidade de colocação, após o termo das comissões no ex-Ultramar, acompanhei sempre o convívio dos antigos expedicionários mobilizados pelo Regimento. Algumas vezes coube aos expedicionários do RI 15 a organização do convívio, com participação dos camaradas de outros regimentos e unidades mobilizadoras. Cada "regimento" organizava o convívio de todos os que serviram em S. Vicente. 

Com o meu apoio pessoal, sendo eu então major, por duas vezes o convívio realizou-se no meu Regimento, em Tomar, e numa das vezes ele foi integrado nas comemorações do Dia da Unidade. Noutra ocasião, foi num restaurante em Tomar, e também estive presente, por simpático convite do elemento organizador, Sr. Francisco Lopes (Chico Concertina), infelizmente falecido há cerca de 4 anos. Dava-me muito bem com ele, e era sogro de um amigo meu, advogado.

Se estiver interessado em saber alguma coisa sobre o Batalhão que saiu de Tomar, terei o maior gosto em prestar informações ao blogue. Por acaso, publiquei um artigo num jornal online, sobre a memória desse batalhão.

Há um blogue chamado "Praia de Bote" (nome de um local de S. Vicente), em que tenciono publicar uns posts sobre as forças expedicionárias a Cabo Verde. Como tenho poucas fotos, queria pedir a sua autorização para me servir das que constam do seu blogue respeitantes ao BI 5, que eram do seu pai. Apenas como ilustração. Naturalmente que me refiro a fotos de carácter genérico, não pessoais.

Apraz-me também registar o afecto e a admiração com que cultiva a memória do seu pai neste Blogue. (...)



[Foto acima, à direita: Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Monte Sossego > c. 1941-1945 > "Peça de 9,4 cm de uma das duas antigas baterias de artilharia anti-aérea de Monte de Sossego (Foto oferecida pelo filho de um antigo oficial que serviu, à época, em Cabo Verde)" [Legenda: Adriano Miranda Lima] [Foto reproduzida aqui com a devida vénia...]
 

3. Relembro igualmente a resposta que dei na altura:

(...) "Adriano, muito obrigado pelo seu comentário, pelo seu elogio ao nosso blogue, mas também pelo seu pedido. Começando por este, disponha das fotos do meu pai, para os efeitos que julgar convenientes, citando sempre, naturalmente, o nosso blogue. Temos, aliás, mais fotos de mais outros dois expedicionários, na série Meu pai, meu velho, meu camarada, nomeadamente do Ângelo Ferreira de Sousa e do Armando Lopes [... e ainda do Feliciano Delfim dos Santos, embora este tenha não tenha estado em São Vicente, mas sim em Santiago, Santo Antão e Sal].

"Todos temos o dever de memória, deixando às gerações seguintes notícias sobre a nossa passagem por este planeta que é único, o berço da humanidade, é a nossa casa, ou é a aldeia onde todos somos vizinhos... Cabo Verde e Portugal têm uma longa história em comum, além de uma língua. Eu tenho um especial afeto por São Vicente e, em particular, pelo Mindelo que um dia destes espero poder finalmente conhecer ao vivo. (Não conheço Cabo Verde, de todo: estive apenas uma escassa hora ou duas no Sal, em paragem técnica do avião da TAP que me trouxe de férias, de Bissau a Lisboa, em 1970).

"Transmiti, este fim de semana, ao meu pai, Luís Henriques, a caminho dos 92 anos [, que não chegaria a completar por ter morrido a 8/4/2012,]  o seu interesse e o seu pedido. Até aos 80 anos, costumava ir ao convívios anuais da malta de Cabo Verde. Disse-me que nunca foi ao RI 15 (Tomar), a nenhum dos convívios dos antigos expedicionários, já que ele pertencia ao RI 5 (Caldas da Rainha). Em todo o caso, lembra-se bem das jogatanas de futebol, no Lazareto, entre uns e outros. Como também se lembra da epidemia de fome que assolou as ilhas, no tempo em que lá esteve (1941/43). O seu "impedido", o Joãozinho, que ele alimentava com as suas próprias sobras do rancho, também ele morreu, de fome e de doença, em meados de 1943. Comove-se ao dizer-me que deu à família do miúdo todo o dinheiro que tinha em seu poder (c. de 16$00) - na altura, estava hospitalizado -, para ajudá-la nas despesas do enterro.

"Desejo-lhe, por fim, meu caro Adriano, a si e aos seus amigos, todo o sucesso na defesa do património daquela terra mágica, o Mindelo, berço de grandes poetas, músicos e cantores." (...)



4. Sobre o nosso novo grã-tabanqueiro, escreveu em 24/2/2012 o Manuel Amante da Rosa, também, seu patrício, nosso camarada de armas no TO da Guiné, e embaixador do seu país:

(...) Caro Luís: Não conheço o Adriano de vista mas sim do muito que tem escrito sobre Cabo Verde. Temas que também são prioritários das minhas investigaçõe: Defesa, segurança, energias renováveis, administração.

Mas somos aparentados através do meu irmão que é cunhado dele. Conheço quase todos os irmãos.
Conheci muito bem na Guiné o Tio dele Jorge de Miranda Lima e a Lurdes. O primeiro foi um entusiasta nacionalista, da primeira hora, tendo passado muitos anos preso no Tarrafal. Foi solto somente uns anos depois do Spínola ter estado na Guiné, juntamente com uns outros cinquenta presos políticos guineenses. Se o Capitão Basto Machado estiver vivo talvez possa relatar algo ou indicar algum outro camarada da sua Unidade que o possa fazer. Um forte Abraço, Manuel" (...)





Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > O Paquete Mouzinho. [A foto, tipo postal, parece-me ter sido tirada no Funchal, Madeira; mas foi neste navio que o 1º cabo inf Luís Henriques e outros expedicionários do RI 5, das Caldas da Rainha, rumaram para Cabo Verde, em meados de 1941].

Foto: © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados.



5. Em 7 de outubro p.p., eu já lhe tinha, ao Adriano Lima, enviado um convite para ingressar na Tabanca Grande, dado o seu manifesto interesse pela história dos nossos expedicionários em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial:

(....) "Caro camarada: Tomei a liberdade de reproduzir dois dos seus comentários (e mais alguns dos seus apontamentos publicados no blogue Praia do Bote)...


"Reitero o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande. Juntos podemos fazer força no sentido da salvaguarda do património da Ilha de São Vicente, natural e cultural, incluindo os restos da presença dos militares portugueses entre 1941/45...

"Continuo a contactar militares desse tempo ou suas famílias e a lutar pela preservação dos seus álbuns fotográficos...

"Por sua vez, Cabo Verde é já o 10º país do mundo onde o nosso blogue é mais visto... Estamos com 3500 visitas por dia, em média.

"Disponha das nossas fotos. Veja as fotos da Lia Medina. Um Alfa Bravo. Luís Graça" (...)


6. A resposta do Adriano não se fez esperar, aqui vai com data de 8/10/2012:

(...) "Caro camarada e amigo: Tem toda a liberdade para utilizar os meus textos como entender e será para mim uma honra se for em proveito do blogue Luís Graça & Camaradas. Devo dizer-lhe que tenho frequentado o vosso blogue para recolher dados e imagens que possam ser úteis para os meus textos, os 3 que já escrevi e os que tenciono continuar a escrever para publicar no blogue "Praia de Bote", cujo editor e administrador é o professor Dr. Joaquim Saial, um cabo-verdiano adoptivo. Por isso é que há uns meses pedi a sua autorização para reproduzir uma ou outra foto que pudesse servir os objectivos dos meus textos. 

"Com todo o gosto integrarei a Tabanca Grande e acredite que tanto eu como o Joaquim Saial [, criador e editor do blogue Praia de Bote,] e outros colaboradores do blogue Praia de Bote, como o Valdemar Pereira, vice-cônsul de Portugal em Tours, aposentado e o José Lopes, professor na universidade de Aveiro, os dois últimos cabo-verdianos de origem, temos vindo a terçar armas para a preservação do património da ilha de S. Vicente. Infelizmente, por ignorância ou distorcida visão do que é cultura, algum património tem vindo a ser destruído ou abandonado. E creia que a memória dos expedicionários portugueses em 1941-45 é algo que toca profundamente a minha sensibilidade, pelas razões pessoais que expus num dos textos que já publiquei. Por isso é que foi para mim uma agradável surpresa o vosso blogue. Pena é eu não ter começado há mais tempo, há 20 anos atrás pelo menos, quando tínhamos ainda muitos testemunhos vivos, como o seu pai, o Francisco Lopes, o Shultz Guimarães e outros de Tomar que a lei da vida já não permite estarem connosco. 

"Para ser mais verdadeiro, comecei, sim, mas não continuei, pois o primeiro passo consistiu apenas em actualizar o historial do RI 15 e o seu anuário, o que exigiu apenas uma sucinta narrativa. Imagine, isso foi em 1985, quando os nossos expedicionários estavam ainda em pujança de vida. Mas às vezes não nos damos conta de que o tempo voa e perdemos oportunidades irrepetíveis".(...)

7. Comentário final do editor:

O Adriano está mais que apresentado, e é já de longa data nosso leitor e colaborador. A sua presença entre nós justifica-se, não por ter feito a  guerra colonial em Angola e Moçambique, mas pelo cordão umbilical que  mantemos com Cabo Verde.

A presença histórica dos portugueses na Guiné não pode ser desligada da história passada e recente de Cabo Verde. O Adriano está a ajudar-nos também a conhecer,  preservar e divulgar a passagem dos nossos pais e nossos camaradas pelas terras de Cabo Verde, entre 1941 e 1945. Bastaria esse elo em comum. Mas temos muitos mais.

Ele conhece e aceita as nossas regras de convívio bloguístico. Daqui parta o futuro, consideramo-nos como amigos e camaradas, pelo que o tratamento por tu se impõe com toda a naturalidade... Adriano, sê bem vindo. Já tomámos boa nota do teu novo endereço de email, e já recebemos o teu texto sobre o médico militar Baptista de Sousa, resultante de uma excelente  investigação de arquivo. Será publicado oportunamente.

Em troca deste mimo, insiro aqui o link para mais um vídeo do meu velho (que infelizmente nos deixou este ano em curso) e em que ele fala do quotidiano das tropas expedicionárias  na ilha de São Vicente no seu tempo (1941/43). Foi gravado em 17/10/2009, mas só agora inserido no

You Tube, na nossa conta Nhabijoes. [Clicar aqui para aceder ao vídeo]


Luis Henriques (1920-2012)_Cabo Verde_1941_43_Histórias_2

Vídeo (9' 59''). Lourinhã, Luís Henriques (1920-2012). Ex- 1º cabo inf, mobilizado pelo RI 5 (Caldas da Rainha), expedicionário, que viria a integrar o RI 23 (Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde, 1941/43). Locais por onde andou durante 26 meses: Mindelo, Lazareto, Matiota, São Pedro, Calhau... Histórias do quotidiano da tropa... Video de Luis Graça (, gravado em 17 de outubro de 2009, numa esplanada da Praia da Areia Branca). Inserido no You Tube em 18/11/2012.

Guiné 63/74 - P10750: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (16): 17.º episódio: O mistério das luzinhas do K3

1. Em mensagem do dia 29 de Novembro de 2012, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), enviou-nos mais um episódio da sua campanha no K3, dias que fazem parte dos melhores 40 meses da sua vida, que segundo o nosso camarada se aproxima do fim. Infelizmente, dizemos nós.


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

17º episódio - O mistério das luzinhas do K3

O nosso falhado historiador, referiu-se no 8º episódio, aos adversários como recrutas e no 16.º descreveu o facto de que já sabem destruir os holofotes do K3, o que demonstra que passaram para a especialidade de atiradores contra luzinhas. Perante essa evidência, decidiu apresentar a solução para que se acabasse de vez com esta guerra e assim sendo, não seriam precisos mais soldados, (a maioria retirados às terras que amanhavam para o seu sustento e dos seus familiares) soldados estes que se tornaram mártires ou heróis no cumprimento dum dever que lhes era imposto e que ainda hoje continuam tão desprezados como se "tinha" tivessem ou tenham.

A ideia genial surgira analisados alguns pequenos pormenores mas considerando que com tiros ninguém da sua CCAÇ 1422 sofrera, embora todos tivessem estado expostos em diversos "embrulhanços", mas tais tiros afinal acertavam apenas em holofotes, como se provava.

Daí que a solução proposta fosse a de que se instalassem velas, almentolias, faróis, farolins, lâmpadas de 60W, lamparinas e enfim... toda a panóplia qu'anuncia o Natal e que as colocassem nos matos, considerando que as iluminações perturbavam o IN e só a elas atiravam, como estava provado.

Tão simples quanto isso e eu diria mesmo revolucionário prá época, mas na verdade, passados que estão 47 anos, nem ele nem ninguém, recebeu qualquer resposta, constando ter apenas chegado uma mensagem confidencial, codificada e encriptada, mas que não foi possível descortinar porque o cabo cripto estava hospitalizado devido a um feroz ataque de matacanhas nos pézinhos.

Sabe-se, que indecifrável, dizia apenas: "INTERNE-SE ESTE GAJO NO JÚLIO DE MATOS".
Mas que existiam estranhices em vários procedimentos, lá isso era uma realidade. Deixem que lhes mostre três exemplos:
- Nenhum graduado podia sair para operações no mato, usando divisas ou galões;
- Óculos igualmente proibidos;
- Não usar o próprio nome.

Para o prestigiado e não menos culto escrevinhador, Senhor du Veryssimo, as coisas não ficariam sem serem questionadas e perguntou do porquê de tão insólitas situações, canhestras contra a liberdade de acção de cada qual.

Foi-lhe dito:
1º (divisas e galões). Eles os "mau-maus", têm ordens para atirar primeiro aos mandantes, pois que tropa sem chefia, desorganiza-se e torna-se presa fácil;
2º (óculos) Quem os usa, tem a vista cansada, o que significa que leram e estudaram... portanto ou são furriéis ou oficiais, logo alvos a abater;
3º (nome) Não sendo possível identificar pelo que atrás foi dito, talvez se consiga fazê-lo chamando pelo próprio nome, como por ex: "Oh Fulano!" e conhecedores que este é o Cmdt da Secção de metralhadoras, lixam-no se responder.

Tinha lógica... e considerando que a ordem era para cumprir aconselhei-o a rebaptizar-se e propus-me apadrinhá-lo, o que veio a acontecer. Em vez d'agua benta na tola, vertemos uma garrafa de Johnnie Walker pela goela e foi assim que às 2ªs e 3ªs, passou a ser Gaspar; às 4ªs e 5ªs, Melchior; às 6ªs e Sáb, Baltasar e no dia seguinte por ser dia do solilóquio científico préviamente contratado e já descrito no final do episódio anterior ele pede para ser CHAMEMMEOQUEQUISEREM, mas pelo menos ao Domingo, deixem-me ser o menos infeliz possível.

(continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10736: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (15): 16.º episódio: Alô K3

Guiné 63/74 - P10749: Ser solidário (139): A Tabanca Pequena de Matosinhos dá novo apoio à ONG guineense AD - Acção para o Desenvolvimento


Fonte: AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2012) > 29 de novembro de 2012 > Novo apoio da Tabanca Pequena

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10633: Ser solidário (138): Festa de S. Martinho no Centro Social de Runa, dia 10 de Novembro de 2012 (José Martins)

Guiné 63/74 - P10748: Parabéns a você (503): Herlânder Simões, ex-Fur Mil da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de Guiné 63/74 - P10742: Parabéns a você (502): Carlos Schwarz (Pepito), dirigente da ONG AD e Ernestino Caniço, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)