segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10980: História da CART 1742 (1): Tudo começou aqui... (Alberto Alves / Abel Santos)



1. Começamos hoje a publicar um trabalho trazido até ao Blogue, em mão, pelo nosso tertuliano Abel Santos [foto à direita] (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" -, Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69).

Esta História da CART 1742 foi elaborada por Alberto Alves, um dos Panteras, em Maio de 2007, para ser distribuída pelos camaradas presentes num dos Encontros desta Unidade.



HISTÓRIA DA CART 1742 (1)


(Continua)

Guiné 63/74 - P10979: História da CCAÇ 2679 (60): Ir ou não ir para a vala... eis a questão (Cândido Morais)

1. Importa fazer uma espécie de introdução a mais esta História da CCAÇ 2679, apresentando uma troca de mensagens entre os camarada José Manuel Matos Dinis e Cândido Morais, este muito recentemente entrado para o nosso convívio:

Assim, em 5 de Janeiro dizia Zé Dinis ao Cândido:

Viva Morais,
[...]  Entretanto, lembro-te de que prometeste enviar duas estórias da tua passagem pela heróica 2679.
Cá fico a aguardar para lhes dar a relevância que os heróis merecem.

Um abraço
JD

E, ainda no mesmo dia, a resposta foi:

Pois, meu caro,
Vou escrever isso neste fim de semana.
Uma de cada vez...
[...]
Um abraço
CMorais

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2. O resultado veio no dia 8 de Janeiro

Pois és. Tu sempre foste um sacana dum amigo. Mas aqui vai, em traços largos, para tu poderes fazer o relato segundo os cânones do blog. 
A história é verdadeira e, curiosamente, alguns deles lembram-se dela, mas outros não. 
Já lá vão 40 anitos bem contados...
CMorais

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HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (60)

IR OU NÃO IR PARA A VALA... EIS A QUESTÃO

Por Cândido Morais, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71

Durante toda a minha comissão de serviço, sempre passada na zona leste da Guiné-Bissau, que detinha maioritariamente fronteira com a Guiné Conakry, tive oportunidade de comandar três pelotões da minha Companhia, uma Companhia de Caçadores cujos pelotões operacionais eram compostos por madeirenses, com graduados do Continente.

Obviamente que sempre estive englobado num Pelotão, mas, por ausência dos oficiais e sargentos do 2.º e 4.º Pelotões - fossem eles de férias ou estivessem adoentados -, tive ensejo de contactar mais intensivamente com os dois citados. E foi no comando efectivo do meu Pelotão, o 1.º que se passou o episódio que vou relatar e que ainda hoje me impressiona e marca, pela lealdade dos homens que tive a honra de comandar.

Os outros Pelotões, na altura, estavam todos comandados por alferes, sendo eu portanto, na minha condição de furriel, o menos graduado de todos os comandantes. Ora, na altura, era necessário abrir uma vala na frente norte, constituindo-se essa tarefa de extrema dificuldade, dado o calor que se fazia sentir. Por esse motivo, os homens descansavam nos abrigos e nas casernas, aproveitando todas as sombras e locais mais frescos que pudessem encontrar.

Contudo, o Comandante da Companhia resolveu lembrar-se que seria nessa precisa altura que a vala seria aberta, e por isso mandou chamar-me ao seu gabinete, dando-me ordem para reunir os homens e iniciar os trabalhos. Respeitosamente, disse-lhe que seria mais adequado iniciar os trabalhos noutra altura do dia, aproveitando o tempo mais fresco e menos desmotivador, e lembrei-lhe também que, na respectiva escala, não era ao meu Pelotão que competia tal tarefa, indicando-lhe aquele a quem pertencia essa responsabilidade no momento.

A resposta foi peremptória e também muito irritante:
 - Eu disse que é agora que se vai fazer esse trabalho, e disse que são os seus homens que terão de o fazer!

Na verdade, eu sempre alimentei uma grande admiração e empatia por aqueles homens e a experiência dizia-me que, quando enfrentavamos um trabalho do mesmo género, bastava eu chamá-los e, pegando na picareta ou na pá, exemplificar-lhes o que pretendia. De imediato me retiravam esse instrumento da mão, atirando-se ao trabalho de modo a completá-lo com a maior brevidade possível. E eu sabia disso.

Ora, talvez fosse por isso mesmo e por que o tom do nosso Comandante foi bastante irritante, que resolvi insistir:
- O meu Comandante desculpe, mas será um mau exemplo para os homens prejudicá-los na escala de serviço, ainda para mais dando-se a circunstância de eu ser um furriel e demonstrar, assim, fraca resistência a uma ordem que não se afigura justa. O meu Comandante sabe que eu tenho de lhes transmitir a máxima confiança, para poder contar com eles nas alturas difíceis.

E a resposta, não trouxe qualquer espécie de vacilação:
- O senhor faz porque eu mandei e não admito mais contestação!

Disse-lhe eu então, no mesmo tom e na mesma velocidade:
- Saiba o meu Comandante que não o farei, porque acho injusto o seu posicionamento!
- Pois, se não reunir já os homens para efectuar o trabalho, pode ficar certo que será alvo duma valente "porrada"! - informou-me ele de imediato.
- Pois, saiba o meu Comandante que eu respeito os meus homens acima de tudo, e nunca lhes pregarei tal partida. Fará o favor de mandar proceder disciplinarmente contra mim.

E saí do gabinete, confesso que visivelmente irritado, dirigindo-me para a caserna onde me deitei a descansar, cogitando nas injustiças que podem acontecer por força de um Comando que se afirmava prioritariamente junto dos menos graduados.
Passado cerca de um quarto de hora o Cabo da Secretaria veio ter comigo dizendo que o Comandante queria saber se continuava com a mesma ideia, ao que eu respondi que sim, e logo adormeci, pouco preocupado.

Não sei quanto tempo passou, quando novamente o Cabo escriturário me acordou, dizendo que o nosso Capitão queria que eu lá fosse. Disse-lhe que não valia a pena, a minha resolução era inabalável e ele que procedesse conforme entendesse. E foi aí que o Cabo me disse, algo agitado:
- Mas é que não é por isso, é por causa dos seus homens!
- Dos meus homens? E que têm eles a ver com isso?
- Por favor, venha comigo e já vai ver! - disse-me ele, ostentando certa preocupação.

Fiz-lhe a vontade, e ainda meio ensonado dirigi-me às instalações do Comando do Quartel de Bajocunda - pois foi aí que isto aconteceu -, pensando para comigo o que estaria a acontecer. E não foi preciso andar muito para ver o que se passava: o meu Pelotão estava todo formado em frente ao Comando, armado até aos dentes, com todo o armamento que, habitualmente, levava para o mato, desde dilagramas, HK, morteiro, bazooka... E creio que foi o Cabo Freitas que me dirigiu a pergunta fulcral, depois de eu lhes perguntar o que estavam ali a fazer:
- Disseram-nos que o meu furriel vai levar uma "porrada" por defender o nosso Pelotão. É verdade?
- Parece-me que é, disse eu. Mas não se preocupem, eu saberei defender-me disso e só tomei esta atitude porque a considerei justa.
- Pois então, vai fazer o favor de dizer ao nosso Comandante que nós não sairemos daqui, até sabermos se o nosso furriel vai levar uma "porrada". E diga-lhe também que, se a porrada sair, a caserna do Comando vai levar com tudo isto em cima, e hoje não ficará em pé.
- Oh rapazes, disse eu já bastante preocupado. Eu posso dizer-lhe isso, mas acho que é melhor vocês irem embora, o problema é meu e vou ser eu a resolvê-lo. Por favor não se metam nisto.
- Meu furriel, vá para dentro e diga isso ao nosso Capitão!

E lá fui. Logo que entrei, o Capitão deu-me ordem para mandar dispersar os homens, ao que eu respondi que já o tinha feito, mas eles desobedeceram-me. O Capitão insistiu e eu voltei a dizer-lhe que me achava incapaz de os obrigar a retirar, pelo que sugeria que fosse lá ele, pois certamente lhe obedeceriam melhor.

Mantivemos ali uma acesa troca de argumentos durante fartos minutos, ambos com posições inamovíveis, até que ele cedeu e disse para dizer aos homens para se retirarem, que ele reconsideraria a "porrada". Eu disse-lhe que nunca gostei de mentir ao Pelotão e perguntei-lhe se havia "porrada" ou não havia. Ele reflectiu algum tempo e, depois, disse-me:
- Pode ir e dizer-lhes isso. Tem a minha palavra.

Saí então e dirigi-me aos homens, dizendo-lhes:
- O nosso Capitão garantiu-me que não me atingirá com nenhum castigo e manda-os ir para a caserna.
- Tem a certeza disso, meu furriel?
- Tenho. e agradeço a vossa atitude, que eu não pedi, mas registo.

E foram mesmo para a caserna. Entretanto, não foi o meu Pelotão a fazer o trabalho que nos eras requerido - também já não me lembro qual foi - e, mais tarde, já na ausência do Capitão e quando a Companhia era comandada pelo Alferes do meu Pelotão, fui surpreendido com um significativo louvor. Não com o fundamento deste relato, mas por ouitras ocorrências que lá se encontravam devidamente descritas.

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Finaliza a conversa com esta troca de mensagens:

Lindo menino!
Às vezes precisas de ser espicaçado, mas depois compensas-nos com belos resultados.
Ainda assim, faço dois reparos à descrição: esqueceste-te de citar a fronteira com o Senegal, afinal aquela onde se situava Bajocunda e onde permanecemos mais tempo?

"Os outros Pelotões, na altura, estavam todos comandados por alferes" - referes a seguir. 
Se a acção decorreu entre a deslocação para Bajocunda e Setembro de 70, então não há nada a alterar, mas se foi noutra ocasião posterior, devo dizer-te que o Foxtrot já não estaria nessa situação.

São apenas dois pormenores, porque o que é relevante é o conteúdo da tua descrição.
Com um abraço agradecido
JD
______

Olá meu velho 
Na verdade, eu não posso localizar isso no tempo, e apenas fiquei com a ideia de que os outros eram todos alferes, na altura. De qualquer modo, podes "ajeitar" à tua maneira, de modo a que não ocorra contestação, falando, talvez, em termos gerais. 
Quanto ao que dizes sobre a fronteira, quando me refiro à zona leste, estou convencido de que ela é maioritariamente ligada à Guiné Conakry. Sobre Bajocunda, vou revelar-te a minha inteira ignorância sobre se ainda é com o Senegal ou não. Mas podes alterar o que quiseres. O miolo da história é esse. 
Depois, se quiseres, conto-te a do soldado Vieira e do reforço nocturno. 

Um abraço 
CM


3. Cabe agora um comentário do editor para esclarecer que das duas histórias referidas, sendo a de hoje a segunda, a primeira foi publicada no P10947.

Esperemos que o Cândido não esmoreça e nos continue a brindar, assim como o "velho" Zé Manel Dinis, com histórias para a História da CCAÇ 2679.
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Nota de CV:

Vd. poste anterior da série de 15 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10947: História da CCAÇ 2679 (59): Grande farra no Funchal (José Manuel Matos Dinis / Cândido Morais)

Guiné 63/74 - P10978: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (1): A chegada


1. A nossa amiga Anabela Pires [, foto à esquerda,] (*)  chegou no dia 17, do corrente, a Auroville, no sul da Índia, onde vai viver nos próximos seis meses, até ao início do nosso verão.  Mandou-nos duas mensagens, ontem, que reproduzimos:

(i) Comentário do poste P10930

 (...) Muito obrigada aos grã-tabanqueiros pelas mensagens enviadas. Já estou em Auroville desde 5ª feira (dia 17). [. Vd a fotogaleria do sítio de Auroville]. Isto aqui também é "mato" mas um "mato" com mais recursos e mais organizado. Estou e estarei em fase de adaptação com algumas limitações - o meu mau inglês, o facto de não me poder deslocar sozinha depois do pôr do sol por ser perigoso (esta é a pior de todas e difícil de vir a ser ultrapassada) e a tentativa que estou a fazer de me deslocar de bicicleta - falta de treino para fazer vários quilómetros pois Auroville é bem maior do que eu imaginava. Um abraço grande (...)

(ii) Mensagem pessoal:

(...) Luís, com toda a justiça tens a minha autorização (*) Não me esqueci da minha promessa e tenho um post-it neste PC a dizer "ver Diário da Guiné" mas como estou sempre a adiar ..... OK! Confio que farás a devida triagem mas lamento dar-te a ti esse trabalho. Passou um ano depois que cheguei à Guiné, é justo que não esperes mais. Agora comecei a escrever a minha experiência por aqui e .... bem, como já não quero andar stressada , o mais natural era ir adiando esse trabalho. Um grande abraço para ti e para a Alice. Até breve, Anabela

(*) Resposta da Anabela ao meu mail do dia anterior, que dizia o seguinte:

(...) Minha malandra: primeiro, parabéns, por teres chegado "sã e salva"... Espero que seja mais uma experiência enriquecedora para ti. Segundo, foste-te embora sem me dares "autorização" para publicar no blogue o teu diário de Iemberém, expurgado naturalmente de referências mais intimistas ou pessoais...O que importa são as tuas impressões dos lugares e das gentes... Autorizas-me a que faça uma "edição" do teu diário, só com a parte da tua "leitura sociológica"?  Seria interessante para todo nós e para futuros viajantes... Prometo que faço uma boa "triagem"...Diz-me da tua justiça... Beijinhos meus e da Alice.   (...)

2. Vamos começar hoje a publicar excertos do Diário de Iemberém, da Anabela Pires, chegada a Iemberém, no Cantanhez,  há justamente um ano atrás, a 18 de janeiro de 2012, para trabalhar como voluntária no projeto de ecoturismo da AD - Acção para o Desenvolvimento.

Vamos utilizar dois tipos de parênteses para indicar eventuais alterações ao texto original: (i) parênteses curvos, seguidos de três pontos (...) para assinalar eventuais cortes feitos pelo editor (por ex., referências muito pessoais a terceiros) ; e os (ii)  parênteses retos  [ ] para indicar texto ocasionalmente inserido pelo editor  (subtítulos, links, informações adicionais, etc.). O ficheiro, em formato doc, que temos à nossa disposição,  tem 30 páginas, e vai de 18 de janeiro a 25 de março de 2012. 

3. Diário de Iemberém, por Anabela Pires

18 de Janeiro de 2012  [Chegada a Bissau e Iemberém]

Cheguei ontem a Iemberém (sector de Bedanda ou Cubacuré, região de Tombali, Guiné-Bissau).

[ Foto à esquerda: um avião da TAP, no Aeroporto Internacional de Bissau, 29 de fevereiro de 2008, foto de L.G. ]




São já 7 horas e 8 minutos, os galos já cantam, o dia começa a clarear mas ainda não vejo nada dentro de casa, sem luz. Acordei há já uma hora e é com a lanterna a energia solar, que a Catarina me trouxe da Índia, que ando dum lado para o outro. De vez em quando jogo instintivamente a mão aos interruptores da luz! 

Finalmente embarquei em Lisboa no dia 13, sexta-feira, às 21.30 e cheguei a Bissau às 2 da manhã do dia 14. O voo saiu com atraso de Lisboa pois o avião vinha completamente cheio. Para minha admiração metade do avião era ocupado por não guineenses! Desde um grupo de 30 brasileiros(as) que foram para Gabu fazer 20 dias de voluntariado no hospital, a freiras e padres italianos, havia um pouco de gente de diversas partes do mundo.

À minha espera estava o Gibi, colaborador da AD (Acção para o Desenvolvimento, ONG guineense para onde vim como voluntária) e o Domingos, motorista da AD.

O aeroporto de Bissau tem um aspecto apresentável. Recordo-me de a Dulce me ter contado que uma amiga dela, que aqui veio há uns anos, lhe ter referido que os funcionários escreviam em cima de caixas vazias. Portanto, algumas coisas vão mudando na Guiné-Bissau.

Fui instalada no Centro de Formação de Hotelaria que a AD tem no Bairro de Quelélé, nos arredores de Bissau.

Apesar de já ter visto imagens do Bairro de Quelélé na televisão e no site da AD, não imaginava o que encontrei. O Bairro fica entre o aeroporto (a 8 km da cidade) e a cidade e é um bairro bem popular em que a maioria das casas são as tradicionais palhotas. As ruas são mal definidas e todas em terra batida. A minha chegada a este bairro às 3 da manhã contribuiu para alguma perplexidade! Não o imaginava como é de facto e muito mais me espantou o facto dos mais importantes dirigentes da AD nele viverem. A AD tem todas as suas instalações no Bairro Quelélé e quem a dirige vive também no bairro. Há, portanto, uma grande fusão entre a AD e o Bairro Quelélé.

(Continua)
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Nota do editor:

(*) Vd. alguns postes anteriores da (ou referentes à)  Anabela Pires:

12 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10930: Os nossos seres, saberes e lazeres (50): A caminho de Auroville, a "cidade do amanhecer", no sul da Índia... Mas se pudesse escolher, era já para Iemberém que eu queria voar (Anabela Pires)

(...) Vou voar de hoje a oito dias na companhia aérea dos Emirados Árabes - Lisboa- Dubai - Chennai. Dia 16 ficarei a dormir em Chennai e dia 17 irei então para Auroville num táxi da sua companhia de táxis. Chegarei no mesmo dia em que o ano passado cheguei a Iemberém. E se pudesse escolher era para Iemberém que voaria também este ano. 

 Penso passar a 1ª quinzena a conhecer Auroville e a integrar-me. Depois ou opto por uma participação ativa, ajudando onde for preciso - penso que vou privilegiar as quintas para continuar a aprender a cultivar - ou opto por um projeto de voluntariado. Tudo vai depender dos projetos de voluntariado que houver. Tenho como limitação a língua mas pelo menos espero regressar a falar inglês mais fluentemente. Penso regressar/chegar a Portugal dia 3 de Julho. (...)

5 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9998: Em busca de... (191): Pessoal da 26ª CCmds, camaradas do João Gertrudes Luz, natural de Faro, sold cond comando (Brá e Teixeira Pinto, 1970/71), tragicamente desaparecido em 2007 (Anabela Pires, de regresso à Pátria)

(...) Recorde-se que a Anabela Pires esteve em Iemberém, na Região de Tambali, desde janeiro de 2012, como voluntária da AD, a trabalhar no projeto do ecoturismo do Cantanhez. Na sequência do golpe de estado de 12 de abril, acabou por ir para São Domingos e depois Dacar, no Senegal, por razões de segurança... Esteve lá mais de um mês, na casa de um amiga casada com um diplomata... Regressou há uma semana e picos a Portugal, na esperança de voltar à Guiné, em 2013, depois das "prometidas" (pelos golpistas!) novas eleições presidenciais...

Entretanto, ela tinha-me falado deste seu amigo, o João Gertrudes Luz, nosso camarada, tragicamente desaparecido em 2007, e da "dívida" que ela ainda tinha para com ele... Simbolicamente, com a publicação deste poste, fica saldada essa "dívida" em aberto, embora infelizmente tenhamos poucas notícias, no nosso blogue, da 26ª CCmds... Mas contamos, desde já, com os resultados das boas diligências dos nossos leitores, tabanqueiros e não tabanqueiros... Por certo que teremos resposta ao pedido da Anabela. (...)


21 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9931: Ser solidário (127): Anabela Pires, voluntária da AD, de regresso a casa, depois das suas (des)venturas em Iemberém e em Dakar

(...) Sinto que preciso de fazer o "luto" da minha experiência interrompida na Guiné e por isso não tenho, para já, o meu coração muito aberto a um trabalho como voluntária noutra ONG. Como há muitos anos que desejo aprender a cultivar estou à procura de uma quinta, de preferência de agricultura biológica, que me queira receber em troca de trabalho. Estou a procurar no WWOOF. Pode ser em Portugal ou noutro país desde que a viagem para o mesmo não seja muito cara. Tenho especial interesse em aprender a cultivar legumes e eventualmente árvores de frutos. Gostaria de começar o mais tardar em Outubro uma vez que, pelo menos em Portugal, é o início do ano agrícola. O ideal seria encontrar uma família portuguesa, daquelas que deixou a vida da cidade para ir para o campo. Se a família tiver uma componente de turismo rural tanto melhor pois aí também posso dar "uma mão". Gostaria de ir viver para o campo e ter uma actividade física. (...)


16 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9753: O Nosso Livro de Visitas (132): Não se preocupem se não der notícias - só estamos sem eletricidade porque o gasóleo acabou! (Anabela Pires, Iemberém, Cantanhez)

(,,,) Acabou-se o gasóleo que sustenta as nossas 4 horas de luz por dia e a água no depósito! Portanto, estamos novamente sem luz e sem água nas torneiras (aqui em casa tenho 2 no WC o que é muito bom). Isto significa que é mais difícil recarregar a bateria do computador. A minha amiga francesa que mora a 3 km e tem painel solar leva-me o PC e põe-o a carregar mas tudo isto demora mais tempo e posso estar por isso mais "ausente".

Como alternativa posso comprar uns litros de gasolina e pedir à Satu que ligue o gerador do restaurante para carregar os aparelhos. Mas o dinheiro também se acabou - está em Bissau à espera de transporte para cá chegar. Não sei quando vem o carro, era para ter vindo na 6ª feira, mas com os problemas em Bissau ..... aguardamos. Bem, esta do dinheiro é um bocadinho brincadeira pois a Satu certamente me emprestará dinheiro se eu precisar! (,,,)


12 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9346: Tabanca Grande (317): Anabela Pires, voluntária no projeto Ecoturismo do Cantanhez, nossa tabanqueira nº 536, aqui saudada pelo Hélder Sousa

(...) Esta notícia que o JERO [, José Eduardo Oliveira, amigo da irmã da Anabela, que vive em Alcobaça, ] nos enviou, com todos os ingredientes que a compõem, bem assim como as achegas que vieram dos comentários, tem várias coisas que são notáveis.

A primeira é, obviamente, a decisão de Anabela Pires em ocupar a sua reforma em algo que lhe é útil (também) mas em que dirige os seus conhecimentos, saberes e força de vontade em algo que enriquece quem toma esse tipo de atitudes e que é o de 'ajudar os outros'. Provavelmente o seu nascimento em África pode ter contribuído para o 'apelo' mas acho que o 'contágio' com a Guiné explica-se através do que foi referido sobre os contactos e os conhecimentos. (...)


7 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9328: O Nosso Livro de Visitas (120): Anabela Pires, em vias de ir para Iemberém, no Cantanhez, trabalhar como voluntário na AD - Acção para o Desenvolvimento, procura cartas da região de Tombali e elogia o nosso blogue

(...) Olá, Luís! Desculpe antes demais o tratamento informal mas visitando frequentemente o blogue Luís Graça e camaradas da Guiné, conhecendo a Alice e estando a pensar partir para a Guiné-Bissau em Janeiro [de 2012], onde vou trabalhar com a AD [- Acção para o Desenvolvimento], quase me sinto como membro da Tabanca Grande.

Realmente o Mundo é Pequeno mas a vossa Tabanca... é Grande! Certamente a Alice já lhe contou como fui ter ao blogue e como descobri que o seu fundador é casado com a Alice Carneiro! Bom, tudo começou por eu andar à procura de cartas/mapas da Guiné-Bissau. Situar-me geograficamente é sempre um ponto de partida.  (...)


7 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9325: Ser solidário (119): Anabela Pires: A caminho de Iemberém como voluntária da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento (JERO)

(...) Conheci a Anabela Pires, em Coimbra, no dia do falecimento de sua Mãe.Já lá vão um bom par de meses. A conversa foi de circunstância e a minha presença na cerimónia religiosa, no dia do funeral, deveu-se à minha relação fraterna com a sua irmã Margarida Pires, professora em Alcobaça e camarada de boas causas (Defesa de Património Cultural e outras).

No último Verão soube pela Margarida que a sua irmã Anabela queria fazer serviço voluntário na Guiné. Falei-lhe do nosso Pepito (nickname do Engenheiro Agrícola Carlos Schwarz da Silva), que vive e trabalha em Bissau desde 1975, sendo um dos fundadores da AD - Acção para o Desenvolvimento.  O mundo é pequeno e a Anabela Pires tinha sido colega e amiga da Alice Carneiro, mulher do nosso Editor Luís Graça. (...)





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Guiné 63/74 - P10977: Notas de leitura (451): Guiné-Bissau: A Destruição de um País, por Julião Soares da Silva (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Outubro de 2012:

Queridos amigos,
A proposta do conceituado historiador guineense Julião Soares Sousa é um documento redigido com franqueza e profundo afecto pelos sofrimentos do seu povo, passa em revista as sucessivas crises, tumultos, intentonas e inventonas desde 1974 ao presente.
Desvela contradições e a posse maníaca pelo poder, recorda como as elites se divorciaram dos interesses da maioria e vivem em permanente locupletação.
Enuncia uma série de pontos que ele considera relevantes para levantar o Estado. E pede debate.
Os guineenses que têm este blogue como sala de conversa, parece-me, têm agora ensejo para depor nos termos construtivos que são o apanágio deste guineense que está a fazer carreira científica brilhante entre nós.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau: A destruição de um país (2)

Beja Santos

“A estabilização da Guiné-Bissau passa essencialmente pela desmilitarização da política, pela despartidarização das Forças Armadas e pelo fim das lutas pelo controlo do poder na esfera político-partidária. A resolução da crise nacional depende, única e exclusivamente, da nossa capacidade em assumirmos coletivamente os erros cometidos ao longo de quase 40 anos de independência. Depois de tantas convulsões, da desagregação da sociedade guineense e das ameaças que pairam sobre o seu futuro imediato, parece ter chegado o momento de grandes decisões. A única saída é vencer a fragmentação da nossa sociedade, através de uma discussão livre, com a participação de todos os sectores da vida nacional; a recuperação do país e das instituições do Estado é uma matéria que deve interessar e envolver todos os guineenses”, escreve Julião Soares Sousa nas reflexões finais do seu livro “Guiné-Bissau: A destruição de um país” (edição de autor, Coimbra, 2012, contacto: juliaosousa@hotmail.com).

No texto anterior procedeu-se a uma análise sumária das crises, choques político-ideológicos que invadiram a vida da jovem república da Guiné-Bissau, praticamente desde a sua fundação. Retomamos o fio desta meada exatamente com conflito de 1998-1999, que introduziu uma viragem neste ciclo de autoritarismo e despotismo. Se é facto que Nino Vieira, após o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, introduziu uma modificação radical nas relações entre o partido/Estado e a sociedade, durante cerca de 20 anos as Forças Armadas foram progressivamente saindo da dependência do poder político, misturaram-se com dirigentes políticos no acesso ilícito de bens, foram coniventes em perseguições e assassínios, e por fim no tráfico de armas. Em 1998, a sociedade guineense ainda estava em estado de choque pela passagem ao franco CFA, a questão dos antigos combatentes e os vencimentos das Forças Armadas eram questões graves, eternamente dependentes; acresce a divisão do PAIGC e o confronto entre Nino e Ansumane Mané. Ciente da falta de apoios interno, Nino pede a intervenção do Senegal e da Guiné Conacri: o Senegal intervinha para liquidar os rebeldes do Casamansa e, conforme escreve o autor “A precipitação do Senegal em direção à Guiné foi instigado pelo facto de, logo nas primeiras horas, constar que os rebeldes do MFDC combatiam em Bissau ao lado da Junta Militar; a Guiné Conacri e o regime de Lânsana Conté vieram retribuir o apoio que Nino lhes dera a quando da rebelião militar de Fevereiro de 1986, que se saldou em 50 mortos, Nino e Lânsana tinham um acordo de ajuda reciproca, alicerçado em relações pessoais antigas e interesses privados em Lânsana na Guiné-Bissau. Foi um longo conflito de onze meses com vários acordos de cessar-fogo que, mal assinados eram rasgados".

Ainda na presidência de Nino, em Fevereiro de 1999, Francisco Fadul foi designado primeiro-ministro à frente de um Governo de Unidade e Reconciliação Nacional. Depois de desafios e tensões, a junta militar tomou poder em Maio, Nino renunciou e Malam Bacai Sanhá ascendeu ao cargo de presidente da República interino. O que se seguiu trouxe a revelação que os militares não queriam abandonar o poder, exigiram um pacto de transição, confiscaram poderes constitucionais do presidente da República, ao mesmo tempo que o PAIGC em congresso expulsava uma dezena de personalidades de primeiro plano. Seguiu-se um período em que à sombra do desgaste do PAIGC Kumba Ialá soube impor-se pelo seu popularismo. Este período da presidência de Kumba o autor chama-lhe a IV República. A paz não chegou à Guiné. Ansumane Mané foi assassinado, os militares demitiram Kumba em 2003, nunca mais pararam as tricas entre a presidência da República, o primeiro-ministro e a oposição, isto enquanto a situação económica e financeira tinham resvalado para um novo caos. Os militares voltaram à ribalta, exigiram a criação de um Conselho Nacional de Transição Política. O líder do comité militar, Veríssimo Seabra, foi assassinado em Outubro de 2004, Henrique Rosa foi a personalidade escolhida pelas chefias militares e pela sociedade civil para ocupar o cargo de presidente interino, depois do golpe de Estado que depôs Kumba. Nino irá apresentar-se a eleições em Junho de 2005 que derrotará Kumba na segunda volta. É este o marco da fundação da V República, segundo o autor. A instabilidade não parou: em três anos de mandato Nino nomeou três chefes de Governo. Em 2009, em dois dias consecutivos, são assassinados Tagma Na Waie, CEMGFA, e Nino. Repetiu-se a dança do presidente interino, Carlos Gomes Júnior e Zamora Induta foi nomeado CEMGFA. O PAIGC entregou-se a novas lutas internas dilacerantes entre Carlos Gomes Júnior e Malã Baicai Sanhá. Houve novas querelas na hierarquia do mando, desta feita Malam Sanhá exonerou o Procurador-Geral da República, em condições nada pacíficas.

Julião Soares Sousa explica ao detalhe todas estas convulsões, e assim chegamos às eleições de 18 de Março de 2012, interrompidas por novo golpe de Estado militar que iniciou mais um doloroso período com afastamento da Guiné-Bissau da cena internacional. Refletindo sobre a função presidencial, o autor reflete sobre os equívocos e interpretações erróneas dos presidentes que se excederam no uso do poder e escreve: “O regime presidencialista é o que menos serve os interesses do nosso país. O chefe de Estado deve ser suprainstitucional, ter a função de moderação nos grandes debates nacionais. Os presidentes da República eleitos em lugar de serem presidentes de todos os guineenses são por norma presidentes das clientelas, daqueles grupos que apenas sobrevivem bajulando o poder e com grande capacidade para fomentar intrigas e semear ódios”. A sua observação prossegue pelo estado das finanças públicas e a grande desconfiança da comunidade internacional, fala na necessidade de projetos novos na área do turismo, da agricultura, das pescas e da exploração das riquezas de subsolo. Propõe, em consequência, uma alteração, maioritariamente aceite pelo povo guineense para o desempenho macroeconómico reapetrechamento do aparelho de Estado, a dignificação dos funcionários, a coesão da política educativa, uma nova política externa de credibilidade e de boa governança. O que pressupõe um diagnóstico rigoroso e uma energia para superar contradições entre o interesse público e o mercado liberal. Desde os anos 1980 que a Guiné-Bissau promete implementar reformas económicas e políticas, o resultado é a manutenção do poder típico de regimes totalitários e a deriva neoliberal, temos assim explicada a estagnação do país.

O apelo deste insigne historiador é a favor do poder democrático alicerçado em reformas: redução dos poderes do presidente da República; clarificação dos poderes do Procurador-Geral da República, e dessa recuperação política há que passar para a recuperação das instituições do Estado como entidade promotora de bem-estar. Este apelo é escrito na convicção de que a Guiné-Bissau está no limite entre a clarificação democrática e a penosa e inglória ditadura militar. Apela a um grande debate e lembra as palavras do bispo D. Septímio Ferrazzeta, proferidas na sede de Bissau, em 9 de Agosto de 1998: “O povo da Guiné-Bissau é pacato, sabe sofrer, mas até certo ponto… Quando cada um de nós pergunta as razões desta guerra, a resposta estará nos pontos seguintes: ninguém dá ao poderoso direito de ser arrogante; ninguém dará ao soberbo o direito de ser prepotentes; ninguém dará a quem exercer o poder o direito de receber o que pertence aos outros; ninguém dará o direito ao corrompido de matar o inimigo”.

É nestes tempos incertos que é preciso encontrar novos rumos em prol do resgate definitivo do nosso país, conclui o historiador guineense neste documento apresentado com uma proposta susceptível de levantar o Estado e garantir a paz a todos os guineenses.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10956: Notas de leitura (450): Guiné-Bissau: A Destruição de um País, por Julião Soares da Silva (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10976: Parabéns a você (525): João Graça, músico e médico que, nesta qualidade, já fez voluntariado na Guiné-Bissau.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10960: Parabéns a você (524): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil Op Esp da CCAÇ 2617 (Guiné, 1969/71) e Manuel Mata, ex-1.º Cabo Apont AP do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71)

domingo, 20 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10975: Blogues da nossa blogosfera (61): Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral: mais de 10 mil documentos, integralmente tratados, abertos a partir de hoje ao público




1. Quarenta anos depois da morte de Amílcar Cabral (1924-1973), fica disponível, a partir de hoje, para consulta pública, na Internet, o Arquivo Amílcar Cabral, alojado na plataforma Casa Comum.

Organizada pela Fundação Mário Soares (e contando com diversas parcerias),  a Casa Comum é uma notável iniciativa que reúne para já mais de 6 dezenas de fundos documentais, relevantes para a história e a cultura dos nossos países lusófonos.

Conforme se pode ler no respetivo sítio, "no dia 20 de Janeiro de 2013, 40.º aniversário do assassinato de Amílcar Cabral, é disponibilizado em Casa Comum o Arquivo Amílcar Cabral. Este importante acervo documental foi recuperado e tratado a pedido das autoridades guineenses e com a colaboração da Fundação Amílcar Cabral, de Cabo Verde, e com o especial empenho de Iva Cabral, de Aristides Pereira e de Pedro Pires. Embora incompleto, permanece, ainda assim, um retrato essencial do grande dirigente africano." O arquivo está "integralmente tratado".


(i) Constituído por mais de 10.000 documentos (com cerca de 27.600 páginas), incluindo 1.300 fotografias;

(ii) O âmbito cronológico dos Documentos Amílcar Cabral situa-se entre 1956 e 1976, com excepção de alguns documentos posteriormente incorporados por sua Filha, Iva Cabral, que se referem a actividades profissionais de Cabral e, também, a acontecimentos posteriores à sua morte;

(iii) Essencialmente organizado em Dakar e em Conakry, é constituído por documentação de cariz político, militar e diplomático produzida pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e pelo seu fundador, Amílcar Cabral;

(iv) A documentação de carácter político engloba também os movimentos anti-coloniais africanos (FRAIN, MAC, UGEAN e CONCP) e, de modo menos significativo, os movimentos de libertação de outras ex-colónias portuguesas (MPLA e FRELIMO);

(v)Destacam-se os Manuscritos de Amílcar Cabral (10 % do total da documentação), onde é possível encontrar o rascunho de documentos emblemáticos da luta pela independência, como Unidade e Luta ou O papel da cultura na luta de libertação;

(vi) Deste conjunto constam igualmente algumas das mais importantes tomadas de posição política do PAIGC, designadamente as decisões do I Congresso do PAIGC (Congresso de Cassacá), que ditaram a reorganização do partido e das forças armadas;

(vii) O Arquivo Amílcar Cabral reúne ainda documentação de outras origens, directamente relacionada com os temas nele tratados, designadamente Pedro Pires, Iva Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, Vasco Cabral, Manuel dos Santos e Bruna Polimeni;

(viii) Importa destacar o empenho na salvaguarda da documentação de Amílcar Cabral de sua filha Iva Cabral e ainda de Aristides Pereira e Pedro Pires.



(1950), "Amílcar Cabral e Maria Helena Rodrigues", CasaComum.org, Fundação Mário Soares, Disponível HTTP: http://www.casacomum.org/cc/visualizador?pasta=05221.000.021 (2013-1-21)





Índice (entre parênteses o nº de documentos)


Arquivo Amílcar Cabral (10194)

01. Amílcar Cabral (67)
02. Antecedentes (198)
03. Movimentos Anti-Coloniais (364)
04. PAI/PAIGC (1674)
05.Organização Militar (1259)

Apontamentos e Instruções
Armamento
Comunicações
Comunicados
Conselho de Guerra
E.P./FARP
Guerrilha
Guias de Marcha
Justiça Militar
Mapas e Cartas
Milícia Popular
Missão Cubana
Missões
Mobilização
Palavras de Ordem
Relatórios


Nota do editor:

Último poste da série > 1 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10747: Blogues da nossa blogosfera (60): Memórias de Outros Tempos - A Estadia no HM 241, no Blogue Coisas da Vida (Jorge Teixeira - Portojo)

Guiné 63/74 - P10974: A geração seguinte (1): Aníbal Sousa de Castro, Condutor de Feixes Hertzianos (Sousa de Castro)

1. Mensagem do nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), com data de 18 de Janeiro de 2013 com uma proposta para falarmos dos filhos que como nós pegaram em armas. Aqui fica a sugestão para quem quiser participar na série "A geração seguinte".

Caros amigos,
Entendi que seria uma “série” interessante a publicação no blogue a passagem dos nossos filhos pelo serviço Militar. Assim sendo, envio em anexo uma pequena referência relacionada com a passagem de meu filho na vida militar.
Se acharem conveniente disponham.

Grande abraço a todos camarigos,
Sousa de Castro


MUITOS DOS NOSSOS FILHOS TAMBÉM FORAM À TROPA

A geração seguinte

Estivemos na Guerra do Ultramar até 1974.

Muitos de nós, com família constituída e com filhos, tendo muitos deles cumprido obrigatoriamente o serviço militar, como foi o caso de meu filho nascido a 18JUL1972.

Ingressou na Escola Prática de Transmissões (EPT), situada na Rua 14 de Agosto, Porto.*

Depois de concluir a escola de recrutas transitou para Santa Margarida (Campo Militar de Santa Margarida) onde se especializou em condutor de Feixes Hertzianos.

Cumpriu 11 a 12 meses de serviço militar obrigatório. Foi um militar que não achou muita piada àquela vida, fazia-lhe muita confusão ter mulheres a dar voz de comando, achava muito estranho, como muitas outras situações de que se apercebia e não se relacionavam mesmo nada com a sua personalidade.

(*) - Este quartel foi ocupado até 1993 pelo Regimento de Infantaria do Porto (RIP), antigo Regimento de Infantaria nº 6 (RI6).

 Ver aqui a História da Escola Prática de Transmissões

Sousa de Castro

EPT - Porto, 18JUL1993 - Aníbal Sousa de Castro

Sousa de Castro (Júnior) assinalado com círculo na Escola Prática de TRMS, Porto, JUL1993

Assinatura de todo o Pelotão

Guiné 63/74 - P10973: Agenda cultural (250): Lançamento do livro "Rosa no País das Flores da Luta", de Maria do Céu Mascarenhas, dia 26 de Janeiro de 2013 pelas 16h00 no Auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, Lisboa

1. Mensagem de Maria do Céu Mascarenhas (professora cooperante na Guiné-Bissau no ano lectivo de 1977/78), com data de 19 de Janeiro de 2013, solicitando a divulgação do lançamento do seu livro "Rosa no País das Flores da Luta" a ter lugar no próximo dia 26 de Janeiro, pelas 16h00 no Auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro em Lisboa:


Envio em anexo, com pedido de divulgação, um convite para o lançamento do meu livro Rosa no País das Flores da Luta.

O evento é público, pelo que podem aparecer - e dão-me muito prazer - todas as pessoas que se interessem, quer comprem ou não o livro*.

Abaixo mais algumas informações, comuns para todos os convidados:

"Informo que o meu livro Rosa no País das Flores da Luta será lançado no sábado 26 de Janeiro de 2013 no Auditório da Biblioteca Orlando Ribeiro, em Lisboa, perto do Metro de Telheiras. Por cada exemplar da edição reverterá um euro para a Pediatria do Hospital Simão Mendes, de Bissau. Trata-se de uma mistura de literatura de viagens, memórias e autobiografia, com fulcro na minha experiência como professora cooperante no Liceu de Bissau no ano lectivo 1977/78". 

 Adicionalmente, informo que escrevi este livro aos serões, nos anos de 1998 e 1999, na Alemanha, onde fui docente de Língua, Literatura e Cultura Portuguesas. Depois, aqui em Portugal, conheceu um percurso sinistro mas, finalmente, superados muitos obstáculos, vai ser publicado.

O livro tem uma página com algumas dedicatórias, uma das quais é "A todos os que combateram na guerra colonial" e um capítulo a que chamei "Uma festa de loucos com nome de guerra", o qual se refere a essa guerra e suas sequelas, e tem uma foto, tirada por mim e retirada do meu álbum pessoal, de um abrigo de militares portugueses em Mansabá.

Fico-vos grata pela divulgação do evento e, naturalmente, todos serão bem vindos!

Cordiais saudações
Maria do Céu Mascarenhas

*192 pgs., com fotos a cores, 14,00€
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10957: Agenda cultural (249): No passado dia 15 de Janeiro, foi apresentado o livro Golpe de Mão's, de autoria do nosso camarada José Eduardo Oliveira, na Livraria Municipal Verney, em Oeiras (Miguel Pessoa)

Guiné 63/74 - P10972: O nosso livro de visitas (157): Campelo de Sousa, ex-Radiotelegrafista, de rendição individual, Bafatá e Nova Lamego, 1971/72


Guiné > Zona leste > Nova Lamego > Estação dos Correios

Foto: © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados.


1. Comentário do nosso camarada Campelo de Sousa, ex-Radiotelegrafista em Bafatá e Nova Lamego, deixado no Poste 8342*, no dia 16 de Janeiro de 2013:

Muito obrigado por mais esta oportunidade, por poder visitar este lindo blog, que nas horas de maior fragilidade é sem sombra de duvida o melhor antídoto.

O autor deste blog merece uma estátua, pelo menos no coração de todos aqueles que de uma maneira ou de outra combateram ou não em terras da Guiné. Pena que tão poucos livros tenham sido publicados sobre a Guerra na Guiné! Mas este blog é o melhor, o mais belo,  o mais verdadeiro livro que qualquer homem e mulher devia ler desde a primeira à última pagina!
Mais uma vez, parabéns pela construção deste blog, que tão bem tem relatado a vida dos soldados na guerra da Guiné.

Agora, resta-me pedir ao Sr. Luís Graça, que me diga como devo fazer para enviar algumas fotografias aqui para o blog.

Um abraço de:
Campelo de Sousa
Ex-Radiotelegrafista em
Bafatá e Nova Lamego


2. Comentário de CV:

Caro camarada Campelo,
Muito obrigado por mais este contacto, via comentário, e pelas palavras que diriges ao fundador deste blogue, o camarada Luís Graça. Ele merece-as, mas para que a sua iniciativa se mantenha viva e actuante precisamos de camaradas novos na tertúlia.

Sem mais rodeios, convido-te a subires as escadas e entrares pela porta grande desta caserna virtual, também conhecida por Tabanca Grande, onde cabem todos os camaradas ex-combatentes da Guiné.

Pelo modo como me estou a dirigir a ti, deves calcular que nos tratamos, sem cerimónia, por tu, porque somos exactamente camaradas, que tudo temos em comum enquanto ex-combatentes naquela terra que nos marcou para sempre. Terás tu também que abandonar expressões como, por exemplo, senhor Luís Graça.

Manda uma foto do teu tempo de tropa e outra actual, diz-nos qual foi o teu posto militar, especialidade, data de ida e volta para/da Guiné, unidades a que estiveste adstrito, locais onde cumpriste a tua comissão de serviço, etc. Respostas a algumas destas perguntas já temos, mas é para ficarmos com todos os teus elementos juntos para consultas futuras.

A tua correspondência e fotos devem ser enviadas sempre para a caixa de correio do editor Luís Graça: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.comluisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e para um dos co-editores: Carlos Vinhal e/ou Eduardo Magalhães, cujos endereços encontrarás na lateral da nossa página.

Esperamos o teu próximo contacto com os teus elementos básicos para que possamos fazer a tua apresentação à tertúlia. Poderás também começar a tua colaboração neste blogue enviando desde já os teus textos e fotos.

Até lá deixo-te um abraço em nome dos editores
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 28 DE MAIO DE 2011 > Guiné 63/74 - P8342: O Nosso Livro de Visitas (112): Campelo de Sousa, ex-radiotelegrafista de rendição individual (Bafatá, 1970; Nova Lamego, 1971/72), relembrando a sua passagem por Bambadinca

Vd. último poste da série de 9 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10917: O nosso livro de visitas (156): João Nunes, Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores, ex-fur mil, CCAÇ 4544,/73 (Cafal Balanta e Bolama, 1973/74)

Guiné 63/74 - P10971: Recortes de imprensa (64): Morte de Cabral interessava a todos (Carlos Lopes, em declarações à Agência Lusa, reproduzidas na página da Angop - Angola Press, 19/1/2013)

1.  Excerto da página da Angop - Angência Angola Press, aqui reproduzido com a devida vénia:

19-01-2013 16:52
Guiné-Bissau/Cabo Verde

Morte de Cabral interessava a todos - secretário executivo de Comissão da ONU

Cidade da Praia - A morte de Amílcar Cabral, há 40 anos, interessava a todas as partes envolvidas nas independências das então províncias portuguesas da Guiné e Cabo Verde, disse hoje à agência Lusa um dirigente guineense das Nações Unidas.

O secretário-geral adjunto das Nações Unidas e secretário executivo da Comissão Económica para África (CEA) da ONU, Carlos Lopes, lembrou que são conhecidos os autores materiais do assassínio de Cabral - Inocêncio Kani e outros guerrilheiros do PAIGC -, não interessando analisar pormenorizadamente a sua morte.

"Os autores físicos do assassínio são conhecidos e as várias justificações que podem estar por trás dos autores físicos têm a sua validade. Não vale a pena estarmos a fazer uma análise mais detalhada para saber a quem interessava a morte de Cabral.  "Interessava a todas as conglomerações de interesses que estão por trás da sua morte", sustentou.


Segundo Carlos Lopes [, foto à direita, arquivo das  Nações Unidas, Cabo Verde ], após o assassínio de Cabral, abatido a tiro em Conacri a 20 de Janeiro de 1973 e cujos contornos nunca foram devidamente apurados, todos os dirigentes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) pensavam que tinha morrido apenas "a personagem" e que muitos outros poderiam continuar o trabalho.

"Isso foi, de certa forma, verdade, porque conseguiu-se atingir as independências. Mas já não é verdade porque a profundidade do pensamento de Cabral não foi substituída até hoje. Não se deve deixar que se responsabilize Cabral pelo que se passou (na Guiné-Bissau e em Cabo Verde) após a sua morte", frisou. "São as pessoas que utilizam o seu pensamento da forma que mais lhes interessa: uns para dizer algo negativo e outros para dizer algo positivo. Todas as grandes personagens são sujeitas a um escrutínio muito mais apurado", sustentou.

Questionado pela Lusa sobre se Cabral foi "ingénuo" ao acreditar ser possível a unidade entre Cabo Verde e Guiné-Bissau, Carlos Lopes lembrou o então muito em voga pan-africanismo, cujo conceito foi expressado de várias formas pelo líder do PAIGC.  "No fundo, se acreditarmos no pan-africanismo como utopia mobilizadora, pode-se concluir que valeu a pena, pois levou os dois países à independência. Mas tudo o que se passou após a sua morte é da responsabilidade dos protagonistas pós-Cabral", frisou, aludindo ao corte de relações entre os dois países após o golpe de Estado guineense de 14 de Novembro de 1980. 

No entanto, para Carlos Lopes, há o facto de Cabral ter sido capaz de vislumbrar que a luta de interesses e entre elites dentro do próprio PAIGC ia ser o grande problema depois das independências.  "Era preciso construir o Estado e os princípios da igualdade como os principais motores que poderiam evitar certas contradições. E Cabral, na forma como analisou os factores, previu que seria uma luta muito difícil ou mesmo inglória", concluiu. 
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Nota do editor;

Guiné 63/74 - P10970: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (23): 24.º episódio: Memórias avulsas (5): "Salazar é qui na manda"

1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 16 de Janeiro de 2013, enviou-nos mais uma história para publicar na sua série "Os melhores 40 meses da minha vida".


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA (24)

GUINÉ 65/67 - MEMÓRIAS AVULSAS (5)

"SALAZAR É QUI NA MANDA!"


Guiné > Bissau > s/d > Desfile na Praça do Império 
Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 104". 
Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal.

Foi este o grito que ouvi naquele primeiro Domingo após a minha chegada e durante o desfile, com que cada etnia guineense e nos seus folclóricos fatos tradicionais mostrava a sua fidelidade, dançando e cantando, entre a Praça do Império, lá em cima e o cais do Pidjiguiti, cá em baixo, obviamente.

Tal festarola semanal, apanhou-me de surpresa e em princípio pensei que tivesse sido preparada em minha honra e até agradeci de braços no ar e dedos colados, como se a continência fizesse.

Aterrado fiquei porém, pois que como é que "Salazar é qui na manda?" se ele é o chefe do País Portugal... dos Ultramares... dos Alentejos e tudo?

Perguntei a uma Senhora Professora do Liceu de lá, que me explicou o porquê, e afinal até eu compreendi.

Então é assim:
Em tempos idos, a colónia recebia de quando em vez, uns pretensos inspectores cuja função era a de verificarem como eram tratados os autóctones, pelos mandantes brancos.

As perguntas eram previamente seleccionadas, não fosse a coisa falhar e as respostas dos inquiridos também, só que, tadinhos, nem percebiam como eram enganados sendo sinceros.

1ª questão:
- Que tal a comida?
A resposta honesta era:
- Manga de bianda

A troca do nome do arroz, levava a que fosse interpretado como se enchessem a barriga com carne, dado que nos países ali à volta, franceses como sabemos, era mais ou menos essa a forma de se lhe chamar, "viande" mais concretamente.

2ª questão:
- Como é que vos tratam?
- Ca trata bem, mesmo

E perante isto, a coisa soava bem e sem querer este pobre povo ia, ingenuamente ao que encontro do que se pretendia, daí que para o SIM, lhes ensinaram a dizer "NA" e para o NÃO, "CA".

Por isso aquele desabafo que dá título a esta excelente crónica dum não menos excelente escrevinhador, Senhor de Veríssimo, queria mesmo dizer o contrário do que eu pensei estupidamente.

Grandes e engenhosas mánicas estes Portugueses, sim senhor.

************

Cá o nôsso Furié viera em missão militar altamente confidencial, passar uns dias a Bissau e houvera convidado um amigo de infância, fuzileiro especial agora e já antes e como tal, combatente em Angola e medalhado com a mais alta distinção possível.

Estávamos em Julho de 1966 e serenamente, (mas sem ter nada que ver com esse facto de ser Julho de 66) íamos saboreando o almoço e já três dúzias de ostras haviam sido devoradas, ao mesmo tempo que tomávamos umas bebidas consentâneas com o pitéu, para além das que antes deglutíramos para criar lastro.

Na precisa altura em que ele foi lá dentro ao WC escorrer o caldo às couves, aparecem-me à frente dois garotos bem parecidos, matulões, melhor fardados, engravatados apesar do insuportável calor, com capacete pintado de branco e com as letras maiúsculas PM, lá escarrapachadas.

Tentaram-me sarrazinar o juízo; pedem-me a identificação; implicam com os meus chinelos macaístas de enfiar entre os dedos grande e o do lado; que o bivaque em cima da mesa não estava conforme o regulamento; que os botões da camisa são para estar abotoados; enfim toda uma série de tonterias que lhes mandavam fazer ao pobre soldado que vinha do mato, mato esse que passara ao lado a estes filhos da mãe, e que portanto não conheciam, mas de que já tinham ouvido falar.

Um, o que nada dizia, (se calhar era mudo) tirara o bastão e acariciava-o gulosamente ao mesmo tempo que me olhava com um ar de cão assassino.

Eu veterano, do Vietname viera, não gostei da cena e já me preparava para lhes mostrar a Parabellum 9mm que levava no sovaquinho ensopado de suor, quando eis que surge regressado da mijinha, despenteadíssimo como sempre, com a barba por fazer desde há três anos, camisa para fora do calção e com falta dos dois botões cimeiros, eis que aparece dizia eu, o meu amigo "Cruz de Guerra de 1ª classe" e... ah putos do caraças, empalideceram, ruboresceram e só porque ele lhes disse:
- Paneleiros.... dispersem e já.

Ao que soube mais tarde, que nada lhe perguntei, estes PM's tinham ordens no sentido de não se meterem com a Marinha e particularmente com os fuzos, mas que e se o fizessem teriam de conseguir bater-lhes, ou um castigo severo os esperava.

Partiram em continência e com o jeep a mais de cento e oitenta e três à hora, não sem que antes o meu amigalhaço os tenha mandado para qualquer sítio que não percebi bem mas que estava relacionado com a tia dum deles e não me perguntem se com o gajo do cassetete se com o que me fazia perguntas, pois que foi tudo tão rápido, que nem deu para o identificar.

(continua)

OBS: - A devida vénia ao site dos Especialistas da Base Aérea 12 de onde foi retirada a foto das ostras
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10933: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (22): 23.º episódio: Memórias avulsas (4): "O nosso Furié"

Guiné 63/74 - P10969: Bibliografia de uma guerra (66): A morte de Amílcar Cabral no livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu" (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, BissauCufar e Buruntuma, 1964/66), com data de 19 de Janeiro de 2013, subordinada ao tema execução/assassinato de Amílcar Cabral ocorrida há precisamente 40 anos:

Olá, camarada e amigo Carlos Vinhal,
Na oportunidade da efeméride, submeto-te o texto que, se merecer alojamento no blogue, poderá complementar com a reprodução da narrativa Anatomia do crime político do assassinato de Amílcar Cabral, uma extensa nota de rodapé, iniciada na página 259 do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", que confesso não “saber como colar e cortar”, para a incluir aqui.

Aproveito para explicitar a minha autorização para fazer eco no blogue do que entender desse livro.

Um grande abraço,
Manuel L. Lomba


Nos 40 anos pós assassinato de Amílcar Cabral, o fundador das nacionalidades bissau-guineense e cabo-verdeense, que foi morto a tiro, por compatriotas e seus companheiros de caminho, no logradouro da sua residência em Conakri, na madrugada de 20 de Janeiro de 1973, num contexto de guerra surda intestina.

O acontecimento e suas sequelas deram azo a que o partido-Estado PAIGC aumentasse exponencialmente as suas potencialidades de “máquina de matar” compatriotas, por motivos políticos - cerca de 11 mil, contados de Janeiro de 1963 a Janeiro de 2013, segundo o cálculo de alguns historiadores.

O povo da Guiné, heróico e maravilhoso, tornou-se credor da estima e da amizade da generalidade dos portugueses ex-combatentes, nos 12 anos de duração da guerra “antidescolonialista”, por honra e dever para com o nosso país.
E a História veio presentear-nos com a penosa realidade de que os mesmos barões e as mesmas armas que serviram para expulsar o colonialismo português têm servido para tornar o povo bissau-guineense refém do desassossego e do subdesenvolvimento.

OBS: - Segue-se a digitalização da nota de rodapé Anatomia do crime político do assassinato de Amílcar Cabral que podem ser lida nas páginas 259; 260 e 261 do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu" do nosso camarada Manuel Luís Lomba

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 DE OUTUBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10564: Bibliografia de uma guerra (65): As nossas Enfermeiras Pára-quedistas vão editar um livro, precisando de depoimentos daqueles que com elas tenham trabalhado (Miguel Pessoa)

Guiné 63/74 - P10968: Amílcar Cabral, um agrónomo antes do seu tempo (Carlos Schwarz, Pepito, eng agr) (II e Última Parte)

AMILCAR CABRAL, UM AGRÓNOMO ANTES DO SEU TEMPO (II e última parte)


Por Carlos Schwarz
(engenheiro agrónomo)
Novembro
2012

Publicado originalmente no sítio oficial da AD - Acção para o Desenvolvimento, 11 de janeiro de 2013. Cortesia do autor, que é membro do nosso blogue.

(Continuação) (*) 

O PENSAMENTO AGRONÓMICO DE CABRAL  

A primeira grande e decisiva rutura com os conceitos estabelecidos, dá-a Cabral desde o início, já quando estava a realizar a sua tese no Alentejo. Na altura, vigorava o princípio de que o avanço da agricultura se faria exclusivamente através da introdução de novas técnicas agrícolas. Mais tarde viriam a designar esta opção como “pacote tecnológico”. Cabral, embora reconhecendo a necessidade de se fazer uso de técnicas alternativas, centra no Homem o desafio de toda a evolução agrícola. Basta ver que a agricultura colonial se fazia baseada exclusivamente no trabalho de especialistas das doenças do cafeeiro, de solos, etc., sem que a agricultura fosse vista como um conjunto de componentes em que o ator principal era o agricultor, sujeito ativo e interessado na sua evolução.

Cabral rompe com essa visão e integra o elemento humano, o agricultor, como o elemento determinante da modernização agrícola, desempenhando a introdução de novas técnicas agrícolas como uma resposta aos problemas sentidos pelos agricultores. Nesses tempos, fruto desta visão, culpabilizava-se facilmente os agricultores pelo falhanço da não ou má-utilização dessas técnicas, sem se perceber que o nó do problema residia na não compreensão por parte dos técnicos das reais prioridades dos agricultores. É curioso notar que, hoje em dia, aparecem técnicos na Guiné-Bissau, com uma visão ridiculamente oposta, afirmando que não são necessárias inovações técnicas, devendo-se deixar os agricultores entregues a si próprios, uma vez que eles praticam milenarmente a agricultura e já sabem tudo. 

[Foto à direita: Amílcar Cabral. Foto do arquivo de Clara Schwarz, Lisboa, 2012]

Para Cabral, a modernização da agricultura devia partir do conhecimento dos sistemas agrários e não da sua compartimentação em disciplinas agrícolas, em que se corria o permanente risco de se ter uma visão e ação parcelar dos desafios locais. Cabral, já nessa altura, perfilhava a tese de que se devia ter simultaneamente um conceito global dos desafios da agricultura e o sentido realista de intervir pontualmente, com respostas práticas às necessidades dos agricultores. Por outras palavras, eram estes que deviam determinar a agenda agrícola da pesquisa e vulgarização e não as estratégias da metrópole colonial a definir a mancarra, o algodão, o café, o cacau, etc., como as espécies a incrementar nas diferentes colónias. 

Foi o primeiro a questionar o sistema de agricultura baseado na monocultura, naquela altura o da mancarra, o que representava um perigo para a economia com as flutuações anuais dos preços nos mercados externos, o que colocava o agricultor numa situação de dependência, risco e incerteza. Também a monocultura sujeitava-o à possibilidade de, num mau ano agrícola, não dispor de nenhuma alternativa financeira para fazer frente às suas necessidades alimentares. Acresce que, no caso da mancarra, provocava uma irreversível degradação dos solos, em especial através da sua erosão. Este alerta não só não foi ouvido na altura, como não foi compreendido no pós-independência, estando a Guiné-Bissau a viver hoje o drama do cajueiro. Para Cabral, era preciso “diversificar a produção para não depender só de um produto”.

A importância da implantação de um “sistema de pesquisa-vulgarização” foi assumido desde o início da sua atividade como agrónomo. A transformação do estatuto da Granja de Pessubé em centro de experimentação agrícola, assim como a criação de uma rede de postos dispersos no país para a realização de ensaios de adaptação varietal, evidencia a importância da dinâmica “experimentação-divulgação” na modernização da agricultura guineense. De tal forma que os primeiros resultados dos ensaios realizados, começaram logo a serem difundidos e utilizados.

Os perigos e limites da mecanização agrícola (Cabral refere-se apenas à motorização, não incluindo a tração animal) são exaustivamente abordados num texto de 1953, uma vez que ele é confrontado, logo à sua chegada a Bissau, com uma tese muito em voga, que atribuía o atraso da agricultura guineense ao não uso de tratores agrícolas.

Chama a atenção para vários aspetos, sejam eles de ordem técnica ou socioeconómica, entre os quais o da maioria dos solos agrícolas (encosta e planalto) ser de pequena profundidade útil e “vocacionados” para a erosão, pelo que a mobilização do solo por tratores podia revelar-se prejudicial quando ultrapassa os horizontes aráveis. Existia a ideia errada de que, com a mecanização, se iria aumentar os rendimentos unitários das culturas, quando o máximo que aconteceria, era o aumento da produção. A motorização começa por ser uma questão cultural que exige do agricultor um relacionamento com o motor nos domínios da manutenção, funcionamento correto, planificação, programação, compra de peças sobressalentes, tratoristas, mecânicos, sendo que tudo isso necessita de levar o seu tempo e consolidar-se de forma gradual e lenta. Finalmente, a sustentabilidade financeira do trator prende-se com a sua utilização em culturas comerciais, podendo penalizar a segurança alimentar da unidade familiar de produção e, consequentemente, do país. 

A indiscriminada “recuperação de bolanhas”, feita a eito e sem critério, com o único objetivo de aumentar a superfície cultivada e de ganhar dividendos políticos, foi posta em causa por Cabral, que defendia que o grande desafio que se deparava à agricultura guineense era o do aumento dos rendimentos unitários para ter maiores produções e não o de apostar apenas em aumentar as áreas cultivadas. Na recuperação de bolanhas o caso é ainda mais pertinente, uma vez que são solos com características bem específicas, em que os níveis de salinidade e de acidez são determinantes para inviabilizar os solos ou deles obter rendimentos tão baixos que não justificam o investimento. De nada serve recuperar bolanhas onde se obtenham reduzidas produções de arroz. Curiosamente, esta questão ainda hoje está na ordem do dia, aparecendo decisores e financiadores a investirem em recuperações de bolanhas de produção duvidosa e discutível, politique oblige…

A luta contra a degradação dos solos devido às praticas culturais que favoreciam a sua erosão, a escolha de espécies que acentuavam a diminuição da sua fertilidade, o aumento das queimadas e a redução do período de pousio que limitava a regeneração dos solos mais frágeis, foi outra tónica dominante do pensamento agronómico de Cabral. Procedeu a vários estudos locais e à redação de textos sobre estudos realizados em Fulacunda, insistindo na necessidade da modificação de técnicas culturais que contribuíssem para diminuir os riscos de erosão e para o reforço da sua fertilização, como o do uso da prática da consociação de culturas, o prolongamento do período de pousio e o da preocupação com a cultura de espécies penalizadoras, como a mancarra.

É interessante notar as preocupações ambientais de Cabral, numa época em que elas não existiam e, sobretudo, defendendo um conceito mais avançado, que ainda hoje não é compreendido nem aceite por alguns ecologistas fundamentalistas. Para Cabral, “o Homem também é natureza” e este tanto era percebido como alguém que contribuía para desregular os recursos ambientais, como era visto como o incontornável promotor da sua preservação, em função dos diferentes sistemas de produção das diversas etnias (a que ele chamava “povos”) e a sua atitude perante o uso que cada um fazia dos ecossistemas. Cabral “ambientalista” fazia-se notar sobretudo nas suas reservas à mecanização, à erosão dos solos, às queimadas incontroladas, aos curtos pousios, ao pouco uso da consociação de culturas e à reduzida prática da fertilização natural dos solos. Não considerava o agricultor como um anti-ambientalista que precisasse de ser “educado”, como muitos ainda hoje defendem, mas como o elemento determinante para que, gerindo bem os recursos, os pudesse vir a utilizar em proveito próprio.

Este conjunto de pensamentos que Amílcar Cabral defendia de forma pragmática, mostra até que ponto foi um agrónomo antes do seu tempo, não nos custando a aceitar que, com ele, o pós-independência teria sido muito diferente.

A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA ENQUANTO  PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO

A forma como Cabral abordou a execução do censo agrícola, acaba por ter os mesmos princípios norteadores que o levam a encarar a preparação da luta pela independência. No recenseamento ele foi confrontado com a exiguidade de recursos humanos, a falta de meios logísticos e poucos recursos financeiros, mas isso não o impediu de levar a tarefa por diante, com enorme sucesso, de tal forma que ainda hoje, 60 anos depois, ele é a base de qualquer informação séria de que se necessite. Também a Luta é começada a preparar com reduzidos recursos, mas é igualmente um sucesso, porque assenta na vontade, determinação, convicção e competência daqueles que nela se envolvem. Contrariamente à tendência “habitual”, que ainda hoje persiste, de nos escusarmos na falta de meios para justificar a nossa incapacidade ou desinteresse, Cabral concebeu uma estratégia a partir da valorização dos poucos recursos que existiam, condicionando o ritmo de avanço e de progresso ao seu aumento e ao maior domínio que deles se ia conseguindo. Durante todo o período da Luta, este foi um princípio sagrado de Cabral, consubstanciado na palavra de ordem: “não dar um passo maior que a perna”. 

Cabral optou pelo envolvimento gradual dos camponeses nas ações, por fases, à medida que os protagonistas iam adquirindo competências e saberes, sem nunca ter pressa em acelerar o ritmo de execução e acabar por “descolar” dos militantes rurais. Nunca imprimiu uma dinâmica que queimasse etapas e exigisse dos camponeses, o maior viveiro de combatentes, atividades para as quais ainda não estavam preparados, apostando tudo na sua organização e capacitação. Tal como se passa na agricultura, a Luta começa com ações simples e de resultados imediatos, que entusiasmam e mobilizam os seus participantes, os quais vão compreendendo e apropriando-se dos mecanismos de conceção e decisão, ganhando maturidade organizativa que lhes permite assumir novas responsabilidades.

Tal como se passa no associativismo agrícola, é importante ter grupos de liderança pequenos, dinâmicos e consequentes, de nada valendo pensar que ter direções pletóricas de militantes é uma boa forma de fazer todos participar. Quando o grupo é grande, começa a verificar-se uma demissão de responsabilidades, empurrando para os outros as suas próprias funções e atribuições e acabando por ficar reduzido à sua expressão mínima, com o inconveniente de se tornarem lideres descrentes e inconsequentes. Privilegiando-se a criação descentralizada de vários grupos de ação em função das atividades e em que os lideres irão sendo envolvidos pelo seu engajamento, capacidade de trabalho em grupo, mobilização dos recursos humanos e pragmatismo criativo na condução das ações, a ocupação territorial é mais consequente. 

À partida, um processo de desenvolvimento inovador é sempre minoritário, pelo que, para Cabral se impôs começar pequeno e evoluir gradualmente para um final com grande número de iniciativas simultâneas, coordenadas e reciprocamente potenciadoras. De nada serviria começar a toda a velocidade, gerindo muitas iniciativas ao mesmo tempo para, em pouco tempo e sem a experiência dos quadros locais, se perder o rumo e cair no descrédito. A descentralização dos grupos de ação favoreceu que os melhores militantes sobressaíssem mais rapidamente, que adquirissem maior poder de iniciativa sem ficarem amarrados a uma estrutura centralizada e pesada.

Um processo de desenvolvimento para ser independente devia envolver parceiros estrangeiros o mais diversos possível, pelo que nunca se limitou aos países de leste (China, URSS e os outros do Pacto de Varsóvia), sensibilizando países ocidentais, como a Suécia, e organizações militantes dos EUA, Alemanha, França, etc. Cabral, tal como se opôs à monocultura, apostou forte na diversificação que lhe permitiu garantir a independência de pensamento e ação do PAIGC e ultrapassar sem problemas de maior o conflito sino-soviético, o qual chegou a ser ocasionalmente condicionante. 

Amílcar Cabral [, foto `esquerda, Livro de Leitura de 2ª Classe, do PAIGC], embora tenha dedicado, por razões óbvias, uma particular atenção à frente armada, concebeu a Luta pela Independência como um processo onde todas as componentes da vida humana assumiam uma igual importância: saúde, educação, justiça, comércio, cultura, conhecimentos locais, sensibilização internacional, infraestruturas e a agricultura. A sua formação e prática de agrónomo contribuiu certamente para esta perceção, defendendo desde o princípio que não desejava militares mas sim “militantes armados”, isto é, lembrando a todos que as armas eram apenas um momento circunstancial e que o mais importante era o desenvolvimento integral do país. O futuro veio a mostrar, de forma dramática, que Cabral perdeu esta sua aposta. Se durante a Luta era o Comissário Político que dirigia o comandante militar, já poucos anos depois da independência o militar considerou ser o único responsável pelo sucesso da Luta.

Tanto mais dramáticas são as consequências que se registaram, quanto Cabral sempre se assumiu como uma pessoa profundamente antimilitarista:

(i) desde o início tenta persuadir o poder colonial para que a Independência se faça de forma pacífica, sem recorrer a uma guerra, posição não aceite por Salazar, líder de uma das mais retrógradas ditaduras da Europa;

(ii) ao longo dos 11 anos de guerra reafirmou sempre a sua disponibilidade em negociar, tanto mais que, como ele sempre dizia, “ambas as partes falam a mesma língua, o português, e podem entender-se rapidamente”;

(iii) chegou ao ponto de, durante a Luta, dar ordem rigorosa para que a ponte do Saltinho, no rio Corubal, não fosse destruída, apesar dos benefícios militares que daí poderiam ter advindo para a guerrilha, ao impedir a ligação norte-sul da tropa colonial; fundamentava esta decisão perguntando, “e depois da independência, onde vamos nós buscar fundos para a reconstruir?”

OUTROS TRABALHOS AGRONÓMICOS

Para além dos trabalhos realizados na Guiné-Bissau, Amílcar Cabral exerceu atividade agronómica em Portugal, Angola e Alemanha, a partir de Março de 1955, quando ele e Maria Helena são “expulsos” do país, depois de dois anos e meio de intenso trabalho.

São numerosos os documentos técnicos então produzidos por Amílcar Cabral, referentes àqueles países, tendo por objetivo:

(i) obter recursos financeiros que lhe permitissem viver com dignidade;

(ii) praticar a sua profissão ganhando novos conhecimentos e experiência;

(iii) aguardar a altura de dar o “salto” para o interior da Guiné-Bissau para prosseguir a luta pela independência que começara a organizar logo que, acabado o curso, foi para Bissau

Não nos iremos pronunciar sobre estes estudos e documentos, uma vez que eles não dizem respeito à Guiné-Bissau e serão menos relevantes para a agricultura guineense.

NOTA FINAL

Depois da libertação total da Guiné-Bissau, em 1974, apenas uma pessoa, Luís Cabral, irmão de Amílcar e primeiro Presidente da Republica, vi ter compreendido o seu pensamento agronómico, investindo seriamente na agricultura, lançando numerosos projetos e acompanhando-os permanentemente no terreno com entusiasmo e encorajando os seus técnicos protagonistas. As frequentes visitas ao Centro Orizícola de Contuboel, onde para além da pesquisa se introduziu, pela primeira vez na Guiné-Bissau, a cultura de arroz na época seca, assim como à ENAVI, empresa pública de produção de galinhas e ovos, são disso exemplo.

Depois dele, nenhum outro Presidente se interessou ou se dedicou à promoção e modernização da agricultura guineense.


BIBLIOGRAFIA

- Estudos Agrários de Amílcar Cabral, INEP, 1988

- Juvenal Cabral, Memórias e Reflexões, Instituto da Biblioteca Nacional, Cabo Verde, 2002

- Luís Cabral, Crónica da Libertação, O Jornal, 1984


AGRADECIMENTOS

Para a elaboração destas breves notas recorremos a informações e opiniões de pessoas que nos ajudaram e a quem muito devemos e agradecemos.

Em primeiro lugar os numerosos combatentes da luta pela independência das Matas de Cantanhez, primeira zona libertada, e que nos foram contando, ao longo de anos, a sua vida durante a Luta, das suas tabancas e dirigentes que lá estabeleceram os seus acampamentos de guerrilha.

A Bacar Cassamá, monitor da Granja de Pessubé e antigo combatente de primeira hora, com quem lamento não ter conversado mais tempo.

A José Araújo, dirigente do PAIGC que nos contou, quando estávamos na direção da JAAC (Juventude do Partido) muitos dos pensamentos de Amílcar Cabral, em especial o que ele estava a conceber para o pós-independência. 

A João da Costa, extraordinário intelectual, combatente da independência, que me foi relatando de forma analítica e crítica a história da Luta, dos seus protagonistas e das diferentes frentes, incluindo “a das louras”, o que me permitiu perceber as razões de fundo das sinuosidades do percurso do PAIGC.

A Flora Gomes, cineasta e antigo aluno da Escola Piloto de Conakry, que conviveu de perto com Cabral e que tanto insistiu, apoiou e contribuiu para que elaborássemos estas notas, tendo nós a esperança que elas possam ser úteis para o “filme da sua vida” a que recentemente se abalançou: “Amílcar Cabral”. 

A Clara Schwarz da Silva [, foto à esquerda, S. Martinho do Porto, 21 de agosto de 2010], amiga de primeira hora de Amílcar e Maria Helena, e que procedeu à tradução dos textos “Feux de Brousse et Jachères dans le Cycle Culturel Arachid-Mils” e “À Propôs du Cycle Culturel Arachide-Mils en Guinée Portuguaise” por ele apresentados na Conferência Arachide-Mil, em Bambey, Senegal em 1954 e que gentilmente cedeu as fotografias inéditas em que Amílcar Cabral está presente e que fazem parte da sua coleção pessoal.

Texto: Carlos Schwarz
Novembro de 2012


[ Ver, no sítio do Público, o trabalho de multimédia (7' 35''), da autoria de Joana Bourgard, “Amílcar queria de facto fazer bem àquele povo”, que inclui diversos depoimentos de pessoas que conheceram Cabral, e que ainda estão hoje estão vivas. como a nossa amiga Clara Schwarz, mãe do Pepito e decana do nosso blogue]
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Nota do editor: