quarta-feira, 26 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11765: Convívios (517): Amargos chocolates no último Encontro da 2.ª C.ª/BCAÇ 4512, dia 1 de Junho de 2013, em Fátima (Manuel Luís R. Sousa)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Sousa (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74, actualmente Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma), com data de 16 de Junho de 2013:

Camarada e amigo Carlos Vinhal:
Com os meus cumprimentos, envio-te em anexo um texto, ilustrado com algumas fotografias, alusivo ao encontro dos ex-combatentes da 2.ª Companhia do Batalhão 4512, a que eu pertencia, que esteve sediada em Jumbembém, Farim, Guiné,de 1972 a 1974, que teve lugar no passado dia 1 de Junho em Fátima.
É uma espécie de acta do evento que põe em evidência emoções fortes desse dia, num misto de alegria e alguma tristeza, atentas as circunstâncias ali expressas.
Coisas de ex-combatentes!

Um abraço
Manuel Sousa


“AMARGOS” CHOCOLATES! 
SENTIMENTOS DE EX-COMBATENTES!

Volvido todo este tempo, cerca de quarenta anos depois, após a guerra colonial, é ver os ex-combatentes, ano após ano, a percorrerem quilómetros a partir das mais diversas localidades do país, e mesmo do estrangeiro, a convergirem para um ponto de encontro, ávidos de se encontrarem e confraternizarem com companheiros de armas, movidos por esses sentimentos recíprocos de afectividade que perduram no tempo tantos anos depois.

É aí que recordam, entre efusivos cumprimentos, bom repasto e alguns copos bem bebidos, as peripécias de guerra em que se viram envolvidos em campanha, ao serviço da Pátria.

Recordam também os episódios colaterais à guerra colonial, como, por exemplo, o seu relacionamento com as bajudas, no caso da Guiné, com as crianças e a população nativa em geral e, ainda, dos bons momentos, apesar de tudo, passados entre companheiros de luta.

Em suma, recordam esses instantes que lhes absorveram parte dos verdes anos da juventude, em que, pela irreverência própria da idade, e alguma irracionalidade até, se consideravam imortais, por paradoxal que pareça, mesmo sabendo que a todo o momento uma bala lhes poderia trespassar o corpo ou uma mina poderia explodir debaixo dos pés, fazendo-os desaparecer.

Impelidos por esses laços de amizade que nos unem, vincados, portanto, por essas adversidades em que nos vimos envolvidos, no passado dia 1 de Junho teve lugar o nosso encontro anual, da 2.ª Companhia do Batalhão 4512 que esteve em campanha em Jumbembém, Farim, Guiné, de 1972 a 1974.

Este ano o local escolhido foi Fátima.
Acompanhem-me nas emoções deste dia:

Depois da concentração da maior parte dos ex-combatentes, os do norte, no parque de estacionamento do Jumbo da Maia, segui-se a viagem de autocarro, rumo a Fátima.

Fizémo-nos à estrada, de autocarro, em direção a Fátima. 
(Foto de Eduardo Augusto da Silva)

O encontro com os ex-combatentes do centro e sul do país foi junto à Capelinha das Aparições, sendo um pouco perturbado o silêncio daquele local de oração com os efusivos cumprimentos entre todos pelas saudades acumuladas ao longo do ano, e durante quarenta anos em relação a alguns que pela primeira vez se juntaram a nós.

Ponto de encontro junto à capelinha das aparições em Fátima, onde se nota a presença de alguns ex-combatentes. 
(Foto de Eduardo Augusto da Silva)

Seguiu-se a homilia na Capelinha das Aparições pelas intenções da multidão habitual presente e em especial pelos ex-combatentes já falecidos, quer em relação aos nossos companheiros, quer quanto a outro contingente que combateu em Moçambique.

Depois da missa, retomámos o autocarro em direcção ao restaurante “Truão” situado nos arredores de Fátima.
Entremos pois e vejamos o que o dia nos reservou neste local.

À entrada do restaurante “Truão”. 
(Foto de Eduardo Augusto da Silva)

Uma vez já instalados à mesa, já a petiscar as “entradas”, o nosso anfitrião António Bastos, pediu-nos que nos levantássemos e que ficássemos em silêncio em homenagem aos nossos companheiros falecidos. As emoções ficaram ao rubro, com o derramamento de algumas lágrimas aqui e ali, quando, surpreendentemente, através da instalação sonora do restaurante, ecoaram os acordes do “toque de silêncio” que se prolongaram durante cerca de três minutos.
Seguiu-se em uníssono a reza de um “Pai Nosso” por alma desse nossos companheiros nesse momento solene e de pesar.

Todos em silêncio, durante cerca de três minutos, enquanto se ouviam os acordes do “toque de silêncio” através da instalação sonora do restaurante.
(Foto de Eduardo Augusto da Silva)

- Uma salva de palmas para todos (os falecidos). - Bradou o nosso “Rio Mau” após a oração.

A salva de palmas pedida não se fez esperar e soou por toda a sala.

Ainda tomados pela comoção do momento, retomámos então as “entradas” e as hostes iam ficando animadas, como é habitual nestas alturas, em são convívio, entre a jantarada e uns copos bem bebidos ao longo da tarde.

Momentos do convívio. 
(Foto de Eduardo Augusto da Silva)

No final do dia, ao microfone, o nosso anfitrião António Bastos preparava-se para dar por terminado o convívio, altura em que eu interferi, quebrando o guião que estava estabelecido, para transmitir uma mensagem que era, no fundo, dar-lhes conta, a todos os companheiros, de um texto que enviei aqui para o blogue, onde tinha sido publicado poucos dias antes (P11626)*.

Tomei então a palavra, fiz uma pequena introdução saudando todos os camaradas, especialmente aqueles que, quarenta anos depois, pela primeira vez, se tinham juntado a nós, e saudei também, particularmente, duas pessoas especiais que se encontravam na sala.

Feita esta introdução, fiz a alocução da mesma mensagem, uma espécie de acta que lavrei sobre o convívio do ano anterior, por razões excepcionais que podereis verificar, cujo texto a seguir transcrevo no essencial:

“À MEMÓRIA DE UM COMPANHEIRO EX-COMBATENTE

No dia 26 de Maio de 2012, teve lugar o último encontro de ex-combatentes, relacionado com a minha 2.ª Companhia do Batalhão 4512, cuja comissão decorreu nos anos de 1973 e 1974 em Jumbembém, Farim, na Guiné.

O evento teve lugar na freguesia de Ruivães, Vila Nova de Famalicão. O ponto marcado para a concentração da maior parte do pessoal, para seguir depois todo junto até Ruivães, foi no parque de estacionamento do Jumbo da Maia.

À medida que uns e outros iam chegando, sucediam-se os efusivos cumprimentos entre todos os companheiros de luta, uns pela saudade acumulada durante o último ano, outros, pelo menos um, por ter sido a primeira vez que se juntavam a nós.

Nestas alturas é incontornável falar-se de episódios de guerra, e não só, que nos marcaram durante a nossa comissão em campanha durante dois anos da nossa juventude…

…Depois da concentração, à hora marcada, partimos para Ruivães, onde fomos recebidos pelo anfitrião organizador da festa, na sua própria vivenda, o também ex-combatente, nosso companheiro, José Carvalho de Sousa.

Este nosso companheiro era emigrante na Suíça que, juntamente com a esposa e a filha, D. Goretti e Alzira, respectivamente, ao longo de vários anos em que estes encontros se têm vindo a suceder, viajava expressamente daquele pais para Portugal e vice-versa para se juntar a nós nestes dias.

Era um companheiro alegre e bem disposto que nos brindava e mimava com os chocolates da Suíça que com satisfação nos distribuía, ora no autocarro em viagem para o local previamente estabelecido, ora já no restaurante da festa.

No ano anterior, em 2011, no decorrer do encontro na Mealhada, o nosso amigo José Carvalho de Sousa manifestou o desejo de ser ele o organizador da festa de 2012. E assim foi.

Esperava-nos então em Ruivães um encontro inesquecível:

A recepção aos ex-combatentes foi feita com a contagiante alegria deste nosso anfitrião na sua bonita vivenda que construíra com as suas poupanças de emigrante em local nobre da freguesia de Ruivães, ali junto ao adro da igreja paroquial.

Seguiu-se a homilia habitual naquela igreja em homenagem aos nossos companheiros já falecidos e, à saída, para nossa surpresa, assistimos à exibição da fanfarra dos Bombeiros Voluntários locais.

Entrámos depois no salão paroquial, paredes-meias com a mesma vivenda, onde nos foi fornecido um lauto banquete por uma empresa de restauração, abrilhantado, para mais uma surpresa nossa, por um conjunto musical lá da terra.

Seguiram-se algumas intervenções de camaradas que, invariavelmente, aludiam à excepcional organização da festa por este nosso companheiro, perante a sua esfuziante alegria e alguma emoção que nos contagiou a todos.

Eu próprio intervim, revelando a todos o projecto em curso do meu livro PRECE DE UM COMBATENTE, prestes a ser concluída a sua edição, cujas histórias ali relatadas eram comuns a todos nós.

O nosso amigo anfitrião comeu, falou, dançou, transpirou, emocionou-se, distribuiu os habituais chocolates, ofereceu lembranças, entre as quais umas garrafas de bom vinho.

Enfim, era manifesta a felicidade que lhe ia na alma pela festa que nos proporcionou, totalmente a expensas suas, pois não aceitou um cêntimo que fosse de ninguém.

Terminada a festa, nos dias imediatos, regressou à Suíça com a família de onde tinha vindo propositadamente para organizar a festa, embora com o apoio de dois camaradas, o Bastos e o Carneiro.

Volvidos cerca de dois meses, nos primeiros dias do mês de Agosto, voltávamos a Ruivães em circunstâncias bem diferentes!:

Fomos despedir-nos do nosso inesquecível camarada José Carvalho de Sousa que acabava de ser “mobilizado”, desta vez para integrar o exército de Deus lá no Céu.

Ele tinha-se despedido de nós, de facto, conscientemente ou não, há dois meses atrás quando, rejubilando de alegria, nos recebeu.

Já não tive oportunidade de lhe oferecer um livro, visto que o primeiro que recebi foi precisamente no dia do seu funeral, quando regressei a casa.

Fiz questão de o oferecer mais tarde à família.

A sua figura ficará gravada de forma indelével nas nossas memórias enquanto por cá andarmos.

Até um dia companheiro. Maio de 2013”

Terminada a minha mensagem, dados os seus contornos, espontaneamente atroou pela sala uma longa salva de palmas em homenagem ao nosso amigo José Carvalho de Sousa, entre soluços e algumas lágrimas, mais evidentes nas duas pessoas especiais que, como disse, se encontravam no local. O silêncio caiu novamente na sala no meio de toda a comoção, em contraste com a animação que se sentia naquele final de convívio.

Depois da morte deste nosso companheiro ficou em nós a tristeza de, nos futuros convívios, nunca mais sermos mimados pelos chocolates com que ele sempre nos brindava.
O mesmo era dizer que ele nos tinha deixado para sempre.

Recuando um pouco, ao momento da concentração no princípio do dia, no Jumbo da Maia, eis a minha primeira emoção do dia que me tocou particularmente:
Ali chegavam também, para minha grande surpresa, a esposa e a filha do nosso saudoso companheiro, vindas expressamente da Suiça para se juntarem a nós neste dia, as duas pessoas especiais que estavam na sala a que antes me referi.

Com elas traziam, imaginem, o que me sensibilizou ainda mais, além de admirar a sua coragem em terem vindo, a cestinha dos chocolates com que aquele saudoso camarada sempre nos brindou ano após ano.

Para terminar, e era aqui que eu queria chegar, além de vos apresentar a “acta” do convívio deste ano, a presença deste nosso companheiro, enquanto esteve entre nós, era indissociável dos chocolates com que habitualmente nos brindava.
Porém, a simpática oferta desta guloseima por parte da esposa e da filha este ano não esteve associada à sua presença, para tristeza de todos nós.

Atentas estas circunstâncias, “amargos” chocolates aqueles!

Terminado o convívio, em que foi patente ao longo de todo o dia a alternância de momentos de alegria e de tristeza, a que estive atento e aqui tentei reproduzir, finalmente a fotografia de família para a posteridade e, depois, o regresso a casa.

Foto de família no final do convívio para a posteridade. 
(Foto de Eduardo Augusto da Silva)

Foi um dia de emoções fortes!
Coisas de ex-combatentes!

Junho de 2013
Manuel Sousa
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 25 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11626: In Memoriam (151): À memória do meu companheiro ex-combatente José Carvalho de Sousa do 4.º Pelotão/2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 (Manuel Luís R. Sousa)

Último poste da série de 25 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11761: Convívios (516): Último lembrete para o 3.º Encontro dos Bedandenses, a levar a efeito no dia 29 de Junho de 2013 na Mealhada (António Teixeira)

Guiné 63/74 - P11764: Os nossos médicos (53): Homenagem ao pessoal da saúde do meu BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74 (Juvenal Amado)


Guiné > Zona leste > Setor L5 > Galomaro >  CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74) > Alf mil médico Vieira  Coelho, ou simplesmente dr. Vieira Coelho. [, Presumo que seja o dr. Mário Jorge Silva Vieira Coelho, especialista em ortopedia e traumatologia, com consultório no Porto (LG)].

Guiné > Zona leste > Setor L5 > Galomaro >  CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74) > Da esquerda para a direita: dr. Pereira Coelho mais alferes mil Vasconcelos, Veiga e Parente

Guiné > Zona leste > Setor L5 > Galomaro >  CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74) > Fur mil enf Graça mais os seus ajudantes, Santos e Correia, na enfermaria.

Guiné > Zona leste > Setor L5 > Galomaro >  CCS/BCAÇ 3872 ( Galomaro, 1971/74) > O enfermeiro Catroga, prestando à população civil cuidados de enfermagem comunitária, ou "em ambulatório"

Guiné > Zona leste > Setor L5 > Galomaro >  CCS/BCAÇ 3872 ( Galomaro, 1971/74) > Enfermeiro Catroga e o Padre Nuno

Guiné > Zona leste > Setor L5 > Galomaro >  CCS/BCAÇ 3872 ( Galomaro, 1971/74) > Natal de 1973 > Dr , Narcíso, Alf Farinha, Sardeira, Catroga, Correia e André.

 Guiné > Zona leste > Setor L5 > Galomaro >  CCS/BCAÇ 3872 ( Galomaro, 1971/74) > O alf Vasconcelos e o Médico Vieira Coelho

Guiné > Zona leste > Setor L5 > Galomaro >  CCS/BCAÇ 3872 ( Galomaro, 1971/74) > Pessoal de saúde de prevenção no decorrer de uma operação.

Fotos (e texto): © Juvenal Amado (2013). Todos os direitos reservados.


1. Fotos enviadas pelo Juvenal Amado [, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74; natural de Alcobaça, vive em Fátima]:


Camaradas,  este é um pequeno contributo para o tema [Os nossos médicos] mas também uma homenagem devida por nós todos.

Um abraço
Juvenal Amado


2. Os nossos médicos, por Juvenal Amado


No dia 18 de Dezembro de 1971, o  dr. António Pereira Coelho embarcou no Angra do Heroísmo integrado no Batalhão 3872, rumo à Guiné.

Penso que já estava em Galomaro no início de Fevereiro de 1972 quando o batalhão lá chegou, pois no mesmo dia assistiu um camarada da CCS/BCAÇ 2912 ( batalhão que fomos render), que teve o azar de bater com a cabeça no funda bolanha quando aí mergulhou.

Contava ele  há uns tempos no grupo dedicado a quem passou por Galomaro: 

Caros amigos deste extraordinário Grupo de convívio à distância, hoje decidi contar-vos uma história pessoal:

“Eu não sou muito preciso em datas mas, no dia em que os "periquitos" do BCAÇ. 3872 chegaram a Galomaro ( ao principio da noite ),  nessa tarde eu fui tomar banho à "bolanha" que ficava à saída de Galomaro e à esquerda na estrada para Bafatá, num dos "mergulhos" bati com a cabeça no fundo da referida "bolanha",  fiz uma luxação na cervical e no dia seguinte fui evacuado para o Hospital de Bissau onde permaneci cerca de um mês.

Passei à disponibilidade com uma má postura na cervical e,  passados uns anos tive que ser operado no Hospital Santa Maria,  em Lisboa. Fiquei com uma parcial mas acentuada deficiência física que, ao longo dos anos,  foi aumentando e, há dois anos a esta parte, estou confinado a uma cadeira de rodas e impossibilitado de sair de casa. 

É esta a minha recordação,  viva e diária, de GALOMARO... DESTINO... E PASSAGEM.”

Este camarada é pois um dos que está possivelmente fora das estatísticas oficiais uma vez que passou à disponibilidade isentando o exército da responsabilidade quanto à sua deficiência adquirida em tempo de serviço.

O referido médico esteve sempre presente nas nossas aflições. A mim tratou-me de um violento ataque de paludismo e outros pequenos achaques, que me fizeram estar internado na enfermaria três vezes.

Montou uma sala onde passou a fazer pequena cirurgia e tentou inclusive debelar uma epidemia de furunculose que atacou os soldados de Galomaro entre o 9º  e os 12 meses de comissão. Vi casos de camaradas com vários furúnculos na cova do braço ou por detrás do joelho, nas costas, no pescoço etc. Quem não foi atacado pela maleita gozava com os outros,  dizendo que se tinha ouvido no rádio que vinha mais um carregamento dessa praga para o 3872.

Na verdade era muito doloroso e incapacitante e inicialmente chegaram a ser internados na enfermaria, mas com o propagar do problema acabaram por ficar nos respectivos abrigos. O dr P. Coelho chegou a enviar amostras de pus para ser feita uma vacina para o problema.

Estava sempre disponível para nós bem como o atendimento às populações. Mulheres grávidas, meninos com infecções após a circuncisão, promoveu a vacinação das populações bem como a debelar doenças sexualmente transmíssíveis, como aconteceu após festa da tabanca ter havido o perigo de contágio em larga escala dos seus habitantes. Acabou dessa forma à nascença com possíveis propagações mais alargadas.

Mais tarde foi transferido para o hospital de Bafatá como director e,  juntamente com a sua esposa que também lá se juntou a ele, continuou a cuidar das populações.

Ele também foi o responsável por nós praças termos direito a comprar uma garrafa de uísque por mês e a tê-lo disponível na venda a copo na cantina. Até à data o referido, nem pelos nossos narizes passava e tínhamos que pedir a um furriel se nos dispensava alguma. “Problemas de distribuição”.

Em Galomaro foi substituído pelo dr. Vieira Coelho, que ficou connosco até ao fim da comissão.

Também esse médico deixou amigos e o respeito dos soldados que com ele privaram ou dele necessitaram.

O dr Pereira Coelho e o dr Vieira Coelho evitaram muitos problemas de saúde e actuaram firmemente, evacuando camaradas quando assim era exigido, por essas razões ficaram na memória de todos nós.

Se não estou em erro, no tempo do 3972 o médico sediado na sede do batalhão prestava serviço médico às companhias operacionais, não tendo porem a certeza se o Saltinho não seria assistido por médico de Bambadinca.

Bem hajam por isso.
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11756: Os nossos médicos (52): Com o pessoal do meu batalhão, partiram, em 24/4/70, no T/T Carvalho Araújo, très alf mil médicos: Vitor Veloso, José A. Martins Faria e Eduardo Teixeira de Sousa (António Tavares, ex-fur mil, CCS/ BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72)

terça-feira, 25 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11763: Bom ou mau tempo na bolanha (15): Os verdes anos (Tony Borié)

Décimo quinto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.



Quase todos os antigos combatentes, quando escrevem as suas memórias, mencionam os companheiros que estiveram a seu lado, durante o horroroso conflito armado por que passaram.

É uma verdade, todos, mesmo todos, se fecharmos os olhos por momentos, recordamos o amigo, aquele que não era muito amigo, e até aquele que era mesmo um pequeno inimigo, e fazemos isso, talvez porque naquela altura, estávamos numa idade jovem, eram os “verdes anos”, ainda estávamos a gravar no pensamento tudo o que era novo, as pessoas que nunca tínhamos visto antes, umas que eram parecidas connosco na sua maneira de proceder, outras não, algumas eram instruídas e absorvíamos as suas palavras que para nós era novidade, outras que eram rudes na maneira de se exprimirem, mas com bons sentimentos, enfim, sem nos apercebermos estavamos a frequentar, embora num cenário perigoso, uma boa “escola da vida”.


O Cifra teve um amigo no cenário de guerra, que nunca o mencionou aqui, e também nunca lhe colocou qualquer nome de guerra, e não é agora que lho vai pôr, porque sempre respeitou o seu sofrimento, portanto vai tratá-lo única e simplesmente por “amigo”, era das ilhas, falava com um sotaque diferente, também era primeiro cabo operador cripto, sofria a ausência da sua esposa e um filho que deixou nas ilhas, todos os dias procurava um local um pouco afastado, colocava-se de joelhos, quase sempre com a cara virada para o que julgava ser a ilha de onde era oriundo, murmurava umas lamúrias, que devia ser rezar, chorava, de vez em quando levantava a cara e as mãos e fazia umas preces em voz alta.


Este amigo que trazia a fotografia da esposa e do filho sempre consigo, fez um pequeno quadro onde colocou essa fotografia, e sempre que entrava de serviço, esse quadro era posto na mesa onde decifrávamos as mensagens. De vez em quando o Cifra via-o a falar sozinho, e questionado, dizia que falava com a esposa. Escrevia um aerograma por dia para ela e talvez para a família, um maço de cigarros durava-lhe para três dias, bebia um pouco de vinho, na altura da refeição, não ia para a tabanca, não convivia com mais ninguém, a não ser com o pessoal da cifra ou das transmissões. A sua roupa estava sempre impecável, e dizia que era assim que a sua esposa queria que ele andasse. Durante dois anos nunca criou problemas com ninguém, por outras palavras, vivia o seu mundo de saudade da sua família, sofrendo e criando alguma angústia.

O Cifra, sempre pensou que este amigo, sim, sofreu com a guerra, sofreu tudo o que aquela zona de conflito onde estava estacionado lhe provocava, menos talvez o contacto directo com os guerrilheiros, que os militares de acção tinham, mas tirando essa vertente, este amigo sofreu todas as horas, todos os dias que foram a sua estadia em Mansoa. O seu aspecto, no final da comissão, era de uma pessoa com muito mais idade do que na realidade tinha, criou algumas rugas e já caminhava um pouco curvado.

Dizia que era oriundo das “Flores”, a ilha mais linda dos Açores, e mais perto de outro continente.

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11750: Bom ou mau tempo na bolanha (14): "Tarrafo", um livro, um documento (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11762: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (45): Horror e terror em Cuntima, em novembro de 1976: a revolta de um grupo de antigos milícias, a execução pública de Soarê Seidi e de Abbaro Candé, por ordem do histórico comandante do PAIGC, Quemo Mané (Recordações de Demburri Seidi, tradução e texto de Cherno Baldé)

1. Excerto de mensagem de Cherno Baldé, com data de 16 do corrente:

(...) Juntamente envio dois textos e algumas imagens de Bissau, para publicação no blogue da TG, se assim o entenderem. 

O primeiro texto, sobre os acontecimentos de Cuntima, em Novembro de 1976, é uma promessa antiga mas que só agora foi possível concretizar, o segundo é um 'fait divers' popularizado na época colonial e o resto são imagens sobre a actualidade da cidade de Bissau. (...)

Entretanto, a 21, o Cherno envia-nos outra mensagem, nestes termos:

Junto envio a versão final do texto sobre os acontecimentos de Cuntima, Nov 1976. A última que enviei não contem as alterações do texto que de resto não são significativas.

Um abraço amigo e aceitem os meus agradecimentos pela publicação do meu aniversário [, em 20 de junho,]  que, no fundo, mesmo se não é exacto, sempre nos comove a simpatia vinda de terceiros.


Li o texto sobre os acontecimentos de Cuntima (referentes a novembro de 1976), e fiquei sem fôlego. É mais um caso da violência de Estado, praticada por homens do PAIGC, e mais concretamente por um dos heróis do PAIGC, Quemo Mané, comandante das FARP, dois anos depois da "transferência" de soberania das mãos da antiga potência colonizadora para os novos senhores de Bissau.

No Arquivo Amílcar Cabral, no sítio Casa Comum, projeto desenvolvido pela Fundação Mário Soares,  há uma foto de Quemo Mané, disponível aqui, para além de outros documentos com referência a ele  É uma foto expressiva (e só não a  reproduzo diretamente, porque  tenho de pedir autorização para o fazer). Quemo Mané  tinha fama se ser um homem temperamental e violento. É um histórico da guerrilha: ele e Arafan Mané, são considerados os que "dispararam os primeiros tiros contra um quartel do exército colonial", em 1963, na região de Quínara.

O texto de denúncia,  escrito e enviado pelo Cherno Baldé (e há  muito prometido!), preocupou-me: por um lado, é inegável o seu interesse para o nosso blogue, e para a nossa memória comum, dos portugueses e dos guineenses que fizeram a guerra colonial; por outro, o Cherno Baldé vive em Bissau, tem mulher e quatro filhos e eu não tenho a certeza de que ele fica seguro, dando a cara... Foram estas minhas apreensões que  lhe transmiti, logo no dia 19:

(...)  É impressionante o teu relato dos trágicos acontecimentos de Cuntima, em novembro de 1976. Diz-me se o comandante do PAIGC ainda está vivo, bem como outros intervenientes que identificas E se podemos publicar o poste, em teu nome, na tua série, com toda a segurança... Presumo que tenhas as várias versões dos acontecimentos, de um lado e do outro... Onde estavas nessa época ? Em Bafatá ?...

Ainda há tempo alguém de Contuboel, que fez tropa no nosso lado,  me contou coisas (horríveis) do tempo, pós independência, em Bambadinca: ele assistiu, por exemplo, ao julgamento popular e à execução de um cipaio do meu tempo... Falou-me também da morte horrorosa e indigna de um régulo da região (...) . É importante falar deste período negro da história da Guiné-Bissau, com depoimento sérios, autênticos, honestos como o teu... Vejo que os fulas estão a perder o medo de falar. Ainda é preciso muita coragem.... Tenho grande admiração por ti e por todas vítimas do terror e da violência de Estado (...)


Ao que ele me respondeu, da seguinte maneira, corajosa e desassombrada:

(...) O Quemo Mané já não se encontra entre os vivos, pois de outro modo teríamos ouvido falar dele no decurso dos acontecimentos que sacudiram a Guine ultimamente. Comparados com o Quemo Mané, o terror da guerrilha, todas as figuras que protagonizaram acontecimentos militares na Guiné, depois de Nino Vieira -  os Ansumanes, os Tagmes, os Verissimos, os Zamoras e Antónios - são figuras de segundo ou terceiro plano, no contexto da guerra de libertação.

Mas é claro que sempre haverá riscos porque o partido existe sempre, os amigos e companheiros, a família, etc.,  o que não deve constituir motivo suficiente para impedir a publicação de acontecimentos que foram públicos e do conhecimento geral da população. Exceptuando o Quemo, no texto não aparecem nomes reais, e no texto que te envio agora, acrescentei um parágrafo nas notas finais, onde aparecem os nomes dos protagonistas. Procedam conforme acharem melhor, por mim tanto faz, eu já vivi o suficiente para não continuar fechado no medo de possíveis represálias. As versões podem variar mas o acontecimento é factual e como tal é relevante.

Acontece que o trabalho de escrever e publicar está sempre acompanhado de riscos de erros e de interpretação. Depois da publicação do poste sobre o Capitão Carvalho,  recebi uma mensagem no facebook de uma ex-esposa que, ao mesmo tempo, queria encorajar-me e refutar factos que eu vi com os meus olhos, mesmo se era criança. Afinal o homem ainda está bem vivo e em Portugal.


Um abraço amigo, 
Cherno Baldé. (...)

A minha resposta só poderia ser esta:

Grande Cherno, mereces todo o nosso apoio, apreço e solidariedade. O nosso blogue é muito conhecido e considerado. 
Um abração, amigo e irmão. 
Luís.

Estamos então em condições de publicar hoje, num único poste, o notável e inédito documento que ele nos pede para publicar no nosso blogue (que também é dele, e de todos os guineenses, homens e mulheres de boa vontade, que querem construir connosco as pontes do futuro sem destruir os vestígios dos bons e dos maus momentos do nosso passado comum).  Embora extenso, é importante que se publique na íntegra, num só poste, para manter a unidade de leitura. Naturalmente, estamos abertos à publicação de outros testemunhos, de outras fontes, que contestem, ou corrijam, ou complementem, ou melhorem esta versão que contem as recordações de Demburri Seidi quando jovem, em Cuntima, novembro de 1976.



Guiné > Colina do Norte >  Mapa 1/50 mil (1956) > Posição relativa de Cuntima, junto à fronteira com o Senegal.

Info: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)


2. Cuntima, Novembro de 1976 > A revolta das milícias

Texto © Cherno Baldé (2013)

Introdução

A tradição africana diz que um lobo sem dentes, na floresta, é um lobo morto. Tudo o que acontece na vida tem as suas causas e consequências porque a ponta inicial de um fio leva, necessariamente, à sua ponta final. Se o caminho recto leva o viajante esclarecido ao objetivo almejado, os erros e a perfídia de uns podem conduzir a perdição inglória d’outros.

No prefácio do seu livro sobre Gêngis Khan e a invasão Mongol do séc. XIII, o romancista soviético V. G. Yan diz que “a obrigação moral de um cidadão que testemunhou acontecimentos extraordinários é de os transmitir e revelar aos demais cidadãos de forma escrita ou então se não está instruído na arte de registar palavras épicas num papel com a ponta deslizante de uma pena, então que transmita as suas recordações a quem o possa fazer, para que sejam impressas em superfícies consistentes à intenção das gerações vindouras. E quem não procede assim é semelhante ao homem avarento que colocou toda a sua riqueza num alforge e a enterrou num lugar desértico, quando as mãos frias da morte já estavam a acariciar-lhe a face”.

Ultrapassado o período de medo, de dúvidas e de incerteza quanto a pertinência de o fazer, é este o sentimento que nos anima ao tentarmos transmitir os acontecimentos de Cuntima, na certeza de que os caros leitores compreenderão as nossas limitações pessoais e humanas para revelar em toda a sua dimensão esta tragédia humana, mesmo se, no contexto global, não representa um caso de excepcional grandeza.


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Cuntima > Aspeto geral da povoação ao tempo da CART 3331 (1970/72). Na sua maioria a população era de etnia Fula, de religião muçulmana; havia uma pequena minoria Mandinga. Foto do álbum do ex-1º cabo Vitor Silva.

Foto: © Vitor Silva (2008). Todos os direitos reservados.


Contextualização

Em finais de 1976, a Guiné-Bissau, por um lado, ainda está a saborear os festejos do 2º aniversário da sua independência, conquistada a ferro e fogo pelo PAIGC, na sequência de uma guerra sangrenta que parecia não ter fim (1), com graves consequências humanas e sócio-económicas dos dois lados da barricada. 

Mas, por outro lado, ainda não se recompôs do choque psicológico causado pela mudança abrupta da situação que conduziu o país de uma guerra brutal e sem quartel, para uma paz podre e sem garantias de protecção das partes saídas de um confronto fatricída, pese embora a existência de um acordo de paz fictício que, se serviu para salvar a face, a honra e a dignidade de Portugal, como país colonizador, trará tudo menos a desejada paz entre os Guineenses.

No nordeste, em chão fula, ainda o espírito das populações procurava compreender e medir a dimensão real do drama ligado aos últimos acontecimentos e da reviravolta da situação onde, de repente, os antigos turras assumiam, para certas pessoas, a insuportável figura de heróis nacionais, de grandes patriotas e de combatentes de liberdade da pátria, reclamando para si o mais que discutível estatuto de melhores filhos da nação e, por essa via, privar aos outros os mais elementares direitos de liberdade, de justiça e de cidadania.

Neste panorama ainda incerto de mudanças e de inversão de valores, os antigos soldados nativos do exército colonial em geral e as ex-milícias em particular faziam figura de infortunados. Desarmados pelos seus antigos patrões, privados dos seus direitos, feridos no seu orgulho de homens e de combatentes e sem os meios de sustento a que estavam habituados, pareciam náufragos espalhados na vastidão do oceano das suas (des)ilusões. Perseguidos e desorientados, uma boa parte tinha sido obrigada a refugiar-se no Senegal, na região fronteiriça do Casamança, de onde muitos seriam presos e recambiados de novo para a Guiné no quadro de um acordo que permitia, ao vizinho do norte, liderado pelo pragmático presidente L. S. Senghor, grande poeta e humanista, participar na disputadíssima predação dos recursos haliêuticos nacionais.

Para o partido vencedor, que tivera o tempo necessário para pensar e delinear a sua linha de acção, o objectivo a atingir estava bem definido: Marcar posição, assentar alicerces, alargar e consolidar as estruturas do novo poder saído da luta. E era importante fazê-lo, sobretudo, nas zonas onde as populações não tinham aderido à luta, através de medidas de choque para marcar os espírítos e, desta forma, evitar o surgimento de contestações organizadas. 

O relato que se segue,  faz parte desta estratégia de terror e de intimidação deliberada a populações indefesas e executada com mestria e sangue frio, bem à maneira da guerrilha que assumiu o poder na Guiné em 1974, com o beneplácito do exército português. Muitos dirão que não, cada um suas razões, cada um seus argumentos.

Em Cuntima, pequeno aglomerado fronteiriço que tinha sobrevivido à guerra de fronteiras de 1973, nada fazia prever que nos dias seguintes seria o palco de acontecimentos que iriam marcar o período pós-colonial e perturbar a pacata vida da aldeia e suas gentes. A região vivia a despedida da época das chuvas e nas áreas alagadas de cultura de arroz, as premissas de uma boa colheita que se avizinhava já se faziam sentir pelo cheiro aromático do arroz novo e pela cor amarelada dos campos a perder de vista nas extensas planícies de terras baixas, rodeadas de verdes cinturas de palmeiras dendém. Com o fim da guerra as aldeias tinham sido repovoadas, todas as bolanhas tinham sido recuperadas e parecia não haver limites para criar a prosperidade tão almejada e recuperar o tempo perdido. Mas, nem todos pensavam assim, helás!

Dia 14 de Novembro - o ataque ao quartel

Ódio, coragem e perfídia

Na noite do dia 14 de Novembro de 1976, um grupo constituido maioritariamente por ex-milicias, cegos de raiva e de ódio, mas muito mal equipados, cujo material bélico se resumia em catanas de uso doméstico, facas de mato e algumas granadas, apostando no efeito surpresa, decide atacar e neutralizar o destacamento militar do PAIGC colocado em Cuntima.

Ao entrarem na aldeia, uma parte dirige-se para a casa de Sissão Seidi, uma decisão que será fatal a este pacífico aldeão que era colega de alguns dos elementos do grupo. Põem-no ao corrente das suas intenções, isto é,  atacar e neutralizar os homens do PAIGC e, de seguida, com as armas que iriam recuperar, liquidar todos os que, na aldeia e seus arredores, colaboravam com o partido.

Quando o grupo deixa a casa para dirigir-se ao seu alvo, o Sissão vai a casa do Comité da tabanca e, em segredo, conta-lhe tudo o que tinha ouvido dos assaltantes. O Comité apercebe-se de toda a gravidade da situação e sabe que não pode perder tempo, rapidamente, decide passar para o outro lado da fronteira, situada mesmo ao lado, levando consigo a sua família, mas antes de partir informa o incrédulo Sissão de que só voltaria em caso de derrota dos assaltantes.

O grupo aproximou-se em silêncio, encoberto pela escuridão da noite, consegue eliminar a sentinela e penetrar no interior do quartel, apanhando de surpresa os seus ocupantes. Os guerrilheiros do PAIGC reagem bem à investida, refeitos da surpresa inicial e melhor armados, obrigam os assaltantes a bater em retirada de uma forma dispersa e desorganizada. De acordo com a testemunha, o ataque teria durado cerca de 3 horas o que, manifestamente, parece exagerado, tendo em conta a disparidade das forças em presença.

O dia começa a amanhecer e os primeiros raios de sol começam a pintar de amarelo o horizonte claro do fim da época chuvosa. E, nas horas que se seguiram à retirada, alguns elementos do grupo assaltante entram, de novo, na morança de um antigo colega, também ex-militar, impelidos talvez pelo desejo de implicar o maior número de pessoas e convencem-no, desavergonhadamente, que já tinham feito o essencial do serviço, mas que, sem munições suficientes, não conseguiram limpar todos, pelo que, se ele tivesse uma catana bem afiada e um pouco de coragem,  podia ir dar o golpe de misericórdia aos feridos que estavam amontoados no quartel. Sem pensar duas vezes e empurrado pelo ódio que nutria pelos novos senhores, o homem não hesitou e com uma catana nas mãos correu para o local indicado, sem saber que se tratava de uma armadilha para o perder.

Quando chega ao quartel, encontra os guerrilheiros a porta da entrada, armados até aos dentes. O que fazer? Recuar? Tarde demais, ele precisa pensar rapidamente numa saida. Com as akas [, Kalashnikov,] apontadas, perguntam-lhe o que procurava ali aquela hora. O homem responde que vinha a procura de ajuda para socorrer um filho que tinha sido mordido por um cão vadio. Parece uma saída razoável, mas não será. Os guerrilheiros estão apressados, pedem a sua identificação e informam-lhe que no momento não tinham tempo para o ajudar, mas que voltasse mais tarde, juntamente com o seu filho.

No rescaldo do ataque das milicias

Medo e horror em Cuntima

Na manhã do dia 15 de Novembro, os guerrilheiros mandam convocar o Comité da Tabanca para o por ao corrente do que sucedera durante a madrugada. O enviado encontra a morança vazia de gente. Mas, na tarde do mesmo dia, informado sobre o falhanço do ataque e a debandada das milícias, conforme prometera, o Comité regressa com a sua família a Cuntima. O Comandante do destacamento dá-lhe ordem de prisão imediata, por comportamento suspeito. Inquirido sobre as razões que tinham motivado a sua fuga precipitada na noite anterior, confessa que tinha sido informado pelo seu vizinho, Sissão Seidi, mas que, lamentavelmente, não pudera prevenir as autoridades porque os assaltantes eram numerosos e bem armados. Disse ainda que fora obrigado a fugir devido a ameaça de morte que pendia sobre a sua cabeça e que regressara após a confirmação de que o perigo tinha sido afastado. Ordenaram-lhe para os conduzir a casa do tal Sissão Seidi, onde os dois seriam presos e amarrados à moda do PAIGC, isto é,  mãos para trás e o peito bombeado à frente, estilo peito de pomba.

Na manhã do dia 16 de Novembro chegou em Cuntima o responsável militar da zona norte, o famigerado Comandante Quemo Mané, que assume a direcção das operações e manda convocar toda a população de Cuntima e seus arredores. Querem o máximo de gente e para se certificar que todos estavam presentes, guerrilheiros armados passam revista em todas as casas e sitios passíveis de albergar um ser vivo, querem todos, mulheres, velhos e crianças.

Os dois prisioneiros são colocados no meio da assembleia reunida. O Homem de cabelos grisalhos, toda a gente o conhecia, era o Comité da tabanca, espécie de cipaio reformulado na nova nomenclatura, colaborador activo da ordem instituida, mesmo sendo de etnia fula, ele estava ciente de que a sua prisão não preocupava ninguém para além do círculo restrito da sua familia, mas o caso do Sissão incomodava os espiritos dos pacatos camponeses de Cuntima. 

Que diabo o teria arrastado para as malhas do partido, ele que sempre fora um camponês simples, honesto e trabalhador, distante das lides políticas e das intrigas que esta engendra nos homens mais ambiciosos. Não servira na tropa colonial apesar dos benesses, do ronco e da fama que o estatuto augurava no meio social fula. Toda a sua família estava presente, a mãe, duas esposas, os filhos e o irmão mais velho. Com voz trémula, explicou tintim por tintim como os assaltantes o tinham acordado durante a noite, os seus intentos e as ameaças proferidas. O Comité da aldeia também repetiu a sua versão e as palavras trocadas com Sissão naquela fatídica noite,  bem como os motivos que o impediram de alertar os homens do destacamento.

Não foi preciso ouvir mais e, se calhar nem era preciso, o Comandante levantou-se e, com a frieza de quem estava habituado a tomar decisões graves, disse que,  pelos comprovados actos de rebeldia e traição à Pátria, os dois homens deviam ser fuzilados e imediatamente.

Ao ouvir as palavras “pá mata!” da boca do Chefe militar, a assistência ficou literalmente congelada. A rapidez e a dureza da decisão tinham surpreendido tudo e todos, mas quem conhecia o Comandante Quemo Mané durante a luta, sabia que com ele tudo era simples, rápido e demolidor como o turbilhão de vento em dia de tornado tropical. A semelhança da grande maioria dos Comandantes do PAIGC, apesar de rotundo analfabeto (2), subira na hierarquia militar por mérito próprio, distinguindo-se pela sua coragem, brutalidade e violência extremas, uma inteligência fora do comum e pelos sucessos acumulados nas operações que dirigia.

Deram ordens para que todos fossem presenciar o acto no centro da aldeia, mas antes de os levarem, um grupo de homens do partido dirige-se ao local onde estava o Comandante a fim de interceder a favor do Comité da aldeia, provavelmente, pela lealdade e serviços prestados no passado. Assim, no local da execução da sentença, só compareceu o assustado Sissão, diante de uma dupla de homens armados com metralhadoras de fitas metálicas, contendo perto de uma centena de balas. O caso não era para menos.

Tudo estava a postos, os dois guerrilheiros com as armas apontadas, o Sissão à frente,  com as mãos amarradas e olhos fixos nos seus carrascos, a população em pé, envolta em silêncio e no céu o Deus dos homens a registar mais uma crueldade humana. O Comandante da zona que ficara retido pelos colegas do partido para deliberar sobre a sorte do Comité, ao entrar no recinto, grita para os dois executantes:
- O que estão a espera, acabem com eleǃ

Os tiros sucedem-se ensurdecedores, o corpo de Sissão é projectado para trás com o impacto das balas das metralhadoras que continuaram a cuspir fogo até transformar o corpo num autêntico manto de retalhos. A poeira e o cheiro acre da pólvora invadiram o recinto. De seguida, um dos guerrilheiros pega no corpo inerte do defunto Sissão, tendo-o arrastado até ao pé da família, diz a estes:
- Aqui está o corpo do vosso cão, agora podem levá-lo, se quiserem!

Da multidão, ninguém proferiu uma única palavra, ninguém teve a coragem de sussurar a mais pequena lamentação, os guerrilheiros atentos ao menor gesto de indignação. Perguntaram se havia alguém que estivesse descontente com o que acabara de assistir. Como ninguém respondia, foram autorizados a dispersar-se no preciso momento em que se ouviam os gritos de desespero vindos da concessão de Sissão Seidi, cujos familiares a muito custo tinham conseguido conter a dor pela perda do seu ente querido.

Na tarde do mesmo dia, o Comissário Político da zona convocou todas as mulheres cujos maridos estavam ausentes, refugiados algures no Senegal, e que, eventualmente, podiam ter feito parte do grupo assaltante e intimou-os a deixar Cuntima para se juntarem aos seus maridos, pois que não tolerariam mais a presença de pessoas que viviam na aldeia, mas, ao mesmo tempo, passavam informações para fora. Mais que intimação,  era uma ordem que ninguém podia ignorar. As mulheres partiram levando consigo os filhos para um destino incerto.

Na manhã do dia 17 de Novembro, foram buscar o homem da catana para as averiguações que se impunham. O homem foi amarrado ao estilo peito de pomba e a população foi novamente convocada para mais um julgamento público. Perguntaram-lhe porque não voltara com o filho conforme tinham combinado, o homem confessou que na verdade ele tinha sido enganado pelos assaltantes e que a sua verdadeira intenção era liguidar os homens do PAIGC aos quais ele odiava com todas as suas forças e que,  mesmo depois de morto,  continuaria a odiar. De certa forma, a coragem deste homem desesperado tinha compensado a humilhação pública da população de Cuntima.

Levaram o homem ao mesmo sitio do dia anterior, a cabeça e o rosto encapuchados com um chapéu (sumbia) e para o executar, estavam novamente os homens das metralhadoras. O homem pediu para ver o seu filho mais novo. Retiraram-lhe o chapéu que cobria o seu rosto e,  durante alguns segundos,  olhou para o filho, depois pediu para que o cobrissem de novo e em voz alta, para que todos pudessem ouvir, disse que estava pronto para morrer. 

Acto continuo, o comandante deu ordens de fogo e a cena repetiu-se de novo. Como ninguém reagia e olhando para a multidão silenciosa, o Comandante aproveitou para informar a população aterrorizada de Cuntima que para ele e para o seu glorioso partido não custava nada e não constituía qualquer problema riscar a aldeia e a sua população rebelde do mapa da Guiné-Bissau. Com esta mensagem curta e clara,  tinham dado por encerrado o capitulo da revolta das milícias em Cuntima, mostrando assim a determinação do partido em impor a sua ordem.

A operação de procura dos assaltantes continuou nos dias que se seguiram. Durante as buscas, encontraram um dos assaltantes, gravemente ferido, a quem entregaram aos pais e que viria a sucumbir, poucas horas depois, dos seus ferimentos e, provavelmente, por falta de assistência mêdica. Como dizem os árabes, quem não consegue defender, com as armas, o seu ponto d’água, perdê-lo-á; quem não ataca o inimigo com todas as suas forças, sofrerá a humilhação da derrota com todas as suas amargas consequências.

Actos desesperados e suicídas,  como este, tiveram lugar em outros lugares do território, no período que se seguiu à proclamação da independência, sobretudo junto à linha da fronteira com o Senegal. Actos isolados e mal preparados que estavam condenados ao fracasso e cuja autoria, sistematicamente e sem uma explicação plausível, era atribuída à FLING, fazendo reviver velhos fantasmas do passado, aumentar o grau de crispação das novas autoridades e, em consequência, multiplicar a violência de represálias cegas, perseguições arbitrárias e execuções sumárias que marcaram a vida desta jovem nação que, para muitos, constituía um modelo exemplar de uma luta popular bem sucedida, contra o colonialismo em África e no mundo.

Bissau, 12 de Junho de 2013

Recordações de Demburri Seidi (3), tradução e texto de Cherno Baldé.
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Notas de C.B.:

(1) Na minha infância, povoada pelo espectro da guerra e das fugas constantes de um lado para o outro, quantas vezes não perguntara, a mim mesmo, se a minha vida estaria condenada a ser vivida assim no meio de uma guerra sem fim. Pela experiência dos mais velhos, sabiamos que no passado nem sempre tinha sido assim e sofriamos a bem sofrer,  com a guerra que nos minava a vida pelo medo de morrer em cada minuto, vivendo no improviso e na incerteza do momento, em abrigos imundos, quentes e húmdos, onde todos os ruídos eram ampliados ao máximo, rastreados e identificados a tempo, não fossem silvos de uma granada de obus a caminho ou de uma bala perdida na noite escura.

Para afugentar uma aldeia inteira, qual manada de bovinos na planície, bastava ouvir gritar na noite: “Aí estão eles!”. Não era preciso perguntar, toda a gente sabia quem eram “eles”. Uma vez, um dos meus tios ouviu o grito durante a noite e fugiu nu, como tinha nascido, e foi a mulher que lhe cobriu as vergonhas, no caminho, com o seu pano de cima.

(2) A propósito conta-se uma pitoresca estória sobre o Comandante, que aconteceu no período pós-independência. No término de uma aula rotineira, um Professor dá aos seus alunos um TPC (trabalho para casa) em que pede para citar exemplos de alguns animais voadores. Em casa, o filho pediu o apoio do Comandante, seu pai, para a conclusão do mesmo.
─ Isto é muito fácil ─ diz o pai ─ ponha os nomes de peixe e lagarto.

Na escola, durante a correção dos trabalhos o Professor pergunta ao seu aluno:
─ Quem te ajudou a fazer o trabalho?
─ O meu pai ─   responde o aluno, com uma ponta de orgulho.
─ O teu pai é um burro ao quadrado ─ diz o Prof.

A criança não diz nada e em casa conta tudo ao pai. No dia seguinte, o Comandante vai a escola armado com uma pistola e pergunta ao Professor:
─ O peixe voa ou não voa?
─ Voa ─ responde o Professor ─ mas debaixo d’água.

O Comandante pergunta de novo:
─ O lagarto voa ou não voa?
 ─ Voa ─ responde o pobre professor, com a voz a tremer ─ mas debaixo d’água.
─ Afinal quem é o burro ao quadrado? O burro ao quadrado é o professor que não sabe o que diz e a quem o diz ─ responde este.

Devagarinho, o Comandante coloca a pistola na cintura das calças e diz ao professor:
─ Agora continua a dar as tuas aulas e não te metas com antigos combatentes se não queres levar com uma bala na tua cabeça de burro ao quadrado ─  acrescentou antes de sair.

Um provérbio árabe diz: "Não menospreze uma criança frágil, pode ser que seja filho de um leão".

(3) Em 1974, Demburri Seidi (nome fictício) fez parte de um grupo de jovens que fugiu para juntar-se às fileiras do PAIGC, no mato. Após a independência, fez preparação militar em Canchungo, mas rapidamente chega a conclusão que, com o fim da guerra e sem instrução escolar, as suas hipóteses de subir na hierarquia militar eram praticamente nulas.

 Aconselhado por pessoas amigas, decide trocar a farda pelos estudos, colecciona alguns livros e escolhe a localidade de Cuntima, que dista a poucas horas da aldeia dos pais, para a sua formação escolar. E, sem querer, vai testemunhar os trágicos acontecimentos que se seguiram ao ataque de Cuntima (4) que acabamos de descrever e que marcaram a sua vida e sobre os quais, ainda hoje, não consegue falar sem que os seus olhos se encham de lágrimas.

(4) Comandante do destacamento de Cuntima - Capitão Madiu Kim;
Responsável da segurança – Sana Queita;
Comité da tabanca  ─ Samba Seidi;
Fuzilados ─ Soarê Seidi =Sissão Seidi; e Abbaro Candé = Homem da catana.
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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11730: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (44): A mulher mandinga e o soldado português

Guiné 63/74 - P11761: Convívios (516): Último lembrete para o 3.º Encontro dos Bedandenses, a levar a efeito no dia 29 de Junho de 2013 na Mealhada (António Teixeira)

1. Em mensagem do dia 24 de Junho de 2013 o nosso camarada António Teixeira (ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 - Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 - Bedanda; 1971/73) mandou-nos para publicação o último lembrete para o 3.º Encontro dos Bedandenses das CCAÇ 4 e 6, a realizar já no próximo sábado dia 29 de Junho de 2013 na Mealhada:


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Notas do editor

(*) Vd. poste de 20 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11285: Convívios (502): 3.º Encontro dos Bedandenses, dia 29 de Junho de 2013 na Mealhada (António Teixeira)

Último poste da série de 22 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11747: Convívios (515): Fotos do Encontro de Confraternização da CCAÇ 763, dia 16 de Junho, em Arruda/Alverca (Mário Fitas)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11760: Em busca de... (226): Manuel Monteiro (Lelo), mais conhecido pelo "Matosinhos" no BAC1 (João Vaz)

1. Mensagem do nosso camarada João Vaz, ex-1.º Cabo Apontador de obus do BAC 1, CamecondeBubaJumbembem e Cuntima, 1968/70, com data de 5 de Junho de 2013:

Amigo Carlos Vinhal
Fiquei muito contente ao pertencer à TABANCA GRANDE(*) e muito obrigado pela tua ajuda pois as palavras TABANCA e GUINÉ nunca mais as esqueceremos fazem parte da nossa antiga vida militar.

Já vi no computador que vocês vão fazer mais um convívio no dia 8 de junho e só tenho pena de não estar convosco, mas como já adivinhaste eu estou em França há quase 43 anos, que os faço no dia 29 de Agosto próximo e como vou todos os anos a passar férias a Portugal em Agosto, não posso ir em junho.

Como vês estou em França, em PAU perto de LURDES, a quarenta quilómetros, se algum dia vieres a LURDES espero que entres em conctato.

Estou reformado, tenho três filhos (um rapaz e duas raparigas) e quatro netos (duas meninas e dois meninos). Como já disse vou todos os meses de Agosto a Portugal e este ano vou para Sesimbra até ao dia 15.

A minha vila em Portugal é o TEIXOSO, perto da Covilhã, e já que falo da Covilhã, quero-te dizer que uma vez nos anos 70-80 encontrei lá um jogador de futebol a quem chamavam o LELO, mas o nome dele era Manuel Monteiro e esteve comigo na BAC 1 - GUINÉ.
Ele é de MATOSINHOS porque nós na BAC1 só o tratávamos por "MATOSINHOS", e como tu és de LEÇA -MATOSINHOS, talvez o conheças ou tenhas ouvido falar dele.
Eu gostava muito de o encontrar de novo pois perdi o conctato com ele.

Espero que a festa do 8 de Junho corra bem e vê lá se encontras alguém que esteve na BAC nos anos 1968-1970.

Bebei lá um copo à saúde de todos os ex-combatentes da Guiné.
Eu da minha parte também vou pensar em vós e beber um copo à alegria da vossa festa.

Um abraço para todos e todas presentes e para ti CARLOS e tua família muita saúde e alegria e um GRANDE ABRAÇO
JOÃO VAZ


2. Comentário de CV:

Caro camarada João
Muito obrigado pelas tuas referências ao nosso Convívio do passado dia 8 de Junho. Já passou e correu muito bem, felizmente.

Com respeito ao teu camarada Manuel Monteiro, Lelo no futebol, Matosinhos no BAC1, não estou a ver quem seja. Tenho uma listagem de cerca de 200 nomes de ex-combatentes da Guiné do nosso concelho, mas dela não faz parte ninguém com esse nome.
Em tempos idos houve um Monteiro que fez parte da equipa de futebol do Leça F.C., que julgo não ter jogado em nenhum outro clube, porque ao contrário de hoje, tinha emprego para sobreviver. Se não estou enganado, faleceu há já alguns anos.
Terá o Lelo jogado no Leça ou no Leixões antes de ter ido para a Guiné?
Como o futebol não me tira o sono, esqueço com facilidade resultados e/ou personalidades que fazem parte daquele mundo muito particular. Peço desculpa por não te poder ajudar.
O teu camarada, a ser vivo, terá hoje perto de 67 anos.
Fica aqui este poste na esperança de que apareça alguém que nos dê uma pista para o poderes contactar.

Esperando que as recentes e graves inundações na região de Lurdes não te tenha afectado, deixo-te um fraterno abraço e votos de boa saúde.
Carlos Vinhal
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 24 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11619: Tabanca Grande (398): João Vaz, ex-1.º Cabo Apontador de obus do BAC 1 (Guiné, 1968/70)

Último poste da série de 20 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11738: Em busca de... (225): Os "Zorbas", camaradas da minha CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68) (Joaquim F. Alves, ex-fur mil, residente em Olival, Vila Nova de Gaia)

Guiné 63/74 - P11759: Blogpoesia (348): Pedir desculpa é pouco (Ernesto Duarte)

1. Mensagem do nosso camarada Ernesto Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67) com data de 29 de Maio de 2013: 

Camarada Carlos Vinhal
Tudo de Bom para ti e para os teus.
Assim como tudo de bom para todo pessoal do blogue.


PEDIR DESCULPA É POUCO

Eu sei
Não sou nada não sou ninguém
Mas também sei a força das palavras
Palavras que hoje perdem muito da sua força, porque essa força dilui-se muito na quantidade
Palavras que ganham força quando ditas no momento oportuno
Palavras que igualmente ganham força quando ditas no momento errado
Eu no meu canto esqueci-me do dia 8 de Junho, data que para mim nos últimos anos tem sido vivida de uma maneira diferente
Os meus ossos doem muito
Tenho os meus netos, parcialmente para olhar
Deixei de dar as voltas que costumava dar, principalmente pelo meu amado Marrocos
Desde sempre pensei que essa data seria, como será, como calhar
Esqueci-me totalmente do grito à vida, que vai ser o convívio da Tabanca
Pedir desculpa é pouco
Reconheço que meti a pata na poça, e que aquelas palavras loucas ou não, saíram no momento menos próprio, uma infelicidade
Mas também sei que vozes de burro não chegam ao céu
Sei que o convívio será muito grande
Sei que ficará como mais um episódio grande, dos muitos que estes fulanos efetuaram com uma farda a servir de pele e que têm continuado a efetuar já sem farda mas com o mesmo espírito de amizade.

Um grande abraço para ti
Um grande abraço para todo o pessoal da Tabanca
Um grande abraço para todo o pessoal do blogue
Ernesto Duarte
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11755: Blogpoesia (347): A outra guerra; Meus cabelos brancos; Serenatas do sul de África; Lembrando serões (J. L. Mendes Gomes)

Guiné 63/74 - P11758: (Ex)citações (222): Recado para uma mesa redonda de Coimbra e para a História... Guileje e as suas lições (Manuel Lomba)

1. Mensagem, de 20 de junho do corrente, do Manuel Luís Lomba,  (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) e autor de "Guerra da Guiné: A batalha de Cufar Nalu" (Terras de Faria Lda: Faria, Barcelos, 2012, 341 pp.):


Prezado amigo Carlos Vinhal. Submeto-te este texto para o blogue, na expectativa de merecer interesse. Um abraço, M.L.Lomba


A crise dos 3 G, na Guiné, conotada como o princípio do fim do Ultramar português, fez 40 anos em 25 de Maio p.p. e a informação sobre a mesa redonda de Coimbra, veiculada pelo blogue (*), impeliu-me a tecer um comentário. (**)

Se as crónicas e os cronistas baterem certo, Amílcar Cabral riscou com o seu punho a Operação Maimuna, de montar "cerco a Guileje", em Janeiro de 1968, porque, segundo escreveu o seu irmão Luís, a bandeira portuguesa içada em Ponte Balana irritava-o especialmente, mas meteu-a na gaveta, porque a guarnição portuguesa estava dotada de obuses, o PAIGC ainda aguardava as remessas dos "órgãos de Estaline" e dos morteiros 120, o comando português só abandonará a posição de Ponte Balana, em Janeiro de 1969 e só lhe oferecerá a "área libertada" de Madina de Boé e Beli, abandonadas em Fevereiro de 1969.

Amílcar Cabral interpretou a reunião do general Spínola com o PR do Senegal Leopold Shengor e o seu contexto como um forte indício do enfraquecimento das resistências dos portugueses e, em Julho de 1972, confidenciou a Pedro Pires, seu braço direito do Planeamento, a proximidade do fornecimento pela Rússia dos mísseis Strela, enquanto o então estudante de Economia em Moscovo, Osvaldo Lopes da Silva, tirava o tirocínio do seu lançamento, mas que o líder só envolverá na preparação das acções sobre Guileje, em Setembro desse ano.

Salvo erro ou omissão, nessa altura, o dr. Osvaldo Lopes da Silva dependia de dois superiores orgânicos - Nino Vieira e Pedro Pires. Em recente intervenção no Forum Amílcar Cabral, na cidade da Praia, este afirmou que os guineenses o haviam segregado em Conacri e impedido de velar o cadáver de Cabral, que após o funeral regressou ao Sul e só então começou a preparar com Nino Vieira as acções sobre Guileje.

O dr. Osvaldo Lopes da Silva e os que partilharem a sua narrativa, não poderão escamotear a verdade dos factos acontecimentais e as "mesas redondas" como a de Coimbra não conseguirão encobrir a sua conjuntura.

O planeamento das acções do PAIGC sobre Guileje foi supervisionado pelo capitão cubano Raul Diaz. O Sul da Guiné não se assemelhava à Sierra Maestra e a sua eficiência ficou comprovada pelo facto de os seus 200 militares defensores e os 400 civis a terem abandonado e percorrido calmamente cerca de 20 km de picada na mata, sem serem molestados, e as suas forças de assalto só terem penetrado no objectivo 3 dias após o seu abandono, com Nino Vieira metido num blindado!

O PAIGC não trabalhara a hipótese da retirada dos defensores, contara com o "general época das chuvas" para isolar Guileje de qualquer amparo de Bissau - e falhou, porque o elevado teor de humidade, atingido pelo ar, limitava a eficácia dos mísseis terra-ar Strela. O PAIGC correspondeu à temeridade do comandante do COP 5, da transumância de Guileje para Gadamael com a temeridade da transferência do seu esforço de combate, avançando-o no terreno, daquele para este. 

Mas a maior falha terá pertencido, por omissão, ao comando português.A partir da altura em que o Batalhão de Paraquedistas 12, comandado pelo tenente-coronel Araújo e Sá, obrigava o PAIGC a desamparar a loja de Gadamael e os pilav Lemos Ferreira, António Martins Matos e outros lhe desancavam as bases da retaguarda na República da Guiné com os seus Fiat, não explorou o sucesso propiciado pelo "general época das chuvas", permitido que o PAIGC retirasse o armamento pesado e as suas pesadas munições ao lombo dos seus combatentes a chafurdar, heroicamente, por aquele pantanal.
Será ou não verdade que o PAIGC mandou fuzilar o seu comandante da zona de Guileje, responsabilizando-o pelo insucesso?

Ao tomar a decisão de abandonar Guileje, o major Coutinho e Lima sabia que comprava a sua tormenta; mas também sabia que teria um julgamento judicial, do qual jamais sairia condenado à morte.
E, para concluir, não foi a panóplia do armamento sofisticado da Rússia, etc, os efectivos de internacionalistas cubanos e cabo-verdianos, a entrada sem resistência em Guileje, os bombardeamentos massivos sobre os 3 G que trouxeram a coesão e conduziram o PAIGC ao sucesso, cansado da guerra, desgastado pelas contradições internas e pela acção "Por uma Guiné Melhor"; foram aqueles que, ao longo de anos lhe infernizaram a vida e moveram uma guerra sem quartel, aos seus militares, aderentes e simpatizantes - os capitães portugueses e o seu Movimento das Forças Armadas, quando este se perfilhou como seu filho ideológico sob a sigla MFA, nascido na Guiné e extensivo aos outros teatros da guerra ultramarina à Metrópole.

O dr. Osvaldo Lopes da Silva, sem embargo a sua qualidade de herói da guerra da Guiné e da independência de Cabo Verde, bem como a generalidade dos participantes dessa, de outras mesas redondas e conferências, estarão para nós, os que fomos também povo em armas pelo Ultramar, como os "velhos do Restelo", mas com 500 anos de atraso. Sob o ponto de vista racional, Portugal, porque país pequeno, com tão poucos e tão pobres portugueses, começou a perder a guerra da sua expansão no início da mesma, logo a partir de 1415. Sob o ponto de vista romântico, os portugueses tão poucos, tão bisonhos e tão pobres, ousaram e fizeram obra pelos quatro cantos do mundo. Venha o diabo que escolha...

Quando Amílcar Cabral fundou o seu exército libertador, os portugueses já andavam há 500 anos pela Guiné, Angola, Moçambique, etc, de armas na mão, desfraldando uma bandeira e envergando uma farda e jamais a História nos poderá considerar espantalhos...

Manuel Luís Lomba

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11735: Recortes de imprensa (66): Osvaldo Lopes da Silva, então comandante do PAIGC, e um dos principais responsáveis pela Op Amílcar Cabral, sustenta, na mesa-redonda, em Coimbra, no passado dia 23/5/2013, a versão do cerco total ao quartel de Guileje e afirma que as forças sitiantes dispunham de um dispositivo (do qual teria sido utilizado menos de 10%), com condições para actuar durante um mês (AngopPress)

(**) Último poste da série > 24 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11622: (Ex)citações (221): O comandante do Comando de Agrupamento nº 2957, cor inf Hélio Felgas, o cérebro da Op Lança Afiada (8-19 de março de 1969) (Fernando Gouveia)

Guiné 63/74 - P11757: Notas de leitura (494): "Adormecer de um Sonho" por Carlos-Edmilson M. Vieira (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Março de 2013:

Queridos amigos,
Aqui temos um relato de um guineense sobre o desencadear do conflito político-militar de 1998-1999.
Diplomata, poeta, declamador e músico, o autor privilegia o poético, nota-se que tem um grande orgulho sobre as qualidades amáveis do seu povo, faminto de paz.
Este seu “Adormecer de um sonho” (que título tão lindo!) é uma obra bem intencionada, tem aqui belos parágrafos, se bem que no seu conjunto haja uma arquitetura fruste e soluções nitidamente precipitadas que fazem do seu balanço uma obra bem elaborada mas sem direção.

Um abraço do
Mário


Adormecer de um sonho

Beja Santos

Em “Adormecer de um sonho”, por Carlos-Edmilson Marques Vieira, edição da União Nacional dos Escritores e Artistas de S. Tomé e Príncipe, 2010, voltamos ao palco do conflito político-militar de 1998-1999, numa toada por vezes onírica, por vezes com o recurso a imagens violentas, trata-se de uma narrativa de condenação de uma guerra que veio dividir gentes tão sofredoras de outra guerra que também dividiu famílias, crescendo assim o número de ferimentos que estão para sarar. Bissau é a cidade de Ôdocomé, as fações militares são os corpos dos caçadores de cabeças, o país chama-se Lambdò-Land.

Estamos nas primícias do conflito, “O dia tinha começado a gatinhar na brisa, embalado pelo vento fresco e manso que soprava, balançando as copas das árvores, varrendo das estradas a areia vermelha do Sahara, que o vento quente da noite anterior tinha espalhado sobre a cidade. E também sobre as folhas das árvores e as paredes das casas que já lá vão quase três décadas não foram pintadas”. Convém não esquecer que o autor é também poeta e músico.

Há uma corrente elétrica, uma agitação palpável no número inusitado de militares que circulam armados, há também civis armados até aos dentes, não se entende esta tensão guardada em silêncio, mas estamos em África. Inúmeros rumores circulam nos mercados, algo irá acontecer, os militares estão descontentes, a tensão, para que não restem dúvidas, atravessa as forças armadas, como alerta o narrador: “De um lado estavam os jovens oficiais que clamavam pela modernização e redefinição da missão dos caçadores de cabeças, adaptada à nova realidade do mundo moderno, do outro, os mais antigos que continuavam a advogar o usufruto das regalias e normas herdadas da Luta de Libertação Nacional”. Foi um dia de vai e vem de pessoas e conciliábulos, uma febre sem causa aparente, depois veio a noite e trouxe um sossego provisório, fica-se a saber que os jovens quadros, no seu convívio, protestam contra as mordomias, a clique pegajosa que ciranda em torno do senhor absoluto que promete progressos enquanto inexoravelmente afunda as esperanças do país. O senhor absoluto é o Buntyó que agora anda às turras com o seu velho camarada das trincheiras, Carfala, houve para ali uma briga muito feia, o Buntyó suspendera Carfala do cargo de chefe da Casa das Armas, tinha-se armado a cegada. É percetível o clima de intentona, o autor socorre-se da retórica mais gongórica, temos para ali grandes discursos e invetivas, do tipo: “Somos o único país do mundo em que os funcionários públicos, quer dizer trabalhadores do Estado, ficam meses a fio sem receber o salário e não somos capazes de sair todos juntos à rua, para varrermos do pelouro os incapazes de cumprir a mais elementar das obrigações de um Estado, que é pagar o salário dos funcionários”.

Um outro interveniente da narrativa regressa a casa e recorda Bolama, trata-se de uma memória dolorosa, assim: “A cidade encontra-se coabitada por pessoas, morcegos, ratos, sapos, cobras e lagartixas. Nas noites de lua cheia, a luz entra sorrateiramente, sem arrogância, mas com abundância suficiente, como a chuva que também entra pelas frestas das telhas partidas pelo tempo, pelos rombos das portas e das janelas escancaradas, num infindo namoro com o vento que vem do horizonte marinho”. E depois fala-se de um encontro entre este interveniente, Ibraim, com um amigo, de nome Midana, depois surge Djena, filha de Nandtida e de Bedém, este fora colega dos dois, agora trabalha na Embaixada em Berlim, discreteia-se sobre a vida humilhante do corpo diplomático daquele país, com salários suspensos e corridos das casas alugadas tal a contumácia dos calotes, depreende-se que o azedume por tanta situação caótica envenena o espírito de todos. O autor conhece do que fala, é diplomata de carreira, ocupou o cargo de delegado permanente da Guiné-Bissau junto da UNESCO, depois oficial de ligação da UNESCO junto da União Africana, foi mais tarde colocado em Lisboa.

E às primeiras horas do dia seguinte, domingo, dia santo, uma rajada de metralhadora surpreende o dia nascente, logo se percebeu que era um sinal combinado. A metralha cobriu o barulho habitual da cidade, os tiros intensificaram-se, o pânico ganhou as entranhas das pessoas, endoidecidas procuravam um ponto seguro ou recolhiam a casa. Pelas 11 da manhã, a Rádio Nacional emitia uma mensagem pretendendo acalmar a população, mas da parte da tarde, começaram a troar as armas pesadas, acalmia não existia, ali estavam os mortos amontoados nas estradas e nos cantos das casas a comprovar. No hospital da cidade instalou-se o caos, e começou a debandada que ainda hoje a população recorda, tal o vigor do trauma. Trata-se de uma descrição pintalgada de todas as inquietações possíveis, todos os perigos, vibra-se com insegurança instalada na cidade, aos poucos os seus cidadãos apercebem-se que estão na linha de fogo entre duas fações altamente municiadas.

O autor arquiteta todo este desabafo nas imprecações de vizinhos sem ilusões de que esta guerra vai agravar todos os problemas, tornou-se numa população experiente em viver numa cidade sitiada: “Contavam os obuses lançados por uma parte e a resposta da outra, é que de tanto ouvirem os tiros já sabiam distinguir os morteiros vindos de um lado dos que eram enviados do outro e também sabiam reconhecer, pelo assobio do projétil silvando o ar se iria cair perto ou longe das suas casas. Quando sentiam a aproximação da bomba, gritavam para a família procurar abrigo, quem não tivesse tempo aplacava no sítio onde se encontrava, de barriga para baixo e o nariz raspando o chão".

Começa o êxodo, Nangtida e a família caminham para o Pidjiquiti à procura de um barco salvador. Num cenário dantesco, com a artilharia a bater a zona portuária, a família parte e Nangtida fica em terra, no meio daquele pavor desencontraram-se. Nangtida pede acolhimento à família de Bedém. Esforça-se por se reunir à família, provavelmente em Cabo Verde, ou em Dakar ou mesmo a caminho de Portugal, todas as suas diligências falham, não consegue embarcar. Enquanto espera no cais, presencia o diálogo travado entre Amélia e Kaajal. Amélia poetiza, vamos ouvi-la declamar os seus poemas no meio daquela atmosfera alucinante, onde ecoam os estrondos das armas.

Ficaremos igualmente a saber a história do Tio Polom, uma vítima de perseguições, fora parar à cadeia por uma denúncia caluniosa de um vizinho invejoso, ficou sete anos sem nunca ter sido ouvido e depois a polícia de segurança do Estado levou-o para casa. E tem aqui lugar uma longa estrofe em louvor da liberdade. A tragédia espreita, Nangtida não aguenta mais o desassossego que lhe vai na alma, mete-se ao caminho numa longa coluna que foge ao conflito que pôs Bissau em chama, são pessoas que abandonam as casas, parte das famílias, os amigos e os vizinhos, buscam a salvação. E perto da fronteira uma mina traiçoeira faz adormecer um sonho de uma mãe que procurava desesperadamente reunir-se à filha. Uma morte que, figurativamente, representa o desastre para onde se lançou a Guiné.

Uma obra bem-intencionada, belas imagens poéticas, temos aqui uma alma sensível que não se cansa de lembrar como os guineenses são solidários até na maior provação.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11741: Notas de leitura (493): Populações da Guiné, publicação do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné - Quartel General - Repartição de Informações (Mário Beja Santos)