quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12055: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (18): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2o07) - Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (III): O Ramadão. Fotos.















Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 >  Cerimónia do Ramadão, a que assistiram, em respeitoso silêncio, os militares locais. Em 1967, o Ramadão começou a 2 de dezembro (este ano, 2013, começou a 9 de jukho e terminiou a 7 de agosto). Recorde-se que o  Ramadão é o nono mês do calendário islâmico, durante o qual os muçulmanos praticam o seu jejum ritual, o quarto dos cinco pilares do Islão.

(...) "A palavra Ramadão encontra-se relacionada com a palavra árabe ramida, 'ser ardente', possivelmente pelo facto do Islão ter celebrado este jejum pela primeira vez no período mais quente do ano. É um tempo de renovação da fé, da prática mais intensa da caridade, e vivência profunda da fraternidade e dos valores da vida familiar. Neste período pede-se ao crente maior proximidade dos valores sagrados, leitura mais assídua do Alcorão, frequência à mesquita, correção pessoal e autodomínio. É o único mês mencionado pelo nome, por Deus, no Alcorão" (...) (Fonte: Wikipédia).

Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68).


2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (III). A cerimónia do Ramadão. Fotos


(...) Na pequena festa de inauguração da Capela e a convite do Capitão Corvacho, o Régulo Suleimane compareceu com toda a sua família e vestido a rigor, embora fosse muçulmano.

As portas da Capela nunca se fecharam. Os europeus iam lá fazer as suas orações e nunca constou que alguém tivesse mexido fosse no que fosse. Do mesmo modo, quando da celebração do fim do Ramadão, com rituais próprios, mas completamente desconhecidos para a quase totalidade dos rapazes, estes comportaram-se com respeito, a que não faltou uma ponta de curiosidade, é certo. (...)


Observação do editor: Não sei se a quarta foto, a contar de cima, a das mulheres, tem a ver com a cerimónia do Ramadão ou com a do fanado. Segui a ordem de numeração das imagens do ficheiro (, oriundas de "slides" digitalizados), ordem essa que pode ter sido trocada. (LG)
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Nota do editor:

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12054: Convívios (532): 19º Convívio dos ex-militares da CArtª 566 - Vila Nova de Gaia, 26 de Outubro de 2013 (José Augusto Ribeiro)



1. O nosso Camarada José Augusto Ribeiro, ex-Fur Mil da CART 566, Cabo Verde (Ilha do Sal, Outubro de 1963 a Julho de 1964) e Guiné (Olossato, Julho de 1964 a Outubro de 1965), enviou-nos a seguinte mensagem:

19º Convívio dos ex-militares da CArtª 566 - Vila Nova de Gaia, 26 de Outubro de 2013



50 ANOS DEPOIS DA NOSSA PARTIDA E 48 DO NOSSO REGRESSO, temos mais uma vez a oportunidade de nos reunirmos, recordando os bons e maus momentos passados em Cabo Verde e na Guiné.


Ex-combatente e amigo, comparece em 26 de Outubro de 2013 (Sábado) e, se possível, acompanhado de familiares e convidados, pois queremos homenagear os camaradas que já nos deixaram e continuar a merecer o esforço e o espírito dinamizador destes encontros, do nosso saudoso amigo, TCor. Henrique Ribeiro Louro, a colaboração sempre voluntariosa do Sargento-Mor Abílio Preto e o empenho do industrial de restauração José Madureira, nosso camarada da 566,na disponibilização do Restaurante Boucinha.

PROGRAMA:
No Regimento de Artilharia 5 (Ex-RAP2) em Vila Nova de Gaia.
10h00 - Concentração dos ex-militares, familiares e amigos.
11h30 - Missa na capela da Unidade.
12h15 - Cerimónia aos mortos da Companhia
No Restaurante Boucinha - EN 222 (Av. Vasco da Gama, 4430 Vila Nova de Gaia, Telef.918 047 508.
13h00 - Início do almoço-convívio (ementa anexa).

Preço do almoço:
Adultos....................................26.00 €
Crianças dos 4 aos 8 anos...............50 %
Crianças até aos 3 anos.................Grátis

OBS.: Agradece-se que as inscrições sejam feitas até 23 de Outubro de 2013, por carta para a direção abaixo referida ou pelos telefones:

- Telef.fixo 225 507 038 (dias uteis das 18h00 às 24h00);
- Telemóvel 917 783 820 (a qualquer dia e hora).

ASS. Ex-Alf. Milº Manuel Ferreira de Carvalho
(Atualmente Ten. Coronel)
Rua Cunha Júnior, nº 13 -4º Esqº
4250 - 186 PORTO
QUINTA DA BOUCINHA

SERVIÇO DE APERITIVOS
Chouriço,entrecosto e linguiça na grelha
Rojoezinhos c/ pickles, cogomelos c/ bacon
Morcela c/ maçã, lulas em vinagrete, bola de carne
Bolinhos de bacalhau, croquetes de vitela
Rissóis de carne, rissóis de marisco
Azeitonas marinadas c/ oregãos
Porto seco, vermout, gin, vinho branco e tinto
Sumos, refrigerantes e águas.

MENU
Creme de Legumes
Bacalhau à Boucinha (Batata assada e Legumes)

Vitela à moda de Lafões(Como no ano 2012) (Batata assada, arroz de forno e legumes)

SOBREMESA
Parfait de baunilha com frutos silvestres e Bolo comemorativo

BEBIDAS
Vinho verde da casa
Vinho maduro da casa
Whisky novo, brandy, bagaceira`
Águas, refrigerantes
Café

Emblema e miniguião: © Colecção de Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:



Guiné 63/74 - P12053: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (60): Nos trilhos da guerra

 


1. Em mensagem do dia 14 de Setembro de 2013, o nosso camarada Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72) enviou-nos o 60.º episódio da sua série Viagem à volta das minhas memórias.




VIAGEM À VOLTA DAS MINHAS MEMÓRIAS (60) 

1 - Nos “trilhos da guerra”

Introdução

Vinte e cinco longos meses passados na Guiné, em defesa da Bandeira Portuguesa, tiveram a sua origem em todo um trajecto preparatório que se espraiou por diversas regiões do, à altura, ”Portugal do Minho a Timor”.
No meu caso metropolitanas, essas andanças em aprendizagens diversas, que se estenderam por uns quinze meses, levaram-me por ordem cronológica, a Caldas da Rainha, a Lamego, a Tancos, a Évora e a Oeiras (Espargal) de onde saímos uma madrugada, para embarcar no Carvalho Araújo, que nos levaria num “cruzeiro” em mares por vezes alterosos, excursando por duas ilhas nos Açores e por Cabo Verde até nos largar no destino: Guiné

 “Viagem à volta das minhas memórias” ficará com certeza menos incompleta se nela forem incorporadas lembranças deste período preparatório, também ele longo e recheado de momentos e peripécias que me ficaram retidos em memória, e que por vezes relembro com saudade e prazer.

Com um filho já a prestar serviço militar na Guiné, na hora da minha ida à inspecção, minha mãe dizia que a guerra não chegaria até mim, ao que meu Pai retorquia com um “vamos a ver…,vamos a ver?!”.
Filho “caçula” de cinco, quatro rapazes e uma rapariga, quatro anos me separavam do irmão seguinte, que estava mobilizado na Guiné (Alf - 3ª CCmds) e dez da irmã, a mais velha.

Com o filho ainda na Guiné, meus Pais viram o mais velho dos rapazes avançar para Angola (Alf -médico), ao que me parece saber em opção à faina do bacalhau que lhe teria sido proposta.
Entrementes, se não erro, o filho do meio, Alf Eng fica-se por Beirolas (material de guerra?).

Depois… bem, depois as dúvidas de meu Pai confirmaram-se e arranquei eu para a Guiné estando ainda meu irmão em Angola, a par do outro na Metrópole. Só dos Açores dei conhecimento por Bilhete Postal, o que quererá dizer que já estaria n Guiné quando meus Pais souberam! Achei, talvez mal, melhor assim. Explicarei posteriormente!

Assim, de 66 a 72 tiveram quatro filhos a prestar Serviço Militar, sendo que, em permanência e com sobreposições temporárias, um de três filhos mobilizado no Ultramar. Se fosse Enfermeira se calha nem a filha teria escapado! Não há dúvidas que, como tantos outros, a minha família deu um bom contributo para o esforço de guerra na defesa de um Hino e de uma Bandeira, símbolos que se sentiam.

Tendo “chumbado” a Matemática e Física no sétimo ano e como “manobra de recurso“ não ter corrido nada bem a prova de desenho no Instituto Engª Porto (?) (actual ISEP), não me foi possível ingressar na Medicina ou na Engenharia Técnica. Ponderada a situação, com possibilidade de adiamento de incorporação e já a trabalhar, optei por me voluntariar para a tarefa militar, já que a guerra parecia estar para durar. Ganharia tempo e como militar passaria a poder ter mais uma época de exames (mais facilitados?), creio que em Janeiro, o que acabou por me não ser possibilitado.

É facto que, se tudo tivesse corrido normalmente, minha Mãe acabaria por ter tido razão e eu não teria talvez ido para aquela guerra, já que estaria a cursar. Assim, o meu destino imediato: 

CALDAS DA RAINHA - RI 5
Chegado antes da hora estipulada, um magote de Mancebos aguarda ao portao de entrada, mirando-se na esperança de reconhecimentos. Claro que os houve, alguns até seriam das mesmas terras. Quanto a mim, conterrâneo e amigo, julgo que só o A. Varela.

Não recordo já o seguimento, talvez partes burocráticas e apresentação distribuição por Companhias. A mim coube-me a 3.ª
Giacomino Mendes Ferrari era o Comandante do RI5.
Distribuída a Companhia, houve que escolher o beliche e respectiva cama, situação que me parece recordar, resolvida sem conflitos, pela generalidade da Mancebagem!

Nova fase da vida:
INSTRUENDO
Dos Instrutores recordo o nome do 1.º Cabo Mil Op Esp Henrique(s), nariz meio ”apapaigado”, inicialmente incisivo e meio duro mas… compreensivo. A mandar ”encher"… era useiro e vezeiro!! Até que gostei dele! Do Capitão e do Alferes, não lembro nada. Do outro Cabo Mil, recordo as feições ao tempo arruivado, mas do nome???

Começam as formaturas, a Ordem Unida, as aulas em semicírculo de armas e outras…
A injecção mata-cavalo a uma 6.ª feira e o recambiamento para casa com instruções para mexer bem o braço!!!
Depois, as marchas, os obstáculos… enfim a dureza vai aumentando gradualmente, a par de um entrosamento mais confiante entre os deveres e obrigações e a própria hierarquia.

A minha/nossa guerra havia começado e estaria para ficar durante longos meses.

Luís Faria
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11142: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (59): "Está na mala", azimute: "peluda"

Guiné 63/74 - P12052: Efemérides (143): Passados 41 anos o reencontro com o camarada d’armas Eduardo Ferreira do 1º Pelotão da CART 3494 (Sousa de Castro)

1. O nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos a seguinte mensagem.

Passados 41 anos o reencontro com o camarada d’armas Eduardo Ferreira do 1º Pelotão da CART 3494.

A convite (1) da Associação dos Combatentes de Avintes, assisti à cerimónia no dia 14SET2013 da inauguração do Monumento aos Combatentes de Avintes. 

“ OS QUE TOMBARAM DEIXARAM EM ABERTO… UM VAZIO.” 


A cerimónia para além de muitos ex. combatentes que fizeram questão de honrar e homenagear todos os que ao serviço do Estado Português deram o seu melhor contou com a presença de várias entidades civis, militares e religiosas.

Usaram da palavra várias entidades, onde ressaltou o sofrimento das mães, que na ansia de obterem notícias de seus filhos procuravam sempre o carteiro, nem que para isso tivessem de se deslocar um ou dois Quilómetros. 

Foi bonito!...

Por outro lado a minha ida a Avintes (terra da broa ou Boroa) tinha outro objectivo… Encontrar um camarada da CART 3494 da qual pertenci, de seu nome Eduardo Ferreira, pertenceu ao 1º Pelotão, por várias vezes tentei e com a ajuda do camarigo Antero Santos, também ele ex. combatente na Guiné – Empada, lá estava ele, nesta importante cerimónia. Eu reconheci-o logo, mas ele não - são 40 anos de distância!...

Eis as Fotos: Antes na Guiné - Mansambo 1973 e depois Avintes 2013


Eduardo Ferreira e Sousa de Castro Guiné – Mansambo 1973

Sousa de Castro e Eduardo Ferreira – Avintes, 2013

O Eduardo que acompanhou o seu neto ao treino das escolas do F.C. de Avintes me confidenciou as várias razões pela qual ainda não ter sido possível participar nos nossos encontros, mas deixou a promessa que o fará numa próxima oportunidade.

O monumento de autoria do arquitecto natural de Avintes, Octávio Alves a que deu o título "O MURO DA VIDA",já com a frase OS QUE TOMBARAM DEIXARAM EM ABERTO UM VAZIO (frase de sua autoria), acho-o muito original na sua forma: Um muro em cubos de granito onde sobressai vários blocos caídos, simbolizando todos soldados de Avintes que ao serviço do Estado Português tombaram, uns em combate, outros por várias causas e outros desaparecidos. 


(1) A razão do convite que me foi endereçado pela Associação dos Combatentes de Avintes na pessoa do camarada e amigo Antero Santos ex Fur. Milº CCAÇ 3566/CCAÇ18 Guiné, prende-se com o facto de eu ter vivido parte da minha infância e começo da adolescência em Avintes. Foi aí que fiz a 4ª classe e comunhão solene. 

Sousa de Castro
1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873,
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:

10 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12025: Efemérides (142): Inauguração do Monumento aos Combatentes em Avintes, dia 14 de Setembro de 2013 (Antero Santos)


Guiné 63/74 - P12051: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (18): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2o07) - Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (II). A festa do fanado (feminino). Fotos.








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Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 >  Festa do fanado (feminino), a que se associaram os militares.

Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68).


2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (II). A festa do fanado. Fotos

(...) Saliento o facto ocorrido durante a festa do fanado em que as meninas foram preparadas para a, para nós bárbara, ablação de parte dos seus órgãos genitais.

Atraídos pela música, os militares metropolitanos acercaram-se do local onde decorria o ritual – as meninas postadas à volta do enorme almofariz enquanto as mulheres, com o pilão, moíam cereais cuja farinha se derramava sobre as cabeças das ainda crianças – e sem quaisquer constrangimentos dançaram e cantaram como se fossem parte da cerimónia.

Houve nesta festa uma excepção que me apraz referir: eu fui o único fotógrafo autorizado a registar as cenas preliminares. Na palhota onde se procedeu à cirurgia nem pensar.

Tal deferência nada tinha a ver com o meu cargo ou posição na companhia, mas sim porque quando o correio me trazia os slides revelados, eu montava o cenário e mostrava à população as suas caras e os seus lugares que provocavam grandes ovações e expressões de alegria dos visados. Era o que chamavam de cenima do nosso sargenti. (*)


3. Comentário, de 17 do corrente,  de Cherno Baldé, nosso amigo e irmão guineense [, foto à direita]:

(...) A guerra colonial travada num meio essencialmente rural/tradicional tinha, também, o condão de provocar efeitos secundários ou colaterais de âmbito sócio-cultural. Só algumas raras pessoas podiam perceber o alcance e a profundidade das transformações sociais que se operavam no seio dessas mesmas sociedades.

Neste caso concreto das imagens [do Zé Neto], o que salta a vista é o facto de as mulheres, no uso da liberdade pontual que a cerimónia [do fanado] autorizava nos idos anos 60, desafiarem a tradição e quebrarem o velho tabu do uso de roupas do sexo oposto e, sobretudo, de homens de guerra. 

No caso da Guiné, o facto não é meramente fortuito, pois tratava-se de uma fase de viragem histórica e que viria a ser bem aproveitado e vulgarizado pelo PAIGC no período pós-independência (...)

Guiné 63/74 - P12050: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (17): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (I): A capela






Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 1 > Vistas diversas da capela. Na pequena festa de inauguração da capela,  e a convite do Capitão Corvacho, o Régulo Suleimane compareceu com toda a sua família e vestido a rigor, embora fosse muçulmano.




Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Início das cerimónias do Ramadão. O régulo em traje de gala.


Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68).

O Zé Neto, como era conhecido entre nós, é um dos primeiros 50 camaradas a ingressar no nosso blogue. Hoje somos 12 vezes mais, a maior parte dos tabanqueiros não o conheceram nem têm acesso à sua colaboração, dispersa, incluindo as valiosas fotos do seu álbum . Daí também esta nova edição dos seus postes sobre Guileje, no ano em que celebramos o 9º aniversário. Por outro lado, fez 40 anos, a 22 de maio de 2013, que as NT retiraram de Guileje.

2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte V:  Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (I)


Uma das boas características do meu pessoal era a de que não gostavam de estar parados nos intervalos das operações. Cada um, nas suas profissões ou aptidões, ia bulindo e foi assim que  (i) se reconstruíram e melhoraram abrigos, (ii) se implantou uma horta que aproveitava a água, depois de decantada, dos chuveiros das praças e (iii) se construiu a obra mais emblemática que deixámos em Guileje: a Capela.

Por sugestão do capelão, Padre João Batista Alves de Magalhães, que apenas pediu um coberto para oficiar a missa quando ia a Guileje, pois dava a volta a toda a área da responsabilidade do batalhão, os Furriéis Maurício (Transmissões) e Arclides Mateus (Atirador), ambos com conhecimentos de desenho de construção civil, planearam e dirigiram a construção do pequeno templo.

Vinte ou trinta anos depois muito se falou em ecumenismo e outras ideias do mesmo sentido, mas nas profundezas da Guiné isso já se praticava.

Na pequena festa de inauguração da Capela e a convite do Capitão Corvacho, o Régulo Suleimane compareceu com toda a sua família e vestido a rigor, embora fosse muçulmano.

As portas da Capela nunca se fecharam. Os europeus iam lá fazer as suas orações e nunca constou que alguém tivesse mexido fosse no que fosse. Do mesmo modo, quando da celebração do fim do Ramadão, com rituais próprios, mas completamente desconhecidos para a quase totalidade dos rapazes, estes comportaram-se com respeito, a que não faltou uma ponta de curiosidade, é certo.

Saliento o facto ocorrido durante a festa do fanado em que as meninas foram preparadas para a, para nós bárbara, ablação de parte dos seus órgãos genitais.

Atraídos pela música, os militares metropolitanos acercaram-se do local onde decorria o ritual – as meninas postadas à volta do enorme almofariz enquanto as mulheres, com o pilão, moíam cereais cuja farinha se derramava sobre as cabeças das ainda crianças – e sem quaisquer constrangimentos dançaram e cantaram como se fossem parte da cerimónia.

Houve nesta festa uma excepção que me apraz referir: eu fui o único fotógrafo autorizado a registar as cenas preliminares. Na palhota onde se procedeu à cirurgia nem pensar.

Tal deferência nada tinha a ver com o meu cargo ou posição na companhia, mas sim porque quando o correio me trazia os slides revelados, eu montava o cenário e mostrava à população as suas caras e os seus lugares que provocavam grandes ovações e expressões de alegria dos visados. Era o que chamavam de cenima do nosso sargenti.

(Continua)

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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12049: Estórias avulsas (66): Ética militar (José Colaço)

Mensagem do nosso camarada José Colaço, ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65, com data de 12 de Setembro de 2013:


ÉTICA MILITAR

Quando jovem sempre tive por hábito vestir o melhor possível muitas das vezes com sacrifício de outros bens porque nem sempre se pode ter tudo.

Desta vez o passeio teve um encontro inesperado. Em sentido contrário vinha o major Ricardo Durão com o tenente coronel, comandante do BCav 757, e mais um ou dois oficiais. Aquele encontro não era o que desejava. Fico parado, em sentido, e faço-lhe a continência com uma palada, mas o major mira-me de alto a baixo e diz-me:
- Anda aqui.

Faz-me as perguntas sacramentais: quem era eu e a que unidade pertencia.
Resposta em sentido:
- Soldado de transmissões 1162 da CCaç 557.
- Põe-te à vontade.

Começa a examinar a indumentária; os sapatos são pretos mas são civis, as calças não são de caqui e o corte não é militar, a camisa (quem está autorizado a usar camisas de nylon são os graduados). O bivaque era a única peça que ele admitia, embora não estivesse 100% a rigor devido ao tecido que era terilene e devia ser caqui.

Mandou-me seguir o meu caminho:
- Vou tratar do teu assunto com o comandante da tua companhia.

Bem o disse, melhor o fez. Passado pouco tempo fui chamado ao capitão para esclarecer o que se tinha passado, e quanto a factos não há argumentos, há que aceitar e não aparecer com tal indumentária à frente do senhor oficial.

Solução: para usar a mesma indumentária sem ser incomodado pelo dito oficial, o capitão passava-me um papelinho com autorização de trajar à civil e eu, a única coisa que tinha que fazer, era deixar o bivaque no cacifo e aí estava eu um rapaz livre a passear sem o incómodo do sentido de ter que sair porque na mesa ao lado estava o senhor oficial fulano ou sicrano.

Um abraço.
Colaço
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11937: Estórias avulsas (65): Manga di ronco... Uma "rapidinha" a Bafatá, para uma "patuscada"! (José Ribeiro)

Guiné 63/74 - P12048: Notas de leitura (520): "Guiné Mal Amada - O Inferno da Guerra", por António Ramalho de Almeida (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Maio de 2013:

Queridos amigos,
Trata-se de recordações de um alferes instrutor de companhias de milícias, deambulou por Empada, Nhacra, Nova Lamego, Teixeira Pinto, entre 1964 e 1966.
Tanto quanto sei, trata-se do primeiro relato de um instrutor de milícias. Dá para perceber como Empada era um inferno. Aqui e acolá, penso que deliberadamente, mistura a ficção com a realidade, põe Spínola na Guiné em 1966 e descreve uma coluna por Mato Cão numa atmosfera arrepiante, pior cenário de guerra não podia haver. É bem provável que esteja a contar a ida de uma coluna que foi criar em Missirá um quartel.
Ficamos com um quadro conjuntural da Guiné desse tempo, ainda com zonas relativamente tranquilas à mistura com outras altamente explosivas.

Um abraço do
Mário


Guiné mal amada, o inferno da guerra

Beja Santos

“Guiné mal amada, o inferno da guerra”, por António Ramalho de Almeida, Fronteira do Caos Editores, 2013, reúne as recordações de um alferes que chegou à Guiné em Outubro de 1964 e a quem foi dada a incumbência de instruir companhias de milícias. Andava com uma equipa constituída por um sargento, um furriel, três cabos atiradores e três cabos enfermeiros. Empada foi o seu primeiro destino, aqui conheceu o batismo da guerra. Tinham-lhe dito no Quartel-General que iriam ser criadas 20 companhias que depois seriam distribuídas estrategicamente pela província, integradas em companhias ou batalhões das nossas tropas. “A minha missão era a de, em cerca de um mês, prepará-los para poderem dar uma resposta mínima a essa integração, quer no que respeitava a treino militar, quer a orientação disciplinar”.

Foi metido na lancha Bor até Bolama e daqui para Empada. Descreve a chegada: “Não havia cais, e tinha que se sair para a água do rio e seguir a pé até à margem. Depois o caminho que nos levava até ao quartel era medonho, já que parecia um túnel de mato denso. Senti que a apreensão não era só minha, já que o motorista que nos foi buscar tentava sair dali o mais depressa possível, e a secção que nos fazia a segurança pediu para nós levarmos as armas em posição de fogo”. Fica estarrecido com Empada, mas tratava-se de um ponto estratégico importante, “era o primeiro ponto do sector Sul com uma localização privilegiada para evitar infiltrações em direção ao Sul da província”. Ali permaneceu mês e meio. Conheceu Dauda Cassamá, cedo lhe conferiu a natural capacidade de chefiar a companhia. E começam as flagelações a Empada, umas a seguir às outras. Assistiu a um julgamento sumário de alguém que foi acusado de traidor. Executado, foi abandonado junto da pista de aviação, no dia seguinte apenas restavam alguns farrapos da roupa que trazia. Quem se dispunha a ir em perseguição do IN era Dauda e os seus homens, no regresso deixava à porta do capitão os braços direitos dos guerrilheiros mortos.

Em Dezembro de 1964, passa o seu primeiro Natal fora da família. Em Janeiro, está em Nhacra a preparar uma nova companhia. No Quartel-General conheceu um oficial modelar, o capitão Passos Ramos, barbaramente morto perto de Jolmete, em Abril de 1970. Chegaram muitos voluntários, eram precisos 120 homens e apareceram mais de 200. “Tudo gente nova, seduzida pelos 25 escudos semanais, pela comida, pela farda”. É à volta de Nhacra, vendo o temor com que eram recebidos e outras vezes a população a refugiar-se no mato para evitar com o encontro com as nossas tropas, que apercebe da tragédia do jogo duplo, população acossada, obrigada a estratégias de sobrevivência.

A seguir parte para Nova Lamego, aí permanecerá de Março a Maio. Na viagem até Bambadinca descobriu o macaréu. Aqui diverte-se, vai à caça das perdizes, descobre o Dr. Torres que conhecia toda a região melhor que ninguém e circulava no seu jipe por terrenos inimigos, ficou marcado pelas paisagens, pela amabilidade das gentes, por aqueles mercados onde se vendia mel bravio, tamarindo, papaia.

Regressa a Bissau, o seu novo trabalho era ler todos os relatórios de ações em combate e deles retirar todos os trechos onde era mencionado o nome do militar em termos elogiosos. Descreve o funcionamento do Quartel-General. Vai a Madina do Boé de raspão, a secretariar um processo de averiguações. Faz parte de um conjunto que tocava numa sala da UDIB. Volta a Nhacra e depois goza férias.

Aqui e acolá, presume-se que o narrador descarrega a veia da ficção. Iremos ler que o general Spínola chegará à Guiné no tempo da sua comissão, o que é manifestamente impossível, Spínola só pôs os pês na Guiné em Maio de 1968. E temos uma espantosa expedição militar para abrir o itinerário por terra entre Bissau a Bambadinca: “Todos sabíamos que havia uma zona da Guiné temida pelos receios de contos e lendas, e de fantasias, que fizeram do Mato Cão um verdadeiro Cabo das Tormentas onde o Adamastor era implacável… Contavam-se histórias de fazer arrepiar os mais ousados, senti um arrepio”. O narrador ia à boleia, seguiria depois para Pirada. E lá foram, segundo diz, desafiar o PAIGC em Mato Cão, um efetivo de 200 militares, à frente o rebenta-minas, pelotões a pé, de ambos os lados da picada, depois seguiam três ou quatro unimogs com grupos de combate, e depois os carros da engenharia, com uma grua e camiões cheios de material de construção, já que a missão visava a construção de um quartel numa zona próxima de Bambadinca, na margem direita do Geba. A viagem é de cortar a respiração, a estrada, por falta de uso, estava péssima, a tensão era enorme na coluna, havia para ali um silêncio sepulcral, afinal fez-se um percurso sem grandes problemas. Despejaram-se algumas rajadas de metralhadora para as margens da picada, não obtiveram resposta. Não se percebe exatamente como, chegaram a Bambadinca. O que terá acontecido, realmente, foi a deslocação de meios de Engenharia num local a Norte de Bambadinca, destinado a manter uma presença dissuasora numa região chamada Cuor, a Engenharia terá feito um quartel em Missirá, tornara-se fulcral proteger a navegabilidade do Geba. Mas li com imensa satisfação este relato ficcionado, já que passei cerca de 17 meses a ir praticamente todos os dias montar a segurança em Mato de Cão, onde o alferes Ramalho de Almeida viveu uma odisseia militar. O alferes instrutor de milícias chega a Pirada, descreve o ambiente fronteiriço, a atmosfera de espionagem e o papel de levar e trazer atribuído ao comerciante Mário Soares. Tanto quanto parece, já não estamos na ficção, o que se descreve é real, os incidentes fronteiriços, com retaliações de premeio.

Novo Natal passado na Guiné, agora o alferes instrutor é colocado em Ilondé, perto de Quinhamel. Considera que tinha chegado ao paraíso, atirou-se ao trabalho, preparou mais uma companhia. Descreve incidentes e um suicídio de alguém que não terá resistido psicologicamente ao aliciamento do PAIGC.

Como era o único oficial de Cavalaria, deram-lhe a missão de comandar um pelotão de autometralhadoras Fox, e dar-lhe-iam a compensação de regressar mais cedo a Lisboa. Desta vez vai para o chão Manjaco com duas Fox equipadas de metralhadoras, segue para Teixeira Pinto. Cedo descobre diversões como a apanha do camarão, nestes termos: “O pequeno ia para a sopa, para caldo de camarão ou para molhos; o médio era para rissóis, para caril, para omeletes e o grande era reservado para se comer à noite com cerveja fresca”. Desvela Teixeira Pinto e as colunas com uma Fox na frente, passando por Bachile, até ao “comboio” para o Cacheu. Deram-lhe a incumbência de nomadizar à volta de Teixeira Pinto, “Conheci recantos lindíssimos, vi zonas de floresta dignas de admiração, e até zonas onde possivelmente nunca nenhum ser humano lá teria passado, pelo desenho esquisito do arvoredo”. Recorda o campeonato do mundo de futebol de 1966. E assim chegou ao fim do inferno. E retoma a ficção: “Devo afirmar que embora o meu tempo de permanência sob o consulado do general Spínola na Guiné fosse muito curto, apenas umas semanas, a verdade é que senti claramente uma mudança notável no ambiente militar da província”.

Mantém vivas as recordações da Guiné, ia contando à família e aos amigos os factos, as cenas e os episódios que mais o tocaram. E chegou agora o momento de passar tudo a escrito, para conhecermos o inferno da sua guerra, entre a ficção e a realidade.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de Setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12033: Notas de leitura (519): "País Sem Rumo", por António de Spínola (Mário Beja Santos)

domingo, 15 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12047: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (13): A minha singela homenagem aos pais de todos nós

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 24 de Agosto de 2013:

Cordiais saudações.
Tem-se falado muito que a nossa geração foi sacrificada, no que concordo plenamente.
Tenho dito em alguns comentários, e confirmo, que os nossos toscos, arrogantes e oportunistas líderes políticos nos derespeitaram e continuam fazendo-o, ao não reconhecer que estávamos a serviço compulsório do ESTADO PORTUGUÊS,  aliás é essa a minha opinião sobre as as nossas PSEUDO ELITES de longa data, com raras e honrosíssimas excepções.

Mas divaguei demais sobre algo que não era a minha ideia inicial.
Queria lembrar a ansiedade e sofrimento de nossos pais e demais familiares, enquanto nós estávamos por lá "perdidos" nas bolanhas de uma África inóspita.

Ao enviar a foto de meus pais, quero homenagear os de todos nós.
Será que o sofrimento deles foi em vão?

Forte abraço
Vasco Pires

 A família de Vasco Pires e um amigo (com óculos, à direita) da diáspora de Goa


José Martins Pires, pai de Vasco Pires, em 1930
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11929: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (12): Fotos do Cap Op Esp Fernando Assunção Silva em confraternização com oficiais e sargentos sob o seu comando

Guiné 63/74 - P12046: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (7): A saga do corte umbilical

1. Em mensagem do dia 9 de Setembro de 2013, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos mais um episódio da sua série Pós-Guiné:


O PÓS-GUINÉ 65/67

7 - E LÁ VOLTA À BAILA A CICATRIZ RESULTANTE.. etc, etc, etc, etc,

1986?

A determinada altura decidi que havia de fazer um balanço sério e honesto do que fora a minha contribuição enquanto Combatente na Guiné. Competia-me a mim analisar e fi-lo seguindo a voz da consciência, que tantas vezes me condena e que n'algumas vezes (o seu lado mau) me tentou empurrar para o descalabro. Só que nunca gostei de ser empurrado e até reajo mal a quem mo faça e se calhar é por isso que ainda por aqui ando e andarei. Quanto mais ruim for, melhor... porque se diz que só morrem os bons.


E ASSIM "FONDO": 

Já escrevinhei como fui prá tropa depois de ter ido "às sortes"... para onde fui e pelo que passei, aprendi e ensinei... pelas amizades conseguidas e também pelos poucos alguns ódios (decerto resultantes da inveja que também é um pecado capital) com que tentaram destruir-me.
Só que e já o Senhor Almeida Garret dizia no Frei Luís de Sousa, pela boca de Telmo Pais: "Ruim terra te comerá cedo, corpo da maior alma que deitou Portugal". Mas enganou-se, no "te comerá cedo", se é qu'a coisa se adapta ao meu caso.

Voltemos ao balanço na guerra, não sem que antes vos pergunte:
SOU OU NÃO ERUDITO?

Começo:
PORQUE É QUE NÃO GOSTO OU GOSTAREI d'alguns países?

Simples... muito simples mesmo:
Porque soube que apoiaram o PAIGC e com isso contribuíram para que tanta rapaziada nossa não tenha voltado com vida e que outros tenham voltado com graves mazelas.

PORQUE É QUE NÃO GOSTEI do chefe inimigo?
Ora, sendo este o causador também dos infortúnios atrás assinalados... e mais... considerando que estudou em Portugal à nossa custa, tirou cursos, trabalhou e conviveu com gentes honradas... porquê enveredar pela luta armada contra militares "DO POVO DAQUI", que apenas foi obrigado a cumprir um dever?
Não me agradou, apesar de tudo, o seu fim mas "Quem com ferros mata, com ferros morre";

PORQUE É QUE DESGOSTEI daquele valente cubano que sempre admirei?
Desgostei eu e o seu líder, que a determinada altura o repudiou.
Eu... porque embora a figurinha me merecesse algum respeito e até alguma romântica admiração mas unicamente até ao dia em que soube que também ele se ofereceu para combater contra nós, o que não foi aceite pelos movimentos que nos obrigaram a defender a Pátria devido à internacionalização da guerra que daí poderia advir, o que lhes não convinha.
O seu fim também não foi do meu agrado, mas todos os sonhadores assim acabam.

PORQUE É QUE CONTINUO A NÃO GOSTAR dos desertores e se calhar nem eles gostam agora de si próprios?
Porque por cada um que fugiu com medo, correspondeu a mais um dia que ficámos nós a penar no inferno.
Perdoo, mas um poucochinho apenas, aqueles poucos que já se retrataram.

PORQUE É QUE NUNCA GOSTEI OU GOSTAREI dos que fugiram? E fizeram-no mesmo sem saber se seriam apurados... sim...  porque se na altura até os medrosos... os mERDosos e os maricas ficavam "livres", porquê ir a salto lá pr'ós bens-bons?
Voltaram e bem recebidos foram... que lhes faça bom proveito.

E PORQUE É QUE NÃO GOSTO d'alguns QU'ATÈ cantam?
Cantam? ná... protestam, ou melhor agora estão mais comedidos, que o dinheiro faz-lhes falta.
Tenho-lhes um pó, que nem vos digo nem vos conto e também tenho nas, rádio e TV, botões que os desligam e dessa forma corto-lhes o pio.

Fim, por hoje, do maldizer que foi a realidade.
Proximamente falarei das boas coisas.

E A GUINÉ SEMPRE PRESENTE
O grupo desportivo do Banco onde trabalhei bem e depressa e por isso também me pagaram e reconheceram o mérito, tinha uma Secção de Judo.
Fui ver... gostei e decidi-me participar, porque e até dado que o "Mestre" tinha sido Fuzileiro Especial e combatera na Guiné.
Pensando nas recordações que poderíamos a vir a desbobinar, lá fui e por lá andei anos a fio... e falámos... falámos, sobre as amargas experiências... sobre outras menos desagradáveis... enfim partilhámos emoções, saudades e o desejo firme de lá voltar sempre presente, bem como a ânsia de regressarmos aos vinte e poucos anos.

Conheci os acontecimentos sobre a operação a Conacry, com maior profundidade e até alguns outros que não mais vi sequer comentados e mais se me arreigou a certeza de que as, valentia e sofrimento das nossas tropas foram bastante superiores àquilo porque eu também passara.
Até que certo dia desisti.
Já não aguentava mais, tanta demonstração (para promoção) e onde me calhava ser sempre eu a cair. É que nem me salvava com aquela máxima judoca que diz: "Quanto maior for o nosso adversário, maior será a sua queda".

Tantas levei qu'agora uso apenas o quimono para avivar a memória cá em casa e numa demonstração de força psicológica - SÓ, pois que a verdadeira foi-se.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12015: O pós-Guiné (Veríssimo Ferreira) (6): A saga do corte umbilical

Guiné 63/74 - P12045: Em busca de... (229): Camaradas e memórias do Sold Cav António Manuel Rosa dos Santos (CCAV 1651/ BCAV 1905, Teixeira Pinto, 1967/69)... Para realização de um vídeo à não-memória, no âmbito da candidatura ao Prémio EDP Novos Artistas (Sandro Ferreira, artista plástico)

1. Mensagem do nosso leitor Sandro Ferreira:

De: Sandro Ferreira

Data: 27 de Agosto de 2013 às 10:51

Assunto: Guiné 1967/69

Olá, bons dias, desde já felicito os administradores do blog por toda a pesquisa e postagem desta parte da nossa História recente.

Chamo-me Sandro Ferreira, sou artista plástico e um dos seleccionados para o Prémio EDP Novos Artistas, todo o meu trabalho anda em torno da Guerra Colonial/Guerra do Ultramar e as memórias da mesma.

Um dos trabalhos que conto apresentar é um video que em conjunto com a base onde é apresentado representa um monumento à não memória. Tenho conhecimento de um ex-combatente (pai de uma amiga) que combateu na Guiné entre 1967 e 69, António Manuel Rosa dos Santos nº 2082/66,  fazendo parte da CCAV 1651/BCAV 1905 [, A CCS esteve sediada em Teixeira Pinto, 1967].

O António sofre de uam doença crónica degenerativa, num estado muito avançado, daí o monumento á memória perdida ou não memória.

Gostaria pois de saber se seria possivel encontrar alguém (nos vossos contactos) que tivesse estado na mesma comissão e que pudesse contar algo sobre António Manuel Rosa dos Santos para incluir no video como únicas memórias exteriores.

Não sei se fui claro no que pretendo mas se me pudessem ajudar agradecia imenso.

Muitos cumprimentos

Sandro Ferreira

2. Comentário de L.G:

Infelizmente não temos aqui ninguém da CCAV 1651. Mas temos camaradas da CCS/BCAV 1905. Talvez através deles possamos chegar à companhia do António Rosa Rosa Santos. Esperemos que este seu apelo obtenha uma resposta positiva. Transmita à sua amiga, filha do nosso camarada, as nossas preocupações pela saúde do pai. E ao Sandro, desejamos que faça um bom trabalho, fazendo bom uso do seu talento para homenagear a memória dos ex-combatentes da guerra colonial. Parabéns por ter sido selecionado no âmbito do Prémio EDP Novos Artistas.
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12016: Em busca de... (228): Foto do malogrado Júlio Lemos Martins (, da CCaç 797, Tite e Nhacra, 1965/67, afogado no Rio Louvado, em 12/8/1965) para inclusão em livro dos combatentes mortos na guerra do ultramar, naturais de Ponte de Lima (Júlio Pinto)

Guiné 63/74 - P12044: Agenda cultural (282): Festival Todos 2013. Além do Intendente alarga-se agora ao Poço dos Negros e a São Bento, Lisboa, 12-15 set 2013


Fonte: Sítio da Câmara Municipal de Lisboa (Reproduzido com a devida vénia)


FESTIVAL TODOS ALARGA HORIZONTES DA INTERCULTURALIDADE (*)

A quinta edição do festival TODOS – festival intercultural para a cidade de Lisboa - realiza-se de 12 a 15 de setembro e apresenta este ano uma novidade. Além do Intendente, o seu espaço tradicional, alarga-se agora ao Poço dos Negros  (**) e a São Bento, prometendo transportar a cidade para uma caminhada de culturas onde não faltarão a gastronomia, a música, a dança, a literatura, o cinema ou a fotografia.

Com um vasto programa cultural e recreativo, o festival promete uma viagem de quatro dias pelo mundo “sem sair de Lisboa”, quatro dias de interculturalidade de que se destaca “O Bairro Gastronómico” em vários locais da cidade como o pátio do Liceu Passos Manuel ou a Rua de São Bento, “Cantar Credos em Corações ao Alto” na igreja de Santa Catarina, ”Frases do bairro, um novo património” de arte urbana na Rua de São Bento, ou a “Galeria humana já anda na rua” com uma exposição de fotografia itinerante.

Não faltam também um workshop para o 1.º Ciclo do ensino básico, ceia de todos os sabores, uma exposição do fotógrafo Luís Pavão, duas noites contagiantes no B.Leza com a Orquestra Todos e muitas outras atividades culturais.

Sítio do festival

Programa

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 15 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12043: Agenda cultural (281): Exposição "A Última Fronteira – Lisboa em tempos de guerra". Lisboa, Terreiro do Paço, de 15/7 a 12/12/2013, todos os dias, das 10h00 às 20h00. A não perder.

(*) Segundo o olisipógrafo Norberto Araújo («Peregrinações em Lisboa», vol. XIII), a Rua Poço dos Negros deve o seu nome, na melhor das hipóteses, à (i) "circunstância de por aqui ter existido um poço ou vala onde se enterravam os cadáveres dos escravos"; também se admite a hipótese de ser (ii) "a designação uma projecção toponímica de qualquer poço, da horta dos 'frades negros', que eram os de S. Bento".