terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12677: Direito à indignação (10): Por favor, respeitem a verdade dos factos... E, sobretudo, respeitem, os mortos e os vivos… de um lado e do outro da guerra! (Luís Graça / Carlos Pinheiro / Sousa de Castro / José A. Câmara)



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > 19 de abril de 2006 > 15º dia da viagem Porto-Bissau >  Foto nº 15_80


Guiné-Bissau > Região do Oio > Jumbembem > 17 de abril de 2006 > 13º dia da viagem Porto-Bissau > Foto nº 13_314

 Fotos do álbum dio Hugo Costa, filho do Albano Costa, dois dos nossos grã-tabanqueiros. É caso para perguntar: o que  é que estamos a contar às criancinhas, em Portugal, na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, sobre a guerra do passado, de "guerra de libertação", para uns, "guerra do ultramar/guerra colonial", para outros ?

Fotos: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legenda: L.G.]


1. Mais comentários ao poste P12669 (*):

(i) Luís Graça (**)


A. Com  a devida vénia reproduz-se o texto introdutório sobre o "Museu da Guerra Colonial", inserida na respetiva página, a qual integra o portal do Munícipio de Vila Nova de Famalicão:

(...) A história do Museu da Guerra Colonial começou a desenhar-se durante o ano lectivo de 1989/90, quando trinta alunos oriundos de várias freguesias dos concelhos de Vila Nova de Famalicão, Barcelos e Braga participaram num projecto pedagógico-didático conjunto a que chamaram "Guerra Colonial, uma história por contar". 

Através da metodologia da história contada oralmente, os alunos recolheram o espólio dos combatentes das suas áreas de residência. Surgiram então vários documentos como processos de morte e de ferido, correspondência, [relatórios] de companhia, diários pessoais, diários de acção social e psicológica, relatos e processos confidenciais, objectos de arte, fotografias, bibliografias, objectos religiosos, fardamento e armamento, enfim um manancial de fontes que permitiu, entre outras coisas, organizar uma exposição e nela reconstruir o "itinerário" do combatente português na guerra colonial.

Em 1992, iniciou-se um trabalho de colaboração com a Delegação da Associação dos Deficientes das Forças Armadas de Vila Nova de Famalicão, em que foram efectuados novos estudos regionais com base nos arquivos e membros desta instituição, bem como foi ampliada a exposição com a integração de novos estudos e materiais. Como resultado desta colaboração, a exposição percorreu vários eventos culturais e várias localidades.

Finalmente, em Maio de 1998, foi celebrado um protocolo de colaboração entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Delegação da ADFA de Famalicão e Externato D. Henrique de Ruilhe de Braga, que serviu de acto solene e formal para a criação do Museu da Guerra Colonial.


O Museu rege-se pela recolha, preservação e divulgação de fontes e estudos, reformulação técnica da exposição permanente, constituição de um centro documental e o alargamento de novos estudos na região. (...)

B. Meu caro Mário::

Cito a tua nota de leitura (que apreciei e mais uma vez agradeço):

(...) “O terceiro inquirido refere que atacaram uma base inimiga junto ao Senegal e que despacharam milhares de inimigos. Como é evidente, num trabalho desta natureza um professor não pode confrontar a verdade das afirmações, se se ia fazer um quartel em S. João, se houve um ataque à base aérea de Bissalanca. Mas, creio eu, não pode ficar insensível à afirmação de “despachámos milhares de inimigos”, coisa que nunca aconteceu em nenhum teatro de operações nem podia acontecer, atendendo à natureza daquela guerra. Vamos supor que ninguém deu pela barbaridade ou aceitou a informação como plausível. É de questionar como tal declaração é percecionada pela opinião pública e os preconceitos que pode suscitar a patranha ou farronca de quem, entrevistado por gente inocente, se julga à vontade para proferir pesporrência. Vamos admitir que se trata de um caso isolado. Mas ninguém leu esta brochura que foi distribuída por uma autarquia, ninguém reagiu, ninguém se consternou com a gravidade da declaração ofensiva?” (...)

Mário, meu amigo e camarada da zona leste da Guiné: tens toda a razão. A Guiné e todos nós, que por lá passámos, ficamos mal na fotografia se algum dos nossos filhos, netos e bisnetos um dia folhear o livrinho (48 páginas, ilustradas), editado pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão…

Dos três depoimentos sobre a Guiné, o terceiro, acima reproduzido, é de fato o mais hilariante…

Tens razão, quando dizes que já não basta indignarmo-nos. Eu sei que ainda estamos, felizmente, vivos e capazes de nos indignarmo-nos. E podemos e devemos fazê-lo aqui, no nosso blogue, exercendo o  elementar e saudável  direito à indignação.

Mas a indignação não chega, como temos visto e sentido nestes últimos anos, tantas ou tão poucas são as tropelias e sacanices a que nós, os combatentes, temos sido sujeitos, desde a demagogia das promessas vãs às tentativa de instrumentalização das associações de veteranos, à discriminação dos combatentes no 10 de junho, etc.

As muitas centenas de combatentes, dos 3 ramos das Forças Armadas Portuguesas, que por aqui já passaram, no blogue, e que viram publicadas as suas fotografias (dezenas de milhares) e os seus textos (já perto de 12700) no espaço de menos de 10 anos, têm todas as razões para se sentirem insultados e indignados pela inqualificável aldradice e pela miserável fanfarronice de um suposto combatente de Vila Nova de Famalicão (ou de um concelho vizinho, Braga, Barcelos…) que, no TO da Guiné, "chegou, viu e venceu", como se aquela guerra fosse uma alegre "coboiada" em que os sete magníficos trucidam os
maus da fita, os índios, aos milhares...

Em Bissau, este tipo de patranhas contavam-se despudoradamente na famigerada 5ª Rep, alcunha do Café Bento...

Às vezes a ânsia de protagonismo de alguns (, aliada à alarve ignorância de outros) pode levar a resultados, infelizes, como estes... É uma pena que esta nódoa, numa publicação como a "Guerra Colonial: uma história por contar", acabe por manchar o bom nome e a boa imagem do Externato Infante D. Henrique e do seu corpo docente, bem como do município de Vila Nova de Famalicão e dos seus eleitos, sem esquecer a delegação local da ADFA – Associação dos Deficientes das Forças Armadas, três entidades que estão na origem deste “Museu da Guerra Colonial”.

De acordo com a Porbase – Base Nacional de Dados Bibliográficos, a brochura que tu recenseaste, não é um obscuro opúsculo, condenado ao pó das gavetas, não!... É uma publicação formal, com depósito legal na Biblioteca Nacional, onde foi catalogada da seguinte maneira:

Título: Guerra colonial: uma história por contar... / Org. Externato Infante D. Henrique
Autor(es): Externato Infante Dom Henrique, co-autor
Publicação: Vila Nova de Famalicão : Câmara Municipal, 1992
Descr. Física: 48 p. : il. ; 30 cm
Dep. Legal: PT -- 61549/92. CDU: 355.48 (6=690)
355.48(547).

Uma louvável iniciativa didático-pedagógica deu origem a um livro, de múltiplos autores, em que falhou redondamente o papel do editor literário (presumivelmente, o professor da disciplina de Antropologia Cultural do Externato).

Regras tão elementares como o bom senso, o bom gosto, o uso do contraditório, a confirmação da veracidade dos factos (topónimos, datas, unidades militares, números de baixas, etc.), saturação da informação, triangulação das fontes... foram puramente e simplesmente esquecidas ou escamoteadas....

Mário: eu para já sugiro que se exponham aqui os nossos pontos de vista... Afinal, somos parte intereesada nesta "história por contar"... E este o cantinho do "ciberespaço" onde nos fazemos ouvir...

Não sei se valerá a pena publicar uma "carta aberta" ao representante da autarquia, de contestação e de protesto, exigindo aos autores (ou editor literário) que façam uma adenda… “pedagógico.didática” ao tal livrinho...
De qualquer modo, o que ocorre para já dizer, é: "Por favor, respeitem, os mortos e os vivos… de um lado e do outro da guerra!"...

(ii) Carlos Pinheiro

Acho que estas faltas de cuidado devem ser comentadas e desmontadas as “originais “ invenções de alguém. Por isso aqui estou a dar a minha melhor colaboração para o esclarecimento da verdade dos factos

Refiro-me somente ao caso do ataque à BA 12, Bissalanca. Segundo o autor desconhecido (mas que disse trabalhar no Centro de Mensagens do Q.G.),  a determinada altura, dado o ataque à Base de Bissalanca, ele dirigiu-se a outra Base para prestarem o apoio aéreo que Bafatá pedia.

Mas que outra Base? Onde? Por amor de Deus!

A publicação de livros, e muito especialmente livros publicados com dinheiros públicos, como foi o caso em análise, deveria, sempre, pautar-se pela verdade dos acontecimentos. Não foi o caso e foi pena.

(iii) Sousa de Castro

Para mim,  este trabalho publicado em Famalicão é de facto muito infeliz. O Operador de MSG contou algo que lhe contaram, o chamado jornal de caserna é o "diz que disse";  por outro lado não há, em TRMS, msg "muito urgentes",  há 4 tipos de msg, Relâmpago (Z),  Imediato (O),  U rgente (P) e  Rotina (R), para além doutros procedimentos.

(iv) José A. Câmara:

Caros amigos e camarada,

Acabei de enviar correio electrónco ao Sr. Presdidente da Câmara de Vila Nova deFamalicão. Julgo que é o mínimo que posso fazer nas circunstâncias. Mas há mais formas de de demonstrarmos o nosso desagrado. Neste e em tantos outros casos de lesa verdade.

"Senhor Paulo Cunha,
Presidente da Câmara Municipal de
Vila Nova de Famalicão

Sr. Presidente,

Abaixo encontrará as devidas hiperligações para o assunto em epígrafe. A verdade dos factos tem que ser resposta. Compete-lhe a si, como Presidente da Edilidade, tomar os devidos passos para que assim seja.

Os Famalicenses e toda uma sacrificada geração que serviu na Guerra do Ultramar merecem que a verdade dos factos, nada mais que isso, tenha o seu lugar na divulgação da história.
Os jovens alunos de hoje, homens de amanhã, não devem ser confrontados com o facto da sua Câmara Municipal e a sua escola lhes terem mentido. Porque é disso que se trata, na medida em que a responsabilidade da publicação desta patranha é da sua responsabilidade.Sem outro assunto, apresento-lhe cumprimentos.

José A Câmara
Furriel Mil
CCaç 3327/BII17
 Comissão: Guiné, 1971/1973"
____________________

Notas do editor:

(*) Vd.  Vd., poste de 3 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12669: Notas de leitura (559): "Guerra Colonial - Uma História por contar", edição da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Externato Infante D. Henrique (Mário Beja Santos)

(...) Queridos amigos, é de todos sabido que o silêncio ou indiferença perante uma patranha de contornos revoltantes é manifestação de cobardia ou de espírito acomodatício a quem conhece o fundo e a forma da realidade infamada. O assunto que vos ponho à reflexão é de como agir e denunciar uma declaração ignóbil, daquelas que serve de rastilho para olhar com preconceito o que foi a vida de um combatente em África.

A indignação, por si só, não leva a ponto nenhum. O que talvez fosse útil debater é como agir perante uma barbaridade como aquela que aqui vos conto. (...)

(**) Último poste da série >  4 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12675: Direito à indignação (9): A (des)propósito do livro "Guerra Colonial: uma história por contar"...que esteve na origem da criação do Museu da Guerra Colonial, em Vila Nova de Famalicão (Beja Santos / Carlos Vinhal / José Manuel M. Dinis / José Martins / A. Eduardo Ferreira / Fernando Gouveia / António J. Pereira da Costa / Alberto Branquinho / C. Martins)

Guiné 63/74 - P12676: Os nossos médicos (72): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (5): Arquipélago dos Bijagós

1. Enviada por mensagem de 3 de Fevereiro de 2014 do nosso camarada Mário Vasconcelos (ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 3872), a quem mais uma vez agradecemos, chegou até nós esta memória do ex-Alf Mil Médico Rui Vieira Coelho [foto actual à esquerda] que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e 4518 (Galomaro, 1973/74), dedicada ao belo Arquipélago dos Bijagós:

Caros camaradas Luís Graça, Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro,
As minhas cordiais saudações e votos de saúde.
Junto mais um texto, que vai intitulado, BIJAGÓS, autoria do nosso tabanqueiro nº 624 - Dr. Rui Vieira Coelho, ex. Alf. Mil. Médico do BCAÇ 3872 e 4518, Galomaro, Guiné.
Se houver alguma deficiência de envio, solicito a vossa indicação para mim, pois como sabem, faço um pouco de retransmissor.

Um abraço de amizade.
Mário Vasconcelos




____________

Notas do editor

Último poste do dr. Rui Vieira Coelho de 14 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12037: Os nossos médicos (68): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (4): Bacar

Último poste da série de 24 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12082: Os nossos médicos (71): Guiões, brasões e crachás das unidades em que prestou serviço o alf mil méd Amaral Bernardo: BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e BART 2924 (Tite, 1970/72)

Guiné 63/74 - P12675: Direito à indignação (9): A (des)propósito do livro "Guerra Colonial: uma história por contar"...que esteve na origem da criação do Museu da Guerra Colonial, em Vila Nova de Famalicão (Beja Santos / Carlos Vinhal / José Manuel M. Dinis / José Martins / A. Eduardo Ferreira / Fernando Gouveia / António J. Pereira da Costa / Alberto Branquinho / C. Martins)



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Guiné-Bissau > região de Quínara > Empada > 19 Abril de 200 6 > 15º dia da viagem Porto-Bissau >   Visita a uma escola de ensino básico > Fotos do álbum dio Hugo Costa, filho do  Albano Costa, dois dos nossos grã-tabanqueiros. É caso para perguntar:  (i) o que contam os guineenses (pais e professores) aos seus filhos,  netos e bisnetos  sobre a história da "guerra de libertação" ?, e (ii) e nós, pais, encarregados de educação e professores, aqui em Portugal, o que contamos aos nossos  filhos, netos e bisnetos sobre o que foi a "guerra do ultramar/guerra colonial" ?

Fotos: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legenda: L.G.]


1. Comentários ao poste P12669 (*),  e a (des)propósito do livrinho "Guerra Colonial: uma história por contar"...


(i) Carlos Esteves Vinhal:

Fiz algumas pesquisas na internete, inclusive na página dos Especialistas da BA12, encontrando apenas leves referências a um ataque à Base Aérea em 19 de Fevereiro de 1968. Não encontrei registos de vítimas, o que não quer dizer que não houvesse, mas por não serem do Exército não fazem parte Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, editada pelo Estado-Maior.

Que eu tenha conhecimento, houve mais dois ataques a Bissau, um em 9 de Junho de 1971 e outro em Março de 1972.

Agradece-se toda e qualquer colaboração para completo esclarecimento do ataque a Bissalanca, ocorrido em 19 de Fevereiro de 1968. Quantos mortos e de que Arma.

Carlos Vinhal, co-editor

(ii) José Manuel Matos Dinis

Aqui temos um bom exemplo de irresponsabilidade. Um determinado presidente de uma Câmara Municipal decide patrocinar um folheto informativo sobre "estórias" da guerra colonial, para memória colectiva dos feitos portugueses. 

Um professor, sabe-se lá com que formação, recolhe os testemunhos que os pais dos alunos lhe apresentaram, sem cuidar de confirmar os relatos, e os pais das crianças, quais heróis de bancada, vão de se candidatar à admiração pública com relatos que dificilmente traduzem realidades (com excepção do acidente com a granada), ou são mentirosos na dimensão relatada (como o do ataque à base IN, já que o do relato da entrega da mensagem noutra base aérea revela alguma baralhação).

Isto é do piorio que pode acontecer a uma sociedade, e questiono, se os relatos foram para traumatizar as criancinhas? as mães e mulheres de antigos combatentes? ou para suavizar a imagem de um alucinado, ou prepotente autarca? Sobre o professor, nossa senhora, deve entrar rapidamente em retiro espiritual pelo mal que ajuda a causar à Nação.

Abraços fraternos, JD

(iii) José Marcelino Martins

Muito provavelmente, este "autor" inspirou-se nas histórias que o Correio da Manhã deu ou dá à estampa (em pelo menos deixei de ler), na revista domingueira.

Não sei se ainda continua a publicar. Eu deixei de ler porque tinha de, no caso da Guiné, corrigir muitas das "verdades adquiridas" e publicadas.

Conto apenas um caso: o General Spinola deslocou-se, em heli, a um aquartelamento no interior para, no dia seguinre a uma operação, condecorar com a Medalha da Cruz de Guerra, um militar que se havia notabilizado na operação do dia anterior.

Este episódio passou-se em 1967 quando o ComChefe ainda não tinha sido nomeado para a Guiné, o que aonteceu em Abril ou Maio 1968.

(iv)  António Eduardo Ferreira:

Se não fosse esta estória existir numa biblioteca onde seria suposto encontrar informação fidedigna, dava vontade de rir...
-Junto ao Senegal, num quartel general, um pelotão da nossa tropa despachou milhares de inimigos.


(v)  Fernando Gouveia:


Continuam a dar crédito a irresponsáveis da escrita.
Nessas datas não houve ataques a Bissalanca e muito menos à "minha" Bafata.

 (vi) António J. Pereira da Costa:

Olá, Camaradas:

Agora é que é caso para dizer "milhares de mortos" feitos por um só pelotão... F***-se! Caganda vitória!
Desculpem, mas passei-me dos carretos.
Um Ab.
 
(vii) Alberto Branquinho:


Póis é!!!

Há heróis do caraças!!
Que seja pelas alminhas do purgatório!
Muitas destas e... está feita HISTÓRIA!


(viii) C. Martins

Quando os gajos do IN souberam que eu tinha chegado à Guiné... ficaram todos "borrados".

Uma vez com um só tiro de obus "limpei" 4000 "turras", 30 gazelas,50 macacos, 3 rinocerontes e uma vaca que andava a monte, julgo que sofria de melancolia.

Levei uma "porrada" por tal feito... e fui avisado para não repetir a gracinha porque assim não só acabava com a guerra em três tempos como dizimava a fauna autóctone.

O que escrevi merece a mesma credibilidade da "história por contar"..

O mundo está cheio de "mentirosos compulsivos" e imbecis que infelizmente existem entre ex-combatentes ou pseudo-combatentes e normalmente são estes que dão esta triste imagem. Lamentável. (**)

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Notas do editor:

(*)  Vd., poste de 3 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12669: Notas de leitura (559): "Guerra Colonial - Uma História por contar", edição da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Externato Infante D. Henrique (Mário Beja Santos)

(...) Queridos amigos, é de todos sabido que o silêncio ou indiferença perante uma patranha de contornos revoltantes é manifestação de cobardia ou de espírito acomodatício a quem conhece o fundo e a forma da realidade infamada. O assunto que vos ponho à reflexão é de como agir e denunciar uma declaração ignóbil, daquelas que serve de rastilho para olhar com preconceito o que foi a vida de um combatente em África.
A indignação, por si só, não leva a ponto nenhum. O que talvez fosse útil debater é como agir perante uma barbaridade como aquela que aqui vos conto. (...)

(**) Ver postes anteriores da série:

24 de outubro de  2009 >  Guiné 63/74 - P5149: Direito à indignação (8): Fomos forçados como presidiários a cumprir pena no degredo (Jorge Teixeira/Portojo)

(...) Tropa, quer dizer Forças Armadas Portuguesas. E cada vez me repugna mais dizer ou escrever estas palavras "Forças Armadas Portuguesas". (...)


(...) Coincidindo com o mês de pagamento do Acréscimo Vitalício de Pensão, bem como do Suplemento Especial de Pensão, a todos os antigos combatentes que estiveram em condições especiais de dificuldade ou perigo, a quase totalidade dos combatentes mobilizados para a Guiné, verificou ser afectada em parte daqueles pagamentos. Mas não só, outros combatentes estão privados de qualquer daquelas verbas. (...)

18 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5129: Direito à indignação (6): As míseras migalhas que os comensais da mesa estatal deixam cair (Jorge Picado)

(...) Sobre o tema corrente das míseras migalhas que os comensais da mesa estatal deixam cair, a uns pobres diabos que teimam em não deixar este mundo, o que muito aliviaria as suas (desses comensais subentenda-se) consciências, resultantes dessa obra prima que foi a excelsa Lei n.º 9/2002, eis algumas considerações que resolvi exprimir tendo por base o meu caso. (...)

16 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5115: Direito à indignação (5): O CEP foi transformado em SEP... e os ex-combatentes da Guiné recebem cada vez menos (Júlio Ferreira)

(...) Conforme a nova lei, aprovada em Janeiro último, o Complemento Especial de Pensão (CEP), previsto na Lei 9/2002 de 11 de Fevereiro, foi transformado pela Lei 3/2009 de 13 de Janeiro, em Suplemento Especial de Pensão (SEP). Ou seja mudaram o nome, para nos escamotearem mais alguns Euros. (...)

15 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5108: Direito à Indignação (4): Abaixo de cão, isto é uma vergonha (Fernando Chapouto)

(...) Pessoalmente, considero que todos fomos Heróis, pois, da melhor ou da pior maneira, conseguimos ultrapassar os sacrifícios que nos foram impostos, por vezes em condições adversas inimagináveis. Acima de tudo sobrevivemos, apesar de muitos de nós ainda hoje sofrerem de subsequentes terríveis mazelas. (...)

13 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5103: Direito à Indignação (3): Abaixo de cão, isto é uma vergonha (Eduardo Campos)

(...) Estou chocado, mas não surpreendido, pois nós, os ex-Combatentes, sempre fomos tratados abaixo de cão pelos governantes deste país. Estou reformado à 4 anos e o primeiro valor que recebi do Suplemento Especial de Pensão - Antigos Combatentes foi de 168,00 €, em 2008 a quantia subiu uns Euros para 176,49 € (ver carta em anexo) e em 2009 (carta também em anexo) desceu para uns míseros 150,00 €. (...)

10 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5093: Direito à indignação (2): Quem se preocupa com a situação dos antigos combatentes? (Liga dos Combatentes / Magalhães Ribeiro)

(...) Camaradas, é com o título em epígrafe, que a revista “Combatente”, Edição 349 de Setembro de 2009, propriedade da Liga de Combatentes, em completa página 5, revela uma carta que foi endereçada a todos os partidos políticos nacionais. (...)

7 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5072: Direito à indignação (1): Abaixo de cão, isto é uma vergonha! (Mário Pinto)

(...) Acabo de receber uma carta da Segurança Social, que me informa sobre o suplemento especial de pensão, que mereço como ex-Combatente desta Lusa Pátria. Fiquei estupefacto pelo modo de cálculo para a sua atribuição, dado que o mesmo me corta, e creio que a todos os Camaradas em geral, em relação ao ano anterior, cerca de 50% do valor recebido. Isto é uma injustiça indigna e revoltante de todo o tamanho, que nos é prestada pelos nossos (des)governantes em relação a nós - Veteranos de Guerra. (...)

Guiné 63/74 - P12674: Parabéns a você (687): José Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 2 de Fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12665: Parabéns a você (686): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12673: Manuscrito(s) (Luís Graça) (18): Gostei de voltar a Tavira (Parte I): A estação da CP














Tavira > 2 de fevereiro de 2014 > Estação da CP


1. Julgo que não  mudou muito, a estação da CP, no Largo de Santo Amaro, a escassas centenas de metros do quartel da Atalaia (onnde ficava o CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos)... Lá está o velho relógio para mostrar que o comboio nunca chega(va) à tabela, os azulejos, os bancos de madeira... Os carris são novos... Ronceiro é o comboio, ronceira era a vida da gente...

Levávamos um dia a chegar até aqui... Quem vinha da Oeste estremenho, como eu, das Caldas da Rainha, do Bombarral ou de Torres Vedras,  apanhava a linha do Oeste, até Lisboa, estação do Rossio; depois um "cacilheiro" até ao Barreiro, linha do Alentejo, linha do sul, linha do Algarve... Não me perguntem as estações: sabia-lhas de cor e salteado quando fiz o exame da 4ª classe, na Lourinhã, e depois o exame de admissão ao liceu, em Lisboa ... As estações do caminho de ferro, os rios e os seus afluentes... O que eu já não me lembrava era do Rio Séqua  que muda de nome para Rio Gilão ao chegar à ponte romana da cidade deTavira. Vem lá  Serra do Caldeirão... Sabia, isso sim, que o Gilão desagua na Ria Formosa,  no sítio das Quatro Águas, para onde fui/fomos  muitas vezes em marchas forçadas, para chafurdar nas salinas, como parte do programa de instrução militar de qualquer valoroso e brioso miliciano, com altíssima probabilidade de ir molhar os "cueiros" às bolanhdas da Guiné...

O interior da estação tem um ar mais lavado, um painel de azulejos, pintados à mão,  com a mítica ponta romana sobre o Rio Gilão cujo empredado também ajudámos a polir, e em segundo plano a bela Tavira do casario branco e das torres das igrejas... Destaque para a torre sineira  da Igreja de Santa Maria do Castelo, construída no séc. XIII, no local da primitiva mesquita, no recinto amuralhado do velho castelo... Não tenho a certeza, mas paraceu-me que o gigantesco relógio, quando por lá passei, no largo do Abu-Otmane, estava parado desde esse longínquo dia em que deixei Tavira, a caminho de Castelo Branco, no BC6, já com o posto de 1º cabo miliciano, nos princípios do ano de 1969...

Lá fora, à saída da estação, um conjunto escultórico, em bronze, em forma de dois "cata-ventos": ele, o militar que diz adeus, talvez definitivo e com um nó na garganta; e  ela, a linda morena de Tavira que ficava, em terra, e quem sabe,,, com uma sofrida história de amor para contar, 40 anos depois aos seus netos...

O trabalho artístico data de 2001 e é da autoria do artista belga Francis Tondeur. É uma homenagem do município de Tavira à "memória militar" da cidade cuja origem se perde nos tempos em que fenícios,  e depois romanos, e depois mouros, e depois cristãos lhe deram corpo e alma... É uma belíssima e sentida homenagem ao "passado militar [mais recente] da cidade, embelezando com os cata-ventos que marcam o movimento, a luz e a dinâmica dos contactos desta terra"...

A Alice Carneiro e os meus cunhados Nitas (irmã da Alice) e Gusto acompanharam-me neste fim de semana de "regresso ao passado", às minhas já desfocadas  recordações do tempo de tropa que aqui passei. Fiz, no quartel da Atalaia, no CISMI, a especialidade de armas pesadas de infantaria, no último trimestre de 1968...  Fiz questão de redescobrir e revisitar o trajeto e os lugares...

Em Tavira já tinha passado algumas, em férias, como apressado turista, mas nunca com a intenção de revisitar os lugares da minha memória de miliciano...  São memórias (manuscritas) que ficam para os próximos postes... 

Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P12672: Tabanca Grande (424): Carmelino Cardoso, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 2701/BCAÇ 2912, Condutor ao serviço do então Major Carlos Fabião, (QG/Bissau, 1970/72), grã-tabanqueiro n.º 644

1. Mensagem, de 27 de Janeiro de 2014, do nosso camarada e novo tertuliano Carmelino Cardoso, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 2701/BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72), que cumpriu a sua comissão de serviço no QG/Bissau como condutor do então Major Carlos Fabião:

Bom dia Luís Graça,

Só agora me é possível responder à tua satisfação e com razão, de me responderes, pois fui mais um militar que andava perdido e foi encontrado... e que tenho como me pedes muito para contar.

Vou então contar a razão porque fiquei sempre em Bissau.

Quando assentei praça no CICA 4 em Coimbra, todos nós, os 600 condutores, já sabíamos que íamos todos para o ultramar, razão pela qual um, mesmo na instrução, desertou.

Se fosse hoje eu fazia o mesmo, mas, naquela altura pensei que ele nunca mais via o sol se fosse descoberto. Puro engano porque logo a seguir veio o 25 de Abril.

Mas continuando, depois de ser incorporado na CCAÇ 2701/BCAÇ 2912, fui para a Guiné.
Éramos então 8 condutores na nossa Companhia e, já a caminho no barco Carvalho de Araújo, o nosso comandante de Companhia mandou formar a mesma para dos oito condutores tirar dois para ficarem em Bissau... Foi difícil escolhê-los porque eram todos casados.

O Comandante começa a coçar na cabeça e diz:
- Homens casados com um filho um passo em frente...

Demos todos. Mais coçou a cabeça como a querer arrancar os cabelos.
Repetiu:
- Homens casados com dois filhos um passo em frente...

Fui eu o único.
Fui então escolhido para ficar em Bissau por seis meses, mas depois de estar no quartel do Comando-Chefe, aqueles oficiais nunca me deixaram sair. Devido à minha prontidão e de ser muito prestável, eles tinham muito poder pois era dali que saíam todos os projetos para a guerra no mato..
Continuando... e ficou mais um condutor que era meio deficiente.

Quando chegámos a Bissau, e como era costume com todos os batalhões, fomos para o quartel dos Adidos, para as tendas, a fim de nos organizarmos e dali partirmos para o mato.

Entretanto o meu batalhão partiu para o mato e eu fiquei nos Adidos com as instruções de aguardar que alguém me fosse buscar. Fiquei por ali esquecido durante uns 5 dias, dormia em cima de um jipe e ia comer ao quartel mas ninguém sabia.

Ao sexto dia então lá aparece alguém a chamar pelo meu nome e fui para o QG que ficava no topo da rua de Santa Luzia. Dali fui escalado para o então Comando-Chefe que ficava na Amura, na Polícia Militar.

Bissau - Fortaleza D'Amura
Foto: Didinho.org, com a devida vénia

Estava na secretaria um capitão com apenas a 4.ª classe, a quem muito devo, que era quem dirigia a colocação de todos os condutores. Este capitão era alentejano e muito humano... muito bom para todos os militares. Enquanto for vivo nunca me esquecerei dele... e digo mais, quando me lembro dele vêm-me as lágrimas aos olhos. Eu devo-lhe muito... pois o que eu lá passei a ele lhe devo. Até me deu um louvor (uma viagem à metrópole no avião militar).

Continuando... depois de andar por ali uns seis messes, sem colocação... andava aos recados praticamente e quando algum condutor adoecia ia eu fazer o serviço, pois havia duas carrinhas para transportar os oficiais da messe para o quartel.

Em determinada altura o capitão chamou-me e disse-me com aquele tom calmante alentejano e a rir-se:
- O senhor Carmelino vai para condutor do nosso Governador, para o General Spínola.

Foi então que lhe pedi para não me escalar para tal e fui então para condutor do Sr. Major Fabião.

O meu trabalho era de todos os dias com um Volkswagen 1300 ir buscar o Major à messe e levá-lo para o quartel, tinha que fazer as compras alguns dias na semana com a esposa e tinha que lavar o carro todos os dias porque não podia andar sujo, enfim... trabalhos de um recruta.

Ao Major Carlos Fabião [foto à direita, ainda com o posto de Capitão], que Deus o tenha lá no paraíso, também devo muito...
Contei- lhe a minha precária vida de militar, com mulher e dois filhos na metrópole, e pedi se me dispensava do serviço todas as tardes e me dava autorização de conduzir um táxi, pois tinha lá tirado a carta profissional há pouco tempo.

Bom Major... aprontou-se logo... fiquei dispensado mas com a condição de cumprir a minha obrigação do dia a dia e o carro sempre limpo, tendo o cuidado de lhe entregar a chave com o carro sempre com gasolina suficiente, pois ele fazia muitas viagens para o aeroporto.

Fiquei então dispensado e conduzia o táxi das duas da tarde até à meia noite.
Eu era desarranchado, comia num restaurantezito na rua de Santa Luzia perto do QG e também dormia numa tabanca perto da porta de armas do QG. Ganhava 950 escudos por mês, mais 150 de prémio de condutor. O que me valia era o dinheiro que eu ganhava no táxi, pois só o comer na pensão era 950 escudos por mês.


Carmelino Cardoso junto ao Mercedes do COM-CHEFE, que conduziu durante algum tempo

Para finalizar, quero aqui referenciar, que enquanto for vivo, não esqueço quatro pessoas a quem eu devo muito... São elas o Capitão responsável pela distribuição das viaturas; O Sr. Major Fabião; um Alferes que estava na secretaria, que era daqui de Aveiro, cuja esposa era de Macau e tinham oito filhos que pareciam chineses. Tenho muita pena de nunca mais ter sabido nada dele nem dos filhos, pois ainda deve ser vivo. Apesar de me ter ajudado, eu também lhe fiz muitos favores porque os alferes não tinham direito a viatura mas eu também lhe levava os filhos à escola e ia buscar o comida à messe dos oficiais para todos eles. Era um jeito que eu fazia pois ficava a caminho.

Também nunca me esqueço do dono da tabanca onde eu dormia, chamava-se Manuel e tinha três mulheres... eles era de cor negra, respeitava-me muito e eu gostava dele porque era muito educado... aliás que me desculpem os meus camaradas, mas eu tenho um carinho muito especial por aquela gente da Guiné, que era uma gente muito humilde. Gente de Bissau, com quem eu falava muito quando ia às compras à praça, no pilão e até a João Landim, salvo erro era assim que se chamava esta terra que distancia uns 20 kms de Bissau, já que mais para a frente eu não ia porque tinha medo da Guerra.
De qualquer maneira, destas quatro pessoas, das que já morreram, que Deus atenda à minha súplica e as tenha no Céu, em paz e as recompense do bem que fizeram. Às que estão vivas, que devem de estar, este Alferes e os filhos, aqui vai um brande abraço de Aveiro.

Para o Manuel, dono da tabanca em Bissau, um grande abraço, gostava de visitar.

E para o governo português, que seja digno de recompensar com uma pensão vitalícia os veteranos de Guerra que deixaram mulher e filhos para ir defender aquilo que o próprio governo deu de mão beijada!
E para todos aqueles que lerem esta mensagem, um grande abraço, que que nunca esqueçam que é mais fácil ganhar uma guerra com uma psicologia do que com as armas!

Presentemente toco saxofone Alto e barítono na Mini-Banda da Silveira - Oiã - Aveiro e normalmente tocamos em festas aqui pelos arredores, como arruadas, missas e procissões, além de outros eventos. Daí a minha foto actual, também fardado.

Um abraço para vocês todos!
Carmelino Cardoso


2. Comentário do editor:

Caro camarada Carmelino,

Brilhante e completa apresentação nos fizeste tu.

Em tempos foi publicado um poste resultante de uma mensagem que nos mandaste (P12486) onde mostravas a tua revolta pelo facto de teres de deixar esposa e dois filhos para fazeres a guerra.
Se era difícil para quem era solteiro, imagino a dor e a mágoa de quem deixava uma família formada, temporariamente desorganizada, quando não para sempre.

Felizmente a sorte sorriu-te e fizeste a tua comissão em Bissau, longe do perigo e sem sobressaltos.
Nem tudo foi mau para ti.

Quanto ao reconhecimento monetário pelo nosso esforço no ultramar, caro amigo Carmelino, esquece e pede para que te tirem o menos possível daquilo que agora auferes.

Para me consolar, costumo pensar que não foram "estes" que nos mandaram para a guerra, foram os "outros".

Como parece que estás apto a mandares-nos os teus textos e fotos, já sabes que estamos ao teu dispor para os receber e publicar.

Em nome dos editores e da tertúlia, deixo-te um abraço de boas-vindas e os votos da melhor saúde para continuares a tua faceta cultural na música.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12658: Tabanca Grande (423): Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), natural da Lourinhã, a viver em Fafe, grã-tabanqueiro nº 643

Guiné 63/74 - P12671: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493) (8): Tempos de Bissau - Estórias opostas

1. Em mensagem do dia 30 de Janeiro de 2014, o nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, MansamboFá Mandinga eBissau, 1972/74), enviou-nos mais um Pedaço do seu tempo.

Amigo Carlos
Votos de boa saúde, é o que te deseja este teu camarigo.
Hoje envio-te um retrato… daquele que foi o nosso tempo de Bissau, com o fim da comissão a parecer cada vez mais distante. Se no mato foi difícil, na cidade para nós também não foi nada agradável.

Um abraço.
António Eduardo Ferreira


PEDAÇOS DE UM TEMPO

8 - TEMPOS DE BISSAU - ESTÓRIAS OPOSTAS

Nos últimos dias de Janeiro de 72, acabado de chegar a Bissau, e de me ter “instalado” nos Adidos, passou pouco tempo sem me arranjarem serviço, Cabo da Guarda, à movimentada porta de armas.

Autêntico corrupio de militares e viaturas a entrar e sair.
Na Metrópole nunca tal serviço tinha feito.
Um pouco atrapalhado mas lá me fui desenrascando. Ao início da tarde apareceu um casal e duas crianças num carro civil para entrar, pedi ao senhor para se identificar, ele mostrou-me o bilhete de identidade, onde se via alguém fardado com uma boina como usavam os sargentos e oficiais, quando vestiam aquela farda cinzenta… não cheguei a ler as informações que constavam no cartão, imediatamente fiquei com a ideia que era um sargento, pessoa que aparentava ter aí quarenta anos, bati-lhe a pala e mandei-o entrar.

Só depois comecei a pensar no disparate que tinha feito, seria mesmo militar? Seria polícia… Quem era não cheguei a saber, mas ninguém me exigiu qualquer explicação, tudo correu bem.
Já durante a noite, o furriel que estava de serviço chamou-me para ir com ele fazer a ronda, a arma que me tinham distribuído naquele dia era uma pistola com o carregador quase do tamanho do cano, a coronha, ou lá o que era aquilo era uma verguinha dobrada, eu nunca tinha pegado em tal coisa. Estava ali um militar bem preparado se tivesse que a utilizar, mas tal não foi necessário, tudo correu bem, depois de passarmos por dois postos de sentinela, o furriel disse-me que não era preciso continuar a ronda e voltamos para a porta de armas.

Porte de Armas dos Adidos
Foto: Rumo a Fulacunda, com a devida vénia

Se no início de setenta e dois a guerra ainda era “fora” de Bissau, já não era bem assim no início de setenta e quatro, quando a nossa companhia já se encontrava na cidade. O rebentamento de um engenho explosivo nas casas de banho do Quartel-General e um outro que rebentou no Café Ronda, onde fui algumas vezes.
Certa noite no Pilão houve tiroteio durante algumas horas, ao ponto da nossa companhia ter sido mobilizada com todo o pessoal disponível nas viaturas pronto a sair. Cerca da uma hora da noite a “festa" acabou e o nosso pessoal desmobilizou.

A insegurança e o medo teimavam em não nos deixar. Foi com esse ambiente que vivemos o resto da comissão em Bissau, onde foram vários os serviços que a nossa companhia teve de fazer: Guarda ao Palácio do Governo (à data o general Bettencourt Rodrigues era o Governador), patrulhamento apeado em grupos de três, de noite, nos arredores da cidade, serviço ao cais quando chegava algum barco da Metrópole, uma coluna a Farim, (o único serviço que os nossos condutores fizeram de condução durante o tempo que estivemos em Bissau), serviço no paiol, guarda aos depósitos de onde era feito o abastecimento de água, serviço ao arame que circundava alguns sítios da cidade, onde tivemos uma baixa por acidente, o furriel Trindade, etc.

Só os criptos e um ou dois elementos da secretaria continuavam o serviço normal, o resto do pessoal passou a fazer os mesmos serviços.
A nossa companhia, depois de vir de Cobumba, teve como prémio fazer todos estes serviços e, dois ou três dias antes de regressarmos à Metrópole ainda fomos escalados para fazer mais uma coluna a Farim. Depois de termos a coluna preparada para sair, onde iam todos os condutores que tivessem viatura, por volta da meia-noite fomos informados que afinal tínhamos sido dispensados. 

Certo dia calhou-me estar de Cabo da Guarda à entrada do paiol, onde existiam umas pequenas instalações para nos recolhermos quando não estávamos de serviço. Para além de um telefone interno havia também uma lista com os nomes das pessoas que estavam autorizadas a entrar.
A certa altura chega à entrada um jipe da PM com um furriel e três soldados, o furriel sai em passo acelerado e diz-me que ia falar com o furriel que estava de serviço no paiol. Mandei-o parar e perguntei-lhe se o nome dele contava da lista das pessoas que podiam entrar, disse-me que não.
- Então não entra sem eu falar com o furriel.
- Mas é costume eu entrar.
- Pois, mas hoje não entra.

Enquanto não recebi ordens para deixar entrar, o camarada da PM, visivelmente contrariado, esperou à porta.
Não sei se seria consequência de quase vinte e seis meses de Guiné ou por recordar ainda a situação que vivera há cerca dois anos, quando nos Adidos deixei entrar alguém só porque supus ser um sargento, ou então se foi mesmo por ser da PM.

Não tinha nada contra a PM, de que fazia parte um vizinho e meu amigo.
Numa das vezes que vim de férias à Metrópole andei duas horas no jipe com eles em patrulha, quem me visse no meio daquele pessoal, talvez pensasse que tinha sido apanhado a infringir as regras militares, mas não, andava a passear.

Alguns, talvez por desconhecerem o que era de facto viver a guerra no mato, tinham atitudes que os homens chegados do interior não apreciavam mesmo nada. Mas era também a missão que alguém lhes exigia, ainda que alguma vaidade por vezes os tornasse pessoas pouco recomendáveis.
Mas nem todos eram assim…

António Eduardo Ferreira
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12606: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira) (7): Estórias de Mansambo onde a guerra foi outra

Guiné 63/74 - P12670: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (8): Gadamael em julho de 1967 e em outubro de 1968



Guiné >  Região de Tombali > Gadamael Porto > CART 1659 (1967/68) > Cartão de boas festas relativo ao novo ano de 1968

Foto: © Mário Gaspar (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Mário Gaspar [, foto à esquerda], com data de 26 de janeiro último:

Caros Camaradas e Amigos

Envio para o Blogue uma foto inédita, eu possuía uma maior mas desapareceu, que mostra Gadamael em 1967. Deve ter sido tirada em Julho/Agosto de 1967.

A outra que enviei e está no Blogue, foi tirada mais ou menos do mesmo local, e com a mesma máquina - curiosamente comprada no destacamento de Ganturé - a um Alferes Miliciano que,  como era de rendição individual, ficou com a CART 1659 em Ganturé - e com quem muito falei. Foi ele que nos orientou. Um camarada de Gadamael da CCAÇ 798 informou-me que o nome do Alferes Miliciano é Santarém e não Coimbra,  como eu julgava.

Um abraço, Mário Vitorino Gaspar

2. Recordações de um "Zorba" > Gadamael Porto em em meados de 1967

Eu, Mário Vitorino Gaspar, ex Furriel Miliciano de Artilharia n.º 03163264, com a Especialidade de Explosivos de Minas e Armadilhas e também artista em fornilhos, da CART 1659 em Gadamael Porto e Ganturé, envio esta foto muito danificada, encontrada entre os destroços e tirada por mim, que serviu para que muitos “Zorbas” enviassem as “Boas Festas e Ano Novo Muito Feliz” em 1967.



Guiné >  Região de Tombali > Gadamael Porto > Aquartelamento e tabanca em meados de 1967,  à chegada da CART 1659

Foto: © Mário Gaspar (2013). Todos os direitos reservados.


Observando a foto com mais atenção:

(i)  Mesmo do lado direito está um casarão de antigos colonos, onde funcionava a Secretaria, a Messe de Sargentos e onde dormiam alguns Sargentos;

(ii) À esquerda do mesmo está aquilo que denominávamos a Oficina Auto, onde muita viatura na sucata foi recuperada, tirando peças de umas para outras;

(iii) Também no lado esquerdo, parecendo branco, funcionava aquilo a que chamávamos de Cantina;

(iv) Logo a seguir, do mesmo lado esquerdo está o barracão onde funcionava o “Refeitório” (?);

(v) No limite do canto superior esquerdo vê-se,  mal, um outro casarão dos colonos onde funcionava o Comando da Companhia;

(vi) Do lado direito ao fundo avistam-se as moranças.

Tudo foi melhorado pela CART 1659, e pode-se ver através de uma foto que está no Blogue que eu enviei.
            
Fico bastante admirado com Gadamael Porto posteriormente a Outubro de 1968.



Guiné > Região de Tombali > Gadamael Porto > CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68) > Aquartelamento e tabanca no final da comissão, em 1968

Foto: © Mário Gaspar (2013). Todos os direitos reservados.


3. Mensagem de Mário Gaspar, enviada a 10 de janeiro último ao Manuel Vaz, com conhecimento aos editores do blogue:


Amigo Manuel Vaz e Luís Graça;

Eu, ex Furriel Miliciano de Artilharia n.º 03163264, que cumpri a Comissão de Serviço em Ganturé (de Janeiro a Julho de 67) e depois em Gadamael Porto até Outubro de 1968, estou imensamente interessado em conhecer o que foi Gadamael Porto depois desta data, até à Independência da Guiné.  Com certeza, esperando pelo "trabalho de pesquisa sobre os Pelotões Independentes (Pel Rec, Pel Art e Pel Can s/r) que passaram por Gadamael", que o camarada Manuel Vaz está a fazer.

Tenho muitas dificuldades em entender o que se passou depois dos finais de 68.

Eu não me encontro adormecido, estou muito interessado em conhecer a História de Gadamael Porto. Falei inclusive com alguns amigos que pisaram aqueles terrenos depois da comissão da CART 1659. Podes ver a foto de Gadamael que enviei para o blogue em 68 - tirada por mim - e fico pasmado com as fotos de Gadamael posteriores.

Decerto que muitas família da ex-República da Guiné Francesa se refugiaram naquele espaço. Gadamael parece quase uma cidade. E os abrigos? O arame farpado? A paliçada? Voltaram as valas, que a minha Companhia nem sequer conheceu? O terreno estava armadilhado?

São poucas, das muitas questões que eu gostava conhecer sobre Gadamael Porto.

Manuel Vaz, ficas com o meu gmail.  Um abraço para os camaradas da Tabanca Grande Manuel Vaz e Luís Graça.

Do camarada Mário Vitorino Gaspar

Nota: Com conhecimento ao camarada da Tabanca Grande Luís Graça

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12579: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (7): Adenda á minha história de "morto-vivo"

Guiné 63/74 - P12669: Notas de leitura (559): "Guerra Colonial - Uma História por contar", edição da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Externato Infante D. Henrique (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Agosto de 2013:

Queridos amigos,
É de todos sabido que o silêncio ou indiferença perante uma patranha de contornos revoltantes é manifestação de cobardia ou de espírito acomodatício a quem conhece o fundo e a forma da realidade infamada.
O assunto que vos ponho à reflexão é de como agir e denunciar uma declaração ignóbil, daquelas que serve de rastilho para olhar com preconceito o que foi a vida de um combatente em África.
A indignação, por si só, não leva a ponto nenhum. O que talvez fosse útil debater é como agir perante uma barbaridade como aquela que aqui vos conto.

Um abraço do
Mário


Guerra colonial: dissociar o fidedigno da patranha

Beja Santos

A Biblioteca da Liga dos Combatentes e a sua entusiasta responsável, a Teresa Almeida, é um local de grandes surpresas. Como esta publicação editada, em 1992, pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.

Na época, uma das linhas de modernidade da reforma educativa passava pelos projetos didático-pedagógicos que contribuíssem para cimentar uma relação mais estreita entre a escola e a comunidade.
Como se pode ler na apresentação do Presidente da Câmara:
“A memória de uma comunidade não pode ser apagada. Tem de ser permanentemente redescoberta para que o futuro do progresso e bem-estar que desejamos esteja isento de traumas, dramas… e tragédias”.
O trabalho foi desenvolvido por alunos de Antropologia Cultural do Externato Infante D. Henrique.
O professor diretamente envolvido esclarece:
“Muitos dos alunos são filhos de ex-combatentes que viveram e conheceram situações particulares de verdadeiro drama, são descortinarem com clareza as razões deste corredor cinzento da nossa História (…) Este trabalho traduz uma perspetiva vivida pelos protagonistas e figurantes de um acontecimento que marcou a nossa memória coletiva recente”.

Foram inquiridos ex-combatentes, entregaram aos alunos fotografias das suas vivências e comentaram-nas. Escolhi exclusivamente as três imagens que se referem explicitamente à Guiné.

A primeira tem a ver com a ida de um contingente que ia construir um novo quartel em S. João, em frente a Bolama. No decurso de uma flagelação, um soldado deixou cair o capacete, na ânsia do apanhar desceu da viatura e uma granada de mão feriu-o gravemente da cintura para baixo.


A segunda refere o ataque de 17 de Outubro de 1968 à base de Bissalanca. O inquirido refere que se encontrava no centro de mensagens do quartel-general. Chegara uma mensagem zulu da região de Bafatá, estava ali a decorrer um grande ataque inimigo, foi necessário ir à base de Bissalanca. Quando aqui se dirigiu, assistiu ao forte ataque à base aérea. Refere que houve sete vítimas mortais, do nosso lado, que houve feridos graves.



A terceira imagem reproduz-se na íntegra, tal é o desconchavo do que ali se diz. O inquirido refere que atacaram uma base inimiga junto ao Senegal e que despacharam milhares de inimigos. Como é evidente, num trabalho desta natureza um professor não pode confrontar a verdade das afirmações, se se ia fazer um quartel em S. João, se houve um ataque à base aérea de Bissalanca. Mas, creio eu, não pode ficar insensível à afirmação de “despachámos milhares de inimigos”, coisa que nunca aconteceu em nenhum teatro de operações nem podia acontecer, atendendo à natureza daquela guerra. Vamos supor que ninguém deu pela barbaridade ou aceitou a informação como plausível. É de questionar como tal declaração é percecionada pela opinião pública e os preconceitos que pode suscitar a patranha ou farronca de quem, entrevistado por gente inocente, se julga à vontade para proferir pesporrência. Vamos admitir que se trata de um caso isolado. Mas ninguém leu esta brochura que foi distribuída por uma autarquia, ninguém reagiu, ninguém se consternou com a gravidade da declaração ofensiva?



Assunto que nos devia fazer pensar, tanto quanto me parece.
A quem de direito.
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de Janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12659: Notas de leitura (558): "Ideia Geral do Valor Estratégico do Conjunto Guiné-Cabo Verde e da Ilha de São Tomé", por Luís Maria da Câmara Pina (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12668: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (31): Natália Correia e os filhos dos retornados (vingativos)

1. Mais um apontamento do caderno de notas do nosso mais velho, António Rosinha [,  foto à esquerda; fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou, como ele gosta de dizer com sentido de humor, colon, em Angola, de 1959 a 1974; cooperante na Guiné-Bissau, de  1979 a 1993; membro da nossa Tabanca Grande desde 29 de novembro de 2006]:


Penso que Natália teve um raciocínio correcto, mas que se pode aplicar menos em Portugal mas mais à França (pied-noir). (Paris de vez em quando já arde).

A insularidade (de Natália) pode levar a sentimentos de isolamento e claustrofobia, mas também a sentimentos de sossego, tranquilidade e comodidade e segurança- Mas também a insularidade pode levar a capacidades de auto-suficiência, de capacidade de sacrifícios e correr riscos e “fugir dalí para fora" e enfrentar todos os perigos.

Os insulares pensam mais e agem diferente de um continental.

Aqui em Portugal continental também somos muito pen-insulares, mas não dá para raciocinar como Natália Correia.

Os açoreanos têm muitos escritores, jornalistas e políticos que sempre sobressaíram, talvez por serem insulares. Exemplos como os primeiros presidentes da República e muitos deputados, e escritores como Vitorino Nemésio, Antero de Quental e Natália Correia.

Depois de 800 anos de monarquia só um insular podia imaginar-se presidente de uma República, da noite para o dia com o mesmo à vontade comque Natália se expunha na Assembleia da República, que pouco antes era só de homens. (Não digo que ilheus sejam loucos…mas).

Habituei-me a ouvir açoreanos, caboverdeanos e madeirenses, só não ouvi bijagós porque não falavam nem crioulo nem português nem eu bijagó.

Dizia no 26 de Abril um madeirense em Angola: é melhor fazermos as malas porque a partir de agora a guerra de Angola deixa de ser nossa, e já não temos Salazar.

Embora esse mesmo madeirense possa aventurar-se a permanecer, mas o raciocínio foi imediato. (Eu aproveitei o conselho do madeirense)

E nós portugueses quando nos metemos em assuntos da Europa, cada ministro devia ter um conselheiro ilhéu mesmo que fosse inglês, também ilheus.

Digo isto tudo porque Natália Correia, que era muito lida no tempo colonial em Angola, na revista “ Notícia”, escreveu sobre os filhos dos retornados algo que dificilmente um continental escreveria.

Quem tem divulgado muito as curiosidades de Natália Correia é um filho de retornado, Fernando Dacosta, no livro “Botequim da Liberdade”, e circula pela internet.

Também “filho de retornado” foram pessoas como oficiais do MFA (Otelo),  generais como o falecido Soares Carneiro, candidato a Presidente, do amigo de Natália, Sá Carneiro, do futebol Carlos Queiroz, e tudo o que se diz Peyroteo, dos jornais e televisão é melhor nem enumerar tal a quantidade de filhos e até netos de retornados.

Será que os filhos e netos de retornados podem vir a ser aquilo que diz Natália? Ela diz isto:

"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder.Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"

Pois bem, há filhos de retornados totalmente revoltados que circulam entre nós, que se negam a considerar-se igual a um qualquer “indígena” beirão, minhoto ou transmontano ou açoreano.

Muitos filhos e netos adultos, de retornados, no 25 de Abril nem todos se fixaram em Portugal, os mais preparados circularam como “cooperantes” pelas colónias e emigraram para o Brasil, Austrália, Canadá e mesmo para a Europa.

Em geral só se houve falar em gente dessa com sucesso na vida.

Só na Guiné Bissau eram retornados ou filhos deles, quase todos os engenheiros, mecânicos etc. que fizeram as obras maiores de Luís Cabral: na Tecnil, Soares da Costa, Somec, Visabeira etc.

Foram para o Brasil, filhos de retornados, para quem “ser português” nem querem que alguém pense tal coisa deles.

Este blog é para contar o que se viu e viveu, e como parte da minha vida foi trabalhar com retornados, filhos e netos dos mesmos, no Brasil, na Guiné, na Madeira, na Expô 98, dou muito sentido ao que diz Natália Correia. Só me pergunto onde é que ela se foi informar tanto.

Será que foi em viagens à França? É que em Portugal foi uma minoria que os nossos «pieds-noirs» [, pés negros, termo depreciativo, uasado em França, para os 'retornados da Argélia, L.G.] que ficaram por cá pois a maioria dispersou-se, ao passo que a França recolheu tudo e todos, e já se viu o efeito da transfiguração e africanização e islamização da França.

Só amenizo as afirmações de Natália, na medida em que nós próprios já em maioria somos bisnetos de retornados do Brasil, Angola, India, só que agora foi um retorno um pouco mais intenso, mas mesmo assim, reduzido.

Mas como há filhos de retornados que nos consideram “muito pequeninos”, para não dizer nomes que tive que ouvir, há muitos que estão integrados e nem ligam para «estas coisas» da Natália Correia.

Antº Rosinha

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Nota do editor:

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12667: Em busca de... (236): Pessoal da madeirense CCAÇ 4945/73, mobilizada no BII 19 do Funchal (Bernardino Laureano)

1. Mensagem do nosso camarada Bernardino Laureano, TCor Ref, que integrou a CCS/BCAV 3846, Ingoré, 1971/73, actualmente Presidente da Direcção do Núcleo do Funchal da Liga dos Combatentes, com data de 1 de Fevereiro de 2014:

Meu Caro Amigo e Sr. Luís Graça e claro Amigos Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro
Bom Dia e votos de saúde e de Bom Ano para Todos e Suas Exmas. Famílias.

Sou o Ten Cor Bernardino Laureano que em tempo já trocámos mensagens sobre a n/estadia na Guiné, aquela Guiné que ainda hoje temos bem gravada nos nossos pensamentos, por tudo o que lá passámos e pelas recordações que guardamos, algumas que nos deixam saudades, principalmente das gentes que estiveram sempre a nosso lado.

Integrei o BCav 3846 que esteve na Guiné desde Abril de 1971 e saiamos em Março de 1973. Pertenci à CCS e cumpri a minha Comissão no Ingoré, já que o Sector do Batalhão começava em Varela e se estendia a norte do Rio Cacheu até Barro.

Sou actualmente o Presidente da Direcção do Núcleo do Funchal da Liga dos Combatentes, funções que me ligam a um número muito grande de Camaradas que serviram as FA nos ex-Territórios Ultramarinos. Por outro lado, dadas as minhas funções tento apoiar todos os nossos Amigos que me solicitam ajuda, como é o caso que me leva até junto de vós e que passo a expor desde já:
Preciso de saber se a CCaç 4945/73 e o Comando de Agrupamento 6009, a primeira que esteve na Guiné desde Setembro de 1973 e regressou ao Continente em 9 de Setembro de l974, enquanto que o Cmd Agr 6009 chegou a Moçambique em Dezembro de 1973 e regressou no final de 1974, se costumam reunir em convívios e quais os contactos possíveis.

Em relação à Guiné creio que o meu pedido pode ser mais fácil na medida em que no vosso Blog de 22 de Janeiro de 2012, faz referência a Fernando Gomes Pinto da CCAÇ 4945/73 (Guiné, 1973/74), Alferes Mil Cmdt do 2.º Pelotão.

Esta minha solicitação insere-se no pedido de um ex-combatente de nome Sebastião da Silva de Freitas, pertencente ao 1.º Pelotão que tinha como seu Cmdt o Alferes Mil Valente.

Este Camarada quer reunir-com os seus antigos Companheiros ou no saber notícias deles.

Agradeço antecipadamente qualquer notícia possível e envio para Todos Vós um grande abraço de amizade, estima e consideração
Laureano


2. Comentário do Editor:

Caro TCor Bernardino Laureano, muito obrigado pelo seu contacto.

Em relação ao pedido que nos faz, a não ser publicá-lo aqui, esperando que alguém nos possa dar uma ajuda, nada mais podemos fazer uma vez que não há ninguém na tertúlia que tivesse integrado a CCAÇ 4945/73. Tentei encontrar nos nossos arquivos o endereço do camarada Fernando Gomes Pinto, que em tempo nos contactou, mas também não tive êxito.

Lamentando não podermos ajudar, ficamos contudo à sua disposição.

Receba os nossos cumprimentos
Carlos Vinhal

Sobre a CCAÇ 4945/73

Reprodução da página 429 do 7.º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974)
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12636: Em busca de... (235): Nelson Silva, natural de Oliveira do Hospital, o qual terá pertencido a uma Companhia de Comandos, e que terá desertado (Rui Poeira)... Resposta do nosso colaborador José Martins

Guiné 63/74 - P12666: Fragmentos de Memórias (Veríssimo Ferreira) (12): Era uma vez...

1. Em mensagem do dia 31 de Janeiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos este comentário para integrar a sua série Fragmentos de Memórias.


FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS

12 - ERA UMA VEZ...

Decidira ontem, não voltar a explorar a minha memória e até porque julgava eu que nada mais haveria para lembrar, só que hoje no post 12640, publicado na nossa Bíblia "Luís Graça & Camaradas das Guiné" li: "Eu Queria pra Brancos Voltar Governar Guiné de Novo".

Revolveu-se tudo cá dentro e então, cá venho incomodar-vos o intelecto.

E a esse propósito:
Vou-me encontrando de quando em vez, em convívios da Tabanca da Linha, com a rapaziada que esteve na Guiné e como não poderia deixar de ser a guerra vem sempre à baila, embora na maioria das vezes, relembrando locais por onde passámos.

Eu que vagar tenho, vou-me esforçando por entender o porquê daquele horror, que tantos mazelas custou a esta juventude, que nos anos 60 e 70 do Séc. XX teve de ir combater.
Refiro-me a mim próprio e aos bravos companheiros que partilhamos a mesa nos tais convívios atrás referidos e claro que a todos os que como nós estiveram depois, usufruindo daquelas férias em terras africanas.

Acontece que fui investigar e lá me apareceu um "austrolopithecus africanus", coisa assim mais macacal, do que dizem terem sido os nossos antepassados. Curiosamente os primeiros conhecidos teriam sido descobertos na África do Sul, afinal ali bem perto da nossa Guiné, (aqui no meu mapa está a 10 centímetros).
Posteriores estudos descobriram que na mesma época já existia uma raça melhor desenvolvida, inteligente e explorada, que ficou conhecida pelos "alentejanuspithecus", que personalizo e qu'até já utilizavam instrumentos para cavar a terra, tais como a enxada e o arado, coisas que permaneceram milhares d'anos, para proveito dos pobres patrões fascisantes. Entrementes agora, que estou a acender mais um cigarro cuido-me a ler: "Fumar pode reduzir o fluxo de sangue e provoca impotência".

Ora porra... e eu a julgar que era da idade, afinal parece que se deve ao facto de há 57 anos fumar.

Sim... porque comecei aos 14 com os "Provisórios", passando depois a meio do mês para os "mata ratos" e já mais no final do dito mês, até as barbas de milho ou folhas de balsa, devidamente moídas, serviam.

Mais tarde, (na minha Guiné) e somente a título informativo, passei para o "Paris"... "Três Vintes", logo após o que e considerando o invento dos filtros apensos à chucha, para o "SG Gigante" qu'era maior.

Nunca me deu muito jeito, confesso, foi o ter de embrulhar o conteúdo das onças de tabaco "francês" ou "superior", no papel "galo" ou "zig-zag" que no final, haveria de se lamber a mortalha e como uma vez cortei o lábio desisti dessa coisa do meter a língua de fora.

Bom... acho que me estou a afastar do tema.
Vamos lá regressar ao dito:
A afirmação desejo, que considero arrojada, dum jovem que poderá vir a ser alguém (assim o espero) não é inédita e outros já o tinham dito antes. Verdadeiramente e como disse um camarada combatente "ela já se deu... os brancos da droga já lá mandam".
De qualquer forma atrevo-me a propor que se consulte o seu povo através desta coisa nova a que chamam Referendo.
Tal já foi feito em países civilizados como na Austrália onde se perguntou se queriam ser independentes ou continuar ligados aos cinco tostões Britânicos. Preferiram a Coroa, por muito estranho que pareça e até mesmo ali em Gibraltar, local duma pedra grande, a população quis também ficar como nos antigamente.
Por isso digo: referendem e caso necessário, a gente volta sim senhor.

O IN sempre se fortaleceu com os nossos medos, só que agora o IN seríamos nós, eu pelo menos tenho-lhes umas ganas!!! Não para os combater, ou fazer qualquer mal, mas apenas para tentar educá-los, civilizacioná-los, ajudá-los enfim.

Em boa verdade, o que se está a passar lá, onde deixámos muito sangue suor e lágrimas e deste há muitos anos, ronda a bestialidade.
Bestialidade que usaram contra nós, só que a continuaram contra eles próprios, desde que lhes demos de mão beijada a independência. E não me venham com a história de que eles venceram, porque na verdade tal não aconteceu. Nós é que desistimos... nós oferecemos.

Nem vale a pena tentar tapar o sol c'a peneira pois que a verdade é só uma não duas ou três, como já tenho visto teóricos defenderem (sempre os mesmos que se escondiam debaixo dos GMC's e no ar condicionado).

(continua)

PS: - Continuarei a "estudar o porquê daquele horror... etc, etc, etc", prometendo-vos que de tal vos darei conhecimento.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12638: Fragmentos de Memórias (Veríssimo Ferreira) (11): Março de 1967, aproximava-se o fim da comissão de serviço

Guiné 63/74 - P12665: Parabéns a você (686): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12651: Parabéns a você (685): Luís Graça (Henriques), ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e fundador e Editor principal deste Blogue