quarta-feira, 13 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14611: Filhos do vento (30): Gesto de solidariedade com a associação “Fidju di Tuga” na Guiné (José Saúde)



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

Gesto de solidariedade com a associação “Fidju di Tuga” na Guiné,

“Filhos do Vento”

O repto lançado pelo nosso camarada e amigo Luís Graça lisonjeou-me. “Filhos do Vento” foi uma temática que mui honradamente trouxe à estampa e que surtiu efeitos deveras positivos. Como me dizia o Luís, “tu que és o pai dos “filhos do vento” (metaforicamente falando), tu grafaste a expressão, não queres ser tu, através do blogue e em articulação com a Catarina, a liderar uma pequena campanha de donativos para a associação?...”

Claro que sim, Luís! Tanto mais que em território guineense já está instalada uma comissão denominada “Fidju di Tuga” que visa exclusivamente ultrapassar barreiras e o assumir de danos que a guerra propiciou.

Hoje, ao viajarmos nas “asas do vento”, chegamos a um porto seguro e deparamo-nos com realidades que se reportam a um tempo de guerra que, nós jovens, vivemos com muita intensidade.

Falar do tempo da guerrilha na Guiné, um conflito onde coabitamos na primeira pessoa, é afinal um tema que nos absorve e que traz à tona das nossas memórias imagens de índole sentimental que ainda fazem literalmente parte de um baú de histórias vividas num palco adverso.

Porém, o conhecimento generalizado que todos nós ainda hoje perfilhamos de uma outra parte da guerra que não dava tréguas, remete-nos para momentos íntimos de prazeres amorosos onde não proliferava o amor de corações partidos mas, tão-só, mais uma “escapadinha” ao interior de uma mulher humilde, e quiçá honrada, onde o enlaço carnal era simplesmente mais um delírio de um “puto” com pouco mais de 20 anos.

Reconheço que o meu espírito humanista levou-me, a dada altura, trazer a público a “menina de Gabu”. Chamei-lhe mais uma semente dos “filhos do vento”. A jornalista Catarina Gomes, do jornal “O Público”, desenvolveu a temática e foi à Guiné e andou nos trilhos dos “filhos do vento”.

A sua reportagem teve um grande impacto e hoje já está constituída uma associação em Bissau que se intitula “Fidju di Tuga”. [Vd. aqui o seu blogue: http://fidju-di-tuga.webnode.com/]

Gentes que sempre sonharam conhecer o seu verdadeiro progenitor. É óbvio que têm pai, irmãos e família. A Catarina Gomes tem desenvolvido um excelente trabalho de aproximação com esses homens e mulheres que por lá ficaram.

Prepara-se para partir em breve, uma vez mais, a caminho da Guiné-Bissau. Presentemente não se pede caridade. Além disso o nosso blogue tem princípios que urge respeitar. Pede-se, apenas, um simples rádio, um gravador ou uma máquina fotográfica digital, por exemplo, para que esses bens façam parte da bagagem da Catarina.

Camaradas, respeitemos sangues portugueses que por lá ficaram e que vivem ansiosamente o indesmentível desejo de conhecerem alguém que lhes deu o ser.




Um abraço, camaradas

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

Guiné 63/74 - P14610: Efemérides (187): Cerimónias comemorativas do 13.º aniversário da inauguração do Monumento ao Torrienses Mortos na Guerra do Ultramar e do 89.º aniversário do Núcleo de Torres Vedras e Lourinhã, dia 31 de Maio de 2015, em Torres Vedras



C O N V I T E


Estimados amigos e Caros Consócios Combatentes

O Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras e Lourinhã, evocando o 13.º aniversário da inauguração do “Monumento aos Torrienses Mortos na Guerra do Ultramar” vai organizar uma cerimónia militar, em 31 de Maio próximo, em homenagem aos cinquenta e dois Torrienses, cujos nomes se encontram inscritos na base daquele monumento erigido em sua honra, no campo da Várzea. 

Simultaneamente comemora-se o dia do Núcleo, recordando o 89.º aniversário da instalação da Liga dos Combatentes em Torres Vedras.

As cerimónias terão a seguinte sequência: 

10h15 - Missa na Igreja da Graça, em honra dos Combatentes Torrienses falecidos; 
11h45 - Concentração junto ao monumento e recepção à Entidades convidadas; 
12h15 - Cerimónia Militar, com deposição de uma coroa de flores na base do monumento e prestação de honras aos combatentes falecidos; 
12h30 - Imposição de condecorações a antigos combatentes; 
13h00 - Almoço/convívio no restaurante “O Voluntário”. 

Nota: os familiares de antigos combatentes que assim o entenderem poderão trazer flores e a sua deposição na base do monumento será integrada na cerimónia.

Convocam-se, para estas cerimónias, todos os cidadãos em geral e, em especial os familiares dos combatentes que têm os nomes dos seus entes queridos gravados naquele monumento.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14587: Efemérides (186): 8 de maio de 1945: o fim da II Guerra Mundial na Europa, com a capitulação da Alemanha nazi... O mundo não voltaria mais a ser o mesmo...

Guiné 63/74 - P14609: Os nossos seres, saberes e lazeres (93): Bruxelles, mon village (Parte 5) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 15 de Abril de 2015:

Queridos amigos,
Arribei a Bruxelas por razões puramente profissionais, no distante ano de 1977. Depois aproximei-me, familiarizei-me, passei a ir uma dia mais cedo ou a ficar um dia mais tarde, sempre estonteado pelas descobertas, tanto por iniciativa própria como empurrado por mãos amigas: jardins e parques, museus e espaços de exposições, mais tarde descobri a Feira da Ladra, fiquei dependente de toda aquela traquitana que se expõe nos dias em que não chove.
A cidade desvenda-se e em dado momento descobrimos, sabe-se lá com que sentimento de posse, que aquele espaço desmesurado por onde cirandam gentes de mais de 120 países, a quem um slogan turístico chama a "encruzilhada da Europa" é também um espaço muito nosso, uma extensão do nosso bairro.
Como escreveu Amadeu Ferreira, "os acasos surgem quando estamos preparados para os levar no sentido certo. Nós andamos no mundo e, quando mudamos uma pequenina areia de um sítio para o outro, ajudamos a mudar o mundo. O importante é que o ajudemos a mudar para melhor".
É assim que me sinto quando calcorreio esta Bruxelas. 

Um abraço do
Mário


Bruxelles, mon village (5)

Beja Santos


Vim a Lovaina inicialmente um pouco contrafeito, tivesse eu plena liberdade de ação e metia-me num comboio até Mons, este ano capital europeia da cultura, sentia-me acicatado pela exposição à volta do primeiro Van Gogh, foi nesta região que se talhou o seu destino de artista, e é escusado acrescentar mais sobre a sua vida trágica e as obras imorredoiras que nos legou. Gosto igualmente muito das comunas na órbita de Bruxelas, salta-se no tempo, em minutos somos sujeitos à confrontação brusca dos contrastes entre as formas de vida de valões e flamengos. Mas o André Cornerotte telefonara à ceramista Christiane Zeghers que viveu alguns anos em plena Serra da Arrábida, ela aplaudiu a nossa visita e temos agora umas vitualhas à nossa espera, pela caminhada começo a salivar por patês e queijos e há mais de um ano que não vejo os trabalhos da Christiane. Mas deu, na caminhada, para parar diante desta lindíssima fachada barroca, não fixei o nome do santo que a apadrinha, agora atravessamos um parque, toca-se à campainha, está tudo a postos para o ágape.


Hein Severijns estava em plena laboração, deu-me autorização para captar a imagem, não sei porquê lembrei-me da personagem de Cipriano Algor, o oleiro que José Saramago criou para o seu romance “A Caverna”, pena que uma fotografia não nos dê a movimentação do torno, aquelas mãos afeiçoadas a fecundar a porcelana, trabalho de paciência e alta concentração, só quando o artista endireita os ombros e retira as mãos é que temos a obra acabada.


Hein Severijns trabalha exclusivamente em porcelana, e não escondo o meu assombro e admiração pelas suas decorações ousadas, um misto de passado e futuro. Como veremos, com Christiane e os seus trabalhos de cerâmica sente-se a mesma pulsação.


Ainda não falámos da Arrábida, tenho o estômago a bater horas, mas pedi-lhe que ma deixasse fotografar, tenho as suas demostrações de talento espalhadas pela minha casa, é um encanto conversar com ela, sentir-lhe as vacilações entre o francês e o flamengo, ver-lhe o olhar nostálgico quando fala dos seus anos portugueses, tão marcantes.


São peças que nos tiram o fôlego, parece que saíram do forno com estes rastilhos de incêndio, este estranhíssimo arco-íris, com reminiscências clássicas e a superabundância de hipermodernidade. Vamos agora para a mesa, à sorrelfa disparo para as coisas encantadoras que se espalham pelo atelier.



Estas preciosidades vendem-se em casas de luxo e estabelecimentos para bolsas mais acessíveis, os artistas não descuram a polivalência e a versatilidade comercial, têm obras em galerias, comparecem em exposições, vão a feiras, distribuem pelo retalho, e são bem-sucedidos.


Regressámos a Bruxelas, pelas minhas contas ainda tenho uma hora de luz, quero andar por ali sem norte, se houver tempo ainda vou mexericar nos alfarrábios, não encontrei nada que me despertasse a atenção em bailado, concertos e quejandos, bem havia um recital de um grande pianista russo, bilhetes a 45 euros, ele que vá roubar para a estrada, temos sempre o recurso da Gulbenkian… Voltei à Grand Place, ali ao lado há uma placa de Arte Nova de homenagem a um burgomestre, é uma peça linda, sempre que posso venho contemplá-la. E zás, ficou com alguma nitidez, fico contente de a incluir nestas cirandas contadas para o blogue.


Amanhã vou andar por aqui perto, venho ver a retrospetiva Chagall nos Museus Reais das Belas Artes da Bélgica e depois, havendo tempo, quero ir ao Bozar ver a exposição dos retratos da Renascença dos Países Baixos, século XVI. Lembro-me deste edifício dos estabelecimentos Old England abandonados ao pé de uma livraria onde uma vez encontrei Vasco da Graça Moura, era ele deputado, ali fazia incursões, conversámos um pouco sobre as delícias das livrarias de Bruxelas. Mais tarde encontrei um artigo dele na revista da TAP, exatamente sobre estes recantos de Bruxelas, o fascínio desta intimidade, o prazer da descoberta. Hoje o Old England está convertido no museu dos instrumentos musicais, é possível aqui ouvir-se música gratuitamente, pequenos recitais, tal como no Conservatório Real e em muitas igrejas. E lembrei-me do Old England, na Baixa lisboeta, de vez em quando a minha mãe oferecia-me uma camisa em popelina, requinte quando o rei faz anos. Mas o estabelecimento não possuía este esplendor ornamental, o restauro está impecável, sugiro a quem visite Bruxelas e goste de música que venha aqui e passeie-se calmamente por estas salas pejadas de instrumentos musicais de imenso valor.



Quando chego à Praça de Brouckère vejo as fachadas iluminadas pela hora dourada, os últimos lampejos de poalha que nos reserva o dia antes de se ensimesmar no negrume da noite. No passado, esta praça era tida como uma das mais imponentes da cidade, o camartelo derrubou edifícios, pôs lá escritórios e mamarrachos a funcionar como cinemas. Mas ficaram resquícios desses esplendores de outrora, como se mostra, a pedra parece que se incendeia na hora dourada.
E agora anoiteceu, poderá ter interesse recordar que havia galerias e passagens com diverso comércio, esta passagem atravessa a chamada Rue Neuve, sempre febril até ao fim do dia e o Boulevard Adolph Max. Aqui fica uma imagem da Passage du Nord, cerca de dois quilómetros à frente temos a Gare du Nord, pejada de hotéis, bares e locais para a satisfação da líbido, as meninas e as senhoras da mais velha profissão do mundo dispõem-se como numa vitrina, e com néon.
Regresso a penates, estes dias de total malandrice caminham para o fim, já começo a ter saudades do futuro. Esta cidade toca-me o coração, apazigua-me, frequento-a há decénios e ela paga-me com este regozijo, os monumentos, as diversões musicais, os livros em segunda mão, as exposições de referência. Amanhã há mais e depois despeço-me. Não quero influenciar ninguém com este oásis talvez ficcionado, a minha Bruxelas, gigantíssima aldeia dos meus sonhos.

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior da série de 6 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14576: Os nossos seres, saberes e lazeres (92): Bruxelles, mon village (Parte 4) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14608: Blogues da nossa blogosfera (69): "De volta ao sul da Guiné", um artigo sobre Gadamael 1973, da autoria do Coronel Ref Manuel Ferreira da Silva, publicado na Revista "Mama Sume" da Associação de Comandos, reproduzido no Blogue da Tabanca do Centro

1. Com a devida vénia ao Coronel Ref Manuel Ferreira da Silva, autor do artigo; à Revista "Mama Sume" da Associação de Comandos, onde o artigo foi publicado e ao nosso camarada Miguel Pessoa, reproduzimos um Poste do passado dia 8 de Maio da Tabanca do Centro.


DE VOLTA AO SUL DA GUINÉ

No decorrer do nosso último convívio, no passado dia 27 de Março, tivemos o prazer de confraternizar com um novo camarigo, recém-chegado aos nossos encontros. Trata-se do Manuel Ferreira da Silva, Coronel Reformado.
Este camarada é um oficial de carreira vindo das escolas da Academia Militar, onde entrou em 1961. Como combatente comandou a 14.ª Companhia de Comandos em Angola e esteve na Guiné de Dezembro de 1971 a Novembro de 1973, nos Comandos Africanos em Bolama e em Gadamael.
Vem agora disponibilizar-nos o texto que se segue, artigo esse que foi publicado na revista da Associação de Comandos, "Mama Sume". Aqui divulgamos o referido texto, com a devida vénia ao autor e à revista da associação de Comandos, "Mama Sume", onde ele foi publicado.
A Tabanca do Centro







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Nota do editor

Último poste da série de 13 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13730: Blogues da nossa blogosfera (68): Quando dois desconhecidos se apaixonam (1): Início - Blogue Molianos, viajando no tempo (António Eduardo Ferreira)

Guiné 63/74 - P14607: Convívios (681): XXX Convívio anual da CART 3494, dia 13 de Junho de 2015, Vila Nova de Gaia (Sousa de Castro)

1. O nosso Camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), solicitou-nos a publicação do seguinte convite para o convívio anual da sua Unidade:


XXX CONVÍVIO ANUAL DA CART 3494 A REALIZAR NO DIA 13 DE JUNHO DE 2015 EM VILA NOVA DE GAIA

ORGANIZAÇÃO A CARGO DOS:

Ex- Fur. Milº TRMS Luís Coutinho Domingues, TM: 961 070 184 e Ex-Fur. Milº Artª Manuel Benjamim Martins Dias, TM: 965 879 408 E-mail: benjanimdias21@gmail.com

PROGRAMA



CONCENTRAÇÃO NO EX-RAP 2


QUINTA DA PARADELA, LOCAL DO REPASTO


→ NÃO ESQUECER A CONFIRMAÇÃO ATÉ AO DIA 30 DE MAIO ←
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

12 DE MAIO DE 2015 > Guiné 63/74 - P14604: Convívios (680): XXII Encontro do pessoal da CCS do BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72), dia 6 de Junho de 2015, em Mira de Aire (António Tavares)

terça-feira, 12 de maio de 2015

Guiné 63/734 - P14606: História da CART 3494 (7): A passagem de ano de 1973/74 da CART 3494 (dois anos após a chegada à Guiné) (Jorge Araújo)

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), com data de 8 de Maio de 2015: 


Camaradas,

Conforme prometi no meu comentário ao P14540 [29ABR15], a propósito da criação do conjunto musical «Os Bambadincas», realizei mais uma visita ao baú de memórias relacionadas com as vivências da nossa presença no CTIGuiné, de que resultou a presente narrativa.

Nela recupero alguns dos momentos mais sugestivos da passagem de ano 1973’74, em Mansambo, numa altura em que, com dois anos de comissão no bornal, a incógnita, quanto ao número de meses que faltariam ainda para a rendição, continuava a pairar no seio do contingente da CART 3494.

Estas memórias estão, agora, a uma distância de mais de quatro décadas.

A PASSAGEM DE ANO DE 1973’74 DA CART 3494
(DOIS ANOS APÓS A CHEGADA À GUINÉ)
-Com animação musical em Mansambo-

I– INTRODUÇÃO

Conforme se pode confirmar no caderno fotocopiado da História da Unidade – BART 3873, no 20.º Fascículo referente ao mês de Dezembro de 1973 [P14535; 28ABR15], as diferentes unidades do Batalhão festejaram, pela terceira vez, a quadra Natalícia, cada uma em seu aquartelamento… como não podia deixar de ser.

Em Bambadinca, sede do Comando, na consoada de 1973 reuniram-se Oficiais, Sargentos e Praças e no dia 25 [uma novidade!] houve um acto de variedades organizado por militares da CCS. Dias mais tarde, os mesmos elementos constituintes desse grupo, composto por milicianos da CCS e da CART 3494, percorreram, respectivamente, o Xitole [CART 3492] e Mansambo [Cap.II; pp 78/80].

No que concerne ao espectáculo realizado em Mansambo [CART 3494], este ocorreu nos primeiros dias de 1974, aproveitando-se esse evento para comemorar, também, os vinte e quatro meses da chegada do contingenteao CTIG, coincidindo com a terceira passagem de ano na Guiné – a 1.ª em Bolama (1971’72), a 2.ª no Xime (1972’73) e esta, a 3.ª (1973’74). 

Entretanto, nesta data aindanão existiam informações precisas sobre quantos meses faltariampara a rendição e posterior conclusão da Comissão.Esta, somente,viria a acontecer três meses depois, em 3 de Abril de 1974.

Quanto ao programa de variedades, este foi concebido em Bambadinca, onde decorreram os ensaios, sendo constituído por várias artes do espectáculo – teatro, poesia e música.No âmbito musical, foi constituído o conjunto «Ou Vai ou Racha», sabendo-se hoje [P14540] que os instrumentos utilizados por este grupo do BART 3873 tinham sido os mesmos que, quatro anos antes, estiveram na génese do conjunto musical «Os Bambadincas» [foto 1, ao lado, com a devida vénia], da CCS/BCAÇ 2852 (1968/70), e que se mantiveram à guarda das sucessivas unidades que passaram por aquele Aquartelamento. 

A origem desses instrumentos é atribuída a Cecília Maria Castro Pereira Carvalho Supico Pinto (1921-2011), que os ofertou a essa Unidade por ocasião da sua visita aos militares metropolitanos sediados em Bambadinca, em Maio de 1969 (?) [foto 2], chefiando uma delegação do Movimento Nacional Feminino (MNF) [P14455; 10ABR15], de que foi a única presidente e a principal mentora, ajudando-o a fundar em 28ABR1961 [data do 72.º aniversário de Oliveira Salazar (1889-1970)]. De referir que este encontro de Cecília Supico Pinto [e de outros que realizou durante os treze anos em que durou a guerra, nas três frentes ultramarinas], se inscrevia na filosofia da missão da sua organização, fundada por vinte e cinco mulheres provenientes da elite do regime do Estado Novo. O elemento fundante do MNF era/foi o apoio ao regime de então, promovendo a caridade e as condições subjectivas e emocionais dos militares em campanha.

É da sua responsabilidade a iniciativa de serem gravadas mensagens dos militares a desejarem um Natal cheio de “propriedades” às suas famílias, e transmitidas na RTP, bem como mensagens áudio gravadas em Portugal pelas famílias para serem emitidas nas rádios locais para aqueles. Foi através desta iniciativa que se popularizou a frase “Adeus, até ao meu regresso”.

É do MNF a iniciativa da criação dos “Aerogramas” bem como o lançamento da ideia das “Madrinhas de Guerra”, em que uma rapariga/mulher aceitava trocar correspondência com um miliciano durante a sua estadia no Ultramar. É, ainda, do MNF a iniciativa da digressão de artistas e espectáculos à Guiné, Angola e Moçambique para os militares.

Este Movimento viria a ser extinto na sequência do «25 de Abril de 1974» por decreto da Junta de Salvação Nacional, em 22JUN1974.

II – FOTOGALERIA DO ESPECTÁCULO EM MANSAMBO - CART 3494


Foto 3 – Mansambo - Jan/1974. Grupo Musical «Ou Vai ou Racha». Da esqª/dtª (1.ª linha) – Américo Russa (fur. CCS); Manuel Dias (fur. Cart 3494) e Luciano Jesus (fur. Cart 3494). Comparando a foto 1 [1969] com a foto 3 [1973], constata-se que os instrumentos são iguais… ou seja; os mesmos. 


Foto 4 – Mansambo - Jan/74. No improvisado palco, estão os camaradas Manuel Dias e Luciano Jesus, furriéis da CART 3494, em momento de poesia com acompanhamento musical.


Foto 5 – Mansambo - Jan/74. Actuação do Grupo de Teatro… onde nasceu uma criança… com chucha e barrete… 


Foto 6 – Mansambo - Jan/74. Actuação do Grupo Musical «Ou Vai ou Racha».


Foto 7 – Mansambo - Jan/74. Idem.


Foto 8 – Mansambo - Jan/74. Idem.


Foto 9 – Mansambo - Jan/74. Em noite de cacimbo com temperatura mais baixa do que o habitual, como prova o vestuário, o ambiente criado pela equipa de animadores em palco, verdadeiros actores/artistas de corpo inteiro, ajudou a dar mais calor aos camaradas presentes na plateia, reforçando o ânimo para o tempo que ainda faltava cumprir.

Eis mais uma pequena peça do puzzle historiográfico da presença do contingente da CART 3494 no CTIGuiné.

Com um fraterno abraço de amizade,
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
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Nota de M.R.: 

Vd. Também o último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P14605: Blogoterapia (270): Foi há já quarenta e um anos que essas mães e esses pais cumpriram tantas promessas pelos seus queridos filhos que partiram fardados para essas terras longínquas (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de hoje, 12 de Maio de 2015:

Neste dia 12 de Maio de 2015 que tudo o que eu escreva possa valer como uma homenagem e uma oração a todos esses homens e mulheres que com a alma dorida e o coração desfeito chegaram a Fátima em automóveis, camionetas ou extenuados por longas caminhadas a pé, a pedir a um Deus misericordioso e à sua Mãe, e Mãe de todos os portugueses, a graça de trazer saudáveis os seus filhos, e foram tantos que tinham sido enviados pelo governo para combater em África.

Que seja uma homenagem e uma oração que congregue todos os camaradas, de diferentes religiões e todos os camaradas crentes e não crentes. Há situações na vida em que pelo nosso amor e respeito filial nos devemos curvar perante os Santos e os Deuses dos nosso pais, reconhecendo-os também como nossos.

Foi há já quarenta e um anos que essas mães e esses pais cumpriram tantas promessas pelos seus queridos filhos que partiram fardados para essas terras longínquas. Muitos não voltaram vivos, para grande desgosto deles. Outros voltaram estropiados ou muito magoados no corpo ou na alma. Era o tempo de "Fátima, Altar do Mundo", em que à frente da Igreja e do Governo, estavam dois amigos, que pareciam dar a milhões de portugueses a ilusão da guerra santa que a Pátria travava. Muitos pais e mães continuaram a cumprir essas promessas por muitos anos, alguns até a morte os levar.

Que a Senhora de Fátima em que eles acreditaram tanto lhes reserve um bom lugar no Céu e que não se esqueça também dos seus filhos vivos ou mortos.

Foto: © Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14601: Blogoterapia (269): O meu pai é o meu herói (Cristina Silva, filha do Jacinto Cristina, o "padeiro da ponte Caium", ex-sold CCAÇ 3546. Piche, 1972/74)

Guiné 63/74 - P14604: Convívios (680): XXII Encontro do pessoal da CCS do BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72), dia 6 de Junho de 2015, em Mira de Aire (António Tavares)

1. O nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), em mensagem do dia 7 de Maio, pede-nos a divulgação do próximo Convívio da sua Unidade, a levar a efeito no próximo dia 6 de Junho de 2015, em Mira de Aire.



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Nota do editor

Último poste da série de 11 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14599: Convívios (679): XVIII Encontro do pessoal do Hospital Militar 241 de Bissau, dia 7 de Junho de 2015, em Leiria

Guiné 63/74 - P14603: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (4): Segunda semana de campo

1. Em mensagem do dia 28 de Abril de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos mais uma página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

[Recapitulando o anterior poste: 27-03-1973 – Reunião de graduados com o Gen. Spínola; 09-04-1973: Início da 1ª semana de campo; 15-04-1973: Fim-de-semana em Bolama]

4 - 2.ª SEMANA DE CAMPO

16 de Abril de 1973 (segunda-feira) – 2.ª semana de campo 

Desta vez deslocámo-nos para uma zona do interior mais próxima da cidade de Bolama, mas menos aprazível que a anterior. Montaram-se as tendas bem dentro da mata agreste, não muito longe da picada, mas ficámos amontoados. Demasiada tropa para a área designada. Isso fez-se sentir no ambiente, mais tenso e opressivo, muito diferente do primeiro acampamento. Constante, como antes, foi a mosquitada e a mosquinha do capim. Prosseguiram as manobras militares nas manhãs frias e tardes tórridas. Logo na primeira noite deu-se um caso insólito: todo o acampamento dormia em aparente tranquilidade e eis que, aos berros e em pânico, um soldado pôs fora das tendas a maioria do pessoal, de armas aperradas mas sem entender os porquês nem os azimutes da hipotética ameaça. Ainda mais, em completa escuridão. Confuso, passou-me pela cabeça que alguém tinha sido apanhado à mão... Entretanto, alguns correram para a tenda do aflito e saíram depois a explicar que não havia ameaça nenhuma, não era nada: o pobre do soldado, muito perturbado, sonhara com uma cobra!...

Foi durante a estadia neste acampamento que, num dia de descanso, fiz com o meu amigo Furriel J. R. uma deslocação à anterior povoação à procura das nossas saudosas bajudas da fonte, caso que aflorei no poste anterior e que descrevo agora, assumindo o risco de me expor desnecessariamente, e de maçar quem me leia. Só pelo grotesco da situação...

Estávamos de descanso e enfadados daquela pequena clareira no meio do mato. Pedimos autorização ao Comandante de Companhia para sair, com o pretexto de fazermos uma visita aos camaradas que ocupavam agora o nosso primeiro acampamento. Autorizados, fizemos uma longa caminhada a pé e armados de G3. Passámos pelo referido acampamento (não recordo se contactámos alguém) e descemos para a fonte. Cumpríamos a nossa palavra de que voltaríamos para fazer felizes as nossas bajudas. E elas prometeram-nos o céu, muito divertidas com as expectativas. Pelo menos era o que nos parecia. Estivemos com elas muito tempo e, como sempre, ajudámos nas suas higienes. Encheram os alguidares de água e disseram-nos que teriam primeiro de levar a água e as pequenas bajudas à tabanca, depois voltariam sós, que aguardássemos...

Pessoalmente arrefeci logo um pouco, céptico. Esperámos. Voltámos a esperar.
- Ó J. R., chega! Vamos embora.
- É pá, espera aí, aguentamos mais dez minutos!.

Apetecia-me concordar com ele, mas começava a fazer-se tarde e tínhamos um longo caminho para o regresso. De passo acelerado metemos pela estrada de terra batida a caminho do acampamento, dizendo mal da vida e de tanta parvoeira. Íamos alvitrando impedimentos para o regresso das bajudas, que nos salvasse a face, enfim..., entrámos numa recta longa e com declive que nos ajudou a estugar o passo. Arborizada de ambos os lados, a estrada tinha do lado direito uma pequena rampa depois da berma, talvez com metro e meio. Caminhávamos desse lado. No fundo da recta, de uma curva que surgia à esquerda, apareceu, quase indistinto, um jipe militar. Demos um salto para a valeta e ficámos breves instantes a observar, indecisos quanto à atitude a tomar.
- Só nos faltava mais esta... É, quase de certeza, o jipe do Comando - disse eu, já a preparar-me para grandes justificações.

O J. R., sem hesitar, sobe a rampa a partir da valeta e diz-me lá de cima:
- Não nos viram. Sobe aí, rápido!
- Não faças isso! Não nos reconheceram, mas viram-nos de certeza. Vai dar merda, porque fugir é pior.

Tudo se passou muito de repente e, enquanto o jipe tardava em se aproximar, o J.R. dá uma corrida e mete-se na mata densa. Fiquei numa situação ainda mais delicada pois, ficando na estrada, para além de ter de justificar a nossa presença ali, ainda tinha de explicar a atitude dele. Se entrasse na mata e fossemos apanhados, criava uma situação deveras grave. Vinha ainda a meio da recta o jipe, saltei a lomba e corri também para a mata, furioso e desapontado com o J. R.
Mesmo em situações limite sempre assumi as minhas atitudes de cara levantada. Ficámos a aguardar uns instantes, pois já se ouvia o motor do jipe e disse eu para o J. R.:
- Se pararem, saímos imediatamente para eu explicar tudo! - E teria de ser eu a explicar, por ser o mais graduado.
- Não saímos nada! Metemo-nos por aí a baixo a corta-mato! - respondeu-me ele com ligeireza e nada assustado.
- Não, não! Já fiz mal em seguir-te e como sou eu a ter de assumir esta garotice, agora és tu que fazes como te estou a dizer!.

Entretanto já se ouvia o jipe em marcha lenta – vinham à procura das nossas pegadas – até que parou mesmo frente ao sítio por onde nos metemos. Mal parou, ainda antes de desligarem o motor, em passadas largas apareci ao cimo da lomba da berma e, fingindo surpresa, exclamei:
- Oh! É o nosso Major!

Na verdade não estava certo de quem fosse -, ele olhou para cima e só então percebi que também ele desconhecia que se tratava de mim. Desci para a berma com o J. R. atrás de mim, fizemos a continência devida. O Major D. M. estava na nossa frente sem sinais de exaltação e, sentado no jipe, assistindo, o Cap. J.A.C. (Oficial de Operações).

Antecipando-me à primeira reacção do Major pedi desculpa pela atitude de sair da estrada, mas que a primeira coisa que nos ocorreu à vista do jipe, é que fosse alguém do Comando da Unidade de Bolama, que talvez não aceitasse as razões da nossa estada ali, etc. etc.
O Major nem olhava para mim, concentrado a olhar o chão com as mãos na cintura. Depois disse:
- Se fôssemos turras, vocês estavam apanhados, porque bastava pôr os olhos nas marcas que vocês deixaram no chão!
- Tem razão, meu Major. Foi de facto uma precipitação irresponsável que nunca aconteceria se imaginássemos que era alguém do nosso Comando - menti.

Perguntou, ainda, o que fazíamos por ali estando a nossa Companhia lá em baixo, respondi-lhe com a história da nossa visita aos camaradas de cima, enfim..., foi entrando no jipe e dizendo:
- Quando chegarmos a Bolama, apresente-se no meu gabinete.

Partiram, estrada acima. Nunca tinha passado por um vexame assim.
- Ora aí tens o resultado da tua atitude! - disse eu para o J. R. que caminhava a meu lado sem abrir a boca.

Apesar da minha apreensão, nunca ouvi comentários a este respeito, nem a camaradas nem ao Capitão da nossa Companhia que nos autorizou a saída e que podia muito bem ter sido abordado pelo Major. A verdade é que chegados a Bolama me apresentei no seu gabinete e, com toda a sinceridade, expliquei melhor a situação, reconheci a minha inqualificável falta, pedi desculpa e submeti-me ao seu julgamento. Ouviu-me com atenção e depois mandou-me embora em paz, sem qualquer comentário que eu tivesse retido. Ao longo da comissão outras situações surgiram entre nós, do foro militar, mas todas se resolveram sem problemas. Parecia-me que lhe merecia uma consideração especial, mas nunca entendi porquê. Na verdade, eu tentava corresponder com igual consideração.

As novidades que nos vão chegando do desenrolar da guerra no interior da Guiné não são nada animadoras. Mesmo na cidade de Bolama é possível ouvir o ribombar dos canhões lá longe, fala-se em Guilege e Gadamel, bem no sul da colónia. Os “velhinhos” do quartel de Bolama dizem “a embrulharem”! Guilege está a “embrulhar”! Gadamael está “a embrulhar!”
Vou tomando nota.


21-04-1973 – (sábado) – Primeiras mortes. 

Soube hoje – fim da 2.ª semana de campo – que um alferes que viajou comigo no Uíge, mas que não recordo, e que estava a fazer a IAO no interior da província e não em Bolama, morreu acidentalmente com uma rajada na cabeça. Era de noite e levantou-se para ir urinar. Ao regressar, uma das sentinelas, seu soldado, não o reconheceu. É a versão que corre. Ontem, aqui no porto de Bolama, estava também num caixão, dentro de um barco da Marinha, o corpo de um rapaz que morreu nas mesmas circunstâncias. É o medo e a inexperiência a fazerem das suas.

Aqui em Bolama continuamos a estranhar a ausência de um ataque com mísseis do PAIGC a partir de S. João, ali no continente, mesmo em frente a esta parte da ilha. Todos os Batalhões que nos antecederam foram atacados, quase sempre logo após a chegada, com objectivos evidentes. [Viria a saber, mais tarde, que também o Batalhão que nos sucedeu foi atacado, tendo havido várias vítimas]. Talvez gostem de nós... Há oito dias foram presos aqui em Bolama nove elementos do PAIGC e devem ter informado os seus camaradas a nosso respeito. (Sabem sempre quando parte um Batalhão e chega outro, e também sabem o efeito que tem nos novatos um susto logo nos primeiros dias, marca a fogo que não os vai largar mais). Eram indivíduos que nos viam diariamente. Já tinha ouvido falar que aqui numa tipografia local havia elementos suspeitos, mas a PIDE, que obviamente nunca vi nem sei onde tem a sua sede, não deixa “passar” nada.

Quase no fim da IAO tivemos ainda uma tarde de manobras com helicópteros, (durante a espera destes ocorreu o “meu” incidente dos cajueiros que talvez calhe, lá para a frente, relatar), e a visita do Alf. Marcelino da Mata com alguns homens do seu Grupo para uma demonstração de fogo com armas do PAIGC.


Bolama, Abril de 1973 – Capitão B. D. (1.ª CCAÇ do BCAÇ 4513) observa uma granada de RPG 7 (ou 3?). A seu lado, um dos elementos do Grupo de Combate do Marcelino da Mata.


Creio que esta demonstração se desenrolou na pista de aviação de Bolama. Uma das acções que mais me impressionou foi o Marcelino ter feito um disparo com RPG apontado para o chão a pouco mais de dez metros da nossa posição. Fê-lo de pé, com o tubo à altura da cintura e demonstrando total confiança. Deduzi que estas granadas, tal como as nossas anticarro da bazuca, só podiam ser de carga-de-efeito-dirigido, portanto, perfurantes. Caso contrário, ter-nos-iam atingido na retaguarda do impacto. Contudo, lançadas sobre o pessoal, são muito perigosas por se desintegrarem em pequenas lâminas cortantes.


27-04-1973 – (sexta-feira) – Calha a todos

Faz hoje um ano e dois dias que entrei para a tropa. Hoje entra o meu irmão Zé, exactamente mais novo que eu um ano e dois dias.

(continua)

Texto e foto: © António Murta
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14570: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (3): Reunião com o Gen Spínola e início do IAO em Bolama

Guiné 63/74 - P14602: Ser solidário (182): Vamos apoiar, com material de escritório, a Associação Fidju di Tuga, com sede em Bissau


Guiné-Bissau > Bissau > Eles são o rosto da associação da solidariedade dos filhos e amigos dos ex-combatentes portugueses na Guiné-Bissau (FIDJU DI TUGA) (*)... São dois elemento da direção, da direita para a esquerda, (i) Fernandinho da Silva (telef + 5880597), presidente, e (ii) José Maria Indequi (telef + 5218200 e + 6612146), secretário...[Foto que nos foi enviado pelo saudoso amigo Pepito (1949-2014), que apoiou com muito carinho esta associação, tal como a jornalista Catarina Gomes tem apoiado, sendo merecedora do nosso melhor apreço e amizade]



Blogue da associação Fidju di Tuga, em construção... O livro de visitas já tem duas mensagens de camaradas nossos, o Rui Vieira Coelho e o Manuel Oliveira Pereira


Segundo os seus fundadores, trata-se de um "blogue colectivo, criado e editado por a diretoria da Fidju di Tuga, com o objectivo de reagrupar e fortalecer os filhos dos ex-combatentes portugueses,  na Guiné-Bissau,  a reencontrar os pais familiares portugueses; pedir às autoridades de Portugal a paternidade; pedindo parceiria com os ex-combatentes, para reviver mesmo com dores as experiências do tempo colonial e o drama social dos filhos após-colonização até hoje"



1.  Mensagens da Catarina Gomes, jornalista do "Público" e escritora,  do camarada  Zé Saúde e do editor Lis Graça:

1.1. Catarina Gomes, 6 de maio de 2015

Caro Luís Graça:

(...) Vou voltar à Guiné no final deste mês, desta feita sozinha e à minha conta. Acha que não se consegue desencantar o que a associação de filhos de tuga pediu: um portátil, um gravador e uma máquina fotográfica? 

Eu estou a tentar arranjar o computador com um sponsor mas ainda não tive resposta. Também estou a ver se eles têm uma conta para poderem receber donativos de cá.

Parto dia 29 de Maio,  por isso já não resta muito tempo.

1.2. Luís Graça, 6 de maio de 2015:

Para José Saúde (c/c Catarina Gomes):


Zé: Tu que és o pai dos "filhos do vento" (metaforicamente falando), tu grafaste a expressão, não queres ser tu, a através do blogue e em articulação com a Catarina), a liderar uma pequena campanha de donativos para a associação ?...

 Podias abrir uma conta, aí em Beja, e numa semana ou duas, víamos o que se podia arranjar... Também se podia apoio em géneros (um gravador, um portátil, uma máquina fotográfica digital ou outro material)... Não queres escrever um texto bonito para esta causa ?...

Acho que no geral a malta vai reagir bem... Eu evito estas campanhas no blogue... Não é a nossa vocação, temos ONG (de antigos combatentes) a trabalhar no terreno, etc.

Que te parece ? Dou conhecimento à Catarina, que é uma mulhjer generosa... Abraço. Luis

1.3. José Saúde, 11 de maio de 2015

Catarina, vou aguardar que me digas algo mais. Claro que sei o que é viver com a tal ansiedade em conhecer alguém que é um ser do seu sangue. Próximo de si. Sabes, eu sou muito susceptível a esta questão e as crianças, hoje homens e mulheres, não têm culpa de leviandades sexuais de jovens a viver intensamente o clima de guerra. Não foi por um mero acaso que coloquei este tema na opinião pública. Talvez pelos meus muitos anos, mais de 30, a viver por perto a comunicação social que arrisquei trazer a temática ao lume, arriscando opiniões contrárias, algumas nefastas, mas que foi o alerta para uma realidade que muitos tentaram, e tentam, esquecer.

Hoje, sinto-me lisonjeado pelo o impacto que o tema "Filhos do Vento" originou. Para ti Catarina também vão os meus votos de felicidade pela forma como a reportagem foi elaborada e pelo o seu sucessivo interesse. "Fidju de Tuga" poderá ser o princípio de uma maior aproximação.

No Vietname os americanos chamaram-se "filhos do pó",

1.4. Catarina Gomes, 11 de maio de 2015

Caros Luís Graça e José Saúde,

Quando estiver na Guiné penso que vou conseguir que a associação tenha uma conta sem custos no BAO, Banco da África Ocidental, por enquanto não existe conta e penso que seria delicado estar a criar uma em Portugal com custos [, 150 euros para abrir uma conta bancária para recolha de fundos, segundo informação do José Saúde]  e sem forma expedita de lhes fazer chegar o dinheiro.

Nesta fase eu pedia se alguém quererá doar mesmo o que eles precisam em bens, para poderem estar em contacto com o mundo (neste caso Portugal): 

(i) um portátil,  mesmo que não seja novo;

(ii)  já consegui o gravador;

(iii) falta uma máquina fotográfica daquelas pequeninas mas que também faça pequenas filmagens;

(iv)  e eu diria uma impressora. 

Penso que para arrancarem seria o suficiente e eu podia levar essas coisas comigo, dando depois conta do momento da entrega no vosso blogue.

Eu sei que este tema é melindroso mas acreditem que não há mês em que eu não receba um email de um filho de um ex-combatente a pedir para eu os ajudar a conhecer o irmão/irmã que sempre souberam que tinham. Acho que era importante unir os dois lados, apenas os que assim o desejarem, claro.

A associação tem um blogue ainda embrionário mas estão a mexer-se: http://fidju-di-tuga.webnode.com/

1.5. Catarina Gomes, 12 de maio de 2015

Caro professor,

No blogue da associação há dois militares militares que se ofereceram para ajudar a associação mas penso que eles, por dificuldades de comunicação, não lhes responderam. Conhece algum deles?

Abraço Catarina


Manuel Oliveira Pereira,  09-05-2015

Estive na Guiné-Bissau no entre 25 de Março de 1972 a Julho de 1974. A sede do meu Batalhão (BCaç 3884) esteve sediada em Bafatá. As companhias operacionais estivavam em Contuboel (CCaç 3547),  Geba (CCaç 3548) e Fajonquito (CCaç 3549) e Destacamentos em Bambandinca Tabanca, Sonaco, Catacunda, Sare Uali e Sare Bacar. Reforçamos outras unidades nomeadamente em Galomaro, Dulombi, Nova Lamego (Gabú) e Medina Mandinga. Estas foram as localidades onde estivemos durante a nossa permanência no vosso país.

Faço minhas as palavras de R. V. COELHO (comentário anterior) daí peruntar: Em que posso ser útil?

Rui Vieira  Coelho,  21-09-2014

Estive na Guiné a cumprir serviço militar obrigatório, de 1972 a 1974,  e li o artigo publicado no Público assim como todo desenvolvimento dado no Bloguew Luis Graça &  camaradas da Guinê . Todos vós sois filhos de nós todos, os que passamos pela Guiné e da qual todos nós,  salvo raras excepções, temos saudades e amamos os nossos irmãos guineenses, tentando ajudar, das formas mais diversas,  para poderem ter um futuro mais promissor.

Eu, como muitos outros Tabanqueiros,  gostaríamos de vos poder ajudar monetariamente para vos equiparem e poderem prosseguir com os vossos propósitos.

Qual o NIB da conta bancária para onde devemos enviar os donativos?

1.6. Luís Graça, 12 de maio de 2015

Sim, Catarina, são dois grã-tabanqueiros, dois bons camaradas, membros do nosso blogue, o Manuel Oliveira Pereira e o Rui Vieira Coelho. Dou-lhes conhecimento da mensagem (...)
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Notas dos editores:

(*) Vd. postes de;

 21 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12616: Filhos do vento (26): A direcção da A Associação FIDJU DI TUGA: Fernandinho da Silva, presidente, e José Maria Indequi, secretário.

14 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12289: Filhos do vento (24): Associação de Solidariedade dos Filhos e Amigos dos Ex-Combatentes Portugueses na Guiné... Uma associação sem sede, sem sítio na Net, sem email, que precisa da nossa ajuda (Catarina Gomes, jornalista do Público)

(**) Último poste da série 27 de abril de  2015 > Guiné 63/74 - P14533: Ser solidário (181): Orquestra Geração nos Dias da Música, CCB, Lisboa, 26 de abril, 18h... Um projeto pedagógico inovador que é uma prática social exemplar: "aprendendo música para tocar vidas"