quarta-feira, 17 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17367: Convívios (802): XXXII Encontro do pessoal da CART 3494/BART 3873, a realizar-se no próximo dia 11 de Junho, em Tondela, Viseu (Sousa de Castro)

 

 1. Em mensagem do dia 11 de Maio de 2017, o nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74) enviou-nos para publicação o anúncio do Encontro/Convívio do pessoal da Companhia, a levar a efeito no próximo dia 11 de Junho, em Tondela - Viseu.







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Nota do editor

Último poste da série de 14 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17357: Convívios (801): CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67): Caldas da Rainha, 29 de abril de 2017 - Parte II (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P17366: Os nossos seres, saberes e lazeres (212): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (2) (Mário Beja Santos)




1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 16 de Fevereiro de 2017:
Queridos amigos,
Prossegue a viagem, andou-se por alguns dos lugares emblemáticos da costa Sul, pena foi ter chegado às Capelas já com o véu da noite, o viajante guarda no olhar aquele porto em declive de onde foram içadas tantas baleias, num passado não muito remoto.
E há Porto Formoso, paradisíaco com os seus campos de chá. Mas o primeiro destino não é só para pernoitar é para estadia, e por mais dois dias, o maravilhoso Vale das Furnas, que desde as primeiras viagens suscitou a atenção dos escritores: as águas sulfúreas, uma grande montanha cheia de fogo, as lagoas de água que fervem, as furnas de enxofre, as nascentes apropriadas para banhos, o cheiro e o sabor a enxofre expelido do solo, estando os terrenos em volta completamente crestados e queimados. Só que o vale tem outros atrativos que convergem para a sua designação de lugar mágico.

Um abraço do
Mário


São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (2)

Beja Santos

Cinquenta anos é tempo suficiente para comparar o tem sido a evolução desta ilha, acresce que o viajante aqui vem frequentemente, não se limita a recordar as crianças cheias de fome que conheceu em 1967, de lata na mão, na Porta de Armas do quartel dos Arrifes, por múltiplas e variadas razões aqui aterrou e descolou nas cinco décadas inúmeras vezes e o juízo que faz do desenvolvimento socioeconómico, o embelezamento do património, a construção de redes diárias, os progressos assombrosos na saúde, na educação, no agroalimentar é mais do que positivo, a região ultraperiférica tem bons indicadores de desenvolvimento humano, não perdeu a identidade e os turistas chegam em todas as estações. Os Açores estão no mapa e a minha ilha de São Miguel não perdeu enverdecimento. Em Outubro de 1967, os meus soldados micaelenses estavam entusiasmados com a vida de quartel, o admirável mundo da recruta: comiam carne todos os dias, havia água quente para o banho, por ali passava a porta da civilização e do estômago aconchegado. O destino encarregou-se de trazer profundo bem-estar às gentes das ilhas.




A primeira etapa é o Vale das Furnas. Mas o cicerone tem as suas exigências e surpresas, primeiro percorre-se a costa Sul envolvendo Mosteiros, João Bom, Ajuda da Bretanha, Remédios, edifícios antigos primorosamente restaurados e mantidos, a despeito das inclemências dos ventos e humidades, mostram-se caldeiras que servem para apurar deliciosos cozidos e outras refeições, chama-se a atenção para um revés miguelista, os liberais não foram meigos, atiraram os absolutistas para o abismo e há depois a graciosidade da costa até aquele ponto que nos indica que passámos da costa Sul para a costa Norte.


É um dos locais mais procurados do Vale das Furnas, a Poça de Dona Beija, banho em permanência a 39 graus. Olha-se para este escorrimento fumegante, chamemos-lhe água férrea, e sabe-se lá porquê vem à lembrança Alexandre Herculano que em 1832 passou meses em São Miguel e escreveu “por esses anos assentei-me rodeado de tristes saudades sobre os outeiros vulcânicos dos Açores”. E dirá na sua poesia Tristezas do Desterro: “Eu já vi numa ilha arremessada / Às solidões do mar, entre os dois mundos, / Vestígios de vulcões, que hão sido extintos…”. Uma das figuras proeminentes da cultura do século XIX, o historiador luso-brasileiro Sena de Freitas viajou até ao Vale das Furnas, e maravilhou-se: “Que variadas e ricas cenas se oferecem no Vale das Furnas ao homem contemplativo! Perspetiva encantadora e maravilhosa, onde em admirável contraste se exibe o assombro ao lado do aprazível!”. Vejam as duas imagens abaixo, azáleas que parecem pintadas à mão e um campo de inhames. Logo o viajante pensou num prato saboroso de inhame com linguiça frita e ovo a cavalo.



Depois de um bom banho na Poça da Dona Beija, toca a vadiar pelo jardim Terra Nostra, aqui se conservam exemplares das principais plantas endémicas da ilha, são impressionantes a sua coleção de fetos, o jardim de Vireyas (rododendros da Malásia), canteiros de azáleas, coleção de cycadales, camélias, e muito mais. Como quem sabe é como quem não vê, o turista perguntou inofensivamente a um funcionário do parque que palmeira era esta, ao que ele respondeu com bonomia: é estrelícia, senhor, é uma estrelícia gigante, venha aqui ver as flores que caíram lá do cimo. E o viajante confirmou, embasbacado.


Há espécies arbóreas que ajudam a teatralizar aquilo que se chamam os lugares mágicos, é o caso do metrosídero e a sua farta cabeleira, a fazer coar os raios de luz até ao solo. É verdade que a ilha tem muito mais do que estes jardins encantados, o próprio Vale das Furnas abre-se em amplos cenários. Ferreira de Castro que por aqui andou nos anos 1930, não resistiu ao uso das expressões mais luxuriantes para descrever todo este espetáculo de um vale gracioso com caldeiras, lagoa e uma cercadura monumental de vegetação a perder de vista: “São as ribas escuras, rendilhadas, caprichosas, onde vem morrer, em branca espuma, o azul do Atlântico, e são as encostas cheias de acidentes, de relevos imprevistos, heranças de vulcões que, um dia, abriram as fauces e jorraram fogo e lava perante a imensidade do mar, subitamente emudecido. Há, nas vertentes das serrilharias, famílias de árvores, tão frescas e sussurrantes, de tanto enlevo e melodia que junto delas os parques célebres que sentiram humilhados. E flores. Flores nos imensos jardins, flores em redores das casas, que sarapintam o verde ondeante da paisagem, flores nos velhos muros que correm à beira da estrada”.


Amanhã o viandante está indeciso entre o banho de água férrea, calcorrear pela lagoa ou pelas caldeiras. O importante é o aprazimento, poder aproveitar esta dádiva de Fevereiro, beber em longos haustos a saborosa viagem e lembrar uma frase de José Tolentino Mendonça: “A verdadeira viagem é aquela que dura tanto que já não se sabe porque se veio ou porque se está”.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17339: Os nossos seres, saberes e lazeres (211): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17365: Notas de leitura (957): está no prelo o II volume das "Memórias Boas da Minha Guerra", do José Ferreira da Silva (Lisboa, Chiado Editora, 2017).... Reproduz-se aqui um excerto do microconto "Promessas", que tem a ver com Fátima e os pagadores de promessas durante a guerra colonial

1. Está no prelo o Volume II das Memórias Boas da Minha Guerra, do José Ferreira da Silva, sob a chancela da Chiado Editora

Escrevemos-lhe, a seu pedido e com muito gosto, o prefácio a este segundo volume. E o título do prefácio está alinhado com o do livro: "Aqueles que souberam fazer a guerra e a paz, com 'sangue, suor e lágrimas'… e uma boa pitada de humor de caserna"...

Pelo índice, provisório, que o autor nos mandou por email, sabemos que um dos contos inseridos tem por título "Promessas".

Este segundo volume é uma seleção, feita pelo próprio, dos melhores textos ("short stories" ou microcontos) publicados no nosso blogue sob a série "Outras memórias da minha guerra", que se seguiu à série "Memórias boas da minha guerra".

A pretexto do centenário do  santuário de Fátima (1917-2017), e a propósito do inquérito sobre Fátima que termina hoje no nosso blogue (*), achamos oportuno reproduzir uma excerto desse história, "Promessas", justamente a última parte (**). Com a devida vénia ao autor... e votos de bom sucesso de vendas para este segundo volume. (***)


José Ferreira da Silva.
Foto: Chiado Editora
2. José Ferreira da Silva:  Memórias Boas da Minha Guerra, vol II, Lisboa, Chiado Editora,  2017 (no prelo) > 
Promessas (excerto)

(...) Quando se aproximou o 13 de Maio de 1969, já os dois filhos mais velhos da Ti Ana haviam chegado sãos e salvos [, o mais velho, de Angola, e o outro, o Mário, da Guiné] . Agora era preciso pagar as promessas.

A Ti Ana vivia dias felizes, de bem com Deus e com todos os santos, a quem prometera sacrifícios até ao fim da sua vida. De sua casa partiram em conjunto mais de 20 pessoas, com destino a Fátima, a pé. Entre elas, seguiam vários jovens vestidos de camuflado como o faziam lá na guerra, nas Operações Militares. Um deles, estava numa cadeira de rodas. O Mário, que cumpria a sua promessa pela negativa, abeirou-se do rapaz e perguntou:
– Também vais até Fátima?

Ele respondeu:
– Sim, com ajuda da malta e da N.ª S.ª de Fátima que, graças a ela, aqui estou salvo, lá chegarei. E tu, não vais?
– Eu, não. Não fiz promessas e tive sorte. Pelo contrário, tive amigos que lá ficaram e tinham prometido ir a Fátima, Arcozelo, Peneda e Sameiro.
– Pois, tiveste sorte, é porque alguém pediu muito por ti. – respondeu o rapaz

Vinte e cinco anos depois, a Ti Ana, já com uns 70 e tal anos, deixou de poder cumprir a promessa, indo a pé. Confessou a sua impossibilidade ao padre das Missões, onde passou a colaborar, e “renegociou” as suas Promessas: passaria a organizar 2 excursões anuais, em autocarro, mobilizando mais de meia centena de seguidores de N.ª S.ª de Fátima.

Com a mãe a aproximar-se dos 90 anos, o Mário resolveu dar-lhe a alegria de ir a Fátima numa dessas excursões, que era, agora, ajudada na organização, pela filha mais nova. Ele gostou imenso daquele ambiente popular e alegre e prometeu ir lá mais vezes.

Quando, estavam em Fátima, o Armindo interpelou a Ti Ana, na frente do Mário:
 – Como é que conseguiu que este herege viesse a Fátima?
 – Olha, menino, quanto mais velha, mais feliz me sinto. Hoje estou a cumprir a minha promessa mais difícil. Há mais de 40 anos que a estava a dever à N.ª S.ª de Fátima!
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Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 16 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17363: Inquérito 'on line' (115): Fátima... Com 70 respostas no início da tarde, e a menos de 24 horas para o fim do prazo, conclui-se que todos lá fomos, pelo menos uma vez na vida, antes, durante ou depois da tropa... mais como turistas (58%) do que como peregrinos (18%)

(**) Vd. poste de 24 de março de  2012 > Guiné 63/74 - P9650: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (15): Promessas

(***) Último poste da série >  15 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17359: Notas de leitura (956): “Portugal e as Guerrilhas de África”, por Al J. Venter, Clube do Leitor, 2015, prefácio de John P. Cann (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17364: Parabéns a você (1253): António Pinto, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 506 (Guiné, 1963/65)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17361: Parabéns a você (1252): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 16 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17363: Inquérito 'on line' (115): Fátima... Com 70 respostas no início da tarde, e a menos de 24 horas para o fim do prazo, conclui-se que todos lá fomos, pelo menos uma vez na vida, antes, durante ou depois da tropa... mais como turistas (58%) do que como peregrinos (18%)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > 2 de Março de 2008 > O ex-cap mil Abílio Delgado, que comandou a CCAÇ 3477 (sediada em Guileje de novembro de 1971 a dezembro de 1972; também conhecida por "Os Gringos de Guileje);

O Abílio Delgado foi, aos 21 anos (!), o capitão miliciano mais novo do CTIG. Membro da nossa Tabanca Grande, residente na Ericeira, foi fotografado pelo nosso editor Luís Graça, em Iemberém, com a estatueta, em metal, da Nossa Senhora dos Milagres de Guileje, a santa protectora dos Gringos de Guileje, "miraculosamente" encontrada nas escavações arqueológicas do antigo aquartelamento de Guileje em 2008, por Domingos Fonseca. Julgamos que esta estatueta estava na capela, construída pela CART 1613 (1967/68).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (1971/72) > Oráculo, com duas  imagens: (i) a  de Nossa Senhora de Fátima (à direita);  e (ii) a do Santo Cristo dos Milagres  (numa redoma de vidro ou relicário).

Na foto, vê-se ainda o Amaro Munhoz Samúdio, ex-1º cabo enfermeiro,   à civil, de óculos escuros. A foto foi-nos disponibilizada, sem legenda,  pelo Pepito, o histórico dirigente da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento.

No oráculo ao Santo Cristo dos Milagres, pode ler-se a oração em verso, inscrita na base do monumento: "Santo Cristo dos Milagres / Nesta capelinha oramos / Para sempre sorte dares / Aos Gringos Açoreanos".

 A companhia era maioritariamente constituída por pessoal dos Açores.  Guileje, por seu turno, sempre foi um dos locais de culto mariano, no TO da Guiné. Recorde-se a capelinha de Guileje, construída sob a invocação de N. Sra. Fátima pela CART 1613 (1967/68).  O culto do Santo Cristo dos Milagres bem como o de Nossa Senhora dos Milagres é muito mais antigo do que o de N. Sra. de Fátima, e ambos são de grande devoção nos Açores.

Esta lápide assim como a estatueta e diversos outros objectos de uso corrente, foram encontrados por ocasião das escavações arqueológicas do antigo aquartelamento das NT... Associado aos trabalhos de capela e ao núcleo museológico de Guileje, esteve incontornavelmente o nome do dedicado e incansável Domingos Fonseca, engenheiro técnico agrícola, quadro da AD, e o grande arqueólogo de Guileje. Peças como esta estatueta da Nossa Senhora foram encontradas por ele,  Por essa razão passou na altura a integrar a nossa Tabanca Grande.

Segundo informação do Samúdio,  o monumento, o oráculo da foto acima,  foi contruído pelos Gringos e inaugurado pelo então Ministro da Defesa Nacional, general Sá Rebelo e também pelo então governador, general Spínola, em 12 de junho de 1972. O oráculo e a capela foram reconstruídos pela ONG AD, com sede em Bissau, com o apoio da nossa Tabanca Grande, e nomeadamente o Grupo dos Amigos da Capela de Guileje.

Foto: © Amaro Samúdio (2006) / AD - Acção para o Desenvolvimento. Todos os direitos reservados. [Edição e legenda: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. INQUÉRITO 'ON LINE':

"FUI COMBATENTE, NUNCA FUI A FÁTIMA"...


As 70 primeiras respostas (até ao início da tarde de hoje):




1. Fui lá ainda em miúdo ou ainda antes de ir para a tropa  > 28 (40%)



2. Fui lá, como militar, antes de ir para o ultramar  > 4 (5%)



3. Fui lá logo depois de vir do ultramar  > 11 (15%)



4. Só fui lá muitos anos depois (de vir do ultramar)  > 13 (18%)



5. Fui lá como verdadeiro peregrino ou crente  > 13 (18%)


6. Fui lá como simples turista ou em passeio  > 41 (58%)

7. Nunca fui a Fátima mas ainda gostaria de lá poder ir  > 0 (0%)

8. Nunca fui a Fátima nem tenho especial interesse em lá ir  > 0 (0%)



II. Prazo de resposta: 



até amanhã, dia 17 de maio, 4ª feira, às 16h53.

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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17352: Inquérito 'on line' (114): Fátima... As 50 primeiras respostas: todos lá fomos, mas a maioria de nós (60%) como "simples turistas ou em passeio"... Prazo para responder termina 4ª feira, dia 17, às 16h53

Guiné 61/74 - P17362: In Memoriam (298): Agostinho Valentim Sousa Jesus (1950-2016), ex-1.º Cabo Mecânico Auto da CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74


Agostinho Jesus (1950-2016)

1. O nosso grã-tabanqueiro Agostinho Jesus [, ex-1.º cabo mecânico auto da CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74] iria fazer 67 anos no passado dia 15 de maio. Não chegou a fazer, morreu em 22 de novembro de 2016, na sequência de um intervenção cirúrgica ao coração.

A triste notícia chegou-nos através dos seus camaradas de batalhão, Carlos Pauleta, Ângelo Gago e Jorge Canhão

O primeiro mensageiro da notícia  foi o  Carlos Pauleta, do pelotão de sapadores, integrado na CCS / BCAÇ 4612/72, com sede em Mansoa (1972/73) e passagem por Porto Gole, Bissá, Mansabá, "tendo regressado mais cedo a Portugal por ter sido ferido perto de Mansabá quando se encontrava com o coronel, na reforma, Pereira da Costa (na altura Capitão) numa operação de manutenção de um campo de minas":

"Caríssimo Luís Graça: ao abrir o blogue da Guiné reparei na mensagem de parabéns pelo aniversário do camarada Agostinho de Jesus, que integrou a CCS, do Batalhão 4612/72. Não é certamente do teu conhecimento que o camarada Agostinho faleceu há meses sem que eu te possa informar, neste momento, a data da triste ocorrência."

Agostinho Valentim Sousa Jesus (1950-2016)
O Carlos Pauleta remeteu-nos para o  Ângelo Gago, amigo íntimo e vizinho do Agostinho Jesus, ambos algarvios. Pelo telemóvel, confirmou  a triste notícia dada pelo Carlos Pauleta, a da morte do Agostinho Jesus, não  podendo precisar a data ("talvez no passado mês de outubro de 2016").

Confirmou-nos o ano de nascimento, 1950. Acrescentou, além disso, que o Agostinho Jesus, "amigo do seu amigo"; (i) sofria de vários problemas de coração, (ii) estaria a  precisar de um transplante cardíaco, (iii) era já viúvo há um ou dois anos, (iv) trabalhava em seguros, por conta própria, (v) e morava perto de Faro.

O Ângelo e ele eram bons e velhos amigos desde o tempo de Guiné. Ambos pertenciam, tal como o Carlos Pauleta, à CCS / BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74). Os dois iam sempre juntos aos convívios anuais do batalhão.

O António José Pereira da Costa mandou-nos, a propósito, a seguinte mensagem:

 "Não conheci o Agostinho de Jesus. O Carlos Pauleta sim. Não tenho qualquer informação a dar sobre esta questão, uma vez que o BCaç 4612 entrou em sector em Nov / Dez 72 e a CART  3567 era mais antiga. Era a 4.ª companhia do batalhão."

O Jorge Canhão, da 3ª C/BCAÇ 4612/72, também confirmou, em telefonema ao nosso editor Carlos Vinhal, a forte do Agostinho Jesus, "em 22 de Novembro, ainda no hospital, depois de ter sido submetido a uma intervenção cirúrgica".

2. Embora tardiamente, só nos resta dar a triste notícia a todos os demais membros da Tabanca Grande. Infelizmente, não estamos (nem podemos estar) em permanente contacto com todos os membros da nossa Tabanca Grande. Boa parte deles deixaram de estar em contacto connosco, o que é normal. 

Fomos, pois, surpreendidos pelo desaparecimento de mais um camarada, que havia entrado para a Tabanca Grande em 23 de abril de 2013 (**).

Paz à sua alma!...
As nossas condolências à família, aos amigos e aos camaradas da "grande família" do BCAÇ 4612/72.
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Guiné 61/74 - P17361: Parabéns a você (1252): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17338: Parabéns a você (1251): Fernando Valente (Magro), ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Guiné, 1970/72) e Henrique Matos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1966/68)

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17360: (De) caras (64): Quando o Papa era outro, italiano, e se chamava Paulo VI... Em 1/7/1970 recebia, no Vaticano, 3 católicos africanos, Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos que, por acaso, eram dirigentes do MPLA, PAIGC e FRELIMO, respetivamente... Este acontecimento provocou na altura uma grave crise diplomática entre a Santa Sé e o Portugal de Marcelo Caetano (Recortes do "Diário de Lisboa", de 5/7/1970)

















 Recorte do Diário de Lisboa, nº  17075 Ano: 50  domingo, 5 de julho  de 1970, 1ª edição  (Director: Ruella Ramos)
Fonte; Portal Casa Comum / Fundação Mário Soares >  Pasta: 06615.153.24906 >  Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos

Fonte; (1970), "Diário de Lisboa", nº 17075, Ano 50, Domingo, 5 de Julho de 1970, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_6990 (2017-5-11)


1. No dia 1 de julho de 1970, um dia de semana, quarta-feira, o então Papa Paulo VI  recebeu Agostinho Neto, Marcelino dos Santos e Amílcar Cabral, na qualidade de dirigentes do MPLA, FRELIMO e PAIGC, respetivamente, reunidos em Roma por ocasião  da "Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas". 

No final da audiência, o Papa deu a cada um deles uma cópia em português da carta encíclica "Populorum Progressio" (1968) [Do esenvolvimento dos Povos], documento  que continha o pensamento da Igreja sobre a descolonização, a autodeterminação e o desenvolvimento dos povos.

Este acontecimento foi um série revés para a diplomacia portuguesa, embora a Santa Sé tenha procurado depois minizar o significado político da audiência, face aos protestos diplomáticos de Portugal, alegando que os três dirigentes nacionalistas africanos teriam sido recebidos, a título privado e na sua qualidade de católicos... 

O acontecimento desencadeou, na altura, uma crise nas relações entre o Governo português e o Vaticano. Anos mais tarde, a Rádio Vaticano vem falar de uma "histórica audiência" que tem que ser vista à luz do Concílio Vaticano II (concluído em 1965) e da Encíclica “Populorum Progressio”, publicada em 1967…

Submetidos à censura, os jornais portugueses da época, tais como o  "Diário de Lisboa" ou o "Diário de Notícias" (**), só deram a notícia quatro dias depois.

A Rádio Vaticano recordaria, em 2012,  34 anos depois da morte de Paulo VI, as palavras do cardeal Achile Silvestrini, que em 1970 colaborava com o então Secretário de Estado, o cardeal Agostinho Casaroli, e que, nessa qualidade, acompanhou de perto o processo que levou ao referido encontro do Papa com os três líderes africanos de língua portuguesa. Essas palavras foram proferidas num congresso sobre a figura e obra de Amílcar Cabral, realizado em Roma, na Rádio Vaticano, em 31/12/1999. Nele participaram, além do Cardeal Achile Silvestrini, outras personalides, "nomeadamente, Luís Cabral, primeiro Presidente da Guiné-Bissau independente e irmão do herói guineense" (sic)...  (O PAIGC, muito em particular, sempre teve na Itália fortes grupos de apoio à sua luta, incluindo comunidades e personalidades da Igreja Católica).

Achile Silvestrini ajuda-nos a perceber melhor o contexto em que se realizou o encontro do Papa com os 3 dirigentes nacionalitas lusófonos  (***):

"Tinha terminado não há muito o Concílio Vaticano e esta Encíclica veio como uma espécie de grande mensagem do interesse e do apoio da Igreja à promoção de todos os povos da África, da Ásia, e também da América Latina, que de algum modo estavam em condições de sujeição: ou de colonialismo, ou de subdesenvolvimento, ou de uma coisa e outra. Uma grande Encíclica que ainda hoje se lê com enorme admiração, porque foi um passo enorme. 

"Na minha experiência, que tive, se tivesse que dizer quais são os dois grandes acontecimentos da vida da Igreja nos últimos 50 anos, diria sem dúvida: o Concílio Vaticano II (sobre o qual estamos todos de acordo), mas o outro acontecimento paralelo é a descolonização.”

O Papa Paulo VI, o primeiro a vir a Portugal, em 1967, no 50º aniversário das aparições de Fátima,  não era das simpatias de Salazar, nomeadamente desde a sua visita a Bombaím, em 1963. Recorde-que em em finais de 1961 forças da União Indiana tinham invadido e ocupado os territórios de Goa, Damão e Diu.  A visita de Paulo VI a um congresso eucarístico a Bombaím foi vista pelo regime de Salazar, e o próprio Salazar, como uma grave ofensa a Portugal e ao catolicismo português. (****)

Para Amílcar Cabral, este terá sido um dos seus momentos de glória. Numa carta para Carmen Pereira, datada de Conacri, 13 de julho de 1970, comenta os sucessos da diplomacia do PAIGC nestes termos: "No plano internacional, acabamos de ter uma grande vitória contra o inimigo, com a conferência de Roma e com a entrevista com o Papa".
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P17359: Notas de leitura (956): “Portugal e as Guerrilhas de África”, por Al J. Venter, Clube do Leitor, 2015, prefácio de John P. Cann (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,

A façanha de Al Venter deverá ser tida em conta: na atividade correspondente de guerra, cobriu as três frentes de batalha, andou mais de uma década em helicópteros, em operações, entrevistando os protagonistas. Coligiu em forma de livro todas essas notas pessoais e não esconde a sua perspetiva jornalística. Dirá, perto do final das suas quinhentas páginas, que Portugal, ao transferir para Ultramar o peso predominante do fornecimento de mão-de-obra, ganhou em quatro frentes: alargou a fonte de mão-de-obra militar; reduziu o custo das tropas em campo; ganhou uma grande medida de sustentabilidade; manteve o conflito dominado e em baixo ritmo. Este aspeto admirável como balanço de guerra não implica, como leremos neste primeiro texto, que o descontentamento atingia por tabela oficiais do quadro permanente e milicianos.

Os apêndices do livro são muitos importantes.

Um abraço do
Mário



Portugal e as Guerrilhas de África (1), por Al J. Venter

Beja Santos

“Portugal e as guerrilhas de África”, por Al J. Venter, Clube do Leitor, 2015, prefácio de John P. Cann, é uma detalhada viagem – reportagem de um jornalista que pisou as frentes da Guiné, Angola e Moçambique. O seu primeiro relato, intitulado "The Terror Fighters (1969)", respeita a Angola. A obra seguinte, já circunstanciadamente referida no blogue bem como no livro “Da Guiné Portuguesa à Guiné Bissau: Um Roteiro”, de que sou coautor intitulou-se "Portugal’s War in Guinea-Bissau". Para o prefaciador, “Al Venter combina descrições vividas dos combates, as vidas quotidianas dos soldados em combate e a perspetiva mais alargada da campanha através de uma série de entrevistas e observações como repórter de guerra experimentado”. E conclui: “Embora não tenha sido derrotado no campo de batalha, Portugal acabou por reconhecer em 1974 a futilidade da luta. A sua descolonização realizou-se a um ritmo rápido e mal ponderado, não tendo levado a paz a qualquer das suas antigas colónias. Ninguém ficou feliz com o resultado e, nas décadas seguintes, a África Lusófona tornou-se um campo de batalha permanente para interesse locais e internacionais”.

Estamos em Angola, eclodem as sublevações em 1961, Al Venter esboça o plano de fundo da descolonização no continente. Embora, em termos propagandísticos, o regime dissesse que estava orgulhosamente só, militarmente não estava, como o autor observa: 

“Apesar dos seus problemas, Portugal teve apoio material, embora discreto, da maior parte da Europa, dos seus aliados na NATO. Outros países pró-ocidentais, como Marrocos, e um ou dois Estados do Médio-Oriente – incluindo a anticomunista Arábia Saudita – forneceram a Lisboa medidas de assistência secretas. Quase todas as armas e aeronaves deslocadas para as três províncias ultramarinas tinham a marca da Organização do Tratado Atlântico Norte e, apesar da NATO não ter tido uma participação ativa nas guerras coloniais portuguesas, não era segredo que muitos especialistas americanos e europeus colaboraram nas várias áreas operacionais. Washington centrava-se no material bélico que era fornecido pelos Estados comunistas, em particular em algumas das armas utilizadas contra as forças americanas no Vietname”.

De 16 a 18 de Fevereiro de 1973, Al Venter está em Tete, em Moçambique, descreve ao pormenor a coluna, as minas, o calor opressivo. Depois salta para Angola, em 1968 está na região dos Dembos, de repente, num encarte de fotografias a cores vejo o Virgínio Briote no seu bilhete de identidade, como coleção do autor, mais adiante, encontrarei outra fotografia do nosso blogue, aquela iconográfica marcha na bolanha com água até à cintura, também como fotografia do autor, acho isto muito estranho mas adiante, os lesados que se manifestem. 

Viaja entre Nambuangongo e Zala, entrevista um capitão de nome Alçada, apercebe-se que os oficiais do quadro permanente mostram-se reticentes sobre o desfecho da guerra. Dá-nos um histórico do MPLA, da FNLA e da UNITA. E parte para Cabinda, o enclave rico em petróleo. Há já alguns anos que a atividade rebelde não se fazia sentir perto da cidade, mas o enclave enfrentava os países hostis da República de Democrática do Congo Brazzaville, a luta de guerrilha era uma constante. Um oficial superior ironizou acerca de Cabinda: “É uma cidade em crescimento, tudo porque os americanos descobriram petróleo”.

Como esta extensa reportagem saltita de questão em questão, de palco de guerra em palco de guerra, Al Venter procura responder: porque é que Portugal perdeu as guerras em África? Interpretando os factos, observa que as elites tinham sabido inicialmente de se envolver uma excelente doutrina. E comenta: 

“Em mais do que uma ocasião ouvi oficias sul-africanos que estiveram em contacto com as forças portuguesas discutir a excelente teoria e com alguns planos operacionais, muito bem elaborados falharam por o trabalho no terreno ser tão fraco… À medida que a guerra progredia, um número cada vez mais elevado de jovens deixava de responder à causa. Tal como crescia em Portugal a oposição às guerras, também aumentava o número dos que não se apresentavam ao serviço militar. Estima-se que cerca de 110 mil portugueses não tenham cumprido o serviço militar entre 1961 e 1974. No último recrutamento, antes do golpe de Estado de Abril de 1974, apresentaram menos de metade dos que foram convocados. Em consequência, à medida que crescia a organização da defesa, as universidades foram chamadas a fornecer um número muito maior de oficiais subalternos necessários para combater”. E conclui: “Foi um final verdadeiramente ignominioso de uma tradição colonial de cinco séculos, magnífica embora imperfeita mas, pensando bem, quatro décadas depois, não havia alternativa”.

Entramos agora na guerra da Guiné. À semelhança do que já escrevera em Portugal’s War in Guinea-Bissau (1973), não esconde a profunda admiração pelo capitão João Bacar Djaló, oficial dos comandos africanos. Andará com esse herói de guerra na região de Tite, numa patrulha. Uma semana depois de ter deixado Tite, o capitão João Bacar Djaló foi morto. Durante uma emboscada, no Sul da Guiné, houve um acidente gravíssimo com minas antipessoais. João Bacar não foi atingido pelas minas mas por uma granada sua que se soltou da mão. Terá sido o seu último ato de heroísmo, ter-se-á apercebido que se afastasse a granada havia a probabilidade de matar os que estavam perto dele, então colocou o engenho junto ao seu corpo.

Para Al Venter, a Guiné foi a única campanha perdida por uma potência colonial em África. Descreve a relação de forças na África Ocidental e os respetivos apoios internacionais. De vez em quando, Al Venter diz coisas incompreensivas, tais como: 

“Inicialmente, o PAIGC era composto por pequenos grupos de intelectuais africanos descontentes, muitos dos quais tinham sido educados nas universidades de Lisboa ou Coimbra” – gostava de saber onde é que ele descobriu que o PAIGC tinha esta composição… 

Aliás, mais à frente dirá que Cabral foi substituído depois do seu assassinato por Vítor Monteiro, que é completamente falso. A substituição de Schulz por Spínola é apresentada como a recuperação de uma guerra que estava à beira do colapso… Mais adiante dirá que Schulz tudo fez para receber mais apoios de Lisboa e que lhe foram negados… E que até tinha formado 18 companhias de milícias. E voltamos ao princípio, à Operação Tridente.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17348: Notas de leitura (955): “Crepúsculo do Colonialismo, A Diplomacia do Estado Novo (1949-1961)”, por Bernardo Futscher Pereira, Publicações Dom Quixote, 2017 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17358: Parabéns a você (1252): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17338: Parabéns a você (1251): Fernando Valente (Magro), ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Guiné, 1970/72) e Henrique Matos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1966/68)

domingo, 14 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17357: Convívios (801): CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67): Caldas da Rainha, 29 de abril de 2017 - Parte II (Jorge Araújo)


(Continuação) (*)








Fotos: ©: Álvaro Carvalho (2017). Todos os direitos reservados [Edição e lendage: Jorge Araújo / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17356: Convívios (800): CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67): Caldas da Rainha, 29 de abril de 2017 - Parte I (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P17356: Convívios (800): CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67): Calda da Rainha, 29 de abril de 2017 - Parte I (Jorge Araújo)











(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17351: Convívios (799): Encontro do pessoal do BART 3873, que se realiza no próximo dia 3 de Junho de 2017, em Válega - Ovar (Sousa de Castro)