terça-feira, 23 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17388: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (17): Uma farra "açoriana" em Cufar.. ou o "universo concentracionário" em que viviam as NT


Foto nº 1 


Foto nº 2 A


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4A


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7A


Foto nº 7B

Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ  4740 >  1973 > "Uma farra das NT"... O fotógrafo é o segundo, na foto nº 1, a contar da esquerda para a direita


Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


O Luís Mourato Oliveira na Praia da Areia Branca,
Lourinhã.  É bancário reformado, lisboeta.

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf da CCAÇ 4740 (Cufar, 1973) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)


De rendição individual, foi o último comandante do Pel Caç Nat 52. Irá terminar a sua comissão no setor L1 (Bambadinca), em Missirá, depois de Mato Cão, e extinguir o pelotão em agosto de 1974.

Até meados de 1973 esteve em Cufar, a comandar o 3º pelotão da CCAÇ 4740, no 1º semestre de 1973. Tem bastantes fotos de Cufar, que começámos a publicar no penúltimo poste  da série (**).

Hoje mostra-se uma sequência de fotos (7) a que o fotoógrafo chamou "farra das NT". Sem mais legendas, as fotos falam por si, sendo muito reveladores do universo concentracionário em que se vivia na Guiné, nos aquartelamentos e destacamentos das NT. É a caserna na sua intimidade...

Recorde-se que esta subunidade, a CCAÇ 4740, era constituída por pessoal açoriano. Centena e meia de homens, na flor da idade, partilhavam espaços reduzidos, geralmente sob a  forma de  toscos "bunkers", semi-enterrados, construídos de troncos de palmeira, chapa, bidões, terra e argamassa, e  onde coabitavam  com os bichos (mosquitos e demais insector, roedores, répteis) e a atmosfera  era muitas vezes irrespirável, devido aos cheiros, à humidade, ao calor, à  semi-obscuridade, à sujidade, ao pó ou à lama (conforme a estação do ano: época das chuvas ou época seca)... Noutros casos, eram verdadeiros armazéns de depósito de material humano, com cobertura de chapa de zinco (foto nº 2)...

A ventoínha (fotos nº 4 e 6)  era um luxo, só para alguns, e só durante escassas horas da noite, quando se ligava o gerador... Nestas casernas do mato, os homens  viviam, conviviam, comiam e dormiam quase sempre em tronco nu, de calções e chanatas (fotos nºs 2,3, 5, 6, 7). O álcool, o tabaco e as cantorias, além das jogatanas de cartas, eram dos poucos escapes que a malta tinha nas "horas vagas"... Os dias sucediam-se aos dias, perdia-se a noção do tempo... Deiixa-se crescer o bigode, contra os regulamentos, para se pparecer mais bravo e macho (fotos nºs 3, 4 e 7).

No meio de toda esta promiscuidade, salvava-se a amizade, a solidariedade, a camaradagem... E cada companhia que chegava procurava melhorar, para si e para os vindouros, as condições de vida que encontrava... Se a guerra tivesse durado 100 anos, como alguns queriam, estou ciente que em Cufar já haveria hoje painéis solares, ar condicionado e bar aberto...

Temos, no nosso blogue,  uma série sobre "Os Bu...rakos em que vivemos" que pode ser revisitada. Na realidade, não eram "bunkers" de cimento armado à prova de canhão s/r ou morteiro 120  (com raras exceções, como Guileje), mas verdadeiros "buracos" a que os nossos chefes chamavam pomposamente "abrigos"... De Cafal Balanta a Mato Cão, de  Mampatá a Banjara, da Ponte do rio Udunduma a Ponte Caium, de Sare Banda a Missirá, de Madina do Boé a Copá..., a Guiné era, toda ela, uma terra "esbu...rakada".

Camaradas, estas fotos merecem a vossa atenção, os vossos comentários! (LG)

PS - A CCAÇ 4749 (Cufar, 1972/74) tem um sítio na Net. Ver aqui. E vai realizar o seu XI Encontro Nacional, em Fátima, no dia 10 de junho de 2017.
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Notas do editor


segunda-feira, 22 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17387: Notas de leitura (960): “Arcanjos e Bons Demónios, Crónicas da Guerra de África 1961-75”, por Daniel Gouveia, 4.ª edição, DG Edições, 2011 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Maio de 2017:

Queridos amigos,
Sim, é verdade, os teatros de guerra distinguem-se à légua, quando se fala de manchambas, mainatos, embondeiros ou pacaças, sabemos que esta linguagem não é aplicável ao território guineense, onde não há montanhas, nem abismos, nem se fazem viagens de centenas de quilómetros.
A guerra de Daniel Gouveia passou-se em Angola, mas o escritor teve a varinha mágica de versar as coisas num contexto tal que ninguém fica de fora, somos empurrados em todas estas viagens, peripécias, bizarrias e acontecimentos épicos, como será a última história de uma parturiente que tinha o seu bebé atravessado, lá foi de jipe até ao hospital, as esperanças eram poucas, o jipe deu uma sacudidela mais violenta, a criança empinou-se para a frente, houve um final feliz.
É um livro testemunho de alguém que deve ter uma visão positiva da vida, que não conhece rancores e tem as melhores memórias de se ter feito homem no meio daqueles arcanjos e bons demónios.

Um abraço do
Mário


Arcanjos e bons demónios: histórias de cuidado, de fraternidade e horror (1)

Beja Santos

“Arcanjos e Bons Demónios, Crónicas da Guerra de África 1961-75”, por Daniel Gouveia, 4.ª edição, DG Edições, 2011, é um livro notável, seja qual for o prisma com que encararmos estas crónicas em que um alferes descobre um continente, novas dimensões da solicitude, impensáveis usos e costumes, mas também o medo, a camaradagem e o amor ao próximo. Digamos que são memórias a partir da senectude de alguém que se temperou em múltiplos ofícios, desde velejador oceânico, passando por gestor comercial, à tradução edição de livros. Percebe-se que houve uma laboriosa congeminação para ter chegado a este documento ímpar. É timbre da melhor literatura de guerra pôr o homem perante os seus desafios, por caminhos em que se vê que ele está a crescer e que pela vida fora nada superará o que ali aconteceu, de armas na mão ou a ajudar os outros. Daniel Gouveia concebe as suas crónicas naquele saboroso estilo da narrativa das mil e uma noites, do tipo na sequência do capítulo anterior até chegarmos a um derradeiro episódio que nos deixa com vontade de saber mais.

Crónicas montadas numa grande capacidade de observação e de confessado deslumbramento. Logo a descrever uma queimada:
“A queimada era a grande convulsão da planície. A hecatombe dos pequenos e lentos: caracóis, formigas, pássaros ainda no ninho, cágados surpreendidos longe do seu pântano. A muralha de fogo avançava, crepitante, atirando ao ar palhas a arder, folhas, cinzas, em turbilhões desencontrados, com um ruído de trovão contínuo, pontuado por estoiros de troncos a rachar. Uma dança de vermelhos e amarelos, golfando fumo que coava o sol numa luz acastanhada e sombria. E castanho era o cheiro que inundava o ar e alarmava os bichos. A frente de chamas agitava-se, qual pano de fundo no drama dos que não tinha uma toca suficientemente funda. Por cima revoluteavam as águias, sacudidas pela turbulência, antes de picarem sobre alguma cobra ou rato em fuga louca, desvairados pelo ardor nos olhos”.

Dotado de uma grande capacidade de olhar e exprimir sentimentos, é fluente e impressivo a contar-nos as dores da morte, o rescaldo na desgraça, os imprevistos de uma agonia, a tentativa de fotografar uma onça na armadilha. Em vagas sucessivas, o leitor é introduzido na fauna e na flora, acompanha quase por dentro os estrépitos do confronto entre o homem e o bicho. O pelotão em patrulha dera com o rasto de pacaças e o guia pontificou, tinham passado havia pouco minutos, seriam uns vinte animais, com crias, estavam a cinquenta metros dali. Não se pode perder o episódio.
“- Como é que sabes isso tudo? 
- Meu alferes, o excremento ainda fumega. O trilho largo assim… São umas vinte, mais ou menos. Vê estas bostas mais pequeninas? São das crias. 
- E como é que sabes que estão a cinquenta metros? 
- O meu alferes não ouve? 
- Ouço o quê? 
- Este barulho, de vez em quando, de paus a partir… São elas a andar, devagarinho. Enquanto pastam, pisam ramos secos, partem paus. Olhe! Ouviu agora?”.

Toda a boa literatura é uma história bem contada, é o que encontramos aqui, já não se pode lagar o texto, o guia explica o que vai fazer, a tropa dispõe-se na defensiva, o guia deita-se a bater com as mãos e os pés no chão e a imitar o grito da cria de pacaça quando é atacada. O que se segue atabafa os sentidos:
“Passaram uns segundos, durante os quais nada se ouviu senão a restolhada e guinchadeira do guia, no que mais parecia um ataque epiléptico. Os primeiros risos dos soldados foram, porém, apagados por um ruído surdo, levantando-se progressivamente do interior da mata. Primeiro era um trovão longínquo, em crescendo contínuo. Depois o chão começou a tremer e o trovão a aproximar-se, acompanhado do estralejar de ramos partidos e vergastadas de arbustos. O que se ouvia contrastava com a quietude absoluta do que a vista registava, num ambiente irreal de tensão avolumada a cada instante. A seguir, as folhas das vergônteas mais finas entraram em vibração. Por fim, o barulho atroador e o tremer do solo assemelhavam-se ao metropolitano a entrar na estação. De repente, a ramaria baixa que limitava a clareira abriu-se num rompante e dela saiu um turbilhão de patas e chifres com 400 quilos de carne lançada a toda a força. Vinha num trote rapidíssimo, com o focinho rente ao chão, narinas e olhos dilatados, resfolegando. Ouviu-se um tiro e aquela visão aterradora desmoronou-se, percorrendo os últimos metros já desarticulada e rojando os flancos, em espasmos de agonia. Os animais que vinham atrás eram muito menos corpulentos e, tal como o guia previa, mal chegavam à clareira, guinavam, em fuga precipitada, para a esquerda e para a direita, deitando um último olhar apavorado ao chefe morto”.

Não se trata das descrições de uma guerra com um recurso ao teatral, à bazófia, ao caricatural ou chocarreiro. O que se escreve vem da inspiração de olhar seres humanos, brancos ou negros, na sua inteireza, procurar entender as normas culturais do residente ou do militar que ali aterrou, vem da predisposição de estar aberto à sabedoria dos outros, daí as peças saborosas da conversa do alferes com aquele guia que sabe quando passou o javali, que estudou as folhas, e que por ali passou uma cabra-do-mato perseguida por uma onça. O alferes recebe uma soberana, a rainha D. Isabel, dos Marimbas, com poder de vida ou de morte sobre os súbitos, entrou no quartel a dançar, acompanhada pelo seu séquito. “Com uma desenvoltura de negar os seus 80 e tal anos, comandou uma rodopiante coreografia de requebros de anca e revoluteios de braço, com a qual o grupo franqueou a distância entre a porta de armas e o centro da parada, no meio de nuvens de pó levantadas pelos pés descalços”. Alguém advertiu ao alferes que devia mandar vir duas cervejas para a rainha. Conversaram, o alferes entendeu a parte diplomática: mandasse o alferes nos portugueses e a deixasse a ela mandar nos pretos, que se haviam de entender muito bem, pois isso de perder poder não agrada a ninguém e era melhor ajudarem-se nesse particular. A conversa terá corrido bem, despediram-se com a garantia mútua de paz e concórdia, e o cantineiro lá explicou ao alferes porquê mandar servir duas cervejas bem frescas à rainha:
“Saiba que para esta gente é má educação oferecer apenas uma unidade seja do que for. Porque isso é oferecer o mínimo. Se queremos mostrar verdadeiro gosto em presentear, tem de ser, pelo menos, duas unidades. De outra maneira estamos a insultar a pessoa”.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17383: Notas de leitura (959): Prefácio de António Graça Abreu, ao livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo, lançado em Leiria no passado dia 6 com a presena do presidente da Câmara Municipal local, Raul Castro, também ele ex-combatente

Guiné 61/74 - P17386: Blogpoesia (511): "Sucessão de formas concêntricas"; "Dedos famintos, desalmados" e "Lavar na fonte", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Lavadouros do Rio Leça, inaugurados em 1937. Já não existem
Com a devida vénia a Matosinhos Antigo


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Sucessão de formas concêntricas

Vem de longe este túnel de formas concêntricas que eu sou.
Dum encontro fatal brotou um ser compósito:
Alma e corpo, com forma de gente.
Único e irrepetível.
Um elo, apenas.
Com um destino que é seu.

Propagou-se no tempo,
Em imagens crescentes.
Desde um simples minúsculo, idêntico,
Ao ponto que sou,
Numa permanência perfeita e total.

Sinto quem fui desde o começo,
Não como alheio.
Diviso para trás,
Mas ignoro o que serei no futuro…

Berlim, 17 de Maio de 2017,
8h38m
Mais um dia de sol
Jlmg

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Dedos famintos, desalmados

Dedos famintos, desalmados,
Daquele jovem iluminado,
Percorrem os teclados dum órgão alucinado
Clamando os sons incandescentes da Tanauser do nosso Wagner.
Enchem a catedral. Até as pedras centenárias
Das colunatas vibram nos seus prumos,
Como vibrantes cordas.

E, pelo chão, em deliciosas cadências,
Os pés do organista
Marcam o ritmo
Como se fosse bateria.

É a hora expoente da arte musical.
Tanta beleza!
Que nos enche e sacia a alma
Com os magnos eflúvios sonoros
Que só um órgão de tubos
É capaz de dar…

Berlim, 20 de Maio de 2017
18h3m
Ouvindo a Tanhauser de Wagner tocada num órgão de tubos, por Jonathan Scott
Jlmg

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Lavar na fonte

Sob a latada sombria, no fundo do campo,
Havia um tanque.
Uma bica constante despejava um rego de água vindo da rocha no seio da terra.

As moças chegavam com cântaros de barro.
Enchiam e lá seguiam para casa, contentes.

O tanque comprido parecia piscina.

De alguidares à cabeça, chegavam mulheres,
Com resmas de roupas.

Enchiam o …longo, em pedra,
A todo o comprido.
Cada uma, um sabão em barra.

Mergulhavam a peça.
Estendiam-na na pedra.
Esfregavam, com força o sabão.
O sujo, envergonhado, sumia.

De novo um mergulho.
Esfregavam, torciam.
A água escorria.
Esta já estava.

Entretanto, na galhofa,
Se contavam as últimas.
Nada escapava.
Melhor que a Reuter…

Do abade ao ferreiro.
Da Seara e da Tripa.

Se entoavam cantigas de igreja
E brejeiras.

Quem passava na estrada, encima,
Parava a ouvi-las.

As horas corriam.
Saía uma e logo outra chegava.
Assim se passava a manhã.

Pela tarde, reluziam ao sol,
Pendentes nas cordas,
Toda a roupa lavada,
Melhor que nas máquinas...

Berlim, 18 de Maio de 2017
8h56m
Dia quente de sol
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17354: Blogpoesia (510): "Oração à paz"; "Alimento secreto" e "Festa do sol", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17385 Louvores e condecorações (11): CCAV 252 (Bafatá, Bula, Mansabá e S. Domingos, 1961/63) (Mário Magalhães, grã-tabanqueiro nº 742, um dos nossos "veteraníssimos")

1. Mensagem, de  do nosso "veteraníssimo" Mário Magalhães, membro nº da Tabanca Grande nº 742, ex-srgt mil da CCAV 252, Bafatá, Bula, Mansabá e S. Domingos, 1961/63, com data de 11 de Abril de 2017:

[ Foto à esquerda, Mário Magalhães que serviu o país, como militar, em dois períodos distintos;

(i) fez o serviço militar, de 7 de abril de 1959 a 7 de março de 1961 (Escola Prática de Cavalria, Curso de Sargentos Milicianos; BA 4, Açores, Polícia Aérea); 

(ii) foi reintegrado em 6 de junho de 1961 (CIOE, Lamego), sendo mobilizado para a Guiné , de agosto de 1961 a novembro de 1963, como fur mil  da CCAV 252; 

(iii) esteve em Bafatá, Nova Lamaego,  Buruntuma, Bula, Caió e S. Domingos; 

(iv) realizou múltiplas actividades operacionais nas zonas de: Bula, Binar,Caió, Mansoa, Farim, Olossato, Oio/Morés, Susana, Varela, S. Domingos, Ingoré, etc.; 

(v) foi promovido a 2º srgt mil em 28/2/1963.]

Caros Camaradas Tabanqueiros,

Agradeço todos os comentários que ,amavelmente ,bons camaradas se dignaram tecer após e a propósito da minha inscrição como membro da TG, bem como em referência á CCav 252 á qual pertenci e servi, não apenas como expedicionário mas como combatente em repetidas ocasiões sempre encaradas com o maior empenho e rigor militar.

Segue texto do louvor colectivo á CCav.252 emitido pelo Comandante-Chefe das FA da Guiné, louvor que por si só define o verdadeiro estatuto da Unidade no contexto descritivo dum "Teatro de Guerra". (**)


Louvor atribuído à CCAV 252, com data de 4 de novembro de 1963, pelo então com-chefe, brigadeiro Fernando Louro de Sousa 
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P17384: Parabéns a você (1257): Luciano Jesus, ex-Fur Mil Art da CART 3494 (Guiné, 1971/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17380: Parabéns a você (1256): Mário Pinto, ex-Fur Mil Art da CART 2519 (Guiné, 1969/71)

domingo, 21 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17383: Notas de leitura (959): Prefácio de António Graça Abreu, ao livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo, lançado em Leiria no passado dia 6 com a presença do Presidente da Câmara Municipal local, Raul Castro, também ele ex-combatente


Capa do livro do Luís Branquinho Crespo, "Guiné: um rio de memórias".
 Leiria, Textiverso, 2017


Leiria > Celeiro da  Casa do Terreiro > 6 de maio de 2017 > Sessão de lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) > Da esquerda para a direita, eng Carlos Fernandes, escritor,especialista em história local e regional (ele próprio natural das Cortes, tal como o Branquinho Crespo, e aqui presente na qualidade de editor),  o  dr. António Graça de Abreu, apresentador da obra, o  dr. Luís Branquinho Crespo, autor, o  dr. Raul Castro, presidente da Câmara Municipal de Leiria,  e José Cunha, presidente da União de Freguesias de Leiria, Pousos, Barreira e Cortes



Leiria > Celeiro da  Casa do Terreiro > 6 de maio de 2017 > Sessão de lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) >  O  dr. Raúl Castro, presidente da Câmara Municipal de Leiria,   ele próprio antigo combatente na Guiné, aqui no uso da palavra. (Nasceu em Abrantes, em 1948, é presidente da autarquia leiriense , desde 2009).


Leiria > Celeiro da  Casa do Terreiro > 6 de maio de 2017 > Sessão de lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) > O eng Carlos Fernandes, representante da editora,  no uso da palavra.



Leiria > Celeiro da  Casa do Terreiro > 6 de maio de 2017 > Sessão de lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) > O dr. António Graça de Abreu, membro da nossa Tabanca Grande, apresentador da obra, e o  dr. Luís Branquinho Crespo, autor.


Leiria > Celeiro da  Casa do Terreiro > 6 de maio de 2017 > Sessão de lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) >  Aspeto da assistência


Leiria > Celeiro da Casa do Terreiro > 6 de maio de 2017 > Sessão de lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017) > Sessão de autógrafos, com o Luís Branquinho Crespo, à direita. (Ex-alf mil, CART 2413, Xitole e Saltinho, 1968/70, advogado em Leiria, passou a integrar a nossa Tabanca Grande desde 18/5/2017, com o nº 744).

Fotos : © Luís Branquinho Crespo (2017). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem, de 18 do corrente, emviada pelo António Graça de Abreu,membro da nossa Tabanca Grande;


Meu caro Luís:

Segue o meu prefácio às "Memórias" do Luís Branquinho Crespo.

Na apresentação do livro, baseei-me neste meu texto, mais umas notas e improvisos. Saímo-nos todos muito bem, para uma sala cheia, aí com 60 pessoas. 

Para publicar no blogue, faltam as fotos do acontecimento. Espero que o Branquinho tas envie em breve. Esteve lá o Presidente da Câmara, dr. Raul Castro, nosso camarada da Guiné, e mais gente grada e de qualidade, de Leiria e arredores.

Este mail também vai para conhecimento do Branquinho Crespo.

Abraço amigo,
António Graça de Abreu


2. Guiné: um rio de memórias, de Luís Branquinho Crespo (Leiria, Textiverso, 2017) > Prefácio de António Graça de Abreu 

Nós todos, ex-combatentes na guerra da Guiné, apanhados na verdura dos anos pelas convulsões do fim do império, somos hoje pacatos cidadãos com bonitas idades entre os sessenta e muitos, setenta e os oitenta anos. Temos trajectórias sinuosas e extremadas por bolanhas, tarrafos, florestas e rios dessa fantástica terra verde e amarela onde delapidámos e construímos os dias, e que permanece em nós, na memória serena ou exaltada de um passado como pequenos ou grandes guerreiros numa guerra que aparentemente nada tinha a ver connosco, mas onde fomos dignos portugueses, como sempre dando corpo a uma enorme e implacável gesta, com séculos de história, eivada de heroicidade, medos e loucura.

Alguns de nós temos tido a ventura de, quase cinquenta anos depois, regressarmos aos lugares onde derramámos sangue, muito suor e algumas lágrimas, onde assumimos uma vez mais este singular sortilégio de um povo estranho e excelente a quem, como recordou o padre António Vieira, já em 1670, “Deus deu pouca terra para o nascimento e tantas outras para a sepultura; para nascer pouca terra, para morrer, toda a terra; para nascer Portugal, para morrer, o mundo.” [1]

Os livros de memórias, diários, relatos factuais escritos pelos velhos combatentes das guerra de África (1961-1974) continuam a aparecer regularmente nos escaparates das livrarias sempre com novas abordagens, objecto do entendimento de cada um, em retratos exemplares de um passado distante mas que continua vivo, está no tutano dos nossos ossos e só se extinguirá quando levarmos connosco para uma outra vida os retratos esfusiantes da nossa quase meninice, com uma espingarda nas mãos, os olhos tracejados a sangue e o esvair de mil sonhos.

Quanto ao conflito bélico, no que à antiga Guiné Portuguesa diz respeito, todos os que por ela passámos, somos porventura os eleitos dos deuses da guerra, pelo extremar das situações de combate, pela inclemência de um clima hostil, pela dificuldade de inserção do nosso combatente num quotidiano onde as chagas e o sofrimento corriam em catadupas, onde, contraditório como tudo o que a Portugal costuma dizer respeito, acabámos por encontrar a harmonia possível, o entendimento fraterno com os nossos camaradas de armas e com as populações nativas. Foi a quase mágica adaptabilidade portuguesa, experimentada, testada pelos quatro cantos do mundo, essa capacidade de inventarmos mais vida, de estarmos de bem connosco e com as mais desvairadas gentes a quem, por tantas singulares razões, ligámos a nossa existência.

O Luís Branquinho Crespo, na tropa, em 1964
Luís Branquinho Crespo é um dos nossos, um excelente oficial miliciano na Companhia de Artilharia 2413 que fez a guerra da Guiné aquartelada no Xitole e depois no Saltinho, terras do interior do território guineense, entre 1968 e 1970.

Ao publicar agora o seu livro Guiné, Rio de Memórias, Branquinho Crespo desdobra-se em descrições iluminadas sobre esse período único da sua vida. Logo nas primeiras páginas temos o relato emocionado da despedida de Carlos Viegas, o alter ego que o autor utiliza como nome nestes textos, ao despedir-se da sua mãe, uma senhora rasgada pelo sofrimento da partida para a guerra do seu filho querido, agarrando-se ao estribo do comboio “branca, lavada em lágrimas e contendo as golpadas da dor da despedida num silêncio que lhe gritou dentro do peito. Tinha a alma cheia de labaredas, como a flor da blusa.”

Esta mãe, é por certo a mãe de todos nós, os que um dia partimos para a guerra da Guiné.

Mas este livro de Luís Branquinho Crespo, ao contrário do que eventualmente possa parecer, não corresponde apenas a um caudal de memórias sobre um passado cada vez mais distanciado das nossas vidas.

Luís Branquinho Crespo, em 2002,
com 57 anos
Branquinho Crespo regressou à Guiné em 2010 para, de bem com a sua consciência, de bem consigo próprio, recordar o passado e empreender depois uma fascinante viagem por terra,
de volta a Portugal. Nesta sua obra mostra-nos um pouco das realidades da Guiné-Bissau, do dia a dia do país trinta e sete anos após a independência, com todos os problemas subsequentes a uma má descolonização e aos quase permanentes conflitos internos numa terra já soberana e dona do seu destino.

O autor lembra a tragédia dos fuzilamentos, em 1975, de centenas e centenas de guineenses que combateram na guerra ao lado das tropas portuguesas. Conversa com um africano que a quase tudo assistiu e que se refere aos homens “descarregados vivos e nunca mais ninguém os viu. Percebes? Nunca mais foram vistos, mas todas noites acordam comigo.” São marcas terríveis num filho da Guiné.

Nas suas andanças recentes pelas terras guineenses, Luís Branquinho Crespo encontra uma figura de português exemplar, de seu nome ou alcunha António Pouca Sorte, homem do barrocal algarvio, expatriado na Guiné-Bissau pós-independência, por obtusas razões, impossibilitado de voltar a Portugal e que se começa a esquecer gradualmente da pátria portuguesa. Depois de 17 anos de vida na Guiné-Bissau, quando perguntado “Afinal o que se passa contigo?” António Pouca Sorte responde: “Eu sou como a Guiné, o meu nome é todo o mundo me esquece.”

Como referi, Branquinho Crespo fez a viagem por via terrestre no regresso da Guiné-Bissau a Portugal, no ano de 2010, num jipe com mais dois amigos através da Guiné, o Senegal, a Mauritânia, o antigo Sahara Espanhol, Marrocos, Espanha e finalmente Portugal. Foram quase cinco mil quilómetros de jornada pelas franjas marítimas do deserto do Sahara, por terras abrasadas pelo calor, distantes de tudo excepto do coração dos raros homens que por aí viajam, se reencontram e em solo quente e inóspitos retalham pedaços de vida.

Este “Guiné, Rio de Memórias” transforma-se então num livro de viagens, entrelaçando ficção e realidade no exaustivo jornadear, de terra em terra, de floresta em floresta, de deserto em deserto, desde a Guiné-Bissau até à “doce pátria” lusitana. São páginas curiosíssimas que se lêem com espanto, numa escrita rica, acutilante, descomplexada mas intensamente trabalhada. De resto, o autor escreve todo este livro com uma limpidez e uma qualidade rara nestas obras que vão sendo publicadas sobre as nossas guerras em África.

Em Goré, no Senegal, ao encontrar os antigos entrepostos de escravos que no passado eram levados para as américas em condições infra-humanas na travessia do Atlântico, Branquinho Crespo debruça-se sobre o infamante comércio de escravos e fala-nos nos “negreiros árabes que ali os descarregavam, depois de terem desbastado à catanada todos os que estivessem cansados (…) Impressionante o número dos que por aquela janela, aquela porta de saída tinham partido. E os que morreram? E como morreram? E como sofreram antes de morrer? E os lançados ao mar? (…) Vão lá e digam o que vão sentir. Ali está uma parte da miséria da humanidade. No meio daquelas cores quentes sente-se frio, muito frio. Tanto frio.

E apenas três almas portuguesas, de jipe, para atravessar o Sahara.”

Guiné, Rio de Memórias, o livro de Luís Branquinho Crespo é uma obra sobre um regresso a África. Mas como recorda o autor “nunca se regressa completamente”, a Guiné da nossa vida de quase meninos, no calor da guerra, no calor do tempo, no calor da fraternidade entre todos, permanecerá dentro de nós, para sempre.

Essa terra onde, como o autor escreve, “a ideia de Estado é uma coisa vaga ou desconhecida. Aliás na Guiné existe Nação, o que parece um contrassenso, mas é assim mesmo. E o Estado está a nascer ou vai nascendo. Ou nunca mais nasce. Ou vai morrendo, mas ainda está imberbe e não é recomendável. Talvez tudo isto espante, mas é verdade.”

E no entanto este livro é igualmente uma obra de confiança nas sinuosidades do comportamento humano, também de crença num futuro melhor para as multifacetadas gentes da Guiné-Bissau que como recorda Branquinho Crespo “Tem uma população jovem alegre, disponível e apesar de tudo cheia de esperança. E vai mudar, começa a haver sintomas de que algo vai mudar. Vão, vejam, sintam.”

Que se cumpram os bons augúrios de Luís Branquinho Crespo nessa espantosa terra verde e amarela, a que todos nós, ex-combatentes na Guiné-Bissau estamos ligados pela memória que nos circula no sangue e no bater ritmado do coração. (**).

António Graça de Abreu

[1] Padre António Vieira, Sermão sobre a fama de Santo António, a 13 de Junho de 1670, em Roma.


3. Onde e como adquirir o livro:

O  livro pode ser pedido à editora que tem a seguinte direcção:

Textiverso, Unipessoal, Lda
Rua António Augusto Costa, n.º 4
Leiria Gare
2415-398 LEIRIA
Contactos telefónicos:
244 - 881 449
966 739 440

E também ao autor:

Luís Branquinho Crespo

Largo da Infantaria 7, n.º 129 - 1.º Andar
2410-111 LEIRIA
Contactos telefónicos
244 843 270
918 353 265

Os interessados não se esqueçam de indicar a direcção...

O livro “ Guiné – Um Rio de Memórias” importa no valor de € 15,80 já com portes e esse valor pode ser transferido para o seguinte IBAN 0010 0000 1888 8110 0015 3

Caso pretendam pagar por cheque pode ser enviado para qualquer uma das direcções acima indicadas,

Guiné 61/74 - P17382: Convívios (804): 2º encontro da Tabanca do Algarve, Faro, 20/5/2017 (José Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68)


Foto nº 1 > Faro: Monumento aos combatentes (junto ao RI 4)


Foto nº 2 > Faro: Monumento aos combatentes. pequena aloucação do camarada  João Boteleiro



Foto nº 3 >  Aspecto (parcial) do almoço de convívio (1)


Foto nº 4 >  Aspecto (parcial) do almoço de convívio (2)

Foto nº 5 > Aspecto (parcial) do almoço de convívio (3): da esquerda para a direita,  reconhecemos dois dos nossos grã-tabanqueiros "algarvios": o Henrique Matos, que é açoriano (ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 52, Enxalé, 1966/68). e  o José António Viegas, (ex-fur mil do Pel Caç Nat 54, Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68).


Fotos : © José António Viegas (2017). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem de ontem, sábado, 20 de maio, às 17h08, do nosso camarada, amigo e membro da nossa Tabanca Grande José António Viegas (ex-fur mil do Pel Caç Nat 54, Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68):


Assunto - 2º Encontro dos Ex-Combatentes da Guiné (Concelho de Faro) - Tabanca do Sul



Realizou-se hoje em Faro o 2º encontro de ex-combatentes da Guiné.

Foi com muita satisfação que nos voltámos a juntar depois de mais uma chamada do ex-Major Marguilho.

Depois de uma singela homenagem aos nossos Camaradas caídos no Campo de Batalha do Concelho de Faro no Monumento[22 mortos no total, sendo 8 no TO da Guiné,segundo o portal Ultramar TerraWeb], e com uma pequena prelecção do nosso Camarada Dr. João Botelheiro, foi deposta uma ramo de flores seguido de 1 minuto de silêncio, para que nunca sejam esquecidos.

Seguiu-se depois um almoço de convívio. (**)


2. Comentário do nosso editor:


Parabéns, Zé Viegas, parabéns Henrique Matos, os únicos membros da Tanca Grande que eu reconheço nas fotos que vieram sem legendas... Vocês tinham prometido fazer um 2º encontro este ano, e cumpriram. Mas agora vamos lá acertar a designação da Tabanca: é Tabanca do Algarve ? É Tabanca do Sul ? É só Tabanca de Faro ?...

E tragam mais malta para a Tabanca Grande, mãe de todas as tabancas: o nosso blogue precisa de "periquitos", com álbuns fotográficos e algum jeito para a escrita!... Aquele abraço para a brava gente de Faro. (LG)

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sábado, 20 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17381: Manuscrito(s) (Luís Graça) (118): o deus da guerra


Lourinhã > Praia da Areia Branca > 29 de abril de 2017 >  Pôr do sol, no mar do Cerro, com a ilha das Berlengas ao fundo,,,

Texto, fotos e legendas: © Luís Graça  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição.  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O deus da guerra

por Luís Graça


Todo os dos dias o sol  “se põe”
e todos os dias volta a “nascer”.
Sabemos desde Galileu,
de ciência certa mas feita com emoção,
que a terra gira à volta de si própria
e ao mesmo tempo do sol.

Já tirámos milhões de fotos
ao "nascer" e ao "pôr" do sol,
já pintámos milhares de telas,
já construímos centenas de pirâmides,
tentando captar para a eternidade
a magia do sol.
Ou simplesmente fixar a eternidade.

Seres terráqueos, periféricos, frágeis,
somos borboletas,
somos girassóis,
somos adoradores do sol,
devemos-lhe tudo,
a começar pela vida
na terra.
(Haverá outra ?)

A magia do sol
ou o poder do fogo,
princípio e fim da vida:
pergunto-me,  o que é que nos atrai,
a nós, (e)ternos amantes,
que vimos à praia
para um derradeiro adeus ao astro-rei ?

Teme o dia, meu amor,
em que o sol se torne o deus da guerra
e, num acesso de ira,
incendeie o nosso planeta azul.

Guiné 61/74 - P17380: Parabéns a você (1256): Mário Pinto, ex-Fur Mil Art da CART 2519 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17376: Parabéns a você (1255): Joaquim Martins, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74) e Xico Allen, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 3566 (Guiné, 1972/74)

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17379: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte X: Puerto Vallarta, México

O escritor e a esposa, Hai Yuan
1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais  de 180 referências.

É casado com a médica chinesa Hai Yuan e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais. Soubemos, pelos jornais, que o João há poucas semanas andava  pela China e pela Coreia do Norte...

Neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016. Três semanas depois o navio "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, depois de sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017).

Texto, fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]







Parte X (pp. 28-30)
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17313: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte IX: De S. José da Costa Rica à antiga capital da Guatemala

Guiné 61/74 - P17378: Notas de leitura (958): “Portugal e as Guerrilhas de África”, por Al J. Venter, Clube do Leitor, 2015, prefácio de John P. Cann (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,

O melhor é lerem o livro de fio a pavio. É uma poderosa reportagem, não contesto, não conheço investigação tão minuciosa. Não se entende, no entanto, como é que o jornalista e escritor não procurou a confirmação de dados que ele expõe com a ar mais diáfano deste mundo. 

Quanto à Guiné, vê-se que o impressionou o patrulhamento que fez em Tite junto do capitão João Bacar Djaló. Não esconde que a Guiné era o teatro de operações mais atribulado e que a retirada de Spínola, em Agosto de 1973, prenunciava os tempos dolorosos que todos experimentaram. E confrange-se como um movimento de libertação com créditos tão firmados até na arena internacional mal chegou ao poder em Bissau parece que apostou na fragilidade do Estado e em desconjuntar o equilíbrio social, nunca lhe ocorrendo que a reconciliação de todos seria o primado da reconstrução nacional.

Um abraço do
Mário



Portugal e as guerrilhas de África (2), por Al J. Venter(*)

Beja Santos

“Portugal e as Guerrilhas de África”, por Al J. Venter, Clube do Leitor, 2015, é uma coletânea de reportagens de alguém que se perfila como o “único jornalista estrangeiro presente nas três frentes da guerra colonial”

Ao longo de cerca de 500 páginas, o jornalista e escritor colhe testemunhos, na verdade, nas três frentes. A sua investigação contempla a natureza das guerras de Portugal em África, dedica a segunda parte da obra por inteiro à guerra da Guiné e a terceira à evolução das operações no Leste de Angola e Moçambique, este último teatro de operações leva-o a proferir juízos muito cáusticos sobre o comportamento dos militares portugueses.

Na Guiné, destaca a Operação Tridente, não esconde a profunda admiração pelo herói militar João Bacar Djaló. Esteve na Guiné durante a guerra e muito depois. Nesse depois, visitou a Fortaleza de Cacheu e a suas velhas relíquias coloniais, fala mesmo em Vasco da Gama (!?) o primeiro homem a dobrar o Cabo da Boa Esperança e refere as canhoneiras portuguesas ali deixadas e tece o seguinte comentário: 

“Estas outrora orgulhosas embarcações de combate foram entregues intactas ao novo regime. Ao fim do ano tinham sido postas em seco e abandonadas para a sucata. Os seus motores foram vendidos ao um barco de pesca chinês de passagem”.

Em Nova Lamego foi recebido pelo Administrador, Dr. Aguinaldo Spencer Salomão. 

“Foi educado em Cantuária e era um anglófilo assumido. Se o enfadonho chefe de posto de Tite tinha sido um desapontamento, Aguinaldo era um sopro de vitalidade no preconceituoso reino da burocracia portuguesa na Guiné. Os seus livros em inglês, francês e português abrangiam quase todos os assuntos. A sua discoteca era vasta. Preferia Vivaldi a Schoenberg, mas era suficientemente eclético para ouvir um disco dos Beatles”

Viaja até Bambadinca, conversa com o comandante do BART 2917 e dá-nos a seguinte informação: 

“O último ataque ocorrera exatamente um ano antes de eu chegar: um grupo infiltrado tinha-se dirigido para Norte do outro lado da fronteira a partir de Kandiafara para tentar cortar a estrada de Bafatá. Num final da tarde, os guerrilheiros atacaram Bambadinca a partir do outro lado do rio, retirando-se depois para uma posição pré-determinada, onde esperaram pelo dia seguinte antes de se juntarem a outros dois grupos. Esta força combinada iria então atacar outras posições durante o assalto. Foi então que algo correu mal. Um grupo de pisteiros da força atacante colidiu com uma patrulha de Bambadinca e foi capturada intacta, sem ter sido disparado um único tiro. Um dos homens era um alto oficial do PAIGC. Os quatro homens foram levados de helicóptero para Bambadinca onde foi oferecida ao oficial a opção de contar tudo ou aceitar as consequências. Era uma situação sem saída, e o rebelde foi suficientemente inteligente para aceitar”

Sentiu-se impressionado com Bissau, encontrou-lhe semelhanças com Banjul. Considera que o PAIGC, ao agir despoticamente, provocou um dos mais trágicos desastres políticos de África. Faz uma menção a outros grupos pró-independentistas, caso da FLING. Aborda a formação de Amílcar Cabral e como organizou a orgânica do PAIGC. Não sabemos bem onde é que ele foi buscar aqueles dados, mas achou que ele tinha quatro filhos do primeiro casamento. De igual modo atribui aos soviéticos a instrução pessoal de Cabral, dado não comprovado.

De repente, introduz o tema da aviação nas guerras coloniais portuguesas, e logo a seguir vamos até ao Leste da Angola, a N’Riquinha, onde Al Venter conversa com o capitão Vítor Alves. Tudo somado, em Angola a guerra de guerrilhas estava a ser um sucesso para as Forças Armadas portuguesas, o MPLA desfazia-se em intrigas, tornara-se pouco atuante, a UNITA estava aberta à cooperação e a FNLA era uma sombra do passado. Estamos agora em Moçambique, cita várias fontes sul-africanas e rodesianas, era inconcebível como as forças armadas portuguesas destruíam tudo e mal tratavam as populações, e escreve: 

“Nas condições atuais de combate, os sul-africanos e os rodesianos consideravam os militares portugueses em Moçambique desastrados e ineptos”

Era patente que tinha havido uma deterioração no relacionamento entre os oficiais os homens sobre o seu comando, era quase uma repetição da síndrome vietnamita e tece nova consideração ácida: 

“A verdade era que em quase todo o Exército português em Moçambique tanto os oficiais como os homens mal conseguiam aguentar até ao fim as suas comissões de serviço. Na sua maioria, acabaram por desprezar o mato africano e as condições primitivas sobre as quais eram obrigados a operar”

Tanta neglicência, diz Al Venter, favoreceu a capacidade da FRELIMO em se movimentar livremente à noite. Durante as marchas operacionais, viu colunas barulhentas e desgarradas, o Estado-Maior era extremamente burocrático, impedia as respostas prontas. Tece as suas considerações sobre a natureza das baixas sofridas pelas Forças Armadas portuguesas e enaltece o papel das enfermeiras paraquedistas.

O papel documental destes relatos esbarra com imprecisões incompreensíveis para um investigador como Al Venter, serve de exemplo mostrar o jornal Avante! e dizer que é um jornal de Luanda. Os apêndices têm maior utilidade: ficamos com um escorço das tropas africanas no exército colonial português, trabalho de João Paulo Borges Coelho, como as forças especiais rodesianas contribuíram em Angola e Moçambique para ajudar os portugueses, travando nomeadamente ações de retaguarda. E, por último, repesca as operações costeiras na Guiné extraídas do livro do capitão John Cann, recentemente traduzido pela Academia da Marinha.

Em 22 de Novembro último, Al Venter concedeu uma entrevista ao Diário de Notícias, onde foi questionado se Portugal tinha perdido a guerra colonial, fugiu a uma resposta clara, não deixando de observar, porém, que o país estava a ficar exangue. Perguntado se tinha havido massacres na nossa guerra, respondeu: 

“Houve alguns massacres como My Lai nas guerras coloniais portuguesas? Diria que sim, mas apenas nos primeiros dias das mutilações em Angola. Foi um período lunático de trocas excessivamente violentas entre os dois lados e durou menos de um ano. Nada de comparável aconteceu em Moçambique ou na Guiné. No conjunto, Lisboa conduziu os últimos conflitos coloniais by the book. Isto não agradou a todos e não impediu a PIDE e outros serviços secretos de segurança de ultrapassarem as marcas”.